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Avaliação, ciclo do projeto e usos
Rosana de Freitas Boullosa
Introdução
As intervenções sociais podem abarcar diferentes iniciativas (políticas, planos, 
programas, projetos e ações), promovidas por diferentes setores, separadamente ou 
em conjunto: Estado, Mercado e Terceiro Setor. As avaliações dessas iniciativas são de-
senhadas e implementadas de acordo com a fase em que elas se encontram. É o que 
chamamos de “timing da avaliação”. A avaliação de um programa social que ainda está 
sendo formulado, por exemplo, é diferente da avaliação de um programa que foi im-
plementado há mais de cinco anos, cujos resultados e impactos são possíveis de serem 
mensurados e analisados. Esses são exemplos de timings diferentes.
Outro ponto que merece detalhada atenção diz respeito aos usos da avaliação. 
De fato, é comum o sentimento de que as avaliações são inúteis pois não conseguem 
produzir mudanças e nem desencadear processos de transformação nas práticas e nas 
reflexões sobre programas sociais. Essa mesma preocupação já tinha sido revelada por 
Aaron Wildavsky, que chega a expressar com veemência a sua frustração: “eu comecei 
pensando que era ruim não avaliar as organizações e terminei me perguntando por 
que elas têm que fazê-lo” (apud CAIDEN; CAIDEN, 2001, p. 94).
Timing da avaliação
Avaliações podem acontecer em diferentes momentos de uma intervenção social, 
ou seja, em diferentes momentos do seu ciclo de vida. Para cada um deles, as avaliações 
sofrem variações em sua natureza, dinâmica, principais características e propósitos. O 
estudo do momento em que ocorre a avaliação se relaciona diretamente com o chama-
do ciclo da intervenção. A literatura especializada convencionou chamar esse ciclo de 
vida de “ciclo da política” ou “ciclo do projeto”, ainda que o mesmo possa ser aplicado 
a qualquer grau de complexidade da intervenção. Assim, uma política, um plano, um 
programa, um projeto ou uma ação (cujos graus de complexidade são decrescentes), 
podem ser avaliados à luz dessa abordagem analítica chamada ciclo do projeto.
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O ciclo do projeto propõe uma divisão clássica da intervenção em três distintas 
fases: formulação, implementação e resultados/impactos1. Em cada uma dessas fases o 
projeto vivencia alguns dilemas e desafios. Nas fases clássicas, a formulação é o proces-
so de desenho e planejamento da estratégia de intervenção social, quando se decide: 
a cobertura da ação desejada e da demanda para tal ação; os recursos que serão mobi-
lizados para alcançar aquele objetivo (sejam eles econômicos, materiais, cognitivos, de 
pessoal etc.); os tempos da ação; seu enquadramento institucional e demais questões 
que antecedem o início da intervenção em si.
A fase de implementação é onde a intervenção planejada realmente acontece. 
É considerada atualmente, por grande parte da literatura sobre o tema, como a fase 
mais complicada e imprevisível da intervenção. Até os anos 1980, a fase da imple-
mentação recebia o nome de “execução”, pois se imaginava que toda a sua dificuldade 
estava limitada à correta execução do que tinha sido planejado, como se não fosse 
possível acontecer erros no planejamento. Hoje há um certo consenso na literatura 
de que muitos dos problemas que surgem na implementação ocorrem justamente 
pela falta de flexibilidade no planejamento. De fato, quando se falava em “execução”, 
os estudiosos e técnicos pressupunham que tal fase não tinha “vida própria” e que o 
resultado planejado da intervenção dependia somente de uma correta execução do 
que tinha sido planejado, como se o planejamento fosse absoluto, dotado de raciona-
lidade total, capaz de prever os mínimos detalhes. Além disso, tal visão pressupunha 
que o contexto de atuação do programa era estático. Hoje sabe-se que a dinâmica da 
implementação e do contexto não são mais vistas como dados imutáveis e que essa 
fase merece tanta atenção quanto a primeira.
