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Apostila Módulo 2_SUAS

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Atenção no SUAS 
à Criança e ao 
Adolescente 
Vítima ou 
Testemunha de 
Violência
Módulo 2
 Escuta Especializada
Significado dos Ícones da Apostila
Para facilitar o seu estudo e a compreensão imediata do conteúdo apresentado, ao longo de 
todas as apostilas, você vai encontrar essas pequenas figuras ao lado do texto. Elas têm o objetivo 
de chamar a sua atenção para determinados trechos do conteúdo, com uma função específica, 
como apresentamos a seguir.
Texto-destaque: são definições, conceitos ou afirmações importantes às quais você 
deve estar atento.
Glossário: Informações pertinentes ao texto, para situá-lo melhor sobre determinado 
autor, entidade, fato ou época, que você pode desconhecer.
SAIBA MAIS! Se você quiser complementar ou aprofundar o conteúdo apresentado 
na apostila, tem a opção de links na internet, onde pode obter vídeos, sites ou artigos 
relacionados ao tema.
Quando vir este ícone, você deve refletir sobre os aspectos apontados, relacionando-
os com a sua prática profissional e cotidiana.
SUMÁRIO
Apresentação e Guia de Estudos do Módulo 2 4
Aula 1: Introdução à escuta especializada de crianças e 
adolescentes vítimas ou testemunha de violência 5
Aula 2: Princípios norteadores da execução da escuta 
especializada de crianças e adolescentes vítimas ou 
testemunhas de violência 12
2.1 A escuta especializada no âmbito do SUAS 12
2.2 Acessibilidade: garantir a escuta especializada de 
crianças e/ou adolescentes com deficiência 23
2.3 A Escuta de povos e culturas tradicionais 31
2.4 O ambiente de realização da escuta especializada. 34
2.5 Boas práticas para realização da escuta especializada 37
2.6 Encaminhamento: o compartilhamento de informações 
com a rede de atendimento e proteção 44
REFERÊNCIAS E SUGESTÕES BIBLIOGRÁFICAS 47
4
Apresentação e Guia 
de Estudos do Módulo 2
Neste módulo, vamos iniciar o estudo da Escuta Especializada pela compreensão de alguns 
termos utilizados na Lei 13.431/2017 e que são de fundamental importância para o entendimento 
desta prática.
Em seguida, passaremos para os princípios que norteiam a execução da escuta especializada, 
ou seja, apresentaremos sugestões de boas práticas para a realização de uma escuta especializada 
no âmbito do SUAS.
Para aprimorar os seus estudos, siga a seguinte ordem de estudos: 
• Leia, na apostila, a Aula 1 do Módulo 2.
• Assista à aula narrada 1.
• Faça os exercícios de fixação da Aula 1.
• Faça o Jogo Interativo 2.
• Leia, na apostila, a Aula 2 do Módulo 2.
• Assista à aula narrada 2.
• Faça os exercícios de fixação da Aula 2.
• Ouça o Podcast 1.
Bons estudos!
5
Aula 1
Introdução à escuta especializada de 
crianças e adolescentes vítimas ou 
testemunha de violência
Nós vimos no Módulo 1 que a Lei 13.431/2017 complementou o 
Estatuto da Criança e do Adolescente, trazendo para o ordenamento 
jurídico brasileiro novos elementos e garantias de proteção para crianças 
e adolescentes, vítimas ou testemunhas de violência, com o desafio de 
prevenir, entre outras questões, a revitimização. Mas você sabe o que é 
revitimização? 
De acordo com o Decreto 9.603/2018, a revitimização é:
Decreto 9.603/2018, Art. 5º, II - discurso ou prática institucional que submeta 
crianças e adolescentes a procedimentos desnecessários, repetitivos, invasivos, que 
levem as vítimas ou testemunhas a reviver a situação de violência ou outras situações 
que gerem sofrimento, estigmatização ou exposição de sua imagem.
Já o Comitê Nacional de Enfrentamento à Violência contra Crianças e Adolescentes1 entende 
que a revitimização é:
O processo de ampliação do trauma vivido pela vítima de violência, em função de 
procedimentos inadequados realizados sobretudo nas instituições oficiais, durante 
o atendimento da violência notificada. Também é chamada de dupla vitimização. 
Em outros países, a literatura utiliza a mesma expressão em sentido outro: como a 
manutenção e repetição da conduta violenta contra a mesma vítima. (BRASIL, 2007, 
p.6)
Observe que, nos dois conceitos, a revitimização está atrelada às práticas de instituições oficiais 
e, por esta razão, pode ser considerada como uma prática de violência institucional. Ora, se um/a 
agente da Rede de Proteção realiza um procedimento inadequado e ocasiona uma revitimização, 
ele/ela pode ser responsabilizado por ato de violência institucional, afinal de contas, ele/ela é 
parte da instituição que deveria garantir a proteção às vítimas ou testemunhas de violência.
1 BRASIL. Comitê Nacional de Enfrentamento à Violência Sexual Contras Crianças e Adolescentes. Renato Rorlario 
(Coord.) Proteger e responsabilizar: o desafio da resposta da sociedade e do Estado quando a vítima da violência sexual é 
criança ou adolescente. Brasília, 2007.
6
Mas, na prática, o que poderia causar um episódio de revitimização no SUAS? Por exemplo, 
quando uma criança relata a um/uma profissional não capacitado/a que sofre violência sexual 
intrafamiliar e este/esta profissional faz questionamentos desnecessários ou repetitivos sobre 
o comportamento da criança com o/a autor/autora da violência, por exemplo. O fato de fazê-la 
repetir os fatos muitas vezes ou a forma como as perguntas são colocadas faz com que a vítima 
se sinta culpada, responsabilizada e acabe por reviver o trauma, sendo, portanto, revitimizada. 
Perguntas do tipo “mas você tem certeza que ele fez isso?”; “será que você não está exagerando?”; 
ou “por que você estava sozinha com ele?”, nunca devem ser feitas, pois, além de demonstrar que 
o/a profissional põe em dúvida os fatos relatados, podem acarretar sentimento de culpa.
Então, a ausência de capacitação porventura ocorrida com os/as profissionais para lidar com 
situações complexas, nem sempre claramente identificáveis, associada às possíveis dificuldades de 
integração com a Rede de Proteção, podem ocasionar esses episódios de repetição do relato que 
revitimizam a criança ou o adolescente, pois ao serem encaminhados para outros serviços, serão 
novamente submetidos a questionamentos. E é por isso que a lei trata com tanta especificidade 
essa questão, porque a vítima ou testemunha de violência deve receber a devida assistência e 
acolhida nos diferentes órgãos que têm responsabilidades no atendimento às situações de 
violência, assim como pelos diferentes serviços do SUAS, mas não devem ser obrigados a relatar 
a situação de violência. 
Por ora, você deve compreender que a lei instituiu dois procedimentos que deverão ser 
implementados pelos órgãos integrantes do SGDCA a fim de se evitar os processos de revitimização. 
Um deles é a Escuta Especializada que se configura como um dos elementos mais importantes no 
âmbito das políticas de proteção e está expressamente definida no art. 7º da Lei 13.431/2017:
Lei 13.431/2017 - Art. 7º: Escuta especializada é o procedimento de entrevista sobre 
situação de violência com criança ou adolescente perante órgão da rede de proteção, 
limitado o relato estritamente ao necessário para o cumprimento de sua finalidade.
Apesar desta definição, o texto legislativo deixou margem para algumas dúvidas. Afinal, como 
será realizada essa entrevista? Qual órgão da rede de proteção e quais os/as profissionais que 
realizarão a escuta especializada? Neste sentido, o Decreto 9.603/2018, que regulamenta a Lei 
13.431/2017, detalhou um pouco mais essas questões nos artigos 19 ao 21:
Decreto nº 9.603/2018
Art. 19. A escuta especializada é o procedimento realizado pelos órgãos da rede de 
proteção nos campos da educação, da saúde, da assistência social, da segurança 
pública e dos direitos humanos, com o objetivo de assegurar o acompanhamento da 
vítima ou da testemunha de violência, para a superação das consequências da violação 
sofrida, limitado ao estritamente necessário para o cumprimento da finalidade de 
proteção social e de provimento de cuidados.
7
§ 1º A criança ou o adolescente deve ser informado, em linguagem compatível com o 
seu desenvolvimento, acerca dos procedimentos formais pelos quais terá que passar 
e sobre a existênciade serviços específicos da rede de proteção, de acordo com as 
demandas de cada situação.
§ 2º A busca de informações para o acompanhamento da criança e do adolescente 
deverá ser priorizada com os profissionais envolvidos no atendimento, com seus 
familiares ou acompanhantes.
§ 3º O profissional envolvido no atendimento primará pela liberdade de expressão 
da criança ou do adolescente e sua família e evitará questionamentos que fujam aos 
objetivos da escuta especializada.
§ 4º A escuta especializada não tem o escopo de produzir prova para o processo de 
investigação e de responsabilização e fica limitada estritamente ao necessário para o 
cumprimento de sua finalidade de proteção social e de provimento de cuidados.
Art. 20. A escuta especializada será realizada por profissional capacitado conforme o 
disposto no art. 27.
Art. 21. Os órgãos, os serviços, os programas e os equipamentos da rede de proteção 
adotarão procedimentos de atendimento condizentes com os princípios estabelecidos 
no art. 2º
Em outras palavras, podemos dizer que a escuta especializada é um procedimento, no 
formato de entrevista ou em outros formatos, inclusive utilizando recursos lúdicos, realizado 
pelos/pelas profissionais dos órgãos da rede de proteção (educadores, assistentes sociais, 
profissionais da saúde, conselheiros tutelares) sobre uma possível situação de violência vivenciada 
pela criança ou pelo adolescente. O objetivo principal da escuta especializada é a acolhida e o 
acompanhamento da criança ou do adolescente que sofreu ou testemunhou uma situação de 
violência. Consequentemente, deve estar claro que a escuta especializada não tem por finalidade 
produzir provas, pois os serviços da rede de proteção não têm a finalidade de responsabilizar os 
autores de violência, mas obter informações que possibilitem avaliar riscos, bem como as medidas 
de proteção que devem ser adotadas para cessar a violência, prevenir agravamentos ou novas 
ocorrências e enfrentar as sequelas ou consequências da violência, considerando as atribuições 
específicas da rede de proteção e o dever comum de proteger crianças e adolescentes com 
prioridade. Ela poderá ocorrer nos momentos iniciais de acolhida da criança e do adolescente 
vítima ou testemunha de violência ou durante o processo de acompanhamento. Pode ser que a 
vítima ou testemunha de violência fale sobre o episódio violento de maneira natural, de forma a se 
caracterizar como uma revelação espontânea. Por isso, é muito importante que o/a profissional que 
realizará o atendimento da criança ou adolescente atente-se para os cuidados que se deve ter para 
não incorrer em revitimização. Para tanto, esse/essa profissional, conforme previsto em lei, deve 
ser capacitado/capacitada para desempenhar com competência, conhecimento e sensibilidade a 
escuta especializada durante o atendimento na rede de proteção. 
