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Mais de 95% dos CaPs são adenocarcinomas. A histologia dos restantes 5% é heterogênea, originando-se de células do estroma, epiteliais ou ectópicas. As variantes não adenocarcinoma podem ser categorizadas em dois grupos, com base na origem celular: epiteliais e não epiteliais. As variantes epiteliais compreendem carcinoma endometrioide, mucinoso, em anel de sinete, cístico adenoide, adenoescamoso, de células escamosas, de células transicionais, neuroendócrino e comedocarcinoma. As variantes não epiteliais incluem rabdomiossarcoma, leiomiossarcoma, osteossarcoma, angiossarcoma, carcinossarcoma, linfoma maligno e neoplasias metastáticas. SP2 – CÂNCER DE PRÓSTATA FATORES DE RISCO E EPIDEMIOLOGIA DO CANCER DE PRÓSTATA: O câncer de próstata ( CaP) é o câncer não cutâneo mais comum detectado entre homens nos EUA. Mais de 200 mil casos são diagnosticados anualmente. Aproximadamente 30 mil homens morrem da doença por ano - mais do que qualquer outro tipo de tumor, exceto o câncer de pulmão. Entretanto, a mortalidade por CaP tem diminuído em cerca de 40% desde meados da década de 1990. Essa diminuição na mortalidade por câncer de próstata tem ocorrido à custa de taxas significativas de excesso de diagnóstico e tratamento desnecessário. De todos os cânceres, a prevalência de CaP é a que aumenta mais rapidamente com a idade. Os afro- americanos têm um risco de CaP mais alto que os brancos; além disso, eles tendem a se apresentar com doença de risco mais alto. Uma história familiar positiva de CaP também aumenta o risco relativo para CaP. Estudos epidemiológicos têm mostrado que a incidência de CaP clinicamente significante é muito mais baixa em partes do mundo onde as pessoas ingerem uma dieta predominantemente baixa em gordura, baseada em vegetais. Além disso, estudos com migrantes demonstram que quando homens de um país de baixo risco se mudam para os EUA e passam a ingerir uma dieta ocidentalizada, suas taxas de CaP aumentam várias vezes e se aproximam das do país hospedeiro. A ingestão de gordura total, de gordura animal e de carne vermelha está associada a um risco aumentado de CaP, ao passo que a ingestão de peixe está associada a um risco diminuído. Além disso, tem sido de monstrado que a ingestão de licopeno, selênio, ácidos graxos, ômega-3 (peixe) e vitamina E é protetora, ao passo que vitamina D e cálcio aumentam o risco. O câncer de próstata é a neoplasia de órgão sólido mais prevalente em homens. No Brasil, a taxa de mortalidade bruta vem apresentando um ritmo acentuado de crescimento, com elevação percentual relativa de 139% nos últimos 20 anos. Sem considerar os tumores de pele não melanoma, o câncer de próstata é o mais frequente em todas as regiões do Brasil, sendo o 2° em taxas de mortalidade, ficando atrás apenas do câncer de pulmão. Os riscos aumentam 2,2 vezes quando um parente de 1º grau (pai ou irmão) é acometi do pelo problema, 4,9 vezes quando 2 parentes de 1º grau são portadores do tumor, e 10,9 vezes quando 3 parentes de 1º grau têm a doença. PATOLOGIA DO CÂNCER DE PRÓSTATA Nesse contexto, a fisiopatologia do câncer de próstata pode ser classificada como um adenocarcinoma, ou câncer glandular, que inicia quando as células glandulares secretoras de sêmen da próstata sofrem mutações e se transformam em células cancerosas. A região da próstata em que o adenocarcinoma é mais comum é a zona periférica. Inicialmente, pequenos agrupamentos de células cancerosas se mantêm confinados às glândulas prostáticas normais, uma condição conhecida como carcinoma “in situ” ou neoplasia intra- epitelial prostática (NIP ou PIN). As características citológicas do CaP incluem núcleos aumentados, hipercromáticos, com nucléolos proeminentes. O citoplasma frequentemente é abundante. O citoplasma é levemente corado de azul ou basofílico, o que pode ajudar no diagnóstico. O diagnóstico de CaP é realmente arquitetural. A camada de células basais está ausente no CaP, ao passo que está presente em glândulas normais, glândulas com HPB e nas lesões precursoras de CaP. Se o diagnóstico de CaP estiver em questão, a coloração imuno-histoquímica com queratina de alto peso molecular é útil, pois ela cora preferencialmente as células basais. As biópsias que permanecem equívocas devem ser coradas com marcadores novos, como AMACR ou EPCA. Acredita-se que a neoplasia intraepitelial prostática (PIN) e a proliferação acinar pequena atípica (ASAP) sejam lesões precursoras. Entretanto, o risco de CaP parece ser mais alto naqueles com a última histologia. A PIN de alto grau (HGPIN) caracteriza-se por proliferações celulares com duetos e glândulas preexistentes, com aumento nuclear e nucleolar semelhante ao câncer de próstata. Contudo, diferentemente do câncer, a HGPIN retém uma camada de células basais identificáveis por imuno- histoquímica. Aproximadamente 60 a 70% dos casos de CaP originam-se na zona periférica, além de uma maioria ser multifocal. Rearranjos cromossômicos ou anormalidades de número de cópias em 8p, lOq, llq, 13q, 16q, 17p e 18q têm sido descritos no CaP. Alguns desses, como a perda específica em 8p23.2 e/ou ganho em 11q13.1, são preditivos de progressão do CaP. Eventos moleculares podem nem sempre ser espontâneos, e sim o produto de influências ambientais. Por exemplo, RNASEL, codificando uma ribonuclease induzível por interferon, e MSRl, codificando subunidades do receptor varredor de macrófagos, são genes candidatos da susceptibilidade herdada para CaP, inclusive câncer familiar. Lesões de atrofia inflamatória proliferativa contendo células inflamatórias ativadas e células epiteliais proliferativas parecem, provavelmente, ser precursoras de lesões de PIN e carcinomas prostáticos. Dois fatores de transcrição, ERG e EtVl, que tinham superexpressão no tecido do CaP. Além disso, TMPRSS2 era fundido a esses genes, sugerindo que a fusão fosse responsável pela superexpressão. A fusão TMPRSS2:ERG tem sido identificada em aproximadamente 50% dos tumores da próstata e, provavelmente, representa um evento molecular inicial na carcinogênese. Além do mais, essa fusão pode gerar um fenótipo distinto. Câncer grau primário 3 de Gleason (A), grau 4 (B) e grau 5 (C) - A: As glândulas estão bem desenvolvidas com variação em contorno e morfologia. As glândulas crescem em um padrão infiltrativo. Os aspectos nucleares de malignidade incluem discreto aumento