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1 Universidade Federal de Santa Catarina - UFSC Florianopólis - SC ESPECIFICAÇÃO E ESTRUTURA DOS MATERIAIS Aços e Transformações Metalúrgicas PÓS GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA MECÂNICA REGINALDO PINTO BARBOSA Maio / 1995 2 S U M Á R I O 1. Classificação dos aços ......................................................................................................... 4 1.1. Tipos de Constituintes ...................................................................................................................4 a) Ferrita ....................................................................................................................................................... 4 b) Cementita .................................................................................................................................................. 4 c) Perlita ........................................................................................................................................................ 4 d) Austenita ................................................................................................................................................... 5 e) Martensita ................................................................................................................................................. 5 f) Ledeburíta ................................................................................................................................................. 5 2. Influência dos Elementos de Liga....................................................................................... 5 2.1. Alumínio .........................................................................................................................................6 2.2. Cromo .............................................................................................................................................6 2.3. Cobalto............................................................................................................................................6 2.4. Manganês........................................................................................................................................7 2.5. Molibdênio......................................................................................................................................7 2.6. Níquel..............................................................................................................................................8 2.7. Fósforo ............................................................................................................................................8 2.8. Silício...............................................................................................................................................8 2.9. Tungstênio ......................................................................................................................................9 2.10. Vanádio.........................................................................................................................................9 2.11. Cobre ............................................................................................................................................9 2.12. Titânio.........................................................................................................................................10 2.13. Boro.............................................................................................................................................10 2.14. Cério e Zircônio .........................................................................................................................10 2.15. Nióbio..........................................................................................................................................10 2.16. Selênio.........................................................................................................................................11 2.17. Fatores que Alteram a Posição das Curvas TTT....................................................................11 2.18. Influência do Elemento com a Finalidade de Melhorar ou Modificar Propriedades Específicas do Aço .....................................................................................................................11 3. Transformações que Ocorrem com Aquecimento ............................................................. 12 4. Transformações que Ocorrem com Resfriamento............................................................. 16 4.1. Transformação Perlítica .............................................................................................................17 4.2. Transformação Bainítica ............................................................................................................17 4.3. Transformação Martensítica ......................................................................................................19 4.4. Austenita Retida ..........................................................................................................................20 4.5. Meios de Resfriamento de Têmpera ..........................................................................................22 4.6. Transformações de Fase durante o Revenimento... ..................................................................22 5. Tipos de aço e suas aplicações .......................................................................................... 23 5.1 Aços Fundidos ...............................................................................................................................23 3 5.2. Aços Estruturais ..........................................................................................................................23 5.3. Aços Microligados........................................................................................................................24 5.4. Aços Bifásicos...............................................................................................................................26 5.5. Aços para Tubos ..........................................................................................................................26 5.6. Aços para Arames e Fios.............................................................................................................27 5.7. Aços para Molas...........................................................................................................................27 5.8. Aços para Usinagem Fácil...........................................................................................................28 5.9. Aços para Cementação................................................................................................................28 5.10. Aços para Nitretação .................................................................................................................29 5.11. Aços para Ferramentas e Matrizes ..........................................................................................30 5.12. Aços Resistentes ao Desgaste ....................................................................................................31 5.13. Aços Resistentes à Corrosão .....................................................................................................32 5.14. Aços Resistentes ao Calor .........................................................................................................33 5.15. Aços Ultra Resistentes e Aços Criogênicos..............................................................................34 6. Diagrama Ferro Carbono ................................................................................................. 35 4 1. CLASSIFICAÇÃO DOS AÇOSNa comparação de dois aços fabricados com base em diferentes normas, deve-se levar em consideração os seguintes pontos: � Composição química � Propriedades mecânicas � Propriedades de endurecimento por conformação a frio (encruamento) � Existência ou não de tratamento térmico � Campo de aplicação � Dimensões � Processo de fabricação Os aços são normalmente classificados em três grandes grupos, a saber: � Aço carbono comum � Baixo C (C ≤ 0,20 %) � Médio C (0,20 < C < 0,50 %) � Alto C (C ≥ 0,50%) � Baixa liga: somatório elementos de liga < 5 % � Alta liga: somatório elementos de liga ≥ 5 % 1.1. Tipos de Constituintes a) Ferrita A ferrita é na realidade uma solução sólida de carbono no ferro alfa, sua solubilidade a temperatura ambiente é tão pequena que não chega a dissolver Cx %1003,2 7− (literatura 0,008% C). A máxima solubilidade do carbono no ferro alfa é de 0,02 % a 723ºC. A ferrita é o mais brando e dúctil constituinte dos aços. Cristaliza na rede cúbica corpo centrado. Tem uma dureza de 90 HB e uma resistência a ruptura de 28 kg/mm², chegando a apresentar um alongamento de 35 a 40%. b) Cementita É um carboneto de ferro, CFe3 , e contém portanto 6,67 % de carbono e 93,33 % de ferro. É o constituinte mais duro e frágil dos aços, alcançando uma dureza brinell de 700 (68 HRC). Cristaliza na rede ortorrômbica. É magnética até 200ºC, temperatura a partir da qual perde o magnetismo. c) Perlita É um constituinte composto por 88 % de ferrita e 12 % de cementita. A perlita tem uma dureza de aproximadamente 200 HB, com uma resistência a ruptura de 80 kgf/mm² e um alongamento de 15 %. Cada grão de perlita está formada por lâminas ou placas alternadas de cementita e ferrita. Esta estrutura lamelar se observa na perlita formada por resfriamento muito lento. Se o resfriamento é brusco, a estrutura é mais porosa e se denomina perlita sorbítica. Se a perlita lamelar se aquece durante algum tempo a uma temperatura um pouco inferior à crítica (inferior a 723ºC), a cementita adota a forma de glóbulos incrustados na matriz de ferrita, recebendo, dessa forma, a denominação de perlita globular. 