8
É pensando nesta capacitação e no dia a dia dos/das profissionais do SUAS que destacamos 
alguns detalhes da Lei 13.431/2017 e do Decreto 9.603/2018 que servirão como ponto de partida 
para a realização de uma escuta especializada cercada dos devidos cuidados. Vejamos:
• O/A profissional que for realizar o atendimento deve 
informar à criança ou adolescente sobre os procedimentos 
formais pelos quais ele/ela irá passar, utilizando uma 
linguagem compatível com o desenvolvimento da vítima 
e com a situação em questão. Isto significa estar atento 
para as questões mais peculiares dessa criança ou desse 
adolescente, levando em consideração sua faixa etária, 
aspectos culturais, deficiência, aspectos quanto ao nível 
de compreensão e fala. Por exemplo, se a testemunha 
ou vítima é uma criança indígena, deve-se utilizar uma 
linguagem compatível com sua idade e sua cultura, 
inclusive deixando-a à vontade para relatar os fatos no 
idioma de sua escolha. 
• A liberdade de expressão da criança ou do adolescente deve ser respeitada e 
questionamentos que fujam aos objetivos e finalidades da escuta especializada devem ser 
evitados. Aqui, a atenção deverá ser redobrada para crianças e adolescentes pertencentes 
a povos e comunidades tradicionais ou com deficiência a fim de garantir que seu direito à 
expressão seja preservado.
• A criança ou o adolescente deverá ser resguardado de qualquer contato (visual, físico, 
virtual, auditivo) com o/a suposto/suposta autor/autora ou com qualquer outra pessoa 
que represente ameaça, coação ou constrangimento.
• A escuta especializada deverá ser realizada em local que proporcione à vítima acolhimento 
e privacidade. Mais adiante, vamos falar um pouco mais sobre este local (ELABORAÇÃO 
PRÓPRIA COM BASE EM INFORMAÇÕES CONTIDAS NA LEI 13.431 DE 2017 E DECRETO 
9.603 DE 2018).
Na próxima aula, traremos mais detalhes sobre os princípios que norteiam a escuta 
especializada e como realizá-la no âmbito do SUAS, buscando inserir casos da rotina de trabalho. 
No momento, vamos conhecer outro procedimento que, embora não seja realizado pelos/pelas 
profissionais do SUAS, é muito importante no sistema de garantia de direitos da criança e do 
adolescente. Trata-se do Depoimento Especial, uma ação que não deve se confundir com a 
Escuta Especializada. Mas o que é o Depoimento Especial?
De acordo com a Lei 13.431/2017, o Depoimento Especial é o procedimento de oitiva de criança 
ou adolescente vítima ou testemunha de violência perante autoridade policial ou judiciária, tendo 
por objetivo principal a produção de provas contra o/a suposto/suposta autor/autora. 
9
Observe que a finalidade dessa oitiva é diferente da Escuta Especializada, isto é, no Depoimento 
Especial, o objetivo não apenas acolher a vítima, mas sim a responsabilização do/da autor/autora 
da violência. Mas também não significa que a criança ou o adolescente não deva ser acolhido/
acolhida. Por esta razão, o Depoimento Especial possui protocolos específicos para sua execução, 
regulamentados pela lei. Vamos conhecer alguns deles:
• O/A profissional deve informar à criança ou adolescente sobre seus direitos e os 
procedimentos formais pelos quais ela irá passar, sempre utilizando uma linguagem de 
acordo com o desenvolvimento da vítima ou testemunha.
• Não é permitido ler o conteúdo da denúncia ou de qualquer outra peça processual na 
presença da criança ou do adolescente. Isso garante que a vítima ou testemunha de 
violência não tenha que rememorar a situação que a levou até ali.
• A narrativa da criança ou do adolescente deve ser respeitada e o/a profissional pode fazer 
questionamentos utilizando técnicas que não revitimizem a vítima. Mais uma vez, a idade 
e a cultura da vítima ou testemunha de violência deve ser levada em consideração.
• A criança ou o adolescente deverá ser resguardado de qualquer contato (visual, físico, 
virtual, auditivo) com o/a suposto/suposta autor/autora ou acusado/acusada ou com outra 
pessoa que represente ameaça, coação ou constrangimento.
• O Depoimento Especial deverá ser realizado em local que proporcione à vítima acolhimento 
e privacidade e deverá ser gravado em áudio e vídeo. Observem que a lei não menciona que 
a Escuta Especializada deve ser registrada em meios audiovisuais, pois não tem objetivo de 
produzir provas.
• Durante o processo judicial, o Depoimento Especial será transmitido em tempo real para a 
sala de audiência, preservado o sigilo.
• A vítima ou testemunha de violência tem o direito de prestar o depoimento diretamente 
ao juiz, se assim o desejar. Ou seja, ela/ele pode optar por não prestar depoimento à 
autoridade policial.
• O juiz tomará as medidas necessárias para a preservação da intimidade e da privacidade da 
mesma. Inclusive o processo poderá correr em segredo de justiça (ELABORAÇÃO PRÓPRIA 
COM BASE EM INFORMAÇÕES CONTIDAS NA LEI 13.431 DE 2017 E NO DECRETO 9.603 DE 
2018).
 
10
Ademais, você sabia que o Depoimento Especial só poderá ser repetido se a autoridade competente 
julgar extremamente necessário e houver concordância da criança ou do adolescente ou de seu/sua 
representante legal? Essadeterminação é uma das formas de garantir que, em razão das formalidades 
processuais, as crianças e os adolescentes vítimas ou testemunhas de violência não sejam revitimizados 
ao repetir sua narrativa desnecessariamente. De acordo com a Organização Childhood2, crianças e 
adolescentes vítimas ou testemunhas de violência sexual são ouvidos, em média, oito vezes durante os 
trâmites processuais, acarretando, por consequência, a revitimização ou rememoração do trauma sofrido, 
além de outros prejuízos.
Além disso, a Lei 13.431/2017 estabelece que quando a criança ou adolescente tiver menos de 7 anos 
ou for um caso de violência sexual, o Depoimento Especial obedecerá ao rito cautelar de antecipação 
de prova. Vamos entender o que é isso?
SAIBA MAIS: O rito cautelar de antecipação de prova visa dar celeridade ao 
procedimento e não expor a criança e adolescente a rememorar os fatos em momentos 
futuros. Assim, mesmo em fase de investigação policial, já se realiza o Depoimento 
Especial da criança ou adolescente em juízo, tendo validade tanto para a investigação 
criminal, realizada na Delegacia de Polícia, quanto para o procedimento judicial, 
realizado no Fórum.
Para facilitar ainda mais a compreensão desses dois procedimentos, sem confundir os conceitos, 
observe a imagem a seguir: 
Escuta Especializada Depoimento Especial
O que é?
Quem realiza o 
procedimento?
Finalidade
Procedimento de escuta sobre situação de violência 
com criança ou adolescente perante órgão de 
proteção.
Profissionais da rede de proteção 
capacitados para executá-lo
Proteção social e provimento de cuidados
Oitiva de criança ou adolescente sobre situação de 
violência perante a polícia ou autoridade judicial
Autoridade policial ou judicial
Proteção social e produção de provas.
 Fonte: Elaboração própria a partir de informações da Lei 13.431/2017
2 SANTOS, Benedito Rodrigues dos., et al. (Org.) ESCUTA DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES EM SITUAÇÃO DE 
VIOLÊNCIA SEXUAL: Aspectos Teóricos e Metodlógicos. Brasília: EdUCB, 2014, 348p. Disponível em: <https://www.
childhood.org.br/publicacao/guia-de-referencia-em-escuta-especial-de-criancas-e-adolescentes-em-situacao-de-
violencia-sexual-aspectos-teoricos-e-metodologicos.pdf>. Acesso em: 14 fev. 2021. 
https://www.childhood.org.br/publicacao/guia-de-referencia-em-escuta-especial-de-criancas-e-adolescentes-em-situacao-de-violencia-sexual-aspectos-teoricos-e-metodologicos.pdf
https://www.childhood.org.br/publicacao/guia-de-referencia-em-escuta-especial-de-criancas-e-adolescentes-em-situacao-de-violencia-sexual-aspectos-teoricos-e-metodologicos.pdf
https://www.childhood.org.br/publicacao/guia-de-referencia-em-escuta-especial-de-criancas-e-adolescentes-em-situacao-de-violencia-sexual-aspectos-teoricos-e-metodologicos.pdf
11
E por que é tão importante conhecer e diferenciar esses dois procedimentos? Porque são 
procedimentos com objetivos e finalidades distintos e executados por diferentes unidades/
serviços do Sistema de Garantias e Direitos da Criança e do Adolescente. Sabemos que os órgãos 
da Rede de Proteção devem se comunicar, mas não devemos confundir a integração com a troca 
de papéis.
O profissional do SUAS deve estar sempre atento para o seu papel dentro da Rede de Proteção 
e não assumir atribuições que cabem à autoridade policial, como investigações, e à autoridade 
judiciária, como a responsabilização dos autores de violências. É por essa razão que os/as 
profissionais do SUAS não realizam e, tampouco, participam do Depoimento Especial.
Entendendo a diferença entre a Escuta Especializada e o Depoimento Especial, o/a profissional 
da rede socioassistencial compreenderá que: 
• Jamais deve assumir qualquer atribuição de investigar a violência que lhe foi 
relatada. Este papel é da autoridade policial.
• Durante a Escuta Especializada, não devem interrogar a vítima ou testemunha 
de violência. Isso ocasiona episódios de revitimização e o/a profissional pode 
ser responsabilizado/responsabilizada por violência institucional.
• Não é função do/da profissional do SUAS fornecer provas, laudos ou pareceres 
da situação que lhe foi narrada.