nuclear, cromatina granulosa e nucléolos. B: As células malignas têm padrão de crescimento trabecular, granuloso e infiltrativo, formando ninhos sólidos pequenos e lúmens glandulares pequenos, abortivos. Os aspectos nucleares malignos incluem aumento nuclear acentuado e macronucléolos. C: Padrão de crescimento altamente infiltrativo com células isoladas e pequenos ninhos de células epiteliais malignas. Os aspectos citológicos incluem pleomorfismo nuclear acentuado e anisonucleose com contornos irregulares, disposição de cromatina irregular, grosseira e macronucléolos. Homens com uma história familiar de câncer de mama e/ ou ovário pode ser oferecido um teste genético preditivo para determinar se eles são ou não portadores das mutações específicas familiares BRCAl/2, quando eles estão em risco aumentado de cânceres de mama e de próstata. Os androgênios são de central importância. O câncer da próstata não se desenvolve em homens castrados antes da puberdade, o que indica que os androgênios de alguma forma proveem o “solo fértil” (o contexto celular) no qual o câncer prostático se desenvolve. Notavelmente, os tumores resistentes à terapia antiandrogênica frequentemente adquirem mutações que permitem que os receptores de androgênio ativem a expressão dos seus genes-alvo, mesmo na ausência de hormônios. Assim, os tumores que recorrem em face das terapias antiandrogênicas ainda dependem dos produtos do generegulados pelos receptores de androgênio para seu crescimento e sobrevivência. Entretanto, embora o câncer da próstata, como a próstata normal, dependa dos androgênios para sua sobrevivência, não há evidências de que os androgênios originem a carcinogênese. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS DO CÂNCER DE PRÓSTATA A grande maioria dos pacientes com CaP em estágio inicial é assintomática. A presença de sintomas frequentemente sugere doença avançada localmente ou metastática. Queixas miccionais obstrutivas ou irritativas podem resultar de crescimento local do tumor para dentro da uretra ou do colo vesical, ou de sua extensão direta para o trígono da bexiga. A doença metastática para os ossos pode causar dor óssea. Doença metastática para a coluna vertebral com invasão para a medula espinal pode estar associada a sintomas de compressão medular, inclusive parestesias e fraqueza das extremidades inferiores, e incontinência urinária ou fecal. Com a evolução da doença, sintomas decorrentes do crescimento local do tumor começam a surgir, como diminuição do jato, esforço miccional, hematúria e hemospermia. Dor óssea, compressão medular por lesão vertebral e fraturas patológicas são comuns na fase avançada da doença. Micção frequente. Fluxo urinário fraco ou interrompido. Vontade de urinar frequentemente à noite (Nictúria). Sangue na urina ou no sêmen. Disfunção erétil. Dor no quadril, costas, coxas, ombros ou outros ossos se a doença se disseminou. Fraqueza ou dormência nas pernas ou pés. O CaP localmente avançado pode invadir o trígono vesical, resultando em obstrução ureteral. O comprometimento retal é raro, pois a fáscia de Denonvilliers representa uma barreira forte. (É digno de nota que essa barreira seja largamente de mão única, já que a invasão da próstata pelo câncer retal pode ser relativamente comum.) Metástases linfáticas são identificadas mais frequentemente nas cadeiras ganglionares do obturador, ilíaca externa e interna. Outros locais de envolvimento ganglionar incluem os linfonodos ilíacos comuns, pré-sacrais e periaórticos. O esqueleto axial é o local mais habitual de metástases distantes, com a coluna lombar. Os próximos locais mais comuns, em ordem decrescente, são a parte proximal do fêmur, a pelve, a coluna torácica, as costelas, o esterno, o crânio e o úmero. As lesões ósseas do CaP metastático geralmente são osteoblásticas. O comprometimento de ossos longos pode levar a fraturas patológicas. O envolvimento de corpos vertebrais, com massas tumorais significativas se estendendo para dentro do espaço epidural, pode resultar em compressão da medula. As metástases viscerais envolvem mais comumente o pulmão, o fígado e a glândula suprarrenal. ESCALA DE GLEASON E AVALIAÇÃO DO CÂNCER DE PRÓSTATA Esse médico percebeu que o câncer de próstata apresentava, ao microscópio, 5 padrões de crescimento: Gleason 1 representa as células cancerígenas mais diferenciadas, isto é, com menos alterações em relação ao tecido normal,Gleason 5, células menos diferenciadas, ou seja, com mais alterações em relação ao tecido normal. Resumindo, Gleason 1, células tumorais com menos alterações; Gleason 5, células tumorais com mais alterações. O patologista atribui dois graus distintos aos dois padrões de células cancerígenas predominantes na amostra de tecido da próstata. Eles determinam o primeiro número observando a área onde as células do câncer de próstata são mais proeminentes. O segundo número, ou grau secundário, está relacionado à área onde as células são quase tão proeminentes. Esses dois números somados produzem a pontuação total de Gleason, que é um número entre 2 e 10. Uma pontuação mais alta significa que o câncer tem maior probabilidade de se espalhar. Baixo risco De acordo com NCI, uma pontuação de Gleason de 6 ou inferior, um nível de PSA de 10 ng / ml ou menos e um estágio inicial do tumor coloca você na categoria de baixo risco. Juntos, esses fatores significam que é improvável que o câncer de próstata cresça ou se espalhe para outros tecidos ou órgãos por muitos anos. Alguns homens nesta categoria de risco monitoram o câncer de próstata com vigilância ativa. Eles fazem exames frequentes que podem incluir: DREs, Testes PSA, ultrassom ou outra imagem, biópsias adicionais. Risco médio Uma pontuação de Gleason de 7, um PSA entre 10 e 20 ng / ml e um estágio de tumor médio indicam risco médio. Isso significa que é improvável que o câncer de próstata cresça ou se espalhe por vários anos. Você e seu médico levarão em consideração sua idade e saúde geral ao avaliar as opções de tratamento, que podem incluir: cirurgia, radiação, medicamento ou combinação destes. Alto risco Uma pontuação de Gleason de 8 ou superior, acompanhada por um nível de PSA superior a 20 ng / ml e um estágio de tumor mais avançado, significa um alto risco de câncer em avanço. Em casos de alto risco, o tecido do câncer de próstata parece muito diferente do tecido normal. Essas células cancerosas às vezes