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Diagnóstico diferencial, especificadores e comorbidades Comorbidades Esse termo foi bem “difundido” durante a pandemia do Covid-19, então muitas pessoas já tem uma noção básica do que se trata. Comorbidade é o nome dado para quando a pessoa apresenta mais de uma doença associada, no âmbito psicológico temos, por exemplo, ansiedade + depressão, anorexia + TAG, transtorno de personalidade narcisista + TOC, etc. Assim, se a pessoa apresenta dois ou mais diagnósticos, qual deles seria o “central”? Em via de regra não há essa especificação de qual seria o transtorno principal, é muito difícil fazer essa diferenciação. Portanto, o tratamento costuma ser mais intensivo naquilo que é “mais frequente” e traz maior prejuízo a vida da pessoa. Quando não essa questão da gravidade, a decisão de qual tratamento se iniciará primeiro é tomada em colaboração com o paciente. Especificador Como o próprio nome já diz, o especificador é um discriminante, algo que ajuda a diferenciar os transtornos entre si. Um exemplo é o especificador da depressão com início no peri-parto (depressão que se iniciou ao longo da gestação), depressão com especificador de transtorno de humor sazonal (depressão aparece somente em um período, inverno, por ex). Leve, moderado e grave também são especificadores. OBSERVAÇÃO A diferença principal entre comorbidade e especificador é a gravidade e a intensidade. Para ser uma comorbidade tem que preencher todos os critérios, ter frequência, ter intensidade alta, etc. Já o especificador está diretamente relacionado com a doença. Ex: pessoa com transtorno bipolar com especificador ansioso. A ansiedade está inseparavelmente ligada com a fase depressiva, quando o paciente está em quadro de mania, esses sintomas desaparecem. O tal diagnóstico diferencial TRANSTORNO BIPOLAR É um transtorno de humor e o DSM apresenta 3 classificações desse transtorno: bipolar tipo I, bipolar tipo II e transtorno ciclo-eutímico. Basicamente esse quadro se apresenta com duas fases: uma depressiva e outra eufórica (mania ou hipomania). O que diferencia o tipo I do tipo II são os episódios de mania. Se apresentado pelo menos 1x na vida é tipo I, se nunca apresentado tipo II. Especificadores – saber diferenciar em que fase do transtorno o paciente se encontra: mania, hipomania, depressivo. Também temos o especificador com sintomas ansiosos; com catatonia; leve, moderado ou grave; com presença sazonal, etc. Comorbidades – existe alguma comorbidade excludente? Ou seja, que exclui a possibilidade de ser bipolar? Sim: a esquizofrenia. As mais comuns são: ansiedade, TDAH, fobia social e transtorno por uso de substâncias. Diferenciando da esquizofrenia Como já vimos, a “confusão” aqui seria entre Bipolar tipo I e esquizofrenia, visto que o Bipolar tipo II não apresenta quadro psicótico (delírios – história criada pelo paciente, a qual muitaz vezes não apresenta uma lógica, um encadeamento das ideias, etc. Alucinações – é a voz que o paciente ouve, alucinações visuais estão pouco presentes. Desorientação verbal e mental). Sendo assim, ambos os transtornos se apresentam de maneira muito semelhante, sendo quase impossível distinguir olhando somente para um recorte do tempo. Foi o que aconteceu com a moça que traiu o marido com o mendigo. Observando áudios dos depoimentos a sensação que temos é de esquizofrenia, mas o laudo oficial foi de transtorno bipolar tipo I. Como acontece essa diferenciação? 1. Com ajuda da família (verificação do histórico do paciente). 