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IMUNOLOGIA BÁSICA Anna Beatriz Farias 9 - ATIVAÇÃO DOS LINFÓCITOS T A ativação inicial de linfócitos T naive (não respondem previamente a antígenos, circulam pelo corpo em estado de repouso) ocorre principalmente em órgãos linfoides periféricos (secundários – linfonodos e baço), nos quais essas células normalmente circulam e onde devem encontrar os antígenos apresentados por células dendríticas maduras (APCs). Os linfócitos T naive se movem no interior dos órgãos linfoides, interagindo transientemente com muitas células dendríticas e parando de se mover quando encontram o antígeno para o qual expressam receptores específicos (reconhecimento antigênico -> sinais) O reconhecimento do antígeno, juntamente com outros estímulos de ativação, induz várias respostas biológicas nas células T: secreção de citocinas; proliferação, levando ao aumento no número de células dos clones antígeno-específico (conhecido como expansão clonal); e diferenciação de células naive em linfócitos efetores e de memória. As células T efetoras reconhecem antígenos em órgãos linfoides ou em tecidos não linfoides periféricos e são ativadas para executar funções que são responsáveis pela eliminação de microrganismos e, em estados de doença, pelo dano tecidual. Enquanto as células naive são ativadas principalmente nos órgãos linfoides secundários, as células efetoras diferenciadas podem responder aos antígenos e exercer suas funções em qualquer tecido; adquirem a capacidade de realizar funções específicas e habilidade de migrar para o sítio de infecção ou inflamação, encontram o antígeno e respondem a fim de eliminar a fonte do antígeno. As células CD4+ T efetoras da linhagem secretam citocinas e expressam moléculas de superfície que podem ativar outras células imunes. As células T de memória geradas pela ativação de células T são células de vida longa com maior capacidade de reagir contra o antígeno. São abundantes em tecidos de mucosa e na pele, bem como em órgãos linfoides. Com o declínio da resposta de células T, há muito mais células de memória do clone correspondente do que haviam de células T naive antes da resposta. IMUNOLOGIA BÁSICA Anna Beatriz Farias As respostas das células T diminuem depois que o antígeno é eliminado. Esse processo de contração é importante para que o sistema imune retorne a um estado de equilíbrio ou homeostase. Isso ocorre principalmente porque a maioria das células T efetoras ativadas por antígeno morre por apoptose. Uma razão para isso é que, conforme o antígeno é eliminado, os linfócitos são privados dos estímulos de sobrevivência que normalmente são fornecidos pelo antígeno e por coestimuladores e citocinas produzidos durante as reações inflamatórias ao antígeno. Além disso, mecanismos de inibição ativados pelo reconhecimento antigênico atuam para controlar a magnitude e duração da resposta. SINAIS PARA ATIVAÇÃO DOS LIFÓCITOS T A proliferação dos linfócitos T e sua diferenciação em células efetoras e de memória requerem reconhecimento do antígeno, coestimulação e citocinas. Reconhecimento do Antígeno O antígeno é o primeiro sinal necessário para a ativação dos linfócitos, garantindo que a resposta imune resultante seja antígeno-específica. Uma vez que reconhecem os complexos peptídeos-MHC exibidos pelas APCs, os linfócitos CD4+ e CD8+ respondem apenas aos antígenos proteicos, fonte natural de peptídeos, ou às substâncias químicas que se ligam e modificam proteínas. Também há participação das moléculas de adesão, as quais estabilizam a interação das células T com as APCs; correceptores, os quais liberam sinais bioquímicos que atuam em conjunto com os sinais do complexo TCR; e coestimuladores. A ativação das células T naive requer o reconhecimento do antígeno apresentado pelas células dendríticas (DCs), pois as DCs estão na localização apropriada para interagir com as células T naive, as DC também expressam altamente coestimuladores. Antígenos que alcançam a circulação podem ser capturados pelas DCs no baço. As