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Mais de 90% das neoplasias da próstata são representadas pelos adenocarcinomas e o restante compreende casos de sarcomas, carcinoma epidermóide e carcinoma de células transacionais. Os adenocarcinomas localizam-se na zona periférica da glândula em cerca de 75% dos casos, na zona transicional em aproximadamente 25% dos pacientes e na zona central em menos de 5% dos casos. O câncer da próstata constitui a neoplasia mais frequente do homem, atingindo 1 em cada 6 homens (18,7%) que forem acompanhados até o fim da vida e matando 1 em cada 33 indivíduos acometidos pelo doenças. A incidência do câncer da próstata varia geograficamente, com áreas de maior ou menor prevalência. O Canadá e os países escandinavos apresentam a maior incidência mundial de doença, ao passo que em países do Extremo Oriente a frequencia dos casos é de 6 a 25 vezes menor. O câncer de próstata apresenta duas características bem peculiares: • Sua incidência aumenta com a idade, atingindo quase 50% dos indivíduos com 80 anos (provavelmente não poupará nenhum homem que viver até 100 anos). • Câncer de próstata é encontrado em um número elevado de indivíduos, sem lhes causar qualquer mal. Por exemplo, o estudo da próstata em necropsias de homens com idade entre 60 e 70 anos que faleceram sem doença prostática aparente, revela focos neoplásicos em 24% deles. Contudo, apenas 11% dos indivíduos dessa faixa etária apresentam, em vida, manifestações clínicas relacionadas com o câncer. Ou seja, 13% dos tumores nesse grupo têm caráter indolente, são assintomáticos e seus portadores morrem por outros motivos. HISTÓRIA FAMILIAR Os indivíduos com antecedentes familiares de câncer da próstata tem maior chance de desenvolver a doença. Os riscos aumentam: • 2x quando um parente de 1º grau (pai ou irmão) é acometido; • 3x quando dois parentes de 1º grau são acometidos; • 5x quando três parentes de 1º grau são acometidos. Nos casos hereditários, esse câncer manifesta-se mais precocemente, muitas vezes antes dos 50 anos. RAÇA Indivíduos negros tem risco 80% maior de desenvolver câncer da próstata do que os brancos, ao passo que nos homens de raça amarela ou nos índios essa chance é 10 vezes menor. Em negros, além da maior prevalência, o câncer manifesta-se de forma mais avançada, discutindo- se se esse fenômeno decorre de características intrínsecas mais agressivas da doença ou apenas de desigualdades sociais, por menos acesso desse grupo aos recursos de saúde pública, o que retarda o diagnóstico de câncer. A evolução dos pacientes com câncer de próstata é relativamente imprevisível, com casos de rápida disseminação da neoplasia antes mesmo de surgirem sintomas locais, e casos de evolução lenta e indolente, com lesões que permanecem estacionárias. Embora a progressão local da neoplasia tenha sido observada em 42 a 83% desses pacientes após um seguimento médio de cerca de 6 anos, apenas 6 a 16% faleceram em decorrência da doença. Vários parâmetros podem ser utilizados para definir o prognostico de pacientes com adenocarcinoma da próstata. O estágio inicial do tumor, o seu grau histológico de diferenciação celular e as medidas do PSA no sangue representam os principais métodos de previsão prognostica. A extensão inicial da doença (estágio) relaciona-se com a sobrevida do paciente e na prática utiliza-se o clássico sistema TNM: • ESTÁGIO TX: tumor não pode ser acessado. • ESTÁGIO T0: sem evidência de tumor primário. • ESTÁGIO T1A – T1B: tumores não- palpáveis, descobertos em cirurgia. • ESTÁGIO T1C: tumores não palpáveis, descobertos através do PSA ou em biópsia • ESTÁGIO T2A – T2B: tumor palpável em um lobo prostático • ESTÁGIO T2C: tumor palpável nos dois lobos prostáticos • ESTÁGIO T3: tumor palpável, atingindo tecidos vizinhos, extensão até a capsula • ESTÁGIO T4: tumor fixo com invasão da parede pélvica • ESTÁGIO N+: linfonodos acometidos • ESTÁGIO M+: metástases à distância O grau histológico dos adenocarcinomas da próstata constitui outro importante fator prognóstico, relacionando-se com o comportamento biológico do tumor e a sobrevida do paciente. Como os tumores da próstata são heterogêneos, com áreas de maior diferenciação, a graduação histológica da neoplasia é feita considerando-se as áreas de maior anaplasia. ESCORE DE GLEASON Sob o ponto de