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PONTA GROSSA - PARANÁ
 2009
LICENCIATURA EM
Denise Puglia Zanon
Maiza Taques Margraf Althaus
 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA
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 IContextualização 
da didática
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
Conceituar Didática, avaliando sua importância para a atuação do 
educador. 
Compreender a Didática no âmbito da Pedagogia e das práticas 
educativas.
Refletir sobre os desafios frente ao trabalho de ensinar, em sua 
complexidade.
ROTEIRO DE ESTUDOS
SEÇÃO 1 – A Didática em suas origens: concepções e pressupostos 
teóricos 
SEÇÃO 2 – O ensino, objeto da Didática e seus elementos
SEÇÃO 3 – O trabalho de ensinar: desafios contemporâneos
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UNIDADE 1
PARA INÍCIO DE CONVERSA
Prezado estudante!
Leia as notícias abaixo, publicadas no Jornal Folha de São Paulo:
“A secretária de Ensino 
Fundamental do Ministério 
da Educação, Iara Prado, 
alertou [...] que os professores 
precisam dar mais qualidade 
didática ao ensino.” (16/10/01)
“Este livro pretende ser um guia para acabar com as dúvidas 
referentes às novas normas ortográficas. Ele não só as expõe de forma 
muito elucidativa e didática [...]” (01/03/09)
“Os participantes serão avaliados por meio de cinco tópicos: prova 
escrita de conhecimento, prova de títulos, prova didática (aula ministrada 
sobre a disciplina em que concorre) [...]” (04/11/03)
Você percebeu, em todas as notícias mencionadas, o enfoque 
à Didática? Ora envolvendo o livro didático, ora a prova ou ainda a 
qualidade didática. 
Poderíamos, então, perguntar: o que significa cada um dos sentidos 
acima atribuídos à Didática? Ou ainda: quais as contribuições da Didática 
para você, neste curso de Licenciatura em Pedagogia?
O propósito desta primeira unidade direciona-se para a compreensão 
do que é a Didática, qual seu objeto de estudo e, acima de tudo, os desafios 
que se apresentam ao trabalho de ensinar.
Você estudará as origens da Didática, bem como as contribuições 
dos estudos desenvolvidos por autores na área. 
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UNIDADE I
SEÇÃO 1
A DIDÁTICA EM SUAS ORIGENS:
CONCEPÇÕES E PRESSUPOSTOS TEÓRICOS
Dessa ótica, o ensino – objeto nuclear da didática -, estendido 
para as outras dimensões em sua globalidade, confirma o significado 
e a projeção da docência como o ensino em ato. Assim, a didática 
fortalece o valor global de seu objeto – o ensino – ampliando seus 
marcos teóricos e fundamentando-se positivamente em outros 
temas emergentes.[...] O domínio do conhecimento da didática é 
essencial para o exercício da docência e apresenta-se como uma 
das disciplinas nucleares do campo pedagógico; é imprescindível 
para o processo de formação e desenvolvimento profissional de 
professores. (VEIGA, 2006, p. 8 – grifo nosso).
Classicamente, a Didática é um campo de estudo, uma disciplina 
de natureza pedagógica aplicada, orientada para as finalidades 
educativas e comprometida com as questões concretas da docência, 
com as expectativas e os interesses dos alunos. Para tanto, requer um 
espaço teórico-prático a fim de compreender a multidimensionalidade 
da docência, entendida como ensino em ato. 
A compreensão do ensino como prática social concreta, 
complexa e laboriosa, leva-nos a considerar a Didática como teoria 
da docência. É evidente que a docência está em íntima relação com 
as dimensões de ensinar, aprender, pesquisar e avaliar. Integram-se, 
são complementares. Não apenas coexistem, mas se interpenetram. 
O ensino não existe por si mesmo, mas na relação com as outras três 
dimensões. 
Observando os termos destacados na citação acima, o que significa 
ensinar para você?
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UNIDADE 1
Algumas palavras e suas origens
Nesta seção, você conhecerá a origem de algumas palavras que 
envolvem a ação didática do professor. É tempo de parar e refletir sobre 
os termos que, muitas vezes, utilizamos sem realmente aprofundarmos 
seus significados e sentidos.
