Buscar

46584675-teorias-sociologicas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 96 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 96 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 96 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

SISTEMA DE ENSINO
CRIMINOLOGIA
Teorias Sociológicas
Livro Eletrônico
2 de 96www.grancursosonline.com.br
Teorias Sociológicas
CRIMINOLOGIA
Mariana Barreiras
Sumário
Teorias Sociológicas ....................................................................................................................... 3
1. Microssociologia e Macrossociologia ..................................................................................... 3
2. Teorias do Consenso e do Conflito .......................................................................................... 4
3. Teorias do Consenso .................................................................................................................. 6
3.1. Escola de Chicago ..................................................................................................................... 6
3.2. Teoria da Anomia ..................................................................................................................... 9
3.3. Teoria da Associação Diferencial ........................................................................................13
3.4. Teoria da Subcultura Delinquente ..................................................................................... 18
4. Teorias do Conflito ...................................................................................................................20
4.1. Labelling Approach ................................................................................................................ 22
4.2. Criminologia Crítica ..............................................................................................................28
Resumo ............................................................................................................................................ 50
Mapas Mentais .............................................................................................................................. 58
Questões de Concurso ................................................................................................................. 62
Gabarito ........................................................................................................................................... 93
Referências Bibliográficas ..........................................................................................................94
O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para EDIVANIRA VIDAL MEDEIROS - 83032908272, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título,
a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal.
https://www.grancursosonline.com.br
https://www.grancursosonline.com.br
3 de 96www.grancursosonline.com.br
Teorias Sociológicas
CRIMINOLOGIA
Mariana Barreiras
TEORIAS SOCIOLÓGICAS
Olá, bem-vindo(a) à nossa terceira aula. Antes de começarmos, deixo meu Instagram, para 
quem tiver interesse: @profmaribarreiras.
Hoje vamos analisar o assunto de Criminologia mais cobrado em provas: as teorias socio-
lógicas, que são amplamente dominantes na Criminologia contemporânea. São teorias que, 
como já expliquei para você, defendem a impossibilidade de se analisar o fenômeno criminal 
prescindindo do estudo da sociedade onde o delito está inserido.
Antes de analisar as teorias sociológicas propriamente ditas, vamos conhecer algumas 
classificações que são feitas sobre elas.
1. Microssociologia e Macrossociologia
Essa é uma classificação sobre a qual não há exatamente um consenso entre todos os 
autores e bancas.
Teorias microssociológicas são aquelas que analisam os processos individuais de sociali-
zação relacionados à criminalização. Elas estudam a integração entre o indivíduo e a socieda-
de. Ou seja, elas analisam o meio social, mas o foco principal é o indivíduo, ou melhor, o modo 
como o indivíduo interage nessa sociedade. Como estão mais focadas em compreender essa 
interação do indivíduo com a sociedade – e não a sociedade em si como um todo –, têm viés 
fortemente empírico e menor nível de abstração.
As teorias macrossociológicas, por sua vez, estudam a estrutura da sociedade como um 
todo. O foco deixa de ser a interação entre o indivíduo e sua sociedade, e passa a ser a pró-
pria sociedade criminógena. São teorias que elevam a sociedade ao patamar de fator crimi-
nógeno. O fator empírico aqui perde um pouco de força e os estudos adquirem maior nível de 
abstração. Naturalmente, isso não significa que a criminologia, de modo mais amplo, deixa de 
ser empírica no seio dessas escolas. Trata-se, apenas, de uma mitigação do empirismo, pois 
nem todas as pesquisas necessitam ser experimentais para que a criminologia seja conside-
rada como tal.
Parte considerável dos manuais de Criminologia considera que as orientações macrosso-
ciológicas podem ser subdivididas em teorias do consenso e teorias do conflito (classificação 
que analisaremos no próximo item). E de fato, podem. O que falta é dizer que as teorias micros-
sociológicas também podem ser subdividas dessa maneira, como se observa nessa pequena 
polêmica que passarei a descrever.
Em geral, os manuais se abstêm de dizer se uma escola sociológica é micro ou macros-
sociológica. Mas, como acabei de dizer, são comuns as afirmações de que as teorias ma-
crossociológicas se subdividem em teorias do consenso e teorias do conflito. Dito isso, os 
manuais passam a analisar as teorias do consenso e do conflito. Praticamente, portanto, o 
leitor passa a concluir que todas as teorias criminológicas estudadas ali, sejam consensuais, 
O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para EDIVANIRA VIDAL MEDEIROS - 83032908272, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título,
a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal.
https://www.grancursosonline.com.br
https://www.grancursosonline.com.br
4 de 96www.grancursosonline.com.br
Teorias Sociológicas
CRIMINOLOGIA
Mariana Barreiras
sejam conflituais, são macrossociológicas. E de fato, as bancas, de modo unânime, conside-
ram correto afirmar que as teorias macrossociológicas podem ser subdivididas em teorias do 
consenso e do conflito (aí incluído o Cebraspe). Mas isso não significa que todas as teorias do 
conflito ou do consenso são macrossociológicas.
Houve pelo menos uma oportunidade em que o próprio Cebraspe considerou que uma 
teoria do conflito não era macro, mas sim microssociológica. A banca considerou que o intera-
cionismo simbólico – teoria que deu origem ao labelling approach, fundamental para o modelo 
da reação social da Criminologia moderna – é microssociológico.
Resumindo: ainda que muitos manuais afirmem que as teorias macrossociológicas podem 
ser subdivididas em teorias do conflito e do consenso, não se deve excluir a possibilidade de 
essa subdivisão ser válida também para as teorias microssociológicas. Ainda que as teorias 
microsssociológicas tenham forte enfoque no indivíduo, elas somente são sociológicas por-
que consideram relevante a interação desse indivíduo com o meio social, e a análise da socie-
dade pode se dar a partir de um paradigma consensual ou conflitivo.
2. Teorias do consenso e do confliTo
Outra possibilidade de classificação é a que divide as teorias sociológicas do crime nas ca-
tegorias: Teorias do Consenso e Teorias do Conflito. Conforme acabamos de ver, para a maio-
ria dos autores e bancas essa subclassificação seria cabível para as teorias macrossociológi-
cas, mas já sabemos que as microssociológicas também podem obedecer a essa subdivisão.
As teorias do consenso partem do pressuposto de existência de objetivos comuns a todos 
os cidadãos, que aceitam as regras vigentes. As pessoas de um grupo social possuem con-
senso em torno de uma série de valores e criam instituições para manter a ordem social. Esse 
grupo de teorias também é chamado de integralista ou estrutural funcionalista, pois compre-
ende que a sociedade é uma estrutura relativamente estávelde elementos, bem integrada e 
que todo elemento em uma sociedade possui uma função, contribuindo para a manutenção do 
sistema. Para essas teorias, o crime é uma disfunção, ou seja, uma função negativa. O delito é 
um fenômeno social, normal e funcional.
Ralf Dahrendorf explica que as teorias do consenso se baseiam em quatro teses:
• Toda sociedade é um sistema relativamente constante e estável de elementos (tese da 
estabilidade);
• Toda sociedade é um sistema equilibrado de elementos (tese do equilíbrio);
• Cada elemento dentro da sociedade contribui para o seu funcionamento (tese do fun-
cionalismo);
• Cada sociedade se mantém graças ao consenso dos seus membros sobre determina-
dos valores comuns (tese do consenso).1
1 DAHRENDORF, Ralf. Sociedad y Libertad: hacia un análisis sociológico de la actualidad. Madri: Tecnos, 1971, p. 190.
O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para EDIVANIRA VIDAL MEDEIROS - 83032908272, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título,
a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal.
https://www.grancursosonline.com.br
https://www.grancursosonline.com.br
5 de 96www.grancursosonline.com.br
Teorias Sociológicas
CRIMINOLOGIA
Mariana Barreiras
As principais teorias do consenso são:
• Escola de Chicago
• Teoria da Anomia
• Teoria da Subcultura Delinquente
• Teoria da Associação Diferencial.
DICA:
Recurso de memorização!
CONSENSO: Chicago, Anomia, Subcultura, Associação
É CONSENSO que todo mundo quer CASA
As teorias do conflito, por outro lado, partem do pressuposto de que há força e coerção 
na sociedade. Somente existe ordem porque há dominação de uns e sujeição de outros. A 
produção legislativa serviria para assegurar o triunfo da classe dominadora. A sociedade está 
sempre sujeita a processos de mudança e cada elemento da sociedade contribui, de certa for-
ma, para sua desintegração. Para essas teorias o crime faz parte da luta pelo poder. Assim, em 
lugar de uma visão de cunho funcionalista, tem-se uma visão de cunho argumentativo.
Dahrendorf, ao tentar simplificar as teorias do conflito, elenca os seguintes postulados:
• Toda sociedade – e cada um dos seus elementos – está a todo tempo submetida à mu-
dança (tese da historicidade);
• Toda sociedade é um sistema de elementos contraditórios em si e explosivos (tese da 
explosividade);
• Cada elemento dentro da sociedade contribui para a sua mudança (tese da disfunciona-
lidade e da produtividade);
• Toda sociedade se mantém graças à coação que alguns dos membros exercem sobre 
os demais (tese da coação).2
Para Dahrdendorf, aliás, a tese da coação é a mais apropriada para explicar os conflitos 
sociais que são, no limite, conflitos que repousam sobre a desigualdade de divisão de poder 
entre os membros da sociedade. Para os teóricos dessa linha, os conflitos possuem efetivida-
de criadora (eles causam mudanças) e é necessário se afastar do pensamento utópico de um 
sistema social equilibrado.
