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Roxanne Cabral – M8 – 2020.1 – Doenças Infecto-Parasitárias 1 ESTREPTOCOCCIAS Características dos Estreptococos - Morfologia, identificação e classificação dos Streptococcus spp - Os estreptococos são bactérias Gram-positivas, de forma esférica a ovoide, que formam cadeias quando cultivadas em meios líquidos. Os estreptococos que causam infecções humanas são, em sua maioria, anaeróbios facultativos, embora alguns sejam anaeróbios estritos. Os estreptococos são microrganismos relativamente fastidiosos, requerendo um meio enriquecido para o seu crescimento no laboratório. Muitos dos estreptococos associados a infecções humanas produzem uma zona de hemólise completa (β) ao redor da colônia bacteriana quando cultivados em ágar-sangue. Os estreptococos β-hemolíticos podem ser classificados pelo sistema de Lancefield, um agrupamento sorológico baseado na reação de antissoros específicos com antígenos de carboidrato da parede celular bacteriana. Com raras exceções, os microrganismos pertencentes aos grupos A, B, C e D de Lancefield são todos β- hemolíticos, e cada um deles está associado a padrões característicos de infecção humana. Outros estreptococos produzem uma zona de hemólise parcial (α), frequentemente conferindo uma aparência esverdeada ao ágar. Esses estreptococos α-hemolíticos ainda são identificados por testes bioquímicos e incluem Streptococcus pneumoniae, que constitui uma importante causa de pneumonia, meningite e outras infecções, e as várias espécies de estreptococos designados coletivamente como Streptococcus viridans, as quais fazem parte da microbiota oral normal e constituem agentes importantes da endocardite bacteriana subaguda. Por fim, alguns estreptococos não são hemolíticos, um padrão algumas vezes denominado hemólise y. Entre os microrganismos classificados sorologicamente como estreptococos do grupo D, os enterococos são classificados como gênero distinto TIPOS DE PENICILINA PENICILINAS NATURAIS Penicilina G cristalina Esse tipo de penicilina faz altos níveis séricos, mas para efetividade é necessária administração em curtos intervalos de tempo (4/4h). IV Penicilina G procaína Esse tipo de penicilina não faz depósito, então precisa ser utilizada várias vezes ao dia. IM Penicilina G benzatina Essa penicilina é de depósito e por isso alguns tratamentos são dose única e outros, como a profilaxia para FRA, pode ser feito de 21/21 dias (mantem a liberação por tempo prolongado. O problema dessa apresentação é que ela não faz concentração sérica alta. o Usos comuns: tratamento de faringite estreptocócica, sífilis e profilaxia de febre reumática e erisipela de repetição. o A penicilina benzatina está mais associada ao choque anafilático que amoxicilina. IM Penicilina V Absorção errática com doses variando a cada ingestão do medicamento. Devido a esse problema, essa penicilina foi substituída pela amoxicilina. VO PENICILINAS SEMI-SINTÉTICAS Isoxazolilpenicilinas (1ª geração) Meticilina Oxacilina Aminopenicilinas (2ª geração) Ampicilina IV Amoxicilina IV VO Gram positivos, gram negativos e anaeróbios. Carboxipenicilinas (3ª geração) Carbenicilina Ticarcilina Ureidopenicilinas (4ª geração) Piperacilina Boa cobertura para gram negativo. IV Roxanne Cabral – M8 – 2020.1 – Doenças Infecto-Parasitárias 2 DOENÇAS CAUSAS POR ESTREPTOCOCCOS PYOGENES FARINGITE ESTREPTOCÓCICA A maioria dos casos de faringite aguda são causados por vírus respiratórios (adenovírus, rinovírus e coronavírus) e são autolimitados. Porém, a faringite bacteriana é principalmente causada pelo estreptococo β-hemolítico do grupo A (EGA, Streptococcus pyogenes) que gera o quadro de faringite estreptocócica, uma das infecções bacterianas mais comuns nas crianças em idade escolar, e pelas síndromes pós-infecciosas da febre reumática aguda (FRA) e glomerulonefrite pós-estreptocócica (GNPE). Quadro Clínico Os sintomas consistem em dor de garganta, febre e calafrios, mal-estar, bem como, algumas vezes, queixas abdominais e vômitos, particularmente em crianças. Apesar de ser observada em pacientes de todas as idades, a faringite por EGA é uma das infecções bacterianas mais comuns da infância, sendo responsável por 20 a 40% dos casos de faringite exsudativa em crianças; é rara entre crianças com menos de 3 anos de idade. Diagnósticos Diferenciais Faringite Viral Não há sinal e sintoma que