Você lembra alguma situação da escola em que estudou? Lembra-se até hoje de 
algum professor, fato ou acontecimento significativo? O que marcou em você?
Analisando a etimologia do vocábulo ensinar, percebemos o sentido 
das marcas, dos sinais que um professor um dia já imprimiu em nossa 
formação, ou aquilo que nós, como professores, indicamos ou designamos 
aos nossos alunos através do contato que estabelecemos na prática 
pedagógica escolar.
Surge no século XI, na língua francesa (enseigner), 
e no século XIII, na língua portuguesa; do baixo 
latim insignare, alteração de insignire, que 
significa indicar, designar, e que pode chegar a 
ser compreendido como ‘marcar com um sinal’. 
Note que marcar pode transmitir uma ideia de 
imposição, mas pode, por outro lado, indicar o 
nascimento do caráter do estudante, uma vez que, 
em grego, sinal é Karakter. (LIMA et al., 2006, p. 
240).
Instrução é outro termo que também revela vínculos com o ensino. 
Em latim, o verbo struere, agregado à preposição in, remete-nos para o 
verbo instruere, significando erguer, levantar, construir, por em ordem, 
formar, dispor.
Quanto ao sentido dos verbos aprender e apreender, Anastasiou e 
Alves (2006, p.14) afirmam:
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UNIDADE I
O apreender, do latim apprehendere, significa 
segurar, prender, pegar, assimilar mentalmente, 
entender, compreender, agarrar. Não se trata de 
um verbo passivo; para apreender é preciso agir, 
exercitar-se, informar-se, tomar para si, apropriar-
se, entre outros fatores. O verbo aprender, 
derivado de apreender por síncope, significa 
tomar conhecimento, reter na memória mediante 
estudo, receber a informação de...
Nessa perspectiva, Freire (1996, p. 77) é quem muito contribui, ao 
dizer: “[...] aprender é uma aventura criadora, algo, por si mesmo, muito 
mais rico do que meramente repetir a lição dada. Aprender para nós é 
construir, reconstruir, constatar para mudar [...]”.
E DIDÁTICA, O QUE SIGNIFICA? 
A palavra didática deriva da expressão grega - techné didaktiké 
-, que se traduz por arte ou técnica de ensinar. Foi apresentada 
oficialmente por Ratke, em 1617, na obra Introdução geral à 
didática ou arte de ensinar. A expressão foi, entretanto, consagrada 
através de Comênio, quando escreveu a Didática Tcheca, obra 
esta que foi traduzida para o latim (1633) com o título Didactica 
Magna: tratado universal de ensinar tudo a todos (publicada em 
1657). Essa obra é considerada um marco significativo no processo 
de sistematização da Didática, popularizando-se na literatura 
pedagógica. O qualificativo Magna expressa o caráter universal 
das conquistas do homem no início da Idade Moderna. Já o termo 
tratado refere-se a um conjunto de princípios que orientariam o 
novo ensino. Arte em referência à imitação que os artesãos faziam, 
segundo os modelos da natureza. Universal: a didática adquire a 
amplitude dos conhecimentos sociais para que fossem ensinados. 
Por fim, uma didática para ensinar tudo a todos (mulheres, homens, 
crianças e jovens, não privilegiando somente os filhos da nobreza). 
(GASPARIN, 2004; OLIVEIRA, 1988).
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UNIDADE 1
A etimologia da palavra didática indica 
que a sua essência está no ensinar, isto é, “na 
ação de fazer sinais, de comunicar. Comênio 
explicita essa posição ao afirmar que didática 
significa arte de ensinar, em que todos 
os termos dessa expressão trazem, entre 
seus vários sentidos, o de ação, exercício, 
atividade.” (GASPARIN, 1994, p. 64).
“A didática possui uma história no processo de sua constituição 
como campo de saber, pois no século XVII este campo significou uma 
expressão e uma resposta às novas necessidades humanas emergentes.” 
(GASPARIN, 2004, p. 85-86).