DCs com antígenos capturados migram para as zonas de células T dos linfonodos drenantes. As células T naive quanto as DCs maduras são atraídas para as zonas de célula T nos órgãos linfoides secundários pelas quimiocinas aí produzidas, as quais se ligam ao receptor de quimiocina CCR7 nas células. No momento em que as DCs maduras alcançam as áreas de células T, exibem peptídeos antigênicos em moléculas do MHC e também expressam coestimuladores. As DCs apresentam às células T CD4+ peptídeos derivados de antígenos proteicos endocitados, principamente em associação com moléculas do CD8+ MHC classe II, e às células T peptídeos derivados de proteínas citosólicas e nucleares exibidos por moléculas do MHC classe I. Papel da Coestimulação na Ativação das Células T A proliferação e diferenciação das células T naive requerem sinais fornecidos por moléculas das APCs, denominadas coestimuladores, além dos sinais induzidos pelos antígenos. As APCs expressam moléculas que atuam conjuntamente com o antígeno para induzir a ativação da célula T. Na ausência da coestimulação, as células T que encontram antígenos falham ao responder ou entram em um estado prolongado de não responsividade. IMUNOLOGIA BÁSICA Anna Beatriz Farias A Família de Coestimuladores B7:CD28 A via de coestimulação mais bem caracterizada na ativação das células T envolve o CD28, receptor de superfície da célula T, que se liga às moléculas coestimuladoras B7-1 (CD80) e B7- 2 (CD86), expressas na superfície de APCs ativadas. O papel essencial de CD28 e B7 na ativação da célula T foi estabelecido não apenas por experimentos com anticorpos de ligação cruzada, mas também pela imunodeficiência de células T causada pelo knockout de genes, e pela habilidade de agentes que se ligam e bloqueiam moléculas B7 de inibir as respostas de células T em animais experimentais e em humanos. As moléculas B7-1 e B7-2 são glicoproteínas integrais de membrana de cadeia única, estruturalmente semelhantes, cada uma contendo dois domínios extracelulares do tipo imunoglobulina (Ig). O CD28 é um homodímero ligado por ponte dissulfeto, e cada subunidade tem um único domínio de Ig extracelular. Sua porção citoplasmática contém vários resíduos de tirosina e prolina que estão envolvidos na ligação de proteínas adaptadoras e de sinalização, e na liberação de sinais de ativação (discutidos adiante). O CD28 é expresso em mais de 90% das células T CD4+ e em 50% das células T CD8+ em humanos. A expressão de coestimuladores B7 é aumentada por produtos microbianos e durante as respostas imunes inatas, e garante que os linfócitos T sejam ativados apenas quando necessário. As moléculas B7 são expressas principalmente nas APCs, incluindo DCs, macrófagos e linfócitos B. Elas são expressas em níveis baixos nas APCs em repouso e são induzidas por vários estímulos, incluindo produtos microbianos que se ligam a receptores do tipo Toll e citocinas como interferon- γ (IFN-γ), produzidos durante as reações imunes inatas a microrganismos. A indução de coestimuladores por microrganismos e pelas citocinas da imunidade inata promove respostas das células T a antígenos microbianos. Adicionalmente, as próprias células T CD4+ ativadas aumentam a expressão dos coestimuladores B7 nas APCs por uma via de sinalização dependente de CD40, tendo feedback positivo que serve para amplificar as respostas das células T. IMUNOLOGIA BÁSICA Anna Beatriz Farias Inativadas ou em repouso, as APCs nos tecidos normais são capazes de apresentar autoantígenos para as células T, mas como essas APCs teciduais expressam apenas níveis baixos de coestimuladores, as células T potencialmente autorreativas que “percebem” os antígenos próprios não são ativadas e podem se tornar permanentemente irresponsivas. Células T reguladoras, as quais são importantes para a tolerância a autoantígenos, são também dependentes da coestimulação mediada por B7:CD28 para sua geração e manutenção.