A última das fases diz respeito aos resultados da intervenção planejada. O pro-
grama, que pode visto como uma estratégia para transformar positivamente uma de-
terminada situação considerada socialmente problemática (BOULLOSA, 2007), é for-
mulado para que se produzam alguns resultados. Esses resultados são chamados de 
resultados esperados e derivam diretamente dos objetivos do programa. Além desses, 
o programa pode produzir também resultados que não tinham sido planejados, sejam 
eles negativos ou positivos. Nesse caso, trata-se de resultados não esperados. A mesma 
lógica vale para os efeitos, que podem ser esperados ou não esperados.
Há muitos modos de diferenciar resultados de efeitos. Alguns autores defendem 
que a diferença fundamental está no tempo em que eles acontecem em relação aos 
recursos (inputs) investidos pelo ou durante o programa. Nessa perspectiva, os resulta-
dos (outputs) estariam mais próximos dos recursos (inputs), enquanto que os efeitos ou 
impactos (outcomes) aconteceriam em um intervalo de tempo maior, como se fossem 
resultados de médio ou longo prazo. Já outros autores preferem interpretar os resulta-
dos do programa como seus resultados diretos ou imediatos, enquanto que os efeitos 
1 No âmbito da análise política (policy analisys), o ciclo do projeto é dividido em “formulação”, “implementação”e “avaliação”.Av
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Avaliação, ciclo do projeto e usos
ou impactos seriam resultados indiretos, que quase sempre aconteceriam depois dos 
resultados considerados diretos.
Além dessas fases que compreendem o ciclo da política ou do projeto, é preciso 
ainda compreender que uma política ou seu instrumento derivado não nascem de um 
momento para o outro. Pelo contrário, quando um programa surge, por exemplo, a 
situação problemática ou problema que ele se propõe a resolver (ou ajudar a resolver) 
já está relativamente consolidada na sociedade como algo que deve ser combatido ou 
mitigado. Essa fase anterior à formulação é chamada formação de agenda. As agendas 
políticas se formam à medida que os problemas são discutidos e passam progressiva-
mente a ser considerados como problemas de relevância pública, o que justificaria, em 
tese, o investimento de recursos públicos.
Durante a formação das agendas, diferentes atores buscam demonstrar e de certa 
forma impor-se dentro do cenário da opinião pública, tais como a mídia impressa e 
televisiva, políticos de destaque, instituições de prestígio, organizações não governa-
mentais, movimentos socais etc. Aos poucos, novos problemas emergem no cenário 
político, ganham força e passam a integrar a chamada agenda institucional de gover-
nos. O ingresso na agenda institucional de um problema em qualquer nível de gover-
no ou mesmo no leque de uma organização não governamental de relevância política, 
significa que tal problema passou a receber recursos para ser solucionado, desencade-
ando o seu ciclo de vida de formulação, implementação e avaliação.
Agenda 
política Agenda institucional Formulação Implementação Resultados Impactos
Fases clássicas do ciclo de projeto
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Figura 1 – Ciclo do projeto.
Em cada uma dessas fases é possível desenvolver processos de avaliação. Os au-
tores Lubambo e Araújo (2003, p. 4) apresentaram uma síntese bastante simples sobre 
os possíveis momentos da avaliação em relação ao ciclo do projeto. Para eles, a ava-
liação voltada para a fase de formulação demonstra a preocupação na identificação 
da adequabilidade das estratégias propostas às demandas (sociais) existentes. Já a 
avaliação de implementação estaria voltada à compreensão de diferentes aspectos 
da dinâmica institucional e organizacional. A avaliação dos resultados ou impactos 
buscaria tecer um juízo sobre as possíveis e desejadas transformações possibilitadaspelo programa avaliado.
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Fases clássicas do ciclo de projeto
Formação de 
agendas Formulação Implementação Resultados Impactos
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Figura 2 – Timing das avaliações.
Todavia, é importante ressaltar que essa compreensão clássica do ciclo temporal 
de uma intervenção qualquer começa a mostrar-se obsoleta, demandando novas te-
orizações. Tendo compreendido essas considerações mais simples, poderemos agora 
aprofundar os outros diferentes momentos da avaliação:
 Avaliações formativas, avaliações de preferências, de pesquisa de opi-
nião etc. – trata-se de avaliações que podem ser feitas por diferentes atores do 
processo de formação das agendas, sobretudo da agenda política. Frequen-
temente essas avaliações são usadas para demonstrar a supremacia de uma 
posição sobre as demais. Juntas desempenham o grande papel de fomentar o 
debate político a respeito do tema, assim como lançar as bases para uma dis-
cussão mais técnica sobre as possíveis soluções do problema em discussão.
