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Agostinho ©2018 Copyright ©Católica EAD. Ensino a distância (EAD) com a qualidade da Apresentação Fonte: https://img.youtube.com/vi/PxCbM-Ms- Jw/maxresdefault.jpg Usualmente, o estudante chega ao estudo da História da Filosofia Medieval trazendo consigo pré-compreensões estereotipadas sobre a época do pensamento que vai estudar. O medieval nos é, comumente, estranho e até mesmo sombrio. O conjunto de estudos que aqui se propõe espera que, ao final, o estudante tenha desconstruído tais pré- compreensões e tenha aberto todo um horizonte de compreensão e de interpretação, mais amplo, mais refinado e mais vivo do pensamento medieval. O método que seguimos, aqui, portanto é hermenêutico. O estudo que aqui se propõe não é apenas historiográfico, muito menos, historiográfico do tipo positivista, mas é um estudo hermenêutico da história, que visa alcançar uma visão das destinações que o pensamento tomou ao longo de cerca de mil anos no mundo latinófono, incluindo também uma visão das destinações do pensamento em outros mundos medievais, tais como o bizantino, o islâmico e o judeu. Espera-se que o estudante seja capaz de perceber o intenso diálogo de mundos culturais diversos que caracteriza o que genericamente chamamos de Idade Média. A proposta hermenêutica deste estudo visa, pois, compreender cada pensador e seu pensamento à luz da totalidade viva, que é a destinação de seu mundo, o qual está sempre em diálogo com o mundo que se foi (a antiguidade) e com os mundos que coexistem (outros âmbitos culturais) e, ao mesmo tempo, oferece uma contribuição específica à tradição histórica que está sempre em vias de formação. Espera-se contribuir para que o estudante apreenda o horizonte de pensamento do pensador em questão, sua maneira de pensar a realidade como um todo, se dando numa ontologia, numa compreensão da verdade e do conhecimento, bem como numa compreensão da linguagem. A partir daí, espera-se ajudar o estudante a apreender as posições fundamentais do pensamento em questão, sua visão do mundo, do homem e de Deus. Assim, ele poderá perceber as principais teses não como proposições fixas e isoladas, mas sim como posições que vão sendo tomadas, dentro do movimento de corresponder àquilo que, a partir de sua época, o provocava a pensar. Entende-se, aqui, a filosofia não como doutrina, mas como movimento de aprofundamento, de sondagem do sentido do ser. Com tudo isso, a presente proposta de estudo se preocupa com o exercício do pensar, para além da mera informação ou erudição. Que o estudante, estudando o pensamento dos principais pensadores medievais, seja ele mesmo provocado a pensar as questões fundamentais que movem a história filosófica, ontem, hoje e sempre. Mais do que aprender Filosofia como um conteúdo cultural, espera-se que o estudante aprenda a filosofar, a partir do diálogo com o passado, pois não se pode fazer filosofia sem ancestralidade. É do diálogo com o passado, com o dito e o não dito dos pensadores da grande tradição filosófica, que nos vem o estranhamento de nosso presente e o questionamento daquilo que hoje nos parece óbvio. À medida que nossa atualidade perde o seu caráter de evidência inquestionável também o passado perde o seu caráter apenas monumental, e os pensadores do passado se nos aparecem numa estranha contemporaneidade, podendo até mesmo oferecer intuições inauditas para construirmos o futuro. A Idade Média oferece um riquíssimo, imenso, vastíssimo e profundo legado de pensamento, o qual se dá não somente na filosofia, mas também na arte e na mística. Na exposição da história da Filosofia, buscou-se também estar atento a estas outras experiências de pensamento. Isto dá ao estudante uma visão mais viva da história da Filosofia e uma percepção da pregnância existencial que acompanha e molda o pensamento medieval. O horizonte para uma hermenêutica do pensamento de Agostinho se traça a partir do espírito de seu tempo e de sua busca existencial. Agostinho vive em si mesmo o ocaso do mundo antigo. Ele é um homem que prepara a passagem da antiguidade para uma nova época, aquela que nós, modernos, chamamos de "medieval". A nota fundamental, que dá o tom a todo o seu pensamento é a quaestio Dei (a busca de Deus), que, em seu entendimento é a própria busca da verdade e da felicidade. Seu pensamento é marcado por um forte cunho existencial. Em cada texto de seus escritos ressoa a facticidade da existência humana vivida em primeira pessoa (eu), diante de um Tu (Deus), e em comunhão com um nós (os outros). Por isso, sua linguagem é, basicamente, a da "confissão". Confessar é, aqui, trazer à fala a alegria da libertação, que o homem experimenta na busca e no encontro da verdade. Por isso, a confissão é, em Agostinho, canto de louvor. A própria miséria da existência humana, experimentada no horizonte desta libertação, se transfigura. Até mesmo a culpa se torna "feliz culpa", quando o homem experimenta a graça de uma verdade libertadora. E esta verdade libertadora Agostinho experimenta no horizonte da fé cristã. É, pois, a partir deste horizonte hermenêutico que Agostinho se apropria criticamente da filosofia grega, tornando-se um dos maiores pensadores de todos os tempos. ©2018 Copyright ©Católica EAD. Ensino a distância (EAD) com a qualidade da Desafio Considere a seguinte citação, do Pseudo Dionísio, filósofo alexandrino importante para o desenvolvimento da Teologia Mística Medieval e seus desdobramentos filosóficos: Nós estudamos em História da Filosofia Antiga a Antiguidade Tardia e a Escola de Alexandria, da qual saíram nomes como os de Plotino e Fílon de Alexandria. Ambos pensadores, ainda que o primeiro fosse pagão e o segundo judeu, foram marcantes para o desenvolvimento da Filosofia Cristã. Isso porque esta filosofia vai, de um lado, concordar que a proposta final da Filosofia tem de ser um "Deus é Beleza! É esta Beleza que produz toda amizade, toda comunhão. É essa beleza que (...) move todos os seres e os conserva dando-lhes o amoroso desejo de sua própria beleza. Ele constitui para cada um tanto o limite como o objeto do seu amor porque é o se fim (...) e o seu modelo (pois é à sua imagem que tudo se define). Assim, o Belo verdadeiro se confunde com o Bem porque, seja qual for o motivo que move os seres, é sempre para o Belo-e-Bem que eles tendem, e não existe nada que não tenha parte no Belo-e-Bem" (PSEDUO DIONÍSIO AEROPAGITA, Obras Completas, Madrid: Biblioteca de Autores Cristãos, "Os Nomes de Deus", IV,7). Conhecimento Unitivo a Deus, ou êxtase, como ensinava Plotino e, por outro lado, vai ensinar também que as escrituras possuem um sentido alegórico ou espiritual, como falava Fílon, propondo a necessidade de união entre a especulação filosófica e a religiosa. Não devemos nos esquecer que muitos pensadores alexandrinos pagãos como Proclo e Jâmblico, por exemplo, viam-se antes como sacerdotes do que como pensadores profanos. A união entre a investigação filosófica e a Teológica Visava, sobretudo, o aprimoramento da alma. Tendo por base estas informações, a citação acima, que busca unificar no conceito de Deus a reunião da Beleza, da Bondade e