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Prévia do material em texto

A Liberdade Assistida e a
Prestação de Serviços à Comunidade
Apresentação
 
Nesta aula vamos nos aprofundar nas duas medidas socioeducativas de meio aberto: a Liberdade Assistida (LA) e a Prestação de Serviço à Comunidade (PSC). Conheceremos a base legal, as condições de execução e cumprimento das medidas e as principais orientações para as equipes que vão lidar com os adolescentes.
A Liberdade Assistida
 
A Liberdade Assistida (LA) é a sanção mais aplicada a adolescentes em conflito com a lei no Brasil, chegando a superar o número de atendimentos de Prestação de Serviços à Comunidade (PSC) e as medidas de restrição de liberdade. Apesar dos diversos ataques e descréditos que sofre, a LA continua sendo a medida mais aplicada no país.
Base legal da Liberdade Assistida:
 
Existem alguns documentos que nos orientam sobre a execução da Liberdade Assistida. Eles compõem a base legal da medida. Você deve estar familiarizado com alguns deles:
 
· Estatuto da Criança e do Adolescente.
· Resolução nº 119/2006 do CONANDA.
· Resolução nº 109/2009 do CNAS - Tipificação dos Serviços Socioassistenciais.
· Lei 12.594/2012 (Lei do SINASE).
 
Destacamos os artigos 118 e 119 do ECA. Clique nos links abaixo para conhecê-los:
Art. 118
Art. 118. A liberdade assistida será adotada sempre
que se afigurar a medida mais adequada para o fim de
acompanhar, auxiliar e orientar o adolescente.
 
1º A autoridade designará pessoa capacitada para
acompanhar o caso, a qual poderá ser recomendada
por entidade ou programa de atendimento.
 
2º A liberdade assistida será fixada pelo prazo
mínimo de seis meses, podendo a qualquer tempo ser
prorrogada, revogada ou substituída por outra medida,
ouvido o orientador, o Ministério Público e o defensor.
Art. 119
Art. 119. Incumbe ao orientador, com o apoio e a
supervisão da autoridade competente, a realização
dos seguintes encargos, entre outros:
 
I - Promover socialmente o adolescente e sua família,
fornecendo-lhes orientação e inserindo-os, se necessário, em
programa oficial ou comunitário de auxílio e assistência social;
 
II - Supervisionar a frequência e o aproveitamento escolar
do adolescente, promovendo, inclusive, sua matrícula;
 
III - Diligenciar no sentido da profissionalização do
adolescente e de sua inserção no mercado de trabalho;
Apresentar relatório do caso.
O texto do estatuto reforça a natureza pedagógica da medida. Por meio do fortalecimento das relações comunitárias e da inserção do jovem nos diversos serviços, espera-se a ruptura com a dinâmica infracional. Desse modo, o espírito da medida está no “acompanhar”, no “estar junto”. Antes da definição de LA apresentada pelo ECA, essa medida passou por um processo de maturação e experimentou mudanças de nomenclatura e aplicação.
Após refletir sobre a questão abaixo,
clique em "resposta" para visualizar a explicação.
· Questão
 
Por que a LA é a medida que melhor traduz os princípios da Doutrina da Proteção Integral?
Resposta
Porque o ECA busca romper com os padrões tradicionais de assistência à infância que eram marcados, via de regra, pela institucionalização e a segregação da comunidade e da família.
Vigiar x Assistir
 
Nas aulas anteriores você aprendeu que, antes do ECA, o Brasil teve dois códigos destinados aos “menores”. Nesses códigos havia menção à figura da “liberdade vigiada” (Código Mello Mattos) e da “liberdade assistida”. Ainda que no Código de 1979 o termo tenha sido alterado, a literatura nos mostra que o contexto era de extrema vigilância e controle rígido dos comportamentos considerados inadequados ou anormais.
 
Até a promulgação do ECA, o que prevalecia, do ponto de vista legal, era a lógica da situação irregular. Entre outros aspectos, essa lógica tratava os adolescentes, em especial os negros e filhos das classes trabalhadoras, como elementos suspeitos, pertencentes a grupos considerados perigosos, e que deveriam ser constantemente vigiados. O sentido da vigilância contido nos dois primeiros códigos residia no medo, na desconfiança, na perspectiva da periculosidade do outro, que precisava ser suprimida. Assista o vídeo a seguir e busque responder às seguintes questões:
 
· Qual era a forma de lidar com crianças infratoras até a Constituição de 1988?
· Qual foi a mudança de nomenclatura que o Código de Menores de 1979 trouxe?
· De acordo com o Código de 1979, o juiz possuía muita ou pouca influência na aplicação de medidas socioeducativas?
· De acordo com o ECA, o juiz pode exigir que o adolescente em Liberdade Assistida respeite um horário para chegar em casa?
· A Liberdade Assistida no ECA:
·  
· Já a concepção de liberdade assistida contida no ECA defende um olhar integral, de proteção e responsabilização, ainda que sancionatória, que se distancia do modelo anterior. Também é preciso afastar qualquer semelhança entre essa medida e a Liberdade Condicional prevista aos adultos, que, entre outras coisas, estabelece restrições de locais de frequência e horário de chegada em casa.
·  
· Assim, o ECA prevê uma medida de caráter pedagógico, calcada na perspectiva de proteção integral ao adolescente e sua família, que o oriente no acesso a seus direitos. O trabalho da equipe técnica deve estar voltado para o rompimento da dinâmica infracional, de forma a responsabilizar o adolescente diante das consequências do ato cometido e colaborar para o desenvolvimento de suas potencialidades.
·  
· A vigilância de comportamentos não faz parte do processo pedagógico. Veja que é fundamental que a equipe técnica esteja ciente de seu papel nesse processo e de suas limitações. Na tabela abaixo estão listadas as principais diferenças entre os dois modelos. Leia cuidadosamente a abordagem de cada ideia de liberdade para compreender a diferença entre a liberdade vigiada e a liberdade assistida.
s refletir sobre a questão abaixo,
clique em "resposta" para visualizar a explicação.
· Questão
 