12
Aula 2
Princípios norteadores 
da execução da escuta 
especializada de crianças e 
adolescentes vítimas ou 
testemunhas de violência
2.1 A ESCUTA ESPECIALIZADA NO ÂMBITO DO SUAS
Como vimos na aula anterior, a escuta especializada é um procedimento de caráter protetivo, 
realizado no âmbito da rede de proteção à criança e ao adolescente vítima ou testemunha de 
violência e que abarca múltiplos sistemas, equipamentos, instituições e atores. Entretanto, o foco 
principal deste módulo é o procedimento de escuta especializada realizado no âmbito do Sistema 
Único de Assistência Social (SUAS), tendo em mente que o que estamos propondo são sugestões 
de boas práticas e não uma orientação finalizada ou protocolo validado por estudos, consultorias 
ou publicações. Nossa intenção é mostrar um caminho para a realização do trabalho in loco, o que 
não significa que é o único possível.
A revelação da situação de violência envolvendo criança e adolescente pode ocorrer em 
diversos espaços, tais como: escolas, unidades de atendimento socioassistencial, disque denúncia, 
Conselho Tutelar, delegacia de Polícia etc. Porém, o atendimento à criança e ao adolescente vítima 
ou testemunha de violência não ocorre, necessariamente, no local no qual foi feita a denúncia ou 
revelação da situação de violência (ROMEU; ELIAS; SILVA, 2014). Além disso, é necessário frisar que 
o atendimento deve ser realizado por profissionais capacitados/capacitadas que atuarão como 
uma porta de entrada.
Em se tratando da rede socioassistencial, o atendimento à criança e adolescente vítima ou 
testemunha de violência é de responsabilidade de todos os serviços do SUAS, mas o atendimento 
e acompanhamento especializado se dará no âmbito da Proteção Social Especial e deve ser 
realizado preferencialmente pelo Centro de Referência Especializado de Assistência Social (CREAS), 
mais especificamente, pelo Serviço de Proteção e Atendimento Especializado a Famílias e Indivíduos 
13
(PAEFI). Na ausência deste equipamento3, o atendimento deve ser realizado pelo/pela profissional 
de referência de Proteção Social Especial local (BRASIL, 2004; 2017, 2020). Contudo, é importante 
destacar que a inclusão da criança e/ou do adolescente e sua família no PAEFI, não significa que os 
mesmos não devem ser atendidos nos demais serviços ofertados pelo SUAS. Dessa maneira, cabe 
ao CREAS, mais precisamente ao PAEFI, atender e acompanhar a situação de violência, sendo que 
a criança e/ou adolescente e suas famílias podem apresentar outras necessidades que justifiquem 
seu atendimento e acompanhamento por outras unidades e serviços. Os casos apresentados no 
decorrer dessa aula exemplificam essa situação.
É importante destacar que a escuta especializada está incluída como atribuição do trabalho 
social executado nas unidades, serviços, programas e projetos do SUAS. Sendo assim, devem 
estar em conformidade com os objetivos da Assistência Social (BRASIL, 2020), dentre os quais 
destacamos aqueles presentes na Lei Orgânica da Assistência Social: 
A proteção social, que visa à garantia da vida, à redução de danos e à prevenção 
da incidência de riscos;
A vigilância socioassistencial, que visa analisar territorialmente a capacidade 
protetiva das famílias e nela a ocorrência de vulnerabilidades, de ameaças, de 
vitimizações e danos; e 
A defesa de direitos, que visa garantir o pleno acesso aos direitos no conjunto das 
provisões socioassistenciais.
Fonte: Lei Orgânica da Assistência Social (Lei. 8.742 de 1993)
3 A legislação brasileira, especialmente, a Lei Orgânica da Assistência Social (Lei 8.742 de 07 de dezembro de 
1993) e a Política Nacional de Assistência Social, prevê a municipalização da assistência social, de modo que todo o 
município deve ofertar a proteção social básica e especial. Entretanto, municípios de pequeno porte, isto é, de até 20.000 
habitantes não,necessariamente, devem possuir o CREAS (unidade de referência da proteção social especial média 
complexidade). Desse modo, a legislação aponta que, em caso de inexistência do equipamento, o município deve conter 
um profissional de referência da Proteção Social Especial (BRASIL, 2004; 2011a; 2011b).
14
Mas, afinal, como as situações de violência envolvendo crianças e adolescentes chegam ao 
conhecimento dos/das profissionais do SUAS? Podemos apontar quatro formas: 1) Revelação 
Espontânea; 2) Revelação de terceiros; 3) Identificação pelo/pela profissional de sinais de violência 
ou suspeita; 4) Encaminhamento de algum equipamento ou instituição. Essas formas serão 
explicadas a seguir.
1) Revelação espontânea:
No processo de atendimento e acompanhamento de crianças e adolescentes e suas famílias, 
em qualquer unidade e/ou serviço da rede socioassistencial, pode ocorrer que a criança ou o 
adolescente revele, de forma espontânea, que vivenciou um episódio de violência4, seja na condição 
de vítima ou de testemunha. Ocorrendo, assim, o que chamamos de revelação espontânea da 
situação de violência.
Essa revelação pode acontecer para qualquer trabalhador/trabalhadora do SUAS, inclusive para 
aqueles/aquelas que não compõem a equipe de referência das unidades e serviços5, pois, muitas 
vezes, a revelação espontânea é feita para quem a criança ou adolescente já estabeleceu um vínculo 
de confiança (BRASIL, 2020). Dessa forma, torna-se fundamental que todo/toda profissional do 
SUAS esteja capacitado/capacitada para identificar e acolher crianças e adolescentes em possível 
situação de violência. 
Em caso de revelação espontânea, recomenda-se que o/a profissional envolvido/envolvida 
siga os seguintes procedimentos6:
• Acolhida da revelação espontânea: O/A profissional ao qual a criança ou adolescente 
manifestou o interesse de comunicar a situação de violência deve criar um ambiente de 
proteção e privacidade, que permita à criança e/ou adolescente relatar a situação, caso 
demonstre interesse. Também deve mostrar-se disposto/disposta a ouvir e passar confiança, 
utilizando uma linguagem acessível. Para tanto, deve informar a criança ou adolescente, 
e o seu/sua responsável, os procedimentos formais que serão realizados, levando em 
consideração seu estágio de desenvolvimento e suas condições psicológicas. Durante 
esta etapa, é preciso consultar, separadamente, a criança ou o adolescente se desejam ser 
ouvidos desacompanhados. Caso optem por ser acompanhados deve ser permitido aos 
mesmos escolher seus acompanhantes, não se restringindo aos familiares (BRASIL, 2017).
4 É importante pontuar que essa revelação espontânea pode ser verbal ou não, devemos considerar a 
diversidade de sujeitos e estar atento às formas de comunicação. 
5 As equipes de referência das unidades e serviços do SUAS estão previstas na Norma Operacional Básica de 
Recursos Humanos do Sistema Único de Assistência Social de 2006. O material se encontra disponível em <http://www.
assistenciasocial.al.gov.br/sala-de-imprensa/arquivos/NOB-RH.pdf> .
6 A descrição das etapas do atendimento está sendo realizada com base em: Lei 13. 431 de 2017; Parâmetros de 
Atuação do Sistema Único de Assistência Social (SUAS) no Sistema de Garantia de Direitos da Criança e do Adolescente 
Vítima ou Testemunha de Violência (BRASIL, 2020); e Escuta de Crianças e Adolescentes em Situação de Violência sexual: 
Aspectos Teóricos e Metodológicos (BRASIL, 2017); Parâmetros de Escuta de Crianças e Adolescentes em Situação de 
Violência (BRASIL, 2017).
http://www.assistenciasocial.al.gov.br/sala-de-imprensa/arquivos/NOB-RH.pdf
http://www.assistenciasocial.al.gov.br/sala-de-imprensa/arquivos/NOB-RH.pdf
15
• Escuta do livre relato: Nesta etapa do atendimento, há dois caminhos possíveis, 
dependendo do/da profissional para quem a criança realizou a revelação espontânea:
a) Em caso da revelação não ocorrer perante profissional da equipe de referência 
deve ser feito:
- É possível acionar a equipe de referência imediatamente?
Sim → O processo de escuta do livre relato deve ser feito em conjunto por ambos 
os/as profissionais (profissional de equipe de referência e profissional que acolheu a 
revelação). 
Não → O/A profissional que acolheu a revelação espontânea deve escutar o relato e, 
posteriormente, acionar a equipe de referência. A comunicação à equipe de referência 
deve ser feita conforme o protocolo e fluxo local (BRASIL, 2020).
b) Em caso da revelação ocorrer perante profissional da equipe de referência deve 
ser feito: Realizar o procedimento de escuta e dar sequência ao atendimento.
Seja qual for a origem, e, consequentemente, o caminho a ser seguido, é imprescindível 
que o/a profissional/profissionais escutem sem realizar interrupções ou julgamentos. Deverão 
ser feitas apenas perguntas que objetivem a conclusão dessa etapa do atendimento. É preciso 
respeitar o ritmo e vocabulário da criança ou do adolescente; identificar se o relato já foi feito a 
mais alguém de forma que evite desgastes com indagações já feitas anteriormente e previna a 
violência institucional; verificar quais ações já foram tomadas e quais os possíveis responsáveis 
da criança ou do adolescente que podem exercer a proteção no espaço familiar ou comunitário.
• Identificação de demandas de cuidados imediatos ou urgentes: O/A profissional que 
estava presente no momento da escuta deve identificar as necessidades da criança ou do 
adolescente que requer encaminhamento urgente, como em casos de violência sexual, 
quando não se trata de uma violência antiga, no qual o encaminhamento ao serviço de 
saúde deve ser feito o mais rápido possível.
Observação: Caso a escuta do livre relato tenha sido realizada sem a presença de profissional 
da equipe de referência, é necessário que este seja acionado para realizar os encaminhamentos 
necessários.
16
SAIBA MAIS: A Lei 13.431 de 2017 em seu Art. 14 prevê a celeridade do atendimento, 
especialmente, nos casos de violência sexual. Você sabe o porquê dessa celeridade 
do atendimento? Vejamos: A celeridade do atendimento tem como objetivo garantir 
que rapidamente sejam tomadas medidas profiláticas e contraceptivas, de modo, a 
proteger integralmente essas vítimas. Além disso, conforme orientação expressa em 
Portaria GM/MS nº 1.271, de 6 de junho de 2014, a violência sexual deve ser notificada 
imediatamente (24 horas) pela Secretaria Municipal de Saúde. Há ainda a questão da 
coleta de provas e vestígios.