da Verdade, e o conteúdo que lerá a seguir, procure ao final responder às seguintes questões: Houve, de fato, uma investigação equilibrada no Medievo entre o Belo, o Bom e o Verdadeiro? Como a Mística e a Dialética foram compatibilizadas na Filosofia medieval? Quais os temas filosóficos pertinentes que a Filosofia Medieval Cristã, Judaica e Árabe trouxeram de novo e inauguraram um novo modo de concepção filosófica? ©2018 Copyright ©Católica EAD. Ensino a distância (EAD) com a qualidade da Conteúdo O Itinerário de Agostinho e o Espírito de seu Tempo Aurélio Agostinho, em seu itinerário biográfico, marcado pela busca da verdade, se confronta com as diversas possibilidades de realização humana, presentes em seu tempo. Nascido no ano de 354 na Numídia (território a oeste de Cartago), em Tagaste, como filho de pai romano e pagão (Patrício) e de mãe africanae cristã (Mônica). Agostinho vive em sua própria carne o encontro de duas culturas que se mesclam naquela região do norte da África: a cultura púnica autóctone e a cultura romana dominante. Vive também em sua alma uma divisão: a luta entre o apelo sensual (herdado do pai) e o apelo espiritual (herdado da mãe). Apesar de sua mãe ser cristã, Agostinho não adere à fé em Cristo, a não ser em idade adulta, com o batismo no ano de 387. O itinerário espiritual de Agostinho, até chegar à fé cristã, expressa as várias tendências culturais de seu tempo. Na escola, recebeu uma formação baseada na leitura dos autores latinos e voltada, sobretudo, para a linguagem (Cícero, Vergílio, Horácio, Ovídio e Catulo) e para a história (Salústio e Lívio). O encontro com a filosofia se deu a partir da leitura do diálogo Hortênsio de Cícero, uma exortação à filosofia, entendida como "amor à sabedoria". Ali Agostinho se depara com um pensamento que ele fará seu por toda a vida: que todo o homem quer ser feliz; que a verdadeira felicidade não consiste em fazer o que se quer, mas em querer e fazer o bem, ou seja, que a verdadeira felicidade se encontra na virtude, que torna o homem bom e suas obras boas. Em busca da verdade e da verdadeira felicidade, e em meio às lutas com sua sensualidade – que se ameniza um pouco com o encontro de uma companheira, com quem ele tem um filho, Adeodato (Dado por Deus) – Agostinho adere ao maniqueísmo. No dualismo ético e metafísico característico desta forma sincrética de gnosticismo – que mistura cristianismo gnóstico, zoroastrismo, hinduísmo e budismo – Agostinho encontra um reflexo de sua própria alma dividida. O pertencimento a esta forma de gnosticismo se dava em três estágios: os hýlicos (materiais), os psíquicos – também chamados de auditores (ouvintes) – e os pneumáticos (espirituais) ou eleitos. Agostinho chegou ao grau de ouvinte. No maniqueísmo ele encontrou uma explicação (provisória) para o problema do mal. Segundo esta doutrina de Manés (ou Mani), a realidade se divide em dois princípios conflitantes: o do bem – espiritual – e o do mal – a matéria. Entretanto, no maniqueísmo Agostinho não encontrou uma síntese de fé e razão. De fato, sua crença era mantida apesar de muitas perguntas de sua razão ficar sem resposta. Após o encontro em Cartago com um líder maniqueu, chamado Fausto, que não conseguiu responder às suas perguntas, que se relacionavam especialmente com a astrologia e com a concepção materialista de Deus e da alma, Agostinho abandona o maniqueísmo. Após esta frustração, ele busca refúgio no ceticismo da nova academia. Tende para os filósofos acadêmicos, que em todas as questões promoviam a dúvida e afirmavam que o homem não pode apreender nenhuma verdade com certeza absoluta. Todo conhecimento era apenas provável. Para eles, a felicidade se encontrava na conquista da ataraxia (imperturbabilidade da alma), que se alcança através do exame crítico de toda tese (skepsis) e da a suspensão de todo o juízo (epoche). Já Cícero tinha adotado o ceticismo como orientação de vida. Entretanto, o ceticismo de Agostinho não chegou a ser uma postura generalizada – ele não abandonou a fé em Deus, por exemplo. Tratava-se, para ele, mais de uma postura crítica em matéria de conhecimento. Por fim, porém, Agostinho duvida da própria postura de duvidar de tudo. A superação da fase cética vem com a leitura de escritos platônicos, mais propriamente, de escritos neoplatônicos, como os de Plotino e Porfírio, em geral na tradução de Mário Vitorino, quando Agostinho já se encontrava na Itália. Agostinho, de fato, tinha deixado Cartago no ano de 384; e, após um ano em Roma, conseguira o cargo de mestre de retórica junto ao palácio do Imperador em Milão. O neoplatonismo ajuda-o a fazer uma passagem do dualismo para o monismo metafísico. De fato, o pensamento neoplatônico encara a realidade como constituída a partir de um único princípio: justamente o princípio do Uno. Para o platonismo o mal não é uma realidade em si, que nega e se rivaliza com o bem. Ontologicamente, o mal é uma privação do bem, o que equivale a dizer: uma privação do ser. O neoplatonismo deu a Agostinho também a possibilidade de um conhecimento não materialista de Deus (o Uno, o Bem) e da Alma. Ademais, a doutrina do Nous (Intelecto) possibilitou a Agostinho uma aproximação à especulação acerca do Logos (Verbum = Verbo) desenvolvida pelo cristianismo desde Justino e os alexandrinos (Clemente, Orígenes), a partir do Prólogo do Evangelho de João e da concepção judaico-helenista acerca da Sabedoria (Sophia) de Filo de Alexandria. Segundo esta tradição, Cristo é o Logos, isto é, o Deus junto de Deus, a potência divina da Sabedoria eterna com a qual Deus cria todas as coisas, a Palavra da Vida e da Verdade, o mestre universal, que ilumina todo o homem que vem a este mundo. Segundo a leitura da história desenvolvida por essa tradição, gregos e judeus foram presenteados com pedagogos, que os preparam para o encontro com este Mestre universal. Os gregos tiveram na filosofia o seu pedagogo, assim os judeus tiveram a Torah (Lei, Instrução). Mas, ambos, judeus e gregos, na plenitude dos tempos, puderam conhecer o próprio Mestre, com a encarnação do Logos, em Jesus Cristo. Ora, nos escritos neoplatônicos Agostinho encontrou pensamentos muito semelhantes àqueles do Prólogo de João. Mas não encontrou que "o Logos se fez carne e habitou entre nós". O encontro com o Logos encarnado, com Cristo, Agostinho só faz quando, em Milão, conhece o bispo Ambrósio, e passa a ler as cartas de Paulo. De início se aproxima de Ambrósio unicamente pelo interesse de aprender algo mais da arte retórica. Mas depois, começa a se interessar pelo conteúdo dos discursos de Ambrósio. Além da presença imponente de Ambrósio e da leitura das cartas de Paulo, outros fatores estimularam Agostinho a dar o passo decisivo, ou melhor, a fazer o salto para a fé: o testemunho da conversão de Mário Vitorino, o tradutor platônico, e as histórias sobre o monge egípcio Antônio (ou Antão), que heroicamente combateu o bom combate da fé contra as insídias da sua sensualidade e da tentação diabólica. Assim, em 387, Agostinho se fez batizar por Ambrósio, juntamente com seu filho Adeodato. O itinerário espiritual de Agostinho, pois, vai do sensualismo maniqueu