É possível que os baixos níveis dos coestimuladores B7 expressos constitutivamente pelas APCs em repouso atuem em conjunto com os autoantígenos exibidos por essas APCs, para a manutenção das células T reguladoras. Os sinais de CD28 atuam em cooperação com o reconhecimento do antígeno para promover a sobrevivência, proliferação e diferenciação das células T antígeno-específicas. A sinalização coestimuladora via CD28 amplifica as vias de sinalização que também são induzidas downstream ao TCR (receptor da célula T) e devem desencadear sinais adicionais que cooperam com sinais induzidos pelo TCR. Os resultados líquidos dessas vias de sinalização em células T são a expressão aumentada de proteínas antiapoptóticas, promovem sobrevivência celular; aumento da atividade metabólica; amplificação da proliferação; produção de citocinas, como IL-2; e diferenciação de células T naive em células efetoras e de memória. As células T efetoras e de memória previamente ativadas são menos dependentes de coestimulação pela via do B7:CD28 do que as células naive. Essa propriedade de células efetoras e de memória permite que respondam a antígenos apresentados por várias APCs que podem residir em tecidos não linfoides e expressar níveis baixos ou ausentes de B7. Por exemplo, a diferenciação das células T CD8+ em CTLs efetores requer coestimulação, mas CTLs efetores podem destruir outras células que não expressam coestimuladores. Outros receptores homólogos a CD28 e seus ligantes homólogos a B7 foram identificados, e essas proteínas regulam as respostas das células T, tanto positiva quanto negativamente. Alguns membros das famílias B7:CD28 estão envolvidos na ativação de células T (coestimuladores), e outros são inibidores essenciais de células T (coinibidores). Além de CD28, outro receptor coestimulador, ICOS (Inducible costimulator). Seu ligante, denominado ICOS-L (CD275), é expresso em DCs, células B e outras populações celulares. ICOS desempenha um papel essencial nas respostas de anticorpos dependentes de células T, em particular na reação do centro germinativo. ICOS é necessário para o desenvolvimento e ativação de células T auxiliares foliculares, que são essenciais para a formação de centros germinativos e para a geração de células B de alta afinidade. O resultado da ativação das células T é influenciado por um equilíbrio entre o acoplamento de receptores de ativação e inibição da família CD28. Os receptores inibidores da família CD28 são CTLA-4 (antígeno 4 do linfócito T citotóxico, do inglês, cytotoxic T lymphocyte antigen 4) e PD-1 (morte programada 1, do inglês, programmed death 1). Ambos os receptores são expressos após a ativação da célula T e atuam para limitar as respostas imunes (protegendo de doenças autoimunes). CTLA-4 atua como um inibidor competitivo de CD28, pois se liga mais fortemente a moléculas B7, e que PD-1 libera sinais de inibição que bloqueiam a sinalização pelo antígeno e por CD28. Acredita-se que a interação CD28:B7 é mais importante para a iniciação de respostas das células T pela ativação de células T naive; interações ICOS: ligante de ICOS são essenciais para as respostas de anticorpos dependentes das células T auxiliares; interações CTLA-4: B7 inibem a ativação inicial dos linfócitos T em órgãos linfoides secundários; e interações PD1: ligante de PD1 inibem a ativação de células efetoras, especialmente em tecidos periféricos. Entretanto, essas distinções não são absolutas e deve haver uma sobreposição nas funções dessas vias. IMUNOLOGIA BÁSICA Anna Beatriz Farias 10 - DIFERENCIAÇÃO E FUNÇÃO DAS CÉLULAS T CD4+ EFETORAS A defesa contra microrganismos mediada pelas células T é chamada imunidade celular (ou imunidade mediada por células). As células T podem conferir proteção contra patógenos intracelulares e extracelulares, bem como auxiliar na eliminação de células tumorais. A imunidade adaptativa em imunidade humoral, que pode ser transferida a partir de um doador imunizado a um hospedeiro naive através dos anticorpos; e imunidade celular, que pode ser transferida não por anticorpos, e sim por linfócitos T. A imunidade humoral neutraliza e elimina microrganismos