Veja mais em: BRASIL. MINISTÉRIO DA SAÚDE. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Ações Programáticas 
Estratégicas. PREVENÇÃO E TRATAMENTO DOS AGRAVOS RESULTANTES DA VIOLÊNCIA SEXUAL CONTRA MULHERES E 
ADOLESCENTES. Brasília: Ministério da Saúde, 2014, 126p. Disponível em: <https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/
prevencao_agravo_violencia_sexual_mulheres_3ed.pdf>. Acesso em: 02 abr. 2021
• Comunicação ao Conselho Tutelar: Após a equipe de referência tomar conhecimento da 
situação, seja em razão da escuta do livre relato ou mediante outro/outra profissional, a 
mesma deve comunicar o fato ao Conselho Tutelar do território. 
• Busca por informações e identificação de demandas: O/A profissional da equipe de 
referência deve recolher informações complementares sobre a situação com familiares 
e outros sujeitos a fim de garantir um atendimento integral e evitar a revitimização da 
criança e/ou do adolescente. Neste momento, devem ser identificadas as necessidades da 
criança ou do adolescente e sua família/responsáveis. 
• Encaminhamento para atendimento e acompanhamento: Nesta etapa, devem ser 
realizados os encaminhamentos, conforme os fluxos estabelecidos localmente, para as 
unidades, serviços, programas e benefícios que componham o Sistema de Garantia de 
Direitos da Criança e do Adolescente Vítima ou Testemunha de Violência que possam 
atender as necessidades da criança ou do adolescente e seus familiares.
Observação: Caso todo esse processo não tenha sido realizado no âmbito do CREAS, hánecessidade de encaminhar a criança ou o adolescente em situação de violência e suas famílias 
para esse equipamento e, especialmente, para o PAEFI, tendo em vista a competência do CREAS 
em atender situações de violação de direitos.
O fluxograma abaixo demonstra, de forma ilustrativa, esse processo de escuta em caso de 
revelação espontânea:
https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/prevencao_agravo_violencia_sexual_mulheres_3ed.pdf
https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/prevencao_agravo_violencia_sexual_mulheres_3ed.pdf
17
REVELAÇÃO ESPONTÂNEA
ACOLHIDA DA 
REVELAÇÃO 
ESPONTÂNEA
ESCUTA DO LIVRE 
RELATO
O/A PROFISSIONAL DEVE 
CRIAR UM AMBIENTE DE 
PROTEÇÃO E PRIVACIDADE
O/A PROFISSIONAL DEVE 
SE MOSTRAR DISPOSTO A 
OUVIR E PASSAR 
CONFIANÇA
O/A PROFISSIONAL DEVE 
INFORMAR A CRIANÇA OU 
ADOLESCENTE E AO SEU 
RESPONSÁVEL, OS 
PROCEDIMENTOS 
FORMAIS QUE SERÃO 
REALIZADOS
ACIONAR EQUIPE DE 
REFERÊNCIA E FAZER A 
ESCUTA DO RELATO EM 
CONJUNTO
FAZER A ESCUTA DO 
RELATO E, EM SEGUIDA, 
ACIONAR EQUIPE DE 
REFERÊNCIA
O /A PROFISSIONAL DEVE 
ESCUTAR SEM REALIZAR 
INTERRUPÇÕES OU 
JULGAMENTO
O /A PROFISSIONAL DEVE 
RESPEITAR O RITMO E 
VOCABULÁRIO DA 
CRIANÇA OU DO 
ADOLESCENTE
IDENTIFICAÇÃO DE 
DEMANDAS DE 
CUIDADOS 
IMEDIATOS OU 
URGENTES E 
ENCAMINHAMENTO
COMUNICAÇÃO AO 
CONSELHO TUTELAR
BUSCA POR 
INFORMAÇÕES E 
IDENTIFICAÇÃO DE 
DEMANDAS
ENCAMINHAMENTO 
PARA ATENDIMENTO 
E 
ACOMPANHAMENTO
O/A PROFISSIONAL 
DEVE FAZER APENAS 
PERGUNTAS QUE 
OBJETIVEM A 
CONCLUSÃO DESSA 
ETAPA DO 
ATENDIMENTO
O/A PROFISSIONAL DEVE 
IDENTIFICAR SE O RELATO 
JÁ FOI FEITO A MAIS 
ALGUÉM
O/A PROFISSIONAL DEVE 
VERIFICAR QUAIS AÇÕES 
JÁ FORAM TOMADAS E 
POSSÍVEIS RESPONSÁVEIS 
DA CRIANÇA OU DO 
ADOLESCENTE QUE 
PODEM EXERCER A 
PROTEÇÃO NO ESPAÇO 
FAMILIAR OU 
COMUNITÁRIO
O/A PROFISSIONAL DEVE 
CONSULTAR, 
SEPARADAMENTE, A 
CRIANÇA OU O 
ADOLESCENTE SE 
DESEJAM SER OUVIDOS 
DESACOMPANHADOS OU 
ACOMPANHADOS
O RELATO OCORREU 
PERANTE 
PROFISSIONAL DA 
EQUIPE DE 
REFERÊNCIA?
É POSSÍVEL ACIONAR 
A EQUIPE DE 
REFERÊNCIA 
IMEDIATAMENTE?
NÃO
NÃO
SIM
SIM
Fonte: Fluxograma elaborado pelos autores, tendo como referência BRASIL (2017) e BRASIL (2020). 
Para ilustrar, trouxemos um caso de Revelação Espontânea e os procedimentos que foram 
adotados. 
Carlos Eduardo é uma criança de 07 anos que participa do Serviço de Convivência 
e Fortalecimento de Vínculos, em uma instituição de atendimento a crianças e 
adolescentes que tem parceria com a política de assistência social municipal. Certa 
vez, enquanto participava de uma das atividades propostas, relatou à orientadora/
educadora social Cecília que, nos finais de semana, ele ficava sozinho na casa que 
reside com a mãe e o padrasto. Em uma dessas noites, ao tentar fazer um lanche para 
comer, acabou se cortando. 
A orientadora/educadora social o levou a uma das salas da instituição, que não estava 
sendo utilizada no momento, e lhe garantiu que, naquele espaço, ele poderia contar o 
que quisesse e que ninguém brigaria com ele. Ao questioná-lo se gostaria de conversar 
sobre o que havia lhe contado, Carlos Eduardo disse que sim. 
18
Em seguida, Cecília tentou contato com profissionais do Centro de Referência da 
Assistência Social (CRAS)7 do território em que Carlos Eduardo reside. Entretanto, 
não foi possível acionar a equipe de referência naquele momento. Diante dessa 
indisponibilidade, retornou para a conversa com Carlos Eduardo e lhe perguntou se 
gostaria de estar acompanhado, por algum adulto de sua confiança, para continuar 
a conversa. Carlos Eduardo disse que não, pois sua mãe estava trabalhando e seu 
padrasto era muito bravo e ele não queria irritá-lo. 
Então, Cecília deixou que ele relatasse livremente a situação vivenciada. O menino 
contou que fica sozinho, no período da noite dos finais de semana, quando sua mãe 
e seu padrasto saem. Ele fica assistindo televisão e, algumas vezes, sua mãe deixa sua 
janta pronta, em outras, não. A profissional perguntou se havia muito tempo que isso 
ocorria e ele disse que sim. Cecília também perguntou se ele já havia contado isso a 
mais alguém e obteve resposta negativa. Questionou se mais alguma coisa acontecia 
que o incomodava e Carlos Eduardo disse que às vezes apanhava do padrasto.
Após o relato, Cecília informou à criança que teria de contar essa situação para uma 
outra profissional e que ela teria de tomar algumas atitudes, mas que não era para ele 
se preocupar, pois ninguém brigaria com ele. Depois de encerrar a conversa com a 
criança, Cecília voltou a ligar no CRAS, onde conseguiu agendar uma conversa com um 
profissional da equipe de referência, naquele mesmo dia, e comunicou toda a situação 
que lhe foi revelada. 
Tendo a profissional da equipe de referência tomado 
conhecimento sobre o caso, providenciou um relatório para 
o Conselho Tutelar da região. Além disso, realizou uma visita 
domiciliar onde constatou outras necessidades da família, como 
o acesso do padrasto à rede de atenção psicossocial da saúde.
A partir de então, seguindo o fluxo estabelecido localmente, a 
profissional, por meio de relatório, encaminhou o padrasto para 
o Centro de Atenção Psicossocial (CAPS) do município e a criança 
e família para o Centro de Referência Especializado de Assistência 
Social (CREAS), uma vez que a situação se configurava como 
violação de direitos e, portanto, necessitava de atuação do serviço 
especializado. 
2) Revelação de terceiros:
Uma situação de violência envolvendo criança ou adolescente, também pode ser comunicada 
à rede socioassistencial por terceiros, como familiares, vizinhos, professores, etc. Neste caso, cabe 
ao profissional do SUAS:
7 A escolha de Cecília para procurar o CRAS se deve ao fato de que o Serviço de Convivência e Fortalecimento de 
Vínculos no qual trabalha é referenciado a essa unidade.
19
REVELAÇÃO DE TERCEIROS
ACOLHIDA
O/A PROFISSIONAL DEVE 
CRIAR UM AMBIENTE QUE 
PERMITA AO INDIVÍDUO 
REALIZAR O RELATO DE 
FORMA SEGURA E COM 
PRIVACIDADE
O /A PROFISSIONAL DEVE 
INFORMAR SOBRE O 
SIGILO PROFISSIONAL
O/A PROFISSIONAL DEVE 
INFORMAR SOBRE OS 
PROCEDIMENTOS QUE 
SERÃO REALIZADOS E 
POSSÍVEIS 
ENCAMINHAMENTOS
O /A PROFISSIONAL DEVE 
ESCUTAR SEM REALIZAR 
INTERRUPÇÕES OU 
JULGAMENTO
O /A PROFISSIONAL DEVE 
FAZER APENAS 
PERGUNTAS QUE 
OBJETIVEM A CONCLUSÃO 
DESSA ETAPA DO 
ATENDIMENTO
COMUNICAÇÃO AO 
CONSELHO TUTELAR E 
DEMAIS ÓRGÃOS DO 
SGDCA VÍTIMA OU 
TESTEMUNHA DE 
VIOLÊNCIA
ESCUTA
Fonte: Fluxograma elaborado pelos autores a partir de informações BRASIL (2020).
Vamos ver um exemplo de Revelação por Terceiros.
Zélia é assistente social do Centro de Referência de Assistência Social (CRAS) e, em 
uma terça-feira, recebeu em sua sala um homem chamado Antônio. Ele se identificou 
como tio de Camila, uma adolescente de 13 anos que reside em um dos bairros que 
pertencem ao território de referência da unidade.