 Avaliações ex-ante – são realizadas antes do início da intervenção, normal-
mente com o objetivo de traçar diagnósticos mais precisos do problema, de 
ajudar a construir a estratégia da intervenção ou mesmo para testar as hipó-
teses da estratégia, é usada por muitos financiadores para identificar priori-
dades e metas. Um outro objetivo bastante comum da avaliação ex-ante diz 
respeito à mensuração da validade do programa ou projeto planejado de ser 
implementado e obter sucesso. São comuns as metodologias de mensuração 
das relações custo-benefício e custo-efetividade. Além desses custos, podem 
ainda ser mensurados os custos sociais, políticos e ambientais de um projeto 
em fase de formulação. Alguns autores acreditam que essas avaliações devem 
ser enquadradas como avaliações formativas. Para Cohen e Franco (1993, 
p. 16), “[...] a avaliação ex-ante permite escolher a melhor opção dos programas 
e projetos nos quais se concretizam as políticas”, pois orienta a realização de 
uma dada intervenção.
 Avaliações in itinere, intermédia ou de processo – são realizadas durante 
a fase de implementação da intervenção social planejada e organizada. Esse 
tipo de avaliação pode levar em consideração tanto as fases de formulação 
quanto a fase de implementação respeitando suas naturezas e dinâmicas de 
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Avaliação, ciclo do projeto e usos
evolução, mas quase sempre está focada no acompanhamento e verificação 
dos resultados mais imediatos da intervenção em estudo. A avaliação in itine-
re pode ainda acontecer de modo sistematizado e contínuo estruturando-se 
como um processo de monitoramento, como explica Soares da Cunha:
A avaliação intermediária tende a depender fortemente das informações provenientes do 
sistema de monitoramento, e possui uma natureza formativa, com a preocupação de melhorar 
o funcionamento do programa. Em alguns casos, a avaliação intermediária visa examinar os 
impactos do programa, mas somente de maneira limitada. A avaliação ex-post tem natureza 
somativa e é frequentemente conduzida com a intenção declarada de analisar os impactos do 
programa (SOARES DA CUNHA, 2006, p. 11)
 Avaliações ex-post – voltadas a avaliar em que medida a intervenção plane-
jada atingiu os resultados traçados na fase da formulação, ou revistos na fase 
da implementação. A literatura distingue os resultados esperados daqueles 
não esperados. Não raro essas avaliações são somativas, pois objetivam res-
ponder a específicas perguntas sobre a continuidade e/ou replicabilidade do 
programa ou objeto em avaliação. A Universidade de Campinas (Unicamp) por 
exemplo, propõe uma breve lista de perguntas fundamentais para esse tipo 
de avaliação:
a que tipos de serviços ou benefícios os beneficiários do programa estão recebendo? b) em que 
medida os serviços ou benefícios realmente recebidos pelos beneficiários do programa estão 
de acordo com as intenções originais dos formuladores? c) os beneficiários estão satisfeitos 
com os resultados atingidos pelo programa? d) os resultados atingidos são compatíveis com os 
resultados esperados? e) como e por que os programas implementados geram resultados não 
esperados? (UNICAMP, 1999, p. 43)
 Avaliações de impacto – são um tipo de avaliação ex-post mais voltada para 
os impactos ou resultados indiretos do que para os resultados diretos da inter-
venção em estudo. Acontecem frequentemente muito tempo depois que a in-
tervenção foi concluída e o seu foco recai muito mais sobre as transformações 
provocadas no ambiente sociopolítico-econômico-ambiental onde ocorreu a 
mudança no que na intervenção em si. Em outras palavras, essas avaliações 
são voltadas às transformações e não se restringem a resultados imediatos, 
pelo contrário, buscam encontrar resultados mais estruturais.