são descritas como sendo "pouco diferenciadas". Alto risco significa que é provável que o câncer cresça ou se espalhe dentro de alguns anos. Esta escala consiste em duas etapas, em que médico que analisa as lâminas dos tecidos obtidos na biópsia, microscopicamente. São elas: Grau primário: seria a observação da maior parte do tumor – isto é, mais de 50% do tecido retirado e preparado histologicamente. Grau secundário: corresponde a minoria do tecido, mas também é relevante para o conhecimento de células anormais e outras alterações possíveis. Cada grau recebe uma classificação de 1 a 5. Basicamente, cada um destes significaria: Grau 1: próstata muito semelhante ao tecido normal. Grau 2: semelhante a normalidade, porém, há aumento na quantidade de tecido. Grau 3: as glândulas responsáveis pela secreção do líquido prostático ainda são visíveis, mas um pouco alteradas. Observa-se também, que elas estão invadindo tecidos e células com funções diferentes da de secreção. Grau 4: o tecido está pouco reconhecível, e há invasão de estruturas vizinhas. Grau 5: tecido irreconhecível. Depois disso, será feita a soma dos dois níveis, e finalmente, classifica-se a doença em escores – que variam de 2 a 10. Seria interpretado, mais ou menos da seguinte forma: Escore 2 a 5: seria um paciente com tecido da próstata muito semelhante ao normal, ou ainda, com pouquíssimas alterações. Não é considerado câncer atualmente Escore 6: seria um estado intermediário, marcado pela presença de invasões celulares e outros indícios de neoplasia. Este escore de Gleason seria o primeiro considerado câncer. Escore 10: se trataria de uma próstata praticamente irreconhecível, com padrão anormal de células. Caracteriza um estágio grave da doença. ANOTAÇÕES ESCALA DE GLEASON O escore de Gleason varia de 2 a 10, sendo que o patologista determina de 1 a 5 o grau histológico das duas áreas mais frequentes do tumor e soma os resultados. Quanto mais baixo o escore melhor será o prognóstico. Gleason de 2 a 4- existe cerca de 25% de chance de o câncer disseminar-se para fora da próstata em 10 anos, com dano em outros órgãos, afetando a sobrevida. Gleason de 5 a 7- existe cerca de 50% de chance de o câncer disseminar-se para fora da próstata em 10 anos, com dano em outros órgãos, afetando a sobrevida. Gleason de 8 a 10- existe cerca de 75% de chance de o câncer disseminar-se para fora da próstata em 10 anos, com dano em outros órgãos, afetando a sobrevida. ESCALA DE RISCO BASEADA EM GLEASON ISUP 1 = Escore de Gleason (3 + 3) ISUP 2 = Escore de Gleason (3 + 4) ISUP 3 = Escore de Gleason (4 + 3) ISUP 4 = Escore de Gleason (4 +4), (3 + 5) ou (5 + 3) ISUP 5 = Escore de Gleason (4 +5), (5 + 4) ou (5 + 5) PREVENÇÃO E DETECÇÃO PRECOCEDO CÂNCER DE PRÓSTATA Atualmente a indicação para o rastreamento dos cânceres está restrita aos de mama, colo do útero e cólon e reto. Entretanto, exceto câncer de pulmão e esôfago, esses cânceres são passíveis de diagnóstico precoce mediante avaliação e encaminhamento oportunos após os primeiros sinais e sintomas. Assim, em consonância com as evidências científicas disponíveis e as recomendações da OMS, a organização de ações de rastreamento para o câncer da próstata não é recomendada. Entretanto, quando falamos de detecção precoce, refere-se a uma avaliação em indivíduos em particular, e não a uma política de investigação ativa de pacientes saudáveis. O câncer de próstata é uma doença que na fase inicial não apresenta sinais e sintomas. Sintomas urinários são mais relacionados ao crescimento benigno da próstata, em vez de doença maligna. Assim, tomar como base a investigação diagnóstica apenas pelos sintomas do paciente pode levar ao diagnóstico de lesões malignas apenas em estágios avançados. O exame de PSA, juntamente com o exame de toque retal, trouxe a possibilidade de diagnóstico de lesões malignas enquanto ainda localizadas na próstata, o que permite, na maioria das vezes, um tratamento curativo. TOQUE RETAL: A maioria dos cânceres de próstata estão localizados na zona periférica e pode ser detectado por meio do exame de toque com um volume ≥ 0,2 ml, podendo-se perceber a presença de nódulos, endurecimentos e assimetrias. Cerca de 18% dos casos são detectados a partir de um exame de toque sugestivo de câncer, independentemente do valor do PSA. Um toque suspeito com um valor de PSA ≤ 2 ng/ml tem valor preditivo positivo de 5 a 30%. Um exame de toque anormal está associado a um risco aumentado de um grau ISUP mais alto e é uma indicação de biópsia. O posicionamento correto do paciente, lubrificação abundante e introdução digital suave são as condições fundamentais para o toque retal. As posições do paciente para este exame são as seguintes: Sims, genupeitoral ou decúbito supino. Deve-se usar dedeira ou luva, comuns ou descartáveis. Antes do exame, solicita-se ao paciente urinar, esvaziando a bexiga o máximo que puder. Se possível, o médico observa o jato urinário. Logo em seguida, palpa-se e percute-se a bexiga para verificar se existe urina residual aumentada. Antes de realizar o toque retal, é necessário inspecionar cuidadosamente a região anoperineal, examinando-se a pele em volta do ânus em busca de sinais inflamatórios, alterações provocadas pelo ato de coçar, fissuras, pertuitos fistulosos, condilomas e abscessos. A inspeção do orifício anal pode revelar a presença de mamilos hemorroidários. O paciente deve ser devidamente esclarecido sobre o que será feito, devendo-se dizer a ele que, durante o exame, poderá ter a sensação de estar evacuando. O médico coloca-se ao seu lado esquerdo e pede-lhe que relaxe o máximo possível. Expõe-se o ânus com o dedo indicador e polegar da mão esquerda, coloca-se a polpa do indicador direito sobre a margem anal e faz-se uma compressão continuada e firme para baixo, com o intuito de relaxar o esfíncter externo. Em seguida, introduz-se o dedo, lenta e suavemente, por meio de movimentos rotatórios. A introdução digital tem que ser feita com delicadeza e suavidade para que não haja dor. Quando não se consegue introduzir o dedo devido a dor intensa ou espasticidade esfincteriana, é necessário considerar a possibilidade de criptite ou fissura anal. Observa-se o tônus esfincteriano anal. Um esfíncter anal relaxado, principalmente quando associado a redundância e relaxamento retal, é encontrado nas enfermidades do sistema nervoso central com disfunção neurológica da