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Autismo 02 1. Introdução 4 Transtorno do Espectro Autista (TEA) 6 Perspectivas Educacionais 7 2. Tratamentos Clínicos 10 3. Principais Pesquisadores do Autismo 14 Hans Asperger 14 Leo Kanner 15 Andreas Rett 16 Bruno Bettelheim 17 4. Aspectos Legais 19 5. Organização da Área Física 24 Importância do Apoio Familiar na Formação Escolar 26 Autismo e Educação 27 O Autismo e a Formação Docente 29 6. Estratégia de Ensino 33 Rotina no Autismo 35 7. Sugestões de Jogos 37 Batalha 37 Sete Cobras 38 Caça ao Quebra-Cabeça 38 Conversa com os Dados 38 8. Referências Bibliográficas 41 03 4 AUTISMO 1. Introdução Fonte: Vita Clinica1 palavra Autismo é de origem grega “autós”, que significa “por si mesmo”. É um termo utili- zado na área da psiquiatria para des- crever comportamentos humanos autocentrados, voltados para o pró- prio indivíduo. O autismo é uma de- sordem neurobiológica, mas o meca- nismo exato da doença ainda é des- conhecido. A causa psicológica é re- jeitada. Clinicamente, os sintomas podem aparecer desde o nascimento ou antes dos 3 anos de idade (COS- TA COUTO, 2021). De acordo com Whitman (2015), uma síndrome é o conjunto 1 Retirado em https://vitaclinica.com.br de sinais e sintomas relacionados a uma mesma patologia que, juntos, definem o diagnóstico e o quadro clí- nico de uma doença. Geralmente, é uma série de sintomas específicos de causa desconhecida ou em investi- gação, que são classificados, na mai- oria das vezes pelo nome do cientista que os descreveu ou o nome que o ci- entista lhes deu. Uma síndrome não caracteriza, necessariamente, ape- nas uma única doença, mas sim um grupo de doenças. Para o autor Mauad Fernan- des (2020), a definição da Autism Society of American (ASA) é que o A 5 AUTISMO autismo é uma deficiência do desen- volvimento que se manifesta de for- ma grave ao longo da vida. É uma doença que causa incapacidade e, geralmente, ocorre nos primeiros três anos de vida. Afeta cerca de 20 em 10.000 nascidos, e é quatro vezes mais comum em homens do que mulheres. Ocorre no mundo inteiro e em famílias de todas as raças, ori- gens étnicas e sociais. Até o momen- to, nenhuma causa psicológica foi encontrada no ambiente dessas cri- anças que pudesse desencadear a doença. Segundo Lobe e Busch (2015), de acordo com a ASA, os sintomas são causados por disfunção física do cérebro, que é confirmada pela anamnese ou através de exames ou entrevista com a pessoa. Os princi- pais sintomas são: Distúrbios no ritmo de apare- cimentos de habilidades físi- cas, sociais e linguísticas; Reações anormais às sensa- ções; As funções ou áreas mais afe- tadas são: visão, audição, tato, dor, equilíbrio, olfato, gusta- ção e maneira de manter o corpo; Fala e linguagem ausentes ou atrasadas. Certas áreas especí- ficas do pensar, presentes ou não; Ritmo imaturo da fala, restrita compreensão de ideias; Uso de palavras sem associa- ção com o significado. Relacio- namento anormal com os ob- jetivos, eventos e pessoas. Res- postas não apropriadas a adul- tos e crianças. Objetos e brin- quedos não usados de maneira devida. Em consonância com os auto- res Teixeira e Gaiato (2018), é cor- reto afirmar que os homens são mais propensos a distúrbios neurológicos como o autismo do que as mulheres, mas ainda não se sabe a causa dessa divergência. Um longo estudo publi- cado no American Journal of Hu- man Genetics indica uma hipótese, o modelo de proteção feminina. Con- forme essa hipótese, as mulheres re- querem mutações genéticas mais ex- tremas do que os homens para de- senvolver doenças neurológicas. O gênero já foi utilizado como critério de prevalência de doenças neuroló- gicas, como autismo e transtorno do déficit de atenção e hiperatividade (TDAH). Conforme Sella e Ribeiro (2018), tomar antidepressivos du- rante a gravidez pode dobrar o risco da criança desenvolver autismo. Este é o resultado de um estudo rea- lizado na Califórnia, e publicado em novembro de 2011, na revista Archi- ves of General Psychiatry, no qual participaram 298 crianças com Transtornos do Espectro do Autis- 6 AUTISMO mo (TEA), e 1.507 crianças no grupo de controle. O uso dessas drogas foi relatado por 6,7% das mães de crian- ças autistas, contra 3,3% das mães do grupo controle. Acredita-se que essa associação seja mais forte quan- do os medicamentos são usados no primeiro trimestre da gravidez. Um estudo preliminar feito com aproximadamente 96.736 cri- anças, nascidas na Dinamarca, entre 1997 e 2003, e publicado na revista americana Pediatrics, em novem- bro de 2012, demonstrou que a ocor- rência de gripe ou febre persistente durante a gravidez pode ser um fator de risco para o autismo. Segundo os pesquisadores, crianças cujas mães tiveram gripe durante a gravidez ti- nham duas vezes mais chances de serem diagnosticadas com TEA, an- tes dos três anos de idade. Na pre- sença de febre que dura uma semana ou mais, o risco aumenta em até três vezes. A motivação para a pesquisa veio de estudos em animais, que su- geriram que a ativação do sistema imunológico materno durante a gra- videz poderia afetar o desenvolvi- mento do cérebro da criança (SERRA, 2018). Transtorno do Espectro Autista (TEA) De acordo com Costa Couto (2021), o autismo, também conhe- cido como Transtorno do Espectro Autista (TEA), foi descrito pela pri- meira vez por Leo Kanner, em 1943, baseado em onze casos de crianças que ele estava acompanhando e que compartilhavam algumas caracte- rísticas comuns, como incapacidade de se relacionar com outras pessoas, distúrbios graves de linguagem e preocupação com o que é imutável. Ele chamou esse conjunto de carac- terísticas de autismo infantil pre- coce. Para o autor Whitman (2015), crianças com Transtorno do Espec- tro Autista (TEA) possuem dificul- dade em compreender as regras de convivência social, a comunicação não verbal, as intenções das outras pessoas e as expectativas dos outros em relação a elas. Devido a essas di- ficuldades funcionais, a influência na eficiência da comunicação é sig- nificativa, o que leva ao fato de que o desenvolvimento do cérebro social torna-se cada vez mais lento para re- alizar as funções necessárias ao con- vívio social, o que se torna cada vez mais complexo de acordo com a ida- de. Sendo assim, ocorreu uma atua- lização da definição de Autismo In- fantil, que passou a ser transtornos do neurodesenvolvimento, ou seja, os processos de socialização, comu- nicação e aprendizagem ficam pre- judicados. E os danos nos mecanis- mos biológicos tem relação com a adaptação social, que leva ao surgi- 7 AUTISMO mento de fenótipos heterogêneos re- lacionados com quadros de Trans- tornos Globais do Desenvolvimento (TGD). Segundo