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CADERNO DE CRIMINOLOGIA CONTEXTO HISTÓRICO Não é de hoje que o fator criminal se revela com um problema da espécie humana. O instinto gregário do ser humano é um fator demonstra que práticas antissociais devem ser vistas como questões que atrapalham a civilização. Assim, a sociedade impôs restrições para o indivíduo que tem práticas antissociais, denominada infração penal. Importante ressaltar que na criminologia não há diferença entre as infrações penais. Todas são referidas como crimes, pois o criminólogo vê o crime como um ato mais abrangente. Para a criminologia o crime é o problema, mas a pergunta que se faz é “punir criminosos evita a prática de novos crimes”? A resposta é não. Outra observação é que não é somente o indivíduo que pratica o crime e pessoas próximas que sofrem com as consequências do crime, mas a sociedade como um todo. Desde os tempos antigos há uma preocupação com o entendimento do processo punitivo. CONCEITOS PARA O DIREITO PENAL Crime: fato típico, ilícito e culpável. Criminoso: todo aquele que, voluntariamente, com dolo ou culpa, deu causa a um resultado típico. Sistema de Justiça Criminal: evidenciam um mecanismo por meio do qual pode-se evidenciar a prática de um crime e imputar este crime a determinada pessoa. Assim, o sistema de justiça criminal não é suficiente para evitar o fenômeno criminal. Então conclui-se que a criminologia não é um ramo do direito penal. O direito penal é um dos elementos dos quais a criminologia extrai seu fundamento. CRIMINOLOGIA Ciência empírica e interdisciplinar, que tem por objeto de análise o crime, o criminoso, a vítima e o controle social. Método indutivo: observando a realidade e acaba enxergando padrões. Interdisciplinar: agrega conceitos de outras disciplinas produzindo seus próprios conceitos. Outros ramos agregados pela criminologia são: biologia, sociologia, psicologia, medicina legal, direito etc. CARACTERÍSTICAS - Crime é um problema; - Objeto é quadripartite: crime, criminoso, vítima e o controle social; - Prevenção, ao invés da exclusiva repressão; - Intervenção, ao invés de tratamento; - Reação social ao delito; - Etiologia do delito (origem); CRIME - Crime como problema social e comunitário. Social no sentido de que em toda sociedade tem e sofre. Comunitário no sentido que todo crime nasce no ceio de uma comunidade, que se torna corresponsável por evitar tais crime. CRIMINOSO Criminoso (prof. Sérgio Salomão): ser normal, livre, mas sujeito às influências do meio. Escola correcionalista espanhola: o criminoso é um ser incapaz, cabendo ao Estado o dever de cuidá-lo e de educá-lo. Para o marxismo o criminoso é uma vítima do sistema capitalista. VÍTIMA No início havia um protagonismo da vítima, pela existência da lei de Talião. Após, com a ascensão do processo inquisitivo, o estado toma para si o direito de punir, neutralizando a vítima. Em meados do séc. XX, ocorreu um redescobrimento e entendimento da importância de reconhecer o papel da vítima. Cifra Negra: infrações penais que não são percebidas pelo Estado. Vitimização - se divide em três: vitimização primária, secundária e terciária. A primária é a que sofre o dano diretamente. A secundária são as relações entre a vítima e o Estado, que não tem acolhimento pelo Estado. E a vitimização terciária que é aquela que gera intenso sofrimento da vítima que é abandonada pelo Estado e estigmatizada pela sociedade. (culpabilização da vítima). Os processos de vitimização explicam a existência da cifra negra. CONTROLE SOCIAL Conjunto de instituições e estratégias que visam submeter o individuo as normas do desenvolvimento social. O controle social possui instrumentos que CADERNO DE CRIMINOLOGIA disciplinam o infrator, que vão além das penas. Existe o controle social formal e informal (aquele de caráter preventivo e educacional. Exercem pressão ao individuo para que ele se adeque as normas de existência e convivência, estimulando o bom comportamento. O controle social informal funciona melhor, pois, o indivíduo o considera mais legítimo, passando por situações que podem trazer vergonha que controlam seus atos. Então, o controle social informal pode se tornar insuficiente e o indivíduo cometer atos criminosos, fazendo que o controle formal entre em ação. O controle social formal tem eficácia menos limitada porque geralmente o indivíduo considera menos legitimo. O policiamento comunitário é uma ferramenta de segurança pública com parceria entre comunidade e a polícia. Nele estão presentes o controle social formal e o informal. Existem outros tipos de controle social, quais sejam: controle social interno (polícia, MP) e externo (órgãos externos de fiscalização da atividade do Estado). O controle social externo é mais cobrado nos concursos. MÉTODOS Biológico e Sociológico Ciência empírica e experimental, vale-se da metodologia indutiva, observando aspectos sociológicos e biológicos. FUNÇÃO DA CRIMINOLOGIA Sistematizar os múltiplos conhecimentos relacionados ao crime, com vistas a prevenção do crime. É uma ciência humana e inexata. Pretende interferir positivamente no criminoso. CLASSIFICAÇÃO DA CRIMINOLOGIA Criminologia geral: é a sistematização cientifica do conhecimento auferido pelas outras ciências. Criminologia clínica: é a aplicação do conhecimento alcançado em relação ao criminoso. Criminologia científica: são os métodos científicos aplicados ao crime, a vítima, ao criminoso e ao controle social. Criminologia aplicada: é a utilização do conhecimento científico no sistema de justiça criminal; Criminologia acadêmica: é a sistematização do conhecimento para fins pedagógicos. Criminologia analítica: é a verificação dos conhecimentos criminológicos no sistema de justiça criminal e nas políticas criminais. Criminologia crítica ou radical: base marxista. Acredita que o sistema de justiça criminal serve para a manutenção do sistema de classes. Criminologia verde: relativa aos crimes ambientais. Criminologia do desenvolvimento: a depender a evolução da idade do indivíduo percebe-se maior propensão a prática de determinados crimes. Criminalística X Criminologia: criminalística é a disciplina auxiliar da persecução penal responsável pela elaboração de exames laboratoriais, por exames periciais etc. HISTÓRIA DA CRIMINOLOGIA Tema muito importante nos concursos para delegado, pois, existe grande divergência. Século XIX, fase pré cientifica, os estudiosos não sabiam que estavam falando sobre criminologia, mas estavam analisando conforme instrumentos disponíveis a sua época o fenômeno criminal. Cesare Lombroso (antropólogo) é considerado o pai da criminologia. Porém, há estudiosos que entendem que o pai da criminologia é Paul Topinard, em 1879, pois ele foi o primeiro a utilizar o termo, porém ele não definiu o termo. Já Raffaele Garófalo, em 18858, além de ter