5 d) Austenita Este é o constituinte mais denso dos aços, e é formada por uma solução sólida intersticial de carbono no ferro gama. A proporção de carbono dissolvido varia de 0 a 1,76 %, correspondendo este última valor à máxima solubilidade à temperatura de 1130ºC. Pode-se obter uma estrutura austenítica nos aços à temperatura ambiente resfriando muito rapidamente uma amostra de aço com alto conteúdo de carbono ou mais alta liga desde uma temperatura acima da crítica superior ( )ouAcmA3 , pelo fato da austenita não ser estável, com o tempo, se transforma em ferrita e perlita ou cementita e perlita. Excepcionalmente existem alguns aços ao Cr - Ni denominados austeníticos, cuja estrutura é a austenita à temperatura ambiente. A austenita é formada por cristais cúbicos de ferro gama com os átomos de carbono intercalados nas arestas e no centro. Tem uma dureza de 300 HB, uma resistência de 100 kgf/mm² e alongamento de 30%. Não é magnética. e) Martensita Depois da cementita, é o constituinte mais duro dos aços. A martensita é uma solução sólida supersaturada de carbono no ferro alfa. Se obtém por resfriamento muito rápido dos aços, uma vez elevada a temperatura o suficiente para se conseguir o constituinte austenita. Se apresenta sob a forma de agulhas e cristaliza na rede tetragonal em vez da rede cúbica centrada devido à deformação produzida em sua rede cristalina pelos átomos intersticiais de carbono. A proporção de carbono da martensita não é constante, sendo que varia até um máximo de 0,89 %, aumentando sua dureza, resistência mecânica e fragilidade com o conteúdo de carbono. Sua dureza varia de 50 a 68 HRC, sua resistência mecânica de 175 a 250 kgf/mm² e seu alongamento de 2,5 a 0,5 %. f) Ledeburíta A ledeburita não é um constituinte dos aços e sim dos ferros fundidos. Se encontra nas ligas ferro-carbono quando a porcentagem de CFe3 é superior a 25 %, ou seja, com um conteúdo total de carbono superior a 1,76 %. A ledeburita é uma liga eutética, palavra que em grego significa fluidez perfeita e se emprega para designar um mesclado de componentes que passam sem decomposição e nem segregação do estado sólido ao líquido. A ledeburita se forma ao resfriar uma liga de ferro fundido líquido de 4,3% C desde 1130 º até 723 ºC, decompondo-se a partir desta temperatura em ferrita e cementita. A ledeburita contém 52 % de cementita e 48 % de austenita de 1,76% C. O teor total de carbono da ledeburita é de 4,3% C. 2. INFLUÊNCIA DOS ELEMENTOS DE LIGA Todos os elementos de liga deslocam o ponto eutetóide para a esquerda, o que implica dizer, baixos teores de carbono. Isto leva à redução do teor de cementita na perlita, originando lamelas mais finas. Estas lamelas finas constituem um a menor barreira à movimentação das discordâncias. Elementos Alfagêneos: deslocam o ponto eutetóide para cima, ampliando o campo da ferrita, aumentando a temperatura para ocorrer a reação eutetóide. Ex.: Cr, W, Mo, Al, Co, V, Ta, Nb, Ti. Elementos Gamagêneos: deslocam o ponto eutetóide para baixo, ampliando o campo da austenita. Ex.: Ni, Mn, N. 6 As solução sólida substitucional ocorrem normalmente como carbonetos e/ou carbonitretos. Dentro os elementos de liga somente o Ni e o Si não possuem a característica de formador de carbonetos. Os carbonetos formam-se mais facilmente na seqüência: Mn, Cr, Mo, W, V, Ta, Nb, Ti. Os principais efeitos dos elementos de liga nos aços são: � Aumentar dureza e resistência mecânica � Conferir resistência uniforme ao longo da seção � Diminuir peso � Conferir resistência à corrosão � Aumenta resistência ao calor e ao desgaste � Aumenta capacidade de corte � Melhorar capacidade eletromagnéticas 2.1. Alumínio � É utilizado no estado metálico como desoxidante. � Refinador de grão, pois se formam partículas de alumina e/ou nitretos de Al que atuam como centros de cristalização. � Como elemento de liga nos aços para nitretação é usado até 1,2 %. � Dissolve-se no Feσ até 36 % (ação endurecedora) e no Feγ apenas 1,1 %, crescente com o teor de carbono. � É grafitizante, pois nos ferros fundidos o alumínio é desestabilizador de carbonetos. � Aços que contém mais de 0,40 % de Al são difíceis de soldar. 2.2. Cromo � Forte formador de carbonetos. � Possui grande efeito sobre a temperabilidade dos aços, deslocando as curvas em "C" para a direita, facilitando a obtenção da estrutura Martensítica. � Apresenta alta resistência a corrosão, formando camada apassivadora quando em teores acima de 12 %. � Em aços com alto teor de carbono, aumenta a resistência ao desgaste. � Solubilidade na fase gama é de 13 % e na fase alfa, sem limites. � Aumenta a dureza do aço, formando carbonetos muito duros e fortalecendo a ferrita. � Limita o crescimento de grão e retarda a descarbonetação superficial. 2.3. Cobalto � Solubilidade sem limites no Feγ e 75 % no Feγ. � Endurece a ferrita por solução sólida, porém, possui ação fragilizante. � É o único elemento que desloca as curvas TTT para a esquerda, aumentando a velocidade crítica de têmpera e diminuindo a temperabilidade. � Diz-se que aumenta a resistência a quente dos aços. Fato contraditório devido não ser o cobalto, um elemento formador de carbonetos. � É usado na fabricação de imã na faixa de 18 a 30 %. � Constitui elemento de liga nos aços "maraging". Estes aços possuem estrutura martensítica cúbica ao invés de tetragonal, devido à precipitação de partícula de 2ª fase. 7 2.4. Manganês � Apresenta solubilidade sem limites no Feγ e até 3% no Feγ. � Sua presença é útil para neutralizar o enxofre, combinando-se com ele na forma de sulfeto de manganês, adicionando em muitos casos quantidades suplementares de manganês ao aço quando de sua elaboração. � Atuatambém como desoxidante absorvendo oxigênio contido na massa de aço fundido e evitando que ao se desprenderem os gases durante a solidificação se produzem porosidades ou vazios internos. � Teores de manganês inferiores a 5 % deslocam as curvas TTT para a direita, portanto, diminuem a velocidade de têmpera e aumenta a temperabilidade. � Em aços com teores de C = 1,2 % a 1,4 % e Mn = 12 %, apresenta estrutura austenítica meta estável. Esta estrutura pode tornar-se Martensítica devido à deformação plástica por maclas. � Atua favoravelmente sobre a temperatura de transformação dúctil/frágil. � Aumenta a resistência a tração e eleva o limite elástico dos aços. � Adição de Zn endurece o Mn, que forma estrutura poligonal (não deformável - aços microligados). 2.5. Molibdênio � Formador de carbonetos. � Apresenta solubilidade no Feγ de 3 %, aumentada pela presença de carbono (8 % para 0,3% C) e no Feσ de 37,5 %. � Como elemento estabilizador da ferrita, eleva a temperatura para obtenção da austenita. � Molibdênio aumenta a resistência a tração, o limite elástico e a dureza aços, mantendo os mesmos valores a temperaturas elevadas. Isto é devido ao fortalecimento da ferrita, a formação de carbonetos muito duros e à ação estimulante que exerce o molibdênio sobre os demais elementos de liga que o acompanham. � Forma carbonetos com boa estabilidade térmica, de forma poligonal e não esférica. Esta forma do carboneto favorece a resistência a fluência dos aços devido ao efeito equicoesivo (resistência à mudança de forma x temperatura). � Molibdênio é o substituto parcial do tungstênio nos aços rápidos, na proporção de uma parte de W por duas de Mo. 8 � Aço ao molibdênio é altamente sensível à descarbonetação. � Atua como refinador de grão devido à formação de partículas de 2ª fase. � Atua favoravelmente, nos aços inox, reduzindo a corrosão localizada (pite). Por ser mais estável do que o cromo, evita a formação de carboneto de cromo nestes aços evitando o fenômeno da sensitização (corrosão intercristalina). � Aumenta a resistência ao desgaste. � Aumenta a temperabilidade do aço quando aquecido a uma temperatura suficiente para conseguir a diluição dos carbonetos. 2.6. Níquel � Não é formador de carbonetos. Dissolve-se sem limites no Feσ. � É o elemento principal dos aços inoxidáveis austeníticos devido ao fato de ser estabilizador da austenita. � Aumenta a resistência ao impacto na razão de 1 % para cada 40 MPa. � A baixas temperaturas, o níquel é mais eficiente no deslocamento da curva de transformação dúctil frágil para a esquerda. � Grande fortalecedor da ferrita, o que se traduz em uma notável melhora da tenacidade. � Se emprega na fabricação de aços de muito baixo coeficiente de dilatação ou de coeficiente igual ao do vidro, porcelana, etc. 2.7. Fósforo � Aumenta a resistência a corrosão atmosférica. � Fósforo é um elemento endurecedor da ferrita devido a sua baixa solubilidade no ferro, originada pela grande diferença de raios atômicos. � Provoca o zoneamento da perlita, formando bandas. � Em teores superiores a 0,08 % produz fragilidade a frio por sua tendência a engrossar o grão e diminuir a plasticidade da ferrita. � Não forma carbonetos. � Em altos teores, pode formar a steadita que é um constituinte de baixo ponto de fusão. � É utilizado nos aços para usinagem fácil, em proporções tais que fragilizam os cavacos evitando a formação de cavacos contínuos. 