 
Leia os quadros abaixo para compreender ainda melhor:
A constituição da didática comeniana como uma expressão 
pedagógica da transição da Idade Média à Idade Modernafundamenta-
se, em ambos os períodos, ao mesmo tempo, traduzindo o término 
de um e o início de outro. Para sermos mais precisos, representa 
aquele momento específico em que do velho modo de ensinar se 
passa ao novo. Não significa, todavia, que Comênio deixe o velho e 
se utilize somente do novo, mas que na essência constitutiva da sua 
arte de ensinar há princípios de um e de outro concomitantemente. 
(GASPARIN, 1994, p.41).
A concepção de homem subjacente à didática comeniana e à 
sua educação se traduz melhor na ideia de um ser criado à imagem e 
semelhança de Deus e dependente dele, mas igualmente como um ser 
que busca construir a si mesmo, pelo seu trabalho, sem dependência 
direta de Deus. Da mesma forma, os princípios gerais da didática 
exprimem o espírito conservador e renovador do momento, ou seja, 
enquanto por um lado, há ênfase na memorização, na diretividade 
total do professor, na exposição docente do conteúdo, na passividade 
do aluno a quem cabe apenas ouvir, destaca-se, por outra parte, 
como nova forma de ensino, a imitação da natureza, a observação 
e experimentação, os processos das artes mecânicas, os métodos da 
nova forma de trabalho e da ciência. (GASPARIN, 1994, p.41).
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UNIDADE I
Como você percebeu, o núcleo do pensamento didático-pedagógico de Comênio é o 
ENSINO. A partir do sentido etimológico, ensinar significa (Ibid., p. 66):
_ fazer sinais ou marcas
_ caracterizar
_ indicar
_ gravar
_ imprimir
Como você viu nesta seção, a Didática surgiu, com Comênio, como 
arte de ensinar. Seria possível pensar na Didática, nos tempos atuais, 
numa perspectiva artística?
Veiga contribui neste aspecto, ao dizer: “O ensino concebido como 
arte requer ser pensado da ótica da ‘originalidade’, que situa o docente 
como um artista que planeja sua ação como uma tarefa inconclusa, porém, 
orientada pela estética criadora e de bom gosto e de deleite poético”. 
Segundo a autora, “da perspectiva artística, a tarefa docente encontra na 
metáfora da arte o seu referente: É arte o modo de entender, transformar 
e perceber a realidade como estética poética e de forma bela. O ato de 
ensinar é, portanto, uma tarefa de dupla face artística: estética e poética”. 
(2006, p.15).
 Leia agora o poema de autoria de Clarissa Borba Prieto, que, após interpretar a 
perspectiva artística presente no texto de Veiga, revela sua arte com as palavras que seguem 
abaixo! 
DIDÁTICA: o trabalho de ensinar em sua dimensão artística
Clarissa Borba Prieto 
Estética , porque não se abstém da forma, não renega a importância do que se vê, do 
que se toca, do que se mostra e se revela;
Estética, porque não faz do quadro, apenas um aparato do giz, não faz da porta, 
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UNIDADE 1
apenas um lugar de passar verniz, não faz da janela, apenas uma olhadela para as plantas 
do jardim;
Estética, porque não faz das carteiras apenas lugar de rabiscar o que se diz, não faz 
das cadeiras, apenas um encosto para o corpo cansado; não faz dos cartazes, apenas um 
recurso para memorizar o ensinado;
Estética, porque inclui sentidos e percepções; porque pressupõe orientações; porque 
implica planejamento para não apenas embelezar o processo de ensino, mas...
Perpetuá-lo!
Todavia, ensinar também se revela numa tarefa de caráter poético.
Poético, para que as palavras não se esqueçam dos conceitos;
Para que a essência não se perca no dever;
Para que a profissão não se desvaneça no cansaço.
Poético, para que o discurso tenha também melodia;
Para que a crítica tenha também, sabedoria;
Para que o fazer, seja bem mais que bem fazer.
Poético, para que o professor saiba ver o que não existe, para que possa cantar, 
canções sem letra e,
para que o professor possa acreditar em sonhos, paixões, esperança, coragem, 
docência, educação e...