2. Observando se o quadro “regride” depois de medicado (o paciente continua com o delírio? Ou o humor voltou ao normal? Se remitir, é bipolar. Se não, esquizofrenia). Diferenciando do transtorno de personalidade borderline Primeiro: o paciente pode apresentar os dois quadros. Qualquer transtorno de personalidade pode apresentar como comorbidade qualquer transtorno de humor. Vamos entender o transtorno de personalidade borderline. O transtorno de personalidade é um padrão estável de comportamento e relacionamentos, que se inicia na adolescência e segue por toda a vida. Esse transtorno é marcado principalmente pela instabilidade nos afetos e relacionamentos, na autoimagem, alteração da impulsividade. Pode apresentar grau leve, moderado ou grave e se caracteriza principalmente por esforços intensos para ser amado/apreciado pelo outro e um medo imenso de ser abandonado. Uma indicação de filme que retrata bem um “característico” borderline é Atração Fatal. Mas por que a confusão com o transtorno bipolar então? Por causa da presença da instabilidade nos dois. O fato é que, com o tempo, o DSM incorporou muitas das características que eram relacionadas ao border no transtorno bipolar. Porém, o mais importante para a diferenciação é o fato de que no border, o medo de abandono é a questão central. Assim, a instabilidade se segue como uma “questão secundária”, ele provém da sensação, do medo de estar sendo abandonado, de estar perdendo a outra pessoa. Já no quadro bipolar não, a instabilidade simplesmente acontece, independentemente ou não de eventos desencadeadores. A reatividade no border é muito mais intensa e instável, enquanto no bipolar a tendência de oscilação é mais “lenta”. TRANSTORNO OBSSESSIVO COMPULSIVO É um transtorno o qual o próprio nome já diz, apresenta dois fatores principais: as obsessões (pensamentos) e as compulsões (comportamentos). As compulsões são uma forma de neutralizar o pensamento obsessivo, exemplo: Pensamento - “Algo muito ruim vai me acontecer”. Obsessão – Bater 3x na madeira, se benzer, dar 3 pulinhos etc... Entretanto, esse transtorno pode aparecer somente com as obsessões, ou somente com as compulsões. Diferenciando da esquizofrenia Os pensamentos obsessivos são tão fortes, que por vezes, podem se assemelhar com a alucinação da esquizofrenia. O que cabe ao psicólogo é fazer a distinção: você realmente ouve uma voz? Ou é um pensamento insistente que não sai da sua cabeça? O paciente com TOC tem consciência de que são pensamentos, o que acontece é que ele acredita firmemente neles. Diferenciando da TAG O transtorno de Ansiedade Generalizada apresenta pensamentos tão presentes quanto o TOC. A diferença pode ser encontrada na persistência ou capacidade concentração. Apesar dos pensamentos na TAG serem frequentes, eles tendem a ser menos intensos e o paciente consegue uma hora ou outra, focar e realizar outras tarefas. No TOC existe uma dificuldade imensa de “afastar” os pensamentos até que seja realizado o ritual (compulsão) que alivie a obsessão. TRANSTORNO DE PERSONALIDADE HISTRIÔNICA A principal característica do transtorno de personalidade histriônico é se sentir desconfortável quando não é o centro das atenções, presença muito forte do exibicionismo. O contato com outras pessoas também é marcado por uma sexualidade exacerbada e inapropriada, sedução e provocação. Essa pessoa se utiliza exageradamente da sua aparência para conseguir atenção, um discurso vazio, mas muito teatralizado, articulado etc. Diferenciando do borderline A semelhança com o border se dá em querer atrair o outro. Mas a diferença está em que o border quer o amor, foca no sentimento e na intimidade, enquanto o histriônico só quer a atenção, o foco está na sensualidade, no prazer etc. É um diagnóstico muito difícil e no DSM 5-TR há um modelo de avaliação do transtorno da personalidade ALTERNATIVO que já exclui a personalidade histriônica, mesclando-a com o borderline. TRANSTORNO DEPRESSIVO MAIOR Se caracteriza por um período de pelo menos 2 semanas de humor deprimido, perda de interesse ou prazer, perda ou ganho de peso significativo,fadiga, perda de energia, insônia ou excesso de sono etc. Diferenciando da Distimia (Transtorno Depressivo Persistente) Os