2.8. Silício � Dissolve-se no ferro gama até 2 % ou 9 % com 0,35% C e no ferro alfa até 18 %. � Não é formador de carbonetos. � Se dissolve na ferrita endurecendo-a. � Elemento altamente grafitizante. � É desoxidante, sendo usado na produção de aços acalmados. � Somente é considerado como elemento de liga quando em teores superiores a 1 %. � Combinado com o manganês, tem efeito positivo sobre a temperabilidade dos aços aumentando-a quando em teores superiores a 0,4 %. � O silício eleva o limite elástico dos aços, o que o torna indesejável nas chapas destinadas a embutimento profundo empregadas para fabricação de carrocerias de automóveis. � Quando em porcentagens de 1 a 1,5 % tornam os aços muito resistentes ao desgaste. � Os aços ao silício em porcentagens de 1 a 5 % têm uma resistividade elevada, uma permeabilidade magnética boa e uma força coersitiva fraca e, portanto, as perdas por histereses são pequenas. � Em aços com 0,1% C e 2% Si, obtém-se estrutura totalmente ferrítica. � É usado na fabricação de aços refratários. 9 � Toma parte também na composição dos aços inoxidáveis em proporções de 0,5 a 2%, melhorando a resistência a quente. 2.9. Tungstênio � Apresenta solubilidade no ferro gama de 6 % ou 11 % com 0,25% C, e no ferro alfa de 33%. � Em percentagens pequenas aumenta a temperabilidade dos aços, porém à medida que sua porcentagem aumenta formam-se carbonetos que diminuem a temperabilidade necessitando aquecer a altas temperaturas para que se diluem. � Forma carbonetos muito estáveis e de grande dureza que se mantêm a elevada temperatura, sendo portanto, o principal elemento quando se quer resistência a quente. � Apresenta efeito de carbonetos secundários no revenido causando um aumento da dureza devido a formação de finíssimos carbonetos dispersos. � Se emprega para a fabricação de aços rápidos em teores de 15 a 20 %; aços resistentes a altas temperaturas como na fabricação de válvulas de automóveis, em teores de 2 a 16 %; para fabricação de ferramentas, junto com outros elementos como Cr, Mn, etc.; para fabricação de imãs em teores de 6 %. 2.10. Vanádio � Reduz drasticamente o campo gama, tendo uma solubilidade de apenas 1 % no ferro gama, aumentada para 4 % com 0,2% C. Sua solubilidade no ferro alfa é sem limites. � Forte formador de carbonetos, sendo mais estável que os carbonetos de W. � Promove endurecimento secundário. � A presença de carbonetos de vanádio ( )34CV diminuem a temperabilidade do aço, devido ao empobrecimento de carbono da matriz ao forma-se os carbonetos, e por constituir estes, partículas que facilitam a transformação do ferro gama em alfa. Se a temperatura de têmpera é suficientemente elevada, os carbonetos se dissolvem e a temperabilidade é pelo menos igual a dos aços carbono de idêntica composição. � Pelo fato de exercer uma grande influência na limitação do crescimento de grão, produz também uma melhora na tenacidade dos aços. � É empregado em teores de 0,15 a 0,25 % na fabricação de aços para molas. 2.11. Cobre � É usado em aços até 1,5 % e em 050 .. FF até 3 %. � Possui solubilidade na ferrita até 0,25 % com resfriamento muito lento. 10 � Como o cobre se dissolve até ~ 0,15 % no ferro σ, teores excedentes deste elemento precipitam como partículas metálicas de cobre puro, finamente dispersas. Isto contribui para o aumento da resistência mecânica. � A partir de porcentagens de 0,10 até 0,60 % de cobre, aumenta a temperabilidade do aço. � Cobre eleva a resistência a tração e o limite elástico dos aços. � Aumenta também a resistência contra a corrosão atmosférica, sendo suficiente para isto, porcentagens de 0,20 a 0,60 % pois não se observa a partir desta última porcentagem nenhuma melhora apreciável. Esta resistência a corrosão é reforçada se o aço contém um teor de fósforo superior a 0,06 %. � Utiliza-se o cobre para produção de aços especiais para construções metálicas expostas a intempéries, na proporção de 0,6 %. 2.12. Titânio � Titânio é adicionado ao aço na forma de ferro-titânio com alguma dificuldade, sendo a sua pequena densidade e sua facilidade de oxidação a causa desta dificuldade. Para sanar este problema, costuma-se adicionar o titânio em vácuo ou atmosfera de argônio. � Diminui a temperabilidade do aço por formar carbonetos, que diminuem o percentual de carbono da austenita. � Uma porcentagem de titânio da ordem de 0,1 a 0,2 % refina o grão dos aços. � Uma pequenaporcentagem de titânio eleva o limite elástico dos aços de construção com baixo carbono. � Emprega-se o titânio para estabilizar o carbono, introduzindo uma quantidade igual a 4 x % C. Esta propriedade é usada na fabricação de aços inoxidáveis para evitar a corrosão intergranular, e para a elaboração de aços insensíveis ao envelhecimento depois de laminado a frio. � Usado em aços microligados (até 0,15 %). 2.13. Boro � Boro exerce uma grande influência sobre a temperabilidade dos aços, bastando teores muito pequenos (a partir de 0,0005 %) para aumentá-la notavelmente. Sua eficiência para melhorar a temperabilidade é 50 vezes maior que a do Mo e do Cr, 5 vezes maior que a do Mn e 500 vezes maior que a do Ni. 2.14. Cério e Zircônio � Cério exerce sobre o aço uma influência análoga a do manganês, pois unindo-se ao enxofre impede a formação de FeS, que tanto prejudicam ao aços. � Cério se comporta como uma inclusão não metálica, pois não tem nenhuma influência sobre os pontos críticos e sobre as propriedades mecânicas dos aços. � A influência do zircônio nos aços é conseqüência de suas propriedades desulfurantes, desnitrogenantes e desfosforantes. � Ce e o Zr são endurecedores do MnS fazendo com que os mesmos não se deformem plasticamente. 2.15. Nióbio � Nióbio é empregado para elevar a temperatura limite de viscosidade dos aços, elevando-se, portanto, ao mesmo tempo a resistência a quente. � É usado em aços microligados até 0,06 % e em aços inoxidáveis na proporção de 10 x % C. 11 2.16. Selênio � Selênio produz efeitos similares aos do enxofre sobre a usinabilidade dos aços. � É empregado em teores de 0,20 % na produção de aços de usinagem fácil. � É empregado na produção de aços inox, para melhorar a usinabilidade. 2.17. Fatores que Alteram a Posição das Curvas TTT A composição química, o teor de carbono, a homogeneidade da austenita e o tamanho de grão da austenita são fatores que alteram de modo significativo a posição das curvas TTT. O aumento do teor de carbono tende a deslocar a curva em "C" para a direita, ou seja, quanto menor o teor de carbono tanto mais difícil obter por resfriamento, ainda que rápido, estrutura única de martensita. Com relação à composição química todos os elementos de liga que são adicionados no aço, com exceção do cobalto deslocam as curvas de início e fim de transformação para a direita retardando a transformação da austenita. A explicação deste comportamento é que quase todos os elementos de liga se dissolvem na austenita e ainda o fato de apresentarem tendências diferentes no resfriamento quando estão na zona crítica. Há elementos que se dissolvem no ferro σ e outros que tendem a formar carbonetos. O tamanho de grão austenítico também altera a posição das curvas TTT. Para explicar esta influência, basta lembrar que a transformação austenita→ferrita + cementita é uma reação que ocorre por nucleação e crescimento e que, a nucleação da perlita se dá heterogeneamente junto aos contornos de grão da austenita. A velocidade de nucleação será tanto maior quanto menor (mais fino) for o grão austenítico, pois maior superfície total estará disponível para a nucleação da perlita. Se por um lado um grão austenítico, este efeito é acompanhado por variações desfavoráveis em outras propriedades como aumento da fragilidade do aço, ocorrência de trincas, etc. De maneira semelhante, pode-se explicar a influência da homogeneidade da austenita sobre sua instabilidade abaixo da zona crítica. Como a reação austenita→ferrita + cementita ocorre por nucleação heterogênea, quanto menos homogênea for a austenita, isto é, quanto maior a quantidade de carbonetos não dissolvidos ou de áreas mais ricas em carbono, maior será o número de regiões capazes de se constituírem em núcleos das novas fases. Em resumo, quanto maior a heterogeneidade da austenita, menor será o tempo de incubação e mais rápida será a decomposição da austenita. 2.18. Influência do Elemento com a Finalidade de Melhorar ou Modificar Propriedades Específicas do Aço Sabe-se que a adição de elementos de liga permite obter maiores teores de perlita para um menor teor de carbono. Essa situação é interessante, porém, pode não ser tão efetiva na realidade tendo em vista o custo do elemento de liga. Hoje consegue-se melhorar a resistência de um material, mantendo-se uma boa ductilidade, através do tratamento de têmpera, ou seja, através da obtenção da camada martensita limite. Para obter-se maior resistência mecânica com uma estrutura uniforme ao longo de toda a seção e com possibilidade de redução de peso, faz-se uso dos aços baixa liga. Já para obtenção em condições específicas como alta resistência ao desgaste, alta resistência a baixa temperatura, alta resistência a altas temperaturas ou resistência a corrosão faz-se uso de aços alta liga, por exemplo, aços inoxidáveis e de aços para ferramentas. Há duas formas mais importantes de eliminarmos óxidos e partículas metálicas precipitadas que possam ter uma ação secundária: formando solução sólida substitucional ou na forma de carbonetos (ou carbonitretos). Praticamente todos os elementos formam em maior ou menor grau solução sólida substitucional. Existem contudo dois elementos que não são formadores de carbonetos: níquel e silício. 12 Sabe-se que na cerâmica fina forma-se carbonetos de silício, porém, nos aços ele se dissolve na ferrita, endurecendo-a . 