utilizado o termo “criminologia” o definiu cientificamente. Atente-se que em 1859, Francesco Carrara, delineou os pensamentos criminológicos. No entanto, Carrara escrevia sobre Direito Penal, na época pré científica da criminologia (Escola Clássica). Para o concurso público, o pai da criminologia é o Lombroso, ainda que haja divergência. FASE PRÉ CIENTÍFICA DA CRIMINOLOGIA Atente-se ainda que, antes da organização do pensamento sobre os fenômenos criminais e de uma sistematização cientifica, já existia na antiguidade um estudo sobre o pensamento criminológico. Porém, na antiguidade os estudiosos não se valiam do racionalismo e da ciência, reagiam de maneira instintiva. Assim, os primeiros instintos envolvem a necessidade de busca pela compensação humana, a vingança. Portanto, a primeira fase da criminologia antiga é a vingança privada, ou seja, se fez mal, sofrerá o mal (lei de Talião). A vítima podia infringir o algoz de maneira proporcional ao sofrimento causado pelo criminoso. O ius puniendepertencia a vítima. CADERNO DE CRIMINOLOGIA Depois da vingança privada, adveio a vingança divina. O ius puniente pertencia a algum clérigo ou sacerdote, além disso, a punição advinha de uma interpretação da lei divina. Um dos critérios era a lei das Ordálias, que consistia em um sistema de provas utilizado no período medieval, onde o acusado era submetido a um teste de sobrevivência. Caso ele sobrevivesse, significava que Deus olhava por ele, portanto ele era inocente. Por fim, tem-se a fase da vingança pública. Quem deveria punir era o soberano que deveria aplicar as penas de acordo com seus critérios punitivos. O soberano utilizava-se da punição para aterrorizar seus súditos. O surgimento do iluminismo trouxe o desenvolvimento científico que permeia a criminologia. ESCOLA CLÁSSICA Surgiu a Escola Clássica, que recebeu este nome porque reviveu os valores greco-romanos. Ainda é uma fase pré científica, também conhecida como humanista, porque tem como característica a substituição da emoção pela razão na aplicação das penas, da justiça ao invés da arbitrariedade. Neste período que surgem as escolas penais e criminológicas. Os principais pensadores influentes são Cesare Beccaria (Dos delitos e das penas), Francesco Carrara e Giovanni Carmignani. As bases filosóficas da Escola clássica é o Jusnaturalismo e o contrato social. O jusnaturalismo reconhece a existência de um direito natural do homem que nasce com ele e é eterno e imutável. O soberano tem dever de reconhecer os direitos do homem como ser humano. O contrato social (Rousseau) reconhece que o Estado surge a partir de um contrato entre os homens, onde eles renunciam à sua liberdade para viabilizar a vida em sociedade. Então a sociedade não era uma dádiva que o soberano oferecia. A sociedade pertence aos homens e o soberano estava lá para ajudar os homens. Então o direito era algo jusnatural, superior e anterior ao soberano. Essa ideia também está ligada a ascensão da burguesia que precisava de mais estabilidade para evoluir com seus negócios. Dai a ideia de tirar o poder do soberano com reconhecimento de direitos naturais do homem que estavam acima do soberano e somente as normas dos homens é que poderiam justificar uma punição. PRINCÍPIOS DA ESCOLA CLÁSSICA a) Crime é ente jurídico b) Livre-arbítrio: se o individuo escolheu o caminho do delito, fez porque quis e por isso merece ser punido. c) Pena retribui pela culpa, moral e restauração social d) Método lógico-dedutivo: premissa maior para a premissa maior. Nesta época não existiam ferramentas cientificas nesta época. Utilizavam-se da ferramenta da argumentação, então justificavam de maneira lógica, argumentativa e racional a punição. Era utilitarista, porque se o indivíduo escolhia infringir as leis, isso tinha uma consequência. A Escola Clássica vai evoluindo porque só o argumento logico-dedutivo se torna insuficiente. Começa a caminhar para uma fase científica. Ainda é fase pré cientifica, mas há uma transição. Franz J. Gall, um dos expoentes da Fenologia, defendia a existência de zonas da criminalidade, conforma o formato do crânio do ser humano. Contudo, naquela época não existia instrumentos para aferir o crânio, a não ser apalpá-lo. Assim, o método utilizado era o da Cranioscopia, onde se apalpava o crânio do individuo para classificar sua propensão a criminalidade conforme sua deformidade. FASE CIENTÍFICA DA CRIMINOLOGIA ESCOLA POSITIVISTA Escola Positiva é o marco do início da fase científica da criminologia (séc. XIX). Possui três fases: a antropológica (Cesare Lombroso), a sociológica (Ferri) e a Jurídica (Garófalo). Todos eles são italianos. Ainda, existem um pensador francês, Adolphe Quételet, que iniciou uma sistematização dos dados sobre delitos e delinquentes. Sua obra chamava-se “Física Social” (1835). A obra se funda em três preceitos: a) o crime é um fenômeno social, ou seja, só existe na sociedade humana; b) previsão temporal para os crimes (leis térmicas – a depender do tempo a prática dos crimes era mais recorrentes); c) condicionantes do crime: como miséria, analfabetismo, condições climáticas. Além disso, Adolphe sistematizou os estudos sobre delitos e delinquentes, além disso, defendeu o desenvolvimento oficial de estatísticas do crime, dando visão a ideia embrionária de cifra-negra. Então o positivismo tinha como característica determinante valer-se de métodos de conhecimentos de conclusões de ciências exatas (física, química e matemática) utilizando-as em todas a ciências do aspecto humano. ESCOLA POSITIVISTA – FASE ANTROPOLÓGICA O primeiro a procurar uma metodologia com cunho científico foi o Cesare Lambroso, considerado o pai da criminologia ou da Antropologia Criminal (ele falava isso). Sua principal obra é “O homem delinquente” (1876). É um expoente da Escola Positiva em sua fase CADERNO DE CRIMINOLOGIA antropológica. Foi o primeiro a aplicar um método científico da época (o positivismo). A sua obra teve o mérito de reunir e sistematizar diversos conhecimentos anteriores que estavam espalhados. Realizou uma intensa análise em criminosos, procurando elementos comuns entre os delinquentes. Além disso, foi o primeiro a utilizar-se do método empírico-indutivo ou indutivo-experimental. Para Lambroso, o crime é um fenômeno biológico, ou seja, tem como origem a biologia da pessoa. A pessoa criminosa possuía características endógenas que a levava cometer um crime. A pessoa ou nasce criminosa ou tornou-se biologicamente criminoso. As características criminosas eram hereditárias e isso era irreversível. Defendia também que o criminoso era um ser atávico (atavismo – reaparecimento de características primitivas dos ancestrais), sendo o criminoso um ser primitivo, que em sua essência era criminoso. Outra característica era a epilepsia. Lombroso defendia que a epilepsia danifica os centros