bexiga, ou quando o paciente realiza coito anal. As características semiológicas a analisar são o tamanho, a consistência, a superfície, os contornos, o sulco mediano e a mobilidade da próstata. A próstata normal é palpável na parede anterior do reto como uma estrutura em formato de coração (pirâmide invertida, maçã, pera), com a base voltada para cima e o vértice para baixo. Seus lobos laterais são separados por um sulco mediano (encaixe, septo vertical ou sulco interlobular). Em condições normais, a próstata tem o tamanho de uma castanha grande, é regular, simétrica, depressível, apresenta superfície lisa, consistência elástica, lembrando borracha, contornos precisos e é discretamente móvel. As seguintes afecções podem ser diagnosticadas pelo toque retal: fissura anal, fístula anorretal, cisto e fístula pilonidal, hemorroidas internas, relaxamento esfincteriano (senilidade, tabes dorsalis, lesões medulares), estenoses retais (congênita, linfogranulomatosa, inguinal, senil), abscesso anorretal, pólipos, neoplasias benignas, neoplasias malignas, ânus imperfurado, extensão de neoplasias malignas da uretra bulbomembranosa, enfermidades prostáticas, enfermidades das vesículas seminais e enfermidades das glândulas de Cowper. PSA: PSA é uma protease da serina na família da calicreína humana (hK) produzida por tecidos prostáticos benignos e malignos. Ele circula no soro nas formas não complexada (livre ou não ligado) ou complexada (ligado). O PSA é usado tanto como uma ferramenta diagnóstica (rastreamento) quanto como um meio de estratificar o risco de CaPs conhecidos. O exame de PSA é um maior preditor de câncer que o exame de toque. Quando o paciente apresentar um PSA elevado deve-se repetir o teste em algumas semanas. Se o PSA repetido estiver dentro dos valores normais esperados para a idade e não for aumentado mais de 0,75 ng/ml em comparação com o valor do ano anterior, nenhuma avaliação adicional será necessária naquele momento, a menos que haja um nódulo palpável, endurecido e assimétrico no exame de toque. Os valores médios de PSA por faixa etária são: O PSA é especifico para a próstata, não para o câncer de próstata. Outras condições prevalentes, como HPB e prostatite - assim como instrumentação uretral e agravos perineais - podem elevar o PSA, produzindo resultados falso- positivos. O PSA trouxe uma possibilidade da detecção laboratorial precoce e tem grande especificidade (94%) quando apresenta valores acima de 4 ng/ml, porém baixa sensibilidade e muitos exames falso-negativos. Ou seja, o PSA se correlaciona com o câncer de próstata de forma progressiva e quanto maior o seu valor diagnóstico, maior o risco de câncer assim como de doenças mais agressivas. Um PSA "normal" tem sido defmido tradicionalmente como < 4 ng/mL, e o valor preditivo positivo de um PSA sérico entre 4 e 10 ng/mL é de aproximadamente 20 a 30%. Para níveis acima de 10 ng/mL, o valor preditivo positivo aumenta de 42 a 71,4%. De maior importância, os resultados do Prostate Cancer Prevention Trial (PCPT), que incluíram biópsia independentemente do nível de PSA - evitando, assim, o viés de averiguação que, caso contrário, confunde praticamente todos os outros estudos de PSA -, demonstraram que não há um nível de PSA abaixo do qual o risco de CaP caia a zero. O PSA é antes um indicativo de um contínuo de risco - quanto mais alto o nível, maior o risco. Portanto, as estratégias atuais de rastreamento e detecção do CaP incluem, além do PSA, outros fatores de risco, como história familiar, raça, idade e outros. O uso de medicamentos como os inibidores da 5 alfa-redutase (inclusive a formulação de 1 mg de finasterida comercializada para alopecia) deve ser averiguado, pois esses medicamentos podem baixar o PSA artificialmente em aproximadamente 50%. Tem-se notado algo interessante - os níveis séricos de PSA estão diminuídos em homens com índices altos de massa corporal em comparação com homens de peso normal, provavelmente como um resultado de hemodiluição. Em geral, sua meta comum tem sido diminuir o número de resultados falso-positivos do teste, aumentando, assim, sua especificidade e o valor preditivopositivo, levando a menos biópsias desnecessárias, custos mais baixos e redução da morbidade da detecção do câncer. Tentativas para refinar o PSA têm incluído a velocidade do PSA (PSAV), cinética do PSA (padronização dos níveis em relação ao tamanho da próstata) e isoformas do PSA (formas livres do PSA vs. formas moleculares ligadas à proteína). Cinética do PSA: PSAV refere-se à velocidade de modificação do PSA sérico; seu inverso, o tempo de duplicação do PSA (PSADT), indica a quantidade de tempo necessária para que o PSA duplique. O uso da velocidade de crescimento ou duplicação do PSA é mais utilizada para acompanhamento de um câncer já diagnosticado, do que para uma avaliação inicial. Essa velocidade é influenciada pelo crescimento benigno da próstata.Um estudo retrospectivo tem mostrado que homens com CaP têm uma elevação mais rápida do PSA sérico. Pacientes cujo PSA sérico aumenta em 0,75 ng/mL por ano parecem estar em risco aumentado de estar portando um câncer. Contudo, a PSAV deve ser interpretada com cuidado. Uma PSAV elevada só deve ser considerada significativa quando várias dosagens de PSA sérico são realizadas pelo mesmo laboratório ao longo de um período de pelo menos 18 meses. Aumentos muito rápidos do PSA podem ser indicativos de prostatite (sintomática ou não) em vez de câncer. Densidade do PSA: Os níveis de PSA estão elevados em média 0,12 ng/mL por grama de tecido de HPB. Assim, pacientes com glândulas aumentadas devido a HPB podem ter níveis de PSA elevados. A razão de PSA para volume da glândula é denominada densidade do PSA. Alguns pesquisadores defendem a biópsia de próstata somente se a densidade do PSA exceder O, 1 ou 0,15, enquanto outros não têm achado útil. Problemas com essa abordagem incluem os fatos de que (1) as razões epitélio-estroma variam de glândula para glândula e somente o epitélio produz PSA, e (2) erros no cálculo do volume prostático baseado em USTR podem se aproximar de 25%. O valor preditivo positivo da densidade do PSA é levemente mais alto que o uso de um nível de PSA > 4 ng/mL em várias séries (30-40% vs. 20-30%). O outro problema importante com a duplicação do PSA (PSAD) é que ele ainda requer USTR, que embora seja um procedimento de risco mais baixo que a biópsia, ainda