Antônio relatou que, devido ao seu processo de divórcio, está passando uns dias na 
casa onde Camila reside com a mãe e a avó. Neste meio tempo ele tem percebido uma 
situação estranha entre Camila e o namorado da mãe, que, frequentemente, visita a 
casa. 
A profissional comunicou a Antônio que aquele espaço era seguro, que ele poderia 
relatar a situação, caso desejasse, e informou sobre o seu compromisso ético de 
garantir o sigilo profissional.
Antônio relatou que o namorado da mãe de Camila tem atitudes possessivas referente 
a adolescente e que, em muitas de suas visitas, ele se dirige ao quarto de Camila ou fica 
conversando com ela pelos cantos da casa. Nas últimas semanas, ele tem observado 
mudanças de comportamento na menina, como a perda de apetite, isolamento social 
e até mesmo agressividade. 
Zélia informou a Antônio que ela precisaria repassar essa informação para outros 
profissionais, de outras instituições, que atuam na rede de proteção da criança e 
do adolescente. Em seguida, por meio de relatórios, como determina o fluxo local, 
informou a situação ao Conselho Tutelare solicitou aos demais órgãos da rede de 
proteção o agendamento de uma reunião para que pudessem discutir a situação e 
pensar em estratégias coletivas.
20
3) Identificação pelo/pela profissional de sinais de violência ou suspeita:
No dia a dia no SUAS, pode acontecer do/da profissional que acompanha determinada criança 
ou adolescente suspeitar que possam vivenciar algum episódio de violência. Neste sentido, é 
importante destacar que a violência é um fenômeno multidimensional e multifacetado, isto é, se 
expressa de diversas formas e abarca diferentes dimensões da vida. Assim, identificar uma situação 
de violência requer ter clareza de que se trata de um processo complexo, pois suas manifestações 
não são excludentes e nunca ocorrem de forma isolada. Por essa razão, o/a profissional deve levar 
em consideração o contexto social e familiar da criança ou do adolescente (BRASIL, 2017).
Embora muitos dos sinais de violência sejam de mais fácil percepção para os/as profissionais 
da área da saúde, é necessário que, no cotidiano da rede socioassistencial, os/as trabalhadores/
trabalhadoras estejam atentos/atentas aos menores indícios, tais como:
• Existência de hematomas, queimaduras e fraturas pelo corpo;
• Tendência ao isolamento social e à introspecção; 
• Regressão a comportamentos infantis, como chupar dedo, urinar na roupa;
• Lesões incompatíveis com o estágio de desenvolvimento da criança;
• Comportamento agressivo;
• Uso de substâncias como álcool, drogas lícitas e ilícitas; 
• Vergonha excessiva, culpa e autoflagelação, entre outros.
Fonte: Elaboração própria com base em informações da Sociedade Brasileira de Pediatria, et al (2001) 
Em caso de suspeita ou identificação de sinais de violência, o que se deve fazer? Antes de 
mais nada, o/a profissional deverá comunicar o fato, imediatamente, ao Conselho Tutelar, que 
acionará os demais órgãos do Sistema de Garantia de Direitos da Criança e do Adolescente Vítima 
ou Testemunha de Violência. Paralelamente, deve manter o acompanhamento socioassistencial da 
criança ou do adolescente e suas famílias, com as adequações necessárias. 
Vamos conhecer um caso que ilustrará esse tipo de situação. 
21
Durante o atendimento socioassistencial no Centro de Referência Especializado de 
Assistência Social (CREAS), a profissional Neide observou que Felipe, uma criança 
de 10 anos, com diagnóstico de Transtorno de Espectro Autista (TEA) e que estava 
acompanhando a avó naquele atendimento, apresentava hematomas pelo corpo.
A profissional, então, decidiu acompanhar a família com mais frequência e constatou que 
a criança residia com os avós e o pai. No decorrer do processo de acompanhamento, a 
profissional observou sinais de violência contra a criança como hematomas frequentes, 
comportamento introspectivo e uma dinâmica familiar que indicava risco social, já que 
o pai era usuário de drogas ilícitas e apresentava comportamento agressivo, conforme 
informado pelos avós da criança. A avó disse, também, que, algumas vezes, “dava umas 
palmadas” em Felipe porque perdia a paciência com ele e precisava educá-lo. 
A partir dessa situação, a profissional pediu à família para levar Felipe ao CREAS, onde, 
após conversar com a criança, realizou o processo de escuta na presença do avô, 
conforme o desejo de Felipe. A criança contou que, às vezes, era agredido pela avó 
quando demorava a comer, a tomar banho ou se negasse a algo que ela pedisse. Disse, 
também, que o pai às vezes chegava estranho em casa e que brigava com ele, às vezes 
batendo também. 
Diante desses elementos, a profissional decidiu comunicar a situação ao Conselho 
Tutelar do território e, por meio de relatório, informou a situação aos demais órgãos 
do Sistema de Garantia de Direitos da Criança e do Adolescente Vítima ou Testemunha 
de Violência. Também encaminhou o pai para o serviço de atenção psicossocial e, a 
fim de manter o acompanhamento e atendimento da família diante da especificidade 
da nova situação levantada, a profissional realizou algumas adequações no Plano de 
Atendimento e inseriu a família no Serviço de Proteção e Atendimento Especializado a 
Famílias e Indivíduos (PAEFI). Além disso, conversou com a família sobre a existência de 
um grupo formado por familiares de pessoas com TEA, que se reúne, semanalmente, 
e debate, junto de uma equipe multidisciplinar de profissionais do município, alguns 
assuntos pertinentes a essas realidades familiares. 
4) Encaminhamento feito por algum equipamento ou instituição:
A situação de violência também pode chegar para o/a profissional do SUAS a partir de algum 
encaminhamento de outro/outra profissional da Rede de Proteção. Neste caso, o/a profissional do 
SUAS deve:
22
• Identificar se o procedimento de escuta especializada já foi realizado para evitar que a 
criança ou o adolescente tenha de repetir o relato. O objetivo é evitar episódios de 
revitimização.
• Identificar, seja através do encaminhamento realizado, contato com o/a profissional que 
realizou o atendimento ou através de busca de informações com a família, quais são as 
necessidades da criança ou do adolescente e seus familiares. Após essa identificação, 
dentro das competências da unidade de atendimento e do profissional, buscar responder às 
demandas desses sujeitos.
• Verificar se a família da criança ou o adolescente encontra-se incluída no PAEFI. Caso essa 
inserção ainda não tenha acontecido deve ser providenciada. 
• Realizar acompanhamento socioassistencial dentro da sua competência.
Vamos conhecer mais um exemplo ilustrativo: 
Mariana é profissional da equipe de referência do Centro de Referência Especializado 
de Assistência Social (CREAS). Em um dia de trabalho, recebeu a ligação de Tereza, 
coordenadora de uma escola municipal do território, que pediu para que agendasse 
uma reunião. 
No dia da reunião, Tereza estava junto a Célia, monitora no Programa Escola Integrada, 
e ambas relataram a Mariana que estavam com uma situação de violência na escola 
em que trabalhavam. Célia explicou que, em uma das turmas que acompanhava, 
havia uma criança, Arthur, de 11 anos, que apresentava uma significativa mudança 
de comportamento. De uma criança ativa, curiosa e comunicativa, o menino, nas 
últimas semanas, se isolava do restante da turma, tinha episódios de agressividade 
e a frequência e rendimento escolar apresentava queda. Diante dessa situação, ela 
procurou Tereza e, juntas, conversaram com a criança, que relatou que os pais estavam 
se separando e que presenciava bastante brigas e agressões físicas entre eles. Logo, 
Mariana identificou que o processo de escuta já havia sido realizado e que outras 
informações constavam no relatório que a escola havia entregado. A escola também já 
havia encaminhado relatório ao Conselho Tutelar.
A partir da conversa com Célia e Tereza, Mariana decidiu buscar a família de Arthur para 
conversar e, consequentemente, ter mais informações. Nesse processo, verificou que 
a família vivenciava uma situação de vulnerabilidade socioeconômica e que a mãe se 
sentia mal, frequentemente, necessitando de avaliação e acompanhamento médico. 
Diante dessa situação, Mariana incluiu a família no Serviço de Proteção e Atendimento 
Especializado a Famílias e Indivíduos (PAEFI), encaminhou a mãe para atendimento 
na Unidade Básica de Saúde (UBS) de referência do território e os encaminhou para 
atendimento referente a benefícios, especialmente, o Programa de Transferência de 
Renda.
23
No módulo IV deste curso, apresentaremos os protocolos e fluxos de atendimento de forma 
mais detalhada. 
2.2 ACESSIBILIDADE: GARANTIR A ESCUTA ESPECIALIZADA DE CRIANÇAS E/OU 
ADOLESCENTES COM DEFICIÊNCIA 
Nós já aprendemos um pouco sobre como é feita a Escuta Especializada no âmbito do SUAS, 
chegou a hora de darmos atenção a uma especificidade deste procedimento. Estamos falando da 
acessibilidade, um conceito importantíssimo para que possamos garantir a Escuta Especializada 
de crianças e adolescentes com deficiência.
Falamos tanto emacessibilidade nos serviços socioassistenciais e, muitas vezes, esquecemos 
de buscar o sentido dessa palavra. Vejamos o que nos explica o Estatuto da Pessoa com Deficiência: 
Art. 3º, inciso I: acessibilidade é a possibilidade e condição de alcance para 
utilização, com segurança e autonomia, de espaços, mobiliários, equipamentos 
urbanos, edificações, transportes, informação e comunicação, inclusive seus 
sistemas e tecnologias, bem como de outros serviços e instalações abertos ao 
público, de uso público ou privados de uso coletivo, tanto na zona urbana como 
na rural, por pessoa com deficiência ou com mobilidade reduzida (ESTATUTO DA 
PESSOA COM DEFICIÊNCIA, LEI 13.146 DE 2015) 
A BUSCA INDIRETA DE INFORMAÇÕES
Como vimos no decorrer desse estudo, em algumas situações é 
necessário que o/a profissional do SUAS busque por informações 
complementares a fim de qualificar o seu atendimento, tendo como 
objetivo assegurar um atendimento integral, isto é, que responda às 
necessidades da criança e/ou do adolescente em situação de violência 
e sua família. Com o intuito de prevenir a revitimização, essa busca é 
feita de forma indireta, ou seja, não envolve diretamente a criança ou o 
adolescente. Geralmente, a conversa ocorre com familiares, vizinhanças 
e outras pessoas próximas a esses. Como pode ser feito esse processo?