nervosos, tornando o indivíduo criminoso. Ainda, completando o Tríptico Lombrosiano (atavismo, epilepsia e loucura moral), Lombroso defende que a loucura moral é outra característica do delinquente. Neste caso, o delinquente carece de completo senso moral, podendo matar pelos mais ínfimos motivos, sendo um degenerado moral. Atente-se que há estudiosos que interpretam que Lambroso não levava o ambiente em consideração, somente fatores exógenos. Porém, a questão do ambiente para Lombroso é importante quanto aquele é um catalisador para fatores biológicos. Para Lombroso, o sujeito não tinha livre arbítrio. Ele não possuía escolha. Importante ressaltar que os estudiosos da época não entendiam ainda que estavam projetando o pensamento criminológico, nem se intitulavam criminólogos. O ganho da época foi a introdução do método científico. Lombroso chegou a listas alguns caracteres do criminoso: fonte fugidia, mãos grandes, olhar errante, assimetria craniana, fazendo inclusive, lustrações. Além disso, ele também fez inferência sobre tatuagens, que para ele significavam um primitivismo. O grande erro do Lombroso foi metodológico, ou seja, não criar grupos de comparação ou de controle. O grupo de controle seria, por exemplo, quando se cria uma vacina para determinada doença, pega-se pessoas com a doença e divide-se em dois grupos – um é medicado com a vacina e o outro é medicado com vacina com efeito placebo. A partir daí, verifica-se se a vacina realmente faz efeito. O que Lambroso deveria ter feito era buscar pessoas com os caracteres criminosos por ele listados na sociedade que ainda não tinha cometido crimes. Isso já caiu no concurso. Não ridicularizar Lombroso. ESCOLA POSITIVISTA – FASE SOCIOLÓGICA O segundo expoente da Escola Positivista em sua fase sociológica é o Enrico Ferri, genro e discípulo de Lombroso, propôs avanços na teoria. Parou de observar apenas caracteres biológicos, mas deu ênfase a critérios ambientais. Ferri é o criador da Sociologia Criminal. Sua principal obra é a “SociologiaCriminal” (1884). Para Ferri, a criminalidade decorria de três fatores: a) antropológicos (a biologia ainda era importante); b) Físicos ou Telúricos: começou a observar como os fatores ambientais eram catalisadores da criminalidade; c) Culturais: religiosidade, ausência de educação (analfabetismo); Além disso, Ferri também nega a existência do livre arbítrio. O ser humano manifesta o comportamento criminoso a depender dos fatores da criminalidade. A pessoa não tem consciência e vontade. Ela submetida aos fatores, acaba praticando crime. Então, se a pessoa não tinha escolha, como se explica a aplicação de uma pena? Lembrando que para Lombroso a pena se justificava pela necessidade de isolamento do indivíduo, de forma a controlar, era uma medida de segurança. Porém, para o Ferri, se não fosse o ambiente a pessoa não teria delinquido. Portanto, para ele a justificativa da pena se dá pela defesa social. A pessoa não teve escolha para cometimento do crime a sociedade também não pode pagar esse preço. Assim, a pena visa proteger a sociedade do malfeitor que não tem escolha e muito menos pode ser ressocializado. A responsabilidade da pena para Ferri era social e para Lombroso era moral. Teoria dos substitutos penais é uma teoria criada por Ferri que defende que o Direito Penal só age quando todo o resto falha. A ação nos fatores criminógenos evita a prática de crimes. Assim, para o Ferri o Direito Penal é dispensável, a pena pessoal é ineficaz. Deve-se agir nos fatores sociais. Esta teoria prescinde do Direito Penal Convencional, ou seja, em uma certa época não existiria mais o direito penal convencional, apesar de na época reconhecer que isso não seria possível. Ainda, deveria dar preferência a uma Sociologia Criminal CADERNO DE CRIMINOLOGIA Integrada, que agiria nos fatores da criminalidade que agia no ambiente criminógenos para evitar os crimes. A orientação cientifica deveria funcionar utilizando-se da psicologia positiva (agir junto ao criminoso, tentando entender a psique dele), da antropologia criminal (análise endógena do criminoso) e a estatística social (onde se deveria agir). Lei da saturação criminal foi outra teoria abordada por Ferri, que defendia que a Teoria dos substitutos penais deveria vir acompanhada de reformas (sociais, econômicas ou outras) cientificamente orientadas. Ferri tirou esse ideário química, onde certas misturadas químicas, onde certas substâncias misturadas sob certa concentração e temperatura se dilui, o individuo em certo meio social se delingue, não há escolha. Então, se o meio social não for alterado, continua a saturação criminal. ESCOLA POSITIVISTA – FASE JURÍDICA O percussor da fase jurídica da Escola Positivista é Rafael Garófalo. Sua principal obra é “Criminologia” (1885). Garófalo diferenciou criminologia de Direito Penal. Para ele, Direito Penal é uma mera consequência da criminologia. Além disso, Garófalo agiu com mais moderação em relação a Lombroso e Ferri. Os aspectos fundamentais do pensamento de Garófalo são: a) Delito Natural: alguns comportamentos são reconhecidos como delitos em qualquer lugar do mundo. b) Teoria da Criminalidade: o fundamento do comportamento criminoso é uma anomalia psíquica e moral. A ideia de hereditariedade ainda existe. O déficit moral do indivíduo tem uma base orgânica transmissível hereditariamente e com conotações atávicas e degenerativas, não sendo considerada uma patologia. c) Teoria da Pena (fundamento do castigo): a pena deve ser aplicada de acordo com as características de cada delinquente (individualização da pena). Ainda para ele não existe uma ideia de proporção para a pena. Se afasta da ideia de liberdade humana e responsabilidade moral como fundamento da pena. Não acreditava no livre arbítrio. O individuo não teve escolha, mas não é um doente e sim um deficiente moral. Além disso, a pena não tem como pena a ressocialização. A ressocialização é refutada porque elas não consideram um substrato orgânico e psíquico de cada criminoso. Tem algo inato em sua personalidade que o torna criminoso. Então para Garófalo, deve-se observar de perto a pessoa para saber o quanto a pessoa é perigosa para a sociedade, o quanto que a pena pode deixar aquela pessoa menos perigosa e, sendo menos perigosa, há uma possibilidade de convívio social. Porém, para ela, algumas pessoas têm um déficit moral tão profunda que se torna irreversível e essa irreversibilidade justifica a pena de morte. Desta forma, a defesa da pena de morte é a diferenciação entre Garófalo e Ferri. Essas ideias de Garófalo refletiram na 2ª Guerra Mundial. Ao final da 2ª Guerra Mundial emerge uma potência econômica, militar e, principalmente, cultura, os EUA. Assim, em razão da preponderância cultural dos EUA erradia nas sociedades, inclusive influenciando radicalmente a criminologia. Após a 2ª Guerra surgi