Que elementos caracterizam a vigilância de comportamentos dos adolescentes?
· Resposta
Após refletir sobre a questão abaixo,
clique em "resposta" para visualizar a eResposta
A desconfiança, o medo, a ideia de sujeito perigoso, a moralização e culpabilização pelo ato infracional.
xplicação.
· Questão
 
O que significa, de fato, assistir?
· Resposta
· Resposta
· Estar ao lado, mostrar-se presente, fazer com que o adolescente perceba que pode confiar em você e que o serviço existe para ele
Mitos da Liberdade Assistida
 
São inúmeros os usos e interpretações equivocadas da Liberdade Assistida. A LA é a medida socioeducativa de meio aberto que mais se aparenta às medidas protetivas cabíveis a adolescentes em situação de vulnerabilidade. Isso costuma gerar algumas interpretações equivocadas, tais como:
 
· “A Liberdade Assistida tem baixo caráter sancionatório”
· “É mais difícil para o adolescente ser responsabilizado, pois a Liberdade Assistida não gera um sentimento de obrigatoriedade”
· “A liberdade Assistida é fraca, por isso deve sempre ser aplicada junto à PSC.
· “A LA é uma tentativa de minimizar os danos causados pela medida de internação”!
 
Reconhecer a falta de fundamentos dessas afirmações contribui para melhor compreender sobre a forma de ação da LA. O vídeo a seguir busca derrubar alguns dos mitos mais comuns sobre a medida.
Questão
 
Quais as diferenças entre liberdade assistida e livramento condicional?
Resposta
O livramento condicional prevê uma série de restrições como horário de chegar em casa, frequência a determinados locais e ocupação lícita. Entendemos que adolescentes, em princípio, não poderiam frequentar determinados locais, todavia esta vedação se dá no âmbito da família, e não da sanção imposta pelo Judiciário.
Cuidados no atendimento e execução da Liberdade Assistida
 
A Liberdade Assistida tornou-se o espírito da Doutrina da Proteção Integral, pois a liberdade é o fator que oferece ao adolescente uma perspectiva de construção de caminhos alternativos. Ainda assim, o adolescente pode chegar ao serviço cheio de sentimentos como culpa, raiva, vingança, medo e vergonha. Nesses momentos, o técnico deve estar presentee ficar atento a como cada adolescente vivencia a medida e quais caminhos podem ser construídos. Algumas perguntas podem servir como ponto de partida:
A opinião do adolescente: ouvir a opinião do adolescente sobre como ele enxerga suas próprias atitudes é fundamental. Isso permite entender o contexto cultural em que o ato infracional foi produzido, além de nos munir com formas de superar a situação. Todo ato infracional está inscrito em uma relação social e, muitas vezes, ele é a superfície de processos mais profundos que podem ser ressignificados de outras formas.
 
Outro aspecto importante é que o acompanhamento deve ser baseado na perspectiva do cuidado e da redução de danos. Isso vale para todos os aspectos da vida do jovem, como:
 
· Uso de substâncias psicoativas
· Vida sexual
· Exposição a situações de risco
· Envolvimento com atos infracionais
· Vinculação familiar etc.
 
Devemos partir da perspectiva de que cada jovem tem seu tempo de desenvolvimento, que varia de indivíduo para indivíduo.
O cuidado: de modo geral, o cuidado pressupõe uma acolhida empática e contínua, que valoriza cada detalhe trazido pelo adolescente e seus familiares. Iniciativas de cunho “messiânico”, em que se espera que o atendimento faça o adolescente parar de usar drogas ou cometer infrações, voltar à escola ou parar de brigar com os pais, podem frustrar tanto os profissionais como o próprio jovem. As pactuações devem ser feitas com base na realidade, capacidade e desejo do adolescente. O técnico deve acompanhar e munir o adolescente de ferramentas que lhe permitam, por exemplo, refletir sobre o uso de crack, a rejeição do uso do preservativo, a não aderência à escola ou outros problemas que surjam. É a partir dele e no tempo dele que a ação vai sendo desenvolvida
Cumprimento da medida: sobre as condições de cumprimento da LA, há alguns questionamentos que devem ser feitos, de forma a tornar mais clara a situação do adolescente e sua família. A seguir, listamos algumas perguntas que você pode fazer ao realizar o atendimento ao adolescente e sua família. Elas estão divididas por temas.
• A família tem recursos para custear o transporte do adolescente até o CREAS ?
 
• O adolescente tem acesso ao Passe-Livre?
 
• A família e, em especial, o adolescente, têm garantida a segurança alimentar e nutricional?
 
• O adolescente chega com fome ao CREAS?
 
• O lanche é satisfatório?
 
• O cardápio é construído com os usuários?
• O adolescente tem que trabalhar para auxiliar no sustento da casa?
 
• A dupla jornada escola-trabalho permite que ele consiga vincular-se ao serviço?
 
• O adolescente tem que cuidar de idosos ou irmãos mais novos?
• O território do CREAS é hostil àquele adolescente?
 
• Existem divisões, rixas ou disputas entre grupos rivais que impedem o jovem de circular por ali?
• Há relatos de abuso ou violações de direito que o adolescente tenha sofrido no âmbito familiar ou no bairro em que vive? Como isso o afetou?
 
• Ameaças: o adolescente, ou algum membro da família, está ameaçado de morte?
• As atividades pedagógicas propostas são infantilizadas?
 
