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LIVRO-Teologia SistematicaAulasTestesConhecimentosaulas 1 a 10

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Sumário
Prefácio 7
1. Cosmologia: 
a origem do universo 9
Teogonia 10
Cosmogonia 11
Cosmologia 14
A origem da Filosofia grega. 19
Tomás de Aquino: conceito filosófico e conceito teológico da criação 22
Explicação metafísica da criação: Deus como causa 25
O Iluminismo e a impossibilidade metafísica 27
Diálogo entre ciência e religião 29
2. Angeologia no primeiro testamento 35
Angeologia no primeiro testamento 36
Os anjos na Torá 37
Angeologia no livro do Êxodo 39
Angeologia na literatura sapiencial 43
Angeologia nos profetas de Israel 45
Angeologia no segundo testamento 47
Angeologia nos evangelhos 48
Angeologia no apocalipse 52
Anjo, querubim, serafim e arcanjo 53
Apropriação do misticismo e das superstições da angeologia 57
3. Antropologia teológica: estudos da origem, 
queda e redenção humanas 63
O sentido da vida e o fenômeno humano 64
A criatura como imagem e semelhança do criador 71
Fundamentos bíblicos 72
O homem compreendido pelo mistério da revelação 75
Os fundamentos bíblicos da revelação 75
 O desligamento do criador: o pecado 79
O pecado nas escrituras sagradas 80
A Redenção em Jesus Cristo: Re-Ligare 84
A Promessa do Emanuel e o servo de Yahweh 84
A encarnação como kenosis 84
A encarnação nos evangelhos 85
Kerigma: Jesus Cristo une Deus e a humanidade 88
4. Cristologia: estudos sobre a pessoa de 
Jesus Cristo 91
A natureza humana e Divina de Jesus: 100% Deus e 100% homem 92
Introdução 92
Jesus de Nazaré verdadeiro homem 95
O testemunho das escrituras sobre a humanidade de Jesus 97
A humanidade de Jesus Cristo no primeiro testamento 97
A humanidade de Jesus em Paulo 98
A humanidade de Jesus Cristo nos evangelhos sinóticos 99
As Heresias Cristológicas 103
A relação entre o Pai, o Filho e o Espírito Santo 107
Fundamentos bíblicos da fé trinitária 108
A revelação da trindade no segundo testamento 108
A trindade na teologia sistemática de Agostinho e Boff 109
A heresia do Arianismo e a resposta dos Concílios de Niceia e 
de Constantinopla: Credo Niceno-Constantinopolitano 113
5. Soteriologia: estudos sobre doutrinas 
da salvação 119
A soberania de Deus 120
A soberania divina no anúncio de Jesus de Nazaré 122
A conversão e a salvação em Jesus 125
A igreja como canal da graça e da vida eterna 127
Eclesiologia ecumênica 127
O que é ecumenismo? 128
A origem do movimento ecumênico 130
Eclesiologia ecumênica 132
Hermenêutica da koinonia 135
Justificação, regeneração, santificação, glorificação 138
Justificação e regeneração 138
Santificação e glorificação 140
7
Prefácio
Prezados(as) alunos(as),
Neste componente curricular você estudará temas fundamentais de teologia 
sistemática tais como criação e evolução, angeologia, antropologia teológica, cris-
tologia e soteriologia.
Na primeira unidade você verá que a teologia contemporânea faz uma interfa-
ce com os demais saberes, sobretudo com a filosofia e com as ciências na busca das 
causas materiais da origem do universo. É uma atitude de diálogo na diversidade 
de concepções, cada uma respeitando a autonomia da outra. É uma postura de 
complementariedade e não de confronto.
Esta nova postura da teologia segue na linha da interdisciplinaridade, da trans-
disciplinaridade, da pruridisciplinaridade e da metadisciplinaridade, ou seja, o 
verdadeiro conhecimento é uma construção coletiva.
Na unidade dois, a reflexão teológica é sobre um tema fascinante, os anjos. 
Você conhecerá a perspectiva bíblica sobre esses seres angelicais. Segundo a Sagrada 
Escritura eles são muitos e estão a serviço de Deus na defesa da vida humana e 
da criação. Verá como os Arcanjos Miguel, Gabriel e Rafael são mensageiros de 
grandes notícias e protetores de grandes causas humanitárias. Igualmente estudará 
a apropriação negativa desta espiritualidade pelo misticismo e pela superstição.
Na terceira unidade o estudo é sobre a pessoa humana: antropologia teológica. 
Você analisará o ser humano como criado a Imagem e Semelhança da Trindade. 
É na verdade uma antropologia cristológica, a pessoa humana redimido por Jesus 
Cristo agora é um alter Christi, outro Cristo. Não é o Homo hominis lúpus ou o 
inferno como afirma a antropologia filosófica de John Lock e de Jean Paul Sartre. 
Mas batizada e convertida é Imagem e Semelhança do redentor.
A unidade quatro é sobre o mistério cristológico. A cristologia e a Trindade são 
os estudos mais fascinantes da teologia. Você estudará dois paradigmas cristológi-
cos: cristologia para cima ou ascendente e cristologia para baixo ou descendente. 
Verá que o kerigma colocou esses dois paradigmas de abordagem, compreensão e 
proclamação da Segunda Pessoa da Santíssima Trindade. Jesus Cristo é verdadeiro 
Deus e verdadeiro Homem, o salvador.
Por fim, na unidade cinco será abordado o tema da salvação, soteriologia. 
Você voltará na unidade porque a salvação na perspectiva da teologia cristã inicia 
com a criação e passará por todas as outras unidades verificando o papel dos anjos 
na história da salvação, a pessoa humana como protagonista da ação redentora de 
Deus em Jesus Cristo, unidades três e quatro. E verá também a missão das igrejas 
como habitat da experiência salvíficas na celebração do mistério pascal, na procla-
mação da Boa Nova, na comunhão e partilha do pão. Daí a necessidade de uma 
eclesiologia ecumênica.
Bons estudos!
Cosmologia: 
a origem do 
universo
1
capítulo 1 • 10
Cosmologia: a origem do universo
No estudo de Teologia sistemática II você aprofundará seus conhecimentos 
sobre uma temática fascinante: a origem do universo. Tema este que a historiogra-
fia testemunha, vem ocupando a preocupação intelectual da humanidade de longa 
data. Juntamente como questões: quem sou eu? De onde vim? O que vim fazer 
aqui e agora? E para onde vou? Estas questões foram respondidas pelas religiões, 
pela fé, como veremos a resposta religiosa sempre foi a fé na criação, Deus criou 
o universo do ‘nada’. Segundo o livro do Gênesis “no princípio Deus criou o céu 
e a terra. Ora a terra estava vazia e vaga, as trevas cobriam o abismo, um vento de 
Deus pairava sobre as águas” (Gn 1,1-2). 
Igualmente a mitologia abordou esta questão também usando sua metodo-
logia própria: a imaginação, daí, embora sejam importantes, mas o seu caráter 
fantástica, subjetivo e sem base “empírica” ou verificável na experiência.
Por outro lado, na passagem do século sexto para o século quinto antes de 
Cristo, nas colônias orientais da Grécia clássica, uma nova metodologia de abor-
dagem destas questões será “inventada” pelos filósofos pré-socráticos: a aborda-
gem racional ou abordagem filosófica. E esta abordagem pelo seu caráter inovador 
receberá o nome de cosmologia. Porém, antes de analisarmos como é esta nova 
forma de compreender e explicar o mundo, o universo, o cosmo vamos fazer uma 
distinção entre teogonia, cosmogonia e cosmologia.
OBJETIVOS
• Estudar a origem do universo;
• Analisar as relações mito, filosofia, religião, teologia e ciências;
• Compreender o sentido da metafísica.
Teogonia
A teogonia busca a compreensão das origens do universo a partir de uma 
concepção politeísta.
Hesíodo que viveu por volta do século VIII antes de Cristo é considerado o 
grande representante desta abordagem. Numa obra intitulada Teogonia de forma 
capítulo 1 • 11
‘fantástica’, imaginativa, o poeta fala do nascimento dos deuses e da origem do 
universo, já que este surgiu das mãos dos deuses. “É uma explicação mítica-poé-
tica-fantástica da origem do universo, dos fenômenos cósmicos, a partir do caos 
originário, que foi o primeiro a se gerar”. 
A narrativa teogônica é uma abordagem imaginativa que concebe a gênesis 
de tudo através de relações sexuais entre os deuses, então surge o cosmo, isto é, a 
origem dos deuses, titãs, heróis, homens e o mundo natural. ‘É uma narrativa em 
forma de genealogia que mostra o nascimento, o lugar do nascimento, as descen-
dências, reunião de todos os seres criados, ligados por laços de parentescos’.
CONEXÃO
Você poderáaprofundar este tema estudando a Obra de Hesíodo Teogonia. A origem 
dos deuses, traduzida por Jaa Torrano. Disponível em: <http://sanderlei.com.br/PDF/Hesio-
do/Hesiodo-Teogonia.pdf>. Acesso em: 03 maio 2018.
Cosmogonia
Homero é um gênio da literatura épica, segundo a historiografia seu período é 
o século IX antes de Cristo. Dele temos duas obras magníficas, Illíada e Odisseia. 
São clássicos da literatura ocidental. Na primeira ele relata a longa guerra de Tróia, 
vencida pelos gregos depois de dez anos de batalha. Segundo Homero, a causa foi 
o rapto da princesa Helena esposa de Menelau, feito por Paris, filho do rei Priano 
de Tróia. Mas sabemos que o interesse maior dos gregos era o estreito do mediter-
râneo dominado por Tróia onde todos os navios deveriam pagar uma espécie de 
pedágio para navegarem, medida com a qual os gregos não concordavam. 
A hipótese mais provável é que Tróia fez um acordo com os gregos de nave-
garem gratuitamente por lá, então Priano manda seus dois filhos Heitor e Paris 
à Grécia para celebrar o acordo, no retorno a Tróia, Páris leva consigo a princesa 
Helena, então esposa de Menelau. Então “pela honra de Menelau” o exército grego 
atacou a fortaleza de Troia e somente pela esperteza de Ulisses, com o famoso ca-
valo de troia, os gregos conseguiram a vitória. Veja que Helena é apenas o estopim 
da guerra, mas não a causa. 
capítulo 1 • 12
CONEXÃO
Para conhecer um pouco melhor esta questão você poderá ler O Elogia a Helena no 
texto de Górgias (485-375). Disponível em: <http://www.consciencia.org/gorgiashumberto.
shtml>. Acesso em: 03 maio 2018.