3. TRANSFORMAÇÕES QUE OCORREM COM AQUECIMENTO Uma mudança de fase, salvo algum caso particular, é um processo termicamente ativado. Isto significa que, para que uma mudança de fase ocorra é necessário aquecer o metal até uma certa temperatura no intervalo de estabilidade da fase ou fases a obter, durante um certo tempo. Este tempo é necessário para a nucleação da fase. Dessa forma, tendo-se austenita inicialmente e mantendo-a a uma dada temperatura em que deve ser produzida a perlita, haverá um certo tempo de retardamento antes que a austenita comece a se decompor, devido ao processo de nucleação sendo necessário um certo tempo para que se transformem numa porcentagem dessa austenita em perlita, uma vez que este é um processo termicamente ativado. Quando aquece-se a altas temperaturas mais distante fica-se da situação de equilíbrio e, consequentemente, a força motriz que se tem para o processo é maior. A força motriz é função da energia de ativação presente às temperaturas mais altas. A cinética é aumentada, o que implica no aumento da velocidade de nucleação com formação de grãos mais finos da austenita. Então, quando se tem uma maior velocidade de aquecimento tem-se também, um retardo da transformação da austenita uma vez que não se tem tempo suficiente para estabelecer o equilíbrio entre as fases presentes. Este retardo na transformação leva-nos a temperaturas mais elevadas e isto significa que a cinética das reações vai ocorrer a maiores velocidades, além disso, vamos ter uma grande quantidade de energia interna no sistema que culmina numa nucleação mais intensa. Observa-se porém, que à temperaturas mais altas ocorre o crescimento primário dos grãos a uma taxa relativamente alta, podendo também ocorrer o crescimento secundário dos grãos, que não é muito interessante. Associado a todos estes fatores tem-se o problema da capacidade térmica do sistema. Como exemplo, considera-se o aquecimento de uma peça de espessura muito grande num forno que necessita de 3 a 4 dias para chegar na temperatura de trabalho. Neste caso, ter-se-á uma nucleação muito pequena com crescimento exagerado dos grãos. Além disso, como a velocidade de aquecimento na periferia da peça é maior que no seu núcleo, a taxa de crescimento de grãos na superfície será maior do que no centro da peça. Por isto, que se utiliza hoje o processo de aquecimento por indução a média freqüência que possui maior poder de penetração, porém, com pouca penetração. Com superaquecimento não se tem a macro difusão,ou seja, o carbono da ferrita não se difunde para a cementita e vice-versa sem que haja homogeneização das lamelas. O que ocorre é apenas a micro difusão que é a difusão de apenas uma fase, ou seja, apenas há o arranjo dos átomos nas lamelas de cementita e nas lamelas de ferrita. Portanto, ocorre a transformação da fase γ sem difusão e sem homogeneização. Só mudando de fase cúbica. Os elementos de liga formadores de carbonetos têm um papel importante na nucleação da fase austenita. Uma vez que os carbonetos são formados preferencialmente nos contornos de grão e sendo esta região favorável à nucleação, eles tendem a acelerar o processo proporcionando, inclusive, um refino da austenita. Obviamente que a ação dos carbonetos dependerá de sua estabilidade. Como exemplo, citamos o cromo que forma os seguintes carbonetos: 23CCr (ortorrômbico), 37CCr (triclínico) e 623CCr (cúbico). A adição de cromo até 6 %, aumenta a velocidade de transformação da austenita. Na faixa de 6 a 11 %, há um retardo com formação do 37CCr que é um carboneto perlítico, muito estável e portanto de difícil solubilidade. Em teores superiores a 11 %, ocorre novamente um aumento da velocidade de transformação com formação do 623CCr que possui menor estabilidade, dissolvendo com maior facilidade. Também a forma da estrutura tem influência na velocidade de transformação: � Martensita revenida → mais rápida a transformação da austenita 13 � Ferrita + CFe3 globular → transformação rápida, porém mais lenta do que martensita revenida � Ferrrita + perlita lamelar → mais lenta Um dos problemas que pode surgir com o aquecimento é o empenamento. O empenamento é conseqüência de problemas ou regiões com tensões variadas. Essas tensões são oriundas de processos de conformação que o material sofre ou de dilatações térmicas. Normalmente não se pode dizer que existe um aço mais ou menos sensível ao empeno, portanto, deve-se ter as devidas precauções ao realizar tratamentos térmicos no que diz respeito à velocidade de aquecimento. Materiais com regiões de espessuras diferentes ou com presença de elementos fragilizantes em grande quantidade, pode levar a formação de trincas de tensão. Para aquecimento a altas temperaturas, deve-se evitar a presença de tensões internas residuais provenientes ou não de processos de conformação. Caso o material apresente tensões residuais deve-se proceder ao tratamento de alívio de tensão. No caso de peças usinadas, deve-se fazer um pré-aquecimento para eliminar ou reduzir as tensões residuais da superfície provenientes do processo de usinagem. Somente após isto, deve-se proceder ao aquecimento até a temperatura final. Resumindo, quando se tem material com diferença de espessura deve-se atentar para o fato que quanto maior o teor de elementos de liga maior a possibilidade de se formar carbonetos e uma dilatação diferenciada pode gerar campos de tensões que não são suportados por materiais frágeis. Já o material mais dúctil acomodaria essas tensões através de deformações plásticas localizadas. A figura 1 representa a quantidade de austenita transformada em função do tempo para temperaturas de 735 a 850ºC. São curvas do tipo signoidais já que o processo é termicamente ativado envolvendo a difusão. Observa-se que para uma estrutura com 50 % de austenita transformada gasta-se 55 s para a transformação a 735ºC e 5s para 850ºC. A reação é inicialmente lenta, acelerando-se posteriormente para ser novamente lenta quando se aproxima de 100% de transformação da austenita. Verifica-se pela figura 2 que para 0,35 % C, tem-se a máxima velocidade de transformação. Isto está associado, a priori, a dois fatores: a) a distância em relação ao equilíbrio da ferrita pura ; b) a distância para a perlita pura. A transformação da austenita em aços carbono comuns será mais lenta para aqueles que apresentam estruturas próximas ao equilíbrio da ferrita e perlita pois a cinética das reações é influenciada pela distância entre as lamelas da cementita. 14 Observa-se pela figura 3 que para cada velocidade de aquecimento tem-se um teor máximo de carbono. Isto significa que ao aquecermos um material ocorre uma variação do teor de carbono ao longo do mesmo. Para velocidades de aquecimento lento seria linear. Com o aumento da velocidade reduziu- se ainda mais a homogeneização e houver um deslocamento para temperaturas mais altas. A variação da dureza não é linear com o mecanismo de desgaste maior, sendo que à medida que se aumenta a dureza o desgaste decresce. Em termos práticos, ganhos de 2,3 pontos na escala de dureza (Rc por exemplo) pode ser muito significativo em termos de resistência ao desgaste. Nos aços ligados, um aquecimento com alta velocidade produz uma martensita tremendamente fina, conhecida como "hardenita". Analisando a curva TTA (Tempo – Temperatura – Autenitização) para o aço 4140 (C = 0,40%, Cr ≅ 1,0% e Mo = 0,25%), observa-se que o aumento da velocidade de aquecimento implica no aumento da temperatura de solubilização da austenita. Verifica-se também que aquecermos este aço até 15 uma temperatura de 850ºC a uma velocidade tal que nos situarmos na faixa de austenita não homogênea, pode-se conseguir a solubilização da austenita mantendo-se o aço nesta temperatura por um longo tempo. O inconveniente deste procedimento seria o crescimento do grão pois nesta faixa já não se tem carbonetos pois eles já foram solubilizados. Quanto maior a velocidade de aquecimento, menor será o tamanho do grão da austenita. A temperatura de início da transformação da martensita é função da composição química do material. A homogeneidade da austenita também interfere no início de transformação da austenita. Caso a estrutura esteja homogênea, a transformação se dá a temperaturas menores. Outro fator importante a ser considerado na transformação da martensita é a quantidade de austenita retida. Chama-se de austenita retida à fração da austenita que não se transformou em martensita. A austenita retida pode ser benéfica para o material no que tange às tensões internas, pois por ser um constituinte dúctil ela diminui o empenamento e as possibilidades de ocorrência de trincas. Como todo aço temperado sofre um revenido, austenita retida transforma-se em bainita em torno de 300ºC para os aços baixa liga. Em aços alta liga, a presença de carbonetos estáveis (de alto ponto de fusão) permite-nos trabalhar a altas temperaturas para obtermos a homogeneização da austenita sem que ocorra um crescimento exagerado dos grãos. Quanto maior a quantidade de elementos de liga dissolvidos na austenita mais baixa é a temperatura de início de transformação da martensita. Também maior será a quantidade de austenita retida uma vez que esta é função da supersaturação da austenita. Portanto com altas velocidades de aquecimento e elevadas temperaturas, dissolvendo-se todos os elementos presentes no aço alta liga, o início da transformação da martensita dar-se-á em temperaturas próximas a 250ºC. Aços alta liga, AISI H11 por exemplo, apresentam em media 5 % de carbonetos quando aquecidos com baixa velocidade de aquecimento. À medida que elevo a temperatura esse percentual vai se reduzindo até atingir cerca de 1 % para 1000ºC Vale ressaltar que sempre deve-se preservar um certo percentual de carbonetos para evitar o crescimento dos grãos pois é de todos conhecido que altas temperaturas a cinética de crescimento de grão é acelerada. Nos aços baixa liga, deseja-se através da mudança de estrutura obter uma maior resistência mecânica. A otimização da resistência mecânica de um aço baixa liga pode ser avaliada pelas curvas tensão x deformação, uma vez que, o importante do ponto de propriedades mecânicas é conhecer a capacidade de absorção de energia de deformação a qual está associada à área sob a curva. No caso de um aço baixa liga temperado/revenido e recozido, as curvas σ x ε de cada um são mostradas abaixo:Observa-se que a curva do aço temperado/revenido apresenta uma maior energia de deformação se comparado com o recozido. Acontece, porém, que no aço temperado revenido a ruptura pode ocorrer abruptamente enquanto que no recozido nos é dado um aviso representado pelo limite de escoamento. Nos aços alta liga pretende-se obter elevada resistência ao desgaste e para tal necessita-se de elementos de elevada dureza que são os carbonetos. Necessita-se de alta dureza associada ao desgaste. A estrutura martensítica é a ideal, pois a mesma apresenta alta resistência além de reter os carbonetos, reduzindo os problemas de abrasão como a erosão. 