A teoria do labelling approach – também chamada de interacionista, interacionismo simbó-
lico, teoria da rotulação ou do etiquetamento – e as teorias críticas – também denominadas 
radicais ou dialéticas – se encaixam na categoria de teoria do conflito. Perceba, portanto, que 
o Modelo de Reação Social é o modelo típico das teorias do conflito.
2 DAHRENDORF, Ralf. Sociedad y Libertad: hacia un análisis sociológico de la actualidad. Madri: Tecnos, 1971, p. 190.
O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para EDIVANIRA VIDAL MEDEIROS - 83032908272, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título,
a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal.
https://www.grancursosonline.com.br
https://www.grancursosonline.com.br
6 de 96www.grancursosonline.com.br
Teorias Sociológicas
CRIMINOLOGIA
Mariana Barreiras
DICA:
Recurso de memorização!
CONSENSO: Chicago, Anomia, Subcultura, Associação
CONFLITO: Crítica, Interacionismo Simbólico ou Etiquetamen-
to
É CONSENSO que todo mundo quer CASA
O CONFLITO é que estamos em CRISE
3. Teorias do consenso
Como acabamos de analisar, as teorias do consenso também são chamadas de funciona-
listas, estrutural-funcionalistas ou integralistas. Elas partem do pressuposto de existência de 
objetivos comuns a todos os cidadãos, que aceitam as regras vigentes. Essas teorias são con-
sideradas conservadoras, porque acreditam na coesão social e querem garanti-la, preservando 
o status quo, ou seja, o estado vigente das coisas.
3.1. escola de chicago
Já falei dessa escola para você. Na primeira aula, expliquei que foi ela a responsável por 
incluir as instâncias de controle social informal dentre os objetos da criminologia. E aqui quero 
recordar que as instâncias de controle social informal são aquelas em que não há monopólio 
estatal e de cuja atuação não decorre a aplicação de uma pena, tais como família, associa-
ções, clubes, escolas, igrejas.
Para começar, vamos recordar o que vimos na primeira aula. Disse, naquela oportunidade, 
que a Escola de Chicago, com enfoque fortemente empírico e transdisciplinar, se propôs a 
discutir múltiplos aspectos da vida humana, todos relacionados com a vida na cidade. Entre 
os anos 1920 e 1930, Robert Ezra Park, Ernest W. Burgess e seus alunos produziram mais de 
20 obras sobre a ecologia urbana da cidade de Chicago, abordando problemas como falta de 
moradia, desorganização social, guetos, zonas residenciais ricas e pobres, distribuição de do-
entes mentais na cidade, entre outros. Em diversas dessas obras, os bairros de Chicago são 
divididos e analisados de acordo com seus problemas sociais. Esses bairros ou áreas seriam 
analisados também a partir das possibilidades moralizadoras ou de controle social que gera-
vam em seus habitantes. A cidade em geral permitia a confusão, a mobilidade e, portanto, o 
refúgio e a criação de personalidades conflitivas, como vagabundos, alcoólatras, prostitutas e 
delinquentes. Todos eles, porém, seriam reprimidos e censurados em determinadas áreas mo-
rais, nas quais, em virtude desse controle social, não se verificariam conflitos sociais significa-
tivos. Foi com base nesses estudos que as instâncias de controle social informal começaram 
a fazer parte da lista de objetos da Criminologia.
O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para EDIVANIRA VIDAL MEDEIROS - 83032908272, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título,
a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal.
https://www.grancursosonline.com.br
https://www.grancursosonline.com.br
7 de 96www.grancursosonline.com.br
Teorias Sociológicas
CRIMINOLOGIA
Mariana Barreiras
Revistos os conceitos da primeira aula, vamos aprofundar um pouco mais.
Robert Park se apropriou de conceitos da ecologia. Comparava a cidade a um organismo 
vivo e utilizava os conceitos de invasão, dominação e sucessão descritos pelos ecologistas.
A expansão e consolidação da burguesia industrial, o êxodo rural e o recebimento de gran-
des contingentes de imigrantes, fizeram com que Chicago, assim como outras cidades estadu-
nidenses, passassem por profundas mudanças em um curto espaço temporal. Várias etnias, 
povos, religiões e culturas passam a conviver ali. Esse conceito de fusão de elementos hete-
rogêneos e por vezes conflitivos se denomina melting pot, em referência a um caldeirão onde 
tudo se derrete e se mistura.
Também chamada de teoria da ecologia criminal ou teoria da desorganização social, a es-
cola de Chicago se dispôs a analisar comportamentos sociais, seitas, grupos, multidões, opi-
nião pública, criminalidade e outros fenômenos que ocorriam na cidade cuja população saltou 
de 4.470 pessoas em 1840 para mais de um milhão de habitantes em 1900.
Grande parte da população de Chicago nessa época era de imigrantes. A cidade crescia se 
expandindo em anéis, ou círculos concêntricos, do centro para a periferia. Essa é a teoria daszonas concêntricas, de Ernest Burgess. Segundo ele, o anel mais central, chamado loop, era a 
zona comercial, com bancos, grandes lojas, a administração da cidade, estações etc. A segun-
da zona, chamada zona de transição, é uma zona de comércio que conecta o loop à terceira 
zona (residencial). A zona de transição, por estar constantemente sujeita à invasão do loop, era 
uma área com intensa mobilidade e degradação, com barulho, agitação, mau cheiro, bordéis e 
pensões – as denominadas tenement houses, espécies de cortiços para os recém-chegados à 
cidade. A terceira zona abrigava trabalhadores com uma condição financeira ligeiramente me-
lhor e imigrantes de segunda geração (filhos dos imigrantes originais). Nela, as moradias ainda 
são modestas, mas já ficam um pouco mais afastadas das zonas deterioradas. A quarta zona 
é a da chamada classe média, com moradias um pouco melhores. E a quinta zona é aquela 
habitada pelos altos-estratos da população. Esses moradores são chamados commuters: são 
pessoas que gastam muito tempo em meios de transporte para chegar às regiões centrais 
da cidade.
Grandes condomínios de luxo, que se assemelham a cidades, com ruas, enormes áreas de 
lazer e até lojas, mais populosos que muitas cidades, cercados de muros, constantemente 
vigiados, e afastados do centro da cidade são realidades bastante comuns nas metrópoles 
brasileiras. Alphaville em São Paulo (e presente também em outras cidades brasileiras) e con-
domínios da Barra da Tijuca (Rio de Janeiro) são citados como exemplos que se encaixam 
na descrição da zona V de Burgess. O aumento da tensão social e a decadência de certos 
bairros da cidade faz com que as pessoas queiram se agrupar em comunidades fechadas, em 
que fiquem distantes da confusão. Iniciativas como essa acabam por fragmentar o espaço 
social, criando a cidade dual. Esse conceito de dual city aumentar a distância social entre os 
O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para EDIVANIRA VIDAL MEDEIROS - 83032908272, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título,
a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal.
https://www.grancursosonline.com.br
https://www.grancursosonline.com.br
8 de 96www.grancursosonline.com.br
Teorias Sociológicas
CRIMINOLOGIA
Mariana Barreiras
dois grupos. Os moradores dos condomínios não veem os pobres, não convivem com eles. E 
quanto mais desconhecemos o outro, quanto mais ficamos afastados e o consideramos um 
estranho, mais fácil é criminalizar suas condutas. Segundo Nils Christie, criminólogo norue-
guês contemporâneo, falecido em 2015, a distância social aumenta a tendência de que certas 
condutas sejam criminalizadas3.
Clifford Shaw e Henry McKay são outros dois nomes importantes na Escola de Chicago. 
Com base na teoria das zonas concêntricas, eles se dedicaram a analisar as áreas de delinqu-
ência e a delinquência juvenil. A obras mais conhecidas deles é Delinquency Areas.
Eles foram responsáveis por demonstrar que, quanto mais perto do loop, maior a degrada-
ção e as taxas de criminalidade dos bairros. Concluíram, também, que nas áreas criminais, o 
controle social informal é pouco eficiente na formatação do comportamento dos jovens, já que 
familiares, amigos e vizinhos geralmente aprovam condutas antissociais. Para Shaw e McKay, 
a delinquência começaria cedo, como jogo das ruas e alguns bairros ofereceriam oportunida-
des ao crime, como pessoas dispostas a adquirir bens roubados.
Não se deve, no entanto, entender que há um determinismo ecológico, ou seja: a pessoa 
cometerá crimes apenas por habitar uma região. O que ocorre é que o fato de estar localizado 
em uma área da cidade é um vetor criminógeno, ou seja, um fator que pode contribuir com a 
prática de um delito.
A escola de Chicago percebe que é mais apropriado falar em “cidades”, no plural, pois cada 
parte do Município tem sua cultura própria, sua dinâmica particular, com estatutos, usos, cos-
tumes. A cidade não é apenas um amontoado de pessoas, ruas, bairros. O complexo cultural 
determina o que é típico de cada cidade e mais, de cada parte da cidade. Essas culturas são 
transmitidas e aprendidas dentro dos respectivos grupos.
As formas de adaptação das pessoas à cidade fazem com que haja um processo de per-
manente interação. As interações são tantas que se fala em sobrecarga ou saturação. E ao 
mesmo tempo em que há interação, é comum, nas cidades, que haja anonimato: as pessoas 
têm mais liberdade de ação de modo que os freios exercidos pelas instâncias de controle so-
cial se afrouxam. As pessoas, nas cidades, se distanciam, são seletivas em seus processos 
de aproximação, competem pelos escassos recursos da cidade, tudo isso resultando em uma 
postura individualista que tem impacto na criminalidade.