uma Guerra Fria idearia entre Capitalismo e Comunismo. Antes da 2ª Guerra já se percebia que os regimes comunistas não produziam riquezas econômicas a fim de fazer frente com regimes capitalistas. Um cientista social, Antônio Gramsci (italiano), percebeu que esta guerra nunca poderia ser vencida no âmbito econômico e no âmbito militar, então ele propôs que a guerra fosse travada no âmbito cultural e educacional (Gramscismo). Assim, Gramsci defendia que por meio da educação, seriam implementados os ideários comunistas dentro das escolas e Universidades, criticar o capitalismo por dentro e formar pessoas com esse idearia para que o comunismo termine se irradiando pelo capitalismo. O Gramscismo se revela no embate da criminologia em meados do séc. XX e início do séc. XXI. No final da 2ª Guerra emergem as Teorias Macrossociológicas. Observa-se uma miríade de componentes externos que influenciam o comportamento das pessoas. TEORIAS MACROSSOCIOLÓGICAS Teoria de Consenso que possui caráter funcionalista. O principal expoente é a Escola de Chicago (criminológica), Teoria da associação diferencial, teoria da anomia, subcultura delinquente. Para estas teorias de consenso os objetivos de uma sociedade são alcançados quando suas instituições funcionam (polícia, Senado, Câmara). Os indivíduos convivem e compartilham metas sociais comuns, sendo que eles concordam com as regras de convívio. Acreditam que os princípios sociais são perenes, não deve haver grandes revoluções. As pessoas cumprem com suas funções, se comportam de maneira integrada. CADERNO DE CRIMINOLOGIA A macrossociologia funciona nessa teoria fomentando os princípios sociais como forma de evitar o ambiente criminógenos que é fértil para a existência de crime e de criminosos. Teoria de Conflito que possui base argumentativa e tem com principal fundamento o labelling approach e a teoria crítica e radical. Para estas teorias não existe nada de consenso na sociedade. A paz existente na sociedade parte de um controle. A harmonia social decorre do uso da força e da coesão onde existe uma relação entre dominantes e dominados. As pessoas não cometem crimes porque elas são controladas e um dos instrumentos poderosos de controle é o Direito Penal. Ainda, segundo estas teorias, as sociedades estão em constante mutação, podendo existir cooperação entre os grupos para a dissolução do status quo. Só que, havendo uma revolução um grupo passa a ser dominante e outro dominado, surgindo um novo ingrediente para uma nova revolução. Assim, as sociedades estão em constante mutação, sempre um grupo tentando dominar o outro. O direito penal é um instrumento de dominação. Tudo aquilo que o grupo dominado não pode fazer é criminalizado. Tudo aquilo que pode envolver o empoderamento do grupo dominado é crime. Os princípios sociais das teorias do conflito são: a: mudança contínua; b) cooperação para a dissolução; c) luta de classes. TEORIAS DE CONSENSO Começou a se estruturar antes da 2ª Guerra Mundial, mas ganha força depois da2ª Guerra. Escola de Chicago ou Teoria da Ecologia Criminal ou Teoria da Desorganização Social teve origem nos EUA. Tem por base cientifica as observações do início do séc. XX. Na virada do sec. XIX para o séc. XX, os EUA experimentam um desenvolvimento econômico nunca visto. O ideário dessa época era que o desenvolvimento científico e econômico iria resolver todos os problemas da sociedade. Paralelamente ao crescimento das cidades observou-se que essa afirmação não era verdadeira, ao contrário, quanto mais desenvolvimento econômico das cidades aumentou a criminalidade, trazendo sofrimento social, econômico e social, tornando o ambiente cada vez mais favorável ao crime. Assim, os estudiosos da época começaram a observar a relação do crescimento das grandes cidades com o crime. O controle social informal não funciona tão bem em grandes cidades, acionando o controle social formal, daí o nome dado também de Teoria da Desorganização Social. Já o nome teoria da Ecologia Criminal deu-se porque os estudiosos mapearam as cidades de forma a observar apontando em quais regiões os crimes ocorriam, defendo que é nestes lugares que deveriam concentrar esforços para asfixiar as atividades criminais. Eles observaram que nas cidades dos EUA o desenvolvimento se deu dos centros para as periferias. Nos EUA as pessoas de classe mais abastardas moram nos subúrbios e não nas regiões centrais. Assim, as regiões centrais ficaram carentes de desenvolvimentos. Então conforme a expansão das cidades ocorria existia uma expansão dos crimes nas regiões centrais. Foi a primeira vez que colocaram as estatísticas no mapa de forma série. As áreas onde os crimes se concentravam eram chamadas de áreas de criminalidade e que mereciam mais atenção. Além disso, nessas áreas o controle informal é pior ainda. Nos locais onde o crime se concentrava seguia um gradiente de tendência de piorar (gradient tendency), ou seja, uma tendência de aumento, existia uma nítida ausência do Estado, sensação de anomia, que geravam insegurança. Porém, estes locais não eram ausentes de poder. Esta sensação de anomia e de insegurança favoreceu o surgimento das máfias. Desta forma, após apontarem as causas do crime para propor soluções como, por exemplo: integração socioeconômica de crianças; programas de tratamento e prevenção; recreação e lazer; reurbanização de bairros pobres; Apesar de tentar controlar as condutas criminosas, os EUA ainda observavam algumas condutas antissociais que ainda impediam o desenvolvimento das cidades. Nas décadas de 50 e 60 do séc. XX, surgiu outra teoria do consenso, a Teoria da Associação Diferencial. O principal cientista que defendeu esta teoria foi o Edwin Sutherland utilizando a expressão white colar crimes (Crimes do Colarinho Branco). Esta teoria observou que pessoas das classes mais abastardas praticavam crimes de grande lesividade social. Estas pessoas são autoras de crimes específicos, se diferenciando dos criminosos comuns e das pessoas do mesmo nível social com comportamento comum. Assim, Sutherland defendeu que ninguém nasce criminoso. O comportamento criminoso decorre de um aprendizado com os demais agregados. Estes crimes causam mais lesividades social do que os demais crimes. A corrupção em sentido amplo causa mais lesividade, pessoas morrem por falta de saneamento básico, falta de hospitais etc. CADERNO DE CRIMINOLOGIA Sutherland explica que pobreza não significa automaticamente o cometimento de crimes. Ainda, existe uma má influencia das classes mais altas para as classes mais baixas, por isso para ele, este tipo de criminalidade deve ser severamente combatida. A partir da década de 60 os crimes financeiros passam a ser mais severamente combatidos. Começa a surgir uma teoria que é do consenso, mais já começa a ter nuances marxistas. A Teoria da Anomia e Subcultura Delinquente