• Elas atendem à realidade dinâmicas da vida juvenil, dialogam com novas tecnologias e falam a linguagem dos jovens?
Transporte
Alimentação
Trabalho
Violência
Abusos
Adequação
Os "casos perdidos": por vezes o adolescente é acusado de falta de interesse pelas atividades ou de ser “um caso perdido” (alguém que não conseguirá romper com a lógica infracional). Devemos ter cuidado com esses julgamentos. É claro que o adolescente pode não querer cumprir a medida. No entanto, antes de chegar a essa conclusão e informar ao Judiciário a desistência do jovem, é importante que você se questione sobre a abordagem utilizada. Nos tópicos a seguir, são propostas algumas indagações para você refletir sobre o tratamento utilizado nos casos mais difíceis.
• Você já testou a linguagem que utiliza com outros jovens?
 
• É um linguajar compreensível?
 
• Você considera que o adolescente entendeu todas as orientações dadas pelo judiciário ou na entrevista inicial no CREAS?
 
• Antes de informar o juiz, você já cogitou realizar uma visita domiciliar para tentar entender porque o adolescente não vem comparecendo ao CREAS?
• Você conversou com os familiares e com o próprio adolescente para tentar entender quais os motivos da não vinculação?
• O CREAS tem realizado acompanhamento junto à unidade de saúde ou à escola em que o adolescente estuda para averiguar se ele também tem faltado às consultas ou às aulas? Se ele não tem ido à escola, este pode ser um sintoma de que o atendimento no CREAS não está alcançando suas expectativas. Uma reunião na escola ou no posto de saúde pode sensibilizar o adolescente para a frequência ao CREAS.
• O atendimento deve ser sempre no CREAS?
 
• Será que a Liberdade Assistida pode ser pensada em articulação com outras instituições em que o adolescente se sente mais familiarizado?
 
• Será que o acompanhamento técnico só pode ocorrer ali?
Linguagem
Visita domiciliar
Motivação
Articulação
Outras instituições
Atenção! Quando não articulamos de forma adequada os encaminhamentos intersetoriais, estamos violando direitos fundamentais, como o direito ao Sistema Único de Saúde (SUS), à escolarização ou à profissionalização. “Costure” bem a rede antes de encaminhar e acompanhe a referência e contrarreferência.
Após refletir sobre a questão abaixo,
clique em "resposta" para visualizar a explicação.
· Questão
 
Como fazer a LA ter aceitação do adolescente e trazer bons resultados?
Resposta
Com planejamento prévio. Quando o adolescente chegar ao serviço, este já deve estar estruturado para recebê-lo. As articulações intersetoriais já devem ter sido feitas ou encaminhadas.
Os egressos
 
Um ponto sensível sobre a LA é o costume de aplicar essa medida aos casos de egressos de medidas socioeducativas, em especial àqueles oriundos do meio fechado (semiliberdade ou internação). É preciso cautela cvom essa conduta, pois a Liberdade Assistida não deve ser utilizada como acompanhamento de uma outra medida socioeducativa mais gravosa. Apesar dessa prática estar prevista em lei, é desaconselhado ao Judiciário aplicá-la sem um olhar bastante crítico, pois somente situações bastante específicas demandam essa medida, como é explicado no vídeo a seguir.
No vídeo a seguir, o diretor técnico da Fundação Casa de São Paulo, Adilson Fernandes explica mais a respeito do meio fechado e do meio aberto do sistema socioeducativo e como a relação entre esses dois atendimentos influencia a abordagem realizada com os adolescentes egressos.
É importante que vocês entendam que quando falamos do SINASE estamos nos referindo a um sistema único, integral, que é composto por diversas políticas públicas, entre elas o SUS e o SUAS. Não existe o sistema de meio aberto e o de meio fechado, existem medidas cumpridas com restrição de liberdade ou na comunidade. Os adolescentes, independente da medida que recebam, têm um território, um bairro, um espaço de pertença.
 
O município de origem do adolescente que está no meio fechado tem o dever de acompanhar e apoiar a família do internado de modo a fortalecer as relações comunitárias temporariamente rompidas pela medida de internação, preferencialmente por meio do PAEFI. Os serviços do SUAS também devem organizar, junto às equipes das unidades de internação o retorno do adolescente ao território de origem. O adolescente precisa estar protegido do momento em que recebe a medida até a extinção desta pelo Judiciário. Em alguns casos o acompanhamento pós-medida pode ser necessário (o que comumente se conhece como "acompanhamento de egressos").
 
Os planos municipais de atendimento socioeducativos também precisam prever ações de acompanhamento aos adolescentes em cumprimento de medida de internação e aos egressos, uma vez que todos são detentores de direitos e pertencentes ao território. O atendimento desses adolescentes deve ser partilhado entre município e estado.
 
É fundamental entender que o adolescente é egresso desde o momento em que recebe a medida, umavez que esta é sempre excepcional e breve. Ele deve ser visto como um sujeito que tem história, vínculos pessoais e comunitários, e o objetivo da medida é superar a trajetória infracional. Esse processo de vida só poderá ser bem-sucedido considerando o espaço de convivência e vinculação afetiva e identitária do adolescente.
 
Não se deve, em nenhuma hipótese, discriminar o adolescente oriundo do meio fechado (seja na condição de egresso ou em substituição de medida). Para que o trabalho tenha continuidade é imperativo que o PIA desenvolvido no meio fechado possa chegar ao meio aberto, para que as ações tenham continuidade e os direitos do adolescente não sejam violados, o que obrigaria à reconstrução de todo o planejamento.
 
Não importa quantas medidas o adolescente tenha recebido na vida, e se estas foram substituídas por outras mais ou menos gravosa. Cada adolescente é único e tem o seu tempo, seu processo. Comparações entre eles só depõem contra o caráter particularizado da socioeducação e podem reforçar sentimentos de frustração ou menos-valia. O egresso do meio fechado não deve ser visto como perigoso, “caso perdido” ou “fracassado”, mas sim como um adolescente que cumpriu sua medida de internação e, provavelmente, traz consigo traumas e sofrimentos inerentes à privação de liberdade. Esse jovem precisa ser acolhido, não julgado ou temido.
 