Mauad Fernandes (2020), além da dificuldade que a criança já possui decorrentes do transtorno, as complicações ficam mais nítidas durante a fase escolar, pois é nessa fase que é cobrado do aluno atenção, compreensão, entro- samento, desenvolvimento, sociali- zação, situações em que uma criança com TEA possui muita dificuldade, e que em certos casos leva a um isola- mento ainda maior, se o profissional que trabalha com essa criança não tiver habilidade para lidar com uma criança com TEA. Fonte: https://policonsultas.com.br Em consonância com os auto- res Lobe e Busch (2015), é correto afirmar que, hoje em dia, existem di- versos recursos, escolas e profissio- nais especializados para trabalhar com crianças com Transtorno do Es- pectro Autista, é através desses pro- fissionais que a criança irá ser esti- mulada diariamente, o que possibi- lita que ela aprendae se desenvolva. Com a ajuda de educadores e escolas especializadas é possível que a cri- ança consiga aprender e até se rela- cionar, conforme o caso. Perspectivas Educacionais Conforme Teixeira e Gaiato (2018), por volta da década de 1930, um grupo de crianças se destacou pelo comportamento diferente de outras crianças da época. Elas não olhavam nos olhos quando alguém falava com elas, demonstravam difi- culdades de se comunicar verbal- mente e com gestos, se interessavam por objetos que normalmente não chamam muita atenção, resistiam ao contato físico, apresentavam altera- ções de comportamento e se com- portavam como se fossem surdas. Até então, ninguém havia se interessado em pesquisar a causa de tais comportamentos, até que Léo Kanner, um médico austríaco resi- dente nos Estados Unidos, foi o pio- neiro no estudo dessa área e se refe- riu ao transtorno como autismo. No início dos anos de 1940, Kanner es- creveu seu primeiro artigo, Distúr- bios Autísticos do Comportamento Afetivo, após acompanhar aproxi- madamente 11 crianças. A pesquisa 8 AUTISMO de Kaner chamou a atenção de vá- rios estudiosos, até mesmo cientis- tas, que, em mais de seis décadas de estudos, estão comprovando que o autismo é um Transtorno Invasivo do Desenvolvimento (TID), uma al- teração no cérebro e no comporta- mento. Apesar de um longo período de pesquisas, muitas são as incógni- tas relacionadas a esse transtorno, inclusive no campo científico. Atual- mente, os estudos sobre autismo es- tão apenas começando, e novos ca- sos estão sendo descobertos todos os dias (GAIATO, 2018). De acordo com Serra (2018), os processos educacionais voltados para crianças autistas, que produ- zem resultados satisfatórios são os de abordagens do campo psicopeda- gógico, como, por exemplo, o TEACCH (Treatment and Educa- tion for Autistic and Related Handi- caped Communication Children), que possibilita o desenvolvimento das habilidades de pessoas autistas de forma acentuada, para atender às suas necessidades específicas. Pres- supõe-se que esse método colabore para um melhor processo de ensino- aprendizagem dos alunos, pois é um acompanhamento pedagógico cen- tralizado, que cria um ambiente se- guro, amplo, significativo e estrutu- rado. Fonte: https://cartaoredesul.com.br Para a autora Costa Couto (2021), pessoas com TID, especial- mente autismo, são consideradas isoladas, este estigma pode surgir devido a maneira como as escolas desenvolvem seu trabalho, ou mes- mo da falta de cuidado e atenção por parte dos familiares para com a cri- ança. 10 AUTISMO 2. Tratamentos Clínicos Fonte: Hospital Santa Mônica2 egundo Whitman (2015), o pri- meiro tipo de tratamento indi- cado o autismo, baseado na teoria psicogênica, foi a psicoterapia para a criança e os pais. Este tratamento teve taxas de sucesso excepcional- mente baixas, por isso foi sendo pouco a pouco abandonado, junto com a teoria psicogênica, a partir da década de 1970. Em consonância com o autor Mauad Fernandes (2020), é correto afirmar que, nas décadas de 1960 e 2 Retirado em https://hospitalsantamonica.com.br 1970, vários métodos de terapia ba- seados em diferentes pressupostos teóricos foram usados para o autis- mo, como orientação psicanalítica, técnicas baseadas no condiciona- mento operante, psicofarmacológi- ca, educacional, psicoterapia paren- tal e uma combinação de diferentes métodos. No entanto, na grande maioria dos casos, nenhuma grande melhora sintomática foi alcançada. Conforme Lobe e Busch (2015), alguns tipos de terapias S 11 AUTISMO aversivas, como a aplicação de cho- ques elétricos, foram usadas nas dé- cadas de 1960 e 1970, para levar a respostas e comportamentos deseja- dos, em crianças autistas. Embora seu uso tenha sido discutido desde os primeiros anos, estudos conduzi- dos durante este tempo indicaram que a terapia de eletrochoque foi útil para induzir uma resposta de gene- ralização, causando a resposta de evitar outros comportamentos para os quais o choque não foi usado, uma melhora no comportamento so- cial e resposta emocional positiva, mas em geral, as crianças desenvol- veram medo do dispositivo, reações emocionais negativas e outros com- portamentos inadequados em res- posta ao choque elétrico. Foram re- comendadas correntes na faixa de 4 a 5 mA que, embora possam causar dor, não causam lesões físicas per- sistentes ou crises epilépticas, in- consciência ou outras lesões. Gradu- almente, a terapia com eletrochoque foi preterida para autismo e outras patologias. Uma das primeiras formas de tratamento medicamentoso desen- volvido para crianças com autismo e esquizofrenia foi o uso do ácido D-li- sérgico, conhecido como LSD, uma droga alucinógena, hoje considerada ilegal. Estudos realizados na década de 1960 mostraram melhora nos sintomas em termos de bem-estar fí- sico, contato com o ambiente e com outras pessoas, percepção do ambi- ente, alimentação e padrões de sono. Essas reações não foram relaciona- das a efeitos tóxicos, efeitos colate- rais ou reações emocionais negati- vas. No entanto, por razões óbvias, essa droga foi abandonada posteri- ormente (ROGERS e DAWSON, 2014). De acordo com Gaiato (2018), após o surgimento de estudos que o autismo poderia estar ligado à vaci- nação e, portanto, ao envenenamen- to por mercúrio, foram sugeridos tratamentos com agentes quelantes, capazes de remover o metal do cor- po. Embora nenhum resultado te- nha sido visto com esses medica- mentos, eles ainda estão à venda, e podem ser encontrados em vários si- tes na internet. Fonte: https://www.revistasaude- news.com.br Para a autora Serra (2018), um dos tratamentos indicados mais tarde, foi chamado de tratamento 12 AUTISMO comportamental do autismo. Neste tipo de tratamento, em grande parte dos casos, o terapeuta e os pais da criança usam a punição para indicar qual o