é invasivo e desconfortável. Assim, a PSAD pode ser mais útil em situações nas quais o volume da próstata já é conhecido (p. ex., elevação do PSA depois de uma biópsia prévia negativa). Formas moleculares do PSA: Aproximadamente 90% do PSA sérico são ligados à alfa1 - antiquimiotripsina (ACT), e quantidades menores são livres ou ligadas a alfa2-macroglobulinas. Estudos iniciais sugerem que pacientes com CaP demonstram uma porcentagem mais baixa de PSA livre do que pacientes com doença benigna. Um grande estudo multicêntrico tem relatado que em homens com um TR normal e um nível de PSA total entre 4 e 10 ng/mL, um ponto de corte de 25% de PSA livre detectaria 95% dos cânceres, e evitaria 20% de biópsias desnecessárias. Tem sido mostrado que um painel sérico adicionando PSA livre, PSA intacto e hK2 ao PSA total melhora a acurácia preditiva para o diagnóstico de CaP entre homens com um PSA > 3. PCA 3: O antígeno 3 do câncer de próstata (PCA3) é um RNAm não codificador, específico da próstata, que está superexpresso na maioria dos CaPs, com uma expressão 66 vezes maior que o observado no tecido adjacente não canceroso. O PCA3 prediz a presença de câncer em uma situação de biópsia com uma acurácia de 74,6%. O PCA3 pode ser particularmente útil na avaliação de homens com uma biópsia prévia negativa e um PSA em elevação. O PCA3 é um gene hiperexpresso no câncer de próstata e o RNA mensageiro (RNAm) desse gene pode ser dosado na urina após massagem prostática. A avaliação é feita por meio do resultado da relação do RNAm do PCA3 e do PSA encontrados na urina. DIAGNÓSTICO DO CÂNCER DE PRÓSTATA O diagnóstico de câncer de próstata definitivo requer um diagnóstico tecidual. Para partir para a biópsia, os resultados dos testes de PSA e/ou de toque retal devem estar alterados. Deve-se realizar a biópsia, após uma decisão compartilhada, se: expectativa de vida é de, pelo menos, 10 anos (alguns atribuem uma expectativa de vida para biópsia de, pelo menos, 5 anos) ou o PSA está elevado acima da faixa normal da faixa etária do paciente ou o PSA aumentou mais de 0,75 ng/ ml ao longo de um ano ou anormalidade palpável em exame de toque. Para o diagnóstico utiliza-se a biópsia transretal da próstata guiada por ultrassonografia, que permite a obtenção de, pelo menos, 12 fragmentos submetidos a exame anatomopatológico. A partir desse exame será determinado o grau histológico, o qual será importante na especificação do Escore de Gleason, estadiamento e prognóstico do câncer. Para o exame anatomopatológico, normalmente utiliza-se uma orientação por imagem, como a ultrassonografia transretal (TRUSG) ou RM. A biópsia por TRUSG é a mais comumente realizada. Assim, posiciona-se o paciente em decúbito lateral com joelho e quadril fletidos à 90° e o transdutor lubrificado é inserido no reto. A próstata é visualizada e seu volume é determinado. Uma agulha de biópsia é avançada no reto adjacente ao transdutor e guiada para a próstata para obter amostras do núcleo, uma de cada vez. Acredita-se que a partir de 75 anos os pacientes não devem ser submetidos a detecção precoce, já que não se beneficiarão das intervenções. O exame de toque retal adiciona sensibilidade ao uso do PSA e deve ser oferecido aos pacientes acima de 40 anos. A biópsia transretal da próstata será solicita com base no valor do PSA, alterações nodulares de endurecimento no exame do toque retal ou alterações em ambos. As amostras são rotuladas uma de cada vez de acordo com a localização da extração antes de serem enviadas para análise. A biópsia de próstata é guiada pela USTR usando-se um dispositivo de biópsia carregado com mola acoplado à sonda de imagem. Biópsias são colhidas por meio da zona periférica da próstata, com amostras adicionais opcionais de quaisquer áreas anormais no TR e/ ou na USTR. Tradicionalmente, seis biópsias (sextante) eram colhidas ao longo de uma linha parassagital entre a margem lateral e a linha média da próstata, no ápice, meio da glândula e na base, bilateralmente. Contudo, vários pesquisadores têm mostrado que o aumento do número(> 10) e a realização de biópsias da zona periférica direcionadas mais lateralmente aumentam as taxas de detecção em 14 a 20% sobre a técnica de sextante mais tradicional. Embora um número pequeno de CaPs se origine na zona de transição, biópsias específicas dessa zona acrescentam pouco às taxas de detecção geral do câncer quando se realiza uma biópsia de padrão estendido. Alguns profissionais acrescentam biópsias da comissura anterior, um local relativamente frequente de cânceres inicialmente não detectados, achados na segunda biópsia ou na subsequente. A biópsia de próstata geralmente é realizada usando-se anestesia local e profilaxia antibiótica pré- procedimento (habitualmente uma fluoroquinolona). O uso de anestesia local, ou aplicada topicamente ao longo da parede retal anterior, ou injetada na próstata ou adjacente a ela, ou uma combinação das duas, diminui a dor associada ao procedimento. Hematospermia, hematoquezia e hematúria são comuns, ocorrendo em aproximadamente 40 a 50% dos pacientes. Com a prevalência crescente de bactérias resistentes aos antibióticos, as taxas de sepse têm aumentado, apesar da profilaxia-padrão, os pacientes são aconselhados a retornar imediatamente ao departamento de emergência caso ocorra febre alta após o procedimento. Os esquemas de saturação consistem em 20 ou mais fragmentos, com ênfase em amostras da zona periférica. Um dos esquemas de saturação mais comuns envolve retirar dois fragmentos da base lateral, três fragmentos do meioda lateral, três fragmentos do ápice (incluindo o ápice anterior), um fragmento parassagital médio e um fragmento parassagital da base. O ensaio Reduction by Dutasteride of Prostate Cancer Events (REDUCE) possibilita que se analisem prospectivamente tanto as taxas de detecção de câncer como a qualidade dos cânceres em uma situação de biópsia de repetição. Deve-se lembrar que os critérios de entrada para esse ensaio exigiam uma biópsia negativa anterior (no mínimo uma biópsia de sextante negativa) dentro de 6 meses da inscrição. Azotemia pode resultar de obstrução ureteral bilateral, ou por extensão direta para o trígono, ou por adenopatia retroperitoneal. Anemia pode estar presente na doença metastática. A fosfatase alcalina pode estar elevada na presença de metástases ósseas. A fosfatase ácida sérica pode estar elevada caso