Dentro dos bairros, dos quarteirões, dos edifícios, as pessoas se aproximam por serem 
similares. Os vizinhos controlam, informalmente, as atividades uns dos outros, numa espécie 
de polícia natural. Nas chamadas “regiões morais”, um grupo de habitantes se identifica. Em 
cidades com muitos imigrantes, como era Chicago, havia áreas morais formadas por pessoas 
de uma mesma raça ou origem, que ali vivem ou convivem (pode ser um local de residência ou 
de encontro) de maneira segregada do restante da população. Há, por exemplo, regiões morais 
de pobres, viciados, desajustados, criminosos.
3 FREITAS, Wagner Cinelli de Paula. Espaço urbano e criminalidade: lições da Escola de Chicago. São Paulo: IBCCRIM, 2002, p.121 e ss.
O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para EDIVANIRA VIDAL MEDEIROS - 83032908272, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título,
a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal.
https://www.grancursosonline.com.br
https://www.grancursosonline.com.br
9 de 96www.grancursosonline.com.br
Teorias Sociológicas
CRIMINOLOGIA
Mariana Barreiras
Como as cidades são dotadas de mobilidade, há grande fluidez de pessoas pelas regiões, 
o que tende e confundir e desmoralizar as pessoas, pois o controle social informal é tanto 
menor quanto mais a pessoa se distancie de suas raízes. A mobilidade dificulta que a família, 
a vizinhança, a igreja ou os grupos comunitários imponham inibições a condutas de vício, pro-
miscuidade e delinquência. Assim, a mobilidade está relacionada com criminalidade.
Os estudiosos de Chicago notaram que as taxas de doença mental estavam distribuídas 
diferencialmente por bairro da cidade. Os bairros mais pobres apresentavam maiores taxas de 
criminalidade e maiores índices de distúrbios mentais. As precárias condições das famílias, 
a falta de intervenção estatal e as dificuldades de adaptação decorrentes da imigração e do 
isolamento contribuíam enormemente para as altas taxas de insanidade mental.
A pessoa recém-chegada à cidade passa por um processo de desorganização social. Há 
um sentimento de perda pessoal, rejeição de regras sociais, perda de raízes. A desorganização 
social causa aumento de doenças, prostituição, insanidades, suicídios e crime.
Clifford Shaw é autor, também, de The Jack-roller: a delinquent boy’s own story. Shaw utiliza 
o relato da história de vida (autobiografia) de um delinquente de Chicago, denominado Stanley, 
que viveu em diferentes áreas de cidade. A ideia foi demonstrar como a vida em diferentes 
áreas da cidade, convivendo com diferentes culturas, tinha impacto na criminogênese.
Por tudo isso, as propostas de Escola de Chicago para equacionar a questão criminal pas-
sam, necessariamente, por alterar as condições de vida nas cidades, sobretudo as condições 
econômicas e sociais das crianças, diminuindo as condições para as carreiras delinquentes. O 
enfoque da intervenção proposta pelos autores Clifford Shaw e Henry McKay no Chicago Area 
Project era a maximização do controle social informal (famílias, vizinhanças, igrejas, clubes, 
escolas). Deve haver macrointervenção na comunidade e reconstrução da solidariedadeso-
cial. Os projetos devem ser feitos levando em consideração cada vizinhança e devem incluir 
atividades recreativas, artesanais, culturais e melhorias nas condições sanitárias e de conver-
sação predial de alguns bairros e edifícios.
Como definitiva contribuição, a Escola de Chicago utilizou largamente os social surveys, 
inquéritos sociais que consistem em interrogatório direto feito a um número considerado de 
pessoas sobre itens criminologicamente relevantes. Trata-se de técnica empírica de observa-
ção da realidade até hoje utilizado largamente pela criminologia. Além disso, implicou toda 
a comunidade no enfrentamento do crime. Alargou o objeto de estudo da ciência, para nele 
incluir os mecanismos de controle social. Ademais, a Escola de Chicago propugnou uma inter-
venção preventiva e não repressiva.
3.2. Teoria da anoMia
Vamos analisar a teoria da anomia sob a ótica de dois grandes nomes: Émile Durkheim e 
Robert Merton. O termo anomia tem origem grega e significa ausência de leis.
O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para EDIVANIRA VIDAL MEDEIROS - 83032908272, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título,
a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal.
https://www.grancursosonline.com.br
https://www.grancursosonline.com.br
10 de 96www.grancursosonline.com.br
Teorias Sociológicas
CRIMINOLOGIA
Mariana Barreiras
Émile Durkheim
Émile Durkheim foi um sociólogo francês do final do século XIX. Ele é considerado um dos 
principais teóricos da anomia. Sua teoria sociológica considera que um ser vivo só pode ser 
feliz e até mesmo viver se suas necessidades forem compatíveis com os meios para satisfa-
zê-las. No animal, o equilíbrio entre necessidades e meios depende de condições puramente 
materiais: é o organismo, o corpo que dita quais são as necessidades (respirar, se alimentar, se 
hidratar). No ser humano, a maioria das necessidades não depende do corpo. Afinal, para os 
seres humanos, além do mínimo necessário para a sobrevivência, existe o desejo de condições 
melhores, de situações de bem-estar. Esse apetite por conforto em algum momento tem que 
encontrar limites, até mesmo porque desejos ilimitados são insaciáveis por definição e geram 
um perpétuo estado de desconforto. E como esse limite não é dado pelo corpo, ele somente 
pode vir da sociedade.
Para Durkheim, então, a força reguladora externa ao indivíduo que limita os desejos é a 
sociedade, único poder moral superior ao indivíduo. A sociedade regula, ainda que nem sem-
pre por meio de norma jurídica, o máximo de bem-estar que cada classe social pode legitima-
mente procurar obter e cada um percebe vagamente o ponto extremo até onde podem ir suas 
ambições. O contentamento com essas regras gera prazer de existir e viver. O trabalhador não 
estará em harmonia com sua função social se não estiver convencido de que é mesmo aquela 
a função que deve ter. Ou seja, essa disciplina que a sociedade exerce só é útil se for considera-
da justa pelos povos submetidos a ela, se for reconhecida como equitativa pela grande maioria 
das pessoas.
Há momentos, explica Durkheim, em que a sociedade atravessa transformações. Nesses 
transtornos, a sociedade perde a capacidade de exercer seu papel de freio moral. Não importa 
se se trata de uma crise dolorosa ou de uma transformação boa, afortunada, com pujança 
econômica. Em qualquer caso, como as condições de vida mudam, a escala segundo a qual 
as necessidades eram reguladas já não pode permanecer a mesma. Leva tempo até que seres 
humanos e coisas sejam novamente classificados pela consciência pública.
A anomia é esse estado de desregramento ou desintegração das normas sociais, produzin-
do uma situação de transgressão ou de pouca coesão4. São, por exemplo, aquelas situações 
em que não se sabe quais as normas vigentes ou em que uma norma positivada deixa de ser 
amplamente observada pela sociedade. Para Durkheim, o crime se torna um problema quando 
existe uma situação de anomia. Caso contrário, o crime é um fenômeno relativamente normal. 
Afinal, ele ocorre em todas as sociedades, de todos os tipos e muitos índices criminais vêm 
aumentando significativamente ao longo da história social. Por isso, ele diz:
4 DURKHEIM, Émile. O suicídio: estudo de sociologia. São Paulo: Edipro, 2014, p. 249.
O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para EDIVANIRA VIDAL MEDEIROS - 83032908272, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título,
a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal.
https://www.grancursosonline.com.br
https://www.grancursosonline.com.br
11 de 96www.grancursosonline.com.br
Teorias Sociológicas
CRIMINOLOGIA
Mariana Barreiras
Não há fenômeno que apresente de maneira mais inconteste todos os sintomas da normalidade. 
(...) Sem dúvida, pode ser que o crime tenha formas anormais; é o que ocorre quando, por exemplo, 
ele atinge uma taxa exagerada5.
Para Durkheim, além de normal, o crime é útil. Para entender esse ponto é importante com-
preender suas ideias sobre a consciência coletiva, que é um conjunto de crenças e sentimen-
tos comuns à média dos membros de uma sociedade e que tem vida própria. A consciência 
coletiva não é simplesmente a soma de todas as consciências individuais. Ela depende das 
consciências individuais, mas não se confunde com elas. Nas sociedades arcaicas, em que as 
pessoas diferem pouco umas das outras, existe uma solidariedade por semelhança, mecânica. 
Nessas sociedades, os membros têm sentimentos parecidos e por isso diz-se que a consci-
ência coletiva abrange a maior parte das consciências individuais, ainda que com elas não se 
confunda. Nas sociedades contemporâneas, os indivíduos são menos parecidos entre si. Cada 
um age de acordo com sua liberdade de crença e ação. Aqui, Durkheim fala em solidariedade 
orgânica. Nessas sociedades, a consciência coletiva tem sua amplitude reduzida. O crime é 
útil porque permite que a consciência coletiva evolua.
O crime é, portanto, necessário; ele está ligado às condições fundamentais de toda vida social, mas 
por isso mesmo, ele é útil. Pois estas condições são indispensáveis para a evolução normal da 
moral e do direito. (...) A liberdade de pensar de que gozamos atualmente jamais poderia ter sido 
proclamada, se as regras que a proibiam não tivessem sido violadas antes de serem solenemente 
revogadas.6
Como o crime é considerado útil, portador de uma função – a de reforçar a solidariedade da 
sociedade – essa teoria tem forte traço funcional. Uma sociedade sem crimes é pouco desen-
volvida para Durkheim.