comportamento desejado pa- ra a criança. O treinamento era rea- lizado, necessariamente, em um am- biente extremamente organizado, com a utilização de horários progra- mados, controle de estímulos e com- portamento condicionado. Segundo Costa Couto (2021), o reforço positivo, em geral, era indi- cado por meio do uso de alimentos, sem recompensas verbais ou cari- nho. Para crises de perda de controle e agressividade, utilizavam-se cô- modos isolados e com poucos mó- veis, afastando a criança do fator de- sencadeante. Choques elétricos e palmadas, eram vistos como terapia aversiva. Na maioria dos casos, o comportamento por imitação não era recomendado, pois foi argumen- tado que era difícil obter resultados positivos. Fonte: https://lh3.googleusercon- tent.com Em consonância com o autor Whitman (2015), é correto afirmar que várias terapias comportamen- tais foram então desenvolvidas, e muitas das quais estão em uso no mundo todo. Os métodos mais po- pulares e amplamente usados in- cluem ABA (do inglês, Applied Behavioral Analysis) e TEACH. 14 AUTISMO 3. Principais Pesquisadores do Autismo Fonte: G1 Globo3 Hans Asperger onforme Mauad Fernandes (2020), Hans Asperger nasceu em 18 de fevereiro de 1906, em uma fazenda no interior de Viena. Ele era o mais velho dos dois filhos do casal. Hans mostrou desde cedo talento em línguas e já era conhecido no pri- meiro ano da escola por meio de ci- tações frequentes do poeta austríaco Franz Grillparzer (1791-1872). Du- rante esse tempo, ele apresentava dificuldades para fazer amigos, e foi 3 Retirado em https://g1.globo.com/ considerado distante de seus cole- gas.Na juventude, na década de 1920, porém, estabeleceu relaciona- mentos com diversos companheiros, que duraram por toda a vida. Em 1931 ele se formou em me- dicina, e em 1932 foi nomeado dire- tor estação ludo-pedagógica, da Clí- nica da Universidade de Viena. Se casou em 1935 e teve cinco filhos. Em 1934, se associou a Clínica Psi- quiátrica, em Leipzig. Hans Asper- ger tinha, particularmente, um inte- resse em crianças com problemas de saúde mental. Seu artigo original, C 15 AUTISMO publicado em 1943, foi o resultado de um estudo de mais de quatrocen- tas crianças com “psicopatia autis- ta”. Como Hans não viajava muito, e todas as suas publicações foram em revistas de língua alemã, seu nome não era tão conhecido quanto o de Leo Kanner, que descreveu o au- tismo em crianças, em 1943 (FA- RAH, 2021). Fonte: https://www.nexojor- nal.com.br De acordo com Rogers e Daw- son (2014), na segunda metade da Segunda Guerra Mundial, ele serviu como soldado na Croácia. Em 1944 ele se tornou professor na Universi- dade de Viena, e em 1946 diretor da clínica infantil. Em 1957, Hans As- perger tornou-se professor da clíni- ca para crianças na Universidade - a Universitäts-Kinderklinik - em Innsbruck. A partir de 1964 dirigiu o posto médico SOS-Kinderdörfer em Hinterbrühl. Para a autora Gaiato (2018), Asperger foi nomeado professor emérito em 1977. Continuou traba- lhando e deu sua última palestra seis dias antes de sua morte, em 21 de outubro de 1980. Sua lista de publi- cações inclui 359 artigos, a maioria relacionados à psicopatia autista ou morte. Leo Kanner Segundo Serra (2018), Leo Kanner nasceu em 13 de junho de 1894, em Klektow na Áustria, e mor- reu em 4 de abril de 1981. Ele se tor- nou um psiquiatra de renome mun- dial por seu trabalho com o autismo. Iniciou os estudos em 1913 na Uni- versidade de Berlim. Kanner inter- rompeu seus estudos por causa do recrutamento para servir no exército austríaco, durante a Primeira Guer- ra Mundial. Em 1921, ele se formou em medicina. Mais tarde, ele emi- grou para os Estados Unidos em 1924, onde assumiu o cargo de mé- dico assistente no Yankton County State Hospital, na Dakota do Sul. Foi selecionado para desenvolver o primeiro serviço de psiquiatria em um hospital pediátrico, no Johns Hopkins, em Baltimore. Em 1933 ele se tornou professor associado de psiquiatria. Em consonância com a autora Costa Couto (2021), é correto afir- mar que Kanner foi o primeiro mé- dico dos Estados Unidos a ser reco- nhecido como psiquiatra infantil. 16 AUTISMO Seu trabalho original com o título Autistic Disorders of Affective Con- tact, publicado em 1943, junto com os trabalhos de Hans Asperger, tor- nou-se a base dos estudos modernos do autismo. Em 1957, ele se tornou diretor de psiquiatria infantil, e se aposentou em 1959, mas permane- ceu ativo até sua morte, aos 87 anos. Fonte: https://autismuk.com Andreas Rett Conforme Whitman (2015), Andreas Rett, pediatra austríaco, nascido em 2 de janeiro de 1924 em Fürth, na Bavária, e falecido em 1997. Frequentou a escola em Inns- bruck e começou a estudar medi- cina, também na universidade de Innsbruck. Seus estudos foram in- terrompidos pela Segunda Guerra Mundial, pois foi convocado para servir na Marinha Alemã. Em 1945, retomou os estudos, e se formou em medicina no ano de 1949. A partir daí, começou a sua formação como pediatra. Em 1955, ele se tornou chefe do serviço para crianças com deficiência mental, em uma casa para idosos, em Lainz. Sua carreira acadêmica come- çou em 1967, quando foi nomeado palestrante de neurologia e pediatria na Universidade de Viena, e no ano de 1973 foi promovido a professor associado. A partir de 1967, ele foi nomeado chefe do Instituto Ludwig Boltzmann para pesquisas com cri- anças com anomalias cerebrais. Du- rante sua vida publicou mais de 250 artigos científicos (GRANDIN e PANEK, 2015). Fonte: https://alchetron.com De acordo com Farah (2021), conforme a descrição clássica, Rett apresentou, originalmente, a sín- drome após observar duas meninas aguardando atendimento, que apre- sentavam o mesmo distúrbio de mo- vimento, estereotipias manuais. 17 AUTISMO Bruno Bettelheim Fonte: https://miro.medium.com Para as autoras Rogers e Daw- son (2014), Bruno Bettelheim nas- ceu na Áustria, em 28 de agosto de 1903, e faleceu em 13 de março de 1990. Começou sua formação acadê- mica em Viena, e posteriormente, permaneceu preso em campos de concentração pelos nazistas, de 1938 a 1939. Depois, Bettelheim se mu- dou para os Estados Unidos, e a par- tir de 1944 dirigiu a Escola Ortogê- nica da Universidade de Chicago, um laboratório-escola para crianças com problemas psicológicos e psi- quiátricos. Ele cometeu suicídio de- pois de ficar deprimido com a morte de sua esposa e sofrer um acidente vascular encefálico. 18 19 AUTISMO 4. Aspectos Legais Fonte: Portal Gerais4 egundo Gaiato (2018), foi na LDB 4.024/61, que a educação especial apareceu pela primeira vez legalmente. Esta lei assegurava ape- nas, aos “estabelecimentos de ensi- no público e particulares legalmen- te autorizada adequada represen- tação nos conselhos estaduais e o reconhecimento, para todos os fins, dos estudos neles realizados.” Essa lei não tratava da educação popular e, portanto, perpetuava a continui- dade das relações sociais atuais. 