A busca indireta de informações pode ser realizada de diversas maneiras, 
a depender do instrumental técnico-operativo do/da profissional, por 
exemplo, o mesmo pode escolher realizar uma visita domiciliar, convidar 
as pessoas do núcleo familiar da criança para uma conversa na entidade 
ou equipamento ou realizar uma entrevista social. O/A profissional deve 
ter autonomia para escolher os seus instrumentos e técnicas de trabalho, 
de forma que realize um atendimento qualificado e resolutivo.
24
Em outras palavras, podemos dizer que acessibilidade é dar atenção às necessidades especiais 
de adaptação das crianças e adolescentes com alguma deficiência que implicam em outra forma 
de comunicação, seja por restrições de longo prazo, seja de natureza física, mental, intelectual 
ou sensorial, ou questão linguística. Isto é, necessita-se garantir a acessibilidade quando essas 
condições em interação com uma ou mais barreiras, interferem de forma significativa no direito de 
igualdade de crianças e adolescentes.
A Lei 13.431/2017 e o Decreto 9.603/2018 relacionam acessibilidade com a criação de espaços. 
Entendemos, no entanto, que ESPAÇO vai além da estrutura física e abarca o sentido de acolher 
a pessoa sem limitações e barreiras, atendendo às especificidades de cada criança e adolescente.
É neste seguimento que precisamos trazer, também, o conceito de deficiência da Convenção 
Internacional das Pessoas com Deficiência:
Art. 1º: Pessoas com deficiência são aquelas que têm impedimentos de longo 
prazo de natureza física, mental, intelectual ou sensorial, os quais, em interação 
com diversas barreiras, podem obstruir sua participação plena e efetiva na 
sociedade em igualdade de condições com as demais pessoas (DECRETO 6. 949 
DE 2009).
Com base nesta definição, a Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência (Lei 13.146 de 
2015) estabelece uma tipologia das deficiências:
25
De�ciência Física
Alteração completa ou parcial de um ou 
mais segmentos do corpo humano, 
acarretando o comprometimento da 
função física, apresentando-se sob a 
forma de paraplegia, paraparesia, 
monoplegia, monoparesia, tetraplegia, 
tetraparesia, triplegia, triparesia, 
hemiplegia, hemiparesia, ostomia, 
amputação ou ausência de membro, 
paralisia cerebral, nanismo, membros com 
deformidade congênita ou adquirida, 
exceto as deformidades estéticas e as que 
não produzam di�culdades para o 
desempenho de funções.
De�ciências Múltiplas
Associação de duas ou mais de�ciências.
De�ciência Auditiva
Perda bilateral, parcial ou total, de 
quarenta e um decibéis (dB) ou mais, 
aferida por audiograma nas freqüências 
de 500Hz, 1.000Hz, 2.000Hz e 3.000Hz.
De�ciência IntelectualDe�ciência Visual
Funcionamento intelectual 
signi�cativamente inferior à média, com 
manifestação antes dos dezoito anos e 
limitações associadas a duas ou mais 
áreas de habilidades adaptativas, tais 
como: comunicação; cuidado pessoal; 
habilidades sociais; utilização dos 
recursos da comunidade; saúde e 
segurança; habilidades acadêmicas; lazer; 
e trabalho.
Cegueira, na qual a acuidade visual é igual 
ou menor que 0,05 no melhor olho, com a 
melhor correção óptica; a baixa visão, que 
signi�ca acuidade visual entre 0,3 e 0,05 
no melhor olho, com a melhor correção 
óptica; os casos nos quais a somatória da 
medida do campo visual em ambos os 
olhos for igual ou menor que 60o; ou a 
ocorrência simultânea de quaisquer das 
condições anteriores.
Tipos de De�ciência
(Decreto nº 5.296 de 2 de dezembro de 2004 e Lei 13. 146 de 2015)
26
Ainda de acordo com a Lei 12.764/2012, as pessoas com Transtorno do Espectro do Autismo 
são consideradas pessoas com deficiência
Diante do exposto, compreendemos que o "autismo é um distúrbio 
do desenvolvimento que se caracteriza por alterações presentes desde 
idade muito precoce, tipicamente antes dos três anos de idade, com 
impacto múltiplo e variável em áreas nobres do desenvolvimento 
humano como as áreas de comunicação, interação social, aprendizado 
e capacidade de adaptação" (MELO, 200, p.16).
As crianças e adolescentes precisam ser orientadas sobre seus direitos e deve ser reconhecida 
e valorizada sua fala para romper e enfrentar ciclos de violações de direitos fundamentais.
Em se tratando de crianças e adolescentes com deficiência, a lei é mais sucinta e aborda esse 
assunto no Artigo 5º da Lei 13.431/2017:
Lei nº 13.431/2017- Art. 5º:
IV - ser protegido contra qualquer tipo de discriminação, independentemente 
de classe, sexo, raça, etnia, renda, cultura, nível educacional, idade, religião, 
nacionalidade, procedência regional, regularidade migratória, deficiência ou 
qualquer outra condição sua, de seus pais ou de seus representantes legais;
XV - prestar declarações em formato adaptado à criança e ao adolescente com 
deficiência ou em idioma diverso do português.
27
Mas independente de previsão legal ou normativa para crianças e adolescentes com deficiência, 
defendemos que o/a profissional capacitado/capacitada que deseja realizar uma Escuta de 
qualidade, antes de mais nada, precisa respeitar a faixa etária da pessoa que será ouvida. Isto 
significa que, se for uma criança, devemos tratá-la como criança; se for um adolescente, devemos 
tratá-lo como adolescente; independente das limitações ou condições de cada um. O respeito e o 
bom senso sempre serão as melhores alternativas.
Vejamos, então, algumas dicas que promovem a acessibilidade com a acolhida dessas crianças 
e adolescentes a uma Escuta Especializada, lembrando que são sugestões de boas práticas no 
trabalho do SUAS.
Criança e/ou adolescente com deficiência física:
• Espera-se que o local de atendimento tenha rampas e/ou outras alternativas de acesso 
móvel. Esse é o primeiro requisito para receber uma pessoa com deficiência motora.
• Em toda a conversa com criança e adolescente, independente de sua deficiência, procure 
sentar-se à sua altura. Esta atitude facilita o contato visual, cria reciprocidade e uma 
comunicação afetiva e empática, além de passar ao outro a confiança para expressar o seu 
sentimento.
• Se a criança/adolescente estiver na cadeira de rodas, evite apoiar-se ou movimentá-la sem 
permissão. Aquele é o espaço dela/e e não deve ser invadido. 
• Não tema usar as palavras “correr” ou “caminhar”. As pessoas com deficiência também as 
utilizam.
• Se a deficiência não tiver relação com o episódio de violência, evite questionamentos 
sobre as causas se a criança/adolescente não der abertura.
• Observe no que aquela deficiência dificultou a defesa da criança e do adolescente diante 
da violência denunciada – vale para todas as deficiências
Fonte: Elaboraçãoprópria com base em informações contidas em DECRETO Nº 6.949, de 25 de agosto de 2009 
28
Criança e/ou adolescente com deficiência auditiva:
• Antes de iniciar a conversa com um deficiente auditivo, procure observar qual tipo de 
limitação a pessoa tem e quais intervenções e adaptações serão necessárias: se faz uso 
de aparelho auditivo, se será necessário um/uma intérprete de libras ou mesmo o uso de 
mímicas, caneta e papel se for alfabetizado.
• Verifique se o seu tom de voz está adequado para a conversa. Evite gritar.
• Procure um lugar com iluminação adequada para facilitar a leitura labial.
• Use frases curtas e de fácil compreensão.
• Fale devagar, mas com naturalidade, articuladamente, sem exageros, movimentando bem 
os lábios para facilitar a leitura labial.
• Fale de frente para a pessoa que conversa, mantenha o contato visual, pois se você desviar 
o olhar, ela poderá entender que a conversa acabou.
• Se tiver dificuldade para entendê-lo, não tenha receio de pedir que repita.
• Quando o/a surdo/surda estiver acompanhado de intérprete, fale diretamente com a 
pessoa surda, não com o/a intérprete.
• Se você souber a Língua Brasileira de Sinais (Libras), utilize-a na conversa, pode facilitar a 
comunicação.
• Outra forma de comunicação é por meio da escrita, você pode escrever as perguntas e 
estabelecer um diálogo muito proveitoso. 
Fonte: Elaboração própria com base em informações contidas em Lobato (2019)
Criança e/ou adolescente com deficiência visual:
• Ao conversar com pessoas com deficiência visual, haja de forma simples, cumprimente-a 
naturalmente e estabeleça um vínculo de confiança.
• Não toque nos braços ou mãos da criança/adolescente como forma de chamar a atenção.
• Você pode usar os termos como “cego”, “ver” e “olhar”. Os/as cegos/cegas também os 
utilizam.
29
• Fale mais alto se for solicitado. Lembre-se que a deficiência 
em questão é visual, não auditiva.
• Se a criança ou adolescente precisar de ajuda para se 
locomover, durante ou após a conversa, pergunte a ela como 
você poderá ajudá-la. Não intervenha se sua ajuda não for 
solicitada. 
Fonte: Elaboração própria com base em informações contidas em BRASIL. MINISTÉRIO 
DA ECONOMIA. ESCOLA NACIONAL DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA. PROGRAMA DE 
INCLUSÃO DE PESSOAS COM DEFICIÊNCIA. 2007.)
Criança e/ou adolescente com deficiência intelectual:
• Procure sentar-se à altura da criança ou do adolescente. Esta atitude facilita o contato 
visual, cria reciprocidade e uma comunicação afetiva e empática, além de passar ao outro 
a confiança para expressar o seu sentimento.
• Converse com a criança/adolescente com deficiência intelectual, mental, autismo, 
naturalmente, percebendo, aos poucos, suas limitações e como pode facilitar a comunicação. 
Não ignore sua deficiência. Se necessário, use imagens, papel, caneta e apoio de outra 
pessoa da confiança da criança e do adolescente e não envolvida na situação de violência.
• Não toque nos braços ou mãos da criança/adolescente como forma de chamar a atenção 
para algum questionamento.
• Trate-a com respeito e consideração.
Fonte: Elaborado pelos autores com base em informações contidas em BRASIL. MINISTÉRIO DA ECONOMIA. ESCOLA 
NACIONAL DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA. PROGRAMA DE INCLUSÃO DE PESSOAS COM DEFICIÊNCIA. 2007.
30
Muitas vezes a criança/adolescente, especialmente os que têm deficiência, não consegue 
perceber a diferença entre um carinho e uma violência sexual, consequentemente, tem dificuldade 
de comunicar a agressão vivida. Neste contexto, é importante reforçar o conjunto de negligências 
vivenciadas na família: aquela que deveria proteger, amiúde, é aquela que agride. 