Usos da avaliação
Assim como há discordâncias a respeito do objetivo da avaliação, há também 
discordâncias quanto aos possíveis usos das avaliações de programas sociais. Afinal, 
até mesmo um juízo de valor pode ter diferentes usos. Scriven (1967), que defende 
veementemente a emissão do juízo como objetivo primordial da avaliação (e a meta 
como o fornecimento de respostas a perguntas avaliatórias significativas), acredita que 
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os papéis da avaliação são, na prática, definidos pela maneira pela qual as respostas ou 
juízos produzidos são ou podem ser usados.
Outros autores defendem que o mais importante são os objetivos possíveis da 
avaliação, deixando a discussão sobre os seus papéis ou usos de lado. Talmage (1982), 
por exemplo, defende que os objetivos das avaliações são múltiplos, mas que três deles 
aparecem com bastante frequência: (a) fornecer um julgamento de valor, (b) informar 
o tomador de decisão, (c) exercer uma função política. A complexidade do ato de deci-
dir é bem explicada por Alejandro Tiana:
Qualquer pessoa que tenha enfrentado a experiência direta de ter que tomar decisões em algum 
campo de atuação sabe que os elementos sobre os quais se apoia esse processo são muito variados 
e de diversas ordens. Por um lado, costuma-se contar com informação direta ou indireta, procedente 
de diversas fontes e com maior ou menor pertinência e confiabilidade em cada caso. Por outro lado, 
deve-se levar em conta certos condicionamentos, de caráter normativo, institucional ou pessoal, 
que determinam a margem de manobra existente. Deve-se levar também em consideração o 
contexto de relações interpessoais, antecipando as reações que se possam produzir. Por último, 
devem ser realizadas negociações multilaterais com o objetivo de conseguir que todos os atores 
implicados se sintam partícipes da decisão adotada. Em suma, trata-se de uma tarefa delicada em 
que o conhecimento e a informação desempenham um papel relevante, mas também a capacidade 
de negociação e de mobilização de interesses, o sentido de oportunidade e inclusive a intuição 
(TIANA, 1997, s.p).
Outros autores acreditam ser um dos principais usos da avaliação o empodera-
mento ou emancipação dos atores nela envolvidos. David Fetterman (1994) é prova-
velmente um dos que mais insistiram sobre a capacidade da avaliação de emancipar 
os sujeitos envolvidos nos objetos de avaliação, tais como políticas, planos, programas, 
projetos e/ou ações. Para ele, a avaliação só tem sentido se torna os envolvidos mais 
capazes de compreender e atuar de modo transformador e democrático sobre as rea-
lidades em que estão inseridos.
Outro autor que se deteve longamente sobre o uso e papéis das avaliações foi 
Jean King (1988). Em seu célebre estudo intitulado “Research on evaluation useand its 
implication for evaluating research and practices” (Pesquisa sobre os usos em avaliação, 
suas implicações para a pesquisa e práticas avaliatórias), o autor propôs quatro diferen-
tes tipologias para os usos e papéis das avaliações. São elas:
 Instrumentais ou alocativos – quando a avaliação é usada para dar sustenta-
bilidade a decisões e buscas de soluções. Segundo alguns modelos de decisão, 
esse uso raramente acontece, pois na maioria das vezes as decisões são efeti-
vamente tomadas antes dos resultados e juízo apresentados pela avaliação.
 Persuasivas – quando a avaliação é usada para mobilizar o apoio necessário 
para a formulação, reformulação, continuidade ou interrupção do programa. 
Acontece ainda quando se busca apoio de novos adeptos.
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Avaliação, ciclo do projeto e usos
 Conceituais – quando a avaliação é utilizada sobretudo para reforçar a identi-
dade do programa e a compreensão dos seus objetivos. Esse reforço de iden-
tidade pode acontecer tanto para o público interno, quanto para o público 
externo ao programa.
 Simbólicas – quando a avaliação é usada para fins políticos ou de legitimação.
Alguns autores buscaram compartilhar dessa classificação, ao mesmo tempo em 
que buscam refiná-la. Carol Weiss (1998), por exemplo, discutiu as condições em que tais 
usos se dão. Para ela, por exemplo, o uso instrumental acontece com mais frequência 
nas seguintes situações: (1) quando as implicações das descobertas da avaliação não 
são muito controvertidas e sabe-se que não provocará grande discussão; (2) quando 
as mudanças decorrentes ou sugeridas não são muito profundas e/ou fazem parte do 
repertório do programa em questão ou de sua organização responsável pela imple-
mentação; (3) quando o ambiente do programa é relativamente estável no que diz 
respeito à sua dinâmica, lideranças, orçamento, tipos de beneficiários etc.; e (4) quando 
o programa está em crise e ainda não possui diretrizes de mudança.