extracelulares e toxinas acessíveis aos anticorpos e estes intensifica a fagocitose de microrganismos extracelulares que, então, podem ser destruídos no interior dos fagócitos. Entretanto, os anticorpos não podem atacar microrganismos que sobrevivem dentro dos fagócitos e de outras células As células T também podem intensificar o killing de microrganismos que normalmente sobrevivem fora das células e que são ingeridos pelos fagócitos. Caracteristicamente, os linfócitos T CD4+ efetores produzem as citocinas mediadoras de suas funções. Além disso, têm papel decisivo na eliminação fagócito-mediada de microrganismos, o que é a definição histórica da imunidade celular. As células T CD4+ também ativam outros leucócitos, entre os quais os neutrófilos e eosinófilos, além de estimularem a produção de anticorpos pelas células B. As células CD8+ efetoras são capazes de destruir células infectadas e células tumorais (killing), sendo responsáveis pela erradicação de microrganismos, tipicamente vírus, que sobrevivem e se replicam dentro de qualquer célula, inclusive de células não fagocíticas. SUBPOPULAÇÕES DE CÉLULAS T CD4+ EFETORAS As três subpopulações principais de células T CD4+ efetoras, chamadas Th1, Th2 e Th17, atuam na defesa do hospedeiro contra tipos distintos de patógenos infecciosos e estão envolvidas em diferentes tipos de lesão tecidual em doenças imunológicas. Propriedades das Subpopulações Th1, Th2 e Th17 As características definidoras das subpopulações diferenciadas de células efetoras são as citocinas que estas produzem, e isso está relacionado aos fatores de transcrição que expressam. Os fatores de transcrição são responsáveis pela produção de diferentes citocinas IMUNOLOGIA BÁSICA Anna Beatriz Farias por essas subpopulações, bem como a expressão de diferentes receptores de quimiocinas e outras proteínas. As citocinas de assinatura produzidas pelas principais subpopulações de células T CD4+ são o interferon (IFN)-γ, para as células Th1; IL-4, IL-5 e IL-13, para as células Th2; e IL-17 e IL-22, para as células Th17. As citocinas produzidas por essas subpopulações de células T determinam suas funções efetoras e seus papéis nas doenças. Algumas das citocinas produzidas por cada subpopulação também estimulam o desenvolvimento e a expansão dessa subpopulação, bem como inibem outras células efetoras, contribuindo assim para a amplificação de cada tipo de resposta de célula T auxiliar. As células Th1 tendem a ser abundantes nos sítios de infecção onde os agentes infecciosos deflagram reações imunes inatas fortes; esses agentes incluem muitas bactérias e vírus. As células Th1 também expressam níveis elevados de ligantes para E-selectina e P-selectina, os quais auxiliam a migração destas células para os sítios de inflamação intensa (onde as selectinas são expressas no endotélio). As células Th2 expressam receptores de quimiocina CCR3, CCR4 e CCR8, os quais reconhecem quimiocinas altamente expressas em sítios de infecção por helmintos ou de reações alérgicas, em particular nos tecidos de mucosa. As células Th17 expressam CCR6 que se liga à quimiocina CCL20, a qual é produzida por diversas células teciduais e por macrófagos em algumas infecções bacterianas e fúngicas. Doenças inflamatórias distintas são causadas por reações excessivas de diferentes subpopulações de células T auxiliares. Em geral, as células Th1 e Th17 exercem papéis proeminentes nas doenças autoimunes associadas à inflamação, enquanto as reações alérgicas são dominadas pelas células Th2. Desenvolvimento das Subpopulações Th1, Th2 e Th17 As células Th1, Th2 e Th17 diferenciadas se desenvolvem a partir de linfócitos T CD4+ naive, principalmente em resposta às citocinas presentes no início das respostas imunes. • As citocinas que dirigemo desenvolvimento de subpopulações de células T CD4+ são produzidas pelas APCs (primariamente células dendríticas e macrófagos) e outras células imunes (como células NK e mastócitos) presentes no órgão linfoide onde a resposta imune é iniciada. As CD que encontram microorganismos