Do mesmo modo como o crime é algo natural, a sanção também é algo normal. A função 
da pena é satisfazer a consciência coletiva, ferida com o crime, mantendo intacta a coesão 
social. Assim, o castigo do condenado age nas pessoas honestas, já que serve para curar a 
ferida feita nos sentimentos coletivos que somente residem nos indivíduos corretos. Mas a 
pena segue sendo, ao menos em parte, uma vingança, pois é uma reação passional institucio-
nalizada – e que reforça a coesão social.
Robert Merton
Além de Durkheim, outro nome importante para a teoria da anomia na criminologia é o do 
sociólogo estadunidense Robert Merton, que viveu de 1910 a 2003. Ele adaptou a teoria do 
Durkheim para a sociedade norte-americana da década de 1930, que vivia o American Dream.
5 DURKHEIM, Émile. As regras do método sociológico. São Paulo: Edipro, 2014, p. 82-83.
6 DURKHEIM, Émile. As regras do método sociológico. São Paulo: Edipro, 2014, p. 87.
O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para EDIVANIRA VIDAL MEDEIROS - 83032908272, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título,
a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal.
https://www.grancursosonline.com.br
https://www.grancursosonline.com.br
12 de 96www.grancursosonline.com.br
Teorias Sociológicas
CRIMINOLOGIA
MarianaBarreiras
Merton defendeu, em artigo lançado em 1938, que as estruturas sociais e culturais são 
compostas de vários elementos, dois dos quais são de fundamental importância: os objetivos 
e os meios.
Os objetivos são as metas, propósitos, interesses (Ex.: comprar uma casa; ter um carro; 
viajar para o exterior todo ano). Eles são social e culturalmente ordenados em uma escala 
de valores.
Os meios, por sua vez, definem, regulam e controlam as maneiras consideradas aceitáveis 
para o atingimento dos objetivos (Ex.: trabalhar em troca de um bom salário para poder adquirir 
seus bens; praticar fraudes).
Segundo Merton, os meios são sempre limitados pelas normas instituídas. Ou seja: nem 
todas as maneiras de se atingir um objetivo são toleradas, lícitas.
Os objetivos culturalmente definidos e os meios considerados válidos pelas normas ins-
tituídas operam em conjunto. Mas a relação entre os objetivos e os meios é uma relação in-
constante. Às vezes, a cultura de uma sociedade coloca muita ênfase na importância de que 
se atinja um certo objetivo, mas não fornece os meios correspondentes para que o êxito se dê. 
Isso é particularmente visível nas situações em que a estrutura cultural impõe aos cidadãos 
padrões de consumo e riqueza, mas a estrutura social não fornece condições para que os indi-
víduos enriqueçam ou consumam do modo como se espera.
Os objetivos e meios têm, entre outras, a função de fornecer uma base de previsibilidade e 
regularidade do comportamento das pessoas em sociedade. Quando esses elementos estão 
dissociados, a efetividade dessas funções fica limitada. No limite, quando a previsibilidade 
das condutas num grupo social é minimizada, por esse espaçamento entre os objetivos e os 
meios, está configurada a anomia, que também pode ser chamada de caos cultural.
Para lidar com os objetivos e meios, os indivíduos procedem a adaptações individuais, que 
podem ser de cinco tipos7:
Modos de 
Adaptação
Objetivos ou Metas 
Culturais Meios Instituídos
Conformidade + +
Inovação + -
Ritualismo - +
Retração - -
Rebelião ± ±
• Conformidade: os indivíduos se adaptam (+) aos objetivos culturais e (+) aos meios exis-
tentes. Quando temos uma sociedade estável, esse é o tipo mais comum de adaptação.
7 MERTON, Robert K. On Social Structure and Science. Chicago: The University of Chicago Press, 1996, p. 139.
O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para EDIVANIRA VIDAL MEDEIROS - 83032908272, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título,
a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal.
https://www.grancursosonline.com.br
https://www.grancursosonline.com.br
13 de 96www.grancursosonline.com.br
Teorias Sociológicas
CRIMINOLOGIA
Mariana Barreiras
• Inovação: a ênfase cultural muito forte no objetivo de sucesso convida a esse tipo de 
adaptação, que ocorre pelo uso de meios proibidos, porém efetivos, para se alcançar ao 
menos um simulacro do sucesso, ou seja, riqueza e poder. Esses indivíduos aceitam (+) 
a meta “sucesso”, mas não aceitam (-) se valer dos meios permitidos, regulados pelas 
normas. Aqui reside um tipo de delinquência. É aqui, especificamente, que se fala em 
anomia, como não aceitação das regras que limitam os meios para o alcance das metas.
• Ritualismo: os indivíduos abandonam ou diminuem gradualmente (-) as metas de suces-
so pecuniário e mobilidade social para um ponto em que podem ser atingidas; e, ao mes-
mo tempo, continuam obedecendo (+) quase compulsivamente às normas instituídas.
• Retração: esses indivíduos rejeitam (-) tanto os objetivos culturais como (-) os meios 
instituídos. Eles abdicam dos objetivos estabelecidos pela sociedade e adotam compor-
tamentos em desacordo com as normas instituídas, de modo que estão em constante 
escapismo da realidade. É o caso, segundo Merton, dos psicóticos, autistas, marginais, 
mendigos, pedintes, alcóolatras crônicos, viciados em drogas.
• Rebelião: essas pessoas não aceitam a estrutura social reinante, mas imaginam e pro-
curam dar vida (±) a uma estrutura modificada. A rebelião envolve necessariamente 
ação, transformação dos valores, também chamada de transvaloração. É uma espécie 
de adaptação coletiva, em que se deseja instalar uma estrutura social onde haveria cor-
respondência entre mérito, esforço e recompensa.
Esse esquema de Robert Merton foi, posteriormente, ampliado e aprofundado por Talcott 
Parsons, que, em 1951, criou a teoria do sistema social. Ele substituiu as duas variáveis de 
Merton (objetivos e meios) por outras três duplas de fatores: atividade e passividade; predomí-
nio conformativo e predomínio alienativo; e orientação para objetos sociais e orientação para 
normas. A combinação desses fatores ditará qual o tipo de resposta – delitiva por exemplo – 
que uma pessoa dará a uma situação em que há uma perturbação no quadro de expectativas. 
A teoria de Parsons é complexa e nunca foi cobrada em detalhes em provas. O que as bancas 
cobram é que o candidato saiba que ela é uma teoria da anomia e, portanto, do consenso.
3.3. Teoria da associação diferencial
A Teoria da Associação Diferencial se insere num grupo maior, chamado Teorias da Apren-
dizagem Social. Esse grupo de teorias possui em comum a noção de que a chave para a com-
preensão da criminalidade está na aprendizagem. Assim como aprendem a fazer qualquer 
outra coisa, as pessoas, que não nascem criminosas, aprendem a cometer delitos e a desen-
volver mecanismos de neutralização da culpa. Não se trata de uma questão de pobreza ou ri-
queza. Aliás, grande parte da importância dessas teorias reside exatamente na demonstração 
de que os ricos também cometem crimes.
O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para EDIVANIRA VIDAL MEDEIROS - 83032908272, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título,
a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal.
https://www.grancursosonline.com.br
https://www.grancursosonline.com.br
14 de 96www.grancursosonline.com.br
Teorias Sociológicas
CRIMINOLOGIA
Mariana Barreiras
A Teoria da Associação Diferencial foi formulada por Edwin Sutherland, sociólogo (e cri-
minólogo) norte-americano. Suas ideias são do começo da década de 1940. Para Sutherland, 
o crime não é cometido somente por pessoas menos favorecidas. As pessoas de qualquer 
classe social aprendem a conduta desviada e se associam com outras pessoas tendo por base 
essa conduta. O processo de comunicação, que permite a aprendizagem, é fundamental para 
a prática criminal.
Associação Diferencial significa, em resumo, se associar para aprender a fazer coisas dife-
rentes do que é a regra, ou seja, imitar alguém que é desviante, que comete crimes.
Segundo Sutherland, a pessoa se torna criminosa quando as definições favoráveis à viola-
ção da norma superam as definições desfavoráveis, tudo no âmbito de um processo de imita-
ção. Esse processo é tanto mais intenso quanto mais íntimas as relações estabelecidas pelo 
indivíduo. As pessoas, então, interagem, aprendem umas com as outras, se associam, mas não 
para seguir os padrões da sociedade, e sim para agir de modo diferente (praticando delitos). 
Daí o nome associação diferencial.
Uma das causas fundamentais para a existência de associação diferencial é o conflito 
cultural: na sociedade existem diversos grupos culturais, e a cultura criminosa pode prevalecer 
por diversos fatores. Outra causa básica para o comportamento criminoso é a desorganização 
social, que já havia sido bem explicada pela Escola de Chicago. Quando há desorganização 
social, os mecanismos de controle social informal são precários em virtude da perda de raízes, 
e isso pode facilitar a escolha pelo caminho do crime.
Sutherland elencou nove princípios da Teoria da Associação Diferencial:
• A conduta criminosa se aprende, como qualquer outra atividade.
• O aprendizado se produz por interação com outras pessoas em um processo de comu-
nicação.
• A parte mais importantedo aprendizado tem lugar dentro dos grupos pessoais íntimos.
• O aprendizado do comportamento criminoso abrange tanto as técnicas para cometer o 
crime, que às vezes são muito complicadas e outras, muito simples, quanto a direção 
específica dos motivos, atitudes, impulsos e racionalizações.