4 Retirado em https://portalgerais.com Em consonância com a autora Serra (2018), é correto afirmar que em 1970, uma grande preocupação era a defesa da educação como fator de aumento da produtividade indivi- dual, que colaboraria para a evolu- ção e o desenvolvimento do país. De 1970 a 1974, foram criadas 69 insti- tuições públicas especializadas e 213 instituições privadas para deficiên- cia mental. Conforme Costa Couto (2021), outra lei, a LDB 9.394/96, voltou a S 20 AUTISMO ser objeto de muitas análises, pois reserva um capítulo exclusivo para a educação especial. A presença do tema da educação especial nesta lei, muito provavelmente, representa al- gum crescimento da área em relação com a educação geral, nos sistemas de ensino, particularmente nos últi- mos vinte anos. De acordo com Grandin e Panek (2015), a educação especial aparece no texto do Capítulo V, Ar- tigo 58, que se entende da seguinte forma: “A modalidade de educação es- colar, oferecida preferencial- mente na rede regular de ensi- no, para educandos portadores de necessidades especiais”. A criança deficiente possui as mesmas necessidades emocionais que as outras crianças. Ela precisa de amor, que não a sufoque de cui- dados ou que seus comportamentos sejam supertolerado e, sobretudo, ela deve ter oportunidades de de- sempenho, autocontrole e o direito a um lugar de adulto, independente na sociedade (OMAIRI, 2014). Para a autora Farah (2021), o autismo é um espectro que não acontece devido a bloqueios ou mo- tivos emocionais, como insistiam os psicanalistas. Por ser um espectro, torna-se um tema ainda mais incô- modo, não só para quem lida com essas crianças no dia a dia, mas tam- bém para os demais técnicos, pela multiplicidade de diagnósticos en- volvidos. Segundo Rogers e Dawson (2014), a Conferência Mundial sobre Necessidades Educativas Especiais, realizada pela UNESCO, na Espanha em junho de 1994, conhecida como Declaração de Salamanca (1994), te- ve como principal objetivo de deba- te, a atenção educacional para alu- nos com necessidades especiais. Ne- la, os estados signatários, aos quais o Brasil pertence, afirmaram: Todas as crianças, de ambos os sexos, têm direito fundamen- tal à educação e, quea elas de- ve ser dada à oportunidade de obter e manter um nível acei- tável de conhecimentos; Cada criança tem característi- cas, interesses, capacidades e necessidades de aprendizagem que lhe são próprias; Os sistemas educativos devem ser projetados e os programas aplicados de modo que tenha em vista toda a gama dessas diferentes características e ne- cessidades; As pessoas com necessidades educacionais especiais devem ter acesso às escolas comuns, que deverão integrá-las numa pedagogia centralizada na cri- ança, capaz de atender a essas necessidades; As escolas comuns, com essa orientação integradora, repre- 21 AUTISMO sentam o meio mais eficaz de combater atitudes discrimina- tórias, de criar comunidades acolhedoras, construir uma sociedade integradora e dar educação para todos. Em consonância com a autora Gaiato (2018), é correto afirmar que a Declaração se dirige a todos os go- vernos, incitando-os a: Dar a mais alta prioridade po- lítica e orçamentária à melho- ria de seus sistemas educati- vos, para que possam abranger todas as crianças, independen- temente de suas diferenças ou dificuldades individuais; Adotar, com força de lei ou com política, o princípio da educação integrada, que per- mita a matrícula de todas as crianças em escolas comuns, a menos que haja razões convin- centes para o contrário; Criar mecanismos descentrali- zados e participativos, de pla- nejamento, supervisão e avali- ação do ensino de crianças e adultos com necessidades educacionais especiais; Promover, facilitar a partici- pação de pais, comunidades e organizações de pessoas com deficiência, no planejamento e no processo de tomada de de- cisões, para atender a alunos e alunas com necessidades edu- cacionais especiais; Assegurar que, num contexto de mudança sistemática, os programas de formação do professorado, tanto inicial co- mo contínua, estejam voltados para atender às necessidades educacionais especiais, nas es- colas integradoras. Conforme Serra (2018), a le- gislação brasileira se baseia neste e em outros documentos internacio- nais para garantir a inclusão social escolar de alunos com necessidades especiais. De acordo com Omairi (2014), a Constituição Federal de 1988, em seu Artigo 3º Inciso IV, e Art. 208 inciso III, diz que: Art. 3º Constituem objetivos fundamentais da República Federa- tiva do Brasil: IV - promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação. Art. 208. O dever do Estado com a educação será efetivado medi- ante a garantia de: III - atendimento educacional espe- cializado aos portadores de deficiên- cia, preferencialmente na rede regu- lar de ensino; Para os autores Grandin e Panek (2015), assim como dispõe a Lei de Diretrizes e Bases da Educa- ção Nacional 9.394/96 que define no Artigo 59 (Incisos I - III) que: 22 AUTISMO Art. 59. Os sistemas de ensino assegurarão aos educandos com ne- cessidades especiais: I - currículos, métodos, técnicas, re- cursos educativos e organização es- pecífica, para atender às suas neces- sidades; III - professores com especialização adequada em nível médio ou supe- rior, para atendimento especiali- zado, bem como professores do en- sino regular, capacitados para a in- tegração desses educandos nas clas- ses comuns; Portanto, embora a escola pos- sa ser um espaço de desenvolvimen- to de habilidades para crianças au- tistas, ela ainda é um grande desafio para os educadores, pois nem todas as crianças e adolescentes com au- tismo se adaptam às salas de aula do ensino regular. Vários alunos com autismo possuem outras deficiên- cias relacionadas, e se adaptam me- lhor na escola especial. Apenas uma equipe educacional e médica pode avaliar cada caso, conforme o com- prometimento individual de cada aluno (COCO DOS SANTOS, 2016). Segundo Farah (2021), pode- se ressaltar que os médicos foram os primeiros a reconhecer a necessi- dade de educação escolar e inclusão social para essa clientela que estava misturada em clínicas e hospitais psiquiátricos sem diferenciar idade, classe social, cor da pele ou sexo, es- pecialmente as que possuíam defici- ência mental, colaborando para a construção de uma nova identidade para o paciente. Em consonância com as auto- ras Rogers e Dawson (2014), é cor- reto afirmar que a inclusão de alu- nos com autismo na escola merece muita atenção. Inclusão é uma ques- tão ética que implica valores funda- mentais, pois a fixação pela inclusão pode ser um modo de tornas as dife- renças não visíveis e, consequente- mente, um profundo desprezo pela identidade. Esta é uma das questões a serem consideradas ao planejar a educação de pessoas com necessida- des especiais, como o autismo. 