e exibem antígenos microbianos são ativadas a produzir citocinas (bem como coestimuladores), como parte das respostas imunes inatas ao microorganismos. Microrganismos diferentes podem estimular células dendríticas a produzirem conjuntos distintos de citocinas. Outras células da imunidade inata, como as células NK e os mastócitos, também produzem citocinas que influenciam o padrão de desenvolvimento da subpopulação de células T. • Outros estímulos que não as citocinas também podem influenciar o padrão de diferenciação da célula T auxiliar. Evidências experimentais indicam que a afinidade do receptor da célula T pelo antígeno, a quantidade de antígeno e a natureza da APC determinam a subpopulação que se desenvolve após o reconhecimento do antígeno. • Os perfis de citocinas distintos de populações celulares diferenciadas são controlados por fatores de transcrição particulares que ativam a expressão dos genes de citocina e por modificações cromatínicas que afetam a acessibilidade desses fatores aos promotores e elementos reguladores dos genes das citocinas. Conforme as subpopulações vão se tornando cada vez mais polarizadas, os loci gênicos codificadores das citocinas de assinatura dessas subpopulações sofrem modificações nas histonas e passam por IMUNOLOGIA BÁSICA Anna Beatriz Farias outros eventos de remodelamento da cromatina, de modo que esses loci permanecem acessíveis à RNA polimerase e aos fatores de transcrição. Desse modo, os genes de citocinas característicos de uma subpopulação em particular se tornam fixos em um estado antígeno-responsivo, enquanto os genes codificadores das citocinas não produzidas por esta subpopulação permanecem inativos. • Cada subpopulação de células efetoras diferenciadas produz citocinas que promovem seu próprio desenvolvimento e podem suprimir o desenvolvimento de outras subpopulações. Portanto, uma vez que a resposta imune se desenvolve ao longo de • uma via efetora, torna-se cada vez mais polarizada nessa direção, sendo que a polarização mais extrema é vista em infecções crônicas ou na exposição crônica a antígenos ambientais, quando a imunoestimulação é prolongada. • A diferenciação de cada subpopulação é induzida pelos tipos de microrganismos que a subpopulação melhor consegue combater. O SUBPOPULAÇÕES TH1 A subpopulação Th1 produtora de IFN-γ é induzida por microrganismos que são ingeridos e que evoluíram para sobreviver e se replicar nos fagócitos. Trata-se de principal população de células T efetoras na defesa do hospedeiro mediada por fagócitos. Desenvolvimento de Células Th1 A diferenciação em Th1 é dirigida principalmente pelas citocinas IL-12 e IFN- γ, e ocorre em resposta aos microrganismos que ativam células dendríticas, macrófagos e células NK. A diferenciação das células T CD4+antígeno-ativadas em células Th1 efetoras é estimulada por muitas bactérias intracelulares, como Listeria e micobactéria, por alguns parasitas, como Leishmania, todos microrganismos que infectam células dendríticas e macrófagos, vírus e antígenos proteicos administrados com adjuvantes fortes. Uma característica comum dessas infecções e condições de imunização é a deflagração de reações imunes inatas associadas à produção de certas citocinas, incluindo IL-12, IL-18 e interferons do tipo I. Dentre essas citocinas, a IL-12 é provavelmente a mais potente. Muitos microrganismos estimulam as células NK a produzirem IFN- γ que, em si, é uma citocina fortemente indutora de Th1 e também atua nas células dendríticas e macrófagos induzindo mais secreção de IL-12. Depois que as células Th1 se desenvolveram, passam a secretar IFNγ que promove mais diferenciação Th1 e, desse modo, amplifica a reação. Além disso, o IFN-γ inibe a diferenciação de células T CD4+ naive nas subpopulações Th2 e Th17, promovendo assim a polarização da resposta imune em uma direção. As células T podem intensificar ainda mais a produção de citocinas pelas células dendríticas e macrófagos por meio do engajamento do CD40L, presente nas células T ativadas, ao CD40, presente nas