• A direção específica dos motivos e impulsos se aprende de definições favoráveis ou 
desfavoráveis a elas.
• Uma pessoa se torna delinquente por efeito de um excesso de definições favoráveis à 
violação da lei, que predominam sobre as definições desfavoráveis a essa violação.
• As associações diferenciais podem variar tanto em frequência como em prioridade, du-
ração e intensidade.
• O processo de aprendizagem do comportamento criminoso por meio da associação 
com pautas criminais e anticriminais compreende os mesmos mecanismos abrangidos 
por qualquer outra aprendizagem.
O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para EDIVANIRA VIDAL MEDEIROS - 83032908272, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título,
a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal.
https://www.grancursosonline.com.br
https://www.grancursosonline.com.br
15 de 96www.grancursosonline.com.br
Teorias Sociológicas
CRIMINOLOGIA
Mariana Barreiras
• Se o comportamento criminoso é expressão de necessidades e valores gerais, não se 
explica por estes, já que o comportamento não criminoso também é expressão dos 
mesmos valores e necessidades8.
Essas ideias foram importantes para demonstrar que o crime pode ser cometido por qual-
quer pessoa na sociedade, independentemente de fatores biológicos, de pobreza, de déficit de 
inteligência ou falta de inserção social. A teoria da associação diferencial foi a primeira a co-
locar o foco na criminalidade dos poderosos, estudando a forma distinta como a justiça penal 
os tratava.
Como crítica, costuma-se delinear que a teoria de Sutherland não explicava por que, con-
vivendo no seio de uma mesma cultura, certas pessoas aprendiam ou optavam pelo com-
portamento criminoso, enquanto outras não. Ademais, a teoria da associação diferencial não 
considerava, como relevantes para a prática de um crime, fatores impulsivos, ocasionais, pas-
sionais, calamitosos. Em casos onde esses fatores se apresentam, muitas vezes não há que 
se falar em aprendizado, mas sim em reação isolada.
Crime do Colarinho Branco (White-collar crime)
Sutherland cunhou a expressão crime de colarinho branco (white collar crime). Utilizou-a 
por primeira vez em um discurso de 1939. Trata-se do crime cometido no âmbito da profis-
são por uma pessoa de respeitabilidade e elevado estatuto social. Em seu livro que leva esse 
nome – Crime de colarinho branco: versão sem cortes –, ele analisa decisões da justiça e das 
comissões administrativas relativas a 70 grandes empresas americanas para defender a tese 
de que as pessoas da classe socioeconômica mais alta estão engajadas em muitos comporta-
mentos criminosos e que este comportamento criminoso difere do comportamento criminoso 
da classe econômica mais baixa principalmente por conta dos procedimentos administrativos 
– mais brandos – para lidar com os infratores. A diferença entre a criminalidade dos poderosos 
e a criminalidade das pessoas mais pobres não é, no entanto, significativa do ponto de vista 
da causação do crime: a razão pela qual os crimes são cometidos é a mesma, o aprendizado 
somado a definições favoráveis à violação da lei9.
São crimes que, em geral, não podem ser explicados pela pobreza ou educação de má qua-
lidade. São, ademais, crimes difíceis de se detectar ou mesmo de se sancionar.
A própria população tem, em muitos momentos, dificuldade de classificar tais condutas 
como criminosas. Há um sentimento de admiração e respeito aos grandes empresários, ban-
queiros, homens de negócio, políticos. É como se houvesse uma “imunidade do negócio”. A 
concessão de prisão especial para os possuidores de diploma de nível superior costuma ser 
citada como exemplo de imunidade do negócio.
8 SUTHERLAND, Edwin H. Crime de colarinho branco: versão sem cortes. Rio de Janeiro: Revan, 2015, p. 14.
9 SUTHERLAND, Edwin H. Crime de colarinho branco: versão sem cortes. Rio de Janeiro: Revan, 2015, p. 33.
O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para EDIVANIRA VIDAL MEDEIROS - 83032908272, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título,
a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal.
https://www.grancursosonline.com.br
https://www.grancursosonline.com.br
16 de 96www.grancursosonline.com.br
Teorias Sociológicas
CRIMINOLOGIA
Mariana Barreiras
Sutherland relatava que costuma haver, em relação aos crimes de colarinho branco, a pre-
visão de penas não muito elevadas e de penas pecuniárias e restritivas de direito em substi-
tuição à pena privativa da liberdade, pois o pensamento dominante é que os autores desses 
crimes não precisam ser ressocializados, já que têm boa situação econômica e estão integra-
dos na sociedade.
Os efeitos dos crimes de colarinho branco costumam ser significativos, porém difusos. 
Não é uma pessoa particular que sente o efeito danoso da conduta, e sim uma coletividade. 
Essa característica também contribui para a leveza das penas e para as baixas taxas de perse-
cução do crime.
Apesar de tudo isso, defende Sutherland, o crime do colarinho branco é, por diversas ra-
zões, um tipo de criminalidade organizada praticada pelos homens de negócio. É um tipo de 
crime organizado porque são condutas deliberadas, com unidade relativamente consistente. É 
uma criminalidade persistente, pois grande parte dos criminosos é reincidente. Mas os crimi-
nosos do colarinho branco não se veem como criminosos, até mesmo porque não são tratados 
com os mesmos procedimentos oficiais destinados aos criminosos comuns; e porque, como 
são oriundos de outra classe social, não se relacionam de forma pessoal e íntima com aqueles 
que se definem como os criminosos típicos.
Cifras da Criminalidade
Vou falar um pouco sobre as cifras da criminalidade, porque o crime do colarinho branco 
está intimamente relacionado com esse conceito. O conceito de cifras da criminalidade deriva 
da percepção de quem nem todos os crimes chegam ao conhecimento das autoridades. Ao 
lado da criminalidade real – isto é, da totalidade de delitos praticados – existe a criminalidade 
revelada, ou seja, a parcela da criminalidade real que chega ao conhecimento do Estado.
Trata-se do chamado efeito de funil, também conhecido como mortalidade de casos crimi-
nais. Isso é natural e a criminologia reconhece que o processamento de todos os casos (total 
enforcement) levaria à falência do próprio sistema penal.
Cifra Negra
Uma das consequências do efeito de funil é a existência da denominada cifra negra, aquela 
parcela de crimes que não integra as contagens oficiais. São os crimes que não chegam ao co-
nhecimento das autoridades, pelas mais diversas razões. Quantas vezes, por exemplo, somos 
assaltados ou furtados e deixamos de registrar ocorrência? Quando fazemos isso, estamos 
inflando a cifra negra, que nada mais é, portanto, do que a diferença entre a criminalidade real 
e a criminalidade revelada.
O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para EDIVANIRA VIDAL MEDEIROS - 83032908272, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título,
a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal.
https://www.grancursosonline.com.br
https://www.grancursosonline.com.br
17 de 96www.grancursosonline.com.br
Teorias Sociológicas
CRIMINOLOGIA
Mariana Barreiras
Os crimes do colarinho branco apresentam alta cifra negra, já que são delitos de difícil de-
tecção e punição. Outro tipo de delito que apresenta altíssimas taxas de subnotificação são os 
crimes sexuais. Acredita-se que a diferença entre os crimes sexuais praticados e aqueles que 
são comunicados chega a 90%. Às vezes a própria vítimasente vergonha e não denuncia; às 
vezes a vítima quer denunciar, mas não se sente acolhida nos contatos com a polícia e acaba 
desistindo de levar adiante seus relatos; às vezes a própria família acoberta o caso, para evitar 
que se torne um escândalo, já que a maior parte dos crimes sexuais contra menores são co-
metidas por parentes próximos à vítima. Esses são apenas alguns exemplos de motivos que 
estão na base desse descompasso entre a criminalidade real e a criminalidade conhecida.
Por tudo isso, as estatísticas criminais não refletem a criminalidade real, mas apenas uma 
parte dela, restando a cifra negra, oculta, difícil de decifrar. As pesquisas de vitimização, ou 
seja, realizadas com a população em geral questionando se foram vítimas de algum crime, 
procuram suprir essa lacuna.
Cifra Dourada
Cifra negra é o nome mais genérico para designar essa diferença entre a criminalidade 
real e a criminalidade conhecida. Ao longo dos anos, subclassificações das cifras negras têm 
aparecido. Já disse a você que os crimes do colarinho branco possuem alta taxa de subnoti-
ficação, porque são delitos de difícil detecção. Criou-se, então, um nome específico para essa 
diferença entre criminalidade real e conhecida dos poderosos: é a chamada cifra dourada.
A cifra dourada diz respeito, portanto, aos delitos cometidos pelos poderosos que são 
desconhecidos e ficam impunes. Pode-se dizer que ela é um subtipo da cifra negra. Quando 
alguém dos altos estratos sociais comete um crime contra o sistema financeiro ou um crime 
tributário, por exemplo, é possível que fique sem punição porque o sistema penal é desenhado 
para selecionar a criminalidade de rua, cometida pelos pobres.
Obs.: � Já houve questões da Vunesp considerando que o conceito de cifra dourada equivale ao 
conceito de crime do colarinho branco. Tecnicamente, não é isso, como acabamos de 
ver. Aos crimes do colarinho branco (crimes dos poderosos cometidos no âmbito labo-
ral) que permanecem desconhecidos ou, segundo algumas definições, em relação aos 
quais há uma indulgência do sistema persecutório penal, dá-se o nome cifra dourada.