ao cristianismo, passando pelo ceticismo e pelo platonismo. Na fé cristã, portanto, a busca de Agostinho pela verdade e pela felicidade – por Deus – encontrou um firme ponto de apoio, uma resposta ao seu coração inquieto: "porque nos criastes para Vós e o nosso coração vive inquieto, enquanto não repousar em Vós" (Confissões I 1) (AGOSTINHO , 1988, p. 23). O tempo que imediatamente antecede e sucede ao seu batismo é o mais fecundo em escritos filosóficos. Em 386 Agostinho forma com seus amigos uma comunidade de vida, dedicada ao estudo e à oração, num retiro chamado Cassicíaco, junto de Milão. Ainda na Itália, ele escreve um opúsculo contra o ceticismo (Contra acadêmicos); um sobre a felicidade (De beata vita); outro sobre o lugar do bem e do mal na ordem universal criada por Deus (De ordine); e um diálogo íntimo ("de si consigo mesmo") sobre a investigação das coisas inteligíveis e sobre a imortalidade da alma (Soliloquium), tema que é retomado em outros textos desta fase, como o De imortalitate animae (Da imortalidade da alma) e o De quantitate animae (Da grandeza da alma), sobre a relação entre alma e corpo. Ainda é deste período o projeto de escrever sobre as ciências da época, cujas raízes remontavam ao tempo dos sofistas (séc. IV a.C), ou seja, as disciplinas das sete artes liberais (artes liberales: o trivium – gramática, dialética e retórica – e o quadrivium – geometria, música, aritmética e astronomia). Deste projeto, Agostinho conseguiu realizar somente a redação em parte de um escrito sobre a gramática e sobre a música. De volta a Tagaste, em 388, Agostinho ainda escreve o diálogo De Magistro (Do mestre), sobre a linguagem e a educação, e termina o livro De vera religione (Da verdadeira religião),sobre a relação entre a fé e o saber. Na fé cristã Agostinho considera ter encontrado a verdadeira religião, o caminho universal da libertação da alma, procurado pelos filósofos neoplatônicos, e, na verdadeira religião, a verdadeira filosofia, pois, amar a sabedoria é, em última instância, amar a Deus. A partir de então os textos de Agostinho expressam sempre mais o empenho de buscar uma compreensão, movendo-se ao interno da própria fé: credo ut intelligam – creio para compreender, é o seu mote. Surge, então, um grande número de escritos exegéticos, onde Agostinho recorre muito ao método alegórico promovido por Orígenes, escritos sobre a fé e sobre a moral cristã, bem como escritos polêmicos contra as doutrinas heréticas de seu tempo (os próprios maniqueus, os donatistas e os pelagianos). No campo da dogmática pode-se destacar o seu tratado De Trinitate (Da Trindade), onde Agostinho considera a alma humana em suas potências – memória, intelecto e vontade – como imagem da Trindade. Ainda é importante a discussão sobre a relação entre graça, pecado e natureza, suscitada com o pelagianismo, que pregava a possibilidade da autossalvação do homem, negando o pecado original e a necessidade da graça divina. Para Agostinho, a natureza humana não se encontra em sua pureza originária, mas se acha decaída e degenerada, o que impossibilita ao homem salvar-se pelas suas próprias forças. Assim como o pecado degenera a natureza humana, a graça a regenera e a resgata. A consideração sobre a liberdade humana encontra-se, pois, sempre no centro da tensão dialética entre pecado e graça. A liberdade não se encontra sem a verdade. Ela é fruto sempre de um processo de libertação. Nesta libertação, porém, o empenho humano não é tudo. Embora não se realize a libertação sem empenho, a libertação mesma é sempre mais do que empenho humano: é graça divina. A liberdade é, pois, dom de uma conquista, que exige do homem o melhor de sua boa vontade e que, no entanto, supera o próprio homem, como evento de gratuidade divina. De libertação e de liberdade falam, enfim, as duas principais obras de Agostinho. As Confissões proclamam a alegria da libertação nas vicissitudes da sua história pessoal. A Cidade de Deus investiga os vestígios da ação libertadora de Deus na história da humanidade como um todo, que, à luz da fé se torna ela mesma história de salvação, isto é, história de libertação operada pela revelação da verdade de Cristo e com a instauração do reino de Deus. As Confissões foram escritas como um canto novo do homem novo, um louvor à grandeza e à misericórdia divina que socorre o homem em sua pequenez e miséria. Já a Cidade de Deus foi escrita a partir do ano de 410, por ocasião do saque de Roma, por Alarico, rei dos Godos. A violação da "Cidade eterna" (Roma) foi um abalo no mundo da época. Os pagãos diziam que o responsável pela fraqueza de Roma era o cristianismo. Enquanto Roma fora governada sob a proteção dos deuses pagãos, ela dominou o mundo; agora que Roma era governada sob a proteção do Deus cristão, o Deus de um crucificado, ela se enfraquece e é dominada pelos bárbaros. Agostinho defende, nesta obra, o cristianismo desta acusação. Roma fora grande não por causa dos deuses pagãos e sim por causa da moralidade herdada dos primeiros romanos. Do mesmo modo, sua queda não era devida ao Deus cristão e sim à corrupção daquela mesma moralidade, que se instalara nas instituições do Império. Esta defesa dá a Agostinho também a ocasião de pensar o sentido da história à luz da fé cristã. Surge, assim, a primeira teologia da história, que reúne um vasto saber enciclopédico e historiográfico sobre a história antiga e uma forte especulação filosófica sobre o sentido da historicidade da vida humana como tal. Agostinho morre em 430, com os Vândalos às portas da cidade de Hipona (Hippo Regius, atual Annaba, na Argélia), onde ele fora bispo desde o ano de 397. Ele morre, pois, vendo o fim de uma potência mundial, que parecia inabalável: o Império Romano. A Apropriação Crítica da Filosofia Grega à Luz da Fé Cristã O sentido do pensamento de Agostinho e de sua apropriação crítica da filosofia grega no horizonte da fé cristã, talvez possa ser elucidado com palavras daquele que o doutor de Hipona considerava o maior de todos os filósofos, Platão. No Fédon (85 C-D), denomina sua investigação filosófica de "segunda navegação" (deuteros plous). Na linguagem marinheira do tempo, "segunda navegação" era aquela que se fazia com os próprios remos, sem a ajuda do vento. Para Platão, a primeira navegação era aquela que os primeiros filósofos tinham empreendido com o pensamento em torno do ser como physis (natureza). A segunda navegação, porém, feita com a ajuda da dialética, era aquela que ele mesmo empreendia com o pensamento em torno do ser como idea (ideia, forma essencial) e que portava ao vislumbre do mundo inteligível, para além do mundo sensível, portanto, ao que nós chamamos de conhecimento metafísico. Desde Platão, toda a história ocidental fora condicionada pelo pensamento e conhecimento metafísico, por esta sua "segunda navegação". O próprio Platão, no entanto, percebeu os limites desta forma de investigação, feita com os recursos da razão finita. A filosofia é como uma jangada, que o filósofo usa, para atravessar o mar da vida, na falta de um barco sólido, que só uma revelação divina poderia dar: De fato, tratando-se destes assuntos (a saber: relacionados