Outra obra monumental de Homero é a Odisseia, na qual o autor narra o 
retorno de Odisseu ou Ulisses o herói grego da guerra, que perambulou por mais 
dez anos pelo mediterrâneo depois de ter destruído a cidade sagrada de Tróia. No 
seu retorno à terra natal, Ítaca, teve que travar outra guerra para recuperar sua casa 
e sua família que foram assedias por pretendentes de seu patrimônio e sobretudo 
de sua fiel esposa Penépole.
Porém, vamos conhecer um pouco a outra obra prima de Homero, a cosmo-
gonia, ela é uma evolução na compreensão da origem do universo em relação à 
teogonia de Hesíodo. ‘Ela narra a geração da ordem do universo pela ação e pelas 
relações sexuais entre forças vitais que são entidades concretas e divinas’.
Segundo Giovanni Reali e Dario Antiseri 
Homero tem grande senso de harmonia, da proporção, do limite e da medida. Não se 
limita a narrar uma série de fatos, mas também pesquisa suas causas e razões (ainda que 
em nível mítico-fantástico). Procura apresentar a realidade em sua inteireza, ainda que de 
forma mítica (deuses e homens, céu e terra, guerra e paz, bem e mal, alegria e dor, tota-
lidade dos valores que regem a vida do homem) (REALI e ANTISERI, Vol. 1, p. 7, 2003).
CONEXÃO
Veja o estilo literário deste gênio chamado Homero:
“Ninguém, com toda certeza, é capaz de assumir a liderança em todos os campos, pois 
para um homem os deuses concederam as proezas da guerra, a outro, a dança, para um 
outro, a música e o canto, e, num outro, o todo poderoso Zeus colocou uma boa cabeça.” 
Homero. Disponível em: <https://kdfrases.com/autor/homero>. Acesso em: 3 maio 2018.
capítulo 1 • 13
Depois que assim falou, o ilustre Heitor estendeu os braços ao filho. Logo a criança 
se voltou aos gritos, para o seio da ama de bela cintura, assustado com o aspecto do 
seu amado pai, com medo do bronze e do penacho de crinas de cavalo, que via tremer, 
assustador, no alto do capacete. Desatou a rir o pai querido e a mãe venerável. Logo 
o ilustre Heitor retirou o capacete da cabeça e pousou no solo, todo resplandecente. 
Depois que beijou o caro filho, e o embalou nos braços, dirigiu esta prece a Zeus e 
aos outros deuses: “Zeus e demais deuses, concedei me que este meu filho venha a 
ser como eu, se distinga entre os Troianos, seja assim forte e governe Ílion com o seu 
poder”. E que alguém diga: “É bem mais valente que o pai. 
Quando regressar do combate, que traga os despojos sangrentos do inimigo que aba-
teu, para gáudio de sua mãe”. Dito isto, pôs nos braços da esposa o filhinho; ela rece-
beu o no seio perfumado, entre risos e lágrimas; condoeu se o marido ao vê la, acari-
ciou a, e dirigiu lhe estas palavras, chamando a pelo nome: “Louca, não te aflijas assim 
no teu coração. Ninguém me lançará no Hades contra as ordens do Destino. Garanto 
te que nunca homem algum, bom ou mau, escapou ao seu Destino, desde que nasceu. 
Vai para casa tratar dos teus trabalhos, o tear e a roca, e dá ordem às tuas aias de 
fazer o seu serviço; a guerra diz respeito aos homens, a quantos nasceram em Ílion, e 
a mim mais que a nenhum.” Disponível em: <http://www.scielo.mec.pt/pdf/rphl/n24/
n24a02.pdf>. Acesso em: 03 maio 2018.
Como afirma a historiografia, Homero e Hesíodo estão ligados às camadas 
populares de seu tempo, sobretudo à religião pública, representam o patrimônio 
cultural da sabedoria de vida do povo grego. Portanto recolhem pensamento po-
pular e com uma imaginação fértil elaboram uma explicação cosmogânica para os 
acontecimentos históricos.
Segundo Juan Antonio Estrada, no livro Deus nas tradições filosóficas. Volume1. 
Aporias e problemas da teologia natural, estes dois gênios da literatura grega, 
Hesíodo e Homero não só representam a sabedoria popular grega, mas são tribu-
tários da literatura oriental:
As diversas influências das mitologias orientais no mundo helenistas se fazem sentir na 
cultura grega. Hesíodo, juntamente com Homero, é grande receptor e transmissor dos 
mitos, com claros antecedentes e influências das tradições orientais já analisadas. Na 
Teogonia de Hesíodo nos encontramos com paralelismos e repetições dos elementos 
das mitologias anteriores: a cosmogonia se insere dentro da geração dos deuses e tem 
como ponto de partida o caos.
capítulo 1 • 14
O estágio originário de desordem e violência deixa lugar a um de ordem e justiça como 
consequência de ascensão e consolidação posterior de Zeus como máxima autoridade 
divina, que instaura a ordem cósmica, social e divina. O próprio poema Os trabalhos e 
os dias estão também caracterizados por esta preocupação de Hesíodo pela ordem, 
estabelecendo sempre a correspondência entre homens e deuses. Os paralelismos 
com a mitologia babilônica são indiscutíveis e a pergunta pelas origens mantém sem-
pre sua conexão com a do significado do cosmo (o da ordem e o caos). (ESTRADA, 
2003, p. 37-38).
Cosmologia 
Dando um salto histórico, passamos agora para o chamado período de ouro 
do povo grego, alguns chegaram a chamá-lo de ‘milagre grego’. A verdade é que na 
passagem do século sexto para o século quinto antes de Jesus Cristo a Grécia passa 
por uma profunda transformação social, econômica, política, ecológica e cultural, 
sobretudo nas colônias da Jônia, especialmente Mileto e depois nas colônias oci-
dentais da Itália meridional. O florescimento comercial possibilitou o surgimento 
de um novo grupo social, um novo protagonista, os artesãos, que com sua força 
econômica se oporão ao poder político da velha nobreza fundiária, transformarão 
as velhas formas aristocráticas de governo em novas formas republicanas, desper-
tando o amor pela liberdade, ou melhor, pela autonomia (autarquia). Juntamente 
com este fato novo, acontece uma série de inovações: invenção da moeda, da 
escrita, do calendário e, sobretudo da democracia.
Sobre este momento de esplendor do povo grego vejamos o que diz um dos 
principais lideres deste período, Péricles, na famosa oração fúnebre: 
A maioria dos que, até este momento, pronunciaram discursos neste lugar fez o elogio 
deste costume antigo de honrar, ante o povo, aqueles soldados que morreram na guer-
ra, mas a mim parece-me que as solenes exéquias que publicamente celebramos hoje 
são o maior elogio daqueles que, pelo seu heroísmo, as mereceram...
...Esta região, habitada sem interrupção por gente da mesma raça, passou de mão em 
mão até hoje, guardando sempre a sua liberdade, graçasao seu esforço. E se aque-
les antepassados merecem o nosso elogio, muito mais o merecem os nossos pais. À 
herança que receberam juntaram, ao preço do seu trabalho e dos seus desvelos, o 
poder que possuímos, que nos legaram. Nós o aumentamos. E no vigor da idade ainda 
alargamos esse domínio, abastecendo a cidade de todas as coisas necessárias, tanto 
na paz como na guerra.
capítulo 1 • 15
Nada direi das proezas e façanhas guerreiras que nos permitiram alcançar a situação 
presente, nem da valentia que nós e os nossos antepassados demonstramos defen-
dendo-nos dos ataques dos bárbaros ou dos gregos. Todos as conheceis e por isso 
não vos vou falar delas. Mas a prudência e arte que nos possibilitaram chegar a esse 
resultado, a natureza das instituições políticas e os costumes que nos trouxeram este 
prestígio, é necessário que sejam ressalvados antes de tudo. Depois, continuarei com 
o elogio aos nossos mortos...
... A nossa constituição política não segue as leis de outras cidades, antes lhes serve 
de exemplo. O nosso governo chama-se democracia, porque a administração serve aos 
interesses da maioria e não de uma minoria.
Veja que o ‘discurso fúnebre’ expressa uma auto autoestima, uma auto valori-
zação e sobretudo uma auto confiança na organização política reconhecidamen-
te ainda hoje como um paradigma daquele período. Mas não para por aí, leia 
mais um trecho diagnóstico deste esplendor helênico agora sobre a legislação e 
a República:
De acordo com as nossas leis, somos todos iguais no que se refere aos negócios 
privados. Quanto à participação na sua vida pública, porém, cada qual obtém a conside-
ração de acordo com os seus méritos e mais importante é o valor pessoal que a classe 
a que se pertence; isto quer dizer que ninguém sente o obstáculo da sua pobreza ou 
da condição social inferior, quando o seu valor o capacite a prestar serviços à cidade.
No que corresponde à República, pois, governamos livremente e, ainda, nas relações 
que mantemos diariamente com os nossos aliados e vizinhos, não nos irritamos porque 
ajam à sua maneira, nem consideramos como uma humilhação os seus prazeres e 
alegrias que, apesar de não nos produzir danos materiais, nos causam pesar e tristeza, 
ainda que sempre tratemos de dissimulá-los.
Ao mesmo tempo em que não temos receio nas nossas relações particulares, domina-
-nos o temor de infringir as leis da República; obedecemos aos magistrados e às re-
gras que defendem os oprimidos e mesmo que não estejam editadas, a todas aquelas 
que atraem sobre quem as viola o desprezo de todos.
Para amenizar o trabalho, procuramos muitos recreios para a alma; instituímos jogos 
e festas que se sucedem a cada ano; e diversões que diariamente nos proporcionam 
deleite e diminuem a tristeza. A grandeza e a importância da nossa cidade atraem os 
tesouros de outras terras, de modo que não só desfrutamos dos nossos produtos como 
daqueles do universo inteiro.
No que se refere à guerra, somos muito diferentes dos nossos inimigos porque per-
mitimos que a nossa cidade esteja aberta a todas as gentes e nações, sem vedar 
nem proibir a qualquer pessoa que adquira informes e conhecimentos, ainda que a 
sua revelação possa ser proveitosa aos nossos adversários; pois confiamos tanto em 
preparativos e estratégias como no nosso ânimo e vigor na ação.
capítulo 1 • 16
A organização militar segundo Péricles é imperial, ou seja, a maior potência 
do mediterrâneo que impunha medo a todos os inimigos pelas armas e estratégias:
Outros, no que se refere à educação, acostumam, mediante um treino fatigante desde 
criança, a sua potência viril; nós, apesar da nossa forma de viver, não somos menos 
ousados e valentes para afrontar o perigo quando a necessidade o exige. Boa prova 
disso é que os lacedemónios [espartanos] jamais se atreveram a entrar na nossa terra 
sem que estejam acompanhados de todos os aliados; enquanto nós, sem ajuda nenhu-
ma, fizemos incursões no território dos nossos vizinhos e muitas vezes, sem grandes 
dificuldades, derrotamos em país estrangeiro adversários que defendiam os seus pró-
prios lares.