defende que o delito não é uma anomalia, ou seja, existe sociedade sem delito. O delito é natural, mas não é normal. O delito significa que algo está funcionando mal. Para essa teoria a sociedade funciona como um todo orgânico articulado, onde os indivíduos são partes desse organismo, os quais devem agir em um ambiente de valores e de regras comuns. Quando os indivíduos começam a conflitar entre si, significa que eles não comungam mais os mesmos valores e não respeitam as mesmas regras. Com o surgimento deste conflito verifica-se as práticas antissociais. Quando existe esse conflito significa que existe uma contradição entre órgãos e membros do corpo. Neste sentido, o comportamento criminoso é um sintoma de dissociação social, a sociedade está se dissociando, perdendo a liga que os une (os valores). O principal expoente desta teoria é o Émile Durkheim que teve suas ideias utilizadas por Robert King Merton. A dissociação existe porque as pessoas perdem a fé no futuro. Os meios institucionalizados (escola, trabalho)) não conduzem a metas culturais, ou seja, se eu estudei, trabalhei, me comportei obedecendo todas as regras, espera-se ascender culturalmente. Se isto não ocorre, a sociedade para de funcionar. Para que vou estudar se isso não compensa? Daí a existência da anomia. A anomia não é a ausência de leis, mas é a ausência da obediência às leis. Existe um caos social. Quando o caos se instala, surge uma nova ordem não desejada, surgindo a subcultura delinquente. As principais características dessas subculturas é o não utilitarismo da ação (comportamento criminosos que não trazem vantagem alguma), malícia da conduta (prazer em prejudicar, pichações, depredações), o negativismo (se esforçam para adotar comportamentos opostos aos esperados pela sociedade). A solução oferecida pela teoria de Robert Merton é a garantia que o esforço do individuo que se esforça e segue as regras seja recompensada. 1 PESQUISAR Para finalizar, reforçar que as teorias do consenso têm base empírica. TEORIAS DO CONFLITO É mais argumentativa, valendo-se de conceitos sociológicos. A base é marxista porque ela se utiliza do materialismo histórico dialético de Marx. O materialismo histórico dialético 1 é a luta de classes. Então, os estudiosos da teoria do conflito trouxeram estes conflitos para explicar a realidade criminal. O criminoso então é o proletário e o burguês criminaliza os pobres. A primeira teoria a ser analisada é a Teoria do Labelling Approach (etiquetamento ou interacionismo simbólico, rotulação, reação social). Chama-se Teoria do Etiquetamento porque, para essa teoria não há diferenciação entre a pessoa criminosa e as outras pessoas. A pessoa criminosa assim se intitula porque ela recebe um estigma, uma etiqueta e fica impregnada de uma imagem ruim. Para essa teoria o crime ontologicamente não existe, cientificamente não existe crime. A criminalidade não é um caractere humano. Não há diferenciação entre um comportamento criminoso e não criminoso. O comportamento criminoso é normal. O que existe é um processo que vai atribuir, etiquetar uma pessoa com essa qualidade, atribuindo a pessoa a qualidade, o caractere de criminoso. Para eles o conteúdo humano é igual, é uma ocorrência em todas as sociedades humanas. Segundo eles, nas sociedades humanas em que não existia o conceito de crime, conseguiam conviver com o fenômeno criminal. A sociedade que determinar quais condutas são desviantes ou não. Então o crime é uma imposição, um conceito arbitrário de uma sociedade. Quem escolhe quais condutas são definidas ou não como crime é uma elite. Então as condutas desviantes são rótulos impostos na sociedade, que impõe aqueles que se desviam, manchando as pessoas. Essa rotulação gera estigmas que só traz prejuízos, sofrendo consequências. Para essa teoria, quando se criminaliza uma pessoa, impõe-se a ela uma criminalização primária que levará a criminalização secundária (reincidência). Uma pena criminal é uma fonte de desigualdades, porque o individuo rotulado fica marginalizadona sociedade. Quando não se permite a reinserção na sociedade o único caminho para o individuo rotulado volta a praticar crime. Então, para estas teorias, as instituições CADERNO DE CRIMINOLOGIA de Justiça Criminal pioram as desigualdades sociais e aumentam o fenômeno criminológico. Assim, o etiquetamento é um propulsor da criminalidade. As soluções apontadas pela teoria do etiquetamento é a políticas dos quatro “D”: a) Descriminalização: quando menos criminalização, melhor. b) Diversão: enquanto as pessoas estão se divertindo elas não pensam em cometer crimes. c) Devido processo legal: a natureza do processo penal deve levar a mais absolvições do que a condenações. d) Desinstitucionalização: reduzir ao máximo o encarceramento, pois este gera estigmas. Existe uma teoria mais afundo na Teoria do Etiquetamento, a Teoria Crítica ou Radical, oriunda do filósofo Alessandro Baratta. Essa teoria tem surgimento no início do séc. XX. O contexto era do final de 2ª Guerra com a vitória da União Soviética, fazendo com que a ideia de que o regime comunista seria viável economicamente. Esta teoria surge com muita força em meados do séc. XX, depois cai no esquecimento e ressurge a partir dos anos 70 dos EUA. Nesta época, governo do EUA começa a perceber o surgimento de organizações criminosas voltadas a dilapidar o Estado, com a prática de crimes financeiros. Então, o sistema de justiça criminal começou a perseguir estas pessoas. SEGUNDO O PROFESSOR, estas teorias ressurgem para defesa dos poderosos. O lema desta teoria é que as condutas dos menos favorecidos são rigorosamente perseguidas e as condutas praticadas pela elite não. A fonte desta teoria é marxista e o capitalismo é a base da criminalidade. A realidade não é neutra, ela é construída pela elite de forma a estigmatizar a população marginalizada, de modo que haja um controle da produção estabilizando- a. A elite se faz de diversos instrumentos para controlar a classe trabalhadora, inclusive punindo a conduta daqueles que tentam se rebelar contra o sistema. As características desta teoria são: a) Direito penal e instrumento de dominação de classe b) Apreço ao criminoso (um rebelde) c) Capitalismo é a fonte da criminalidade d) Redução das desigualdades reduzirá a criminalidade As propostas desta teoria são: a) Direito penal mínimo: quanto menos direito penal, melhor. b) Abolicionismo penal: seria o ideal para esta teoria. As teorias anteriormente estudadas tiveram embates, fazendo com que produzisse mais efeitos políticos e não sociais. A criminalidade nos anos 60 aos anos 80 nos EUA aumentou. Houve uma reação as teorias, que tiveram como base as teorias do consenso, mas com uma resposta mais contemporânea e incisiva. Surge então o Neorretribucionismo que possui três vertentes que se interligam: a teoria da Lei e Ordem; a