Em seu próprio trabalho.
Na seção seguinte, você terá oportunidade de aprofundar questões 
relativas ao objeto de estudo da Didática. Siga em frente!
SEÇÃO 2
O ENSINO, OBJETO DA DIDÁTICA E SEUS ELEMENTOS
Veremos agora outras contribuições de pesquisadores que se 
dedicam à Didática. Parafraseando Placco (2008), não temos o objetivo 
de esgotar as discussões sobre o que seja – ou deva ser – a Didática hoje, 
mas sim indicar algumas questões que consideramos essenciais, além de 
indicar relações possíveis e necessárias entre esta disciplina e a Formação 
de Professores. 
O quadro seguinte expressa algumas referências que consideramos 
importantes em relação ao conceito de Didática, na ótica dos autores e 
pesquisadores da área:
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UNIDADE I
AUTOR(A) 
/ ANO DA 
PUBLICAÇÃO
O QUE É DIDÁTICA?
CANDAU, 
1988
O objeto de estudo da didática é o processo de ensino-
aprendizagem. Toda proposta didática está impregnada, 
implícita ou explicitamente, de uma concepção do 
processo de ensino-aprendizagem.
MOURA, 
2001
A Didática é um elemento da formação do professor. 
Regula, num sentido amplo, o comportamento de ser 
professor. 
AZZI; 
CALDEIRA, 
1997
A Didática é uma disciplina que, tendo como ponto 
de partida a reflexão sobre uma prática, ou, mais 
especificamente, o processo de ensino-aprendizagem, 
busca, na compreensão deste, elementos que subsidiem 
a construção de projetos de ação didática.
CASTRO, 
2001
Ensinar algo é sempre desafiar o interlocutor a pensar 
sobre algo. Toda a Didática apoia-se no conceito de 
ensino. A Didática tem como um dos seus propósitos 
a orientação do ensino, e para tal, necessita recorrer à 
reflexão de caráter teórico e à pesquisa científica.
LIBÂNEO, 
1998
Didática é uma disciplina pedagógica. Tem como objeto 
o ensino como mediação da relação ativa dos alunos 
com o saber sistemático. Preocupa-se com os processos 
de ensino e aprendizagem, em sua relação com as 
finalidades educacionais.
PIMENTA, 
2008
Sendo uma área da Pedagogia, a Didática tem no 
ensino seu objeto de investigação. O ensino é uma 
prática social complexa. Considerá-lo como uma prática 
educacional em situações historicamente situadas 
significa examiná-lo nos contextos sociais nos quais se 
efetiva .
Quais, entre as definições acima, que melhor traduzem para você o 
que é Didática?
Cordeiro situa a Didática como disciplina que discute um conjunto 
de problemas e questões comuns que envolvem quase todos os tipos de 
ensino, em especial o que se pratica nas escolas. São as chamadas questões 
de ensino (2007, p.33). Tais temas aparecem em todas as ocasiões de 
ensino cujas respostas não dependem apenas dos conteúdos.
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Os sujeitos que são professores aprendem a lidar com 
pessoas, colocando-se em posição de aprendizes. Desenvolvem 
atitudes de ensinadores. E a estes pode-se qualificar como os 
que tem ou não Didática. Isto é, existe um senso comum sobre 
o que pode ser considerado um bom professor: ter didática. 
Esta entendida como um certo modo de organizar o ensino que 
favorece a aprendizagem [...] para chegarmos a nos considerar 
professor de uma área de conhecimento, primeiramente, devemos 
nos identificar como professores. É por isso que inicialmente nos 
identificamos com uma categoria mais geral, que é a de professor. 
A Didática é este elemento comum. Poderíamos dizer ainda que a 
didática geral é o elo comum da profissão professor. (MOURA, In: 
CASTRO; CARVALHO, 2001, p. 145). 
Outro aspecto importante refere-se à multidimensionalidade do 
processo de ensino e aprendizagem. O que isso significa?