diferencie faringite bacteriana e viral, principalmente quando não há sintomas respiratórios altos (que seria um indício maior para quadro viral). E mesmo havendo pus, não podemos dizer que é um quadro bacteriano. Entretanto, na prática clínica, podemos usar algumas características clínicas para nos ajudar conduta terapêutica. Faringite Viral Faringite Bacteriana Sintomatologia viral clássica: presente: tosse, coriza, mialgia, etc. Febre baixa Microadenomegalia cervical Faringe hiperemiada e edemaciada; Secreção purulenta é menos comum. Não necessita de exames complementares diagnósticos Comum em < 3 anos Ausência de sinais e sintomas de infecção viral (tosse, coriza, mialgia, etc.) Febre Alta Adenomegalia cervical proeminente Secreção purulenta em orofaringe é mais comum. Necessita de investigação e confirmação diagnóstica Comum na faixa etária 3 a 15 anos Existem outras faringites bacterianas além da Faringite Estreptocócica, mas essas possuem agentes mais incomuns, exemplo: Estreptococos do grupo C e G Corynebacterium diphtheriae Espécies de Mycoplasma e Chlamydia Etc. ANGINAS BACTERIANAS RARA: Angina de Ludovic Celulite da base da língua que se extende para toda região cervical e pode causar obstrução de VAI. Comum em: DM Dentes infeccionados Angina de Plaut-Vincent Doença infecciosa periodontal bacteriana caracterizada por úlceras e necrose do tecido gengival sem o envolvimento dos outros tecidos do periodonto. Envolvimento de fusobacterium e espirilobacterium Associação com má condições de higiene Complicações da Faringite Estreptocócica A faringite em si não é algo grave e na grande maioria das vezes evolui para cura espontânea. Contudo, algumas pessoas podem ter complicações, tanto locais (complicações supurativas - abscessos) quanto sistêmica (complicações não supurativas - febre reumática, glomerulonefrite pós estreptocócica). Supurativas Linfadenite cervical Abscesso periamigdaliano ou retrofaríngeo Rinossinusite Otite média Meningite Bacteremia Endocardite Pneumonia As complicações supurativas da faringite estreptocócica tornaram-se incomuns com o uso disseminado de antibióticos para a maioria dos casos sintomáticos. Origem: disseminação da infecção da mucosa faríngea para tecidos mais profundos por extensão direta ou por via hematogênica ou linfática. As complicações locais, como a formação de abscesso periamigdaliano ou parafaríngeo, devem ser consideradas em paciente que apresenta sintomas incomumente graves ou prolongados, ou dor localizada associada à febre alta e aparência toxêmica. Roxanne Cabral – M8 – 2020.1 – Doenças Infecto-Parasitárias 3 Não supurativas As complicações não supurativas incluem Febre Reumática e Glomerulonefrite pós-estreptocócica, e acredita-se que ambas possam resultar de respostas imunes à infecção estreptocócica. Foi constatado que o tratamento da faringite estreptocócica com penicilina reduz a probabilidade de FRA, mas não de GNPE. Transmissão A infecção é adquirida por meio do contato com outro indivíduo portador do microrganismo. As gotículas respiratórias constituem o mecanismo habitual de disseminação, embora tenham sido descritas outras vias,como surtos produzidos por alimentos. Diagnóstico Teste rápido Esse teste apresenta boa sensibilidade – se o teste for positivo, podemos tratar para o paciente para faringite estreptocócica. Contudo, o teste rápido não apresenta boa especificidade, logo, se vier negativo, temos que investigar a infecção através de cultura. Cultura A cultura de uma amostra da orofaringe adequadamente coletada (i.e., com fricção vigorosa de um swab estéril nos pilares das amígdalas) e processada constitui o método mais sensível e específico para o estabelecimento de um diagnóstico definitivo. PS.: Em adultos, a chance de o teste rápido ser positivo é baixa e por isso é mais indicado iniciar a investigação diagnóstica já com a cultura. Opção de conduta quando só há cultura disponível: Em geral, o resultado da cultura demora em torno de 7 dias. Contudo, podemos verificar as condições de cultura após 48h de incubação para termos uma ideia de qual microrganismo está presente na placa... Houve crescimento bacteriano? o Se sim, poucas ou muitas colônias: Existe halo de hemólise (indica S. pyogenes)? Enfim, podemos buscar pistas para chegar antecipadamente a suspeita diagnóstica. PS.: Cultura com crescimento muito tardio para germes de crescimento