Nenhum dos nossos inimigos se atreveu a atacar-nos quando reunimos todas as nos-
sas forças, tanto por causa da nossa experiência nas coisas do mar, como pelos muitos 
destacamentos que temos em diversos lugares do nosso território.
Se por acaso os nossos inimigos derrotam alguma vez um destacamento dos nossos, 
se jactam de nos haver vencido a todos e se, pelo contrário, os derrota uma parte das 
nossas tropas, dizem que foram atacados por todo o nosso exército.
E efetivamente preferimos o repouso e o sossego quando não estamos obrigados, por 
necessidade, ao exercício de trabalhos penosos e, também, ao exercício dos bons cos-
tumes, a viver sempre com o temor das leis; de forma que não nos expomos ao perigo 
quando podemos viver tranquilos e seguros, preferindo a força da lei ao ardor da valentia.
Temos a vantagem de não nos preocupar com as contrariedades futuras. Quando che-
gam estas, enfrentamo-las com boa têmpera, como os que sempre estiveram acostu-
mados com elas.
Segundo Péricles a cidade Estado Grega articula preocupação e cuidado com a 
coisa pública e ao mesmo tempo com as necessidades particulares de cada cidadão:
Por estas razões e muitas mais ainda, a nossa cidade é digna de admiração. Ao mes-
mo tempo em que amamos simplesmente a beleza, temos uma forte predileção pelo 
estudo. Usamos a riqueza para a ação, mais que como motivo de orgulho, e não nos 
importa confessar a pobreza, somente considerando vergonhoso não tratar de evitá-la.
Por outro lado, todos nos preocupamos de igual modo com os assuntos privados e 
públicos da pátria, que se referem ao bem comum ou privado, e gentes de diferentes 
ofícios se preocupam também com as coisas públicas.
Nós consideramos o cidadão que se mostra estranho ou indiferente à política como um 
inútil à sociedade e à República.
Decidimos por nós mesmos todos os assuntos sobre os quais fazemos, antes, um estu-
do exato: não acreditamos que o discurso entrave a ação; o que nos parece prejudicial 
é que as questões não se esclareçam, antecipadamente, pela discussão.
capítulo 1 • 17
Por isto nos distinguimos, porque sabemos empreender as coisas juntando a audácia 
à reflexão, mais que qualquer outro povo.
Os demais, algumas vezes por ignorância, são mais ousados do que o que requer a 
razão, e alguns, por querer fundamentar tudo em raciocínios, são lentos na execução.
Seria justo ter por valorosos aqueles que, ainda conhecendo exatamente as dificulda-
des e vantagens da vida, não recusam o perigo.
A paideia grega é igualmente exaltada como aquela que é capaz de formar o 
ser humano altruísta, além das habilidades para a guerra, para o trabalho, ou seja, 
a formação humana integral:
No que se refere à generosidade, também somos diferentes dos demais, porque pro-
curamos fazer amigos, dispensando-lhes benefícios ao invés de recebê-los, pois o que 
faz um favor a outro está em melhor condição do que quem o recebe para conservar 
a sua amizade e benevolência, enquanto o favorecido sabe que há de devolver o favor, 
não como se fizesse um benefício mas como se pagasse uma dívida. Também somos 
os únicos em usar a magnificência e liberalidade com os nossos amigos e não tanto 
por cálculo da conveniência como pela confiança que a liberdade dá.
Numa palavra, afirmo que a nossa cidade é, em conjunto, a escola da Grécia, e creio 
que os cidadãos são capazes de conseguir uma completa personalidade para adminis-
trar e dirigir perfeitamente outras gentes, em qualquer aspecto.
E tudo isto não é um exagero retórico, ditado pelas circunstâncias, mas a verdade mes-
ma; o poderio que conquistamos com estas qualidades o demonstra.
Atenas possui mais fama que as demais. É a única cidade que não dá motivos de ran-
cor aos seus inimigos pelos danos que lhes inflige, nem desprezo aos seus súbditos 
pela indignidade dos seus governantes. Esta grandeza é demonstrada por importantes 
testemunhos é de uma maneira definitivapara nós e para os nossos descendentes. 
Eles terão uma grande admiração por nós sem que tenhamos necessidade dos elogios 
de um Homero, nem de qualquer outro, para adornar os nossos feitos com elogios 
poéticos, capazes de seduzir, mas cuja ficção contradiz a realidade das coisas.
É sabido que, graças ao nosso esforço e ousadia, conseguimos que a terra e o mar 
por inteiro fossem acessíveis à nossa audácia, deixando em toda a parte monumentos 
eternos das derrotas infligidas aos nossos inimigos e das nossas vitórias.
Esta é a cidade, pois, que com razão estes homens não quiseram deixar que fosse 
manchada e pela qual morreram valorosamente no combate; os nossos descendentes 
estão dispostos a sofrer tudo para assegurar a sua defesa.
Este período, chamado de período de ouro, gera um verdadeiro narcisismo 
helênico. A juventude preparada fisicamente para as competições (Olimpíadas), o 
capítulo 1 • 18
culto ao corpo, para as guerras. Também é formada para o heroísmo: viver, lutar e 
morrer por Atenas. Verdadeiros ‘mártires’ da pátria:
Por estas razões me estendi a falar da nossa cidade já que queria demonstrar-lhes que 
não lutamos pelo mesmo que os outros, mas por algo tão grande que nada o iguala, e 
também para que o elogio dos homens objeto do nosso discurso fosse claro e veraz. 
Terminei, já, com a parte principal. A glória da República deve-se ao valor desses solda-
dos e de outros homens semelhantes. Os seus atos estão à altura da sua reputação e 
existem poucos gregos dos quais se possa dizer o mesmo.
No meu entender, nada demonstra melhor o valor de um homem que este final, que 
entre os jovens é um indício e uma confirmação entre os velhos.
Com efeito, aqueles que não podem prestar outro serviço à República é justo que se 
mostrem valorosos na guerra, pois apagaram o mal com o bem e os seus serviços 
públicos compensaram de sobra os equívocos da sua vida privada. Nenhum deles se 
deixou seduzir pelas riquezas ao ponto de preferir os defeitos ao seu dever, nem tão-
-pouco nenhum deixou de se expor ao perigo com a esperança de escapar da pobreza 
e fazer-se rico, convencidos de que era preciso o castigo do inimigo ao gozo destes 
bens, e visando este risco como o mais admirável, quiseram afrontá-lo para castigar o 
inimigo e fazer-se dignos destas honras.
Tiveram confiança neles mesmos no momento da batalha e ao encontrar-se ante o 
perigo, sustentados pela esperança ante a incerteza do êxito. Preferiram buscar a sua 
salvação na destruição do inimigo, e antes na morte que no covarde abandono; assim 
escaparam à desonra e perderam a vida.
No azar de um instante nos deixaram, alcançando o mais alto cume da glória e não a 
baixa recordação do seu medo.
Dessa forma é que se mostraram filhos dignos da cidade. Os sobreviventes devem fa-
zer todo o possível para conseguir uma melhor sorte, mas devem-se mostrar ao mesmo 
tempo intrépidos contra os seus inimigos, considerando que não se podem limitar às 
palavras de um discurso toda a utilidade e proveito.
Também seria ocioso enumerar diante de gente tão perfeitamente informada, como 
o sois vós, todos os esforços dirigidos à defesa do país. Quanto maior lhes pareça o 
poder da cidade, mais deveis pensar que existiram homens valorosos, que souberam 
praticar a audácia como sentimento de um dever e se conduzir com honra durante 
toda a vida.
E se bem que o sucesso nem sempre tenha correspondido aos seus esforços, não 
quiseram privar Atenas do seu valor e sacrificaram a sua virtude como o mais nobre 
tributo, fazendo o sacrifício da sua vida e adquirindo, cada um por sua parte, uma glória 
imortal que lhes deu a sepultura com honra.
E esta terra onde agora descansam não é tanto como a recordação imortal sempre 
renovada e enfocada em discursos e comemorações. Os homens eminentes têm por 
túmulo a terra inteira.
capítulo 1 • 19
O que atrai a atenção para eles não são somente as inscrições funerárias gravadas na 
pedra; quer na sua pátria, quer nos países mais longínquos, a sua memória persiste, 
apesar dos epitáfios, conservada no pensamento e não nos monumentos.
Invejai, pois, a sua sorte, dizei que a liberdade se confunde com a felicidade e o valor 
com a liberdade e não olheis com desprezo os perigos da guerra. Não penseis que os 
maus e os covardes, que não têm esperança de melhor sorte, são mais razoáveis em 
guardar a sua vida que aqueles cuja existência está exposta ao perigo e que se aven-
turara? a passar da boa à má fortuna e que, se fracassam, verão a sua sorte completa-
mente transformada. Pois para um homem sábio e prudente é mais doloroso a covardia 
que uma morte enfrentada com valor e animada pela esperança comum.
Assim, não me compadeço pela sorte dos pais que estão presentes, limitar-me-ei a 
consolá-los. Eles sabem, eles que cresceram entre as vicissitudes da vida, que a ventu-
ra só é para os que obtêm, como seus filhos, o fim, o mais glorioso ou, como eles, o luto, 
o mais honroso e para os quais o termo da vida é a medida da felicidade.
Agora, cumpre que cada um se retire, uma vez que chorou na hora dos desapareci-
dos. Disponível em: <http://arqnet.pt/portal/discursos/abril10.html>. Acesso em: 03 
maio 2018.
Embora longa, esta citação, ela nos remonta ao contexto de evolução social, 
econômica, tecnológica, política, ecológica e cultural que é elaborado a filosofia 
grega. Mesmo sendo pronunciada por um político e sendo palavras proferidas 
num velório de guerreiros que morreram pela pátria, portanto em forma de ora-
ção, expressa a autoestima, a autovalorização e sobretudo a autoconfiança dos gre-
gos, que realmente estão vivendo um grande desenvolvimento.
A origem da Filosofia grega.
Veja que a palavra philo do grego significa amigo (amor) e sophia significa sa-
bedoria, então filosofia significa amigo da sabedoria ou amor à sabedoria, segundo 
Pitágoras criador da palavra.
Essa busca pela sabedoria inicia diferenciando-se do mito e da religião no con-
teúdo, no método e no objetivo. No conteúdo a diferença está na explicação da to-
talidade sem exclusão de partes ou momentos. Quando Tales de Mileto pergunta 
qual é o princípio de todas as coisas? mostra que a filosofia quer saber ‘a totalidade 
da realidade e do ser’ e ela vai descobrindo a natureza do primeiro “princípio”, 
o “porquê” das coisas ou a essência do ser é na investigação, na pesquisa do e no 
mundo natural.
capítulo 1 • 20
A metodologia filosófica é uma explicação puramente racional da totalidade. 