23 24 AUTISMO 5. Organização da Área Física Fonte: Clinica Neural5 onforme Gaiato (2018), ao pla- nejar aulas para alunos autis- tas, as disposições físicas da sala de aula deve ser levada em conta. A dis- posição dos móveis na sala também pode facilitar ou dificultar o funcio- namento independente do aluno, portanto é importante reconhecer saber e respeitar as regras e limites. Sendo assim, não se pode deixar de lado as dificuldades que o autista apresenta, quando for planejar a or- ganização física da sala de aula. 5 Retirado em https://clinicaneural.com.mx/ Muitos alunos possuem uma dificuldade de organização pessoal, e não sabem para onde ir e a ma- neira mais fácil de chegar lá. Fre- quentemente, eles não entendem as instruções ou regras por causa das dificuldades de recepção da lingua- gem. A organização do ambiente for- nece pistas visuais para ajudá-los a compreender o local em que estão. Algumas pessoas com autismo são facilmente distraíveis por qualquer estímulo que esteja ao seu redor, C 25 AUTISMO dessa forma, os professores preci- sam organizar o ambiente de modo que não ocorra muita distração (BRITES e BRITES, 2019). De acordo com Coco dos San- tos (2016), antes do planejamento da organização física da sala de aula, o professor pode querer avaliar o ambiente em geral. Na maioria das vezes, os professores não possuem muita escolha quanto à sala que lhes é atribuída. Mas, caso possa esco- lher, há alguns pontos a serem con- siderados, como: O tamanho da sala; Quais as outras salas que estão próximas; Número e acesso a pontos de luz; Localização do banheiro mais próximo; Iluminação; Espaço na parede que possa distrair; Outros aspectos relacionados ao imóvel. Fonte: https://www.gmetodo.com.br Para a autora Omairi (2014), alguns aspectos inadequados podem ser negligenciados ou até mesmo se- rem alterados, mas há situações que podem exigir uma mudança de am- biente. Quando os alunos possuem o hábito de correr, não é recomendado uma sala com muitas saídas. Uma sala para alunos de nível intermedi- ário, não deve ser localizada pró- ximo ao jardim de infância, pois não oferece chances para os alunos soci- alizar, e estigmatizam os alunos mais velhos. Salas muito pequenas ou com espaço insuficiente para guardar objetos torna o ambiente desconfortável, pois sempre terá al- go na frente do aluno, ou ficam mui- to amontoados na hora dos traba- lhos, o que não permite uma atmos- fera de aprendizagem relaxante. Segundo Grandin e Panek (2015), um fator muito importante, que deve ser priorizado ao escolher a sala de aula é a localização do ba- nheiro, para que os professores que estão realizando a tarefa de treinar os alunos para usar o banheiro não precisem andar longas distâncias toda vez que o aluno precisar ir até o banheiro. Mesmo no caso de alunos independentes no uso do banheiro, não é recomendadoque o tempo de aula seja desperdiçado em longas idas ao banheiro. 26 AUTISMO Importância do Apoio Fa- miliar na Formação Escolar Em consonância com a autora Farah (2021), é correto afirmar que conforme a Constituição Brasileira de 1988, o Estado deve garantir os direitos das pessoas com deficiência e seu atendimento de forma correta, mas, segundo a perspectiva capita- lista, as pessoas com deficiência são consideradas incapazes, improduti- vas e geralmente não consumidoras, e que geram um alto custo ao erário público. Conforme Rogers e Dawson (2014), as iniciativas por parte da fa- mília, embora contribuam muito, também reforçam a noção de que as pessoas com deficiência são um pro- blema da família, não da sociedade, e que a família deve arcar com as di- ficuldades sozinha. Contudo, inde- pendente da proposta pedagógica, o atendimento consciente e responsá- vel não deve ocorrer apenas no am- biente escolar. As famílias de pes- soas com autismo desempenham um papel vital em seu desenvolvi- mento educacional. São famílias que vivenciaram dor e decepção em dife- rentes fases da vida, desde a notícia da deficiência e ao longo do processo de desenvolvimento da criança. A exclusão social é muito co- mum nessas situações, e muitas ve- zes não depende da situação socioe- conômica. Por exemplo, quando o fi- lho entra na escola, os pais que po- dem pagar uma escola privada têm as mesmas dificuldades que os pais apenas possuem a escolha pública como opção. As barreiras são as mesmas para todas as classes soci- ais, e dificultam a entrada do aluno na escola (SANTOS GOMES, 2015). De acordo com Brites e Brites (2019), os sentimentos da família em relação às deficiências dos filhos são cíclicos e podem variar entre aceitação e rejeição. Por exemplo, quando o filho chega à puberdade, costuma-se compará-la com outros jovens, e o resultado dessa compara- ção é em sua maioria negativo, fo- cando somente no que ele não tem habilidade para fazer, por mais que já tenha se desenvolvido. A falta de trocas afetivas e de comunicação, principalmente nas famílias de pes- soas com autismo, costuma ser a que apresenta maior dificuldade, pois os autistas apresentam dificuldades es- pecíficas em compreender as dife- rentes emoções humanas. Eles dão a impressão de não ter sentimentos, mas na realidade, esse comporta- mento pode ser consequência de uma incapacidade cognitiva. Para a autora Coco dos Santos (2016), a família pode desempenhar um papel especial no desenvolvi- mento das crianças com autismo na 27 AUTISMO escola, em particular, quando forne- cem informações sobre as formas de comunicação da criança a equipe educacional. Se a criança usa pelo menos uma forma de comunicação, as outras podem ser desenvolvidas. A entrada de uma criança com au- tismo na escola pode trazer mudan- ças no ambiente familiar, pois a cri- ança frequenta um grupo social dife- rente e tem a oportunidade de inte- ragir com outras crianças. Os pais, no que lhe diz respeito, começam a se relacionar com outros pais nesse novo ambiente, e a acreditar nas oportunidades de desenvolvimento e aprendizado sistemático de seus fi- lhos. Segundo Omairi (2014), é de extrema importância estabelecer co- nexões entre familiares, professores, crianças e os outros profissionais en- volvidos, com a finalidade de possi- bilitar que as atividades propostas sejam adequadas às necessidades e especificidades de cada criança, pois apesar da escola aceitar crianças com as mesmas necessidades