Tolerância zero e; a Broken Windows Theory. O ideário central desta teoria parte de uma premissa de que os pequenos delitos devem ser evitados e punidos, como forma de evitar uma progressão para o mal maior. A preservação se daria nos espaços públicos (evitando pichações, depredações). Uma crítica que se tem em relação a essa teoria é que ela gera um encarceramento em massa. A criminalidade nos EUA desabou, principalmente em Nova York. A Broken Windows Theory (Teoria das Janelas Quebradas) foi criada a partir de uma observação feita por Philip Zimbardo, em meados de 1969-1970, que fazendo uma experiencia sociologia empírica. Ele deixa carro em um bairro rico e um no bairro pobre. Uns dias depois o carro deixado no bairro pobre foi vandalizado e tevês suas peças furtadas, chegando à conclusão de que as diferenças sociais levam a criminalidade. Depois, deixa um carro com a janela quebrada nos mesmos bairros. Dias depois o carro com janela quebrada deixado no bairro rico aparece depredado com as peças furtadas. A partir daí, Philip concluiu que o principal propulsor da criminalidade não é a diferença de renda. O vidro quebrado significa desordem, anomia, desprezo, fomentando a atividade criminal. Naquele lugar não existe lei e nem regra, estimulando uma progressão criminosa. A sensação de desordem estimula mais ainda a atividade criminal. Um ambiente social de desleixo evidencia uma falta de coesão social, as pessoas não se importam mais uma com as outras. Quando pequenas infrações são toleradas, isso gera como consequência o afastamento das pessoas de classes mais abastadas do bairro e juntos com eles vai o comércio, a indústria se instalando a pobreza. Então o crime se instala numa crescente espiral de decadência. O ser humano sem controle social volta a agir como um selvagem. CADERNO DE CRIMINOLOGIA A experiencia de Philip Zimbardo foi modernizada em 1982, por James Wilson e George Kelling. Eles aproveitam o conhecimento sociológico de Zimbardo para criar um pensamento criminológico. Eles utilizam as experiencias como base para desenvolver uma política de segurança pública “tolerância zero”. Pequenas violações deixaram de ser toleradas. A política de Lei e Ordem foi a primeira fase da política de tolerância zero. As pessoas foram lembradas, em Nova York, de que existiam leis. Pequenos atos infracionais tornaram-se crimes. Permitiram a segurança privada. As pessoas enriqueceram com a ordem, por exemplo, o Bronx, Detroit, Chicago, Las Vegas. Em contrapartida, houve um encarceramento em massa. Desta forma, estas teorias começam a seduzir a Europa e a América Latina. No Brasil, ainda permeia forte tendência a teorias de conflito, como labelling approach. Porém, as respostas vieram nas urnas. CLASSIFICAÇÃO DOS CRIMINOSOS A importância de saber a classificação dos criminosos é a adoção de políticas criminais. O doutrinador professor Hilário Veiga de Carvalho, valendo-se de critério biológico e mesológicos para classificar os criminosos. a) Biocriminoso puro: fatores biológicos. Também chamado de pseudocriminoso. Há apenas fatores biológicos que levam a pessoa a prática do fato delituoso. Não existe uma explicação ambiental. Algo inerente aquela pessoa a levou a prática do delito. Para eles aplica-se o tratamento médico, via medida de segurança. Por isso ele é chamado de pseudocriminoso, porque ele pratica um fato típico, ilícito e é inimputável. Exemplo: psicopatas, esquizofrênicos etc. b) Biocriminoso preponderante: são de difícil recuperação. Possui uma anomalia biológica a qual é desencadeada, existe um fator advindo do meio. Existe uma propensão a prática do crime. O agente precisa de uma pressão ambiental para cometer crimes. Pessoas comuns frente a estes estímulos não agiria como o Biocriminoso preponderante, então o estímulo para essa determinada pessoa é diferente em relação as demais. Não fosse o estímulo ambiental esta pessoa não teria cometido o crime. O Biocriminoso preponderante não consegue definir de maneira coerente e coesa a causa do cometimento do crime. Para estas pessoas, o professor defende que, elas merecem uma resposta do sistema, mas não é o cárcere. Sugere-se apoio médico e psicológico, pois são pessoas com propensão a alta reincidência. Geralmente, são problemas de má formação ou problemas de estímulos no lobo frontal, que contém os estímulos que advém do cérebro. c) Biomesocriminoso: é possível corrigi-lo. Sofre influência biológica e do meio, mas não possível definir qual é a influência preponderante para que ele pratique o crime. Indica-se tratamento médico, apoio pedagógico (exemplos negativos acerca de comportamento errados). Não fosse o meio propício estas pessoas raramente delinquiriam. d) Mesocriminoso Preponderante: pessoas cujo ambiente produz mais efeitos. Biologicamente ele não tem uma tendência a prática de crimes, mas tem características psicológicas fracas. Baixa alto estima que o faz querer ser aceito por aquele meio. Sugere-se apoio sócio pedagógico e psicológico. e) MesocriminosoPuro: sua pendência para a prática de crimes se dá por fatores relativos ao meio. A atuação antissocial se dá por estímulos externos. Não tem nenhum pendor biológico para o crime, mas tem dificuldades de perceber as mudanças no meio que o rodeia. São os de mais fácil recuperação. Portugal tem uma política de educação dos imigrantes, integrando o sujeito a sociedade. ESTATÍSTICA CRIMINAL Importante para a adoção de políticas públicas. Ao mapear a criminalidade sabe-se como agir com base nas características de cada região. Quando se falou em Quételet, observamos que ele já incluía o estado e a sociedade não tinham uma visão total do movimento criminal. A Escola de Chicago colocou a estatística criminal no mapa. Desta ideia, percebeu-se que existe uma criminalidade real e uma criminalidade revelada. A criminalidade revelada é a parte dos crimes que chegam ao conhecimento do Estado. A Cifra Negra é a criminalidade real, ou seja, a percentual de crimes que não chega ao Estado. Para alguns pensadores criminológicos também abrange crimes que não são solucionados. Porém, esta posição há divergências. A cifra negra impede a idealização e a realização de políticas de justiça criminal. Partindo desse conceito de cifra negra, as políticas criminais podem ser deformadas, porque se baseiam na criminalidade revelada. Importante ressaltar que a cifra negra foi uma importante crítica a Lombroso e a Teoria Radical, CADERNO DE CRIMINOLOGIA porque Lombroso só observou os encarcerados e não observou as pessoas que ficavam impunes. No caso da Teoria Radical é que a grande maioria dos crimes não são alcançados pelo sistema penal, então são poucos que são etiquetados, sendo um erro justificar o mal funcionamento da justiça criminal com base em um número grande de crimes não apurados. Cifra dourada são as infrações praticadas