Após refletir sobre a questão abaixo,
clique em "resposta" para visualizar a explicação.
· Questão
 
Em que momento o adolescente pode ser considerado egresso?
Resposta
Ainda não há uma política de egressos no Brasil, todavia podemos dizer que o adolescente é egresso desde o momento em que recebe a medida, pois temos que partir da perspectiva de que ele pertence a um território e que a medida é sempre excepcional e breve.
Questão
 
Qual a diferença entre os adolescentes do meio aberto e do meio fechado?
Resposta
Nenhuma. São os mesmos adolescentes, todavia submetidos a regimes diferentes. Não reproduza preconceitos pelo fato um jovem ter cometido um ato infracional mais grave ou ter vindo da internação.
A Prestação de Serviços à Comunidade:
 
Ao contrário da Liberdade Assistida, que já estava prevista no Código de 1979, a Prestação de Serviços à Comunidade (PSC) não existia formalmente antes do ECA. Nesse tipo de medida socioeducativa, o adolescente em conflito com a lei deverá executar atividades em favor da comunidade por meio de entidades públicas ou privadas, tais como:
 
· Entidades assistenciais
· Hospitais
· Escolas
· Outros estabelecimentos congêneres
· Programas comunitários ou governamentais
 
Essas tarefas devem ser realizadas aos sábados, domingos ou feriados, ou ainda em dias úteis, contanto que não atrapalhem a frequência escolar ou a jornada normal de trabalho do adolescente. A jornada de trabalho semanal não deve ultrapassar 8 horas.
 
Não é qualquer tarefa que deve ser atribuída ao adolescente. Ela deve condizer com as aptidões do socioeducando. O serviço deve ser selecionado buscando-se uma ação pedagógica que privilegie a descoberta de novas potencialidades, direcionando construtivamente o futuro do adolescente. Assista ao vídeo a seguir, e fique atento às seguintes questões:
 
· Qual o tempo máximo da PSC?
· Para qual tipo de instituição os adolescentes são encaminhados?
· É correto encarar a PSC como uma porta de entrada para o mundo do trabalho?
· A partir de qual idade o adolescente pode tornar-se um aprendiz?
· A PSC deve priorizar o vínculo do adolescente com a comunidade?
· A PSC é uma medida de fácil aplicação?
· Base legal da PSC:
·  
· Vamos conhecer agora quais são os principais dispositivos normativos sobre a Prestação de Serviços à Comunidade e onde essas orientações estão disponíveis. Clique nos itens da tabela abaixo, para ler sobre a PSC.
· Estatuto da Criança
· e do Adolescente:
· Art. 117. A prestação de serviços comunitários
· consiste na realização de tarefas gratuitas de interesse
· geral, por período não excedente a seis meses, junto
· a entidades assistenciais, hospitais, escolas e outros
· estabelecimentos congêneres, bem como em programas
· comunitários ou governamentais.
·  
· Parágrafo único. As tarefas serão atribuídas conforme
· as aptidões do adolescente, devendo ser cumpridas durante
· jornada máxima de oito horas semanais, aos sábados,
· domingos e feriados ou em dias úteis, de modo a não prejudicar a frequência à escola ou à jornada normal de trabalho.
· Lei do SINASE
· A Lei do Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo (SINASE) estabelece aos municípios:
·  
·  
· Art. 5º Compete aos Municípios
· III - Criar e manter programas de atendimento para a
· execução das medidas socioeducativas em meio aberto;
·  
· Art. 14º Incumbe ainda à direção do programa de medida
· de prestação de serviços à comunidade selecionar e
· credenciar entidades assistenciais, hospitais, escolas ou
· outros estabelecimentos congêneres, bem como os
· programas comunitários ou governamentais, de acordo
· com o perfil do socioeducando e o ambiente no
· qual a medida será cumprida.
Base legal da PSC:
 
Vamos conhecer agora quais são os principais dispositivos normativos sobre a Prestação de Serviços à Comunidade e onde essas orientações estão disponíveis. Clique nos itens da tabela abaixo, para ler sobre a PSC.
Estatuto da Criança
e do Adolescente:
Lei do SINASE
A Lei do Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo (SINASE) estabelece aos municípios:
 
 
Art. 5º Compete aos Municípios
III - Criar e manter programas de atendimento para a
execução das medidas socioeducativas em meio aberto;
 
Art. 14º Incumbe ainda à direção do programa de medida
de prestação de serviços à comunidade selecionar e
credenciar entidades assistenciais, hospitais, escolas ou
outros estabelecimentos congêneres, bem como os
programas comunitários ou governamentais, de acordo
com o perfil do socioeducando e o ambiente no
qual a medida será cumprida.
Resolução CNAS nº 109 (Tipificação Nacional dos Serviços Socioassistenciais)
Essa resolução trata do Serviço de Proteção a Adolescentes em Cumprimento de LA e PSC e estabelece as condições, critérios, diretrizes e objetivos do atendimento socioeducativo a esses adolescentes. O documento é claro sobre a dimensão da proteção social presente em ambas as medidas, desmistificando a ideia de que a PSC se resume à execução de tarefas externas, sem acompanhamento social.
 
 
Caderno de Orientações Técnicas do Serviço de Proteção a Adolescentes
O Caderno de Orientações Técnicas do Serviço de Proteção a Adolescentes em Cumprimento de Medida Socioeducativa de LA e PSC reforça o que está posto no ECA e na própria Lei do SINASE, desixando claro que a medida tem caráter pedagógico e não de trabalhos forçados e que o acompanhamento social é parte inerente do processo de responsabilização.
Aprendizagem profissional não é PSC:
 
Até aqui, concordamos que a PSC não deve ter caráter laboral, ou seja, não está associada com a noção de trabalho. Com isso, podemos concluir que o inverso também ocorre: o trabalho realizado pelo adolescente na forma de aprendizagem profissional também não deve ser considerado PSC.
 