Weiss (1998) teoriza ainda sobre os fatores que podem influir no uso das avalia-
ções: (a) diferença de valores e crenças entre avaliador e avaliados que podem gerar 
conflitos entre os mesmos redefinindo os usos da avaliação, ou ainda conflitos entre 
diferentes unidades da avaliação ou do programa avaliado; (b) eventuais mudanças 
nos atores da avaliação gerando conflito pela mudança de propósitos e compreensão 
do problema de avaliação, assim como redefinição do pacto entre avaliador e avalia-
dos; (c) obtusidade das organizações que podem dificultar ou até mesmo impedir as 
recomendações propostas pela avaliação; (d) mudanças no cenário externo, tais como 
no ambiente político, cortes orçamentários etc. que podem inutilizar a avaliação.
Continuando nessa perspectiva, Weiss distingue a possibilidade de uso de outros 
quatro elementos: (a) ideias e generalizações derivadas da avaliação; (b) o próprio fato 
de a avaliação ter sido ou estar sendo feita; (c) o foco do estudo, especialmente as me-
didas adotadas; e, finalmente, (d) o desenho do estudo. Vale a pena citar longamente 
os comentários de Faria (2005, p. 104) sobre os elementos propostos por Weiss:
(a) Uso das ideias e generalizações derivadas da avaliação
Ainda que descobertas específicas da avaliação não sejam usadas, os formuladores e o pessoal 
técnico do programa podem aplicar ideias e generalizações dela derivadas. É o seguinte o exemplo 
dado por Weiss (1998): a generalização da descoberta de que agências locais não promovem 
mudanças no seu padrão de provisão de serviços quando elas são as únicas a fazer tais mudanças, 
pode levar a que se pense na necessidade de se coordenar a atuação de todas as agências.
(b) Uso possível do próprio fato de a avaliação ter sido ou estar sendo feita
São diversificadas as alternativas aqui. Primeiramente, a realização da avaliação pode ser 
utilizada como uma desculpa para a inação. Por que se deveria tomar qualquer atitude no 
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sentido de se operar mudanças antes que se tenha o resultado do trabalho de avaliação? O 
fato de uma avaliação estar sendo ou ter sido feita pode ser utilizado também para demonstrar 
a racionalidade e a predisposição ao aprimoramento e à responsabilização por parte dos 
encarregados da política ou do programa. Por outro lado, a própria realização da avaliação pode 
ser pensada como assegurando uma aura de legitimidade para o programa ou sugerir que algo 
não vai bem em sua gestão ou que há problemas no seu desenho.
(c) Utilização do foco do estudo
É amplamente reconhecido que o público (interno e o externo) do programa avaliado passará a 
dar atenção prioritária a todos os focos da avaliação, com destaque para os elementos escolhidos 
para serem mensurados. Esse fenômeno é conhecido como “ensinar para o teste”, dado o efeito 
quase universal que a avaliação externa tem sobre o comportamento das instituições de ensino. 
Como se sabe, o risco principal aqui é que sejam negligenciados outros aspectos do programa 
que não incidem sobre os indicadores de sucesso definidos. Tal efeito, contudo, não é necessário 
e forçosamente negativo.
(d) Utilização do desenho da pesquisa avaliativa
Destaca-se aqui a possibilidade de que as categorias de análise utilizadas pelos avaliadores, 
a metodologia de avaliação e a forma de se analisar os dados tenham influência não apenas 
sobre a gestão da política ou do programa em questão, ao fomentar, por exemplo, disputas 
entre distintos níveis de implementação, mas também sobre outras áreas e esferas de governo. 
Por fim, é necessário inventariarmos também os usuários potenciais da pesquisa avaliativa. 