com o sentido da vida e da morte), não é possível se não fazer uma destas coisas: ou aprender de outros qual seja a verdade; ou então descobri-la por si mesmos; ou ainda, se isso for impossível, aceitar, entre os raciocínios humanos, aquele que for melhor e menos fácil de se confutar, e sobre este, como sobre uma jangada (epi skhedias), afrontar o risco da travessia do mar da vida (diapleusai ton bion); a menos que se possa fazer a viagem de modo mais seguro e com menor risco (asphalesteron kai akindynoteron) sobre uma nave mais sólida (epi bebaioterou okhematos), ou seja, confiando-se a uma divina revelação (epi logou theiou tinos). (PLATÃO, FEDON, 85 c-d tradução nossa). (cfr. PLATONE , 1997, p. 198-199). Ora, Agostinho não hesitou em confiar-se à revelação divina que ele encontrou na sabedoria da fé cristã. O lignum crucis – o lenho da cruz – tornou-se para ele o barco sólido e seguro para aportar no porto estável do ser, superando, assim, as instabilidades do mar do vir a ser. Como se fosse uma ressonância ao discurso de Platão sobre a segunda navegação, as palavras de Agostinho declaram: A partir do momento que se vê que todas estas coisas (a saber: do mundo) são mutáveis, o que é aquilo que é, senão o que transcende todas as coisas que são e não são neste mundo? Quem, pois, compreenderá isto? Ou quem, de qualquer maneira, que tenha empenhado as forças da sua mente para poder compreender tanto quanto seja possível aquilo que é, é capaz de chegar àquilo que, de qualquer maneira, com sua mente consegue colher? É como se alguém visse de longe a pátria, mas houvesse no meio o mar que o separa dela. Ele vê onde deve ir, mas lhe falta o meio com que ir. Assim é para nós, que queremos chegar àquela nossa estabilidade, onde aquilo que é é, porque este somente é sempre assim como é. Há no meio o mar deste mundo através do qual devemos ir, enquanto muitos nem mesmo veem onde devem ir. Por isso, a fim de que existisse também o veículo com que ir, veio de lá Aquele ao qual queremos ir. E o que ele fez? Preparou o lenho com o qual pudéssemos atravessar o mar. De fato, ninguém pode atravessar o mar deste mundo, se não é conduzido pela cruz de Cristo. A esta cruz poderá agarrar-se, às vezes, mesmo aquele que tem os olhos doentes. E quem não vê onde deve ir, não se separe da cruz, e a cruz o conduzirá (AGOSTINHO, Comentário ao Evangelho de João: II, 2 tradução nossa). (cfr. AGOSTINHO , 2000, p. 493-495). Agostinho tinha consciência daquilo que Paulo proclamara (1Cor 1, 17 – 2, 16): que a sabedoria da cruz é loucura para aqueles que buscam a sabedoria deste mundo (paraos gregos) e vice-versa, que a sabedoria deste mundo é loucura para aquele que vê na cruz a sabedoria de Deus. Entretanto, ele postula que a sabedoria que a razão busca encontra-se, em última instância, na "loucura da cruz". A verdadeira filosofia se encontra na revelação do mistério da cruz. Este pensamento já tinha emergido em Justino e em Clemente de Alexandria, por exemplo. Antes de Agostinho, já outro insigne autor da patrística latina tinha salientado a heterogeneidade, para não dizer a discrepância e a "inimizade" entre a busca filosófica da razão humana e a revelação divina: Tertuliano (séc. II-III), um dos apologistas do cristianismo diante dos ataques da cultura dominante. Com palavras inflamadas e com uma retórica impressionante, feita de antíteses e de paradoxos, diz Tertuliano: O que tem o filósofo e o cristão em comum? O discípulo da Grécia e o discípulo do Céu? O pretendente à fama e o pretendente à vida eterna? O fazedor de palavras e o realizador de ações? O destruidor e o edificador das coisas? O amigo e o inimigo do erro? O falsificador da verdade e o seu reconstituidor? O seu ladrão e o seu vigia? (Apologia 46). O que tem em comum Atenas e Jerusalém, a Academia e a Igreja, os heréticos e os cristãos? (Da Prescrição 7). O filho de Deus foi crucificado: não dá vergonha, porque é vergonhoso. E o filho de Deus morreu: é credível, porque improvável. E foi sepultado: é certo, porque impossível (Da Carne de Cristo 5 – tradução nossa). (Apud ÜBERWEG; HEINZE , 1927, p. 50). Tertuliano acentuou ao máximo a oposição entre fé e razão. Agostinho reconheceu a heterogeneidade entre a razão e a fé, mas não acentuou esta oposição, antes buscou conciliá- las numa síntese bem peculiar, onde a fé assume sob si a busca filosófica da razão e funciona como instância crítica desta. Na Idade Média, o que venceu foi a posição de Agostinho, apesar de sempre ter havido tendências fideístas, como a de Pedro Damião, no século XII, por exemplo. Esta união de coisas tão distintas, filosofia e fé, permite, na visão de Agostinho, uma navegação mais segura no mar desta vida, para aportar no porto do ser, isto é, na estabilidade d'Aquele que é o que é, d'Aquele que é sempre assim como é, conforme a revelação do nome divino a Moisés: Ego sum qui sum: qui est, misit me ad vos (Eu sou quem sou: quem é, mandou-me a vós) (Êxodo 3, 14). É assim que a metafísica, o empenho autônomo da investigação racional que questiona o ser, e a teologia, o empenho da busca da compreensão da fé, que se volta para o Deus de Jesus Cristo, se unem. Esta união marcará o destino da filosofia até o fim Idade Média. O programa de investigação filosófica em Agostinho se resume nesta frase: Deum et animam scire cupio. Nihil plus? Nihil omnino (Desejo conhecer Deus e a alma. Nada mais? Absolutamente nada mais) (Solilóquio I 2, 7). Portanto, ao preceito do oráculo délfico (Gnote seauton – conhece-te a ti mesmo!), Agostinho acrescenta o conhecimento de Deus. Nesse duplo conhecimento, pois, está o essencial da investigação filosófica agostiniana. De que adianta ao homem o conhecimento do mundo inteiro, se ele ignora a si mesmo e a Deus? Por isso, das três partes da filosofia, a saber, a física, a lógica e a ética, a mais importante é, nesta perspectiva, a ética. A física, ou filosofia natural, só vale se conduz ao conhecimento da causa primeira; a dialética, ou filosofia racional, é apenas instrumental, uma disciplina que ensina a aprender e a ensinar e que investiga de que modo o homem pode conhecer a verdade; já a ética, ou filosofia moral, é o que mais importa, pois ela é a busca do bem maior para o homem, ou seja, da felicidade, que consiste na fruição de Deus (frui Deo), o Sumo Bem, o Bem puro e simples. O sentido do filosofar está na própria busca da felicidade por parte do homem: nulla est homini causa philosophandi, nisi ut beatus sit(não há nenhuma outra causa que leva o homem a filosofar, a não ser a busca de ser feliz) (A Cidade de Deus XIX 1). Na verdade, a filosofia natural, a racional e a moral, constituem um tríplice caminho, que reconduz o homem a Deus, pois Deus é causa subsistendi (causa do subsistir), ratio intelligendi (razão do entender) e ordo vivendi (ordem do viver) (A Cidade de Deus VIII 4). É a partir dessa perspectiva que Agostinho valora a filosofia grega. O conhecimento dos filósofos jônicos e itálicos da natureza só tem valor enquanto conduz ao conhecimento (vago ainda) de uma razão divina a governar o cosmo. Sócrates merece atenção, pois mudou o foco da física para a ética. Platão