 
 
 
 
 
 
 
A aprendizagem profissional é um direito dos adolescentes previsto na Lei  n010.097 de 2000 para jovens de 14 a 24 anos, por um período máximo de 2 anos, com remuneração condizente com o trabalho e registro na Carteira de Trabalho e Previdência Social. A aprendizagem é facultativa para qualquer jovem e não deve ser entendida como a única saída para adolescentes pobres, podendo fazer parte do Plano Individual de Atendimento - PIA do socioeducando, caso seja de seu interesse. No entanto, a aprendizagem nunca deve ser confundida com a própria medida.
 
O uso de mão de obra adolescente via PSC configura exploração do trabalho infantil em suas piores formas, pois o  jovem não recebe qualquer remuneração e é, em muitos casos, colocado em atividades associadas a limpeza, pintura ou reparação, entrando em contato com produtos químicos ou instrumentos de trabalho que exigem destreza além de sua capacidade etáriae expõem seu corpo a acidentes (entorses, quebra de ossos, queimaduras, cortes, etc) e doenças (intoxicações, Lesão por Esforço Repetitivo, danos ao sistema respiratório, entre outras).
 
Disciplinamento moral: outro problema que ocorre em relação à PSC é o fato de algumas entidades e instituições parceiras incorrerem em práticas antigas de “disciplinamento moral” dos adolescentes. Entre essas práticas está a imposição de valores religiosos por meio de obrigação de rituais que desrespeitam o caráter laico do ECA e do SINASE (como orações, batismos, missas, “descarregos”, ofertas de dízimo, exorcismos, etc).
 
O racismo e a discriminação de gênero presentes tanto na sociedade como nas entidades e instituições executoras da PSC também dificultam e até mesmo impedem a correta execução da medida pelo adolescente.
 
É dever das instituições parceiras de adolescentes em cumprimento de PSC acolher o socioeducando respeitando suas expressões de identidade de raça ou etnia, religião, orientação sexual, gênero, origem social e quaisquer outras que se façam presentes.
O trabalho realizado pelo adolescente
na forma de aprendizagem profissional também
não deve ser considerado como uma PSC.
Atenção! É importante que as atividades construídas com o adolescente não sejam insalubres, perigosas ou noturnas.
Após refletir sobre a questão abaixo,
clique em "resposta" para visualizar a explicação.
· Questão
 
Mesmo sendo uma imposição, como fazer o adolescente entender que pé necessário cumprir a PSC?
Resposta
Mostrando a ele que a PSC não é uma medida de trabalhos forçados. Desenvolva atividade lúdicas, artísticas, enriquecedoras, que tragam visibilidade positiva à medida. Veja os exemplos nas outras aulas.
PSC e o Trabalho
 
A PSC faz parte do rol de medidas cabíveis a adolescentes em conflito com a lei. No entanto, é fundamental entender que a sua natureza não é penal, mas sim pedagógica. A Constituição Federal de 1988, em seu artigo 5º, veda qualquer tipo de sanção judicial que envolva trabalhos forçados. Assim, a PSC não deve conter nenhum caráter laboral, mas sim educativo. As tarefas realizadas por adolescentes no cumprimento de PSC devem ser diferentes de uma sanção orientada pela lógica do trabalho, geralmente calcada na execução de tarefas manuais, repetitivas, subalternas ou humilhantes.
 
É prática comum que o adolescente em cumprimento de PSC seja equivocadamente encaminhado para atividades laborais e, geralmente, manuais, como faxina, preparação de refeições, serviços gerais ou de copa (servir café, lavar louças, limpar banheiros), arquivamento, almoxarife ou tarefas burocráticas que pouco contribuem com seu desenvolvimento psicossocial, o que acaba por vincular o trabalho à punição pela transgressão, perdendo totalmente o caráter pedagógico da medida.
A PSC deve fortalecer a convivência familiar e estimular a vinculação à comunidade. Isso pode ser feito por meio de participação em instituições de interesse social, como hospitais, organizações da sociedade civil, escolas, Centros de Referência de Assistência Social (CRAS), bombeiros e Detran, entre outras.
A PSC não deve conter caráter laboral,
mas sim educativo.
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A Liberdade Assistida e a
Prestação de Serviços à Comunidade
A Liberdade Assistida
Vigiar X Assistir
Mitos da LA
Cuidados no atendimento e
execução da LLiberdade Assistida
Os egressos
Apresentação
A Prestação de Serviços à Comunidade
PSC e o Trabalho
O PIA e a PSC
Casos de PSC
Atribuições do CREAS na PSC
O trabalho da equipe do CREAS: um aspecto importante para a equipe do CREAS e das entidades parceiras, é elaborar, sempre que possível, a relação entre o ato infracional e o serviço que será prestado. Por exemplo: imagine o caso de um adolescente que recebeu uma medida por ter sido apreendido com drogas. Nesse caso, podemos fazer perguntas como:
Fazer o adolescente varrer ruas ou realizar serviços administrativos em uma escola permite a ele refletir sobre o ato infracional?
Como a tarefa colabora para o adolescente entender as consequências do porte ou uso de drogas?
Como fazer para a PSC não se transformar em algo sem relação com a dimensão socioeducativa da medida?
A resposta para todas as perguntas está nas potencialidades do jovem. Todo adolescente possui talentos. Em alguns casos, essas potencialidades são abafadas por um conjunto de estigmas ou de descrenças sofridas desde a infância. Cabe à equipe técnica dos CREAS construir, junto aos usuários, as possibilidades de prestar serviços relevantes à comunidade e ao próprio adolescente.
 
O foco é o adolescente e não a infração: o olhar sensível do técnico às potencialidades do adolescente e do território é fundamental para a construção de uma PSC que seja satisfatória e tenha sentido o jovem. É o adolescente que deve estar no centro do planejamento da medida, e não a tarefa a ser cumprida. A equipe do CREAS deve pensar a estratégia do serviço com base no que o jovem gosta de fazer, levando em conta suas aptidões (música, artes, esportes) e a relação entre a atividade a ser realizada e a desconstrução do ato infracional.
Fique atento!
 