rápido sugere que os germes presentes são colonizadores do local da coleta. Para a vida... Grande suspeita de Faringite Estreptocócica ↓ Não havendo como fazer o diagnóstico com teste rápido ou cultura e se supeitarmos que o paciente não voltará, é mais prudente começar a tratar. ↓ ...Condutas terapêuticas devem ser traçadas de acordo com a situação do paciente! Caso Clínico 1: Criança de 8 anos se apresenta com febre, dor de garganta e queda do estado geral. Ao exame observou- se hiperemia de orofaringe e linfonodomegalia. Qual a importância da investigação diagnóstica da faringoamigalite? O diagnóstico adequado de uma faringite estreptocócica propiciará tratamento adequado com antibioticaoterapia, reduzindo, desse modo, as chances de complicações que a essa infecção pode causar, principalmente a Febre Reumática. Conduta diagnóstica: teste rápido e/ou cultura. Os testes diferenciam um quadro viral de um bacteriano, comandando condutas clínicas diferentes. Se bacteriano, o paciente deverá ser tratado com antibiótico. Se viral, podemos expor o paciente desnecessariamente a antibióticos, aumentando a chance de efeitos adversos e resistência bacteriana. Gram e Exame de Orofaringe O exame GRAM da faringe não é eficaz para avaliar se a faringite é estreptocócica, pois poderão ser observadas outras bactérias que tem características semelhantes ao Streptococcus pyogenes que colonizam a cavidade oral. ... S. Pyogenes? ...S. Viridans? Roxanne Cabral – M8 – 2020.1 – Doenças Infecto-Parasitárias 4 Tratamento Os estreptococos ainda são sensíveis à penicilina, opções: Penicilina G Benzatina (IM) em dose única ou Amoxicilina (VO) por 10 dias (10 dias é o tempo para erradicação completa do agente infeccioso e por isso deve ser cumprido para melhor resultado do tratamento) Febre Reumática Ao entrar em contato com os estreptococos, ocorre formação de resposta imune à proteína M da bactéria. Essa proteína é similar a algumas proteínas do corpo humano, como proteínas presentes nas valvas cardíacas e esse processo pode gerar um quadro autoimune por reação cruzada de antígenos. No Brasil, metade das cirurgias para trocar valvar devem-se à FRA. Já nos EUA, a FRA é responsável por menos de 5% das causas de troca valvar. Problema: acesso adequado a sistema de saúde impede tratamento adequado das infecões estreptocócicas. As cepas de estreptococos pyogenes que causam FRA são as adquiridas em infecções orais (faringites), as quais também podem causar GNPE. As cepas de bactérias que causam impertigo e erisipela não causam febre reumática, mas podem causar GNPE. Critérios de Jones - Diagnóstico de Febre Reumática – O diagnóstico da febre reumática é clínico, não existindo sinal patognomônico ou exame específico. Os exames laboratoriais, apesar de inespecíficos, sustentam o diagnóstico do processo inflamatório e da infecção estreptocócica. Os critérios de Jones, estabelecidos em 1944, tiveram a sua última modificação em 1992 e continuam sendo considerados o “padrão ouro” para o diagnóstico do primeiro surto da FR. A probabilidade de FR é alta quando há evidência de infecção estreptocócica anterior, determinada pela elevação dos títulos da antiestreptolisina O (ASLO), além da presença de pelo menos dois critérios maiores ou um critério maior e dois menores. Condutas Terapêuticas Hospitalização + repouso + controle da temperatura Erradicação do estreptococo O tratamento da faringoamigdalite e a erradicação do estreptococo da orofaringe devem ser feitos na vigência da suspeita clínica da FR, independentemente do resultado da cultura de orofaringe. O objetivo é reduzir a exposição antigênica do paciente ao estreptococo e impedir a propagação de cepas reumatogênicas na comunidade. Tratamento das afecções cardíacas (glicocorticoide, cirurgia) Tratamento das afecções articulares (AINE; melhor AAS) Tratamento da coreia Profilaxia secundária com Penicilina Benzatina 21/21dias Febre Escarlatina A escarlatina consiste em uma infecção estreptocócica, habitualmente faringite, acompanhada de exantema característico. O exantema da escarlatina surge em consequência dos efeitos de uma de várias toxinas, atualmente designadas como exotoxinas pirogênicas estreptocócicas. Quadro clínico Faringite associada ao surgimento de rash difuso. Os sintomas da escarlatina são iguais aos da faringite. O exantema surge no 1º ou 2º segundo dia da doença, na parte superior