espe- ciais, cada uma tem seu tempo pró- prio e a sua individualidade, de mo- do que cada um possui uma rotina determinada, que deve ser respei- tada para se conseguir o melhor de- senvolvimento possível da aprendi- zagem. Autismo e Educação Em consonância com os auto- res Grandin e Panek (2015), é corre- to afirmar que o único espaço social que divide com a família a responsa- bilidade pela educação é a escola. Ela proporciona uma transitorie- dade entre as diferenças individuais e as necessidades coletivas, e oferece ao indivíduo a chance de desenvol- ver comportamentos mais sociali- zantes. Por exemplo, ao se propor a inclusão de pessoas com necessida- des especiais, é preciso respeitar as características de sua natureza, com o objetivo de adquirir um comporta- mento social mais aceitável, mas le- vando em consideração as necessi- dades especiais de cada aluno e, principalmente, estimular que os pais se comportarem de maneira mais realista possível, e evitar a fan- tasia, sempre presente, de cura. Conforme Farah (2021), além de escolher o que incluir no currícu- lo de crianças com autismo, é neces- sário conscientizar os membros da família sobre os males da infantiliza- ção do aluno, e os benefícios da cri- ança aprender a ser independente, com o intuito de desenvolver plena- mente o potencial de pessoas com autismo, pois os pais devem se lem- brar da dura realidade, mas imutá- vel, que eles não viverão para sem- pre. 28 AUTISMO A parceria entre família e es- cola é destacada na Declaração de Salamanca, o envolvimento de am- bas as partes garante que os pais es- tejam ativamente envolvidos na to- mada de decisões e no planejamento educacional de seus filhos, com uma comunicação clara e aberta. A maio- ria das famílias enxergam a escola como um lugar privilegiado para o desenvolvimento geral de seus fi- lhos. Os alunos com autismo apren- dem de maneira diferente, querem e pensam de maneira diferente. O foco principal deve ser disciplinar a atividade e não imobilizar a criança, corrigir ensinando, não reprimindo, visto que o fundamento afetivo da atividade resulta na disciplina e na socialização (SELLA e RIBEIRO, 2018). De acordo com Santos Gomes (2015), a inclusão educacional no Brasil é uma ação política, cultural, social e educacional, que tem como objetivo assegurar o direito de todos os alunos de estarem juntos, apren- dendo e participando. A Educação Especial está sendo debatido no Bra- sil baseada na Declaração Universal dos Direitos Humanos, de 1948. Embora a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, Lei Nº 9.394/96, recomendar que as pes- soas com deficiência tenham inclu- são preferencial no ensino regular, somente depois da Constituição de 1988 e sob a influência da Declara- ção de Jomtien (1990) e da Declara- ção de Salamanca (1994), começou a ser discutida a universalização da educação no Brasil, e ocorreu uma implementação nas escolas regula- res uma política de educação inclusi- va, que culmina na Política Nacional de Educação Especial, na perspec- tiva da Educação Inclusiva (2008), que estipula que os alunos com TEA e aqueles com deficiência e altas ha- bilidades/superdotação devem ser inseridos na rede regular de ensino, receber atendimento educacional especializado (AEE), em turno sepa- rado. Para os autores Brites e Brites (2019), o papel do AEE é identificar, desenvolver e organizar recursos educacionais e de acessibilidade que removam as barreiras à participação total dos alunos nas escolas públicas e privadas, levando em conta as suas necessidades específicas. As ativida- des realizadas por esses alunos nas salas de AEE devem ser diferentes das realizadas em sala de aula regu- lar, e não substituem a frequência escolar, elas devem complementar ou suplementar o processo de aprendizagem desses alunos. Segundo Coco dos Santos (2016), a ação do governo, após a in- trodução da diretiva de 2008, au- mentou inegavelmente a entrada de alunos com autismo na sala de aula 29 AUTISMO regular. Assim, é importante avaliar os aspectos qualitativos desse aces- so, pois sabe-se que apenas a inclu- são desses alunos não é suficiente para possibilitar umaaprendizagem realmente significativa por parte desses alunos. O Autismo e a Formação Do- cente Em consonância com a autora Omairi (2014), é correto afirmar que estratégias educacionais adaptadas ao desenvolvimento da aprendiza- gem de crianças com TEA exigem uma mudança que possibilite a evo- lução das diversas habilidades que precisam ser desenvolvidas para su- perar as maiores dificuldades desses alunos. Para que o professor desen- volva estratégias educacionais adap- tadas, a escola pode ajudá-lo com al- guns materiais que ele poderá usar em sala de aula. Dessa forma, o pro- fessor precisa pesquisar métodos e estar sempre atualizado sobre os mais eficazes para ajudar seus alu- nos a terem sucesso nas fases de aprendizagem. Conforme Grandin e Panek (2015), a escolha certa de estratégias educacionais adaptadas é de extre- ma importância para uma aprendi- zagem bem-sucedida, porque quan- do se refere a crianças com TEA, é preciso entender que elas têm parti- cularidades e respostas específicas diante das atividades em sala de aula. O professor deve optar por ati- vidades fragmentadas e que traba- lhem processos periódicos, para que os alunos se acostumem com as eta- pas, e consigam realizar de forma sa- tisfatória o que é proposto. É importante reconhecer que a formação de professores é um dos primeiros passos na busca de quali- dade para a inclusão de alunos com TEA. Ao pensar na formação de pro- fessores, se baseia naquela em que o professor, na maior parte das vezes, realiza por conta própria, estimula- do por seus próprios interesses, par- ticulares, buscando compreender suas demandas e medos em relação aos alunos com quem trabalha no seu dia a dia, visto que na maioria das vezes, o Estado não proporciona uma formação continuada. Portan- to, é preciso permitir que os profes- sores reflitam sobre sujeitos com TEA, eliminando o pensamento de que são pessoas que vivem em um mundo próprio, que não interage, não aprende, não se comunica, pas- sando a vê-los como pessoas capazes de ser e de saber, que possui capaci- dade de se comunicar e relacionar com o outro. Um aluno que é com- preendido em suas necessidades e particularidades, pode se desenvol- ver muito e constantemente, com 30 AUTISMO uma ação pedagógica de qualidade (TEIXEIRA e GAIATO, 2018). De acordo com Sella e Ribeiro (2018), requisitos educacionais e le- gais exigem acesso à escola para alu- nos com TEA, mas a escola necessita de muito mais do que apenas ofere- cer acesso, o sistema deve proporci- onar a permanência, e esta ação