APCs, bem como estimulando a secreção de IL-12. Funções das Células Th1 A principal função das células Th1 é ativar os macrófagos para que estes ingiram e destruam os microrganismos. Interferon- γ O IFN-γ é a principal citocina ativadora de macrófagos. O IFN-γ também é chamado interferon imune ou interferon do tipo II. IMUNOLOGIA BÁSICA Anna Beatriz Farias Em adição às células Th1 CD4+, as células NK e as células T CD8+ também produzem IFN-γ. As células NK secretam IFN-γ em resposta aos ligantes ativadores presentes na superfície de células infectadas ou estressadas do hospedeiro, ou em resposta à IL-12. Neste contexto, o IFN-γ atua como mediador da imunidade inata. Na imunidade adaptativa, as células T produzem IFN-γ em resposta ao reconhecimento antigênico, e a produção é intensificada pela IL-12 e pela IL-18. • O IFN-γ ativa os macrófagos a destruírem microrganismos fagocitados. A ativação do macrófago resultando em atividade microbicida aumentada é chamada ativação clássica do macrófago. • O IFN-γ promove a diferenciação das células T CD4+ na subpopulação Th1 e inibe o desenvolvimento das células Th2 e Th17. Essas ações do IFN-. servem para amplificar a resposta Th1 • O IFN-γ estimula a expressão de várias proteínas diferentes que contribuem para uma intensificada apresentação antigênica e ativação da célula T. Essas proteínas incluem MHC; muitas proteínas envolvidas no processamento antigênico, incluindo componentes do proteassomo; e os coestimuladores B7 nas APCs. • O IFN-γ atua nas células B promovendo a mudança para certas, subclasses de IgG inibindo a mudança para isótipos IL-4 dependentes, como a IgE. As subclasses de IgG induzidas por IFN-γ se ligam a receptores Fcγ presentes nos fagócitos e ativam o complemento, e ambos os mecanismos promovem a fagocitose de microrganismos opsonizados. Assim, o IFN-γ induz respostas de anticorpos que também participam na eliminação fagócito-mediada de microrganismos, em conjunto com os efeitos diretos desta citocina na ativação de macrófago As ações do IFN-γ resultam em ingesta aumentada de microrganismos e destruição dos patógenos ingeridos. Outras Citocinas Th1 Além do IFN-γ, as células Th1 produzem fator de necrose tumoral (TNF) e várias quimiocinas. Essas moléculas contribuem para o recrutamento dos leucócitos e intensificação da inflamação. De modo surpreendente, as células Th1 também são fontes importantes de IL-10, cujas funções consistem principalmente em inibir as células dendríticas e macrófagos, suprimindo assim a ativação Th1. Esse é um exemplo de alça de feedback negativo nas respostas de células T. Ativação Clássica do Macrófago Th1-mediada e Killing de Microrganismos Fagocitados As células Th1 ativam macrófagos por meio de sinais mediados por contatos emitidos pelas interações CD40L-CD40 e pelo IFN-γ. Os macrófagos ativados pela via clássica também são chamados macrófagos M1. Quando as células Th1 são estimuladas pelo antígeno, as células expressam CD40L em sua superfície e secretam IFN-γ. As ações do IFN-γ sobre os macrófagos, sinergizam com as ações de CD40L e essas duas moléculas, juntas, são um estímulo potente para a ativação do macrófago. Os sinais de CD40 ativam os fatores de transcrição, e juntos estimulam a expressão de várias enzimas nos fagolisossomos dos macrófagos, incluindo a óxido nítrico sintase induzível, que estimula a produção de ácido nítrico; e enzimas lisossômicas. A ativação do macrófago também está associada à montagem da enzima fagócito oxidase na membrana do fagolisossomo, que induz produção de espécies reativas de oxigênio. Os macrófagos ativadosmatam microrganismos fagocitados principalmente por meio das ações do NO, enzimas lisossômicas e ROS. Todos esses agentes microbicidas potentes são IMUNOLOGIA BÁSICA Anna Beatriz Farias produzidos nos lisossomos de macrófagos e matam os microrganismos depois que os fagossomos se fundem aos lisossomos. Essas substâncias tóxicas também podem ser liberadas nos tecidos adjacentes, onde matam microrganismos extracelulares e podem causar