do tronco, e dissemina-se para acometer os membros, poupando as palmas das mãos e plantas dos pés. O rash apresenta relevo que confere à pele o aspecto de lixa. Exantema maculo-papular típico da Escarlatina A diminuição do exantema em 6 a 9 dias é seguida, no decorrer de vários dias, de descamação das palmas das mãos e plantas dos pés, sendo essa uma forma de comprovação de que o quadro era de fato escarlartina. Sinais clássicos: Sinal de Pastia (vermelhidão nas “dobras”: acentuação do exantema nas pregas cutâneas ) Sinal de Filatov (palidez perioral) Língua em framboesa Roxanne Cabral – M8 – 2020.1 – Doenças Infecto-Parasitárias 5 Língua em Framboesa Palidez Perioral Sinal da Pastia Descmação de planta dos pés O diagnóstico diferencial da escarlatina inclui outras causas de febre e exantema generalizado, como sarampo e outros exantemas virais, doença de Kawasaki e reações alérgicas sistêmicas (p. ex., erupções medicamentosas). Caso 2 Menino de 9 anos com febre alta há 24h, dor de garganta e língua saburrosa. Hoje apareceu exantema maculopapular disseminado. Ao exame físico, além de exantema, que se apresenta também hiperpigmentado em dobras, há palidez perioral com hiperemia malar, exsudato purulento em tonsilas, petéquias no palato e língua em framboesa. 1. Qual hipótese diagnóstica? Escarlatina. 2. Qual a conduta diagnóstica? Investigação de faringite estreptocócica: swab e/ou cultura. 3. Qual a importância da conduta terapêutica adequada e o que deve ser feito? Evitar complicações, principalmente Febre Reumática. Amoxicilina VO 7D ou Penicilina Benzatina IM (dose única). SÍNDROME DE CHOQUE TÓXICO ESTREPTOCÓCICA No final da década de 1980, surgiram vários relatos descrevendo pacientes com infecções por EGA associadas a choque e falência de múltiplos órgãos. Essa síndrome foi denominada SCT estreptocócica, visto que compartilha certas característicascom a SCT estafilocócica. Esse é um quadro grave causado pelo estreptococo na qual as toxinas liberadas pelos estreptococos induzem a sepse. Essa é uma complicação rara da infecção esteptocócica. Quadro clínico Paciente se apresenta em choque séptico e hemocultura positiva para Estreptococos pyogenes. As características gerais da doença consistem em febre, hipotensão, comprometimento renal e síndrome da angústia respiratória aguda. A infecção associada mais comum é uma infecção dos tecidos moles – fasceíte necrosante, miosite ou celulite. Tratamento Os pacientes devem receber tratamento de suporte agressivo (reanimação com líquido, pressores e ventilação mecânica), além do tratamento antimicrobiano e, nos casos associados à fasceíte necrosante, desbridamento cirúrgico. ERISIPELA - Infecção superficial (camada córnea) da pele - A inoculação de microrganismos na pele pode levar à celulite, uma infecção que acomete a pele e os tecidos subcutâneos. Uma forma de celulite estreptocócica, a erisipela, caracteriza-se por ter aparência eritematosa brilhante da pele acometida, a qual forma uma elevação nitidamente demarcada da pele normal circundante. A lesão é quente ao toque, pode ser sensível e aparece brilhante e tumefeita. Com frequência, a pele exibe uma textura de casca de laranja, que se acredita refletir o acometimento dos vasos linfáticos superficiais; pode-se verificar a formação de vesículas ou bolhas superficiais, em geral dentro de 2 a 3 dias após o início. A lesão desenvolve- se em poucas horas e está associada à febre e a calafrios. Roxanne Cabral – M8 – 2020.1 – Doenças Infecto-Parasitárias 6 A erisipela tende a ocorrer na área malar da face (frequentemente com extensão sobre a ponte do nariz para a região malar contralateral) e os membros inferiores. Maior frequência de ocorrência em face em climas temperados e em MMII em climas tropicais Porta de entrada: pode consistir em uma ferida traumática ou cirúrgica, picada de inseto ou qualquer outra solução de continuidade na integridade da pele. Com frequência, nenhum local de entrada é aparente. Erisipela Celulite Bem delimitada Mal delimitada, de aspecto “espalhado” Limitada a pele (pele brilhante) Atinge pele, tecido subcutâneo e pode atingir planos profundos Superficial Profunda Estreptococo pyogenes (predomina) Estreptococo e/ou Estafilococo Penicilina Amoxicilina Amoxicilina + Ácido Clavulânico Caso clínico 3 Homem, 56 anos, hipertenso e diabético, se apresentou com quadro de febre iniciada há 2 dias