Significa que toda proposta didática contempla – implícita ou 
explicitamente – uma concepção de ensino e de aprendizagem (CANDAU, 
1988, p.13), isto é, para ser adequadamente compreendido, o processo 
ensino-aprendizagem precisa ser analisado de tal modo que articule 
consistentemente as dimensões:
humana
técnica política
Candau, na década de 80, ao criticar a visão exclusivamente 
instrumental da didática, afirmou quenão se pode reduzir ou negar que a 
competência técnica é necessária. Porém, destacou que todas as dimensões 
se exigem reciprocramente, pois “a prática pedagógica, exatamente por 
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UNIDADE I
ser política, exige a competência técnica.” Procurava, então, apresentar o 
desafio do momento (CANDAU, 1988): superar a didática exclusivamente 
instrumental e construir uma didática fundamental.
Porém, ainda hoje (século XXI), nos debatemos com os significados 
e a utilização desses conceitos, na formação de professores e na sala de 
aula. (PLACCO, 2008, p. 735). 
Veiga (1991; 2004) esclarece que a Didática configura-se como a 
mediação entre o quê, 
como e para quê do 
processo de ensino. 
A autora entende que, 
enquanto teoria geral 
do ensino, a Didática 
generaliza o que é comum 
e fundamental para a 
prática pedagógica.
Aqui ficam algumas interrogações: quais os desafios que se impõem ao trabalho de 
ensinar na atualidade? Afinal, qual é o meu papel como professor? Provavelmente você já se 
questionou frente a essas questões. Por muito tempo, a ênfase no ensino como transmissão 
dominou as práticas didáticas escolares. O que mudou nas concepções didáticas do 
ensino?
Vamos à seção 3 para conferir! 
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SEÇÃO 3
O TRABALHO DE ENSINAR: 
DESAFIOS CONTEMPORÂNEOS
Iniciaremos destacando a contribuição de Nadal e Papi (2007, p. 18; 
19-20), ao afirmarem:
Diferentemente do que se pensa, ensinar não é algo natural, 
uma tarefa simples. Ao contrário, o trabalho de ensinar é complexo, 
pois envolve o elemento humano em situações únicas, imprevisíveis 
[...] o ser professor constitui uma profissão complexa, pois é 
uma atividade imprevisível, realizada com seres humanos, cujas 
reações não podem ser cientificamente controladas, nem mesmo 
pressupostas. A ideia de ensino – atividade central da docência 
– é por si só contraditória, uma vez que ensinar é garantir a 
transmissão, a perpetuação do conhecimento, mas tal perpetuação 
não pode se fazer de modo apenas transmissivo. 
Na tentativa de retomar as bases dessa contradição, vale 
lembrar que sempre houve um certo consenso de que era tarefa da 
escola ensinar no sentido de transmitir, repassar os conhecimentos 
acumulados pela humanidade às novas gerações. A partir do 
momento em que esse papel da escola e, consequentemente do 
professor, passou a ser questionado e criticado como tradicional 
e ultrapassado, novas pedagogias foram surgindo, sem que se 
desenvolvesse, no entanto, os processos de formação necessários 
para que os professores pudessem construir sua própria síntese. A 
mesma lacuna pode ser constatada em relação à organização da 
escola, que permaneceu inalterada. 
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Consequentemente, esse processo de mudança levou 
muitos professores à falsa concepção de que “o professor hoje não 
ensina mais”, em função do mito da oposição entre transmissão 
e construção do conhecimento. (AMARAL, 2000). Levou-os ao 
“temor” de ensinar, pelo medo de serem tachados de tradicionais, 
como se a metodologia que privilegia a construção do conhecimento 
pelo aluno excluísse totalmente o momento da transmissão pelo 
professor. Tal distorção é agravada pela “falácia de que ninguém 
ensina nada a ninguém e que cada um deve construir o seu próprio 
conhecimento”. (AMARAL, 2000, p. 141). Diante disso, muitos 
professores perderam suas referências e não sabem mais o que é 
ensinar e, muito menos, como ensinar. 