É o logos investigando, pesquisando, indagando à natureza e dela extraindo as 
respostas da causa ou das causas. É este método que lhe confere a cientificidade e 
ao mesmo tempo a difere das ciências que buscam causas particulares enquanto a 
razão filosófica busca a causa na globalidade. 
E o seu objetivo, segundo Aristóteles (384-322 a.C.), é o puro desejo de co-
nhecer e contemplar o ser das coisas. É pelo espanto ou pela admiração diante da 
realidade. Ou como afirma a filósofa brasileira Marilena Chaui (1994), é pela 
desbanalização que inicia o filosofar, ou seja, diante do banal, do trivial é que o 
filósofo inicia a sua reflexão, sua pesquisa. 
Diferentemente do mito (mithos) o logos grego, se sente interpelado pelo 
mundo natural (physis), sem fantasia a razão penetra o mundo real e dele extrai 
suas conclusões da arké, da origem. Os pré-socráticos são, portanto, naturalistas, 
razão pela qual Aristóteles os chamou de Físicos.
Tales de Mileto, iniciador desta aventura racional buscará na água o princípio, 
a fonte, a origem, o termo, o sustentáculo, a arké. Segundo Reali e Antiseri: 
Tales chegou a esta conclusão da constatação de que a nutrição de todas as coisas 
é úmida, que as sementes e os germes de todas as coisas “tem natureza úmida”, e de 
que, portanto, a secura total é a morte. Assim como a vida está ligada à umidade e esta 
pressupõe a água, então a água é a fonte última da vida e de todas as coisas. Tudo vem 
da água, tudo sustenta sua vida com a água e tudo termina na água. Tales, portanto, 
fundamenta suasasserções sobre o raciocínio puro, sobre o logos; apresenta uma 
forma de conhecimento motivado com argumentações racionais precisas. (REALE e 
ANTISERI, 2003, P. 19).
Através da História da filosofia, percebemos que o espírito democrático e a in-
tensa investigação geraram diferentes teses sobre a arké. Anaximandro, discípulo 
de Tales, no seu tratado sobre a natureza, afirma que a água é derivada e que a arké 
é o infinito e indefinido ou ápeiron. Esse princípio abarca e circunda, governa e 
sustenta tudo, todas as coisas geram-se a partir dele, nele consistem e nele existem.
Anaxímenes que foi aluno de Anaximandro também pesquisando a natureza 
concorda com seu mestre que a arké deva ser infinita, mas que é o ar substância 
aérea ilimitada. Como a alma (ou seja, o princípio que dá a vida), que é ar, se sus-
tenta e se governa, assim também o sopro e o ar abarcam o cosmo inteiro.
Já a escola filosófica de Éfeso, com Heráclito (535-475 a. C.), afirmara que a 
arke é o fogo, panta rhei, a transformação.
capítulo 1 • 21
“Tudo se move, nada permanece imóvel e fixo, tudo muda e se transmuta sem exce-
ção. Não se pode descer duas vezes no mesmo rio e não se pode tocar duas vezes 
uma substância mortal no mesmo estado, pois por causa da impetuosidade e da ve-
locidade da mudança, ele se dispersa e se reúne, vai e vem,(...) Nós descemos e não 
descemos pelo mesmo rio, nós próprios somos e não somos.” (Heráclito,apud REALE 
e ANTISERI, 2003, p.23).
Parmênides (530-460 a.C.), representando a filosofia eleática e contrário às 
teses da escola filosófica de Éfeso, afirmará a estabilidade do ser. Segundo ele
levado à deusa (verdade) puxado por velozes cavalos e em companhia das filhas do 
sol chega à verdade absoluta da arké: “o ser é e não pode não ser; o não-ser não é e 
não pode ser de modo nenhum. O ser é positivo puro e o não-ser é o negativo puro. 
O ser é eterno, incorruptível. O caminho da verdade é o caminho da razão, enquanto o 
caminho dos sentidos é o caminho do erro, da ilusão da mudança. Os opostos devem 
ser pensados na unidade superior do ser: “ambos os opostos são “ser’. (Parmênedides 
apud REALE E ANTISERI, 2003, P.24).
Para Pitágoras, o número um é a arké. Para Demócrito o princípio é o átomo. 
E por fim para os físicos pluralistas como Empédocles é princípio são os quatro 
elementos primordiais: água, ar, terra e fogo que são governados por duas forças 
cósmicas, o amor e o ódio; uma une e outro separa. “Quando prevalece o amor 
temos a perfeita harmonia; quando permanece o ódio temos a completa desagre-
gação, o caos, nas fases de relativo predomínio do ódio, gera-se o cosmo.” (REALE 
E ANTISERI, P. 25). 
Segundo Marilena Chaui, a cosmologia é a explicação da ordem do mundo, do 
universo, pela determinação de um princípio originário e racional que é origem e 
causa das coisas e de sua ordenação. A ordem – cosmos – deixe de ser o efeito de re-
lações sexuais entre entidades e forças vitais, deixa de ser genealogia para tornar-se o 
desdobramento racional e inteligível de um princípio originário. Logia é da mesma 
família de logos (certamente uma das palavras mais importantes de toda a história 
da filosofia e do pensamento ocidental), que possui múltiplos sentidos e só pode ser 
traduzida para o português com o uso de muitas palavras: razão, pensamento, lin-
guagem, explicação, fundamento racional, argumento causal. Palavra e pensamento, 
valor e causa, norma e regra, ser e realidade, logos concentra numa única palavra 
vários significados simultâneos que os gregos não separavam como nós separamos. 
A filosofia, ao nascer como cosmologia, procura ser a palavra racional, a explicação 
racional, a fundamentação pelo discurso e pelo pensamento da origem e ordem do 
mundo, isto é, do todo da realidade, do ser. (Chaui. 1997, p. 37).
capítulo 1 • 22
Este tema é fantástico, portanto recomendo que você retome-o e aprofunde-o, 
pois será importantíssimo para uma compreensão mais profunda do tema da criação 
que é uma questão estruturante na reflexão teológica.
Tomás de Aquino: conceito filosófico e conceito teológico da criação
Tomás de Aquino (1225-12740), é um dos gênios do pensamento filosófico e 
teológico. Viveu num período de grande evolução das ideias. É o início das univer-
sidades europeias, Padova, na Itália e Paris na França. Ele foi professor e escritor. 
Entre seus escritos é importante que você conheça, leia e estude: Questões discutidas 
sobre a verdade (Questiones disputatae de Veritatae: 1259); Suma contra os Gentios 
(Summa contra Gentiles:1269-1273); e Summa Teológica (Summa theologiae).
Seu pensamento filosófico-teológico é dialógico, faz interface com os diversos 
saberes sistemáticos de seu tempo e de outros tempos. É um paradigma de como 
os opostos se completam. Se a Igreja católica tivesse ouvido o aquinante não teria 
condenado Galileu Galilei, pois ele sempre defendeu a autonomia em diálogo entre 
os saberes, tese também defendida por Galileu que tentando alertar a igreja argu-
mentava: “a teologia ensina como vai para o céu, a ciência ensina como vai o céus.” 
Veja como Tomás elabora sua argumentação, no livro um da Suma Teológica, 
no Artigo primeiro, cujo tema é a providência convém a Deus?
Quanto ao Primeiro Artigo, Assim se procede: parece que a providência não 
convém a Deus.
1. Com efeito, segundo Túlio, a providência é parte da prudência. Ora, como a pru-
dência, segundo o filósofo, no livro VI da Ética ajuda a bem deliberar, não pode convir a 
Deus, em quem dúvidas não existem, e por isso, nem necessidade de deliberar. Logo, 
a providência não convém a Deus.
2. Além disso, tudo que se encontra em Deus é eterno. Ora, a providência, não é algo 
eterno, pois seu objeto, diz Damasceno, são os seres existentes que não são eternos. 
Logo, não existe providência em Deus.
3. Ademais, em Deus não existe nenhuma composição. Ora, a providência parece ser 
algo composto, pois inclui vontade e intelecto. Logo, não existe providência em Deus.
Em sentido contrário, lemos no livro da Sabedoria: “És tu, pai, que tudo go-
vernas por tua providência”.
Respondo. É necessário afirmar a providência em Deus. Tudo o que é bom 
nas coisas foi criado por Deus, como se demonstrou anteriormente. Nas coisas 
capítulo 1 • 23
encontra-se o bem, não só com respeito à substância delas, mas também com 
respeito à ordenação para o fim, e sobretudo ao fim último, que é, como já se es-
tabeleceu, a bondade divina. O bem da ordem, que se encontra nas coisas criadas, 
foi criado por Deus. Como Deus é causa das coisas por seu intelecto, a razão de 
seus efeitos tem de preexistir nele, como ficou esclarecido; assim é necessário que 
a razão segundo a qual as coisas são ordenadas ao fim preexista na mente divina. 
Ora, a razão do que tem de ser ordenado a um fim é precisamente a providência... 
(AQUINO. Suma Teológica, vol. 1, p.438-439).
Como você percebeu Tomás de Aquino analisa os prós e contras no rigor da 
lógica aristotélica, ele dialoga, valoriza o pensamento contrário, mas se posiciona 
na defesa da fé criacional. A sua perspicácia teológica penetra a essência de Deus, 
os seus atributos essenciais.
Mas no diálogo de Tomás de Aquino com Anselmo d’Aosta na famosa prova 
ontológica ou Proslogium é que o aquinante mostra sua sutileza teológica. Afirma 
ele que a existência de Deus pode ser afirmada, raciocinando, isto é, ‘através da 
reflexão sobre os fenômenos deste mundo e da investigação de sua causa suprema, 
última, e não através da intuição da sua essência’.
Segundo Battista Mondin 
a prova ontológica tomista é de um feito totalmente diferente da prova ontológica an-
selmiana, e isso por duas razões: 1) porque não se baseia na essência, mas no ser; 2) 
porque não procede a priori, mas a posteriori: procede da asseidade contingente dos 
entes para concluir pela substância do ser. ..ela pressupõe uma determinada ideia do 
ser – entendido como perfeição absoluta – mas depois procede a posteriori, partindo 
do exame da relação dos entes com o ser, que é umarelação de finitude, de participa-
ção e de gradualidade. Assim, a finitude, a participação e a gradualidade configuram-se 
com três modalidades da prova tomista (MODIN, 1997, p.217-2018).