vista prático, o sistema de graduação mais utilizado é o proposto por Gleason, que valoriza principalmente o padrão glandular. Nesse sistema, os tumores são classificados em cinco graus, denominando-se grau 1 as lesões mais diferenciadas e grau 5 as mais indiferenciadas. O escore final é dado pela soma dos graus das duas áreas tumorais mais volumosas, o que faz com que as neoplasias mais diferenciadas (favoráveis) sejam classificadas como escore 2 (1+1) e as mais anaplásicas (agressivas) sejam caracterizadas como escore 10 (5+5). Nota 1: glândulas pequenas uniformes; Nota 2: estroma entre as glândulas; Nota 3: margens infiltravas distintas; Nota 4: massas irregulares de glând. neoplásicas; Nota 5: poucas glândulas formadas. O Gleason 6 (3+3) é considerado por alguns autores como pré-câncer e a conduta tende a ser menos agressiva. O Gleason 7 pode ser um 3+4 ou um 4+3, sendo este último pior grau (fácil de lembrar, uma vez que a primeira nota é atribuída a mais de 50% da amostra). A partir destas noções, é feita a classificação de risco do paciente: RISCO BAIXO: PSA < 10, Gleason 2 a 6 e estádio < ou = 2A. RISCO INTERMEDIÁRIO: PSA 10 – 20, Gleason 7, ou estádios T2B – T2C. RISCO ALTO: PSA > 20, ou Gleason 8 a 10, ou estádios T3A – T3B. RISCO MUITO ALTO: Estádios T3C – T4, ou qualquer T, N1. Pacientes de risco intermediário ou alto devem ser investigados com cintilografia óssea, para avaliar metástase óssea, radiografia (ou tomografia) de tórax para avaliar lesão pulmonar e tomografia de abdome/pelve para avaliar linfonodos e lesões à distância. Os pacientes de baixo risco só serão investigados em caso de suspeita clínica ou dor óssea. PSA Os níveis séricos de PSA elevam-se progressivamente à medida que aumenta a extensão e o estágio da neoplasia. Pacientes com tumores localizados costumam evidenciar níveis séricos inferiores a 10 ng/ml, nos casos de doença extra prostática restrita à região pélvica, esses níveis costumam se situar entre 20 e 80 ng/ml e quando a neoplasia se dissemina, os valores de PSA ultrapassam 100 ng/ml. No passado, a maioria dos pacientes com câncer da próstata apresentavam-se com neoplasia disseminada, mas, em decorrência dos programas de detecção precoce, esse fenômeno se modificou. Este é o grande pilar do rastreio: avaliar os pacientes de risco, assintomáticos, propiciando diagnostico precoce, com maior chance de cura. Atualmente, 64% dos novos casos evidenciam neoplasias localizadas, 13% têm doença regional e apenas 20% dos pacientes apresentam-se com tumor metastático. Nos pacientes com tumor confinado à próstata, a doença costuma ser assintomática. Por outro lado, mais de 90% dos pacientes com adenocarcinoma da próstata localmente avançado apresentam manifestações de obstrução infravesical. O aparecimento súbito de dificuldade urinária em um paciente com padrão miccional satisfatório é manifestação comum em câncer da próstata. Em casos de hiperplasia benigna, os sintomas obstrutivos urinários tendem a evoluir de forma lenta. Menos comumente, pacientes com câncer de próstata podem apresentar dores ósseas, uremia, anemia, perda de peso, adenopatia cervical ou inguinal, linfedema ou trombose venosa de membros inferiores e hemospermia, como primeira manifestação da doença. DETECÇÃO DO TUMOR PRIMÁRIO A detecção do câncer de próstata é feitapelo toque digital da glândula, pelas medidas do PSA e pela ultrassonografia trans-retal. TOQUE PROSTÁTICO O toque digital tem sensibilidade diagnóstica que varia de 40 a 80%, dependendo do tipo de paciente que está sendo avaliado. Nos casos iniciais e que, provavelmente, tem tumor de pequeno volume, são comuns os resultados falso-negativos. A avaliação da presença de um nódulo endurecido ou uma próstata de consistência fibrótica ou aderida aos tecidos adjacentes é suspeita de neoplasia, principalmente quando relacionada a um PSA suspeito. PSA O grande divisor de águas entre um diagnóstico precoce e o tardio foi a introdução do uso do PSA. As dosagens do PSA tem sensibilidade que varia entre 70 e 90%, um pouco maiores do que as do toque digital. Sob o ponto de vista prático, níveis séricos de PSA inferiores a 2,5 ng/ml em pacientes com toque prostático normal são acompanhados de risco desprezíveis de presença de câncer da próstata. Por outro lado, se os níveis de PSA situarem em: • entre 