pelas classes mais abastadas que, em razão de sua influência econômica e jurídica, não são reveladas, investigadas ou não sofrem consequência nenhuma. A cifra dourada gera descrédito na política de justiça criminal. Cifra Cinza, pela professora Mônica Resende Gamboa, são casos registrados na seara policial e são resolvidos na própria delegacia. Cifra amarela, são crimes praticados por policiais não apurados ou por corporativismo ou por medo de represália. De todas estas cifras a Cifra Negra é a única que é um problema mundial, por isso, tem uma solução mais complexa. Alguns apontamentos feitos pela doutrina par a solução da cifra negra são: a) Auto denúncia: funciona em lugares onde dizer a verdade é um valor socialmente aceito e honroso. A pessoa que se auto denuncia ganha uma vantagem do sistema. b) Investigar vítimas: procurar dados das vítimas. Quando a vítima se sente acolhida, ela se importa mais em colaborar. c) Informantes: pessoas que não tem relação direta com o crime, trazem informações mais imparciais. d) Sistemas de variáveis Heterogêneas: a cifra negra é maior nos crimes mais leves, porque as pessoas não se importam de registrar e toleram mais. Portanto facilitar a comunicação de crimes mais leves ajuda no combate a cifra negra. e) Críticas ao controle formal: técnicas no seguimento operativo no sistema de Justiça Criminal. O mal funcionamento do sistema de justiça criminal acaba por prejudicar a adoção de políticas públicas. Mesmo os casos que geraram arquivamento, absolvição ou extinção anômala do processo deveria fazer parte das estatísticas criminal, porque senão a própria justiça criminal poderia estar criando uma cifra negra. No processo penal o indivíduo foi absolvido, mas para a coleta de dados é importante para a adoção de políticas de justiça criminal. VITIMOLOGIA Vítima é a pessoa que suporta a atividade criminológica. A vitimologia é a ciência que se ocupa da vítima e da vitimização, tendo como finalidade a redução do número de vítimas da sociedade, compreendendo o que levou àquela pessoa a se tornar uma vítima do crime. Em 1973, houve um forte impulso a vitimologia, com a realização de um simpósio internacional de Vitimologia. Ficou evidente que traçar o perfil das vítimas ajuda na adoção de política criminais e eficientes. CLASSIFICAÇÕES DA VÍTIMA Duas classificações são importantes. A primeira foi teorizada pelo professor Benjamim Mandelsohn, leva em conta a participação e a provocação da vítima quanto ao delito. A primeira vítima de Mandelsohn é a vítima inocente, que não concorre para o crime. A segunda é a vítima voluntária ou provocadora que é aquela que voluntária ou imprudentemente impulsiona os criminosos. A vítima imprudente é aquela que agente sem observar o perigo. Já a vítima voluntária, geralmente, ocorre pela Síndrome de Estocolmo. A terceira vítima é a vítima agressora, simuladora ou imaginária é aquela que não é verdadeiramente uma vítima. Ela sofre uma reação da pessoa que até então seria a real vítima, por exemplo, um assaltante que morre em uma reação ao assalto. Outra classificação da vítima importante é a dada pelo professor Hans von Henting. A classificação dele é dada por grupos: a) Criminoso – vítima – criminoso – sucessivo: a pessoa incialmente é criminosa, sofre hostilidade no cárcere se tornando vítima e, em razão desta hostilidade sofrida se torna criminoso novamente. b) Criminoso – vítima – criminoso – simultâneo: a pessoa evolui do status de vítima simultaneamente ao de criminoso. Exemplo, no caso das drogas o usuário que se torna dependente químico e torna- se traficante para sustentar o vício de que ele é vítima. c) Criminoso – vítima – aleatório/ imprevisível: sujeito que é pedófilo e é flagrado por alguém, e é linchado pela população passando a ser vítimas. Lembrar dos conceitos de vitimização primária que são os efeitos que a vítima experimenta em razão do crime que ela sofre. A vitimização secundária são as dificuldades que a vítima tem junto do aparato persecutório do Estado. E por fim, a vitimização CADERNO DE CRIMINOLOGIA terciária a pessoa é abandona pelo Estado e hostilizada pela sociedade. MECANISMOS DE PREVENÇÃO AO DELITO Objetivo prático da criminologia é, a partir do mapeamento dos crimes possibilitando a realização de políticas criminais de caráter preventivo. A prevenção criminal pode ser direta e indireta. A prevenção indireta é aquela que age nas causas do crime. A criminologia pode trabalhar no micro e no macrossociológico. O macrossocial envolve o ambiente em que insere o crime. A prevenção criminal indireta age ontológica mente, na causa do crime, para evitar o desvio primário. A prevenção criminal direta age em crime em formação, no “iter criminis”. Por exemplo, a criminalização de atos preparatórios de um crime considerado grave. Outra classificação da prevenção criminal é triparte, é a prevenção criminal primária, secundária e terciária. A prevenção primária ataca a raiz das causas, ou seja, pergunta-se o que aquela sociedade precisa para que ela não pratique crimes. Visa aspectos gerais de prevenção que abrange toda a sociedade. Políticas de educação, emprego, moradia, saúde etc. Exemplo: no mundo, um exemplo de prevenção primária, é dos países nórdicos, como Suécia, Dinamarca e Noruega. A prevenção secundária visa setores vulneráveis da sociedade com a aplicação de projetos de curto e médio prazo voltado para aquela população determinada população que está abandonada e mais propensa a criminalidade. Melhorar moradias e escolas, geração de empregos em caso de empresas falidas que geram desemprego etc. a diferença entra a primária e a secundária é que a primaria é para todo o povo e a secundária para uma população específica. Exemplo: EUA A prevenção terciária é voltada para determinada pessoa com vista a evitar a reincidência. Neste caso, é necessário conhecer o ambiente e o que levou a pessoa a delinquir. Assistência familiar, formação profissional em presídios, projetos educacionais ecorrecionais. Todos as três classificações podem ser utilizadas ao mesmo tempo porque o que diferencia uma da outra é a abrangência de cada uma. TEORIA DA REAÇÃO SOCIAL Todo o crime deve gerar uma reação por parte do Estado e da Sociedade. Essa reação pode ter um efeito criminológico positivo. Fala-se em política criminal e não em ciência porque não temos o conhecimento científico suficiente. A criminologia vai munir um conhecimento científico que vai embasar uma decisão. A teoria da reação social é areação do Estado e da sociedade como um todo diante da prática de um crime. Existem três modelos de reação social. O primeiro é o modelo Dissuasório que é aquele em que a repressão de dá por meio de punição do criminoso, simbolizando ao criminoso e a sociedade de que o crime não compensa. Neste caso, a pensa tem função retributiva e preventiva. O