Outras Cifras
• Cifra cinza: crimes que são de conhecimento das instâncias policiais, porém que não 
chegam a virar um processo penal. São casos, por exemplo, solucionados pelos pró-
prios policiais em sua atividade rotineira; ou na própria delegacia de polícia; ou com a 
renúncia da vítima ao direito de queixa ou representação. A cifra cinza demonstra que 
as polícias têm papel conciliador de conflitos e é, nesse aspecto, dotada de muito poder, 
O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para EDIVANIRA VIDAL MEDEIROS - 83032908272, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título,
a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal.
https://www.grancursosonline.com.br
https://www.grancursosonline.com.br
18 de 96www.grancursosonline.com.br
Teorias Sociológicas
CRIMINOLOGIA
Mariana Barreiras
pois exerce suas competências de tratar o fenômeno delitivo longe da supervisão direta 
das instâncias que seriam as intervenientes subsequentes do sistema de persecução, 
como ministério público, defensoria pública, poder judiciário.
• Cifra amarela: casos em que as vítimas sofreram algum tipo de violência praticada por 
servidor público e deixaram, por temor, de denunciar o ilícito às unidades competentes 
pela apuração.
• Cifra verde: delitos que têm por objeto o meio ambiente e que não chegam ao conhe-
cimento policial ou não são processados porque impossível tentar descobrir a autoria.
• Cifra rosa: crimes de caráter homofóbico que não chegam ao conhecimento das autori-
dades.
3.4. Teoria da subculTura delinquenTe
Essa teoria se desenvolveu a partir da obra Delinquent boys, publicada por Albert Cohen 
em 1955. Para ele, toda sociedade é internamente diferenciada em numerosos subgrupos. 
Esses subgrupos possuem maneiras de pensar e agir: que lhe são peculiares; que as pesso-
as somente podem adquirir participando desses grupos; e que alguém raramente deixará de 
adquirir se for um participante verdadeiro do grupo. Essas culturas dentro das culturas são as 
subculturas. Ele explica que a subcultura delinquente se tornou comum em certos grupos da 
sociedade norte-americana, que são as gangues de meninos que floresceram visivelmente nos 
bairros delitivos das grandes cidades americanas. Quando crescem, alguns membros de gan-
gues passam a cumprir as leis, enquanto outros se profissionalizam no crime, mas, indepen-
dentemente disso, a tradição delitiva é mantida viva pelos jovens que os sucedem nos grupos.
A subcultura delinquente surge como um meio de lidar com problemas de ajuste: certas 
crianças e adolescentes não conseguem preencher os critérios do sistema de status respei-
tável na sociedade. A subcultura delinquente fornece outros critérios de status, esses sim, 
possíveis de serem alcançados por esses jovens, que são em sua maioria meninos da classe 
baixa. Eles se juntam em grupos – as gangues – e nesses grupos praticam diversas atividades, 
algumas delas delitivas.
A subcultura aceita alguns valores predominantes, mas também expressa sentimentos e 
crenças exclusivos de seus grupos. A subcultura é, como se vê, bastante típica da juventude. 
Os grupos subculturais aceitam, por exemplo, que seus integrantes façam algazarra, vandalis-
mo, obscenidades. Os punks, skinheads, hooligans, as gangues são citados por Cohen como 
exemplos de grupos de subcultura.
Um argumento central para a teoria da subcultura delinquente é a existência de diferenças 
essenciais entre a criminalidade subcultural e a criminalidade em geral. A subcultura, típica 
das gangues, valoriza o não utilitarismo, a malícia, o negativismo, a versatilidade, o hedonismo 
de curto prazo e a autonomia de grupo:
O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para EDIVANIRA VIDAL MEDEIROS - 83032908272, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título,
a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal.
https://www.grancursosonline.com.br
https://www.grancursosonline.com.br
19 de 96www.grancursosonline.com.br
Teorias Sociológicas
CRIMINOLOGIA
Mariana Barreiras
• Não utilitarismo: eles cometem furtos não como uma atitude racional e utilitária. Eles 
roubam porque estão a fim, sem qualquer consideração sobre lucro ou ganho, mas sim 
porque é uma atividade que implica renome, satisfação e valentia naquele grupo. Não 
há explicação racional ou utilitária para o esforço que se emprega e o risco que se corre 
em roubar coisas que muitas vezes acabam sendo descartadas, destruídas ou doadas;
• Malícia: por toda parte, há um tipo de malícia aparente, um prazer no desconforto alheio, 
um deleite em desafiar tabus, uma hostilidade gratuita direcionada aos adultos e a quem 
não é da gangue;
• Negativismo: a subcultura delinquente não é apenas um conjunto de regras que é dife-
rente ou em conflito com as normas dos adultos respeitáveis da sociedade. Ela é defini-
da por sua polaridade negativa em relação a essas normas. A subcultura pega empres-
tadas as normas da cultura geral e as vira de ponta cabeça. A conduta do delinquente 
é correta pelos padrões de sua subcultura exatamente porque ela é errada segundo as 
normas da cultura geral.
• Versatilidade: não há uma tendência à especialização. As gangues cometem furtos, van-
dalismo, danos, invasão de domicílio, com vítimas as mais variadas.
• Hedonismo de curto prazo: não há interesse em metas de longo prazo, atividades plane-
jadas ou que envolvam conhecimento e habilidade que somente possam ser adquiridos 
com tempo de estudo, dedicação e prática. Os membros das gangues apenas se reú-
nem em alguma esquina sem nenhuma atividade específica em mente.
• Autonomia de grupo: as relações entre os membros da gangue tendem a ser solidárias 
e prementes. As relações com outros grupos tendem a ser indiferentes, hostis ou rebel-
des. Para eles, as gangues são umfoco irresistível de atração, lealdade e solidariedade, 
e é exatamente isso que é a essência da subcultura.
Por ter focado na criminalidade juvenil dentro desses grupos de meninos, uma das críticas 
mais frequentes que a teoria da subcultura recebe é exatamente a de não ter conseguido for-
necer uma explicação mais abrangente da criminalidade.
Quadro Sinóptico das Teorias do Consenso
Teoria Autores Ideia Principal
Escola de 
Chicago
Robert Park
Ernest Burgess
Clifford Shaw
Henry McKay
(1920-1930)
Desorganização social das grandes 
cidades
Controle social informal enfraquecido
Associação 
Diferencial
Edwin Sutherland 
(1940)
Crime é aprendizado
Crime do colarinho branco
O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para EDIVANIRA VIDAL MEDEIROS - 83032908272, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título,
a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal.
https://www.grancursosonline.com.br
https://www.grancursosonline.com.br
20 de 96www.grancursosonline.com.br
Teorias Sociológicas
CRIMINOLOGIA
Mariana Barreiras
Teoria Autores Ideia Principal
Anomia
Émile Durkheim 
(fim séc. XIX)
Robert Merton 
(1938)
Crime é normal e útil, a não ser quando 
ultrapassados certos limites
Descompasso entre meios e objetivos
Subcultura 
Delinquente
Albert Cohen 
(1955)
Gangues são subculturas delinquentes
Não utilitarismo da ação, malícia, 
versatilidade, negativismo, hedonismo de 
curto prazo e autonomia de grupo
4. Teorias do confliTo
Antes de mais nada, vamos recordar que os teóricos do conflito partem do pressuposto de 
que há força e coerção na sociedade. Somente existe ordem porque há dominação de uns e 
sujeição de outros. A sociedade está sempre sujeita a processos de mudança e cada elemento 
da sociedade contribui, de certa forma, para sua desintegração. Para essas teorias, o crime faz 
parte da luta pelo poder.
As teorias do conflito alteram profundamente a maneira de pensar as questões crimino-
lógicas. Alessandro Baratta, um dos principais teóricos da Criminologia crítica, explica que a 
Criminologia consensual tradicional (e o Direito Penal) sempre se baseou em duas ideias: o 
princípio do interesse social e o princípio do delito natural.
Para o princípio do interesse social, o núcleo central dos delitos previstos nos códigos re-
presenta ofensa aos principais interesses fundamentais da sociedade. A ideia de delitos natu-
rais defende a existência de crimes contra os quais toda sociedade civilizada se defende, inde-
pendentemente de época ou cultura. Assim, para a ideologia penal oficial e para a Criminologia 
tradicional, a criminalidade é uma qualidade objetiva, ontológica de certos comportamentos.
As provas gostam de perguntar sobre a ontologia da criminalidade. Em linhas gerais, podemos 
dizer que a ontologia estuda a natureza do ser, da existência, da realidade. Quando a Criminolo-
gia começa a debater se o crime existe ontologicamente, quer saber se ele existe por si próprio, 
ou seja, se algumas condutas podem ser consideradas essencialmente criminais, objetiva-
mente criminais. Baratta explica que a Criminologia tradicional, em linhas gerais, acreditava 
que sim. A Criminologia do conflito questiona esse postulado, pois para ela o crime não existe 
ontologicamente. Ele possui natureza definitorial: as condutas não são criminosas em si mes-
mas, mas são definidas como criminosas em virtude de complexos processos de interação, 
dominação e seleção. Ou seja: as condutas são consideradas criminosas porque alguém ou 
alguma instituição define que elas são criminosas.
O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para EDIVANIRA VIDAL MEDEIROS - 83032908272, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título,
a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal.
https://www.grancursosonline.com.br
https://www.grancursosonline.com.br
21 de 96www.grancursosonline.com.br
Teorias Sociológicas
CRIMINOLOGIA
Mariana Barreiras
Além de acreditar na ontologia do crime, a Criminologia tradicional parte de um ideal de 
homogeneidade dos valores e interesses protegidos pelo direito penal.