Originalmente, a comunidade de avaliadores era quase unânime na percepção de que os 
usuários da avaliação se restringiam aos financiadores do programa (e da própria avaliação), 
aos gerentes e encarregados de mais alto escalão e, por vezes, aos técnicos e profissionais que 
lidavam de maneira mais direta com os beneficiários. Esses são os atores que, inclusive, muitas 
vezes ajudam a definir o escopo, a abrangência, a metodologia e o âmbito de divulgação dos 
resultados da avaliação.
Conclusão
As considerações feitas neste capítulo são válidas tanto para avaliações de inicia-
tivas de transformação social públicas, quanto privadas. Planos, programas, projetos e 
ações podem ser formulados, implementados e realizados por diferentes atores sociais. 
Um modo interessante de compreender esses atores é apoiando-se na clássica divisão 
entre Estado, mercado e Terceiro Setor. Entidades pertencentes a cada um deles, ou 
mesmo mistas, podem promover iniciativas de transformação social, todas passíveis 
de serem avaliadas.
Os chamados três setores da sociedade, de fato, vêm demandando avaliações de 
suas intervenções sociais cada vez com mais frequência. O Terceiro Setor é relativa-
mente novo no nosso país; suas raízes podem ser encontradas no fortalecimento da 
sociedade civil no final dos anos 1970 e, sobretudo, durante os anos 1980. Inicialmente, 
esse setor se afirmava em oposição ao Estado e ao mercado, mas com a redemocrati-
zação do Estado Brasileiro, foram surgindo formas complexas de interação entre este 
e os demais setores, sobretudo o Estado. Uma definição plausível para o Terceiro Setor 
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Avaliação, ciclo do projeto e usos
é proposta por Fischer (2002, p. 45): “espaço composto por organizações privadas, sem 
fins lucrativos, cuja atuação é dirigida a finalidades coletivas ou públicas.
No Segundo Setor, o mercado, também encontramos algumas iniciativas que 
buscam tratarde alguns dos problemas sociais. Quando isso acontece, a literatura es-
pecializada chama tais ações de ações de responsabilidade social. Assim, mercado e 
Terceiro Setor não só podem apreender ações de transformação social (estruturadas 
em programas, projetos etc.), como acabaram por representar, sobretudo nos anos 
1990, parte considerável dos investimentos sociais no país.
A natureza do ator ou agente promotor do objeto a ser avaliado, naturalmente, in-
fluencia o desenho da avaliação. A avaliação de um programa formulado e implemen-
tado por um agente privado do Terceiro Setor, por exemplo, uma fundação, possuirá 
características diferentes de um programa formulado e implementado pelo governo. 
Para muitos autores, a principal diferença está justamente no uso que tal avaliação terá, 
imaginando que avaliações de programas governamentais possuem sempre um públi-
co de fundo que é a sociedade como um todo, em um contexto de democracia e trans-
parência pública. Não obstante tais elucubrações, o mais importante é que o avaliador 
e a sua equipe conversem com os demandantes das avaliações para que se chegue a 
um acordo prévio sobre os possíveis usos que tal avaliação deverá responder.
Texto complementar
A política da avaliação de políticas públicas
(FARIA, 2005)
Várias questões importantes podem ser inferidas a partir deste breve mape-
amento das distintas formas de uso da avaliação, dos seus vários elementos que 
podem ser utilizados e dos usuários potenciais dos estudos de avaliação das políticas 
públicas. A primeira delas é que a literatura específica parece ainda essencialmente 
circunscrita às expectativas acerca do papel da avaliação elencadas pelo “modelo 
decisionista”. Isso porque, mesmo tendo sido questionado o tradicional modelo hie-
rárquico e top-down de planejamento e de desenho da avaliação, esta maior pre-
ocupação com a questão do uso da pesquisa avaliativa parece ainda fortemente 
restrita à utilização gerencial da avaliação e à necessidade de se gerar feedbacks que 
justifiquem a relevância da própria realização de tais estudos. Dito de outra forma, o 
que se pode verificar na literatura é uma ênfase quase exclusiva na utilização instru-
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mental, intraburocrática, da avaliação das políticas públicas ou, quando muito, nas 
interações entre decisores, gestores e população beneficiária.