a doença se localize fora dos limites da próstata. ESTADIAMENTO DO CÂNCER DE PRÓSTATA O estadiamento TNM é uma forma de identificar o estágio do câncer com base no tumor (T), acometimento linfonodal (N) e metástases à distância (M). O estadiamento T do TNM ainda é dividido em estadiamento clínico e patológico. O clínico é baseado no exame físico (toque retal), biópsia guiada por ultrassonografia transretal (TRRE) ou em exames de imagem, particularmente a varredura óssea e a ressonância magnética. É de grande importância na avaliação do risco da doença, assim como na recomendação do tratamento. O estadiamento patológico T é feito com base no exame histológico da amostra de ressecção cirúrgica após prostatectomia radical. Pacientes não submetidos a essa intervenção não terão um estadiamento patológico definido e as decisões de tratamento serão baseadas no estágio clínico. O estadiamento clínico pode subestimar ou superestimar a extensão da doença quando comparado com os resultados baseados no exame patológico de uma amostra de ressecção. Estadiamento clínico T Esse estadiamento fornece a base para decisões iniciais sobre extensão das opções de avaliação e tratamento. É classificado em: Estadiamento patológico T É uma avaliação mais precisa da extensão da doença em pacientes submetidos à prostatectomia radical. É classificado em: A oitava edição (2017) do manual da American Joint Committee on Cancer (AJCC), combina informações sobre a extensão do tumor (T), número de linfonodos acometidos (N), presença de metástases à distância (M), com nível sérico do PSA e o grupo histológico do tumor primário para classificação desses pacientes em grupos prognósticos de acordo com o risco de recorrência. Estadiamento N: Determinação do acometimento linfonodal. Classificado em três tipos: Estadiamento M: Determinação de metástases à distância. Classificado em: Grupo histológico: É a partir desse grau que se determina o escore de Gleason. Baseia-se nas características arquitetônicas e de diferenciação das células do câncer, comparando às células prostáticas normais. O objetivo dessa classificação é informar sobre a provável taxa de crescimento e tendência a disseminação. Um grau histológico mais alto fala mais a favor de uma doença não confinada ao órgão. O grau histológico varia de 1 a 5, com o grau 1 sendo a forma menos agressiva. Grau 1 - As células são, geralmente, uniformes e pequenas e formam glândulas regulares, com pouca variação de tamanho e forma, com bordos bem definidos, densamente agrupadas, distribuídas homogeneamente e com muito pouco estroma em si. Grau 2 - As células variam mais em tamanho e forma e as glândulas, ainda uniformes, mostram-se frouxamente agrupadas e com bordos irregulares. Grau 3 - As células variam ainda mais em tamanho e forma, constituindo glândulas muito pequenas, uniformes, anguladas ou alongadas, individualizadas e anarquicamente espalhadas pelo estroma. Podem formar também massas fusiformes ou papilíferas, com bordas lisas. Grau 4 - Muitas das células estão fusionadas em grandes massas amorfas ou formando glândulas irregulares, que são distribuídas anarquicamente, exibindo infiltração irregular e invadindo tecidos adjacentes. As glândulas podem apresentar, ainda, células pálidas e grandes, com padrão hipernefroide. Grau 5 - Tumor anaplásico. A maioria das células estão agrupadas em grandes massas que invadem os órgãos e tecidos vizinhos. As massas de células podem exibir necrose central. Muitas vezes, a diferenciação glandular pode não existir: padrão de crescimento infiltrativos do tipo células soltas. AVALIAÇÃO DE RISCO TRATAMENTO DO CÂNCER DE PRÓSTATA As opções básicas relacionadas ao tratamento de adenocarcinoma, o tipo mais comum, corresponde à vigilância ativa, radioterapia por feixe externo (EBRT) com ou sem braquiterapia, prostatectomia radical e terapias hormonais adjuvantes. As recomendações gerais para tratamento determinam que uma expectativa de vida de, pelo menos, 10 anos deve ser garantida com a intervenção. Caso a expectativa seja < 10 anos, a conduta é de espera vigilante, acompanhando a progressão da doença e fornecendo tratamento paliativo para as queixas do paciente, a fim de promover uma melhor qualidade de vida para esse. Quando a expectativa de vida com o tratamento seja ≥ 10 anos, o tratamento vai se basear no risco do paciente. VIGILÂNCIA ATIVA: A vigilância ativa visa evitar tratamento desnecessário em homens com câncer de próstata clinicamente localizado que não necessitam de tratamento imediato, mas, ao mesmo tempo, atingem o momento Na vigilância, homens com câncer muito bem caracterizado, em estágio inicial, e de grau baixo a intermediário, são acompanhados muito cuidadosamente com avaliações seriadas de TR e PSA, e biópsias de seguimento guiadas por USTR para garantir a estabilidade do tumor. Os cânceres geralmente são tratados ao primeiro sinal de progressão subclínica. Embora entre 20 e 41 % dos homens nesses regimes possam precisar de tratamento com 3a 5 anos de seguimento, o tratamento na progressão parece ser tão efetivo como teria sido se administrado por ocasião do diagnóstico para a maioria dos pacientes. correto para o tratamento curativo naqueles que eventualmente o fazem. Os pacientes permanecem sob vigilância rigorosa por meio de programas de vigilância estruturados com acompanhamento regular. O PSA deve ser acompanhando a cada 6 meses, o toque retal a cada 12 meses e RM e biópsias a cada 2 a 5 anos. A espera vigilante refere-se ao tratamento conservador de pacientes considerados inadequados para o tratamento curativo desde o início, e os pacientes são vigiados pelo desenvolvimento de progressão local ou sistêmica com queixas (iminentes) relacionadas a doenças, em que estágio são tratados paliativamente de acordo com seus sintomas. Prostatectomia radical (PR) O objetivo dessa intervenção é a erradicação do câncer e, sempre que possível, preservar a função dos órgãos pélvicos. O procedimento envolve a remoção de toda a próstata com sua cápsula intacta e vesículas seminais, seguida pela realização de anastomose vesicouretral. Para essa intervenção antibióticos profiláticos devem ser usados. A prostatectomia pode ser realizada por abordagens abertas, laparoscópicas ou assistidas por robôs (RARP). Caso a linfadenectomia seja necessária durante a PR perineal, ela deve ser feita por meio de uma abordagem retropúbica aberta