16 Um dos aços alta liga muito comum é o aço inox martensítico que pode ser do tipo turbina e do tipo cutelaria. Ao tipo turbina associa-se cromo com baixo teor de carbono pois, neste caso, pretende-se uma martensita sem a presença de carbonetos. A precipitação de carboneto nos contornos de grão da martensita leva à fragilização do material e aí, por ação do impacto, reduz-se drasticamente a vida útil do material. Já no aço inox martensítico do tipo cutelaria, pretende-se que se tenha martensita e carbonetos pis requer grande resistência ao desgaste necessária ao efeito de corte. Neste caso os teores de cromo e carbono são maiores. 4. TRANSFORMAÇÕES QUE OCORREM COM RESFRIAMENTO Todo processo que implique na diminuição do número de deslocações, ou no aumento do tamanho de grão, é um processo termicamente ativado e, portanto, depende da temperatura de forma exponencial = − RT Q AeV . Devido a isto um metal deformado mecanicamente só recobra suas propriedades mecânicas anteriores, quando aquecido a determinadas temperaturas. Denomina-se recozimento pleno aquele no qual o aço é austenitizado e depois resfriado lentamente através da região de transformação. Diagramas TTT Isotérmico Nos diagramas TTT, em que as fases são obtidas pela decomposição isotérmica da austenita, existe um período inicial variável para cada temperatura, durante o qual não ocorre nenhuma transformação observável. Após este período de incubação é que se detectam os primeiros indícios da transformação austenita-perlita. Este tempo de início de transformação passa por um mínimo, aumentando novamente para temperaturas mais baixas. Este comportamento é ditado pelos fatores termodinâmicos e cinéticos responsáveis pela transformação. Resfriando-se a austenita a uma temperatura abaixo de A1, ela torna-se termodinamicamente estável. Esta instabilidade é medida pela diferença entre a energia livre da fase estável à esta temperatura e à energia livre da austenita. Esta diminuição da energia livre do sistema, que é a força impulsora (driving force) da transformação, aliada à necessidade de difusão para se efetivar a transformação austenita-perlita, são responsáveis pela existência de um mínimo no diagrama. Na transformação isotérmica da austenita, o produto será sempre a mistura de duas fases - ferrita e cementita. Porém, em função da temperatura que ocorre a transformação, há diferenças entre os constituintes. Isto deve-se ao fato de que haverá diferentes valores para a velocidade de nucleação e para a velocidade de crescimento de grão. 17 Para temperaturas próximas de Ar, no diagrama TTT, a diminuição da energia livre do sistema é pequena por estar próximo do equilíbrio. Neste caso a velocidade de nucleação é pequena. Mas, devido às altas temperaturas, a difusão é grande, proporcionando uma alta velocidade de crescimento dos cristais da nova fase. Daí resulta o fato do produto de transformação para temperaturas próximas a Ar1 ser perlita grosseira, formada por lamelas espessas de ferrita e cementita. Na faixa de 500 a 220 ºC, o constituinte que se forma é a bainita. A bainita é uma mistura de ferrita e cementita com grau de finura (ou de dispersão) grande. Esta dispersão é devida à baixa mobilidade atômica que se verifica a temperaturas mais baixas. Como a reação austenita-bainita ocorre por difusão do carbono, não é possível a redistribuição do mesmo para grandes distâncias. Em função da temperatura de transformação, a bainita pode-se apresentar como um agregado de ferrita em forma de pena (350 a 450 ºC) ou como placas de ferrita na forma de agulhas (inferior a 300ºC). 4.1. Transformação Perlítica 1. A cementita nucleia-se nos contornos de grão da austenita formando uma rede que desloca a composição da austenita adjacente para o lado hipoeutetóide do diagrama Fe-C. 2. A ferrita nucleia-se na interface entre a cementita e austenita e cresce ao longo desta interface isolando a cementita da austenita remanescente. 3. Durante o seu crescimento, a ferrita pode alcançar uma descontinuidade na rede de cementita ou um contorno agudo de cementita que não permite o completo isolamento da cementita. Dessa forma um braço de cementita cresce tentando manter o contato com a austenita. 4. Durante o crescimento da ferrita, a composição da austenita pode mover-se novamente para o lado hipereutetóide do diagrama Fe-C favorecendo o crescimento do braço de cementita ao longo da interface entre ferrita e austenita. Isto permite o isolamento da ferrita da matriz. 5. Devido à pequena fração volumétrica, a cementita tem mais dificuldade do que a ferrita para formar uma camada completa e então isolar a outra fase. Face a isto, forma-se uma estrutura que contém unidades alternadas de CFe3 e αFe , ambas em contato com a austenita. 6. Durante o crescimento posterior, mais ramificações ocorrem até que o espaçamento se aproxima de um valor característico desta temperatura. Quando a austenita forma perlita em uma temperatura constante, os espaçamento entre as lamelas adjacentes de cementita é, com bastante aproximação, constante. Quanto menor for a temperatura de transformação da austenita, menor será o espaçamento interlamelar da perlita e, portanto, mais duro será o material. 4.2. Transformação Bainítica O produto da transformação Bainítica, chamada bainita, não é uma fase, mas uma mistura de ferrita e carbonetos. Na transformação Bainítica o carbono que estava homogeneamente distribuído na austenita se concentra em regiões de alto teor de carbono (as partículas de carbonetos) originando uma matriz isenta de carbono (a ferrita). A bainita é uma estrutura ferrítica supersaturada. 18 As mudanças de composição que ocorrem na transformação Bainítica não envolvem elementos de liga substitucionais que possam estar presentes no metal. Como esses elementos não se redistribuem a composição da ferrita e dos carbonetos permanecem a mesma da austenita original. A bainita obtida por resfriamento isotérmico apresenta-se sob a forma de agulhas, sendo classificada em bainita inferior e superior. Com resfriamento contínuo obtém-se bainita na forma globular. A bainita cresce em plaquetas. A formação das plaquetas é acompanhada de distorção superficial, fazendo supor que envolve um cisalhamento do reticulado. A bainita superior forma-se a uma temperatura de transformação relativamente alta ( ~ 460 ºC) apresentando-se como plaquetas em cujos contornos localizam-se os carbonetos. Dimensão dos carbonetos: 500 ºC → espessura = 0,1 µm comprimento = 0,5 µm 400 ºC → espessura = 0,05 µm comprimento = 0,2 µm Quando a bainita se forma em temperaturas mais baixas ( ~ 250 ºC), as plaquetas de ferrita assumem um formato acicular mais regular, sendo chamada bainita inferior. As partículas de carboneto de ferro que se encontram distribuídas na matriz ferrítica tornam-se menores e parecem estrias que formam um ângulo de cerca de 55º com o eixo da plaqueta. Na bainita inferior, um outro carboneto, que não a cementita, pode-se formar. Esse carboneto é usualmente o carboneto ε , que possui uma estrutura hexagonal ao invés da estrutura ortorrômbica da cementita. O teor de carbono é cerca de 8,4 %. A ferrita das plaquetas de bainita tem uma orientaçãodiferente da ferrita que ocorre na perlita. Como essa orientação é semelhante à da ferrita que se nucleia diretamente da austenita, crê-se que a nucleação da bainita ocorra pela formação da ferrita. 19 A bainita não se forma até que a temperatura da reação isotérmica se situe abaixo de sB (temperatura de início da reação Bainítica). Acima de sB , a austenita não origina bainita. Além disso, a temperatura logo abaixo de sB , a austenita não se transforma completamente em bainita. A quantidade de bainita aumenta quando a temperatura da reação diminui até um limite inferior fB (temperatura final da reação Bainítica). O fato de que a transformação Bainítica não se completa no intervalo entre as temperaturas sB e fB implica que, nesse intervalo, tanto a nucleação como o crescimento se paralisam antes que toda a austenita seja consumida. Uma plaqueta de bainita pode crescer até interceptar outra plaqueta ou um contorno de grão da austenita. A velocidade de transformação da bainita cresce com a composição química e diminuição da temperatura. Porém, a presença de uma austenita deformada, ou seja, encruada, limita esta velocidade de transformação. A temperatura de início da transformação Bainítica é mais alta quando se tem maior conteúdo de carbono, tendo em vista que o processo ocorre por difusão do carbono. 4.3. Transformação Martensítica Em uma estrutura totalmente austenitizada, tem-se um arranjo CFC. Com o abaixamento da temperatura, forma-se uma estrutura tetragonal de corpo centrado devido à mudança de ligações atômicas preferenciais. Como o resfriamento diminui o espaçamento atômico, o carbono intersticial deforma a rede por cisalhamento, originando uma estrutura supersaturada e com elevadas tensões internas. Esta é a transformação Martensítica. A figura acima mostra que a austenita pode ser visualizada como uma estrutura tetragonal de corpo centrado, com os átomos de carbono situados ao longo dos eixos verticais e nos centros das faces normais a este eixo. A estrutura da martensita é tetragonal por causa da presença dos átomos de carbono nas posições indicadas, que impedem que a transformação da austenita em uma estrutura CCC se complete. A presença dos átomos de carbono na estrutura deforma a rede cristalina causando a tetragonalidade, que é variável com o teor de carbono. 