Mais conhecidas são as cinco vias do conhecimento de Deus ou provas cos-
mológicas, que não são criação do aquinante, a primeira e a segunda: movimento 
e causalidade subordinada são da filosofia de Aristóteles; a terceira, o possível e 
o necessário, foi retirada do pensamento de Avicena; e as duas últimas, gruas de 
perfeição deste mundo levam a Deus e a teleologia extraídas da filosofia platônica. 
Tomás de Aquino ainda escreveu outras quatro vias na Summa contra gentiles.
No entanto, segundo Battista Mondin, a inovação tomista está na sua perspec-
tiva metafísica. O fundamento último do real que não é mais a de Platão (428\7-
348-7 a. C), nem a de Aristóteles, nem a de Plotino, nem a de Agostinho ou de 
capítulo 1 • 24
Avicena, tirando o ser daquele profundo esquecimento em Platão, Aristóteles, 
Plotino, Agostinho e Avicena o haviam deixado cair, Tomás de Aquino coloca-o 
no centro do seu poderoso edifício metafísico: seu “discurso essencial” é todo ele 
um discurso centrado no ser... o ser é lógica e necessariamente “a mais perfeita 
de todas as coisas” (esse est inter omnia perfectissimum); é o sol que com sua luz 
torna luminoso o ente e tudo o que lhe pertence. O ser concebido como raiz de 
tudo, é o que põe em ato tudo aquilo que existe. Consequentemente, o ser não é 
uma perfeição mínima nem uma perfeição particular, e sim a perfeição absoluta. 
Essa propriedade lhe pertence porque o ser é o ato supremo, a forma de todas as 
formas: ”Aquilo que é maximamente formal em relação a todas as coisas é o ser.” 
(MONDIN, 1997, p. 220).
Ao finalizarmos este tema é importante você saber que Tomás de Aquino de-
fende a tese clássica judaico-cristã da: “criatio ex nihilo”, ou seja, Deus criou o 
universo a parir do nada. Para ele este tema deve ser estudado pela metafísica 
(filosofia), sem uma referência à temporalidade e pela teologia que aborda a partir 
do kairós, do tempo e tempo de Deus e não do cronos, tempo do mundo, tempo 
humano. Mesmo a criação sendo um tema de fé, o aquinante defende a tese que 
somente a razão pode levar a pessoa humana ao conhecimento de Deus como 
criador. No entanto, para esta questão a sua tese central é que o conhecimento 
perfeito de Deus como criador se dá na interface da fé com a razão, na relação 
dialética fé-razão.
Nesta perspectiva podemos afirmar que Tomás de Aquino é um paradigma 
de uma teologia em diálogo, até mesmo da transversalidade do conhecimento ou 
como afirmamos hoje, da práxis epistémica da interdisciplinaridade, multidisci-
plinaridade, transdisciplinaridade e metadisciplaridade. Embora defenda aberta-
mente ser o tema da criação um tema específico da metafísica e da teologia, seu 
sistema teológico-filosófico dinâmico hoje estaria dialogando com a biologia, com 
a física, com a química e, sobretudo com a astronomia que tem conseguido avan-
ços importantíssimos para o conhecimento do universo, de sua origem, de suas 
leis e de sua evolução.
Em síntese, podemos afirmar que a tese de Santo Tomás de Aquino sobre a 
origem do universo é a tese bíblica, Deus é criador providente, ou seja, o Deus 
criador, é também providente. Como causa de todas as coisas Ele também ‘gover-
na’ tudo conduzindo a criação para um fim, um telos, ou melhor, para a escatolo-
gia, para a consumação final (Ap 21-22).
capítulo 1 • 25
Explicação metafísica da criação: Deus como causa
Para iniciarmos este tema é importante que você domine filosoficamente o 
conceito de metafísica. Para tal, vamos retroceder novamente e buscar uma com-
preensão etimológica e histórica.
O dicionário de filosofia dos professores Hilton Japiassú e Danilo Marcondes 
(2006, p 185-186) faz quatro conceituações do termo metafísica. 
O primeiro fala que Andronico de Rodes ao organizar a obra de Aristóteles, por volta do 
ano 50 a.C, deu este nome aos livros que foram colocados depois dos livros da física: 
ta metá tá physiká, significando literalmente “após a física”, e passando a significar 
depois, devido a sua temática, “aquilo que está além da física, que a transcende.
O segundo afirma que “na tradição clássica e escolástica, a metafísica é a parte mais 
central da filosofia, a ontologia geral, o tratado do ser enquanto ser. A metafísica de-
fine-se assim como a filosofia primeira, como ponto de partida do sistema filosófico, 
tratando daquilo que é pressuposto por todas as outras partes do sistema, na medida 
em que examina os princípios e causas primeiras, e que se constitui como doutrina do 
ser em geral, e não de suas determinações particulares; inclui ainda a doutrina do Ser 
Divino ou do Ser supremo”.
O terceiro diz que na tradição escolástica há uma distinção entre metafísica geral, a 
ontologia propriamente dita, que examina o conceito geral de ser e a realidade em seu 
sentido transcendente; e a metafísica especial, que trata de domínios específicos do 
real e que se subdivide, por sua vez, em cosmologia, ou filosofia natural – tratado do 
mundo e da essência da realidade material...
E por fim, o quarto significado afirma que no pensamento moderno, a metafísica perde, 
em grande parte, seu lugar central no sistema filosófico, uma vez que as questões so-
bre o conhecimento passam a ser tratadas como logicamente anteriores à questão do 
ser, ao problema ontológico. A problemática da consciência e da subjetividade torna-se 
assim mais fundamental. (JAPIASSÚ e MARCONDES, 2006, p. 185-186)
Agora você vai conhecer brevemente a origem (arké) da metafísica. Bom, após 
recorrermos ao dicionário de filosofia, exercício este que você deverá fazer sempre 
no nível superior, você deve buscar nos dicionários específicos o significado dos 
termos técnicos para compreender mais profundamente o sentido do texto. Penso 
que você já deverá ter levantado a suspeita que nos pré-socráticos a metafísica é 
implícita até o famoso debate entre Parmênides e Heráclito sobre o movimento e 
a estabilidade. 
Mas ela se tornará explícita no pensamento filosófico de Platão, ele descobrirá 
uma realidade superior ao mundo sensível, uma dimensão que transcende a física 
capítulo 1 • 26
ou metafísica. Segundo Platão a primeira navegação do logos grego foi empurrada 
pelos ventos da natureza, pelos elementos físicos: água, ar, terra, fogo, ou seja, pe-
los elementos primordiais. Mas a segunda navegação do logos foi empurrada pelos 
remos do intelecto, da razão ou filosofia. É nesta perspectiva que Platão falará de 
mundo sensível e mundo inteligível o primeiro é sendo uma cópia do segundo. O 
primeiro é captado pelos sentidos e o segundo é captado pelo intelecto. Veja como 
Platão explicita bem esta ideia na famosa alegoria da caverna ou mito da caverna.
Aristóteles que foi aluno de Platão aprofundou esta questão ao criticar o mes-
tre por sua aderência ao orfismo e ao pitagorismo, embora, isto apareça em seus 
escritos exotéricos, porém ausente nos escritos esotéricos onde encontramos os 
escritos de metafísica.
Aristóteles além de dividir seus escritos em exotéricos, para todos, e esotéricos 
para os iniciados no filosofar; dividiu também as ciências em três áreas: ciências 
teoréticas, que buscam o saber pelo saber: a metafísica, a física, a psicologia e a 
matemática. As ciências práticas, que buscam o saber com uma finalidade da per-
feição moral: a ética e a política. E as ciências poiéticas que buscam a produção de 
determinadas coisas.
Para Aristóteles, a metafísica é a principal das ciências teoréticas. Ela busca as 
causas, os princípios supremos, então pode ser chamada também de etiologia. Ela 
indaga o ser enquanto ser, ontologia. Ela indaga também sobre a substância, ousia. 
Por fim, ela indaga sobre Deus e a substância supra-sensível, teologia.
Na cosmologia grega e medieval não haverão muitos problemas para uma 
explicação metafísica da criação e da “ideia” de Deus como criador. Lembre-se quea cosmovisão dos gregos é geocêntrica. Os pré-socráticos por razões estratégicas 
epistemológicas tiveram que “fugir” da ideia de Deus para encontrar a arké, o 
princípio originário material. A sofística deu ênfase na retórica e na oratória com 
objetivos políticos.
Será com Sócrates (469-399 a,C.), que esta questão virá à tona, mas sobre-
tudo com Platão por conta da sua relação com o pitagorismo e com o orfismo, 
então aparecerá um Demiurgo articulador do mundo. O arquétipo do mundo das 
ideias, o gestor da ordem cósmica e artesão dos viventes mortais e imortais. Sua 
cosmovisão dualista articula cosmologia e cosmogonia, subordinando a matéria ao 
demiurgo que cria o cosmo contra o caos. 
Aristóteles, embora crítico às teses de Platão, elabora uma teologia filosófica 
“que articula epistemológico e ontológico na compreensão do ser. O seu Primeiro 
Motor imóvel e separado da criação, porém a movimenta com a potência de um 
capítulo 1 • 27
motor TSI, “ato puro, pensamento dos pensamentos que pensa a si mesmo, não 
está afetado pelo mutável, finito e contingente, se despreocupa do mundo.” Assim 
a filosofia grega inicia o deísmo, um deus arquiteto que comanda a ordem do 
universo. Epicuro falará de um deus indiferente, impassível e de costas para o uni-
verso e chama o homem e a mulher a se comportar do mesmo modo em relação a 
este deus descomprometido com o universo.
Nas patrísticas grega e latina e na escolástica temos a continuidade da cos-
movisão geocêntrica, o apoio político e econômico, então não foi difícil uma ex-
plicação metafísica do Deus Trindade numa cosmovisão pré-copérnicana e pré-
-Galileliana (Copérnico e Galileu Galilei). Merecem destaque e vale apena você 
aprofundar, pois apenas mencionamos, os argumentos de Santo Anselmo d´Aosta, 
o Proslogium, e as cinco vias do conhecimento racional de Deus de Santo Tomás 
de Aquino. São obras primas da metafísica medieval. Porém foram elaborados 
numa cosmovisão que não existe mais. Portanto, precisam ser reelaboradas na 
perspectiva heliocêntrica, como veremos na última parte deste capítulo, manten-
do o diálogo com a filosofia e ampliando o diálogo com as ciências. 
O Iluminismo e a impossibilidade metafísica
A partir da Reforma luterana, o renascimento, e, sobretudo com o Iluminismo, 
a questão muda radicalmente. Primeiro porque a Igreja Católica perde a hegemo-
nia, segundo porque a secularização como um tornado começa a varrer o sagrado 
do universo. E terceiro porque a modernidade, especialmente no século XIX ques-
tionou radicalmente a questão religiosa com os mestres da suspeita: Sigmundo 
Freud, (1856-1939), Friedrich Nietzche (1844-1900), Ludwig Feurbach (1808-
1872) e Charles Darwim (1809-1882).