A aplicação da PSC deve ser sempre cercada de certos cuidados para que as equipes não incorram em erros que podem prejudicar o verdadeiro sentido da escolha da medida.
 
Não confunda PSC com outros serviços já existentes. Oficinas culturais, prática de capoeira, judô ou outros esportes, treino musical, teatro ou aprendizagem profissional são estratégias complementares, extremamente importantes e vinculantes para o adolescente, porém não são a medida em si. O que demarca a execução da medida é o trabalho de reflexão e responsabilização quanto ao ato infracional, aliado à proteção social do jovem e de sua família. Se o atendimento se reduz a oficinas, então a execução da medida não está acontecendo de fato!
 
Aprendizagem profissional não é PSC. O trabalho realizado pelo adolescente na forma de aprendizagem profissional também não deve ser considerado PSC. A aprendizagem profissional é um direito de jovens de 14 a 24 anos, por um período máximo de 2 anos, com remuneração condizente com o trabalho e registro na Carteira de Trabalho e Previdência Social. A aprendizagem pode fazer parte do Plano Individual de Atendimento (PIA) caso seja de interesse do adolescente, mas de forma alguma pode ser confundida com a própria medida.
Após refletir sobre a questão abaixo,
clique em "resposta" para visualizar a explicação.
· Questão
 
Por que não aproveitar a PSC para inserir o adolescente no mundo do trabalho?
Resposta
Porque a medida não é de trabalho compulsório. Por muito tempo, e ainda hoje, alguns entendem que o melhor para adolescentes em cumprimento de medidas socioeducativas deveria seria o trabalho compulsório (especialmente se eles forem pobres). Mas precisamos reforçar que esse adolescente pode ressignificar sua vida de outras formas (pela educação integral, por exemplo). Trabalho é direito, e não imposição.
As atribuições do CREAS na PSC
 
As equipes do CREAS têm papel fundamental na construção de um processo de PSC que crie identificação com o adolescente e faça uma ponte entre o significado do ato infracional e as consequências para si e para a comunidade. Com isso, espera-se encontrar formas de reconstrução dessa relação fragilizada. É preciso atenção quanto ao caráter pedagógico da medida, afastando qualquer traço punitivo de suas práticas.
 
O CREAS deve articular-se com a entidade parceira onde a medida será prestada no sentido de construir coletivamente as ações que vão ocorrer. É importante a realização de reuniões contínuas para o monitoramento do que foi planejado. O CREAS pode e deve sensibilizar o corpo institucional da entidade parceira sobre a natureza da PSC. As dificuldades enfrentadas pela entidade parceira devem ser levadas para a equipe do CREAS a fim de encontrar soluções conjuntas, pois o adolescente é responsabilidade de todos.
 
 
O CREAS deve articular-se com a
entidade parceira onde a medida será
prestada no sentido de construircoletivamente as ações.
E quando a indicação da atividade parte do próprio Judiciário? Em alguns casos, o CREAS recebe do Judiciário a indicação de uma atividade específica como PSC. Ou seja, o juiz define o local e a atividade que o adolescente deve executar. A Lei 12.594/2012 estabelece que cabe ao Programa de Prestação de Serviços à Comunidade e Liberdade Assistida selecionar e credenciar entidades parceiras para o recebimento do adolescente:
 
 
Art. 14.  Incumbe ainda à direção do programa
de medida de prestação de serviços à comunidade
selecionar e credenciar entidades assistenciais,
hospitais, escolas ou outros estabelecimentos
congêneres, bem como os programas comunitários ou
governamentais, de acordo com o perfil do socioeducando
e o ambiente no qual a medida será cumprida.
 
No entanto, o parágrafo único do artigo 14 prevê que o Ministério Público e o Poder Judiciário podem impugnar o credenciamento, informando à direção do programa de atendimento.
 
 
Parágrafo único.  Se o Ministério Público impugnar
o credenciamento, ou a autoridade judiciária considerá-lo
inadequado, instaurará incidente de impugnação,
com a aplicação subsidiária do procedimento de apuração
de irregularidade em entidade de atendimento regulamentado na
Lei no 8.069, de 13 de julho de 1990 (Estatuto da Criança
e do Adolescente), devendo citar o dirigente do programa
e a direção da entidade ou órgão credenciado.
 
 
Perceba que apesar da possibilidade de impugnação do credenciamento, a escolha das entidades continua sendo do Poder Executivo.
Questão
 
Como melhorar a relação com as entidades ou instituições públicas que recebem o adolescente?
Resposta
Realizando supervisões permanentes e reuniões semanais. Mostre que o CREAS é parceiro e está lá para dar todo o suporte necessário.
Recomendação: solicite à instituição parceira que eleja uma pessoa de referência e capacite essa pessoa sobre a socioeducação. Isso facilitará o diálogo com a instituição parceira.
O PIA e a PSC
 