2,5 ng/ml e 10 ng/ml, o risco de câncer na próstata varia de 23 a 40%. • superam 10 ng/ml, o risco de câncer na próstata é de 55%. • Avaliação da velocidade de crescimento do PSA: o crescimento anual deve ser menor que 1,0ng/ml, sendo suspeito um crescimento maior que 0,75; • Densidade do PSA (PSA total / massa prostática): valor menor que 15% é sugestivo de hiperplasia; • Relação entre as isoformas do PSA (PSA livre / total): maior que 20% é sugestiva de hiperplasia, enquanto valor menor que 10% é suspeito para neoplasia. ULTRASSOM A realização rotineira de ultrassonografia trans- retal (USTR) para rastrear câncer da próstata tem alguns inconvenientes. O método é invasivo, seus custos não são desprezíveis e resultados falso- positivos e falso-negativos são observados em 50 e 30% dos casos, respectivamente. Dessa forma, a USTR não costuma ser empregada sistematicamente nessa situação, sendo, contudo, indicada quando o toque digital ou as dosagens de PSA vem acompanhados de resultados incoerentes ou duvidosos. Sob o ponto de vista prático, o rastreamento do câncer da próstata deve ser feito por meio de avaliações anuais. Essa sistemática deve se iniciar aos 50 anos, devendo, contudo, ser antecipada para 40 anos nos pacientes de maior risco, incluindo-se aqui história familiar da doença em parentes de 1º grau e indivíduos da raça negra. ESTAGIAMENTO DA DOENÇA Além do toque retal, que permite avaliar localmente a extensão do tumor, o estagiamento é feito por meio de medidas da fostatase ácida, dosagem do antígeno prostático específico, cintilografia óssea e estudo de ressonância magnética da pelve e do retroperitônio. FOSFATASE ÁCIDA Os níveis séricos de fosfatase ácida costumam ser normais quando o câncer está confinado a glândula, mas apresentam-se elevados em 30% dos casos com extensão periprostática do tumor e em 70% dos pacientes com câncer metastático. PSA Os níveis de PSA no sangue são proporcionais à extensão da doença a níveis acima de 50-60 ng/ml indicam doença extraprostática. CINTILOGRAFIA ÓSSEA O mapeamento do ósseo com fosfato de tecnécio constitui forma relativamente precisa de se identificar metástases ósseas em câncer da próstata. As lesões surgem, geralmente, sob forma de áreas hipercaptantes múltiplas, assimétricas acometendo principalmente coluna, pelve, costelas, escapula, crânio e fêmur. Esse exame apresenta-se alterado em cerca de 70% dos casos com metástases ósseas. Por outro lado, resultados falso-positivos são observados em até 30% dos estudos e devem-se principalmente à presença de processos degenerativos articulares benignos, fraturas antigas, doenças ósseas metabólicas ou doença óssea de Paget. Nas lesões de natureza duvidosa, deve-se avaliar o local alterado com estudo por ressonância magnética, que define precisamente a natureza do quadro. RESSONÂNCIA MAGNÉTICA Esse estudo serve para estagiar localmente a doença, mas pode falhar em 20 a 30% dos casos. Por isso, seus resultados devem ser confrontados com os outros dados disponíveis, para serem corretamente valorizados. A ressonância informa a classificação de PIRADS, indicando suspeita de neoplasia para PIRADS maiores que 3, sendo o PIRADS-3 um grau intermediário de suspeita. Um PIRADS maior ou igual a 3 neste contexto já indica biópsia prostática. Em caso de PSA e “toque” muito suspeitos, pode ser realizada biópsia prostática sem realização de RNM inicialmente. BIÓPSIA PROSTÁTICA principalmente obtida guiada por ultrassonografia transretal e possui um considerável risco de complicações, principalmente a infecção, que pode ser grave e levar inclusive à morte. Portanto, a indicação do procedimento deve ser muito clara. O exame histopatológico da peça indicará o Gleason (e o ISUP). CIRURGIA A indicação cirúrgica depende da avaliação de imagem (extensão e invasão do tumor, por exemplo), mas também depende da idade do paciente, expectativa de vida, interesse sexual, aspectos socioeconômicos e possibilidade de entendimento, adesão ao tratamento e acompanhamento pós-operatório. Idealmente, são cirúrgicos os tumores até T2 (alguns T3), em pacientes com expectativa de vida maior que 10 anos. Embora a cirurgia e a radioterapia possuam riscos de complicação, como disfunção erétil e incontinência urinária, o tratamento de tumores iniciais com diagnóstico precoce possui alto potencial