O Iluminismo foi um amplo movimento cultural que buscou libertar a huma-
nidade ocidental “do sono dogmático”. Foi um movimento como a filosofia grega 
de plena confiança na razão humana. “sapere áudio” dizia Kant (1724-1804), ‘ouse 
a pensar com a sua própria cabeça’. Movimento de libertação da racionalidade, 
‘de saída da zona de conforto espiritual’ criada pelas teses de uma cosmovisão que 
bem ou mal explicou um mundo estranho na sua época, no seu tempo. 
Porém, os tempos mudaram e mudaram radicalmente, uma nova cosmovisão 
se fazia necessária, com a ascensão da burguesia o ‘mundo foi virado do aves-
so’, todas as autoridades foram desautorizadas, inclusive as autoridades filosófi-
cas e teológicas. A revolução científica, especialmente com a nova metodologia 
capítulo 1 • 28
experimental, laboratorial, microscópio e sobretudo telescópio, descobriu ‘um 
outro mundo possível’.
A filosofia também não ficará fora deste criticismo global, até porque ela deve 
ser a crítica da crítica, então ela entrou no debate. Foram muitos os filósofos que 
criticaram a pretensão humana do conhecimento racional de Deus. Já o pré-so-
crático Xenófanes (570-475 a.C.), é um crítico do antropomorfismo da religião 
pública de Hesíodo e Homero.
Porém, escolhi dois filósofos iluministas, um empirista e outro racionalista 
moderado: David Hume (1711-1776) e Immanuel Kant, que nos alertarão para 
os limites do conhecimento racional de Deus, para os limites da metafísica.
Hume é completamente cético quanto às possibilidades da metafísica. Ele 
abordou a questão religiosa em duas obras: Diálogos sobre a religião natural e 
História natural da religião, ‘em ambas ele questiona a validade de todas as de-
monstrações da existência de Deus e critica o próprio valor objetivo da ideia de 
Deus.’ Deus e a religião, segundo Hume, são coisas do sentimento e da imagina-
ção, são expressões irracionais e arbitrárias da consciência humana, portanto são 
desprovidas de racionalidade.
Ao examinar os argumentos das provas da existência de Deus, nos diálogos 
sobre religião natural, começando pela prova ontológica, afirma que ela não é 
válida porque ‘tudo aquilo que concebemos como existente igualmente pode ser 
concebido também como não-existente, pois a existência de algo só pode ser de-
monstrada mediante a constatação de fato.
A crítica também à prova cosmológica não é menos radical, a pretensão racio-
nal de chegar a Deus partindo dos laços causais da natureza para chegar de causa 
em causa até a causa primeira (princípio de causalidade), além de subjetivo leva ao 
‘processo ad infinitum.’
Ainda nos diálogos o filósofo escocês ataca a prova teleológica, além de an-
tropomorfismo ela não leva a um artífice supremo infinitamente perfeito porque 
a ordem do mundo, de onde se parte, é finita e imperfeita. Segundo Hume, a 
relação causa-efeito precisa ser constatada várias vezes. E a ordem do mundo é um 
único caso que em nenhuma hipótese pode nos levar ao sumo artífice que jamais 
vimos em ação.
Claro, como você pode perceber as teses empiristas são levadas ao limite pelo 
pensador escocês, porém desperta a metafísica do sono dogmático, da ilusão, da 
fantasia, da quimera e chama a teologia para um outro olhar sobre as ‘condições de 
capítulo 1 • 29
possibilidades’ de um discurso religioso-teológico com base experiencial do Deus 
verdadeiro criador do cosmo e redentor em Jesus Cristo.
Outro crítico da aventura metafísica é Immanuel Kant, este é cristão pietista. 
A sua antropologia é bastante negativa, pois concebe a pessoa humana no estado 
de natureza como um ‘estado de incessante hostilidade contra o bom princípio, 
contra a moralidade, a natureza humana é desregrada, desequilibrada. E a supera-
ção deste estado precário é obra de Deus e não dos homens. Portanto, a igreja deve 
ser um povo moral, uma comunidade ética.
Segundo Battista Mondin
Para Kant todas as provas da existência de Deus (ontológica, cosmológica e teleoló-
gica são erradas, por dois motivos fundamentais: primeiro porque de deus nos faltam 
os elementos empíricos que fundamentariam uma argumentação a posteriori: nós não 
conhecemos nenhum caso em que a essência de uma coisa inclua a sua existência; 
segundo, o princípio de causalidade funciona apenas no mundo dos fenômenos e, 
portanto, não podemos fazer nenhum uso transcendente desse princípio. Assim, Kant 
desloca o problema de Deus da esfera especulativa para a esfera prática. E na segun-
da crítica demonstra que a existência de Deus deve ser incluída entre os três grandes 
postulados da moral (junto com a liberdade e a imortalidade da alma). De fato, na vida 
presente é impossível fazer com que coincidam moralidade e felicidade, embora se 
trate de uma coincidência exigida pela razão humana: “essa conexão é postulada como 
necessária”. Mas ela só pode se realizar por obra de um Deus remunerador, sumamen-
te bom e sumamente justo. “Portanto, postular a possibilidade do sumo bem (isto é, da 
felicidade) significa postular também a realidade de um sumo bem originário, ou seja, 
Deus (MONDIN, 2005, p. 90).
Assim chegamos ao final deste tópico despertados do ‘sono dogmático’ que 
segundo Kant foi despertado ao ler David Hume para a questão gnosológica ou 
teoria do conhecimento filosófico, portanto convido você a conhecermelhor o 
pensamento filosófico de Kant, assim como David Hume que serão excelentes ins-
trumentos para um teologizar pertinente e relevante no século XXI. Um teologizar 
crítico e ao mesmo tempo ortodoxo à fé bíblica.
Diálogo entre ciência e religião
Como você percebeu, neste pequeno percurso a tarefa da teologia é gigante 
para que ciência e religião dialoguem no respeito das autonomias como propôs 
Tomás de Aquino no diálogo entre fé e razão no século XIII. Hoje, no século XXI, 
capítulo 1 • 30
com as especializações dos saberes temos também uma fragmentação do conhe-
cimento, e o labor teológico deve ser no paradigma tomista da síntese dialógica.
Além de dar continuidade no diálogo com as teses iluministas que ainda não 
foram assimiladas bem pela teologia cristã, quem profeticamente tem chamado a 
atenção para este aspecto é o teólogo espanhol Andrés Torres Queiruga, especial-
mente nos livros Do terror de Isaac ao Abba de Jesus, repensar a Revelação, Repensar 
a Cristologia. Segundo Queiruga as teologias cristãs na sua maioria ainda não 
entenderam o projeto iluminista. John Hick, também por volta dos anos 60 e 
70 do século XX, no livro a Metáfora do Deus Encarnado, chamou a atenção da 
comunidade teológica para os riscos de uma leitura fundamentalista da Sagrada 
Escritura, especialmente para a leitura literal do mistério da Encarnação.
Os teólogos da libertação na África, na Ásia e na América Latina desde a 
década de sessenta do século passado, século XX, insistiram na importância da 
prática interdisciplinar, pluridisciplinar, multidisciplinar, transdisciplinar e me-
tadisciplinar, ou seja, um labor teológico em diálogo com os diversos saberes na 
busca do conhecimento da vontade de Deus para um melhor serviço às igrejas e 
ao povo de Deus. 
O diálogo hoje precisa responder também às interpelações dos mestres da 
suspeita como chamou Paul Ricouer, (1913-2005), Karl Marx, (1818-1883), 
Nietzsche, Sigmund Freud, Augusto Comte (1798-1857), Feuerbach. Com o 
primeiro o diálogo foi iniciado pelo teológico Rubem Alves (1933-2014), que 
assimilando aspectos positivos da crítica marxiana à religião como ópio do povo, 
mostrou que Marx analisou apenas o aspecto externo da religião. Igualmente, o 
grande filósofo da libertação latino americana, argentino radicado no México, 
Enrique Dussel, após a autocrítica fez a crítica da crítica marxiana.
Na tese dos estádios da evolução humana, Augusto Comte, defende que tanto 
a etapa religiosa quanto a etapa filosófica são coisas do passado, ‘agora’ é o primado 
da ciência, embora o tempo se encarregou de mostrar que ainda há uma enorme 
procura religiosa pelo sentido da vida, mas a teologia precisa dialogar com esta tese. 
Com a psicanálise Sigmund Freud, concluiu que a religiosidade é uma neuro-
se infantil e também apostou na terapêutica com o advento da ciência.
Feurbach, na área da antropologia afirma que a religião faz uma inversão de 
valores. O ser humano ávido por onisciência, onipotência, onipresença não conse-
guindo, cria o ser superior e projeto nele estes atributos. Ou seja, a religião inverte 
os polos que leva um curto circuito epistemológico.
capítulo 1 • 31
Nietzsche fala da morte de Deus, colocando um louco no velório que grita 
desesperado anunciando o mal cheiro do cadáver divino.
Charles Darwin, com a tese da evolução colocou em xeque a tese da criação 
perfeita, a espécie humana como todas as espécies evolui de uma célula primeira. 
O ser humano não nasce perfeito, mas com possibilidades, aberto, em processo, 
ou seja, evolui. Aristóteles já havia percebido isto, como biólogo percebeu que o 
homem é um animal racional. O racional é um adjetivo que qualifica o substanti-
vo animal, ou seja, o homem pode se tornar racional por um processo de ‘ilustra-
ção, educação. Dentro da tese aristotélica de ato e potência o ser homem em ato é 
animal com potencialidade racional. 
Simone de Beavoir (1908-1986), em meados do século passado afirmava que 
“ninguém nasce mulher torna-se”, “ninguém nasce homem torna-se”. Ou seja, a 
teologia precisa interagir significativamente no diálogo entre conhecimento reli-
gioso e conhecimento científico. Portanto, a questão da evolução não pode im-
pactar negativamente na fé, é fato, e uma leitura atenta do primeiro capítulo do 
livro do Gênesis, você perceberá que o autor narra a criação de forma evolutiva, a 
última espécie a ser criada é a humana. Sem concordismos, mas a teologia pode e 
deve facilitar o diálogo.
Juan Luis, segundo na obra Que homem? Que mundo? Que Deus? Em diálogo 
com a química, a física e a biologia, e sobretudo com cientista da grandeza de 
Jacques Monod afirma:
O universo parece, então, aos olhos do cientista, uma mescla desses dois elementos, 
que também compõem o título da obra do Monod: o Acaso e a Necessidade. O acaso 
tem a enorme vantagem positivista de não exigir – e mais ainda, a de rejeitar – a per-
gunta por uma causalidade. O que surge do acaso não tem outra razão, mas suficiente 
do que o próprio acaso. Daí que se fosse possível reduzir ao acaso toda a “a neces-
sidade” que cresce com a evolução, esta seria despojada de seu perigo metafísico. O 
próprio mundo necessário seria fruto do acaso. E não haveria mais o que perguntar. 
