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SUMÁRIO DIREITO DO CONSUMIDOR Professora: Veridiana Rehbein SUMÁRIO 1. DANO MORAL ................................................................................................................................. 3 1.1 Novas situações geradoras de danos morais ........................................................................... 3 1.2 Dano moral ou “mero aborrecimento”? .................................................................................. 3 1.3 Caráter punitivo-pedagógico .................................................................................................... 4 1.4 Teoria do Desvio Produtivo do Consumidor – Perda do tempo útil ....................................... 4 1.5 Inscrição Indevida em órgãos de Proteção ao Crédito ............................................................ 5 1.6 Responsabilidade Civil e assédio de consumo ........................................................................ 5 1.7 Disponibilização/comercialização de informações pessoais do consumidor em bancos de dados ............................................................................................................................................... 6 Dano moral: exemplos, parâmetros jurisprudenciais, novas teorias. 1. DANO MORAL Entendimento preponderante: lesão aos direitos de personalidade. 1.1 Novas situações geradoras de danos morais O CDC que, por se compor como norma principiológica, é suficientemente flexível e abrangente, garantindo aplicabilidade plena e imediata sobre as novas modalidades de danos. Os Projetos de Lei nº 3.514/15 e 3.515/15 trazem nova disciplina também sobre danos. CF, Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: V - é assegurado o direito de resposta, proporcional ao agravo, além da indenização por dano material, moral ou à imagem; X - são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o direito a indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação; CC, Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito. CDC, Art. 6º São direitos básicos do consumidor: VI - a efetiva prevenção e reparação de danos patrimoniais e morais, individuais, coletivos e difusos; 1.2 Dano moral ou “mero aborrecimento”? Em um movimento recente, os tribunais têm deixado de reconhecer e aplicar a compensação por dano moral em inúmeros casos, por meio da tese do mero aborrecimento cotidiano, isto é, a ideia de que aquela situação lesiva vivenciada, por ser comum, não ensejaria qualquer reparação. Em outras palavras, seria tão normal aquele fato que a pessoa teria de suportá-lo como inerente à vida em sociedade. Tratar a lesão moral como uma não lesão por ser comum apenas engessa qualquer possibilidade de mudança do quadro social onde aquela surgiu. Permite a perpetuação da conduta lesiva no seio da sociedade sem qualquer perspectiva de correção da atitude lesiva. Naturaliza-se o dano, esquece-se o lesado, por fim, abandona-se a sociedade. (Miguel Barreto – CONJUR) Alguns entendimentos de configuração do dano moral: • Interrupção reiterada de energia elétrica; • Extravio temporário de bagagem; • Cancelamento de voo; • Fato do produto; 1.3 Caráter punitivo-pedagógico • Finalidades da responsabilidade civil, quais sejam, reparar ou compensar o dano, punir o ilícito e prevenir o risco. 1.4 Teoria do Desvio Produtivo do Consumidor – Perda do tempo útil A teoria do desvio produtivo do consumidor também é uma das respostas do Direito às violações da esfera existencial dos consumidores, protegendo valores como o trabalho, o lazer, o descanso e o convívio pessoal. RECURSO ESPECIAL. CONSUMIDOR. TEMPO DE ATENDIMENTO PRESENCIAL EM AGÊNCIAS BANCÁRIAS. DEVER DE QUALIDADE, SEGURANÇA, DURABILIDADE E DESEMPENHO. ART. 4º, II, "D", DO CDC. FUNÇÃO SOCIAL DA ATIVIDADE PRODUTIVA. MÁXIMO APROVEITAMENTO DOS RECURSOS PRODUTIVOS. TEORIA DO DESVIO PRODUTIVO DO CONSUMIDOR. DANO MORAL COLETIVO. OFENSA INJUSTA E INTOLERÁVEL. VALORES ESSENCIAIS DA SOCIEDADE. UNÇÕES. PUNITIVA, REPRESSIVA E REDISTRIBUTIVA. (REsp 1737412 / SE) 7. O dever de qualidade, segurança, durabilidade e desempenho que é atribuído aos fornecedores de produtos e serviços pelo art. 4º, II, d, do CDC, tem um conteúdo coletivo implícito, uma função social, relacionada à otimização e ao máximo aproveitamento dos recursos produtivos disponíveis na sociedade, entre eles, o tempo. Na hipótese concreta, a instituição financeira recorrida optou por não adequar seu serviço aos padrões de qualidade previstos em lei municipal e federal, impondo