é o maior dos filósofos. Agostinho conta Aristóteles entre os mais antigos platônicos, apesar de este ter fundado a sua própria "seita", a dos peripatéticos; e considera-o "homem de excelente engenho", superior a muitos dos platônicos, mas inferior em estilo a Platão (Cfr. A Cidade de Deus VIII 12). Platão e os filósofos que o seguem, como Plotino, Porfírio e Jâmblico, se destacam pelo empenho metafísico (transcendental). Para Agostinho, eles se encontram na sua mesma dinâmica, ou seja, no movimento do quaerere Deum (buscar Deus): cuncta corpora transcenderunt quaerentes Deum; omnem animam mutabilesque omnes spiritus transcenderunt quaerentes summum Deum (transcenderam todos os corpos, em busca de Deus; transcenderam também todas as almas mutáveis e os espíritos, em busca do sumo Deus). (A Cidade de Deus VIII 6). O neoplatonismo teria até mesmo, segundo Agostinho, vislumbrado algo da Trindade. De fato, Agostinho entrevê uma analogia entre a tríade ser, entender, viver (esse, inteligere, vivere) ou a tríade Uno (hen), Intelecto (Nous) e Alma do mundo (Psyché), com o mistério trinitário do Pai, Filho e Espírito Santo. O neoplatonismo teria ainda o mérito de propor ao homem a busca da purificação, da iluminação e da visão de Deus e um ideal de virtude maior, que consiste no ser semelhante a Deus (A Cidade de Deus IX 17). Entretanto, movidos pela soberba, os filósofos neoplatônicos não foram capazes de aderir ao Verbo encarnado: ao Deus que se esvaziou a si mesmo, fazendo-se semelhante ao homem e tornando-se servo de todo o homem, a ponto de, por amor aos homens, sofrer a morte de Cruz. De fato, estes filósofos mostraram-se vãos, ao aderir aos sacrifícios pagãos e ao culto dos demônios (entendidos como mediadores entre os deuses e os mortais), como foi o caso de Porfírio, o qual confessou não ter ainda constado que nenhuma seita teria encontrado "a senda universal para a libertação da alma" (A Cidade de Deus IX 33). Tornaram-se cegos para o único mediador entre Deus e o homem, o Deus-homem, Cristo Jesus. Cumpriu-se assim o oráculo do profeta Isaías: perdam sapientiam sapientium et prudentiam prudentium reprobabo (porei a perder a sabedoria dos sábios e reprovarei a prudência dos prudentes) (Cfr. Confissões VII 9). De fato, a "senda universal para a libertação da alma" se encontra no seguimento humilde do Cristo Crucificado, o Logos feito carne, humanado, que os platônicos, em sua soberba, não reconhecem. Também os céticos da Nova Academia se desviaram. Eles invertem a ordem das coisas, afirmando que o investigar torna o homem mais feliz do que o saber. Ora, sem a possibilidade de uma posse da verdade, não tem sentido nem mesmo a busca e a investigação. É esta posse que, acima de tudo, torna o homem feliz, como, de resto, afirmou também Aristóteles (Cfr. Ética a Nicômaco X 7). Eles afirmaram que o homem, no máximo, pode chegar a um conhecimento provável do real. Como pode se dar o provável, sem o verdadeiro? Não é o verdadeiro a medida a partir da qual se mede o provável? Ademais, quem investiga pode perceber que o desejo do verdadeiro que é inerente ao homem não é em vão. Em diversos níveis de conhecimento, é possível ao homem o conhecimento da verdade. No nível do conhecimento sensível, por exemplo, pode-se afirmar que os sentidos não nos enganam, como se costuma afirmar. Na verdade, como já observaram os estoicos, somos nós que nos enganamos em nossos juízos sobre o que os sentidos nos mostram. Já o conhecimento racionalse baseia sobre um princípio que absolutamente certo: o princípio de não contradição. Dada uma disjunção contraditória, um dos membros deve ser verdadeiro e o outro falso. Mesmo se o conhecimento sensível e o conhecimento racional fossem enganosos, há algo que se subtrai a todo engano: si fallor, sum (se me engano, existo), diz Agostinho, antecipando, de certa maneira, o cogito, ergo sum, de Descartes (Cfr. A Cidade de Deus XI 26). Com efeito, é certíssima a evidência da autopresença da mente para si mesma, evidência que ela tem, junto dos atos ou vivências que ela realiza: Quem, porém, pode duvidar que a alma vive, recorda, entende, quer, quer, pensa, sabe e julga? Pois, mesmo se duvida, vive; se duvida, lembra-se do motivo de sua dúvida; se duvida, entende que duvida; se duvida, quer estar certo; se duvida, pensa; se duvida, sabe que não sabe; se duvida, julga que não deve consentir temerariamente. Ainda que duvide de outras coisas não deve duvidar de sua dúvida. Visto que se não existisse, seria impossível duvidar de alguma coisa (Da Trindade X 10, 14). (AGOSTINHO, 1994, p. 328). A Busca da Felicidade e da Verdade como Busca de Deus (quaestio dei) A busca de Deus (quaestio Dei), em Agostinho, passa, pois, pelo conhecimento da alma (anima), melhor, do espírito (animus) ou mente (mens), ou seja, não tanto da dimensão sensitiva da alma, mas de sua dimensão espiritual, que transcende o mundo sensível, o mundo dos corpos. Graças a essa transcendência, a mente pode conhecer-se a si mesma em sua autopresença imediata e em sua evidência indubitável. Ao homem, o caminho que conduz à verdade passa necessariamente pelo conhecimento de si mesmo e pelo recolhimento no mais íntimo de si. Agostinho indica: noli foras ire, in te redi; in interiore homine habitat veritas (Não vás para fora, entra em ti mesmo: no homem interior habita a verdade) (A Verdadeira Religião, 72). A partir deste aceno, Agostinho, por exemplo, convida o homem a investigar a grandeza, amplidão e profundidade da memória (Confissões X 7-19). E se admira: grande é a potência da memória, ó meu Deus! Tem não sei quê de horrendo, uma multiplicidade profunda e infinita. Mas isto é o espírito, sou eu mesmo. E que sou eu, ó meu Deus? Qual é a minha natureza? Uma vida variada de inumeráveis formas com amplidão imensa (Confissões X 17). Investigando a si mesmo, Agostinho acaba encontrando o que supera a si mesmo: a presença de Deus na mente do homem, como Verdade que o ilumina desde dentro, como Vida de sua vida. E mais, ele encontra, ainda, na mente humana, uma analogia da Trindade, na tríade ser, conhecer e amar, que espelha o Pai, princípio sem princípio do ser, o Filho, princípio principiado como o Intelecto do Pai, e o Espírito Santo, o princípio espirado do amor que une Pai e Filho: somos, conhecemos que somos e amamos esse ser e esse conhecer (...). Como conheço que existo, assim também conheço que conheço. E quando amo essas duas coisas, acrescento-lhes o próprio amor, algo que não é de menor valia (A Cidade de Deus XI 26). O homem busca a felicidade, mas a felicidade consiste em se alegrar com a verdade, pois uma felicidade sem verdade seria uma felicidade falsa, isto é, não seria felicidade. Como o homem, porém, pode alcançar a verdade? Resposta: dentro de si mesmo. A Verdade habita o homem interior; ela é o próprio Deus que ilumina o homem desde dentro. Ubi enim inveni veritatem, ibi inveni Deum meum ipsam veritatem (onde encontrei a verdade, ali encontrei o meu Deus, que é a verdade mesma) (CONFISSÕES X 24). Ora, há uma diferença ontológica entre a verdade e o verdadeiro. A verdade é aquilo que possibilita o verdadeiro como verdadeiro. Agostinho