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Entendendo o modelo psicopatológico de diagnóstico atual Eixos da psicopatologia Quando estamos falando de psicopatologia é importante ressaltar que existem 3 “eixos” fundamentais: Eixo Fenomenológico: Não trabalha com diagnósticos. Tem uma ideia de não rotulação, “o individuo não cabe em rótulos”. Usado pela Fenomenologia, Gestalt, terapias humanistas e existenciais. Eixo Psicodinâmico: Baseado na Psicanálise, já foi usado no DMS I e II. Modelo hierárquico: neurose, psicose e perversão. Eixo a-teórico e descritivo: Não é um modelo psicopatológico explicativo, baseado em uma teoria. Se baseia apenas na descrição dos sinais e dos sintomas. Apesar do DSM ter abandonado o modelo pscodinâmico desde a década de 80, a triste realidade é que muitas universidades do Brasil seguem ensinando esse modelo ultrapassado e defasado. O que é transtorno mental? Para falar em transtornos, é preciso brevemente remontar a história. Durante muito tempo, pessoas com algum tipo de transtorno mental foram negligenciados e vistos na sociedade como pessoas sem valor, e na maioria das vezes eram afastados e tidos como “loucos” ou demoníacos. A história começa a mudar com Pinel e o recolhimento dessas pessoas, a criação de hospícios e medicamentos psiquiátricos. Portanto, há uma transição do termo ‘loucura’ para o termo ‘transtorno mental’. E não, não é “doença mental”, pois esse é um termo incorreto. Há uma divisão básica entre síndrome, transtorno e doença: Síndrome – não conhecemos a etiologia, o curso e nem o prognóstico, ou seja, não conhecemos a origem dessa síndrome, nem como o paciente vai evoluir nesse quadro e nem como o paciente ficará no futuro. Transtorno – conhecemos o curso e o prognóstico, ou seja, sabemos como o paciente vai evoluir nesse quadro e como eles estará no futuro com ou sem tratamento (prognóstico). Não conhecemos a etiologia, pois hoje se sabe que os transtornos mentais são multifatoriais (genética, ambiente, família, personalidade, fatores biológicos etc), ou seja, não tem uma causa definida. Doença – conhecemos a etiologia, o curso e o prognóstico. Exemplos: Antigamente se falava “síndrome” do pânico e agora passou a ser “transtorno” do pânico pois conhecemos o curso e o prognóstico. Diferente de uma doença cardíaca, que sabemos a causa (etiologia). COMO É IDENTIFICADO UM TRANSTORNO? Como é que se sabe então o que foge a saúde mental ou não? A gente basicamente não tem marcadores biológicos que permitam averiguar os transtornos mentais como testes laboratoriais, exames de imagem etc, diferentes de outras patologias. Como isso é definido então? O transtorno mental é uma alteração que é experienciada pelo paciente e causa um prejuízo clinicamente significativo para o paciente e/ou outros ao redor e que desvia consideravelmente da norma cultural e social. Nesse processo de identificação de transtornos também é necessário desmistificar alguns conceitos: Correlação # Causalidade A correlação não implica causalidade, são coisas diferentes. Exemplo: toda vez que eu bato palma eu espirro. Há uma correlação? Sim. Há uma causalidade? Com certeza não. O motivo do meu espirro não é por causa das minhas palmas. Para o desenvolvimento de um transtorno é a mesma coisa, é como se fosse um bolo: você não precisa só de ovos e farinha, mas de leite, açúcar, etc. São necessários diversos fatores para o desenvolvimento de um transtorno, como já foi citado anteriormente. Por isso, ouvir coisas tão ultrapassadas ensinadas na psicodinâmica como a mãe geladeira (a mãe que não da carinho para a criança enquanto amamenta é a causa do autismo) e desenvolvimento de obesidade por causa de abuso sexual (a mulher com algum histórico de abuso sexual engordou inconscientemente para ‘perder a formas’ femininas e se proteger dos abusos) são tão revoltantes. Cura # Remissão Outra coisa em que há confusão. A cura é quando os sintomas desaparecem por completo sem chance de voltar. Exemplo: Quebrei o braço, imobilizei no gesso. Depois de X semanas meu osso estará curado pois não há possibilidade dele se “soltar” novamente sozinho. Nos transtornos mentais, entretanto, não se fala em cura e sim em remissão. Pois os sintomas podem desaparecer por completo ou não. E mesmo que tenham desaparecido ainda há a probabilidade de que em algum momento da vida eles retornem. Não há a garantia ao paciente de que nunca mais na vida ele enfrentará aquilo. Grupos de transtornos Existem basicamente quatro grupos quanto falamos de transtornos mentais: Transtorno Episódico: São mais “fáceis” de conseguir uma regressão total ou parcial, pois o transtorno tem um curso natural e que muito provavelmente experimenta regressão sem tratamento. Exemplo: ansiedade e depressão. Transtorno Crônico: Basicamente é um transtorno em que o paciente terá que lidar durante toda a vida. Para alguns a remissão é impossível como a esquizofrenia e transtorno bipolar, para outros há a pequena possibilidade de remissão parcial. Bases biológicas estão muito fortemente presentes por isso a necessidade de tratamento com remédios. Transtorno do neurodesenvolvimento: O paciente já nasce assim, a “manifestação” do transtorno já vem ativada, não precisa de nenhum estímulo externo do ambiente e não é possível reverter também devido as bases biológicas muito fortes, mas há um controle. Exemplo: TDAH e TEA. Transtorno Degenerativo: Uma vez que se inicia ele não regride. Há processos para a pausa, mas nunca de regressão. Exemplo: Alzheimer. Diagnóstico PRÓS Para dar um caminho e padronizar - É aquela famosa frase: “Para quem não sabe para onde está indo, qualquer caminho serve”. Como orientar um tratamento se você nem sabe do que seu paciente sofre? O diagnóstico também é necessário para a padronização da “linguagem” para que assim o caso possa ser discutido com outros profissionais. CONTRAS Rótulos e muletas – Algumas pessoas argumentam que o paciente ficaria marcado, estigmatizado. Há também a questão do “ganho secundário da doença”, o paciente se aproveitar do diagnóstico para “se fazer de vítima” e obter algum tipo de benefício das pessoas. OBSERVAÇÃO Por isso é tão importante fazer a conscientização de que o paciente NÃO É o diagnóstico. Existe uma pessoa por trás que está para muito além daquela dificuldade. O diagnóstico serve apenas como base do tratamento e quanto mais cedo for feito, melhor será o prognóstico.
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