Esses princípios, do interesse social, do delito natural e da homogeneidade de valores, são 
negados pelos teóricos do conflito. Para a Criminologia do conflito, a criminalidade não é uma 
qualidade ontológica, mas um status social atribuído por meio de processos de definição e 
mecanismos de reação. Ou seja, o crime não existe antes de um sistema de reação (Polícia, 
Ministério Público, Poder Judiciário) defini-lo como tal. O foco das teorias criminológicas se 
desloca da criminalidade (já que ela não existe por si própria) para os processos de criminali-
zação (que definem uma conduta como criminosa).
As teorias do conflito possuem forte tradição nos Estados Unidos, sobretudo em virtude 
do contexto social de pós-guerras, em que disputas internas (raciais, de classe, de desempre-
go, de marginalização, estudantis, feministas) assumiram prevalência se comparadas a con-
flitos externos. Elas partem do pressuposto da existência, na sociedade, de uma pluralidade 
de grupos e subgrupos que, eventualmente, apresentam discrepâncias em seus valores. Para 
as teorias do conflito, portanto, a sociedade não é monolítica, unitária. Ela está em constante 
mudança, cenário que é decorrente de visões diferentes de uma mesma situação por grupos 
antagônicos que coexistem.
Assim, para as teorias do conflito, não é o contrato social que garante a manutenção do 
sistema e que faz com que os grupos sociais evoluam. Esses papeis devem ser – e são – 
atribuídos ao conflito. É, portanto, o conflito que promove as alterações necessárias para o 
desenvolvimento dinâmico da sociedade. Por isso, diz-se que essas teorias são progressistas, 
e não conservadoras.
Os teóricos do conflito demonstram, por exemplo, que o sistema penal trata os suspeitos 
de forma diferenciada com base em sua raça, etnia ou classe social, já que a sociedade não 
é hegemônica e que os agentes do controle social e outros grupos poderosos podem impor 
definições de desvio que atendem a seus objetivos10.
Os principais postulados da Criminologia conflitual são:
• A ordem social da sociedade industrializada não tem por base o consenso, mas sim o 
conflito;
• O conflito não é patológico, senão a expressão da própria estrutura e dinâmica da mu-
dança social;
• Os interesses protegidos pelo direito penal não são interesses comuns a todos os cida-
dãos;
• O Direito representa os valores e interesses das classes ou setores sociais dominantes;
• O crime é uma reação à desigual e injusta distribuição de poder e riqueza na sociedade;
• A criminalidade é uma realidade social criada por meio do processo de criminalização;
• A criminalidade e o direito penal têm natureza política.
10 SCHAEFER, Richard T. Sociologia. 6 ed. Porto Alegre, AMGH Editora LTDA, 2014, p. 267.
O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para EDIVANIRA VIDAL MEDEIROS - 83032908272, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título,
a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal.
https://www.grancursosonline.com.br
https://www.grancursosonline.com.br
22 de 96www.grancursosonline.com.br
Teorias Sociológicas
CRIMINOLOGIA
Mariana Barreiras
Com esses postulados, já adiantamos como pensam as escolas do conflito. Vamos, agora, 
analisar especificamente cada uma delas. Ao final da aula, falarei brevemente sobre a Crimino-
logia cultural, que é um desenrolar mais contemporâneo da Criminologia crítica e que começou 
a aparecer em algumas provas.
4.1. labelling approach
Essa é uma teoria bastante cobrada em provas. Dedique bastante atenção a ela. Ela tam-
bém é conhecida como:
• teoria da rotulação;
• teoria do etiquetamento;
• teoria da reação social;
• teoria interacionista;
• interacionismo simbólico.
Você deve estar lembrado(a) de que, ao longo das nossas aulas, venhofalando pouco a 
pouco dessa teoria. Já na nossa primeira aula, eu disse que o controle social formal se conso-
lidou como objeto da Criminologia justamente em virtude dessa escola, que floresceu a partir 
dos anos de 1960, nos Estados Unidos.
Rompendo com o ideal consensual de sociedade, o labelling propugnava que estudar a 
realidade social implicava estudar os processos de interação individual ocorridos no seio da 
própria sociedade. Isto é, não se pode compreender o crime prescindindo do entendimento 
da própria reação social. Por isso se diz que um dos postulados da teoria é o interacionismo, 
ou interacionismo simbólico, ou construtivismo social. A desviação não é uma qualidade in-
trínseca da conduta, mas um atributo que lhe é conferido por meio de complexos processos 
de interação social. É decisivo, então, para compreender o crime, analisar como funcionam os 
mecanismos sociais que atribuem o status de delinquente a alguém.
Conforme os teóricos interacionistas, para cada uma das ações desviadas é possível en-
contrar inúmeras ações similares que não serão rotuladas de criminosas, por não serem leva-
das em consideração ou por não se apresentarem de maneira evidente como desviadas. Dian-
te de cada fato, as instituições atuam como filtros, definindo sua natureza. Frente às condutas 
humanas, portanto, as agências formais de controle social atuam como uma grande peneira, a 
separar quais devem ser etiquetadas como criminosas e quais não merecem o rótulo.
Assim, o labelling approach reconhece o caráter constitutivo do controle social formal, con-
siderado instrumento seletivo e discriminatório. Deixa-se de questionar por que um indivíduo 
comete crimes, e passa-se a indagar a razão de certa conduta ser etiquetada com o rótulo de 
desviada. O labelling approach abandona o paradigma etiológico (busca da causa do crime), 
substituindo a busca das causas da criminalidade pela análise das reações das instâncias 
O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para EDIVANIRA VIDAL MEDEIROS - 83032908272, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título,
a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal.
https://www.grancursosonline.com.br
https://www.grancursosonline.com.br
23 de 96www.grancursosonline.com.br
Teorias Sociológicas
CRIMINOLOGIA
Mariana Barreiras
oficiais de controle social. Nesse questionamento, as agências de controle social adquirem 
enorme importância e passam a ser estudadas criteriosamente. Se hoje é comum que haja 
capítulos sobre a polícia, o Ministério Público, as instituições prisionais, o sistema judiciário 
nos livros e manuais de Criminologia, isso, em grande parte, deve-se ao paradigma de controle 
inaugurado pelo labelling approach, que tanto valor atribuiu aos respectivos papéis na consti-
tuição do delito.
O labelling defende que os estudiosos defendem a adoção da introspecção simpatizante, 
isto é, a aproximação da realidade criminal para compreendê-la a partir do ponto de vista do 
delinquente, tentando entender qual é o seu ponto de vista.
Há, portanto, uma importante quebra de paradigma na Criminologia. A Criminologia deslo-
ca o problema do plano da ação (conduta criminosa) para o plano da reação (controle social). 
Ela deixa de analisar os bad actors e passa a enfocar nos powerful reactors. A pergunta não é 
mais: por que alguém comete um crime? A pergunta passa a ser: por que algumas condutas 
são selecionadas como criminosas pelos poderosos filtros de seleção do sistema criminal?
Howard Becker
Um dos principais autores do labelling approach é o norte-americano Howard Becker, da 
Universidade de Chicago.
Obs.: � Os interacionistas, como Becker, evitam termos tradicionais como crime, criminoso, 
bandido, dada a carga valorativa pejorativa que possuem. Preferem utilizar a nomen-
clatura deviance, que podemos traduzir como desviação. A conduta desviante é criada 
pela sociedade, ao reagir a certas práticas, rotulando-as.
Em seu livro Outsiders: Studies in the Sociology of Deviance, de 1963, Becker relata o resul-
tado da análise de grupos de usuários de maconha e de músicos de jazz que fez na década de 
1950. Ele explica que todos os grupos sociais constroem suas próprias regras. A pessoa que 
quebra essas regras não é aceita como membro de um grupo. Ela é considerada uma estranha, 
ou melhor, é etiquetada como outsider, e começa, a partir daí, a sofrer um processo de estig-
matização. O quanto alguém é considerado um outsider varia de caso a caso. Por exemplo: 
uma pessoa que infringe as regras de trânsito é, em geral, menos outsider que um assassino 
ou estuprador.
Becker defende que quando perguntamos “por que alguém quebra as regras?” ou ainda “O 
que essas pessoas têm de especial que as leva a fazer coisas proibidas?”, estamos: aceitando 
que há algo inerentemente desviante nesses atos que quebram as regras; partindo do pressu-
posto de que essa pessoa possui características que a levem a fazer isso; e, mais do que tudo, 
aceitando os valores do grupo que faz o julgamento. Ao fazer isso, podemos deixar de fora 
uma variável importante, que é exatamente esse processo de julgamento.
O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para EDIVANIRA VIDAL MEDEIROS - 83032908272, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título,
a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal.
https://www.grancursosonline.com.br
https://www.grancursosonline.com.br
24 de 96www.grancursosonline.com.br
Teorias Sociológicas
CRIMINOLOGIA
Mariana Barreiras
As regras são o produto da iniciativa de alguém e Becker denomina essas pessoas moral 
entrepreneurs, ou seja, empreendedores morais, e aí se encaixam tanto aqueles que fazem as 
regras como aqueles que as aplicam.