A atribuição de construção do Plano Individual de Atendimento (PIA) é exclusiva da equipe técnica, com a participação do adolescente e suas família. É nesse momento que o tipo da PSC será pactuado entre a equipe e o adolescente. Essa é uma prerrogativa do Executivo e não do Judiciário. Apenas a partir do conhecimento da história do jovem que o processo pode ser pactuado. Isso exige conhecimento técnico de profissionais específicos.
A atribuição de construção do Plano Individual
de Atendimento (PIA) é exclusiva da equipe técnica
com a participação do adolescente e sua família.
Caso você vivencie uma situação em que o Judiciário defina a PSC a um adolescente, é preciso tomar as medidas adequadas. É importante sensibilizar seu órgão gestor para que ele esclareça isso ao sistema de Justiça a fim de estabelecer um fluxo mais alinhado à lei. Sabemos que não é fácil, mas esse é o caminho institucional mais seguro.
A tabela a seguir, apresenta as atribuições que pertencem e que não pertencem ao CREAS na formulação e execução de PSC. Leia atentamente e reflita sobre cada tópico.
​CursoMedidas Socioeducativas em Meio Aberto
É atribuição do CREASÉ atribuição do CREAS
Não é atribuição do CREAS
Construir o PIA junto à entidade parceira, o adolescente e sua família.
Respeitar a identidade específica de cada adolescente, sem impor valores religiosos ou moralistas.
Permitir o livre acesso dos adolescentes à instituição.
Incentivar as trocas entre adolescentes em cumprimento de PSC e os demais usuários da entidade.
Propiciar a prática de tarefas lúdicas, didáticas e interessantes para o jovem, afastando a execução da PSC de seu caráter conservador e laboral.
Acompanhamento familiar.
Monitoramento das atividades do jovem na entidade parceira.
 
Realizar o acompanhamento psicossocial.
Não é atribuição do CREAS
Não consultar o adolescente, seus familiares e a entidade parceira.
Doutrinação (imposição) de valores religiosos aos adolescentes.
Segregação do adolescente dentro de um setor específico da unidade. Identificação do espaço de atendimento de modo a estigmatizá-lo.
Proibição de contato do adolescente com outros usuários da instituição. Atendimento em dias específicos para evitar o encontro do adolescente com outros públicos do CREAS.
Imposição de tarefas humilhantes, perigosas ou degradantes como forma de PSC (lidar com produtos químicos, exposição da imagem do adolescente, entre outras situações).
Culpabilização da família pelo ato infracional, imposição de valores morais.
Falta de contato com a entidade parceira.
Delegar à entidade parceira o acompanhamento psicossocial.
Atenção! A PSC deve estar prevista no PIA, todavia este planejamento não é estático, ele pode ser alterado. O fato de um adolescente não se adaptar a determinada tarefa não significa descumprimento de medida.
Casos de PSC
 
A melhor forma de compreender como aplicar a PSC é tomando conhecimento de casos práticos em que essa medida tenha sido utilizada com sucesso. Cada contexto exige uma abordagem diferente. A experiência e a sensibilidade contam muito na hora de optar por este ou aquele caminho. Reflita sobre a aplicação da PSC em cada um dos casos apresentados a seguir:
Caso 1
Mariana (nome fictício) recebeu uma medida de PSC por envolvimento com o tráfico de drogas. A adolescente pouco frequentava a escola, pois sofria bullying pelo fato de ser gorda. Ela enfrentava dificuldades de relacionamento com os pais e tinha baixa autoestima. Mariana encontrou na venda de drogas a oportunidade de reconhecimento social e uma renda considerável, que permitia a ela adquirir bens antes inacessíveis. Ela também teve acesso a armas (o que fazia os colegas não rirem mais dela por causa do peso) e encontrou seu companheiro, que também vendia drogas.
 
Descobrindo as potencialidades: o desafio para a equipe do CREAS era, além de ofertar os serviços das diversas políticas públicas, descobrir quais potencialidades da adolescente poderiam ser exploradas por meio da PSC. Mariana mencionou que gostava muito de assistir desfiles de moda, mas achava que aquele não era seu universo, pelo fato das modelos serem sempre magras. Ela também tinha um grande carisma e conseguia mobilizar as pessoas por meio de sua oratória, mas nunca tinha visto nisso uma qualidade. O pai sempre dizia que ela era tagarela e que meninas que falavam demais terminavam sozinhas.
 
Durante os primeiros atendimentos, a assistente social do CREAS percebeu que a adolescente era muito marcada pela discriminação sofrida pelo fato de ser gorda, e esse assunto a mobilizava muito. Ela usava roupas muito mais largas que o necessário e usava palavras negativas para falar de si. Além do encaminhamento para um acompanhamento psicoterápico no ambulatório da comunidade, a equipe do CREAS percebeu que a adolescente, junto a outras meninas com a mesma questão, poderia desenvolver um trabalho de ganho de autoestima, discutindo temas como gordofobia e bullying na própria escola em que estuda.
 
A volta da autoestima: os seis meses da medida foram marcados pela construção de um projeto escolar de discussão sobre as imposições de padrões de beleza sobre as mulheres. As meninas, em grupo, realizaram um desfile de moda que respeitava a diversidade corporal e criticava os modelos impostos pela mídia. Além da atividade junto à escola, a adolescente foi inserida em um programa de aprendizagem e a família passou a ser acompanhada pelo Serviço de Proteção e Atendimento Integral à Família (PAIF), para fortalecer os vínculos, fragilizados pela situação de grande dificuldade vivenciada por todos. A participação da escola foi fundamental para a construção desse projeto pedagógico da PSC, o ganho de autoestima da adolescente foi paulatinamente conquistado e ela voltou a frequentar mais as aulas, pois encontrava em outros espaços a visibilidade e o reconhecimento que antes pensava ter encontrado no tráfico.
Caso 2
Roberto foi apreendido por roubo. Recebeu a PSC e foi encaminhado ao CREAS pelo Judiciário. Ele tinha 16 anos e essa não era a primeira vez que havia sido apreendido.Ao entrevistá-lo, a psicóloga do CREAS identificou que a inserção do jovem nesse tipo de atividade era muito marcada por um discurso de afirmação de gênero. Segundo ele, as garotas “davam mais em cima” ao saber que ele tinha uma arma e poderia conseguir bens de consumo. Ser considerado um "fora da lei" gerava um relativo status no local onde residia e era, do ponto de vista cultural, um rito de passagem da vida de menino para a vida de homem.
 
A despeito dessa construção social, a psicóloga percebeu que, por meio do ato infracional, Beto buscava conquistar reconhecimento social na comunidade. Durante as entrevistas ele também relatou que adorava futebol. Ao ser, perguntado sobre o que gostaria de ser respondeu jogador, pois, segundo ele, seria querido pela torcida, teria várias garotas e daria uma vida confortável à família.
 