in- clui a formação de professores para trabalharem com a diversidade dos alunos com autismo, e suas múlti- plas maneiras de expressão, pois a busca por capacitação não pode se li- mitar apenas a técnicas e métodos, acima de tudo, deve estar voltada para a compreensão do sujeito e de suas ações para com o outro, a escola e seus desafios, e as demandas da aprendizagem. Tudo isso reforça a motivação dos professores em bus- car formação específica na área. A inclusão educacional das pessoas com deficiência, há algum tempo re- quer a formação de profissionais da educação qualificados para desen- volver medidas que atendam à di- versidade do processo de aprendiza- gem, em um desafio constante às formas tradicionais de organização do trabalho educativo. Para a autora Santos Gomes (2015), a formação de professores de Educação Inclusiva deve ser crítica e reflexiva, motivando os professores a desenvolverem o pensamento au- tônomo, buscando soluções, refle- tindo sobre o processo de constru- ção do conhecimento do aluno e compreendendo como estão fazendo sua elaboração mental e cognitiva. Esta proposta inclui o compromisso pessoal dos professores em serem responsáveis por uma investigação e revisão sistemática de conceitos, es- tabelecendo conexões entre teoria e prática, e qualificando suas ações. Dessa forma, a necessidade de capa- citação é mais específica, pois os profissionais buscam não apenas in- formações gerais, mas sim informa- ções que atendam questões que já existem com alunos já matriculados no sistema, que já estão na escola, e ainda causam estranhamento e ansi- edade nos professores, apesar de uma jornada rumo à inclusão. A mo- tivação dos professores para uma formação específica nesta área é o aluno real, que já faz parte do seu dia a dia e que o faz sentir-se impotente por não saber o que fazer. A busca por recursos produtivos que esses alunos possam construir intermedi- ada pelo professor para definir suas oportunidades de aprendizagem e produção de sentido. Segundo Brites e Brites (2019), todo profissional da educa- ção precisa entender as especificida- des da Síndrome do Espectro Autis- ta, porque esta é a única maneira de 31 AUTISMO entender as crianças e suas necessi- dades. Conhecendo melhor a reali- dade da criança, o trabalho pedagó- gico desenvolvido pode ser bem su- cedido. Em consonância com a autora Coco dos Santos (2016), é correto afirmar que a diversidade é intrín- seca à condição humana e sua valo- rização é essencial para a educação, para engajar todas as crianças nas relações sociais. A inclusão tem co- mo objetivo a mudança dos contex- tos sociais como uma exigência para o desenvolvimento pessoal e social das crianças com deficiência, para lhes assegurar as oportunidades de exercerem a sua cidadania. 32 33 AUTISMO 6. Estratégia de Ensino Fonte: Autismo em Dia6 onforme Omairi (2014), alunos autistas geralmente apresen- tam uma boa resposta a sistemas or- ganizados. O professor precisa orga- nizar a sala de aula para ensinar os alunos de forma eficaz. Esta e outras informações, normalmente, são for- necidas por instrutores de professo- res e outros profissionais familiari- zados com o autismo. Mas, geral- mente, há pouca compreensão de como projetar e usar o conceito de estrutura. 6 Retirado em https://www.autismoemdia.com.br Segundo definições proveni- entes de dicionários, estrutura é co- mo o ato de criar ou construir, clas- sificando os objetos em um padrão organizacional definido. Os profes- sores precisam organizar a vida diá- ria na sala de aula, para que os alu- nos consigam maximizar suas habi- lidades e desenvolver aquelas que são mais prejudicadas (LOBE e BUSCH, 2015). C 34 34 AUTISMO De acordo com Teixeira e Gai- ato (2018), as dificuldades de lin- guagem receptiva, que é a capaci- dade de entender as mensagens ou- vidas, é intrínseco ao autismo. Mui- tas vezes, o professor pensa que o aluno entendeu a mensagem mesmo sem ele ter entendido, o que leva a respostas agressivas ou à falta de ini- ciativa. Também pode haver mo- mentos em que o aluno não tenha linguagem suficiente para comuni- car verbalmente ao professor que está cansado, com calor, com fome, entediado ou quer ir embora, exceto por acessos de raiva e pirraças. Para as autoras Sella e Ribeiro (2018), o aluno que possui autismo pode possuir memória sequencial pobre e ser incapaz de lembrar a or- dem dos eventos, mesmo na vida co- tidiana, ou não ter certeza do mo- mento em que acontecerá algo dife- rente. Ele, geralmente, se sente mais confortável em atividades que está acostumado e, portanto, se recusa a aprender novas atividades. Fre- quentemente, ele apresenta incapa- cidade de se organizar ou restringir seu próprio comportamento, e des- conhece totalmente as regras soci- ais. O que pode ter como resultado uma tentativa de chamar a atenção para si de maneira inadequada ou se isolar. Por causa das suas dificulda- des nas relações sociais, podem não estar motivados para agradar as ou- tras pessoas, ou podem não se sensi- bilizar com elogios, levandoa per- cepção de que existe uma resistência à aprendizagem. Segundo Santos Gomes (2015), diversas pessoas com autis- mo são pensadores visuais; eles não pensam por meio da linguagem. Em geral, os substantivos são mais fá- ceis de aprender porque ele pode re- lacionar a palavra em sua cabeça a uma imagem. Para ensinar substan- tivos, a criança precisa ouvir o pro- fessor pronunciar a palavra, ver a imagem e a palavra escrita ao mes- mo tempo. A mesma coisa deve acontecer ao ensinar um verbo, o professor deve segurar uma carta com o nome do verbo, e pronunciar o verbo enquanto executa a ação. Em consonância com os auto- res Brites e Brites (2019), é correto afirmar que alguns conceitos são di- fíceis para a criança autista compre- ender, a menos que especificamente demonstrados. Por exemplo, ao en- sinar o conceito de para cima/para baixo, professor pode usar um avião de brinquedo e, pronunciar para ci- ma ao decolar e para baixo ao pou- sar, assim será mais fácil para a cri- ança autista entender esses concei- tos. Várias crianças autistas pos- suem habilidades em desenhos, ar- tes e computadores, e focam em um 35 35 AUTISMO determinado tema. A melhor manei- ra de trabalhar com essa fixação é utilizá-la para estimular os traba- lhos escolares. Se uma criança gosta de carros, o professor pode ler um li- vro sobre trens e fazer exercícios de matemática utilizando trens. Conforme Coco dos Santos (2016), quando se trata de crianças não verbais, elas não conseguem processar estímulos verbais e visuais ao mesmo tempo. Elas possuem apenas um canal, aprendem melhor com apenas um tipo de estímulo, e têm grande dificuldade em