dano aos tecidos normais. O SUBPOPULAÇÕES TH2 A subpopulação Th2 é o mediador da defesa fagócito-independente, em que os eosinófilos e mastócitos exercem papéis centrais. Essas reações são importantes para a erradicação das infecções helmínticas e, talvez, também para a eliminação de outros microrganismos nos tecidos de mucosa. Também são centrais ao desenvolvimento de doenças alérgicas. Desenvolvimento de Células Th2 A diferenciação em Th2 ocorre em resposta aos helmintos e alérgenos, e é intensificada pela citocina IL-4. As citocinas que iniciam o desenvolvimento das células Th2 são incompletamente definidas e podem incluir IL-25, IL-33 e linfopoietina estromal. A IL-4 produzida pelos mastócitos e pelas próprias células Th2 promove mais diferenciação em Th2. A IL-4 estimula o desenvolvimento de Th2 ativando o fator de transcrição STAT6 que, aliado aos sinais emitidos pelo receptor da célula T (TCR, do inglês, T cell receptor), induz expressão de GATA-3. O GATA-3 é um fator de transcrição que estimula a expressão dos genes das citocinas Th2 — IL-4, IL-5 e IL-13. GATA-3 atua para comprometer estavelmente as células em diferenciação na direção do fenótipo Th2, intensificando sua própria expressão através de uma alça de feedback positiva. Funções da Th2 As células Th2 estimulam as reações mediadas por IgE, mastócitos e eosinófilos, as quais servem para erradicar as infecções helmínticas e promover o reparo tecidual. As funções das células Th2 são mediadas pela IL-5, que ativa eosinófilos, e pela IL-13, que tem diversas ações. As células Tfh produtoras de IL-4 estimulam a produção de anticorpos IgE que estão envolvidos na maioria das reações de defesa Th2-mediadas. Interleucina-4 A IL-4 é a citocina de assinatura da subpopulação Th2, atuando como citocina indutora e efetora dessas células. As principais fontes celulares de IL-4 são os linfócitos T CD4+ da subpopulação Th2 e os mastócitos ativados, porém outras células teciduais também produzem essa citocina. • A IL-4 produzida pelas células Tfh estimula a troca de classe da cadeia pesada de Ig da célula B para o isótipo IgE. Os anticorpos IgE atuam na defesa mediada por eosinófilos contra infecções por helmintos e a IgE é o principal mediador das reações de hipersensibilidade imediata (alérgica). • A IL-4 estimula o desenvolvimento de células Th2 efetoras a partir de células T CD4+ naive e atua como fator de crescimento para células Th2 diferenciadas. • A IL-4 atuando com a IL-13 contribui para uma forma alternativa de ativação de macrófagos que difere da resposta do macrófago ao IFN-γ. • IL-4 e IL-13 estimulam o recrutamento de leucócitos, notavelmente de eosinófilos, por meio da promoção da expressão de moléculas de adesão ao endotélio e pela secreção de quimiocinas que se ligam a receptores de quimiocina expressos nos eosinófilo. IMUNOLOGIA BÁSICA Anna Beatriz Farias Interleucina-13 Exerce papel fundamental na defesa contra helmintos e em doença alérgicas. A IL-13 é produzida principalmente pela subpopulação Th2, contudo as células linfoides inatas e outros leucócitos também podem produzi-la. A IL-13 atua junto com a IL-4 na defesa contra os helmintos e na inflamação alérgica. Algumas ações da IL-13 se sobrepõem as da IL-4, enquanto outras são distintas. Como já mencionado, IL-13 e IL-4 são capazes de ativar as células B para a mudança de isótipo para IgE e alguns isótipos de IgG, bem como de recrutar leucócitos, sendo que ambas estão envolvidas na ativação alternativa do macrófago. A IL-13 estimula a produção de muco pelas células epiteliais das vias aéreas, um componente importante das reações alérgicas, entre as quais a asma. Não está envolvida na diferenciação de Th2. Interleucina-5 A IL-5 é uma ativador de eosinófilos e atua como principal ligação entre a ativação da célula T e a inflamação eosinofílica. É produzida principalmente por células Th2 e células linfoides inatas. As principais ações da IL-5 são ativar eosinófilos maduros e estimular o crescimento e diferenciação de eosinófilos. Os eosinófilos