Toda a aventura humana não passaria de uma estranha e improbabilíssima mudança 
de uma molécula, que começou a se reproduzir e a introduzir a teleonomia e a neces-
sidade de um mundo, que continua jogando com o acaso às portas da não existência, 
à qual voltará, mais cedo ou mais tarde (assim, o cientista desprende-se do animismo 
e desperta, depois de um sono milenar, para um mundo que o aguarda, surdo à sua 
música..) (SEGUNDO, 1995, p. 15-16).
capítulo 1 • 32
Porém, continua Segundo:
 Hoje não se pode mais fazer teologia com o que um pensador tão grande como Tomás 
de Aquino sabia do universo criado, ou com a simples e grandiosa mitologia do javista. 
(SEGUNDO, 1995, p.27).
Neste trecho do teólogo Juan Luis Segundo com o biólogo Jaques Monod dá 
para você perceber a missão da teologia na interface religião-ciência. Uma interação 
de diplomacia, de conciliação, de articulação, de diálogo, pois ambas têm suas auto-
nomias preservadas, são complementares e as vezes em rota de colisão. A ciência fala 
a partir da pesquisa empírica, do laboratório, da perícia dos fenômenos concretos 
(célula, átomo, partícula etc.). A religião narra a partir da fé, do amor e da esperança. 
É uma fala inspirada, é uma narrativa da revelação, experiencial, porém, subjetiva, 
frágil. Daí que a experiência de Deus na fé não a experiência do empirismo inglês 
e de David Hume. Daí a necessária interação da teologia sistemática nos molde do 
paradigma tomista dá síntese, uma teologia dialética em dialógica.
Por fim, vejamos outro gigante que partindo da física e da astronomia coloca 
questões pertinentes e relevantes para o labor teológico no século XXI. O astrofísico 
Marcelo Gleiser, físico e astrônomo, carioca de nascimento, radicado nos Estados 
Unidos da América do Norte, no livro cujo o título já provoca, Criação Imperfeita. 
Cosmo, vida e o código oculto da natureza. Assim ele narra o mito científico da criação:
Ninguém testemunhou o que estava para acontecer. 
O “tempo” não existia;
A realidade existia fora do tempo, pura permanência. 
O espaço não existia.
A distância entre dois pontos era imensurável. 
Os pontos podiam estar aqui ou ali, suspensos, saltitantes.
 Entrelaçado em si próprio, o espaço aprisionava o infinito.
De repente, um tremor; uma vibração, uma ordem que nascia. 
O espaço pulsava, ondulando sobre o nada. O que era perto se afastou. 
O agora virou passado.
O espaço nasceu com o tempo. Ao falarmos em espaço pensamos em conteúdo. 
Ao falarmos em tempo, pensamos em transformação.
E assim foi. O espaço borbulhou; 
o tempo incerto, iniciou sua marcha.
Da agitação conjunta do espaço e do tempo surgiu a matéria expelida de seus poros.
capítulo 1 • 33
Mas atenção! 
Essa não era uma matéria ordinária feito a nossa.
 Ela fezo espaço crescer, inflar como um balão. Esse balão é o nosso universo.
Esse é o mito de criação da nossa geração. 
GLEISER, 2010.
A santíssima Trindade aqui é o Espaço, o Tempo e a Matéria. Não existe um criador; 
nenhuma mão divina guia a transição do Ser ao Devir, a emergência do cosmo a partir 
de uma existência atemporal. O Universo surgiu por si mesmo uma bolha de espaço 
vinda do vazio: criatio ex nihilo, a criação a partir do nada. Essa possibilidade nos parece 
implausível já que tudo o que ocorre à nossa volta resulta de alguma causa. Será que 
o universo é diferente? Será que tudo pode mesmo surgir do nada? Sem uma causa? 
A causa que deu início a tudo, o primeiro elo da longa corrente causal que leva da 
criação do cosmo ao presente, é tradicionalmente conhecida como a Primeira Causa. 
Para iniciar o processo de criação nada pode precedê-la: a Primeira Causa não pode 
ter uma causa; ela tem que ocorrer por si só. O desafio é como implementar essa mis-
teriosa primeira Causa, como dar sentido a algo que parece violar o bom-senso. Será 
que a ciência tem uma resposta? As religiões usam os deuses para resolver o dilema. 
A estratégia funciona bem, já que as leis físicas e o bom senso não são aplicáveis aos 
deuses. Sendo imortais, são indiferentes aos processos da causa e efeito: os deu-
ses existem, sobrenaturalmente, além do tempo e de suas inconvenientes limitações 
(GLEISER, 2010, p.21-22).
Como você pode perceber pela afirmação de Marcelo Gleiser, o diálogo se faz 
necessário, pois a pesquisa avança velozmente, seja na biologia, seja na química, 
seja na medicina, seja na astronomia. A teologia não pode desconhecer este ‘uni-
verso’ do conhecimento científico. Ela também não pode aceitar tudo passivamen-
te, acriticamente. Mas precisa respeitar as autonomias das ciências que se liberta-
ram do mito, da religião na antiguidade, da teologia no renascimento e da filosofia 
na modernidade. Veja que a psicologia, a antropologia, a sociologia e até mesmo a 
ciências da religião se libertaram da filosofia a partir do século XIX. 
É importante você perceber que não podemos ter preconceito contra nenhu-
ma forma de conhecimento, mas também não podemos afirmar que apenas uma 
forma de conhecimento detenha toda a verdade, principalmente de algo tão gran-
de e misterioso como o universo. Estranhamente misterioso até mesmo para as 
ciências que avançam a passos largos trombando em mistérios. Para a teologia o 
mistério faz parte do seu vocabulário, agora as ciências precisam dar um nome 
empírico para estes nós do universo e com toda certeza mais cedo ou mais tarde 
descobrirão o que são esses buracos negros do conhecimento científico.
capítulo 1 • 34
ATIVIDADES
01. Assista ao vídeo: como funciona o universo – (HD) – Estrelas. Disponível em: <https://
www.youtube.com/watch?v=agrJHUe9aHA>. Acesso em: 10 maio 2018.
02. Leia o texto Enuma Elish. O mito babilônico da criação. Disponível em: <http://docplayer. 
com.br/34209242-O-mito-babilonico-da-criacao.html>. Acesso em: 10 maio 2018.
03. Leia os capítulos 1 e 2 do livro do Gênesis.
Depois elabore um texto reflexivo comparando as diferenças e semelhas das três abor-
dagens sobre a origem do universo. Seu texto deve ter entre duas e cinco laudas.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
AQUINO, Tomas de. Suma Teológica. Teologia – Deus – Trindade. Vol.1. São Paulo – SP, Ed. 
Loyola, 2003.
Chaui, Marilene. Introdução à História da Filosofia. Dos pré-Socráticos a Aristóteles. Vol.1, São 
Paulo – SP, Companhia das Letras, 1994.
ESTRADA, Juan Antonio. Deus nas Tradições Filosóficas. Vol.1:Aporias e problemas da teologia 
natural. São Paulo, Ed. Paulus,2003.
GLEISER, Marcelo. Criação Imperfeita, Cosmo, vida eo código oculto da Natureza. Rio de 
Janeiro, Ed. Record, 2010.
GÓRGIAS. O Elogia a Helena. Disponível em: <http://www.consciencia.org/gorgiashumberto.shtml>. 
Acesso em: 03 maio 2018.
HESIODO. Teogonia. A origem dos deuses, traduzida por Jaa Torrano. Disponível em: <http://
sanderlei.com.br/PDF/Hesiodo/Hesiodo-Teogonia.pdf>. Acesso em: 03 maio 2018.
HOMERO. Disponível em: <https://kdfrases.com/autor/homero>. Acesso em: 3 maio 2018.
JAPIASSÚ, Hilton e MARCONDES, Danilo. Dicionário básico de filosofia. Rio de Janeiro, Jorge 
Zahar, 2006.
MONDIN, Batista. Quem é Deus? Elementos de teologia filosófica. São Paulo, Paulus, 1997.
REALE, Giovanni- Antiseri, Dario. História da filosofia. Filosofia pagã antiga.Vol.1, São Paulo, Paulus, 
2003.
SEGUNDO, Juan Luis. Que Mundo¿ Que Homem¿ Que Deus¿ Aproximações entre ciência, 
filosofia e teologia, São Paulo, Ed. Paulinas, 1995.
Angeologia no 
primeiro testamento
2
capítulo 2 • 36
Angeologia no primeiro testamento
O imaginário da humanidade sempre foi povoado pela figura dos anjos. 
Mesmo depois do Iluminismo, do racionalismo moderno e da secularização em 
que as religiões tomaram um caminho mais em diálogo com as ciências e a filo-
sofia (racional) e menos contemplativo, é possível verificar este fascínio pelo tema 
dos anjos na arte, seja nas esculturas, pinturas, literatura, no cinema e nas redes 
sociais. O ícone consagrado: seres luminosos com asas e roupas brancas com a 
mais pura força do bem enfrentando as brutais forças do mal na defesa da criação 
e, sobretudo da pessoa humana (Tb 5,1-8; 8,1-21; Dn 3,1-33; Ap 12,1-17).
Segundo o dicionário de teologia bíblica Marietti, os anjos são espíritos des-
tinados a servir, enviados em missão para o bem daqueles que trabalham para a 
salvação do mundo. Não são percebidos no dia-a-dia, mas em momentos impor-
tantes e misteriosos (MARIETTI, 1968).
Como veremos a seguir, são seres supraterrestres ou transcendentais que es-
tão a serviço de Deus. Mas também segundo santo Agostinho eles podem servir 
também ao mal (Jó 1,1-12), haja vista a história de Lúcifer e a entrada do mal 
na criação.
OBJETIVOS
• Conhecer o pensamento bíblico sobre anjos, arcanjos, serafins e querubins;
• Estudar a angeologia numa perspectiva teológica-bíblica;
• Compreender a dinâmica da revelação divina na perspectiva dos anjos.
Angeologia no primeiro testamento
No Primeiro Testamento encontramos muitos relatos dos mensageiros de 
Deus interagindo com os humanos de diversas formas, em diversos momentos da 
História da Salvação do povo de Deus. Por uma questão didática vamos abordar a 
questão dos anjos na Bíblia Hebraica a partir de três gêneros literários diferentes. 