e dor em MMII direito, associada a área de vermelhidão. Ao exame: BEG, hidratado, PA: 140x96, FC: 100bpm, FR: 12irpm, Temp.: 38,9°C. Peso: 109kg, altura 1,7m. Presença de lesão eritematosa acometendo o MMII direito, com bordos bem delimitados e aspecto brilhante. Possuía também linfonodomegalia e relata episódio semelhante no ano anterior. Descrição muito sugestiva de erisipela; Lesão Intertrigo costuma ser a porta de entrada; Comorbidades (DM, Insuficiência Venosa Crônica) facilitam a ocorrência da doença devido à má circulação gerada no MMII. Internação: determinada pela gravidade a qual pode ser avaliada principalmente através dos sinais vitais e nível de consciência. Outro motivo para internação é a incapacidade do tratamento VO quando esse é indicado. Fatores de risco: Estase linfática (causada por linfadenectomias) Estase venosa (safenectomia, insuficiência venosa) Traumas pré-existentes (lesões intertrigos) DM Qual o tratamento indicado para a erisipela do caso? Sendo um quadro muito sugestivo de erisipela, temos que considerar que o caso se trata de uma infecção estreptocócica por Streptococcus pyogenes. O paciente não apresenta sinais de gravidade, logo, o tratamento poderá ser administrado VO. Tratamento Ambulatorial da Erisipela: Amoxicilina – 7 a 10 dias – VO (melhor tratamento) Alternativas: Penicilina V (não muito mais utilizada pela absorção errática) Penicilina G procaína (posologia ruim – IM – várias 6/6h por dia por 7 dias). Vale ressaltar que o ATB beta-lactâmicos são bactericidas e com isso constituem-se da melhor forma de tratamento de infecções. Se o paciente estivesse grave deveríamos interna-lo, manteríamos o ATB (amoxicilina + clavulanato), mas o ideal seria mudar a forma de administração de VO para IV, pois assim há maior garantia de o ATB atingir o sítio da infecção. Para quadros infecciosos na face temos que adotar um tratamento mais cauteloso risco de disseminação para SNC. Causas de falha no tratamento: Diagnóstico errado ATB errado Dose errada do ATB Resistência bacteriana Surgimento de complicações (podem dificultar Como é feita a profilaxia de erisipela? Critério: ter duas infecções no mesmo membro – erisipelas – no último ano é indicação para profilaxia. Penicilina benzatina de 21/21 dias Não há um tempo pré-determinado – temos que fazer ponderação clínica e avaliação de fatores de risco. Erisipela de Repetição: pode levar ao quadro de elefantíase mostra... IMPETIGO O impetigo, uma infecção superficial da pele, é causado primariamente por EGA e, em certas ocasiões, por outros estreptococos ou pelo Staphylococcus aureus. Ocorre com maior frequência em: Crianças pequenas Condições de higiene precária Fatores predisponentes: Colonização da pele íntegra por EGA Traumatismos insignificantes, como arranhadura ou picada de inseto, podem servir para inocular os microrganismos na pele A melhor maneira de prevenir o impetigo é dispensar atenção adequada à higiene. Os locais habituais de acometimento são: Face (particularmente ao redor do nariz e da boca) Pernas Roxanne Cabral – M8 – 2020.1 – Doenças Infecto-Parasitárias 7 Quadro Clínico As lesões surgem na forma de pápulas vermelhas, que se transformam rapidamente em lesões vesiculosas e, a seguir, pustulosas, rompendo e coalescendo para formar as crostas características semelhantes a favo de mel. Em geral, as lesões são indolores, e os pacientes não parecem enfermos. A febre não constitui uma característica do impetigo e, se presente, sugere a extensão da infecção para tecidos mais profundos ou outro diagnóstico. O quadro clássico do impetigo geralmente apresenta pouca dificuldade diagnóstica. As culturas das lesões impetiginosas frequentemente revelam S. aureus, bem como EGA. No passado, a penicilina era quase sempre efetiva contra essas infecções. Entretanto, a frequência crescente de falha do tratamento com penicilina sugere que o S. aureus pode ter se tornado mais proeminente como causa do impetigo. Agentes infecciosos envolvidos no Impetigo Impetigo crostoso: S. aureus e/ou S. pyogenes. Impetigo bolhoso: S. aureus O diagnóstico de Impetigo é CLÍNICO!!! Tratamento O tratamento de impetigo é empírico baseado em dados da literatura cobrir S. aureus e S. pyogenes. O impetigo pode ser causado por Streptococcus pyogenes ou Staphylococcus aureus. Com isso, como o S. aureus é mais resistente aos antibióticos, temos que dar preferência