O reconhecimento dos sinais de maus-tratos entre crianças e adolescentes 
com deficiência intelectual pode ser dificultado pela incapacidade 
que eles têm de verbalizar que estão sendo maltratados, ou por não 
compreenderem que estão sendo agredidos. Naqueles com deficiência 
física, a dificuldade em falar sobre a violência sofrida pode estar associada 
ao fato de quem agride é o mesmo que cuida, havendo elos afetivos, além 
do receio do abandono após a identificação de maus-tratos. (BARROS, 
2016, p.6)
Para ilustrar esse tópico, veremos um exemplo de caso concreto que aconteceu em um 
atendimento com uma adolescente com deficiência auditiva.
Tainá, (como a chamaremos aqui) era uma adolescente de quinze anos, quando 
foi encaminhada para um abrigo após ter sido violentada, supostamente pelo do 
padrasto. O hospital que realizou o atendimento fez a denúncia e a adolescente foi 
retirada da família biológica e encaminhada para uma família guardiã, mas essa família 
também praticava maus-tratos contra ela e, por isso, foi encaminhada para o serviço 
de acolhimento institucional. 
Tainá tinha deficiência múltipla: auditiva e uma leve deficiência intelectual. Usava 
aparelho auditivo, mas não reconhecia nossa linguagem oral, parecia que ouvia apenas 
ruídos. Ela fazia leitura labial e os profissionais do serviço de acolhimento tiveram 
que aprender a conversar com ela, falar pausadamente e da maneira mais objetiva o 
possível. Ela conseguia entender, mas eles não a compreendiam.
Tinham uma percepção do estado emocional dela: quando estava feliz, além do 
sorriso, o brilho nos olhos, ela dançava, ela pulava. Por outro lado, quando ela estava 
COMO ESTRELAS NA TERRA. 
O filme relata a história de uma criança de 9 anos 
de idade que sofre de dislexia e que vivencia a 
incompreensão dos adultos, dentre eles, seu pai e 
professora. Direção de: Aamir Khan. Ìndia, 2007, 165 
min. [Classificação livre, não há conteúdo de violência]
31
nervosa ela gritava, enrijecia os músculos. Muitas vezes ela ficava nervosa porque não 
compreendiam o que ela estava dizendo. Sempre se comunicou melhor com os outros 
adolescentes e crianças do abrigo que com os adultos.
Durante todo o período que ela ficou no abrigo, a dificuldade sempre existiu. Nunca 
conseguiram, de fato, entender a história por completo, porque ficavam sempre sobre 
o registro do que as pessoas diziam e, ora ela confirmava algumas coisas, ora ela não 
conseguia trazer os detalhes. Ela sofria muito por não conseguir comunicar o que havia 
acontecido com ela.
Tempos depois, ela foi para uma escola especializada em trabalhar com pessoas com 
deficiência, que tinha linguagem brasileira de sinais (libras). Na escola, ficou mais fácil 
para conversar com ela, porque foram aprendendo um pouco com ela a linguagem de 
sinais. Ela escrevia um pouco, mas a escrita era muito pontual.
Quem ajudou na comunicação foi o neto da professora de Tainá, que era adolescente 
e entendia sobre a linguagem de sinais. Graças a este intermédio, foi possível interagir 
melhor com a adolescente e compreender a história que, até então, era contada por 
adultos e não pela menina.
A partir da fala da adolescente os profissionais do abrigo conseguiram montar o 
quebra-cabeça de sua história, constatar as violências sofridas, ajudá-la na construção 
de novos vínculos sociais e familiares e na elaboração de seu projeto de vida, bem 
como o sistema de justiça pôde responsabilizar os agressores.
Agora que já aprendemos algumas boas práticas no atendimento à criança e ao adolescente 
com deficiência, passemos à questão da Escuta Especializada de crianças e adolescentes 
pertencentes a grupos culturais específicos.
2.3 A ESCUTA DE POVOS E CULTURAS TRADICIONAIS
No que concerne aos povos ou comunidades tradicionais, o Decreto 9.603/2018 orienta a 
escuta especializada da seguinte forma:
Decreto nº 9.603 de 2018
Art. 17. No atendimento à criança e ao adolescente pertencente a povos ou 
comunidades tradicionais, deverão ser respeitadas suas identidades sociais e 
culturais, seus costumes e suas tradições.
Parágrafo único. Poderão ser adotadas práticas dos povos e das comunidades 
tradicionais em complementação às medidas de atendimento institucional.
Art. 18. No atendimento à criança ou ao adolescente pertencente a povos 
indígenas, a Fundação Nacional do Índio- Funai do Ministério da Justiça e o Distrito 
Sanitário Especial Indígena do Ministério da Saúde deverão ser comunicados.
32
O atendimento culturalmente adequado às crianças e 
adolescentes de comunidades tradicionais, traz o desafio da 
criação de protocolos de atendimentos/escuta especializada 
que respeitem algumas práticas da comunidade consideradas 
comuns. Sendo assim, a escuta deve ser cuidadosa, pois estão 
em evidência, costumes, tradições e modos de vida das pesso-
as. Portanto, a articulação da rede com órgãos indigenistas e 
organizações de apoio às comunidades tradicionais é funda-
mental.
Criança e/ou adolescente pertencentes a povos e comunidades tradicionais (indígenas, 
quilombolas, ciganos, dentre outros)
• Dê preferência para a realização da Escuta Especializada nos locais que, culturalmente, a 
criança/adolescente se sinta mais à vontade (aldeias indígenas, quilombos, acampamentos 
ciganos).
• Se não conhece, procure conhecer, previamente, alguns elementos da cultura de seu/
sua entrevistado/entrevistada. Muitas vezes, a quebra de confiança se dá por causa das 
chamadas gafes culturais.
• Procure sentar-se à sua altura. Esta atitude facilita o contato visual, cria reciprocidade e 
uma comunicação afetiva e empática, além de passar ao outro a confiança para expressar 
o seu sentimento.
• Procure entender que você está diante de uma criança/adolescente, independentemente 
de sua crença, tradição cultural, gênero ou modo de vida.
• Pergunte se ela se sente mais à vontade falando em seu idioma comunitário. Pode ser que 
você precise de um/uma intérprete e, neste caso, informe que ele não poderá fazer 
interferências durante a entrevista. Converse e conheça o/a intérprete antes da entrevista 
e não use outra criança/adolescente ou pessoa da família para ser intérprete.
• Use frases curtas e de fácil compreensão, falando 
devagar e com naturalidade.
• Você pode pedir que ela escreva as respostas em 
um pedaço de papel.
• Trate-a com respeito e consideração. Evite pré-
julgamentos, respeite o tempo, a fala, acolha os 
sentimentos da criança/adolescente.
• Peça apoio a órgãos como a FUNAI, associação de 
quilombolas, órgãos de defesa e proteção dos direitos 
para colaborar na escuta. 
33
• Segundo o artigo 12, da Convenção 169, do Decreto 5.051, DE 19 de Abril de 2004 “Os 
povos interessados deverão ter proteção contra a violação de seus direitos, e poder 
iniciar procedimentos legais, seja pessoalmente, seja mediante os seus organismos 
representativos, para assegurar o respeito efetivo desses direitos. Deverão ser adotadas 
medidas para garantir que os membros desses povos possam compreender e se fazer 
compreender em procedimentos legais, facilitando para eles, se for necessário, intérpretes 
ou outros meios eficazes.”
• Reconheça a importância dos pajés, parteiras, pais e mães de santo, barôs. Estas pessoas 
podem ajudar no fortalecimento e articulação da rede de proteção existente no território 
da criança/adolescente.
Fonte: Elaboração própria
Pensando nessas questões, trouxemos um auto-relato de uma assistente social negra, para 
exemplificar essas questões:
“Meu nome é Glória, tinha 9 anos e morava com minha mãe, meu pai e meu irmão. 
Sempre fui negra, gorda e pobre. Sou bisneta de pai de santo, com muito orgulho, 
mas sempre fomos católicos, porque minha mãe achava feio ser “macumbeira”. Tinha 
as melhores notas da escola, porém minha mãe era chamada na escola toda semana, 
porque eu conversava muito, agitava as aulas e a professora não conseguia trabalhar. 
Nas férias, sempre ia para a casa de minha avó, ela mora em uma casa pequena, dentro 
de uma fazenda grande e muito bonita. Tínhamos o maior orgulho de viver neste lugar 
há quase cinquenta anos. Meu tio dormia todos os dias nesta fazenda para tomar conta, 
pois, os donos só iam lá para passar os finais de semana. Na casa de minha avó não era 
muito bom: não tinha cama pra todo mundo, não tinha banheiro e a comida boa era 
sempre para os filhos dos tios que tinham mais dinheiro. Mesmo assim eu gostava de 
ficar lá. Um dia eu fui levar almoço para meu tio na casa da fazenda. Ele ficou muito 
feliz e me chamou para buscar cambucá no quintal: eu animei, era tempo da fruta e 
estava bem docinha. Ele trouxe um balaio cheio, comemos na frente da televisão, na 
sala da casa. De repente a porta e a janela foram fechadas, e, mesmo com a televisão 
ligada, tudo ficou calado, as risadas foram trocadas por um jeito diferente de me tocar: 
ninguém nunca tinha feito aquilo comigo, eu não sabia o que estava acontecendo. 
Tudo estava escuro. Eu senti dor. Eu não me lembro de mais nada. Eu dormi. Quando 
acordei ele me pediu para não contar a ninguém, pois eu levaria uma surra muito 
grande da minha mãe. Eu sabia que não estava certo, que tinha feito algo muito feio. 
Dois dias depois aconteceu novamente e, até hoje, eu me lembro com clareza de cada 
detalhe: meu irmão gritando fora do quarto, lá dentro, uma lágrima de dor descia 
no meu rosto. Foi aí que eu calei: tinha medo de voltar à minha avó. Fiquei quieta na 
escola. Na igreja, buscava salvação. Tinha medo até do meu pai. Alguns anos passaram 
e nunca disse a ninguém o que aconteceu comigo naquelas tardes. Conversando com 
duas primas, me disseram que aconteceu a mesma coisa com elas e que havia suspeita 
de uma quarta adolescente. Pelo bem da família, todas calamos. Hoje fui procurada 
para escutar uma sobrinha: um tio havia abusado dela e ela queria denunciar o caso. Há 
dez anos, fizemos a denúncia ao Ministério Público. Fizemos terapia, quando adultas, 
para falar o que aconteceu naquela roça. Até hoje a televisão está ligada e meus “tios” 
esperam uma sobremesa depois do almoço.”