20 O plano de hábito ou o plano no qual as plaquetas de martensita se formam é admitido como um plano não distorcido, ou seja, todas as direções neste plano permanecem inalteradas pela transformação. A deformação que ocorre na formação da plaqueta de martensita parece ser um cisalhamento paralelo ao plano de hábito, associado a uma deformação por tração ou compressão simples (uniaxial), perpendicular ao plano de hábito. Uma deformação deste tipo é chamada deformação plana invariante. A transformação da austenita em martensita ocorre pela formação quase instantânea (em torno de 710− segundos) de placas de agulhas de martensita, pelo escorregamento das deslocações de transformação que provocam um cisalhamento no material ou, mais rigorosamente, produzem uma deformação plana invariante. A transformação prossegue pelo aparecimento de novas plaquetas ou agulhas e não pelo aparecimento dos cristais. As placas de martensita têm seu desenvolvimento limitado pelos contornos de grão bem como pelas primeiras agulhas formadas. Por causa da velocidade de transformação da martensita não há tempo para a separação dos átomos da solução sólida e então, a composição da martensita é idêntica à da austenita de que se originou. A alta dureza da martensita nos aços pode ser associada a duas causas principais: � Elevada densidade das deslocações na estrutura, ordem de 10¹¹ a 10¹² deslocações/cm², comparável à densidade que se encontra em um metal severamente deformado a frio. � A presença dos átomos de carbono na martensita. Estes átomos, em solução intersticial na estrutura do ferro, causam uma deformação na rede, que tende a ser aliviada por uma redistribuição dos próprios átomos de carbono para posições favoráveis junto às deslocações. Na transformação Martensítica ocorre uma expansão volumétrica em relação ao reticulado, originando uma martensita homogênea supersaturada com carbono intersticial e elementos de liga aprisionados - que não formaram fases intermetálicas ou precipitados de 2ª fase - originando um estado de tensões internas. No entanto, esse aprisionamento faz com que parte da austenita não se transforme (austenita retida), proporcionando um alívio de tensões internas. Podem ocorrer fraturas em materiais com velocidades de resfriamento diferentes entre núcleo e periferia. Isto pode ser explicado pelo fato de que a periferia já se transformou totalmente enquanto o núcleo ainda está se expandindo devido à transformação, originando estados de tensão tais que provocam as trincas superficiais. Isto é mais crítico para grandes velocidades de resfriamento. Pode-se evitar este problema de surgimento de trincas no resfriamento, não temperando o núcleo. Para tal, pode-se fazer uma têmpera superficial, onde em vez de ter-se tensão de tração residual, ter-se- ia estados de compressão. Em caso de aços hipereutetóides, devido à supersaturação da austenita retida, podem ocorrer flutuações do teor de carbono entre a austenita e a martensita, em conseqüência de uma pequena difusão. Com adição de Mn em altos teores ocorre a formação da martensita ε , de estrutura hexagonal compacta, ocorrendo a retração do reticulado. Com o tratamento termomecânico obtém-se uma martensita de grãos finos devido ocorrer uma nucleação pela introdução de tensões no material. O tratamento termomecânico consiste no aquecimento do aço até a temperatura de austenitização, seguido de um resfriamento até a temperatura de austenitização, seguindo de um resfriamento até ~ 500ºC e conformação do material com conseqüente resfriamento. 4.4. Austenita Retida Denomina-se austenita retida à fração de austenita não transformada durante a reação Martensítica. 21 O percentual de carbono, o grau de deformação plástica (tratamento termomecânico) e homogeneização da estrutura alteram a quantidade de austenita retida. A austenita retida é desfavorável do ponto de vista de desgaste, não possuindo resistência mecânica. É um constituinte meta estável e deve ser eliminada no revenido pois pode causar problemas com controle dimensional e tensões residuais. Durante a transformação Martensítica acorre um aumento de volume. Quando se faz o revenimento, ocorre uma contração da martensita em função da precipitação de carbonetos secundários, o que pode gerar empenamentos. Neste caso; a presença de austenita retida favorece o processo tendo em vista que quando a mesma transformação em martensita ocorre novamente a expansão volumétrica, o que compensa a contração anterior, minimizando o empeno. Isto caracteriza os aços indeformáveis. O volume de austenita retida pode ser calculado pela equação: AV = exp L - K . 10 2− (Mi - Tr), onde: RT = temperatura de resfriamento Esta equação comprova matematicamente que nunca ocorre 100 % de martensita. Aços baixa liga: austenita retida → bainita Aços alta liga: austenita retida → martensita A formação da austenita retida pode ocorrer por dois processos, a saber: � Estabilização térmico, variação da energia livre da austenita. � Estabilização mecânica. Quando começa a transformação da martensita, as agulhas da martensita provocam deformação plástica sobre a austenita que ainda não se transformou provocando o seu encruamento com conseqüente formação de discordâncias que impedem a continuidade do crescimento das agulhas de martensita, estabilizando a austenita. Para superar este problema deve-se fornecer mais energia para continuidade do processo de transformação Martensítica, o que é conseguido com menores temperaturas de resfriamento (subzero). Ex.: Estabilização mecânica.Seja o aço com a composição C = 0,05%, Cr = 9,0% e Ni = 13,7%. � Austenitização a 1100ºC, Mi = -10ºC � Resfriamento em nitrogênio líquido → martensita � Reaquecimento a 750ºC → ocorreu a transformação da martensita em austenita � Novo resfriamento, verificou-se Mi = -60ºC � Repetindo-se este ciclo várias vezes, chegou-se a Mi = -183ºC � Reaquecendo-se novamente a 1100ºC, verificou-se Mi = -10ºC Isto é explicado pelo fato de que com reaquecimentos de 750ºC, não se conseguia eliminar o encruamento da austenita provocando pelas sucessivas transformações martensíticas. Sabe-se que os defeitos cristalinos causam a estabilização mecânica da austenita. No reaquecimento a 1100ºC, eliminou-se as discordâncias e demais defeitos. Deve-se, pois, reaquecer-se a uma temperatura maior para abaixar Mi. 22 4.5. Meios de Resfriamento de Têmpera Etapas da remoção de calor da peça austenitizada durante resfriamento da peça a temperar em um meio líquido: A. Inicialmente forma-se uma película de vapor em volta do metal e o resfriamento da peça se dá por condução através da película, ocorrendo também radiação; B. Rompe-se a película de vapor e o líquido de resfriamento entra em ebulição, formando-se bolhas na superfície do metal. Este será molhado pelo líquido e o resfriamento prosseguirá pela produção de vapor na superfície metálica. Esta é a etapa de resfriamento mais rápida; C. Quando a temperatura da peça se torna inferior à de ebulição do líquido, o resfriamento passa a ser bem mais lento, sendo o calor extraído do metal principalmente por convecção. 4.6. Transformações de Fase durante o Revenimento 1ª Etapa: Precipitação de um carboneto especial, denominado carboneto ε Ocorre na faixa de temperatura de 20 ºC até cerca de 200 ºC e envolve o aparecimento do carboneto ε ( )25CFe , cuja formação é mais favorecida nestas temperaturas que a cementita ( )CFe3 . A formação do carboneto ε reduz o número de átomos de carbono na rede Martensítica, que se torna menos tetragonal. Os produtos da primeira etapa do revestimento são martensita de baixo teor de carbono e carboneto ε , sendo usual denominar-se a microestrutura de "martensita revenida". A dureza do aço começa a cair. 2ª Etapa: Decomposição da austenita retida em bainita Na faixa de temperaturas 200 ºC – 300 ºC ocorre a segunda etapa do revenimento, com a transformação da austenita retida em bainita, consistindo esta de uma mistura de ferrita e carboneto ε . 3ª Etapa: Formação de ferrita e cementita a partir dos produtos formados nas duas etapas anteriores A terceira etapa se inicia entre 250 a 350 ºC, quando se precipita um carboneto em forma de bastão, metaestável, que se forma a partir dos átomos de carbono segregados junto às deslocações e contorno de placas. Nesta etapa ocorre a redissolução dos carbonetos ε e a martensita de baixo teor de carbono perde seu excesso de carbono, formando-se ferrita e cementita. Aumentando um pouco mais a temperatura, o carboneto em forma de bastão se redissolve e é substituído por um precipitado de cementita de forma esferoidal. O produto final da terceira etapa de revenimento será uma mistura de grãos de ferrita equi-axiais e um grande número de partículas arredondadas de cementita. 4ª Etapa: Crescimento das partículas de cementita A quarta etapa do revenimento consiste no crescimento das partículas de cementita num processo denominado coalescimento. A dureza cai consideravelmente nesta etapa: 5ª Etapa: Formação de carbonetos especiais (aços alta liga) Consiste na formação de carbonetos especiais, dando origem a endurecimento secundário. Verifica-se um aumento de dureza após revenimento a temperaturas elevadas (acima de 500 ºC) de aços com alto teor de elementos formadores de carbonetos que é explicado pela precipitação de grandes quantidades de carbono especiais na martensita. Os elementos de liga podem estar presentes no aço como solução sólida intersticial, substitucional inclusões não metálicas, precipitado de 2ª fase intermetálicas, partículas metálicas dispersas. 