Na Torá, sobretudo nos livros do Gênesis e Êxodo, destacando a presença angelical 
como orientadora da formação do povo de Deus, e no processo de libertação da 
escravidão egípcia. Nos profetas de Israel a ênfase será na mensagem, ou seja, os 
capítulo 2 • 37
anjos como mensageiros de Deus que fala ao seu povo através dos profetas. Esta 
análise será feita tanto diretamente nos escritos dos profetas quanto nas narrativas 
sobre os profetas nos livros históricos, assim chamados pelos cristãos católicos. 
E por fim, analisaremos a presença destes seres celestiais na terra comunicando 
mensagem divina, protegendo as pessoas, iluminando o caminho e guardando 
contra todo tipo de perigo, na literatura sapiencial.
Os anjos na Torá
A Torá está povoada destes seres celestiais, são vários acontecimentos envol-
vendo a presença dos mensageiros de Deus, portanto, fica o convite para uma lei-
tura dos cinco primeiros livros da Sagrada Escritura nesta perspectiva. No entanto, 
por uma questão didático-pedagógica analisaremos a partir de cinco acontecimen-
tos importantes para a formação do povo de Deus: Abraão e Sara, e a questão do 
‘herdeiro’. Aqui precisa ser teologicamente analisada a questão de Agar e Ismael. 
A destruição de Sodoma e Gomorra, o sacrifício de Isaac, o sonho de Jacó e a 
Sarça Ardente.
Em Gn 16,1-16 encontramos uma situação que vai se repetir em todos os 
relatos do livro do Gênesis, a não compreensão humana da vontade de Deus e a 
presença angelical para iluminar a massa cinzenta humana. Ao voltarmos em Gn 
15,1-6 a crise de Abraão e Sara é o herdeiro e continuador da históriada salvação. 
E indo para Gn 16,1-3 o entendimento humano é equivocado.
Continuando ainda no capítulo dezesseis agora nos versículos sete a nove te-
mos outro equívoco humano ‘consertado’ pelos anjos de Deus.
Já em Gn17, 1-27 os mensageiros de Deus informam algo impossível segundo 
o entendimento humano, a esterilidade se transformando em fecundidade.
No capítulo dezoito no versículo um inicia falando que é o próprio Deus que 
se revela à Abraão, mas nos versículos sete a nove já são os anjos que entram em 
cena eliminando os ruídos da comunicação entre o humano e o divino, sobretudo 
anunciando uma ‘boa nova’.
Na sequência em Gn 19 os mensageiros de Deus aparecem no versículo um 
para anunciar a destruição de Sodoma, protegendo os escolhidos de Deus e fazen-
do recomendações que deverão ser seguidas à risca caso contrário a punição será 
severa (v.15-26).
Mas o episódio mais emblemático é o de Gn 22,1-19 que se tornou um clássico 
da História da Salvação, mal-entendido, por quase dois mil anos até mesmo pelos 
capítulo 2 • 38
estudiosos da Sagrada Escritura e pelas autoridades religiosas. O famoso sacrifício de 
Isaac como oferta agradável a Deus. Somente com o advento da exegese bíblica é que 
fomos esclarecidos que a história é outra. Sobretudo quando comparamos Gn 22,1-
19 com Ex 20,1-17, especialmente com o versículo treze do Êxodo percebemos que 
há uma contradição que não combina com a coerência do Deus bíblico que é o 
Deus da vida. Como, se Ele é o Deus da vida (Jo 10,10) vai exigir o filicídio, ou seja, 
que o pai mate o próprio filho. Então veja nos versículos onze a 19 de Gn 22 que o 
mensageiro de Deus aparece iluminando o entendimento humano.
Com Jacó temos dois episódios importantes envolvendo os mensageiros de 
Deus. O primeiro é de Gn 28,10-22 onde eles aparecem nos sonhos iluminando o 
árduo caminho que Jacó terá de percorrer para encontrar a sua amada. No entanto, 
o acontecimento mais conhecido é o da luta de Jacó com o mensageiro de Deus. E o 
motivo desta luta é pela benção angelical. O mensageiro divino aparece nos escritos 
sagrados hebraicos com poder de benção. E Jacó quer ser abençoado porque terá um 
reencontro com seu credor, o irmão Isau, ou seja, um acerto de contas.
E a exegeta Lília Dias Mariano chega afirmar que foi uma luta quase como 
UFC, ou melhor, um vale tudo, teve até golpe baixo:
Embora o texto do profeta Oseias se refira à noção de que Jacó lutou com um anjo e 
prevaleceu (Os 12.4) a narrativa do Gênesis não nos dá tanta segurança para afirmar 
que Jacó lutou verdadeiramente com um anjo, pois o que se diz é que ele lutou com 
um homem, um ish (Gn 32.24). Ou seja, um ser humano do sexo masculino. O relato na 
primeira pessoa diz: “vi Deus face a face e minha vida foi salva.” Nem fala que ele lutou 
com um adam, ou um filho de Adão – be ne-adam. Mas fala de ter visto o próprio Deus. 
Isto é bastante significativo quando se considera que toda a tensão da luta que faz 
este personagem tocar no nervo da coxa de Jacó, pode ser também uma alusão aos 
órgãos sexuais. Em outras palavras, Jacó teria saído da luta depois de um “golpe baixo” 
da parte do homem com quem ele lutava. Não é uma possibilidade de todo descartável 
(CARNEIRO; GOMES, 2017, P. 30-31).
Até aqui foi suficiente para percebermos que uma angeologia com fundamen-
tos bíblicos desmistifica, desmitologiza uma compreensão ingênua sobre os men-
sageiros de Deus. Uma compreensão acrítica sobre os seres celestiais como apenas 
seres ‘bonzinhos’. Além de anunciarem catástrofes, destruição ‘lutam’ contra os 
humanos chegando inclusive a dar golpe baixo, sobretudo pela dureza de coração, 
ou melhor, de entendimento dos processos éticos. Haja vista a postura de Jacó na 
aquisição da primogenitura (Gn 25,29-34), o recebimento da benção (Gn 27,1-
45), e o seu enriquecimento ilícito (Gn 29,1-14).
capítulo 2 • 39
Angeologia no livro do Êxodo
No livro do Êxodo escolhemos cinco momentos fundantes do processo de 
libertação do povo de Deus da escravidão egípcia para a abordagem da questão 
dos mensageiros de Deus. Porque este é um dos acontecimentos importantes na 
história da salvação juntamente com a criação, a formação do povo de Deus e a 
conquista da terra prometida. Estes são acontecimentos kairológicos e não ape-
nas cronológicos.
O livro do Êxodo é um paradigma do processo de emancipação, ou melhor, de 
libertação de qualquer forma de opressão, de escravidão. Ele narra no capítulo três 
no episódio da sarça ardente a presença do anjo do Senhor em diálogo com Moisés 
que está trabalhando e buscando interiormente uma ‘estratégia’ para libertar o seu 
povo da escravidão (Ex 1,8-22 e 3,1-20).
Veja como o texto sagrado narra o acontecimento:
Moisés pastoreava o rebanho de seu sogro, Jetro, que era sacerdote de Midiã. Um dia 
levou o rebanho para o outro lado do deserto e chegou a Horebe, o monte de Deus.
2 Ali o Anjo do Senhor lhe apareceu numa chama de fogo que saía do meio de uma sar-
ça. Moisés viu que, embora a sarça estivesse em chamas, não era consumida pelo fogo.
3 "Que impressionante!", pensou. "Por que a sarça não se queima? Vou ver isso de per-
to."
4 O Senhor viu que ele se aproximava para observar. E então, do meio da sarça Deus o 
chamou: "Moisés, Moisés!"
"Eis-me aqui", respondeu ele.
5 Então disse Deus: "Não se aproxime. Tire as sandálias dos pés, pois o lugar em que 
você está é terra santa".
6 Disse ainda: "Eu sou o Deus de seu pai, o Deus de Abraão, o Deus de Isaque, o Deus 
de Jacó". Então Moisés cobriu o rosto, pois teve medo de olhar para Deus.
7 Disse o Senhor: "De fato tenho visto a opressão sobre o meu povo no Egito, tenho 
escutado o seu clamor, por causa dos seus feitores, e sei quanto eles estão sofrendo.
8Por isso desci para livrá-los das mãos dos egípcios e tirá-los daqui para uma terra boa 
e vasta, onde há leite e mel com fartura: a terra dos cananeus, dos hititas, dos amorreus, 
dos ferezeus, dos heveus e dos jebuseus. 
9 Pois agora o clamor dos israelitas chegou a mim, e tenho visto como os egípcios 
os oprimem.
10 Vá, pois, agora; eu o envio ao faraó para tirar do Egito o meu povo, os israelitas". 
Bíblia Sagrada online. Disponível em: <https://www.bibliaon.com/exodo_3/>. 
Acesso em: 10 jun. 2018.
capítulo 2 • 40
Aqui pelo contexto o mensageiro de Deus auxilia a compreensão de Moisés 
que não entendia o fenômeno, a revelação divina, a sarça ardente, e ao mesmo 
tempo comunica o conteúdo da mensagem divina e envia Moisés como líder deste 
processo paradigmático.
Temos ainda Ex 11,23 na última praga, a morte dos primogênitos, a figura 
angelical nos é revelada como o ‘executor’ desta ação. Igualmente em Ex 14,15-31 
no famoso episódio da ‘abertura’ do Mar Vermelho a presença do anjo do Senhor 
como protetor dos ex-escravos agora em processo de libertação e como extermina-
dor dos opressores, os egípcios.
Veja no relato bíblico como o anjo aparece protagonizando um processo para-
doxal: vida e liberdade de um lado e morte de outro lado:
15 Disse então o Senhor a Moisés: "Por que você está clamando a mim? Diga aos is-
raelitas que sigam avante.
16 Erga a sua vara e estenda a mão sobre o mar, e as águas se dividirão para que os 
israelitas atravessem o mar em terra seca.
17 Eu, porém, endurecerei o coração dos egípcios, e eles os perseguirão. E serei glo-
rificado com a derrota do faraó e de todo o seu exército, com seus carros de guerra e 
seus cavaleiros.
18 Os egípcios saberão que eu sou o Senhor quando eu for glorificado com a derrota do 
faraó, com seus carros de guerra e seus cavaleiros".
19 A seguir o anjo de Deus que ia à frente dos exércitos de Israel retirou-se, colocando-
-se atrás deles. A coluna de nuvem também saiu da frente deles e se pôs atrás,
20 entre os egípcios e os israelitas. A nuvem trouxe trevas para um e luz para o outro, 
de modo que os egípcios não puderam aproximar-se dos israelitas durante toda a noite.
21 Então Moisés estendeu a mão sobre o mar, e o Senhor afastou o mar e o tornou em 
terra seca, com um forte vento oriental

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