Ficam negligenciadas, assim, questões como: o papel da avaliação das políticas 
no jogo eleitoral; a reação do legislativo e do judiciário à concentração do poder 
de avaliação no executivo (HENRY, 2001; DERLIEN, 2001); a eventual diferença na 
institucionalização da avaliação entre países parlamentaristas e presidencialistas e 
entre Estados federais e unitários (DERLIEN, 2001); o significado da distinta localiza-
ção institucional dos sistemas de avaliação e o impacto de seu grau de vinculação às 
autoridades financeiras etc.
Dessa forma, não deixa de ser irônico, mas de maneira alguma contraditório, 
o fato de ser justamente a literatura que adota o enfoque gerencialista de valoriza-
ção da avaliação como instrumento da reforma do Estado, aquela que está aparen-
temente mais disposta a acentuar questões políticas mais abrangentes, como, por 
exemplo, o papel da avaliação na geração de accountability por parte dos agentes 
estatais, seu potencial de “empoderamento” das comunidades menos privilegiadas 
e seu impacto sobre a questão do controle social sobre o Estado. O fato não é contra-
ditório porque, como visto, essa literatura advoga um ideal regulativo que prescreve 
ao Estado um papel subsidiário, sendo determinantes os estímulos, os incentivos e 
os constrangimentos oriundos ou espelhados no mercado.
Uma postura de omissão no tratamento analítico das questões associadas ao 
processo de avaliação das políticas públicas e de seu uso, como aquela detectada 
no caso da ciência política brasileira (a qual, diga-se de passagem, parece não se sin-
gularizar neste aspecto), significa o esvaziamento da possibilidade de se analisar de 
forma cabal a política da avaliação de políticas, a qual acaba, assim, negligenciada 
em muitos de seus aspectos e implicações.
Se há resistências, por parte da ciência política brasileira, aí incluídos os analis-
tas de políticas públicas, em encampar uma agenda de pesquisa que contemple os 
processos pós-decisão, como sugerimos, não seria possível e pertinente pensarmos 
a questão do uso e da política da avaliação como claramente vinculada aos proces-
sos decisórios? Caso seja necessária uma nota de cautela, lembramos que estudar o 
uso e a política da avaliação não implica, forçosa e automaticamente, a transposição 
da temida, e muitas vezes tênue, fronteira entre os papéis do analista e daquele que 
faz advocacy ou que prescreve cursos de ação.
Contudo, a despeito do ranço positivista que ainda pode ser observado na 
prática avaliativa e também nas análises sobre esse processo, a avaliação não deixa 
de envolver também, necessariamente, advocacy, como defende Greene (1997), na 
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Avaliação, ciclo do projeto e usos
contracorrente do pensamento dominante na área. Isso, segundo a autora, se com-
preendermos por advocacy não um “partidarismo programático ou um viés con-
taminador”, mas sim “uma adesão a valores como um ideal regulatório específico 
(relativo à racionalidade do processo decisório ou ao ativismo comunitário)” (p. 25). 
Se levarmos também em consideração o fato de que a avaliação e os avaliadores 
atuam, como quer a vertente construtivista, “interpretando o contexto e construin-
do esse contexto e [que], portanto, ambos são produtores do espaço público” (ES-
COLAR; DOMENCH, 2002, p. 110), torna-se ainda mais lastimável a negligência ou a 
omissão de nossos analistas de políticas públicas.
Atividades
Ronaldo de Oliveira é o novo gerente do Departamento de Marketing de uma 
empresa produtora de carvão, localizada no sul do Acre, que realiza um programa de 
apoio à erradicação do trabalho infantil, dentro do que a empresa chama de investi-
mentos de responsabilidade social. Ronaldo deseja convidar novos parceiros, também 
privados, para investir neste mesmo programa, pois acredita que este problema só 
vem aumentando nos últimos anos. Para isso, acredita que só uma avaliação poderá 
lhe ajudar a convencer potenciais empresas parceiras. A partir dos conhecimentos que 
você adquiriu neste capítulo, responda às seguintes questões, supondo que você foi 
convidado para avaliar pioneiramente essa experiência.
O programa em questão está sendo implementado há dois anos em um pe-1. 
queno povoado que fica há pouco mais de 30 quilômetros da sede da empresa, 
localizada na periferia de uma cidade de porte médio. Em que fase do ciclo de 
vida do projeto esse programa se encontra? Justifique a resposta.
Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S/A., 
 mais informações www.iesde.com.br

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