23 5. TIPOS DE AÇO E SUAS APLICAÇÕES 5.1 Aços Fundidos Aço fundido é aquele que é vazado em moldes de areia ou metálicos, onde solidifica e adquire a forma exata da cavidade do molde, de modo a apresentar a forma definitiva sem necessidade de qualquer transformação mecânica posterior. Seu emprego deve-se ao fato de se poder produzir por fundição, peças de grande variedade de forma e dimensões, com razoável resistência e tenacidade a custo relativamente baixo. As peças de aço fundido devem possuir certos requisitos ou mais importantes dos quais são: � Homogeneidade (seção sã em toda a sua extensão), o que é conseguido mediante projeto adequado da peça e do molde, com canais convenientemente localizados e apropriada desoxidação do aço na fusão; � Granulação fina; � Completa isenção de tensões internas. Os defeitos causados pela contração ocorrem em locais onde há excesso de massa de metal, denominados "pontos superaquecidos", os quais devido à massa adicional que apresentam, são as últimas seções a solidificar. Os aços carbono baixo carbono apresentam boa soldabilidade e podem sofrer endurecimento superficial por cementação. São normalmente recozidos ou normalizados para refinar e normalizar a estrutura e aliviar as tensões internas. Os aços liga para fundição foram desenvolvidos para suportarem maiores pressões, maiores esforços de tração, temperaturas de serviço tanto baixas como elevadas, apresentando maior dureza, maior tenacidade, maior resistência ao desgaste e ao choque, assim como superior temperabilidade. Estes aços são normalmente produzidos com baixos teores de carbono. Como as regiões com menor conteúdo em carbono tendem a solidificarem primeiro, há geração de regiões segregadas. O manganês é usado em teores de 1 a 2 %, principalmente para aumentar temperabilidade e evitar a fragilidade a quente causada pelo enxofre. Outros elementos adicionados são: V, Ti, Al quando se deseja refino de grão, Ni, Mo, Cr e Cu. O carbono é o elemento crítico tendo em vista a formação da cementita. As contrações de solidificação e resfriamento devem ser levadas em conta. Deve-se evitar tempos longos a altas temperaturas visando eliminar a possibilidade de fusão da areia junto à interface metálica com conseqüente formação de defeito na peça, tais como inclusão de areia. Deve-se utilizar coquilhas para favorecer uma disposição do calor maior em regiões de parede fina, onde a mesma é mais difícil. O molde de areia deve ter boa permeabilidade de forma a favorecer a saída dos gases. Durante o resfriamento não ocorre problemas de crescimento de grão, uma vez que o resfriamento é contínuo e as transformações ocorrem em sua ordem natural: Feδ, Feγ, Feα e carbonetos. Os principais objetivos do tratamento térmico das peças de aço fundido são refinar a granulação, destruindo a textura bruta ou dendrítica de fusão e eliminar as tensões internas causadas pelas diferentes velocidades de resfriamento nas diversas seções. Peças de aço fundido são freqüentemente soldadas, porém, observa-se que à medida que aumenta o teor de carbono, o aço torna-se cada vez mais difícil de ser soldado, devido ao efeito do endurecimento pelo resfriamento após a soldagem na zona afetada pela solda. 5.2. Aços Estruturais Concentram-se nos aços com conteúdo de carbono na faixa de 0,15 a 0,40 %. Devem apresentar boas características de trabalhabilidade, disponibilidade, resistência mecânica, tenacidade, etc. Necessitam às vezes de boa resistência à corrosão. Os aços estruturais devem apresentar uma boa relação entre resistência e ductilidade. Para tal, tende-se a buscar a formação de perlita e/ou bainita superior. A ductilidade destes aços garante 24 excelente trabalhabilidade em operação tais como corte, furação, dobramento, etc., sem que se origine fissuras ou outros defeitos. Uma das principais aplicações dos açoscarbono estruturais é em concreto armado. Para tal, estes podem ser classificados em: aços de dureza natural (laminados a quente), aços encruados a frio e aços patenteados. Quando pretende-se aumentar a resistência mecânica sem comprometer o peso, melhorar a resistência a corrosão atmosférica, melhorar a resistência ao choque e o limite de fadiga além de aumentar a relação Fe/Fr sem perda de ductilidade são de grande utilidade os aços estruturais de alta resistência e baixo teor em liga. O baixo custo é uma característica importante dos aços estruturais. 5.3. Aços Microligados Os aços microligados contém pequenas adições (abaixo de 0,25%) de vanádio ou nióbio, às vezes em combinação com pequenas quantidades de nitrogênio. Ao contrário de outros tipos de aços de alta resistência e baixo teor em liga, os aços microligados não exigem tratamentos térmicos, ou seja, nas condições laminada ou forjada já apresentam propriedades mecânicas superiores. Devido ao fato das microadições retardarem a recristalização da austenita, resultando em granulação mais fina da ferrita, ocorre um aumento da dureza e do limite de escoamento. A melhora das propriedades mecânicas nos aços microligados deve-se à interação dessas microadições com o carbono e nitrogênio com a precipitação de fases secundárias durante o processamento do aço, tais como carbonitretos de nióbio e vanádio. Utiliza-se o vanádio como elemento refinador de grão, em teores de ~0,15 etc. O vanádio não é interessante do ponto de vista da laminação controlada. Foi utilizado o titânio que agia sobre o retardo da transformação γ→α bem como no da recristalização. O incoveniente do titânio era que, em aços sujeitos a operações de soldagem, ele provocava o endurecimento da ZTA com conseqüente fragilização da mesma. Os parâmetros atômicos dos carbonitretos de Nb, Ti e V são decrescentes nesta ordem; sendo que, à medida que se aumenta o teor de nitrogênio o parâmetro atômico de cada um dos carbonitretos tendem a um ligeiro decréscimo. O tempo de endurecimento máximo provocado pelos elementos Nb, V e Ti, é maior para o nióbio e menor para o titânio. O teor de nióbio é da ordem de 0,035 %, sendo o teor de titânio 2 a 3 vezes o teor de nióbio. Em condições de recozimento, a formação de carbonitretos de titânio é mais eficiente do que os carbonitretos de Nb e V, conforme observa-se na figura abaixo. 25 O nióbio é mais eficiente no refino de grão da ferrita do que o titânio e o vanádio, tanto no estado laminado como normalizado. Pequenos teores de nióbio já são suficientes para aumentar o limite de escoamento dos aços, enquanto que os teores de vanádio e titânio devem ser ~ 2 vezes maiores para provocar o mesmo efeito. A ação do nióbio dissolvido na solução sólida em relação à resistência mecânica é muita menor (em torno de ∆σ 2,0 = 10kgf/mm²) do que para o nióbio precipitado em carbonitretos (~∆σ 2,0 = 28kgf/mm²). Na laminação controlada evita-se que a recristalização completa ocorra nos passes intermediários, deixando para o último passe esta transformação. Como o nióbio retarda a transformação γ→α, o mesmo tem grande eficiência na laminação controlada. A transformação dúctil-frágil é um importante fator a considerar no estudo dos aços mecroligados. Também aqui, o nióbio é mais eficiente no deslocamento das curvas de transformação dúctil frágil (temperatura de transição) para a esquerda. 26 5.4. Aços Bifásicos Aços compostos por estrutura ferrítica e 15 a 20% de martensita. A martensita proporciona melhora da resistência mecânica e ductilidade. Composição característica: C = 0,06/0,08%; Mn = 1,1%; Si = 1,0%; Mo = 0,4%; Cr = 0,4% e Al = 0,02% min. Apresenta alta taxa de encruamento, boas propriedades mecânicas (resistência) e ausência de ponto de escoamento, além de baixa relação σ 2,0 /σr up (0,5 a 0,6). Os valores típicos de propriedades mecânicas são: σ 2,0 = 400 a 500 MPa; σr = 600 a 800 MPa e Al = 25% min.. Tem como desvantagens o fato de somente poder ser obtido no processo de fabricação exigindo controle na laminação a quente e velocidade de resfriamento controlada (30 a 40ºC/s), o que provoca instabilidade de propriedades. 5.5. Aços para Tubos Em fusão do seu processo de fabricação, os tubos podem ser classificados em: • Tubos interiços ou sem costura, fabricados a partir de tarugos cheios através de extensão, mandrilagem ou perfuração. Diâmetro máximo de 26” (660 mm). • Tubos soldados ou com costura, obtidos a partir de tiras de aço laminadas a quente as quais são dobradas na forma de um cilindro e as suas extremidades são soldadas. Diâmetro máximo de 30” (762 mm). Para aplicações mais comuns, o aço para tubo é o aço carbono baixo carbono (resistência a tração de 35 a 50 kgf/mm²) com teor de carbono de 0,10 a 0,25%, no caso de aplicações de maiores responsabilidades, usa-se o aço carbono médio carbono (0,30 / 0,50 %) com resistência a tração de 50 a 60 kgf/mm². 27 Para aplicações a altas temperaturas onde deseja-se resistência à fluência, usa-se aço ligado com molibdênio. O mais usado é o 13Mo4. Quando se quer resistência a oxidação e a corrosão o elemento utilizado é o cromo com teores máximo de 9 %. Nos tubos utilizados em caldeiras deve-se ter baixos teores de carbono de forma a evitar a decomposição da cementita com conseqüente grafitização. Este fato pode levar ao rompimento do tubo devido à superposição dos efeitos da temperatura e da pressão. Freqüentemente os tubos são estirados a frio com os objetivos: a) Produzir paredes mais finas; b) Melhorar o acabamento superficial; c) Produzir diâmetros muito pequenos; d) Obter tolerâncias dimensionais mais rigorosas; e) Melhorar certas propriedades mecânicas, como a resistência à tração. 