Não se pode negar que é papel do professor trazer ao aluno 
as informações e conhecimentos produzidos historicamente e 
disponíveis. Entretanto, não se trata simplesmente de repassá-los 
mecanicamente aos alunos, uma vez que o papel social da escola é 
permitir a apropriação crítica, criativa, significativa e duradoura do 
conteúdo. Tal compreensão permite redefinir a essência da atividade 
de ensino como um processo de mediação. O professor assume, 
nesse contexto, o papel de mediador entre o sujeito e o objeto de 
conhecimento, criando possibilidades para que o aluno chegue às 
fontes do conhecimento que estão à sua disposição na sociedade.
Frente às considerações das autoras, importa compreender que 
compete ao professor a transmissão dos conteúdos histórica e socialmente 
produzidos, necessários à formação dos alunos na escola. Ou seja, 
entendemos que é papel do professor transmitir aos alunos aquilo que eles 
não são capazes de aprender por si só, pois, como mediador, o professor 
valoriza e interpreta a informação a transmitir. Ele atua como agente 
cultural externo, possibilitando aos educandos o contato com a realidade 
científica. (GASPARIN, 2002, p. 108). Existe, portanto, uma mediação 
intencional do saber.
Na Unidade II deste 
livro (seção 3), você 
estudará sobre as 
relações pedagógicas 
e a mediação docente.
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 O trabalho de ensinar – num processo dialético – desenvolve-
se através de ações intencionais que conduzem os alunos à reflexão 
sobre os conceitos que estão sendo propostos. A função do professor é 
apresentar, explicitar, explicar, demonstrar os conceitos científicos, social 
e historicamente elaborados. (Id., p. 120-121).
Além disto, no trabalho de ensinar compete ao professor assumir 
o lugar de instigar e desafiar o aluno para que este avance, isto é, 
para que vá além do ponto em que está e aprenda. O professor precisa 
alavancar o conhecimento do aluno (PLACCO, 2008) e, nesse contexto, os 
procedimentos didáticos em sala de aula expressam a intencionalidade 
de colocar o outro em situação de aprendizagem.
Ser professor significa exercer uma profissão que tem um campo de 
atuação específico, que não se esgota na sala de aula, mas que tem nela 
o seu lugar privilegiado. Imaginar-se como o responsável por tudo o que 
afeta a vida dos alunos pode levar à tomada de decisões equivocadas. 
(CORDEIRO, 2007, p. 135).
O trabalho do professor não se configura como uma atividade 
individual, que se limita à sala de aula e às interações com os alunos 
(AMIGUES, 2004, p.45), ao contrário, o trabalho docente é um ofício 
como qualquer outro, sendo uma atividade regulada (explícita ou 
implicitamente), coletiva e também contínua de invenção de soluções. 
E você, como vê e percebe o trabalho do professor atualmente? 
Quais os desafios que se apresentam ao nosso ofício?
[...] o professor é, ao mesmo tempo, um profissional 
que prescreve tarefas dirigidas aos alunos e a ele mesmo; um 
organizador do trabalho dos alunos, que ele deve regular ao 
mesmo tempo em que os mobiliza coletivamente para a própria 
organização da tarefa; um planejador, que deve reconceber as 
situações futuras em função da ação conjunta conduzida por 
ele e por seus alunos, em função dos avanços realizados e das 
prescrições. (AMIGUES, p. 49).
Pensando sobre as questões desta seção, que referenciam os desafios 
contemporâneos e que se impõem no processo de ensinar, observa-se a 
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UNIDADE I
complexidade que caracteriza o ensino, que não corresponde a uma ação 
mecânica e marcada pela atividade em si. De acordo com Veiga (2006), o 
ensino, o ato de ensinar, busca o aparato em uma diversidade de ações, 
exige do professor saberes consistentes sobre sua disciplina, requer o 
domínio das formas pelas quais os alunos se apropriam dos conhecimentos 
e também traz a necessidade da compreensão das metodologias de ensino, 
investigação e avaliação.
Refletindo ainda sobre o ato de ensinar, Veiga (2006) novamente 
contribuiu, apontando os desafios que se impõem à prática docente, 
vinculados aos escritos de Nadal e Papi (2007).