entende a verdade, primordialmente não no sentido lógico, como a retidão do juízo, pois esta já supõe a verdade pré-predicativa, a verdade no sentido manifestativo, ou seja, a verdade no sentido ontológico: verdade é o que é; ou ainda: verdade é o que mostra aquilo que é (quae ostendit id quod est) (A Verdadeira Religião XXXVI 66). Verdadeiro é aquilo que se mostra tal como é ou que é tal como se mostra. Verdade é aquilo que produz tal mostrar, ou seja, é aquilo que ilumina tanto a coisa conhecida como o próprio ato de conhecer. Assim como o olho do corpo conhece o visível graças à claridade da luz sensível, também o olho da mente, o intelecto da criatura espiritual, conhece o inteligível graças à claridade da luz divina, ou seja, da Verdade. Ora, esta Verdade não é algo que se submete ao juízo do homem. Pelo contrário, para que o juízo do homem seja verdadeiro, isto é, reto, é necessário que ele esteja de acordo com as regras da verdade. A estas regras Agostinho chama de rationes aeternae (razões eternas), pois são imutáveis em si mesmas. Elas dão acesso ao conhecimento de verdades a priori e incondicionadas, quer no campo teórico, quer no campo prático. Elas dão acesso, portanto, ao mundo inteligível, ao reino das ideias, como chamava Platão. Por exemplo: como pode o homem injusto conhecer o que é justo? De onde ele tira a ideia da justiça, já que ele é injusto, se não da luz da Verdade que ilumina o homem sobre o que é justo e injusto? Onde, pois, estarão escritas essas regras? Elas que possibilitam ao injusto reconhecer o que é justo, descobrir que deve possuir aquilo que ele mesmo não possui? Onde hão de estar escritas senão no livro daquela luz que se chama Verdade? Nesse livro é que se baseia toda lei justa que é transcrita e que se transfere para o coração do homem que pratica a justiça. Não como se ela emigrasse de um lado para o outro, mas a modo de impressão na alma. Tal como a imagem de um anel fica impressa na cera, sem se apagar do anel (Da Trindade XIV 15, 21). (AGOSTINHO, 1994, p. 469-470). A Verdade não se encontra somente no íntimo mais íntimo do homem. Ele também se encontra acima dele, no sentido de transcendê-lo. Enquanto a mente do homem é mutável, a Verdade é imutável. Enquanto a mente criada é temporal, a Verdade incriada é eterna. Ao in te ipsum redi (entra em ti mesmo) corresponde também o transcende te ipsum (ultrapasse a ti mesmo), pois a verdade não é somente "íntima" (o que há de mais interior), mas também "suma" (o que há de mais elevado) no homem. E esta Verdade é Deus: Tu autem eras interior intimo meo et superior summo meo (Tu, com efeito, eras mais íntimo que o meu próprio íntimo e mais sublime que o ápice do meu ser! (Confissões III 6). Criação e Temporalidade Platão tinha postulado o mundo inteligível das ideias ou essências como eterno e imutável, separado do mundo sensível. O Demiurgo de Platão ordena o mundo sensível a partir do mundo inteligível. Agostinho entende que as ideias se encontram na mente ou no Intelecto divino (no Logos ou Verbo). Elas são pensamentos de Deus, segundo os quais ele cria todas as coisas. São, pois, as razões eternas e estáveis das coisas, os fundamentos de tudo aquilo que surge e perece (rationes rerum – razões ou fundamentos das coisas), que estão presentes na Sabedoria criadora de Deus. São formas formadoras e não formas formadas, que estão presentes e atuantes na matéria do universo como logoi spermatikoi(sementes do Logos) ou rationes seminales (razões que atuam como sementes), isto é, são potencialidades de geração e de formação que a matéria traz consigo, em seu bojo, diz Agostinho, mesclando, assim, uma concepção ao mesmo tempo platônica e estoica das ideias. Em lugar da emanação neoplatônica, Agostinho põe a tese de uma creatio ex nihilo (criação a partir do nada). A emanação é um processo necessário e eterno. Segundo este processo, as coisas emergem do Uno de maneira não imediata, mas através de uma série de mediações. A criação é, ao contrário, um ato livre e contingente, que não tem nenhum pressuposto, a não ser a própria vontade criadora que Deus traz consigo, ou seja, a vontade de comunicar o ser para além de si mesmo. Dizer que a criação é ex nihilo (do nada) é dizer que ela é a partir da absoluta liberdade de Deus. Nada é pressuposto desta criação a não ser a gratuidade desta liberdade.Mesmo o caos originário, de onde surge o cosmos é um caos criado. A matéria informe, um quasenada, é entendida como o substrato indeterminado, que recebe a o ser como forma determinante das coisas. Se a forma é o elemento estável e definidor das coisas, a matéria é o elemento instável: princípio de mutação, que traz consigo o sentido da transitoriedade do vir a ser. Ademais, a criação é uma comunicação do ser que é imediata. "Tudo o que é, enquanto tem o ser, o tem de Deus" (Da Verdadeira Religião: XVIII 36, 97). Criação é comunicação do ser. É, portanto, evento que acontece por meio da Palavra (Logos / Verbo), que é a própria Sabedoria eterna de Deus. É nesta Sabedoria que estão as Ideias como arquétipos (formas originárias) de todas as coisas. Na mente divina, porém, não estão somente as ideias universais das coisas, mas também as ideias de cada ser individual. A individualidade ou singularidade das coisas adquire, assim, uma dignidade eterna e infinita, que não tinha no pensamento grego. Cada indivíduo foi como indivíduo, isto é, na sua singularidade, pensado por Deus, desde a eternidade (Epístola XIV 4). Se do ponto de vista de Deus a criação é uma comunicação do ser, do ponto de vista da criatura ela é uma participação do ser. A criatura só é à medida que participa do ser, que lhe é comunicado livre e gratuitamente pelo Criador. Por si mesma, ela é um nada e tende para o nada. Por isso, a conservação do mundo é uma continuação do ato criador de Deus. Se Deus retirasse o ser que ele comunica à criatura, esta voltaria para o nada. A decisão de criar, por parte de Deus, é eterna (Cfr. A Cidade de Deus XI 4ss). Mas o mundo criado, em virtude da sua finitude, é temporal. Tempo e espaço só existem no mundo criado e com o mundo criado. O tempo é a medida do movimento, do devir, do surgir e perecer. Só há tempo onde há mutabilidade. Mas, só há medida onde haja uma mente que atue o ato de medir. A mente humana vive a experiência imediata do tempo como duração. "Em ti, ó meu espírito, meço os tempos!" (Confissões XI 27). Nessa experiência da duração, primeiro vem o futuro, como o que ainda não é; depois vem o presente, como o que já é; depois, o passado, como o que não mais é. Na vivência da duração, o futuro é expectativa; o presente é atenção; o passado, memória. O tempo é uma distentio animae: o distender do espírito. Os três tempos, na verdade, são um único tempo: o presente. O futuro é o presente da expectativa; o presente é o presente da atenção; o passado, o presente da memória. Futuro, presente e passado são, portanto, três formas de presente. Eles pressupõem sempre a autopresença do espírito a si mesmo. O tempo é, assim, um vestígio ou uma imagem da eternidade: o presente estável, que não conhece nem mutação nem duração. O homem se encontra, assim, entre