sintomas são basicamente os mesmos, mas são recorrentes durante a maior parte do dia em um período maior que 2 anos. Não há períodos ou fases, o pessimismo, a baixa autoestima e a irritabilidade são constantes. Mas apresenta menor intensidade. TRANSTORNO DO PÂNICO É importante lembrar que todos os transtornos presentes dentro do capítulo de Ansiedade no DSM podem apresentar um ataque de pânico, mas existem algumas diferenças que precisam ser esclarecidas. No transtorno do pânico as crises são imotivadas, “do nada”. Você pode estar tranquilamente assistindo a um filme e começar a passar mal, tanto que muitas pessoas acreditam que estão enfartando. Diferenciando da TAG No transtorno de Ansiedade Generalizada, por exemplo - (e em todos os outros) -, as crises de pânico apresentam um fator desencadeante. Exemplo: Sexta-feira à noite, 3 e-mails do seu chefe na caixa de entrada cobrando um relatório para segunda de manhã. Você está preocupado e ansioso pois ainda não fez nada. Você senta para tentar escrever, mas nada acontece. Você vai ficando mais nervosos até ter um ataque de pânico. TRANSTORNO DE PERSONALIDADE ANTISSOCIAL É um padrão de comportamento estável marcado por um desprezo pelas pessoas e seus direitos. Isso pode ser notado pelo desprezo às leis, por isso comumente estão associados à crimes e delitos, mentem e enganam para benefício próprio, são impulsivos, não conseguem planejar o futuro, irritáveis e agressivos etc. São indiferentes com outras pessoas e seus sentimentos e não apresentam remorso/arrependimento. Diferenciando do Transtorno de Conduta É visto durante a infância e adolescência, um transtorno que incomoda, que atrapalha, pois, o indivíduo se associa com atividades perigosas e ilegais, não apresentam sofrimento pelas suas ações e causam mais impactos nas pessoas ao redor. A grande diferença está na idade. Até os 17 anos e 11 meses é considerado Transtorno de Conduta. A partir dos 18 anos o diagnóstico já é de Personalidade Antissocial. É importante lembrar que quando mais cedo for feito o diagnóstico de Transtorno de Conduta, pior será o prognóstico (maior chance de ser personalidade antissocial). Diferenciando do Transtorno Opositor Desafiante Apresenta humor raivoso, irritável, perde a calma facilmente. É uma criança excessivamente questionadora e desafiante, vingativa, com baixa tolerância a frustação, é mais isolado etc. Não é tanto infrator das leis, mas tem uma forte desregulação emocional e é opositor as regras/leis. É mais leve e não apresenta tanto desrespeito as leis. Quanto mais cedo for o prognóstico, maior a chance de evoluir na adolescência para um quadro de Transtorno de Conduta). Apresenta especificadores leve, moderado e grave. E também Sintomas só em casa ou Sintomas Difusos. Quanto mais “espalhados” e variados forem os sintomas, mais grave o caos. Diferenciando do Transtorno de Personalidade Narcisista Apresenta pelo menos 5 características a seguir: 1. Sensação de grandiosidade infundada a respeito de si mesmo e dos seus talentos 2. Preocupação com grandes fantasias, mas que possuem realizações limitadas (quase impossíveis de conseguir) 3. Convicção de que é uma pessoa única, sem igual e que precisa se relacionar somente com pessoas do mesmo “calibre” – ricas, influentes, importantes 4. Necessidade constante de ser admirada 5. Explora os outros para alcançar os seus próprios objetivos 6. Não têm empatia 7. Acredita que os outros sentem inveja deles, muita arrogância e altivez Esses sintomas precisam aparecer no final da adolescência/início da vida adulta. Eles não podem aparecer “do nada” aos 30/40 anos. Os narcisistas também apresentam poucos problemas com a lei. Em geral, não furtam, não roubam, pois se preocupam demasiadamente com a imagem. Ele é mais manipulador, se aproveita das pessoas para alcançar seus objetivos.
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