à sociedade o desperdício de tempo útil e acarretando violação injusta e intolerável ao interesse social de máximo aproveitamento dos recursos produtivos, o que é suficiente para a configuração do DANO MORAL COLETIVO. Decisões monocráticas recentes: • No entanto, muito embora o apelante mencione "... as ligações inoportunas de cobrança, o desvio produtivo e a perda de tempo útil do recorrente, que teve de deixar todos os afazeres de lado, pessoais e profissionais..." certo é que não teve seu nome inscrito nos cadastros restritivos de crédito, e que não juntou aos autos quaisquer elementos capazes de comprovar que esses danos de fato existiram, não cabendo, desse modo, dever de indenizar por parte dos réus. AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL Nº 1.757.254 - PR (2020/0234276-0), 20/11/2020. Baixa adesão do tribunais https://www.tjrs.jus.br/novo/buscas- solr/?aba=jurisprudencia&q=%22DESVIO+PRODUTIVO%22&conteudo_busca=ementa_completa 1.5 Inscrição Indevida em órgãos de Proteção ao Crédito Súmula 385 - Da anotação irregular em cadastro de proteção ao crédito, não cabe indenização por dano moral, quando preexistente legítima inscrição, ressalvado o direito ao cancelamento. Nova publicação do Jurisprudênica em Teses do STJ – CONSUMIDOR IV – 13/11/2020 É possível a flexibilização da orientação contida na Súmula n. 385/STJ, para reconhecer dano moral decorrente de inscrição indevida do nome do consumidor em cadastro restritivo de crédito, quando existentes nos autos elementos aptos a demonstrar a ilegitimidade da preexistente anotação. 1.6 Responsabilidade Civil e assédio de consumo • Aumento expressivo do e-commerce; • A publicidade ganha ainda maior expressividade, estimulada pela expansão do ambiente da Internet e do comércio eletrônico; • Utilização de bancos de dados pessoais e publicidade direcionada, conforme hábitos de consumo e outros; • Utilização de dados sensíveis; Lei 13. 709/2018 (LGPD) Art. 5º Para os fins desta Lei, considera-se: I - dado pessoal: informação relacionada a pessoa natural identificada ou identificável; II - dado pessoal sensível: dado pessoal sobre origem racial ou étnica, convicção religiosa, opinião política, filiação a sindicato ou a organização de caráter religioso, filosófico ou político, dado https://www.tjrs.jus.br/novo/buscas-solr/?aba=jurisprudencia&q=%22DESVIO+PRODUTIVO%22&conteudo_busca=ementa_completa https://www.tjrs.jus.br/novo/buscas-solr/?aba=jurisprudencia&q=%22DESVIO+PRODUTIVO%22&conteudo_busca=ementa_completa referente à saúde ou à vida sexual, dado genético ou biométrico, quando vinculado a uma pessoa natural; Publicidade invasiva e importunadora pode configurar dano moral? Os Projetos de Lei nº 3.514/15 e 3.515/15 trazem atualizações do CDC, inclusive quanto às publicidades ilícitas,dispondo que o assédio de consumo deve ser reconhecido como um dano. No Projeto de Lei nº 3.515/15, há a previsão de acrescer ao CDC o Art. 54 – C, nos seguintes termos: Art. 54 - C. É vedado, expressa ou implicitamente, na oferta de crédito ao consumidor, publicitária ou não: [...] IV assediar ou pressionar o consumidor para contratar o fornecimento de produto, serviço ou crédito, inclusive a distância, por meio eletrônico ou por telefone, principalmente se se tratar de consumidor idoso, analfabeto, doente ou em estado de vulnerabilidade agravada ou se a contratação envolver prêmio. Neste ponto, vale destacar que “por mais bela que possa ser a peça publicitária, por mais poética e edificante a mensagem que dela emane, sua finalidade última é uma só: estimular o desejo de consumir e, por consequência, obter a venda e conquistar o lucro. Habeas Mente : a responsabilidade civil como garantia fundamental contra o assédio de consumo em tempos de pandemia. Arthur Pinheiro Basan e Muriel Amaral Jacob. Disponível em: https://revistaiberc.responsabilidadecivil.org/iberc/article/view/129/92 CDC Art. 39. É vedado ao fornecedor de produtos ou serviços, dentre outras práticas abusivas: IV - prevalecer-se da fraqueza ou ignorância do consumidor, tendo em vista sua idade, saúde, conhecimento ou condição social, para impingir-lhe seus produtos ou serviços; Art. 37. É proibida toda publicidade enganosa ou abusiva. § 2° É abusiva, dentre outras a publicidade discriminatória de qualquer natureza, a que incite à violência, explore o medo ou a superstição, se aproveite da deficiência de julgamento e experiência da criança, desrespeita valores ambientais, ou que seja capaz de induzir o consumidor a se comportar de forma prejudicial ou perigosa à sua saúde ou segurança. Nova publicação do Jurisprudênica em Teses do STJ – CONSUMIDOR IV – 13/11/2020 A ausência de comunicação acerca da disponibilização/comercialização de informações pessoais do consumidor em bancos de dados configura dano moral presumido (in re ipsa). 