Descoberta de novas aptidões: a equipe do CREAS sabia que havia no município um projeto social vinculado ao esporte que atendia crianças em situação de vulnerabilidade. O adolescente foi convidado a participar como monitor do treinador para descobrir novos talentos. Roberto resistiu em um primeiro momento, mas aos poucos foi percebendo que o treinador confiava nele e as crianças o viam como uma pessoa de referência. Ele também passou a praticar mais esportes e descobriu outras aptidões que desconhecia, como capacidade de liderança e organização. Percebeu também que tinha uma nata habilidade de planejar estratégias de jogo e mobilizar pessoas em prol de um objetivo. Rapidamente se tornou presença nas atividades e hoje quer estudar para o curso de educação física.
Caso 3
Isabele é uma adolescente travesti de 15 anos que estava em situação de rua desde os 8 anos de idade. Ela foi para as ruas fugindo da violência em casa, da transfobia do padrasto e dos irmãos. Passou por diversas unidades de acolhimento e desde essa época realizou diversas atividades de sobrevivência, como lavar carros, pedir dinheiro em sinais etc. À medida que crescia, as pessoas passaram a auxiliá-la menos. Isabele então começou a realizar pequenos furtos para sobreviver nas ruas.
 
A adolescente foi apreendida ao tentar roubar a bolsa de uma idosa e quase foi linchada pela população local. A juíza do caso entendeu que a medida de PSC deveria ser aplicada e, adicionalmente, deveria vir acompanhada de uma protetiva provisória de acolhimento institucional, já que a família dela não foi encontrada pelo conselho tutelar. No entanto, a adolescente se mostrou extremamente resistente ao cumprimento da medida, tendo dificuldade para se adaptar à rotina da unidade de acolhimento.
 
A estratégia: a equipe do CREAS, ao perceber os desafios que a adolescente traz, articulou-se com a equipe técnica do acolhimento em que ela estava para pensar uma estratégia de adesão da jovem. Pela constante presença de Isabele nas ruas (mesmo estando acolhida, ela ia para a rua e voltava), as equipes apostaram em uma triangulação do acompanhamento: o CREAS, Serviço Especializado de Abordagem Social e unidade de acolhimento.
 
Vínculo com a avó: nas entrevistas com Isabele, a assistente social do acolhimento percebeu uma lembrança positiva da avó, dona Dagmar, que cuidou dela na primeira infância, mas que morreu logo depois que ela fugiu de casa. Essa relação a fazia ter contato com sentimentos diferentes daqueles que vivia nas ruas. Nas discussões de caso, as equipes dos três serviços pensaram em utilizar esse recurso emocional como forma de Isabele se sensibilizar para situações novas e diferentes. Os profissionais sugeriram a ela a participar como monitora em um projeto de acompanhamento que consistia na integração de idosos com pouca referência familiar em famílias acolhedoras, redes de lazer, convivência e inclusão digital no município etc.
 
Isabele ficou como referência de uma senhora de 71 anos, dona Dulce, que atravessava um período difícil de depressão, sem querer sair de casa. A idosa foi consultada sobre a possibilidade de ser acompanhada por Isabele. A princípio ficou receosa, mas elas sempre teriam uma referência técnica caso surgisse algum problema. Ficou combinado de a adolescente auxiliar dona Dulce em atividades que ela não conhecia (e que a própria jovem ainda estava descobrindo), como montar um perfil no Facebook, usar o celular para fazer contato com a família, mandar e-mails etc. A presença de Isabele dava forças à idosa para sair de casa, realizar pequenas atividades e ir até o ambulatório de saúde mental em que recebia tratamento. Isabele não era cuidadora de dona Dulce, mas uma facilitadora do contato da idosa com a comunidade. Ao mesmo tempo, dona Dulce trazia à adolescente um sentimento de responsabilidade, de que fazia algo positivo para alguém. A idosa foi orientada sobre a importância do respeito à diversidade de gênero e de qual deveria ser o tratamento adequado para com Isabele. Nesse período, a adolescente evadia do acolhimento e era frequentemente vista nas ruas.
 
Um trabalho conjunto: as equipes dos três serviços sustentaram a saída gradativa da adolescente dessa situação por meio de uma abordagem mais aberta e sensível. O acolhimento mantinha as portas sempre abertas para ela, flexibilizando horários de entrada e saída e mantendo espaço reservado para suas coisas. A equipe de abordagem fazia trabalhos pedagógicos e de acompanhamento na rua mesmo, oferecendo escuta, alimentação e transporte. O CREAS fez diversos encaminhamentos para Isabele, como acompanhamento médico e psicológico, hormonioterapia, retificação documental do nome social, entre outros.
 
Resultado positivo: a responsabilidade com Dona Dulce serviu também como uma ponte entre a adolescente e os serviços, pois dava a Isabele um sentimento de vinculação e responsabilidade. O foco aqui era o bem-estar da menina, e não o cumprimento imediato da medida. A PSC era parte de um plano social maior, que incluía proteção, respeito à alteridade, criação de perspectivas e responsabilização. A presença na unidade de acolhimento foi se tornando mais frequente e ela aceitou ser matriculada na educação de jovens e adultos (EJA), pois estava fora da escola há alguns anos. Mesmo após o término do tempo da PSC, a adolescente permaneceu vinculada ao PAEFI, pois a equipe ainda tentava restabelecer laços familiares e acompanhava a menina no processo de saída das ruas.
São inúmeras as possibilidades de PSC. Você viu que cada um dos exemplos abordados demandou uma análise criteriosa da situação? Não há uma solução única que vá resolver toda a complexidade que é lidar com situações que envolvam adolescentes em conflito com a lei. O que importa é que todas as soluções propostas promovam a reflexão e vinculem o adolescente à comunidade, ampliando seu universo pessoal e social.

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