curativo. Ao se planejar o tratamento do câncer da próstata, deve-se levar principalmente em consideração a extensão, o grau histológico do tumor e as condições gerais do paciente. Os tumores localizados inteiramente dentro da glândula (estágios T1 e T2) são mais bem controlados através de cirurgia ou radioterapia. Quando o câncer atinge os envoltórios da próstata (estágio T3), costuma-se indicar tratamento radioterápico associado à terapêutica hormonal anti-androgênica. Finalmente, quando o tumor se estende para outros órgãos (estágios T1 – T3, N+, M+), a doença é tratada com castração ou hormônios anti-androgênicos. A a estratégia de tratamento dos casos de câncer da próstata deve levar em conta a perspectiva de vida do paciente. O tratamento conservador (por exemplo, observação clínica ou tratamento hormonal) está justificado nos casos com perspectiva de sobrevida menor que 10 anos, quer pela idade avançada do paciente, quer pela existência de doenças complexas associadas. Quando as condições gerais e a idade prenunciam chances razoáveis de sobrevida de mais de 10 anos, o tratamento curativo radical deve ser adotado. TRATAMENTO DO CÂNCER LOCALIZADO Cirurgiões e radioterapeutas proclamam que a cirurgia radial e a radioterapia, respectivamente, representam a maneira ideal de se tratar tais casos, referindo índices de sobrevida de 10 anos entre 60 e 95%. Existe, atualmente, um consenso de que a cura do câncer localizado da próstata só poderá ocorrer se os níveis de PSA no sangue caírem para valores abaixo de 0,4 ng/ml após o tratamento. Enquanto esse fenômeno é observado em 90% dos pacientes submetidos a prostatectomia radical, ele ocorre em apenas 40% dos casos tratados com radioterapia. Apesar dos benefícios terapêuticos da cirurgia radical e da radioterapia, esses métodos têm inconvenientes que devem ser levados em conta na escolha do tratamento. Pacientes submetidos à cirurgia tem maior chance de desenvolver impotência sexual e incontinência urinária após o tratamento, ao passo que a radioterapia associa-se a maiores riscos de proctite e retite actínica. Por isso, a participação dos pacientes na escolha do tratamento é absolutamente desejáveis e a eles cabe a decisão final sobre o método que maus se adapta aos seus sentimentos. * chances de sobrevida e incidência de efeitos colateraisapós cirurgia radical e após radioterapia em pacientes com câncer da próstata. * TRATAMENTO DO CÂNCER DISSEMINADO A próstata normal e as neoplasias da próstata sofrem influências hormonais, em função da presença em seu aparato celular de mecanismos sensíveis a ação da testosterona. Por ação da 5-alfa-redutase, a testosterona é transformada no citoplasma das células prostáticas em di-hidrotestosterona (DHTA), que se liga a um receptor e é transportada ao núcleo celular, onde favorece a síntese de RNA e DNA. Isso estimula a função e a proliferação das células prostáticas, ao passo que a redução dos níveis de testosterona inibe seu metabolismo e sua divisão. Sob o ponto de vista clínico, a supressão da atividade androgênica controla de forma objetiva quadros de doença metastática e pode ser realizada de diferentes formas: • orquiectomia bilateral • supressão da liberação hipofisária de LH e FSH, que é feita com a administração de estrógenos ou de análogos do LHRH • bloqueio da ação periférica da testosterona, que é obtida com agentes não-esteroidais (finasterida, flutamida, nilutamina, bicalutamina) • adrenalectomia, já que hormônios da adrenal são responsáveis por 10% da atividade androgênica do plasma. Embora se atribua a essas modalidades a eficiência terapêutica equivalente, a vivência clínica tem indicado que a orquiectomia e a estrogenoterapia representam as alternativas mais eficazes nesses casos. Os análogos do LHRH e os anti-androgênicos periféricos apresentam uma eficiência um pouco menor sob o ponto de vista clínicos. Na prática, 90% dos pacientes respondem bem ao tratamento anti-androgênicos e esse efeito perdura, na média, por 3 ou 4 anos. Depois disso, a doença tende a recrudescer, mas pode ainda ser controlada por alguns anos recorrendo-se a mudanças entre as modalidades de tratamento endócrino ou instituindo-se quimioterapia citotóxica, baseada, principalmente, no emprego de mitoxantrona ou docetaxel.
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