1.7 Disponibilização/comercialização de informações pessoais do consumidor em bancos de dados REsp 1758799 / MG, julgado em 12/11/2019 Síntese do caso: Ação de compensação de dano moral ajuizada em 10/05/2013. O TJ/MG deu provimento à apelação interposta por JOSÉ ... para julgar procedente o pedido, determinando a exclusão das informações cadastrais do apelante do banco de dados mantido pela apelada e condená-la ao pagamento de R$ 8.000,00 (oito mil reais) a título de compensação do dano moral. Ré: PROCOB S/A REsp 1758799 / MG, julgado em 12/11/2019 Fundamento da decisão: A divulgação de informações relativas à vida privada da pessoa, sem prévia autorização, implica inobservância do disposto no inciso X, art. 5°, da Constituição Federal que estabelece: "são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o direito a indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação". REsp 1758799 / MG, julgado em 12/11/2019 O consumidor tem o direito de tomar conhecimento de que informações a seu respeito estão sendo arquivadas/comercializadas por terceiro, sem a sua autorização, porque desse direito decorrem outros dois que lhe são assegurados pelo ordenamento jurídico: o direito de acesso aos dados armazenados e o direito à retificação das informações incorretas. REsp 1758799 / MG, julgado em 12/11/2019 Embora a Lei autorize o compartilhamento das informações cadastrais, impõe a prévia e efetiva comunicação. SERASA – PROCOB – CLIENTES PROCOB Lei 12.414/2011 – Lei do Cadastro Positivo Art. 3º Os bancos de dados poderão conter informações de adimplemento do cadastrado, para a formação do histórico de crédito, nas condições estabelecidas nesta Lei. § 3º Ficam proibidas as anotações de: I - informações excessivas, assim consideradas aquelas que não estiverem vinculadas à análise de risco de crédito ao consumidor; e II - informações sensíveis, assim consideradas aquelas pertinentes à origem social e étnica, à saúde, à informação genética, à orientação sexual e às convicções políticas, religiosas e filosóficas. Lei 12.414/2011 – Lei do Cadastro Positivo Art. 5º São direitos do cadastrado: V - ser informado previamente sobre a identidade do gestor e sobre o armazenamento e o objetivo do tratamento dos dados pessoais; Dano moral reflexo, pedido conjuntamente com a vítima direta. Ementa: RECURSO INOMINADO. CONSUMIDOR. AÇÃO INDENIZATÓRIA. PACOTE TURÍSTICO INTERNACIONAL. SEGURO VIAGEM. FALHA NA PRESTAÇÃO DOS SERVIÇOS. DANO MORAL REFLEXO CONFIGURADO. QUANTUM INDENIZATÓRIO MANTIDO. A autora relatou na inicial que contratou pacote de viagem para Itália, com saída no dia 11/05/2017 e retorno no dia 26/05/2017. Disse que, no curso da viagem, mais precisamente no dia 22/05/2017, uma das integrantes do grupo sofreu uma queda e fraturou o joelho, tendo que engessar a perna. Alegou que a ré não prestou nenhuma assistência a sua colega, a qual necessitava de auxílio constante, tendo-lhe negado uma cuidadora. Em razão disso, a autora abdicou de dar seguimento às programações turísticas e prestou todo o auxílio que pode à sua colega de viagem. Do exame dos autos, ficou claramente comprovada a falha na prestação dos serviços pela ré, que deixou de prestar assistência à colega da autora, o que, inclusive, foi objeto de discussão nos autos do processo n. 001/117.0115646- 7, no qual restou reconhecida a responsabilidade da seguradora demandada para com a colega da demandante. Nesse contexto, apura-se que a autora veio a ser atingida indiretamente pelo sinistro ocorrido com a sua colega, pois diante da inoperância da ré, teve que interromper sua viagem para prestar assistência à segurada, que ficou impossibilitada de locomover-se sozinha, ou mesmo alimentar-se, vestir-se, higienizar-se. Assim, de forma reflexa, a autora foi vítima da falha na prestação dos serviços da ré, restando configurado, no caso, o dano moral por ricochete. No que respeita ao quantum indenizatório, este foi adequadamente fixado na origem, não comportando redução, pois adequado e razoável às peculiaridades do caso concreto. RECURSO DESPROVIDO.(Recurso Cível, Nº 71009330283, Segunda Turma Recursal Cível, Turmas Recursais, Relator: Ana Cláudia Cachapuz Silva Raabe, Julgado em: 23-06-2020)
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