separada (RRP) ou laparoscópica. Durante a prostatectomia, a preservação dos feixes vasculonervosos com ramos nervosos parassimpáticos do plexo pélvico pode poupar a função erétil. Apesar da idade, a função pré-operatória é o preditor mais importante da função erétil pós-operatória, poupar feixe vasculonervoso também foi associada a melhores resultados de continência e, portanto, ainda pode ser relevante para homens com função erétildeficiente. As formas mais agressivas de câncer de próstata podem se espalhar diretamente para as vesículas seminais, assim, tradicionalmente, são removidas intactas, junto com a próstata. O maior risco desse procedimento é que os nervos cavernosos passam pelas pontas das vesículas seminais e uma dissecção indiscriminada pode levar a uma disfunção erétil. Assim, em casos de baixo risco de envolvimento das vesículas seminais, pode-se realizar a dissecção da estrutura com preservação das pontas. Quanto à técnica de anastomose vesicouretral, após a remoção da próstata, o colo da bexiga é anastomosado na uretra membranosa. O objetivo é criar uma anastomose precisamente alinhada, estanque, livre de tensão e livre de estenoses que preserve a integridade do mecanismo do esfíncter intrínseco. Durante a PR, rotineiramente coloca-se um cateter urinário por, cerca de, 1 semana de pós-operatório, a fim de permitir o repouso da bexiga e a drenagem da urina enquanto a anastomose vesico-uretral se estabelece. Radioterapia (RT): A radioterapia com intensidade modulada (IMRT), com ou sem radioterapia guiada por imagem (IGRT) é o padrão ouro de terapia de radiação com feixes externos (EBRT). A radioterapia por feixe externo com arco volumétrico (VMAT) possui como vantagem acima do IMRT o menor tempo de tratamento, geralmente de 2 a 3 minutos. A radioterapia quando combinada com a terapia de privação androgênica mostrou uma superioridade quando comparada com a RT isolada. Para riscos intermediários é ideal uma curta duração de cerca de 6 meses, enquanto uma longa de cerca de 3 anos é necessária para pacientes de alto risco. A braquiterapia de baixa dose é uma radioterapia que utiliza sementes radioativas permanentemente implantadas na próstata e as doses de radiação são administradas durante semanas e meses. Há também a braquiterapia de alta dose, em que são introduzidas temporariamente na próstata e são administradas doses de radiações em minutos. A braquiterapia pode ser realizada em monoterapia em pacientes de baixo e médio risco de forma isolada. Os efeitos colaterais mais comuns da radioterapia são efeitos gastrointestinais e urinários, incluindo disúria, frequência urinária, retenção urinária, hematúria, diarreia, sangramento retal e proctite. Além disso, efeitos colaterais gerais como fadiga também são comuns. Terapia hormonal: A privação androgênica pode ser alcançada suprimindo a secreção de andrógenos testiculares ou inibindo a ação de andrógenos circulantes no nível dos seus receptores. Assim diferentes tipos de terapias hormonais são possíveis, dentre elas, a castração por terapia com testosterona, terapia com estrogênios, agonistas ou antagonistas do hormônio liberador de hormônio luteinizante, orquiectomia bilateral. A descrição do complexo venoso dorsal e da anatomia do ápice da próstata levou a modificações na técnica operatória, conduzindo à redução da perda sanguínea na operação. Além disso, a melhora da visualização tornou possível uma dissecção apical mais precisa, permitindo melhor preservação do esfincter urinário externo e resultando em melhora da incontinência. A descrição do percurso dos nervos cavernosos possibilitou modificações adicionais da técnica cirúrgica - as assim chamadas técnicas poupadoras de nervos - em casos apropriados, resultando em melhor preservação da função erétil a longo prazo. A dissecção de linfonodos, antes feita de rotina, pode ser realizada somente naqueles com risco significativo de metástases para gânglios linfáticos. O prognóstico de pacientes tratados por PR correlaciona-se com o grau anatomopatológico e com o estágio da peça operatória, e pela resposta do PSA. O PSA deve cair a níveis não detectáveis dentro de 6 semanas da cirurgia, na maioria dos casos. Metástases distantes ocorrem em cerca de 85% dos pacientes com linfonodos positivos; alguns homens com envolvimento ganglionar micrometastático limitado podem ser curados por PR e linfadenectomia, mas todos os homens com comprometimento ganglionar devem fazer terapia adjuvante de privação de androgênios. A perda de sangue é mais comum na abordagem retropúbica do que na perineal, porque, na primeira, o complexo venoso dorsal deve ser seccionado. As complicações perioperatórias incluem trombose venosa profunda, embolia pulmonar, formação de linfocele e infecção da ferida. Complicações tardias incluem incontinência urinária e impotência. A preservação da potência varia em função da idade, da função sexual pré-operatória e da preservação de um ou ambos os feixes neurovasculares. Se houver extensão extracapsular, a preservação do feixe neurovascular pode aumentar a probabilidade de que o tumor recorra. Terapia em investigação: Outras terapias que não a PR, RT e terapia hormonal estão são desenvolvidas, dentre elas a ultrassom focalizada e, principalmente, a crioterapia. A crioterapia é uma intervenção que utiliza técnicas de congelamento para induzir a morte celular por desidratação, resultando em desnaturação proteica, ruptura direta da membrana celulares por cristais de gelo e estase vascular e microtrombos, resultando em estagnação da microcirculação com apoptose isquêmica consecutiva. É garantida a partir da introdução de agulhas criogênicas com colocação de termossensores no nível do esfíncter externo e da parede retal e inserção de um aquecedor uretral. Uma temperatura de -40°C na glândula e no feixe vasculonervoso. Os principais efeitos adversos da crioterapia são disfunção erétil (18%), incontinência urinária (2-20%), dor e sangramento retal (3%) e formação de fístulas retouretral (0-6%). TRATAMENTO DIRECIONADO Baixo risco: O principal risco para homens com doença de baixo risco é o excesso de tratamento e, portanto, a vigilância ativa deve ser considerada para esses pacientes. Os estudos apontam para um benefício maior para ISUP grau 1, T1c ou T2a clínico e PSA < 10 ng/ml. Para ISUP grau 2 favorável (PSA < 10 ng/ml) essa conduta também pode ser considerada, devendo