para fazer cobertura para ele (já que abrangendo S. aureus, estaremos também abrangendo o S. pyogenes). Penicilinas não atuam adequadamente contra o S. aureus. Cefalexina (6/6h) – VO ou Amoxicilina com Clavulanato – VO SMT-TMP (tratamento de CA-MRSA) Se o tratamento falhar podemos pensar em infecção por CA-MRSA. Tempo de tratamento: 10 dias para erradicar cepas nefritogênicas. (impetigo = risco de GNPE). Caso clínico 4 Criança com lesões úlcero-crostosas menores que 1cm em tórax, abdome e face há 9 dias. Negava febre. Foi feito SWAB da lesão que foi enviado para cultura com resultado positivo para Staphylococcusepidermidis. A coleta do material foi adequada para guiar a conduta terapêutica? Essa forma de coleta não foi adequada pois há grandes chances de contaminação com a microbiota da pele (não se colhe cultura de lesão aberta de pele). Coleta adequada: aspiração do abscesso. Podemos coletar material para cultura de bolhas por aspiração. DOENÇAS CAUSAS POR STREPTOCOCCUS AGALACTIE - Streptococcus β-hemolítico do grupo B - Pode causar meningite ou sepse neonatal; Causa frequente da febre periparto em mulheres; Causa ocasional de infecção grave em mulheres adultas não grávidas. Infecção em Recém-nascido por EGB O recém-nato pode adquirir essa infecção durante o parto vaginal de mães colonizadas por essa bactéria. O bebê pode se tornar colonizado pela bactéria e eventualmente adoecer por causa dela. Infecção de início precoce x Infecção de início tardio As infecções de início precoce ocorrem na primeira semana de vida, com idade mediana de 20 horas no início da doença. A infecção é adquirida durante o nascimento ou pouco antes a partir do trato genital materno colonizado. Cerca de 50% dos lactentes nascidos por parto vaginal de mães portadoras tornam-se colonizados, embora apenas 1 a 2% dos colonizados desenvolvam infecção clinicamente evidente. Fatores de Risco: Prematuridade Trabalho de parto prolongado Complicações obstétricas Febre materna Os achados típicos consistem em desconforto respiratório, letargia e hipotensão. Praticamente todos os lactentes com doença de início precoce apresentam bacteremia, cerca de 33 a 50% têm pneumonia e/ou síndrome da angústia respiratória aguda, e aproximadamente 33% apresentam meningite. Ocorrem infecções de início tardio em lactentes de 1 semana a 3 meses de idade e, em raros casos, em lactentes de mais idade (idade média de início de 3-4 semanas). O microrganismo infectante pode ser adquirido no decorrer do parto (como nos casos de início precoce) ou durante o contato posterior com a mãe colonizada, equipe de enfermagem ou outra fonte. Roxanne Cabral – M8 – 2020.1 – Doenças Infecto-Parasitárias 8 A meningite constitui a manifestação mais comum. Os lactentes apresentam febre, letargia ou irritabilidade, alimentação precária e convulsões. Tratamento A penicilina constitui o agente de escolha para todas as infecções por EGB. Em geral, o tratamento empírico de amplo espectro para os casos suspeitos de sepse bacteriana, consistindo em ampicilina e gentamicina, deve ser administrado até que sejam obtidos os resultados da cultura de urina. Prevenção Deve ser realizada triagem das mulheres para colonização anogenital, com 35 a 37 semanas de gestação, por meio da cultura de swab da vagina inferior e região anorretal; Recomenda-se a quimioprofilaxia intraparto para as mulheres com culturas positivas e as que, independentemente do resultado da cultura: Tenham dado à luz previamente um recém-nascido com infecção por EGB Possuam história de bacteriúria de EGB durante a gravidez. As mulheres cujo resultado de cultura não é conhecido e que apresentam trabalho de parto prematuro (< 37 semanas), ruptura prolongada das membranas (> 18 h), ou febre intraparto, ou que apresentam um teste positivo de amplificação de ácido nucleico intraparto para EGB também devem receber quimioprofilaxia intraparto. O esquema recomendado para a quimioprofilaxia consiste em uma dose de ataque de penicilina G, seguidos dose de manutenção, a cada 4 horas, até o parto. A cefazolina constitui uma alternativa para as mulheres com história de alergia à penicilina, as quais não se acredita que corram alto risco de anafilaxia. Resultado positivo: se parto vaginal, a mãe deve receber antibioticoterapia (ampicilina ou penicilina) no momento do parto. A administração profilática de ampicilina ou penicilina a essas