34
Independente da diversidade e das necessidades do público atendido, lembre-se: para 
possibilitar a construção de uma relação de confiança entre técnicos e usuários, deve haver espaço 
para troca de ideias, informações e manifestação de vontades. Por maior que seja a diferença, 
lembre-se de que cada pessoa merece ser tratada com respeito e empatia.
2.4 O AMBIENTE DE REALIZAÇÃO DA ESCUTA ESPECIALIZADA. 
Tanto a Lei 13.431/2017 como o Decreto 9.603/2018 determinam que a Escuta Especializada, 
em âmbito de atendimento socioassistencial, deverá ser realizada em ambiente acolhedor, 
onde estejam garantidos às crianças e aos adolescentes o seu direito à privacidade e o sigilo da 
entrevista. Veja:
Lei 13.431/2017, Art. 10: A escuta especializada e o depoimento especial serão 
realizados em local apropriado e acolhedor, com infraestrutura e espaço físico 
que garantam a privacidade da criança ou do adolescente vítima ou testemunha 
de violência.
Decreto nº 9.603/2018, Art. 6º: A acessibilidade aos espaços de atendimento da 
criança e do adolescente vítima ou testemunha de violência deverá ser garantida 
por meio de:
I - implementação do desenho universal nos espaços de atendimentos a serem 
construídos;
II- eliminação de barreiras e implementação de estratégias para garantir a plena 
comunicação de crianças e adolescentes durante o atendimento;
III - adaptações razoáveis nos prédios públicos ou de uso público já existentes; e
IV - utilização de tecnologias assistivas ou ajudas técnicas, quando necessário.
Por entendermos que os locais onde se realizam os atendimentos são carregados de valores que 
podem interferir nas respostas das vítimas ou testemunhas de violência, a criação de um espaço 
de narrativa pode acentuar e até mesmo diminuir as tensões oriundas da situação de violência, ao 
propiciar uma narrativa dos fatos de forma espontânea e criativa (LEITE, 2008). E como podemos 
constituir um ambiente adequado em nosso local de atendimento?
O primeiro passo será disponibilizar um local para realização dos atendimentos que seja 
acolhedor e acessível. Pode ser uma sala, com decoração e elementos que deixem a criança ou 
o adolescente à vontade e seguros para expressar suas ideias. Por exemplo, pode-se decorar as 
paredes com imagens de paisagens e de animais tranquilos;dispor uma mesa e cadeira confortáveis 
com papel, lápis de cor e caneta, caso queiram se expressar por desenhos ou escrita; brinquedos; 
livros, revistas; música suave. Se o entrevistado/entrevistada for deficiente visual, pode incluir 
material em braile; se for deficiente auditivo deve ter um profissional capacitado em libras, e assim 
por diante.
35
Um exemplo prático pode ser tomado da ação coordenada pela Prefeitura Municipal de 
Guamaré, no Rio Grande do Norte. Por meio de sua Secretaria de Assistência Social, em parceria 
com o Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente, a Prefeitura de Guamaré 
investiu na capacitação dos profissionais envolvidos na Rede de Proteção e inscreveu uma proposta 
de atendimento em um programa patrocinado por empresa privada, em 2018. Com os recursos 
disponibilizados em 2019 e 2020, investiram em um Complexo de Proteção Social Especial, que 
abrigará programas e serviços da Proteção Social Especial do SUAS. Este Complexo terá, entre 
outros espaços de atendimento, uma sala exclusiva para Escuta Especializada, idealizada para 
acolher crianças e adolescentes vítimas ou testemunhas de violência.
O projeto desta sala, criado pela Prefeitura de Guamaré, não só atende os requisitos da lei 
como, esteticamente, configura um local ideal para realização de atendimentos com crianças e 
adolescentes. Mas sabemos que este exemplo, em muitos locais, é uma utopia, pois na imensidão 
do Brasil encontramos realidades que são bem distintas do que é idealizado. Até porque, a 
orientação da Tipificação Nacional de Serviços Socioassistenciais é sobre a oferta de serviços para 
todas as situações de violência e para todas as faixas etárias, não há orientação para unidades de 
CREAS específicos para crianças e adolescentes. Sabemos, também, que em muitas localidades, os 
órgãos e profissionais do SUAS dispõem do básico para realização de suas atividades.
Além disso, como estruturar esse espaço ideal se, é muito comum, as realidades regionais 
exigem que o/a profissional se desloque, com frequência, para realizar seu trabalho? Como pensar 
em uma sala decorada, acolhedora, quando o/a profissional do SUAS realiza atendimentos em 
aldeias indígenas, em comunidades quilombolas, em acampamentos ciganos? São ambientes 
culturalmente importantes para essas comunidades e que merecem a nossa atenção.
Ao realizar o atendimento socioassistencial nessas comunidades, o/a profissional deve 
estar preparado/preparada para proporcionar ao entrevistado a privacidade e o acolhimento 
necessários. Vejamos um caso concreto, ocorrido em um acampamento cigano. 
A assistente social, que aqui chamaremos de Heloísa, foi solicitada pelo Conselho 
Tutelar para atender a uma menina cigana, de 08 anos, que havia presenciado uma 
agressão com golpes de faca. O grupo de ciganos seminômades demonstrava 
desconfiança pelas pessoas que viviam fora de sua comunidade. Heloisa, então, foi ao 
acampamento e dirigiu-se à tenda da família para tentar conversar com a garotinha, 
mas percebeu que a menina estava constrangida até para falar o seu nome no meio 
de tantas pessoas. Então, a assistente social solicitou autorização dos pais e pediu à 
menina que a levasse ao local do acampamento que ela mais gostava de brincar. Lá 
chegando, elas se sentaram ao ar livre e Heloisa lhe ensinou a brincar de jogo da velha 
e adedanha. Em meio às brincadeiras e ao clima de descontração, a assistente social 
conseguiu que a menina adquirisse confiança e lhe falasse das suas necessidades e 
anseios, como se lhe contasse uma história.
36
Neste caso, a assistente social teve a sensibilidade de criar um espaço de atendimento a partir 
da rotina e da cultura daquela criança. Porém, sabemos que o/a profissional do SUAS nem sempre 
tem o tempo necessário para se preparar para um atendimento dessa natureza, pois os relatos 
podem surgir de forma livre e espontânea ao longo de um atendimento ou acompanhamento. 
Lembram da revelação espontânea e do livre relato? Eles podem ocorrer em diferentes contextos, 
no órgão de atendimento, em comunidades especiais, na escola ou em domicílio, e o/a profissional 
deve estar capacitado/capacitada para reconhecer a situação de violência e oferecer acolhida à 
criança ou ao adolescente naquele momento. Acompanhe um outro exemplo, envolvendo um 
caso de revelação espontânea.
Um pequeno município8 oferece acompanhamento socioassistencial às crianças e 
adolescentes que possuem pai e/ou mãe aprisionados. Uma vez ao mês, a assistente 
social se dirige à residência da família a fim de fazer o acompanhamento. Em uma dessas 
ocasiões, a profissional conversava sobre as visitas ao presídio com uma adolescente 
de 13 anos, seu avô e sua avó, na sala da residência da família. O pai da menina cumpria 
pena de 09 anos por tráfico de drogas e a filha se negava a realizar visitas, por mais 
que o pai insistisse no assunto. Em um certo momento da conversa, a adolescente 
revelou que, pouco antes do pai ser preso, um conhecido traficante do bairro entrou 
na residência da família, durante a madrugada, e espancou seu pai e ameaçou toda a 
família caso ele voltasse a chamar a atenção da polícia para o local. A menina assistiu 
o ato de violência de um canto do corredor e ficou apavorada. Imediatamente, os avós 
interromperam o relato, voltando ao assunto da visita. A assistente social permitiu que 
a conversa continuasse a fluir e mudou o assunto para os estudos da adolescente. Isso 
fez com que a adolescente quisesse mostrar uma pesquisa escolar em seu computador, 
o que permitiu que elas ficassem sozinhas por alguns minutos. Enquanto analisava a 
pesquisa, a assistente social, sutilmente, retomou o relato da menina acolhendo o livre 
relato.
Esse tipo de situação é muito comum no dia a dia dos/das profissionais que atuam no 
SUAS e, como vimos nos dois exemplos, o/a profissional deve estar capacitado/capacitada 
para agir repentinamente e com sensibilidade para a realização da Escuta Especializada. Assim, 
reconhecemos que ter um local específico para a realização dos atendimentos é o ideal, mas nem 
sempre é o mais importante. O fundamental é que o/a profissional esteja preparado/preparada e 
atento/atenta para criar um ambiente acolhedor onde quer que esteja realizando o atendimento.
8 O serviço de assistência social solicitou o anonimato dos envolvidos neste caso.
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2.5 BOAS PRÁTICAS PARA REALIZAÇÃO DA ESCUTA ESPECIALIZADA
Agora que já sabemos o que é uma Escuta Especializada e conhecemos como ela pode 
ser realizada no âmbito do SUAS por um/uma agente de proteção9, vamos aprender que o/a 
profissional poderá utilizar, em cada um dos casos que lhe será apresentado, técnicas apropriadas 
para a dinâmica do atendimento, que pode utilizar-se de entrevista. 
Primeiramente, precisamos entender que todo atendimento tem uma finalidade. No caso da 
Escuta Especializada, como já estudamos, o objetivo principal é o cuidado e a proteção e não a 
coleta de provas. Para tanto, o/a profissional que realizará o atendimento deverá ser capacitado/
capacitada para a escuta, pois é um procedimento que deve ser feito com respeito, ética e cuidado 
para não revitimizar a criança ou adolescente.
Para que a Escuta Especializada cumpra com essa finalidade, é fundamental que o/a profissional 
conheça a criança ou o adolescente que entrevistará e este processo de conhecimento se dá a partir 
de duas maneiras: quando se conhece a situação da criança/adolescente a partir do relato feito 
pelos adultos e quando se conhece a situação a partir do relato da própria criança/adolescente. 
No primeiro caso, quando o/a profissional toma conhecimento da situação por terceiros, ele/ela 
deverá contextualizar a escuta conversando com as pessoas envolvidas e buscando informações 
mais precisas, antes de conversar com a criança ou com o adolescente. 
Mas quando se toma conhecimento de uma situação a partir do próprio relato da criança 
ou do adolescente, é fundamental que o/a profissional compreenda o universo da

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