5.6. Aços para Arames e Fios São normalmente utilizados na forma recozida devido à necessidade de se ter boa conformabilidade (arames galvanizados). Já os arames farpados que necessitam de alta resistência mecânica apresentam-se na forma encruada. Os fios para cabos de aço podem ser fabricados na forma encruada, patenteado ou temperado/revenido. A principal propriedade que se deve ter nos fios para cabos de aço é a tensão de escoamento ou limite elástico. O patenteamento é um tratamento que visa a obtenção de perlita fina ou bainita, estruturas estas que combinam alta resistência à tração com suficiente ductilidade, além de elevada tenacidade. Os problemas que podem surgir na operação de patenteamento são: � Temperatura de aquecimento insuficiente, não permitindo completa austenitização, resultando em diversidade de tamanho de grão que produz uma matriz heterogênea. O material torna-se quebradiço não permitindo redução acentuada de área na trefilação. � Temperatura de aquecimento elevada ou tempo de aquecimento muito longo causando queima do material que, por sua vez, implica em queda do alongamento do arame e crescimento exagerado dos grãos. � Temperatura do banho de chumbo muito baixa pode produzir uma estrutura bainítica de características inadequadas para trefilação intensa. � Tempo longo de transferência do material do forno ao banho de chumbo causa formação de perlita grossa na superfície e perlita fina no núcleo implicando em heterogeneidade no material. Os cabos de aço patenteados apresentam melhores resistência à fadiga e tenacidade permitindo um melhor enrolamento no tambor ou mesmo martelamento até ficarem achatados sem que apareçam fissuras. 5.7. Aços para Molas As molas devem apresentar alto valores para limite de elasticidade, alto limite de fadiga e elevada resistência ao choque. Aços para molas apresentam teor de carbono de 0,50 a 1,20 %. As molas de menor solicitação podem ser produzidas com aços 1070, 1080 ou 1090; já para as aplicações mais críticas usa-se o SAE 5160, 5150 ou 6150. Normalmente usa-se aços com maiores teores de manganês, resistência mecânica de 250 a 300MPa. A nucleação de trincas por fadiga pode ser originada pelo fenômeno de intrusão e extrusão que ocorre em grãos da superfície criando pontos favoráveis à propagação das trincas. Para tanto deve-se ter 28 uma superfície perfeita, isenta de irregularidades tais como descarbonetação superficial, marcas de ferramentas, riscos de matrizes de trefilação, pequenas fissuras, etc. 5.8. Aços para Usinagem Fácil Usinabilidade é a propriedade que relaciona a facilidade de um metal ser cortado, de acordo com dimensões, forma e acabamento superficial requeridos comercialmente. Os dois fatores metalúrgicos que influenciam na usinabilidade são a dureza e a microestrutura. O efeito da microestrutura pode ser resumido da seguinte forma: � Aços com carbono muito baixo (< 0,20 %) apresentam melhor usinabilidade no estado encruado. � Aços com carbono entre 0,20 e 0,30 % são melhores usinados quando apresentam estruturas perlítica (d > 75 mm) ou normalizada (d < 75 mm). � Aços médio carbono (0,30 a 0,40 %) devem apresentar estrutura perlítica grosseira. � Aços de carbono entre 0,40 a 0,60 % são mais facilmente usinados quando apresentam estrutura perlita lamelar esferoidita grosseira. � Aços alto carbono ( > 0,60 %) devem apresentar estrutura esferoidizada. A introdução controlada de inclusões não metálicas ou metais moles (Pb e Bi) melhora apreciavelmente a usinabilidade dos aços. Estes aços são chamados aços de usinagem fácil. Pretende-se obter com os aços de usinagem fácil uma força de corte mais reduzida, porém, com boa velocidade de avanço e penetração, além de cavacos quebradiços. O desgaste das ferramentas também deve ser levado em conta. Normalmente, utiliza-se aços com baixos teores de carbono associado à adição de fósforo e enxofre. O fósforo atua como endurecedor da ferrita e o enxofre como formador de sulfetos de manganês, os quais são insolúveis no aço. As inclusões de Mn tornam o cavaco quebradiço e atuam como lubrificante, impedindo que o cavaco se adere à ferramenta e destrua o gume cortante. A adição de chumbo constitui outro meio de melhorar a usinabilidade dos aços baixo carbono, uma vez que o mesmo sendo insolúvel no aço forma uma fina dispersão de partículas. Devido à baixa temperatura de fusão do chumbo (260ºC), seu uso é limitado a baixa temperatura. Pode-se adicionar, ainda, selênio ou telúrio na faixa de 0,04 / 0,06 %. O tratamento térmico de normalização pode ser efetuado visando o refino da estrutura. 5.9. Aços para Cementação O enriquecimento superficial de carbono nos aços, proporcionado pela cementação, visa produzir uma superfície de alta dureza e resistência ao desgaste, suportada por um núcleo tenaz. Dois fatores devem ser levados em conta para se escolher um aço para cementação: a) Meio de resfriamento - deve-se considerar forma e dimensões da peça ou distorções e empenamentos toleráveis. Quando as peças são de forma mais simples e apresentar seções apreciáveis ou quando a possibilidade de empenamento é menor, usa-se a água ou soluções aquosas como meio de resfriamento. O óleo é recomendável quando as peças apresentam seções complexas ou mais finas, as quais são mais susceptíveis ao empenamento. b) Tipo e grau de tensões - devem ser levados em conta a espessura e estrutura metalográfica da camada cementada, propriedades mecânicas do núcleo e característicos da zona de transição. Quando se visa em primeira lugar a resistência ao desgaste, deve-se ter uma camada cementada de espessura razoável e estrutura hipereutetóide. Quando o requisito for a tenacidade, a estrutura deve ser eutetóide ou ligeiramente hipoeutetóide. A presença de austenita retida na camada cementada pode produzir uma ação de amortecimento, o que diminui as tensões internas ou mesmo a formação de fissuras nas agulhas de martensita. 29 A produção de um núcleo mais tenaz tem menor importância em relação à produção de uma camada cementada muito dura e convenientemente suportada. O melhor suporte para a camada cementada é dado por uma zona de transição gradual e resistente, a qual é melhorada quanto maior for a temperabilidade do aço. Dentre os aços carbono para cementação são usado aqueles com conteúdo de carbono entre 0,10 a 0,25 %, visando criar um gradiente de concentração entre a superfície do material e o meio carbonetante. Se a difusão for insuficiente favorecerá o lascamento da superfície. A adição de elementos de liga favorece a cementação tendo em vista a sua afinidade pelo carbono. Trabalha-se a altas temperaturas visando obter a austenita. Normalmente cementa-se apenas o flanco da engrenagem visando evitar geração de trincas de tração na têmpera. A espessura da camada cementada igual é 0,8 mm (1,0 mm máx.). A fadiga de rolamento é aumentada para camadas cementadas mais espessas. O tratamento térmico típico para cementação é apresentado no diagrama abaixo: 1- Normalização para refino de grão. 2- Cementação propriamente dita, seguida de resfriamento até a temperatura ambiente. 3- Normalização para refino da núcleo. 4- Normalização para refino da superfície. 5- Têmpera para adquirir resistência. 6- Revenimento a baixas temperaturas para alívio de tensões. Devido à baixa temperatura não se consegue um alívio de tensão eficiente. 5.10. Aços para Nitretação Em relação a cementação, o tratamento de nitretação tem como vantagens ser efetuado a baixas temperaturas o que reduz as probabilidades de empenamento das peças apresentarem maior dureza a qual se mantém ao longo do tempo. Como desvantagem apresenta a necessidade de um tempo longo para a difusão do nitrogênio, provoca expansão volumétrica da superfície e não suporta grandes pressões subsuperficiais. Os aços para nitretação contém, além de teores relativamente elevados de carbono, os elementos alumínio, cromo, titânio, zircônio, molibdênio e vanádio que são formadores de nitretos. O conjunto de operações que normalmente se utiliza para efetuar a nitretação das peças são: � Recozimento ou normalização; � Têmpera em água ou óleo; � Revestimento, dependendo da dureza a ser obtida no núcleo; � Usinagem grosseira; � Usinagem final e retificação; � Nitretação. Devido às baixas temperaturas, praticamente não ocorrem problemas de empenamentos ou oxidação. 30 Os principais elementos de liga dos aços para nitretação conhecidos como "Nitralloy" são o cromo e o alumínio. Estes aços são os que apresentam a camada nitretada mais dura e o núcleo com resistência mecânica mais adequada. 5.11. Aços para Ferramentas e Matrizes São as seguintes, as característicos fundamentais dos aços para ferramentas e matrizes: a) Dureza à temperatura ambiente. A dureza da ferramenta ou matriz deve ser superior à dureza da peça sobre a qual exerce sua força de corte, usinagem ou conformação. A dureza depende essencialmente do teor de carbono, exceção para os aços com elevados teores de elementos de liga. b) Resistência ao desgaste. A obtenção de resistência ao desgaste é um dos objetivos primordiais aos aços ferramenta, sendo por isto usado elementos formadores de carbonetos. c) Temperabilidade. É um requisito indispensável pois uma maior penetração de dureza garante perfeita uniformidade de resistência mecânica sem seções apreciáveis. A adição de cromo na faixa de 1 a 4 % é feita com a finalidade de aumentar a temperabilidade. d) Tenacidade. Os aços ferramenta devem apresentar elevada tenacidade, ou seja, capacidade de absorver considerável quantidade de energia sem se romper. Tendo em vista o fato de se ter uma martensita com alto valor de tensões internas, torna-se necessário uma granulação fina para se conseguir a devida resistência ao impacto. e) Resistência mecânica. Uma elevada resistência mecânica bem como alto valores de limites elásticos e de escoamento são indispensáveis aos aços ferramenta, uma vez que os mesmos não podem apresentar falhas ou deformação permanente. f) Dureza a quente. Característico
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