pacientes durante o parto reduz o risco de infecção no recém-nascido. Para o parto cesárea essa conduta não faz diferença, pois, independente ou não de colonização, para a cesárea já é feito ATBprofilaxia cirúrgica (cefazolina). Outras doenças causadas por EGB Infecção de pele Infecção urinária DOENÇAS CAUSAS POR ESTREPTOCOCCOS PNEUMONIE Meningite Mastoidite Pneumonia DOENÇAS CAUSAS POR ESTREPTOCOCCOS DO GRUPO VIRIDANS CÁRIE DENTAL Principal infecção dos seres humanos... Lembrar: dente em estado de conservação ruim pode causar doenças e uma delas é a endocardite. ENDOCARDITE INFECCIOSA Infecção do tecido cardíaco (endovascular) A endocardite é SUBAGUDA quando há sintomas mantidos por 6 SEMANAS A endocardite infecciosa (EI) é a infecção microbiana do revestimento endotelial do coração. A lesão característica de endocardite é a vegetação, um coágulo de plaquetas e fibrina infectado, contendo ainda leucócitos e hemácias. A vegetação pode estar localizada em qualquer sítio do endotélio, mas frequentemente ocorre nas superfícies endoteliais das válvulas cardíacas e próteses valvares. Patogênese da EI As bactérias da cavidade oral, após quebra da barreira mucosa (escovar os dentes, lesões gerais), podem penetrar o tecido e conseguir adentrar na corrente sanguínea. Isso leva a quadros de pequenas bacteremias que, em geral, conseguem ser combatidas pelo sistema complemento – em 10 a 15 minutos as proteínas do sistema complemento conseguem destruir a bactéria. Contudo, se no coração houver alguma alteração estrutural que curse com modificação do fluxo sanguíneo, há maior chance de haver Roxanne Cabral – M8 – 2020.1 – Doenças Infecto-Parasitárias 9 leões que facilitem a adesão bacteriana antes da destruição pelo complemento. Desse modo, essas bactérias irão então permanecer no tecido cardíaco, se proliferar e causar infecção, gerando assim a endocardite. Esse quadro é muito comum de ser causado por bactérias gram positivas – estreptococos, enterococos, estafilococos – que tem maior facilidade de se aderirem em tecido cardíaco e prótese. Endocardite aguda: S. aureus – principal envolvido. Endocardite subaguda: Estreptococos do grupo viridans – principal envolvido, enterococos e grupo HACEK. Quadro clínico da Endocardite Subaguda Febre prolongada Perda de peso Hepatoesplenomegalia Astenia Febre e sopro novo no coração tem que se pensar em endocardite Muito presente em pessoas com dentes em mau estado de conservação. Pacientes com quadro clínico sugestivo: febre, aparecimento de sopro cardíaco inexistente ou alteração de sopro pré-existente, anemia, esplenomegalia, petéquias na pele, conjuntiva, mucosas e vasculite. Fatores de risco para EI Usuário de drogas injetáveis Focos dentários Portadores de próteses valvares que apresentam anemia ou insuficiência cardíaca de etiologia não definida Procedimentos invasivos como acesso venoso profundo. Diagnóstico Ecocardiograma transtorácico Mostra vegetação O ECOTE consegue avalia mais detalhes Hemocultura 3 amostras em 0, 6 e 12h ou 0, 3 e 6h esse tempo longo de hemocultura é feito para demonstração de bacteremia prolongada e sustentada. ...sobre Hemoculturas. Normalmente, são necessárias 2 amostras de sangue para hemocultura, com intervalo de tempo entre as coletas de 15 minutos. Volume ideal: 60ml/amostra (3 frascos) para cada coleta. Coletar em sítios diferentes Critérios de Duke Mancha de Roth – fenômeno imunológico na retina Tratamento Iniciar tratamento empírico baseado nos principais agentes envolvidos. Infecção no coração = grave = tratamento IV Amoxicilina = Ampicilina em todos os sentidos Amoxicilina + clavulanto (IV) ou Ampicilina + sulbactam (IV) (Amoxicilina e ampicilina abrangem estreptococos;os inibidores de beta-lactamases ajudam a cobrir melhor o grupo HACEK) + Gentamicina (abrange enterococo e HACEK) Tempo de tratamento: 4 a 6 semanas A ampicilina cobre bem o enterococo e o grupo viridans, mas não cobre o HACEK e por isso temos que adicionar a gentamicina. Opção: Ceftriaxone + ampicilina ou gentamicina (feito principalmente quando há Enterococos) Nenhuma cefalosporina sozinha consegue cobrir o enterococo. Com isso, a ceftriaxone cobre bem os estreptococos do grupo viridans e HACEK, mas não tratará bem o enterococo, desse modo, devemos adicionar Roxanne Cabral – M8 – 2020.1 – Doenças Infecto-Parasitárias 10 gentamicina ou ampicilina que abrangerá também o enterococo. Quando