ativados são capazes de matar helmintos. Os eosinófilos expressam receptores Fc específicos para IgE e alguns anticorpos IgG, sendo assim capazes de se ligar a microrganismos, como os helmintos, que estejam recobertos por esses anticorpos. Papéis das Células Th2 na Defesa do Hospedeiro • Reações mediadas por IgE e por eosinófilo. A IL-4 (e a IL-13) secretada pelas células Tfh nos órgãos linfoides e talvez pelas células Th2 nos tecidos periféricos, estimula a produção de anticorpos IgE helminto-específicos que se ligam a antígenos presentes em helmintos e promovem a fixação dos eosinófilos através de suas regiões Fc. A IL-5 ativa os eosinófilos e estes liberam os conteúdos de seus grânulos, incluindo a proteína básica principal e a proteína catiônica principal, que são capazes de destruir até o resistente tegumento dos helmintos. A IgE também recobre os mastócitos e induz sua desgranulação mediante o encontro com o antígeno. Essa reação é importante nas doenças alérgicas. • Defesa do hospedeiro nas barreiras de mucosas. As citocinas produzidas pelas células Th2 estão envolvidas no bloqueio da entrada e promoção da expulsão de microrganismos dos órgãos de mucosa, por meio do aumento da produção de muco e do peristaltismo intestinal. Assim, as células Th2 exercem papel importante na defesa do hospedeiro junto às barreiras de contato com o meio externo, às vezes denominada imunidade de barreira. • Ativação alternativa do macrófago e reparo tecidual. A IL-4 e a IL-13 ativam os macrófagos a expressarem enzimas promotoras de síntese de colágeno e fibrose. A resposta do macrófago às citocinas Th2 é chamada ativação alternativa do macrófago. Os macrófagos ativados pela via alternativa (também chamada M2) produzem citocinas que terminam a inflamação e iniciam o reparo após diversos tipos de lesão tecidual. Esses macrófagos, bem como as próprias células Th2, induzem cicatrização e fibrose por meio da secreção de fatores de crescimento que estimulam a proliferação do fibroblasto, síntese de colágeno e formação de novos vasos sanguíneos. As citocinas Th2 também suprimem a ativação clássica dos macrófagos e interferem nas respostas imunes protetoras mediadas por Th1 a infecções intracelulares. IMUNOLOGIA BÁSICA Anna Beatriz Farias O SUBPOPULAÇÕES TH17 A subpopulação Th17 está primariamente envolvida no recrutamento de neutrófilos e, em menor extensão, de monócitos para os sítios de infecção e inflamação. Essas reações são essenciais para a destruição de bactérias e fungos, microrganismos que são mortos pelos fagócitos, e também contribuem de forma significativa para as doenças inflamatória. Desenvolvimento de Células Th17 O desenvolvimento de células Th17 é estimulado por citocinas pró-inflamatórias produzidas em resposta a bactérias e fungos. Várias bactérias e fungos atuam sobre as células dendríticas e estimulam a produção de citocinas, incluindo IL-6, IL-1 e IL-23 (pode ser a mais importante para a proliferação e manutenção daTh17), todas promotoras de diferenciação das células T CD4+ na subpopulação Th17. Um aspecto surpreendente da diferenciação em Th17 é que o TGF-β (normalmente anti- inflamatória, promove o desenvolvimento de células Th17pró-inflamatórias quando outros mediadores de inflamação, tais como IL-6 ou IL-1, estão presentes. A diferenciação em Th17 é inibida pelo IFN-γ E pela IL-4; deste modo, as respostas Th1 e Th2 fortes tendem suprimir o desenvolvimento Th17.Funções das Células Th17 As células Th17 combatem microrganismos recrutando leucócitos, principalmente neutrófilos, para os sítios de infecção 11 - DIFERENCIAÇÃO E FUNÇÃO DA CÉLULAS T CD8+ EFETORAS DIFERENCIAÇÃO DAS CÉLULAS T CD8+ EM LINFÓCITOS T CITOTÓXICOS NATUREZA DOS ANTÍGENOS E DAS CÉLULAS APRESENTADORAS DE ANTÍGEO PARA ATIVAÇÃO DOS LINFÓCITOS T CD8+ O PAPEL DAS T AUXILIARES INIBIÇÃO DAS RESPOSTAS POR CÉLULAS T CD8+: O CONCEITO DE EXAUSTÃO DAS CÉL. T FUNÇÕES EFETORAS DOS LINFÓCITOS T CD8+ CITOTÓXICO FUNÇÕES DOS CTLs CD8+ NA DEFESA DO HOSPEDEIRO
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