o tempo e a eternidade, em virtude da ambivalência de sua natureza. Ele se encontra no meio, entre o ser absoluto e o nada (o não-ser absoluto). Isso lhe provoca fascínio e horror: Inhoresco, inquantum dissimilis ei sum, inardesco, inquantum similis ei sum (horrorizo-me, enquanto sou dissímile dela [da luz divina], inflamo-me, enquanto sou símile a ela) (Confissões XI 9). O Bem, a Vontade e a Ordem do Amor A comunicação do ser é um ato da bondade de Deus. Aliás, Deus não é um bem, mas o bem pura e simplesmente. Ele é o sumo Bem. Na concepção platônica, o Bem é aquilo que deixa e faz ser, é aquilo que torna o ente apto a ser. Por isso é que o Bem está além do ser, além de toda entidade (epekeina tes ousias). Plotino colocou o Uno além do ser. O Uno é o próprio Bem. Em Agostinho, Deus é o Bem Uno, anterior a toda a pluralidade de bens. Torna a olhar a Verdade, se o podes. Por certo, tu não amas realmente senão aquilo que é bom (...). Bom é isto e bom é aquilo. Prescinde disso e daquilo e contempla o próprio Bem, se podes. Então verás a Deus, que é bom, não por algum outro bem, mas o Bem de todos os bens (...). Portanto, a Deus se há de amar, não como se ama a este ou aquele bem, mas como se ama o próprio Bem. É esse o bem da alma que se há de procurar (...). Somente o Bem é bom (Da Trindade: VIII 3, 4). (AGOSTINHO, 1994, p. 263-264). Na adesão ao Bem puro e simples e na sua fruição está a felicidade (beatitudo) do homem. Para este Bem tende, fundamentalmente, a vontade do homem. A vida do espírito consiste em conhecer e querer, razão e vontade. Vontade (voluntas) é, porém, essencialmente, amor (amor). Quando a vontade do homem se volta para as muitas coisas mutáveis e nelas se dispersa, ou seja, quando ela se volta para os muitos bens particulares, o amor se torna cobiça (concupiscentia). In multa defluximos (Nós nos deslizamos para muitas coisas) (Confissões X 29). A concupiscência da carne, que é a busca desenfreada do prazer, a concupiscência dos olhos, que é o desejo vão da curiosidade, e a soberba, que é a cobiça de ser amado e temido, sem querer amar e temer armam, a cada passo da existência do homem, uma cilada. A vida do homem é uma tentação sem trégua: Numquid non 'temptatio est vita humana super terram' sine ullo interstitio? (Não é, pois, 'a vida humana sobre a terra uma tentação' sem interstício?) (Confissões X 28). Por se deixar arrastar para as muitas coisas, o homem se torna um peso para si mesmo: "Oneri mihi sum" (sou um peso para mim mesmo) e a vida se torna para ele um enfado (moléstia). Por já sempre se ter perdido e alienado de sua existência autêntica, o homem se torna uma questão para si mesmo: quaestio mihi factus sum (tornei-me uma questão para mim mesmo) (Confissões IV 4). Quando, porém, a vontade se volta para o único e eterno Bem, que torna boas todas as coisas, o amor se torna caridade (caritas) e o homem alcança a contenção da própria existência, recolhendo-se no Uno (continentia) e obtendo a leveza do ser. Para que isso aconteça, é preciso que o homem, em suas ações e em seus hábitos, siga a ordem do amor (ordo amoris). Isso requer, em primeiro lugar, observar a diferença entre uti (usar) e frui (fruir, encontrar prazer em). Em primeiro lugar, o homem precisa servir-se das criaturas, em vez de buscar nelas a satisfação plena dos seus desejos, pois a meta última da vontade é o Sumo Bem. Deter-se nas criaturas seria conter a marcha da vontade em seu caminho para o seu fim último. Em segundo lugar, o homem precisa amar menos o que é menos digno de ser amado: o corpo, menos do que o espírito. Pois, no próprio homem, há uma hierarquia de ser: o homem é uma alma que se serve de um corpo: mortali atque terreno utens corpore ([a alma é uma substância racional] que se serve de um corpo mortal e terreno) (Dos Costumes da Igreja I 27). Em terceiro lugar, o homem precisa amar em igual medida o em igual modo deve ser amado: o próximo. Em quarto lugar, o homem precisa amar acima de tudo o que acima de tudo é digno de ser amado: Deus, o Sumo Bem, o próprio amor. A vontade, portanto, é dotada de livre arbítrio: ela pode se voltar para o Sumo Bem ou dele se desviar, invertendo a ordem do amor, isto é, amando menos o que é mais digno de ser amado e vice-versa, amando mais o que é menos digno de ser amado. Se, do ponto de vista ontológico, o mal é uma privatio boni (uma privação do bem); do ponto de vista ético, o mal é uma inversão na ordem do amor, uma inversão que tem origem na própria vontade. O livre-arbítrio, portanto, não é, em si, um bem supremo, e sim um bem mediano, pois com o livre-arbítrio o homem pode perder ou conquistar a sua liberdade. É que livre-arbítrio é condição necessária para a liberdade, mas não suficiente. Para ser livre, o homem não pode deixar de se libertar continuamente, pela verdade, para o Bem. Por isso, não basta ao homem ter uma vontade livre. Para que ele seja feliz, é preciso que tenha uma vontade boa (bona voluntas). Contudo, boa é aquela vontade que se dirige e adere ao Sumo Bem. A questão é se o homem, por si só, é capaz de alcançar este Sumo Bem. Para Agostinho, a vontade do homem é, desde o seu nascimento, uma vontade impotente para alcançar o que ela se propõe. E issoé uma decorrência do pecado original. Contra Pelágio, desde a perspectiva da fé cristã, ele postula que somente a graça pode regenerar a vontade do homem e torna-la capaz de alcançar aquilo que ela busca em última instância: a fruição do Sumo Bem. As Duas Cidades, o Ethos Social e o Sentido da História A medida de um homem é a medida de seu amor. Cada um é aquilo que ele ama e como ele ama. Isto vale não somente para o indivíduo. Vale também para as comunidades humanas e para esta comunidade de seres racionais, que é a Civitas (Cidade, Estado). A civitas é, pois, uma comunidade espiritual, fundada num ordenamento ético e jurídico. Não qualquer congregação de seres humanos é uma civitas, mas sim aquela cuja fundamentação repousa na ratio (razão) e, por conseguinte, no vínculo da lex (lei). A civitas é, por conseguinte, uma societas rationalium – sociedade de seres racionais – fundada sobre o povo, especialmente, sobre o costume dos antepassados (mos maiorum). A civitas é, portanto, uma res publica, uma realidade pública, a forma de sociedade, instituída pelo povo. Agostinho assim definiu o conceito de 'povo': populus est coetus multitudinis rationalis rerum quas diligit concordi communione sociatus ("o povo é o conjunto de seres racionais associados pela concorde comunidade dos objetos amados") (A Cidade de Deus XIX 24). Por isso, dirá Agostinho, se quisermos conhecer a identidade de um povo, é preciso perguntar: o que é que ele ama? Este mesmo critério Agostinho usa para refletir sobre a história. A história da humanidade lida à luz da história da salvação, contida na Bíblia, é, para Agostinho, a história de duas Cidades, fundadas por dois amores: a Civitas terrena (Cidade Terrena), simbolizada biblicamente por Babilônia, arquétipo da desordem e da injustiça, e a Civitas Dei (Cidade de Deus), simbolizada por Jerusalém, arquétipo da ordem e da justiça. Dois amores fundaram, pois, duas cidades, a saber: o amor próprio, levado ao desprezo a Deus, a terrena: o amor a Deus, levado ao desprezo de si próprio, a celestial. Gloria-se a primeira em si mesma e a segunda em Deus (A Cidade de Deus XIV 28). As duas Cidades, portanto, são dois tipos de constituição do mundo da convivência humana, duas formas de organização da vida social, cada uma fundada por uma espécie de amor e seu ethos. Podemos ressaltar a concepção de poder que fundamenta a arte de governar em uma e outra Cidade: "naquela, seus príncipes e nações avassaladas veem-se sob o jugo da concupiscência de domínio; nesta, servem em mútua caridade, os governantes, aconselhando, e os súditos, obedecendo" (A Cidade de Deus XIV 28). Ou seja: numa, o poder é exercido a partir da cobiça de dominação sobre os outros homens, noutra, o poder é exercido a partir da intenção de servir e ajudar a construir uma comunidade humana justa. As duas cidades encontram-se, durante toda a história, misturadas. Por conseguinte, não coincidem com a Igreja e o mundo. A Cidade de Deus tem habitantes mesmo entre os que estão fora dos limites da Igreja visível, como a cidade terrena também tem habitantes mesmo entre aqueles que estão contados como cristãos. A Igreja militante é ainda uma realidade mista, híbrida: traz em si justos e injustos, habitantes da Cidade de Deus e da cidade terrena. Somente a Igreja triunfante, na eternidade, é que será uma realidade pura e sem mancha de pecado, em que habitarão somente os justos. A história é um processo teleológico. A consumação deste processo consiste na revelação e constituição definitiva do Reino de Deus: o triunfo da Jerusalém Celeste. A temporalidade histórica é caracterizada pela tempestuosidade dos combates entre os humanos que se agitam na diversidade e mesmo no conflito de seus interesses. A paz terrena é sempre frágil, fruto dos acordos interesseiros dos homens. Os homens que amam a justiça, porém, devem promover esta paz terrena, mas almejando a paz celeste e perpétua, que é a verdadeira meta da história e que consiste em o homem fruir de Deus e em Deus. Mas, o que é a paz como tal? Agostinho responde: "a paz de todas as coisas é a tranquilidade da ordem". E o que é a ordem? "A ordem é a disposição que às coisas diferentes e às iguais determina o lugar que lhes corresponde" (A Cidade de Deus XIX 13). Para Refletir a. Procure relacionar sua atitude existencial com sua busca por conhecimento filosófico e em que medida este pode ser um reflexo daquela. b. Procure relacionar os temas da razão, introspecção e fé como atitudes existenciais que buscam um fundamento filosófico. ©2018 Copyright ©Católica EAD. Ensino a distância (EAD) com a qualidade da Dica do Professor Agostinho é um pensador de alto nível e de intensa dinâmica existencial. Sua influência foi bastante forte em toda a Idade Média e chega até aos nossos dias. Na Alta Idade Média (do século V até o ano mil) sua influência é decisiva para formar o espírito medieval latino. Até o século XII, esta influência não encontra concorrência. Com ele, vigora a filosofia de Platão e do neoplatonismo, porém, no século XIII, com a recepção de Aristóteles, esta hegemonia platônico-agostiniana é quebrada, sobretudo na obra de Tomás de Aquino. Agostinho acabou sendo, portanto, o elo de dois mundos: o antigo e o medieval. Durante vários séculos, somente outro pensador, com outro estilo de pensamento, pode emergir como uma referência alternativa: o Pseudo-Dionísio Areopagita. Assista ao filme Agostinho de Hipona, de Roberto Rossellini. https://www.youtube.com/watch?v=am3et8aV4ec&t=17s ©2018 Copyright ©Católica EAD. Ensino a distância (EAD) com a qualidade da Na Prática "Prezado(a) estudante, Esta seção é composta por atividades que objetivam consolidar a sua aprendizagem quanto aos conteúdos estudados e discutidos. Caso alguma dessas atividades seja avaliativa, seu (sua) professor (a) indicará no Plano de Ensino e lhe orientará quanto aos critérios e formas de apresentação e de envio." Bom Trabalho! Leia o trecho a seguir: Atividade 01 "O que a alma humana não põe em dúvida é a sua própria infelicidade e o fato de desejar ser feliz [...]. A alma não pode conceder a si mesma a justiça que, uma vez recebida não mais a possui. Recebeu-a quando foi feita criatura humana e perdeu- a, em consequência do pecado [...]. Lembra- se, contudo, do Senhor seu Deus [...]. Não que se recorde pelo fato de tê-lo conhecido em Adão [...]. Mas ela pode ser lembrada para se voltar para o Senhor [...]. Esta é a razão pela qual, até os homens ímpios pensam sobre a eternidade, censuram e elogiam muitas coisas no comportamento humano, e com razão. Quais as regras que inspiram este juízo, senão as normas eternas que deveriam nortear a vida de cada um, embora não se viva assim? [...] Onde, pois, estão escritas essas regras? Elas que possibilitam ao injusto reconhecer o que é justo, descobrir que deve possuir aquilo que ele mesmo não possui? Onde hão de estar escritas senão no livro daquela luz que se chama Verdade? Nesse livro é que se baseia toda lei justa que é transcrita e se transfere para o coração do homem que pratica a justiça. Não como se ela emigrasse de um lado para o outro, mas a modo de impressão na alma. Tal como a imagem de um anel fica impressa na cera, sem se apagar do anel. Aquele que não pratica a justiça, apesar de saber que deve praticá-la, afasta-se da luz pela qual é iluminado. Aquele que não sabe como deve viver, peca com atenuantes, porque não é transgressor de uma lei que lhe seja conhecida. Mas ele também é atingido pelo resplendor da verdade, que está presente em toda parte, se quando for admoestado confessar a sua culpa". (AGOSTINHO, Santo. A Trindade. Trad. de Agustino Belmonte. São Paulo: Paulus, 1995, XIV, 15, 21 e 16, 22.) a. Faça uma paráfrase do texto, reescrevendo frase por frase sem perder o encadeamento argumentativo. ©2018 Copyright ©Católica EAD. Ensino a distância (EAD) com a qualidade da Saiba Mais Para ampliar seu conhecimento a respeito desse assunto, veja abaixo a(s)sugestão(ões) do professor: b. Encontre quais argumentos filosóficos Agostinho desenvolve aqui em favor da fé cristã. c. Posicione-se contra ou a favor a tese agostiniana a favor da tese da Iluminação e explore suas possíveis consequências. Faça as leituras de O livre-arbítrio de Agostinho; Confissões de Agostinho; Agostinho e o ceticismo, excerto do capítulo 3 do livro Santo Agostinho de Gareth Matthews. Assista aos vídeos em que o medievalista prof. Dr. Carlos Arthur Ribeiro Nascimento fala sobre Santo Agostinho: Café Filosófico – Santo Agostinho – Parte 1 Café Filosófico – Santo Agostinho – Parte 2 Café Filosófico – Santo Agostinho – Parte 3 Café Filosófico – Santo Agostinho – Parte 4 http://sumateologica.files.wordpress.com/2009/07/santo_agostinho_-_o_livre-arbitrio.pdf http://sumateologica.files.wordpress.com/2009/07/santo_agostinho_-_confissoes.pdf http://criticanarede.com/hist_cepticismo.html https://www.youtube.com/watch?v=uwY0N14fdpY https://www.youtube.com/watch?v=O0PtvD_8Phk https://www.youtube.com/watch?v=sZJFhOpmlRk https://www.youtube.com/watch?v=9RQ-iEFA9ZM
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