O ensino é complexo e requer um marco teórico 
cada vez mais indagador e rigoroso para investigar 
os fundamentos e as práticas formativas. Desse 
modo, o ensino estabelece relações com os fatores 
contextuais ao refletirsobre os valores mais 
amplos da sociedade em que vivem os alunos, 
mas também aqueles que são mais próximos e 
localizados. Concebido dessa forma, o ensino 
responde a três desafios: em primeiro lugar, é 
uma tarefa humana, pelo fato de trabalhar com 
‘seres humanos, sobre seres humanos, para seres 
humanos’ como afirmam Tardif e Lessard (2005, 
p. 31); tem em seguida o desafio da dimensão 
afetiva, do compartilhamento, da interação; 
apresenta, enfim, o desafio de seu papel cognitivo, 
pelo fato de permitir que cada aluno construa seu 
conhecimento [...]. Em suma, o ensino é carregado 
de razão e emoção, é o espaço para a vida, para a 
vivência das relações entre professores e alunos, 
para a ampliação da convivência socioafetiva e 
cultural dos alunos. (VEIGA, 2006, p. 31-32).
A questão que norteou o estudo desta primeira unidade voltou-se para a especificidade 
da didática. Compreender as questões de ensino, presentes na prática pedagógica, implica 
necessariamente ter como horizonte maior a aprendizagem escolar, porque, como Placco 
acentua, e muito bem, “tenho entendido didática como a aproximação sistemática e 
circunstanciada aos processos de ensino e aprendizagem”. (2008, p. 738).
Reconhecer que o professor didático é aquele que articula as dimensões humana, 
técnica e política na prática pedagógica escolar, implica assumir que, como docente, é, ao 
mesmo tempo, um sujeito - com suas características pessoais -, um representante da escola 
e um adulto encarregado de transmitir o patrimônio humano e também suas experiências às 
gerações mais novas. (CHARLOT, 2005, p.77).
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 “Ensinar, portanto envolve uma disponibilidade para lidar com o outro e compreendê-
lo. Ensinar envolve gosto e identificação com a docência. Ensinar pressupõe construção do 
conhecimento [...]”. (VEIGA, 2006, p. 24-25).
1) Consulte o site:
 http://www.ebooksbrasil.org/adobeebook/didaticamagna.pdf . Acesse a obra Didática 
Magna, de Comênio. 
2) Para ampliar seus conhecimentos sobre as origens da Didática e seu desenvolvimento 
no Brasil, leia:
SANTOS, L. L. C. P.; OLIVEIRA, M. R. N. S. Currículo e didática. In: OLIVEIRA, M. R. N. S. 
(Org.). Confluências e divergências entre didática e currículo. Campinas: Papirus, 1998, 
p. 9-32.
FARIAS, I. M. S. et al. Didática e docência: aprendendo a profissão. Brasília: líber Livro, 
2009. p. 13-28.
3) Assista ao documentário PRO DIA NASCER FELIZ, de João Jardim, que retrata o 
dia-a-dia de alunos em seis escolas, testemunhando a complexidade e os desafios do ensino 
brasileiro. Veja também o trailer do filme no endereço http://www.prodianascerfeliz.com/
4) Sugestão de leitura:
DUARTE, Newton. Concepções afirmativas e negativas sobre o ato de ensinar. Cad. CEDES, 
Campinas, v. 19, n. 44, Apr. 1998. Disponível em: 
< h t t p : / / w w w . s c i e l o . b r / s c i e l o . p h p ? s c r i p t = s c i _ a r t t e x t & p i d = S 0 1 0 1 -
32621998000100008&lng=en&nrm=iso>. Acesso em: jan. 2009. 
1) Elabore um conceito de didática, destacando o papel desta disciplina em sua 
formação docente. 
 
2) Interprete a frase: 
“Sendo uma área da Pedagogia, a didática tem no ensino seu objeto de investigação. 
O ensino é uma prática social complexa. Considerá-lo como uma prática educacional em 
situações historicamente situadas significa examiná-lo nos contextos sociais nos quais se 
efetiva.” (PIMENTA, 2008).

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