tivermos o resultado da cultura, podemos descalonar a droga: Somente Enterococo: usar somente Ampicilina. Somente Estreptococo: podemos fazer somente a ampicilina com sulbactam por 4 a 6 semanas, porém, se mantivermos a associação ampicilina + sulbactam + gentamicina o tempo de tratamento reduz para 2 semanas (se houver de fato boa sensibilidade ao antibiótico). Em situações que o paciente está estável, mas apresentando o quadro clínico por um tempo prolongado, não é completamente inadequado a espera do resultado do exame de cultura para confirmação diagnóstica e início da terapia antimicrobiana. Na endocardite aguda isso não é aceitável – o início dos ATB não pode ser retardado de forma aguda. ENTEROCOCOS Fatores determinantes e predisponentes de infecções por Enterococcus spp Os enterococos são microrganismos Gram-positivos. Os enterococos foram originalmente classificados como estreptococos, visto que os microrganismos dos dois gêneros compartilham muitas características morfológicas e fenotípicas, incluindo uma reação catalase geralmente negativa. Somente os estudos de hibridização do DNA e, em seguida, o sequenciamento do rRNA 16S demonstraram claramente que os enterococos deveriam ser agrupados como gênero distinto dos estreptococos. Nos seres humanos, os enterococos são habitantes normais do intestino grosso dos adultos coexistindo com outras bactérias. Um dos fatores mais importantes que rompe esse equilíbrio e promove um aumento da colonização gastrintestinal por enterococos é a administração de agentes antimicrobianos. Em particular, os antibióticos que são excretados na bile e possuem atividade de amplo espectro (i.e., certas cefalosporinas dirigidas contra anaeróbios e bactérias Gram-negativas). Vários estudos realizados mostraram que níveis mais altos de colonização gastrintestinal constituem um fator crítico na patogênese das infecções enterocócicas. INFECÇÃO DO TRATO URINÁRIO E PROSTATITE Os enterococos constituem causas bem conhecidas de ITU hospitalar – a infecção mais comum causada por esses microrganismos. As ITU enterocócicas em geral estão associadas a: Cateterismo de demora Instrumentação Anormalidades anatômicas do trato geniturinário Com frequência, é difícil diferenciar uma infecção verdadeira da colonização (particularmente em pacientes com cateteres de demora crônicos). Além disso, as ITU por enterococos com frequência ocorrem em pacientes em estado crítico, cujas morbidades podem obscurecer o diagnóstico. Em muitos casos, a retirada do cateter de demora pode ser suficiente para erradicar o microrganismo, sem necessidade de terapia antimicrobiana específica. Em raras circunstâncias, as ITU causadas por enterococos podem seguir uma evolução complicada, com desenvolvimento de pielonefrite e abscessos perinefríticos que podem constituir uma porta de entrada para infecções da corrente sanguínea. Os enterococos também constituem uma causa conhecida de prostatite crônica, em particular em pacientes nos quais houve manipulação cirúrgica ou endoscópica do trato urinário. Pode ser difícil tratar essas infecções, visto que os agentes mais potentes contra os enterococos (i.e., aminopenicilinas e glicopeptídeos) penetram pouco no tecido prostático. A infecção prostática crônica pode constituir uma fonte de bacteremia enterocócica recorrente. Diagnóstico: importante a realização do GRAM para exclusão de infecção por enterobactérias (E. Coli principal agente na ITU). BACTEREMIA POR ENTEROCOCOS A bacteremia sem endocardite constitui uma das apresentações mais comuns da doença enterocócica. Esses episódios de bacteremia em geral estão associados ao uso de cateteres intravasculares e outros. Outras fontes bem conhecidas de bacteremia enterocócica incluem os tratos gastrintestinal e hepatobiliar; focos pélvicos e intra- abdominais; e, com menos frequência, infecções de feridas, ITU e infecções ósseas. ENDOCARDITE POR ENTEROCOCOS Os enterococos constituem causas importantes de endocardite adquirida na comunidade e associada a cuidados médicos, ocupando o segundo lugar depois dos estafilococos nessas infecções. A suposta fonte inicial de bacteremia que leva à endocardite é o trato gastrintestinal ou geniturinário. Os pacientes acometidos tendem a ser homens e indivíduos idosos e a apresentar outras doenças debilitantes e problemas cardíacos.
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