dentro de 6 a 12 meses, obrigatoriamente, realizar nova biópsia. Essa conduta não deve ser adotada para ISUP grau 3 a 5, carcinoma ductal predominante, carcinoma sarcomatoide, carcinoma de pequenas células e em invasão perineal. Como alternativa para a vigilância ativa, a cirurgia e a radioterapia são intervenções adequadas para esses pacientes que não se enquadraram, promovendo uma prevenção da progressão da doença em detrimento do risco de toxicidade. A braquiterapia em baixa dose é o tratamento radioterápico mais indicado, sem ressecção transuretral anterior da próstata, além disso, o uso de radioterapia com intensidade modulada, sem terapia de privação de androgênio. A dissecção de linfonodos pélvicos não é indicada para esses pacientes. Terapias alternativas também podem ser recomendadas, como a crioterapia e ultrassom focalizado, quando em um cenário de estudo bem projetado. As técnicas tradicionais de radioterapia com feixe externo (XRT) permitem a administração segura de 6.500-7.000 cGy à próstata. As técnicas-padrão de XRT dependem dos pontos de referência ósseos para definir as fronteiras do tratamento ou de um único corte de TC para definir o volume do alvo. Essas técnicas-padrão de XRT geralmente envolvem o uso de campos abertos quadrados ou retangulares e são caracterizados pelo uso de campos de reforço relativamente pequenos. Em adição ao uso de escalonamento de doses e melhor alvejamento do tumor, vários pesquisadores têm mostrado que os resultados da radioterapia podem ser melhorados com o uso de privação de androgênios neoadjuvante, concomitante e adjuvante. O uso de privação de androgênios neoadjuvante e concomitante de curta duração (3-4 meses) é recomendado para aqueles com doença de risco intermediário, ao passo que aqueles com doença de alto risco devem sofrer privação de androgênios neoadjuvante, concomitante eadjuvante de longa duração (24 meses) BRAQUITERAPIA: Os implantes podem ser permanentes (iodo-125 ou paládio-103), em que as sementes são colocadas na próstata e a dose de radiação é administrada ao longo do tempo; ou temporários, em que as sementes são postas dentro de cateteres ocos, e tanto as sementes (irídio-192) como os cateteres são removidos depois de um período curto de hospitalização e exposição à radiação. Os implantes permanentes têm uma velocidade de dose mais baixa, mas uma dose total administrada mais alta, em comparação com os implantes temporários, que têm uma velocidade de dose mais alta, mas administram uma dose total mais baixa. Ao contrário da radioterapia com feixe externo, a privação de androgênios não parece melhorar os desfechos de homens com doença intermediária que são tratados com braquiterapia. A privação de androgênios é usada frequentemente para diminuir a próstata antes da braquiterapia, a fim de facilitar a colocação das sementes. Risco intermediário: A Sociedade Americana de Oncologia Clínica (ASCO) sustenta que a recomendação que podem ser elegíveis para vigilância ativa pacientes com ISUP grau 2 com < 10% de células com padrão Gleason 4. Para pacientes com maior expectativa de vida, deve-se ter muito cuidado para a adoção dessa estratégia, sem contar que nas biópsias sistemáticas podem ser perdidos pequenos focos de câncer de Gleason 4, devendo-se adotar biópsias direcionadas ou RM multiparamétricas. As principais intervenções para esses pacientes são intervenção cirúrgica e tratamento radioterápico. A prostatectomia radical deve ser oferecida para esses pacientes com risco intermediário e com expectativa de vida > 10 anos. A cirurgia poupadora de nervos deve ser oferecida para pacientes com baixo risco de doença extracapsular. A linfadenectomia é recomendada quando o risco estimado de linfonodos positivos exceder 5 %. Quanto ao tratamento radioterápico, braquiterapia de altas doses, sem ressecção transuretral anterior da próstata ou EBRT com terapia neoadjuvante de privação androgênica (ADT) de curto prazo (4 a 6 meses). Em pacientes que não querem se submeter à ADT, utilizar dose escalonada de EBRT ou combinação com braquiterapia. Outras opções terapêuticas como terapia ablativa da glândula inteira por meio crioterapia ou ultrassom focalizada de alta intensidade, quando em um cenário de estudo bem projetado também pode ser utilizadas. Não oferecer ADT em monoterapia para homens assintomáticos de risco intermediário que não possam receber tratamento local. Alto risco com doença localizada: Não há um consenso sobre o tratamento ideal de homens com câncer de próstata de alto risco. São pacientes que apresentam risco aumentado de falha do PSA, necessidade de terapia secundária, progressão metastática e morte por câncer de próstata. No entanto, nem todos esses pacientes apresentam prognóstico uniformemente ruim após a prostatectomia radical. Quando gerenciado com intenção não curativa esses pacientes podem apresentar expectativa de vida de 10 e 15 anos de, respectivamente, cerca de 30 e 35%. Desde que o tumor não esteja fixo à parede pélvica ou não haja invasão do esfíncter uretral e seja de baixo volume, a prostatectomia radical é uma opção razoável. A dissecção linfonodal deve ser sempre realizada, já que o risco estimado de linfonodo positivo é > 5%. O tratamento radioterápico EBRT deve ser utilizado em pacientes com doença localizada de alto risco em combinação com terapia de privação androgênica de longo prazo 2 a 3 anos. Outra opção radioterápica com evidência mais fraca é a utilização de EBRT com braquiterapia (em dose alta ou baixa) em combinação com ADT de longo prazo (2 a 3 anos). Opções fora da cirurgia e da radioterapia não devem ser oferecidas a esses pacientes de alto risco. Alto risco com doença avançada: Nenhum tratamento padrão pode ser definido na ausência de evidências de alto nível, entretanto um tratamento local combinado com um sistêmico fornece melhor resultado, desde que o paciente esteja pronto e apto o suficiente para receber os dois. A prostatectomia radical deve ser oferecida para pacientes com T3b- -T4 N0 ou qualquer N1. Deve ser realizada junto a PR uma dissecção linfonodal. Quanto aos tratamentos radioterápicos deve ser oferecido em combinação com ADT de longo prazo, por, pelo menos, 2 anos. As terapias alternativas como ADT em monoterapia só deve ser oferecida para pacientes que não desejem ou não possam receber tratamento local.
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