absorver informações visualmente e acustica- mente. Frequentemente, crianças mais velhas e não-verbais podem aprender melhor por meio do toque. O significado das letras pode ser en- sinado permitindo que as crianças toquem nas letras de plástico. Dessa forma, elas conseguem aprender a rotina diária ao sentir determinados objetos, minutos antes da atividade ser realizada, como por exemplo, se- gurar uma colher quinze minutos antes do almoço. Algumas pessoas autistas têm processamento visual deficiente e acham mais fácil ler letras impressas em preto, sobre um papel colorido para reduzir o contraste. A hipersen- sibilidade sensorial pode, frequente- mente, levar a distúrbios comporta- mentais. A distração e a falta de con- cepção e organização da temporali- dade também podem causar com- portamentos que influenciam na aprendizagem (MAUAD FERNAN- DES, 2020). De acordo com Lobe e Busch (2015), organizar a sala de aula ou outro ambiente escolar no nível de compreensão do aluno pode reduzir suas dificuldades e, assim, melhorar o aprendizado. Rotina no Autismo Para os autores Teixeira e Gai- ato (2018), uma característica bem peculiar do autismo é a necessidade de segurança em seu dia a dia, para atender a essa necessidade, reco- menda-se montar a rotina da sema- na, com o auxílio de fichas ou carta- zes, para organizar a rotina do aluno autista. Usar o sistema com base em imagens ou fotos selecionadas con- forme as necessidades e/ou interes- ses individuais. Quando a pessoa au- tista faz a conexão entre a atividade e o símbolo, isso torna a comunica- ção e a compreensão mais fáceis. 36 36 37 AUTISMO 7. Sugestões de Jogos Fonte: Partmed Saúde7 egundo Sella e Ribeiro (2018), os jogos são recursos de apren- dizagem notáveis e, quando usados corretamente, aumentam as chances de compreensão por meio de experi- ências significativas. Além disso, de- vido à sua natureza coletiva, os jogos tornam possível que os alunos autis- tas compartilhem informações, fa- çam perguntas e expliquem suas ideias e estratégias, evoluindo em seu processo de aprendizagem e co- municação. 7 Retirado em https://blog.partmedsaude.com.br Batalha Para o professor trabalhar com os alunos com esse jogo, é preciso: Material - cartas do baralho de Ás a 10; Conteúdo - leitura de núme- ros, comparação. O objetivo do jogo é ganhar mais cartas. Um dos jogadores dis- tribui as cartas, dando uma para ca- da participante em cada rodada. S 38 AUTISMO Quando chega sua vez de jogar, cada jogador deve abrir a primeira carta de seu monte. Quem revelar a carta mais alta leva todas as cartas apre- sentadas. As jogadas são repetidas do mesmo modo até que todas as cartas tenham sido distribuídas. Se abrirem as mesmas cartas, os joga- dores empatados devem revelar ou- tra carta e aquele que tirar a maior, é vitorioso. Pode ser jogado em pa- res ou em pequenos grupos. Sete Cobras Para o professor trabalhar com esse jogo é preciso: Material - 2 dados, lápis e pa- pel; Conteúdo - soma de dados, lei- tura e grafia de números. O professor deve escrever a se- quência de números numa folha de papel, de 2 a 12. Cada jogador, na sua vez de jogar, deve somar os da- dos e marcar o número sorteado com um X. Se o total for 7, o jogador desenha uma cobra em seu pedaço de papel. O jogador que marcar to- dos os números da sequência pri- meiro, com o menor número de co- bras, é o vencedor. Se tiver 7 cobras, sai do jogo. Caça ao Quebra-Cabeça A meta do jogo é motivar o au- mento do intervalo de atenção com- partilhada. Para o professor traba- lhar com esse jogo é preciso: Figuras, quebra-cabeças e pas- seios pela sala/escola. Preparação - imprimir da in- ternet ou desenhar uma versão grande de um dos personagens favoritos da criança (Barney, Backyardigans, Mickey, den- tre outros). É indicado plastifi- car, para tornar o material mais durável, e cortar pedaços para fazer um quebra-cabeça. O professor deve esperar que a criança com autismo, dê um “Sinal Verde para Interação”, quando isso acontecer, o professor deve apresen- tar a atividade, pegando uma ou duas peças do quebra cabeça. Ele de- ve explicar, animadamente que figu- ra será formada quando a criança montar todas as peças, e dizer qual a forma de pegar mais peças, após ela ir passear pela sala ou pelas depen- dências da escola com você. Apro- veite esse momento para apresentar a criança aos colegas de classe e de- mais pessoas da escola. Conversa com os Dados O principal objetivo deste tipo de jogo dados é a conversação com conteúdo social. Para realizar essa atividade com a criança, é preciso: Escolher o assunto que a cri- ança gosta de conversar. 39 AUTISMO Preparação - fazer dois dados gigantes. Um dado será o dado das “situações”, cada face terá uma situação diferente relaci- onada com a área de interesse de sua criança. No outro dado, escreva em cada face nomes de pessoas que sua criança co- nhece, como por exemplo membros da família, amigos da escola, professora e o nome da criança. Início da Atividade - explicar para a criança que neste jogo, cada um tem a sua vez para jo- gar ambos os dados ao mesmo tempo. A combinação entre a situação e o nome da pessoa ditará o assunto da conversa. A ideia é conversar sobre como aquela pessoa agiria naquela determinada situação. O obje- tivo é encorajar conversas que tenham o foco em informações pessoais. Quem jogar os dados e obtiver a mesma combinação uma segunda vez, deve jogar o dado dos nomes novamente até que tenha um nome dife- rente para iniciar a conversa. O professor deve descrever a situação de uma forma animada, di- vertida e muito detalhada. É neces- sário incluir diferentes interesses da criança na descrição. Por exemplo, se a criança gosta de humor paste- lão, inclua pessoas que escorregam e caem na história. É preciso ajudar a criança a contar a história com a fre- quência que o professor achar neces- sário. No momento em que a criançaentender bem como o jogo funciona e estiver muito motivada, o profes- sor deve começar com desafios mai- ores, oferecer menos ajuda, ficar em silêncio e esperar que a criança es- pontaneamente dê mais ideias. Se for preciso, o professor pode dar al- gumas dicas sobre a personalidade dessa pessoa, como por exemplo, “você se lembra de como o fulano gosta de falar o tempo todo?” “O que você acha que ele faria se o carro quebrasse? 4 0 41 AUTISMO 8. Referências Bibliográficas BRITES, LUCIANA; BRITES, CLAY. Mentes Únicas: Aprenda Como Des- cobrir, Entender E Estimular Uma Pessoa Com Autismo E Desenvolva Suas Habilidades Impulsionando Seu Potencial. São Paulo: Gente, 2019. COCO DOS SANTOS, EMILENE. Lin- guagem Escrita e a Criança com Au- tismo. 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