Dentre os criadores de regras existem os reformistas de cruzada moral (moral crusading re-
former ou moral crusader). Aqui, ele emprega o termo cruzada referindo-se às cruzadas medie-
vais em nome de Deus. Esses reformistas, explica Becker, estão preocupados com um mal (o 
crime), que tem que ser eliminado a todo preço. Eles acreditam que a missão deles é sagrada 
e querem, a todo custo, forçar a moral deles para outros grupos de pessoas. Nesse processo, 
preocupam-se mais com os fins do que com os meios. É comum que os reformistas requeiram 
o serviço de um profissional que possa redigir e embasar apropriadamente uma minuta de 
projeto de lei. Becker cita especificamente que juristas costumam fazer esse papel e que cada 
vez se torna mais comum que psiquiatras sejam empregados em alguma parte do processo. O 
reformista moral passa essa parcela técnica do trabalho – que não lhe interessa – nas mãos 
dos outros, e parte para a descoberta de um novo mal que ele possa resolver. Ele se torna um 
descobridor profissional de erros a serem corrigidos, de situações que necessitam de novas 
leis. Os crusaders que têm sucesso, criam novas regras e, com isso, novos grupos de outsiders.
Dentre os aplicadores da lei (rule enforcer), temos a força policial, que é o resultado final 
de uma cruzada moral. A existência de leis a serem aplicadas dá aos policiais um trabalho, 
uma profissão. Então, a polícia dedica-se a demonstrar que o problema de infrações às leis de 
fato existe e é um problema sério. Eles insistem muito na existência do problema, já que isso 
fornece uma boa razão para a manutenção da posição que eles ocupam. No trabalho policial, 
é importante ganhar respeito da população e isso, explica Becker, significa que uma pessoa 
pode ser etiquetada como desviante não por ter efetivamente desrespeitado uma lei, mas por 
ter mostrado falta de respeito com os policiais. Existe uma enorme margem de discricionarie-
dade no trabalho policial: o policial estabelece prioridades, pois sabe que não pode lidar com 
o todo o mal que encontra. Assim, os enforcers aplicam as leis e criam outsiders de maneira 
seletiva. Para que uma pessoa que cometeu uma desviação seja etiquetada comodesviante, 
muitos fatores estranhos ao seu comportamento são levados em consideração, tais como: se 
o policial acha que deve agir naquele momento; se o ofensor mostrou deferência ao policial; se 
o desviante conta com a ajuda de algum facilitador (um advogado ou um parente influente, por 
exemplo); se o policial tem aquela conduta em sua lista de prioridades etc.
Nos grupos e organizações, explica Becker, existe conflito político. As decisões sobre quais 
regras devem ser criadas, quais condutas devem ser consideradas desviantes e quais pessoas 
devem ser etiquetadas como outsiders são, em sua visão, decisões políticas.
Por tudo isso, ele entende que a desviação é criada pela sociedade. Vamos ver textualmen-
te o que ele diz, em tradução livre:
O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para EDIVANIRA VIDAL MEDEIROS - 83032908272, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título,
a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal.
https://www.grancursosonline.com.br
https://www.grancursosonline.com.br
25 de 96www.grancursosonline.com.br
Teorias Sociológicas
CRIMINOLOGIA
Mariana Barreiras
Essa visão sociológica que eu acabei de discutir define a desviação como a infração de regras sobre 
as quais há acordo. (...) Parece-me que essa suposição ignora o fato central sobre a desviação: ela 
é criada pela sociedade. E eu não quero dizer com isso aquilo que é normalmente compreendido, ou 
seja, que as causas da desviação estão localizadas na situação social do desviante (...). Ao contrá-
rio, eu quero dizer que os grupos sociais criam a desviação fazendo regras cuja infração constitui a 
desviação, e aplicando essas regras para pessoas em particular e etiquetando-as como outsiders. A 
partir desse ponto de vista, a desviação não é uma qualidade do ato que a pessoa comete, mas uma 
consequência da aplicação, pelas outras pessoas, de regras e sanções para um ofensor. O desviante 
é alguém em quem aquela etiqueta foi aplicada com sucesso; o comportamento desviante é um 
comportamento que é assim etiquetado pelas pessoas11.
Assim, se a desviação é uma consequência da resposta dos outros ao ato de alguém, não 
podemos supor que haja homogeneidade no grupo dos etiquetados como desviantes. Nem 
todos que foram etiquetados, infringiram uma regra. E nem todos os que quebraram regras, fo-
ram etiquetados. Não é possível, então, ficar procurando traços de personalidade ou situações 
de vida que expliquem a desviação. O importante, para Becker, é entender a desviação como 
o produto de uma transação que ocorre entre um grupo social e aquele que é visto por esse 
grupo como um transgressor (rulebreaker).
No processo de estudo da desviação, não devemos encará-la como algo depravado ou 
como algo muito diferente das demais condutas. A desviação é apenas um tipo de compor-
tamento que algumas pessoas desaprovam, enquanto outras valorizam. O correto é tentar 
entender o processo pelo meio do qual ambas perspectivas são construídas e mantidas, e aí 
reside a importância de manter contato próximo com os objetos de estudo.
Para Becker, as pessoas de classe média com padrão mínimo de bem-estar e conforto não 
seguem os impulsos criminais que todos têm porque elas teriam muito a perder: os laços es-
treitos com amigos e parentes; o emprego; a carreira estudantil; o conforto. Quem, no entanto, 
não tem muito a perder, pode se arriscar.
E praticado o ato inicial, explica Becker, começam as cerimônias degradantes, que são 
processos desmoralizantes a que é submetido o réu e que atingem sua autoestima. Tem iní-
cio, também, o processo de estigmatização. A sociedade seleciona essa etiqueta – criminoso, 
ladrão – para designar o indivíduo, mesmo que ele só tenha gastos alguns minutos da sua 
existência praticando o crime.
Estigmatizado e segredado da sociedade, o delinquente se aproximará de outros crimino-
sos e acabará se identificando com eles pela situação de vida em que se encontram. Começa, 
então, o processo de desviação secundária: novos atos desviantes são cometidos como fruto 
do processo de reação social à desviação primária. O agente mergulha no papel de delinquen-
te, num processo que se chama de role engulfment, e tem início sua carreira criminal. A profe-
cia se autocumpre: tanto diziam que ele era um criminoso, que agora de fato o é.
11 BECKER, Howard S. Outsiders: Studies in the Sociology of Deviance. Nova Iorque: The Free Press, 1963, p. 9.
O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para EDIVANIRA VIDAL MEDEIROS - 83032908272, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título,
a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal.
https://www.grancursosonline.com.br
https://www.grancursosonline.com.br
26 de 96www.grancursosonline.com.br
Teorias Sociológicas
CRIMINOLOGIA
Mariana Barreiras
Becker demonstra que os estudos interacionistas fazem com que os sociólogos percebam 
que um grupo muito maior de pessoas e eventos têm que ser levados em consideração no 
estudo da desviação. Nesse sentido, a desviação é um ato coletivo. É preciso, diz ele, estudar 
o acusado, mas também o acusador. É preciso considerar que há pessoas, situações ou atos 
suficientemente poderosos ou legitimados a impor definições (a colar as etiquetas). E ao fazer 
isso, ou seja, ao tornar os empreendedores morais objetos de estudo, os estudos interacionis-
tas violam a hierarquia de credibilidade da sociedade, pois questionam o monopólio da verda-
de sobre a desviação. É mais ou menos como se, pela primeira vez, a Criminologia colocasse 
em dúvida a palavra da Polícia, do Ministério Público, do Poder Judiciário, da Administração 
Penitenciária. Por isso, diz-se que o labelling inaugura um paradigma novo na Criminologia, 
aquilo que em nossa terceira aula chamamos de Modelo da Reação Social.
Erving Goffman
Outro nome de peso no labelling approach é o do canadense Erving Goffman, que realizou 
suas pesquisas nos Estados Unidos. É autor, entre outros, de Estigma: Notas sobre a Manipula-
ção da Identidade Deteriorada, de 1963, e Manicômios, Prisões e Conventos, de 1961, livros em 
que se debruçou sobre a questão prisional.
Ele introduziu o conceito de instituição total que são aquelas que, como é o caso do cárce-
re, possuem barreiras à relação com o mundo externo simbolizadas por portas fechadas, pa-
redes altas, arame farpado, fossos, água, florestas ou pântanos. Nas instituições totais, todos 
os aspectos da vida do condenado são realizados no mesmo local, sob uma autoridade única 
e diante de um grupo de pessoas razoavelmente grande. Há horário, padrão e sequência para 
as atividades. Caso a permanência do condenado na instituição total seja longa, começa a ter 
lugar um processo gradativo de desculturamento: humilhações, rebaixamentos, degradações 
pessoais e profanações do “eu”. O “eu” civil é mortificado e a pessoa começa a passar por mu-
danças radicais em sua carreira moral, composta pelas progressivas mudanças que ocorrem 
na crença que os outros têm a seu respeito.
A mortificação da pessoa começa por meio de medidas do processo de admissão, que é 
um rito de passagem onde ocorre: a perda do nome; a atribuição de um número de prontuário; a 
privação dos pertences pessoais; a adoção de um uniforme padrão; as medições pelo departa-
mento médico; as agressões físicas que recebe dos superiores e de colegas mais antigos etc.
Além desse rito inicial, o interno tem que se adaptar à nova vida, adotando novas posturas, 
nova linguagem, assumindo novos papeis de submissão e inferioridade, desempenhando tra-
balhos obrigatórios que muitas vezes são vistos como inúteis, se encaixando em regras que 
disciplinam minúcias da sua vida.
Goffman fala em exposição contaminadora: trata-se da dissolução da fronteira entre o ser 
e o ambiente. O interno não consegue ter sua intimidade preservada. Tudo que ele faz é obser-
vado e registrado em um dossiê. E são comuns queixas de alimento sujo, locais

Continue navegando