segundo é o modelo é o ressocializador que intervém no infrator proporcionando a ele uma reinserção social. Neste caso, a pena tem função de ressocializar. O terceiro é o modelo é o restaurador que prevê a justiça penal restaurativa, ou seja, visa restabelecer o estado anterior. Esse modelo é o mais moderno. Estabelecer a relação entre agressor e vítima a fim de esvaziar os desejos de vingança e perdão da vítima, de forma que um se coloque no lugar do outro. Exemplo: no CTB, as penas alternativas que envolvem prestação de serviços a comunidades, o infrator presta serviços socorrendo pessoas. Acredita-se que o infrator passando o dia com essas ações repense seus atos. TEMAS ESPECIAIS BULLYING É a intensão consciente e intencional de maltratar uma pessoa ou de deixá-la em estado de tensão emocional constante. Se dá em ambiente escolar por meio de agressões verbais e físicas a alunos e/ou professores. O bullying indica um desajuste comportamental em um local onde pessoas estão em formação. Então algumas pessoas em formação já apresentam um comportamento social desviado. Vê-se uma oportunidade de agir na pessoa que tem o comportamento social desviado a fim de evitar uma vida de desregramentos e de crimes. O bullying é um precursor de uma vida desregrada e criminosa. CADERNO DE CRIMINOLOGIA ASSÉDIO MORAL ou MOBBING Se dá no ambiente de trabalho. Há uma relação de hierarquia e de ascendência funcional (funcionário mais antigo, por exemplo). STALKING Perseguição com invasões de privacidade, ofensas reiteradas, execrações públicas, retirando a paz da pessoa. Outro modo é a divulgação de imagens íntimas. Atualmente, o principal instrumento desse tipo de crime são as redes sociais. Evidencia um comportamento obsessivo. EXAME CRIMINOLÓGICO É aquele que visa examinar um condenado com vistas a verificar a sua periculosidade, a sua sensibilidade a pena, a sua probabilidade de correção ou probabilidade de reincidência, ou seja, verifica-se as peculiares características do condenado, com o objetivo de aplicar uma prevenção terciária. Com base nisso, o exame criminológico traça um perfil psicossocial de um criminoso, logo trata-se de uma ato multiprofissional e multidisciplinar. Na Lei de Execução Penal a previsão é de que o exame criminológico não é obrigatório (art. 8º), só será submetido ao exame o condenado a PPL em regime fechado (+ 8 anos de reclusão). Ou seja, a grande maioria dos condenados está fora do exame criminológico. O exame criminológico divide-se em Exame morfológico, funcional (exames neurológicos), psicológico (aferir tendência a agressividade e a capacidade mental), psiquiátrico (diagnose de doenças mentais), moral (analisa-se o aprendizado ético do criminoso para descobrir se ele é imoral ou amoral – o primeiro compreende as regras, mas as despreza. O amoral não compreende as regras), social (buscar analisar o meio de onde o criminoso veio) e, por fim, o histórico (analisa-se a cronologia até o momento que a pessoa delinquiu, descobrindo a sequência de atos e fatos que o levaram a ser um criminoso) NOVOS TEMAS DE CRIMINOLOGIA PROGRAMAS DE PREVENÇÃO AO CRIME CONTEMPORÂNEOS Prevenção sobre determinadas áreas geográficas: decorre da Escola de Chicago no que tange a ecologia criminal. Com a estatística criminal consegue-se delinear no mapa onde os crimes estão acontecendo para agir de maneira mais eficaz nas áreas mais lesadas, fazendo um policiamento assertivo. Críticas a esse programa: - Estigmatização: a presença constante de policiais nas áreas criava um estigma de bairro criminoso. - Resolve o problema da violência em curto prazo, mas em longo prazo deixa de funcionar. PREVENÇÃO POR MEIO DO DESENHO ARQUITETÔNICO E URBANÍSTICO Esta ideia vem de Newman em sua obra de 1973, Defensible Space. Continua inspirado na Escola de Chicago, mas há evolução de uma escola ecológica para um enfoque microscópico. A base preventiva migra para locais da cidade e determinados crimes que, na ideia de Newman, eram correlacionados. Assim, era feito o policiamento de acordo com a característica dessas localidades, havendo uma prevenção mais cirúrgica da necessidade de cada local. A arquitetura e o urbanismo são utilizados para incidir positivamente no ambiente humano. Podem agir como um fator que impede que o ambiente criminoso se instale, como por exemplo, acabar com becos, ruas mal iluminadas etc. Essa restauração urbana leva a target hardenring (locais mais duros). Nestes locais mais duros deve-se agir de maneira a evitar que eles sejam propícios ao crime. Criando-se ambiente de convivência para a sociedade ao invés de levarem suas pulsões para a violência, elas podem levar suas pulsões de uma forma mais harmônica e cooperativa (não precisa mais resolver coisas na mão, as pessoas se conhecem mais, controle social emocional). PROGRAMA DE ORIENTAÇÃO COMUNITÁRIA Fomentar a participação de membros da comunidade que é fator preponderante. Há conselhos de segurança compostos por membros da própria comunidade. As demandas locais são específicas e a comunidade é ouvida e ainda, atribui-se funções específicas. Exemplo: PROERD – os policiais militares vão até as escolas e agem sobre os jovens convidando-os a serem propagadores da mensagem de que as “drogas fazem mal”. PROGRAMA DE PREVENÇÃO VITIMÁRIA É o mais polêmico. Verifica-se estatisticamente quais são os grupos vitimados pelo crime. Então orienta políticas criminais que agem seletivamente nestes grupos para que elas reajam antes que o crime aconteça. As vítimas são orientadas de formas que elas possam antever o que pode ocorrer e reagir. CADERNO DE CRIMINOLOGIA Exemplo: acolhimento e conscientização de que as pessoas são vítimas. PROGRAMA DE PREVENÇÃO AO DELITO DE INSPIRAÇÃO POLÍTICO-SOCIAL Buscar atuar nas raízes da criminalidade, as desigualdades sociais. O crime seria um indicador ou sintoma de problemas sociais. Então, para que os conflitos éticos se resolvam precisa de políticas éticas sociais. Quanto mais políticas voltada a resolver as desigualdades sociais, menos se tem a prática de crimes. PROGRAMA DE PREVENÇÃO DA CRIMINALIDADE DE ORIENTAÇÃO COGNITIVA Busca munir jovens de habilidade cognitivas que evitam a delinquência. Busca principalmente em pré- delinquentes, jovens e crianças, por meio da intervenção familiar e escolar. Exemplo: PROERD PROGRAMA DE EVITAÇÃO DA REINCIDÊNCIA Atua no apenado para que ele não volte a delinquir. As falhas no sistema de regime aberto fazem com que o infrator, ao invés de ir para casa, ir para a casa de albergado. Contudo, não tem vagas e o infrator acaba cumprindo em casa, o que faz com que o acompanhamento social ocorra de maneira errada. MACROCRIMINALIDADE X MICROCRIMINALIDADE Esta divisão existe para aplicação de uma política criminal adequada, visando a estabilidade social. Macrocriminalidade: composta por organizações criminosas de funcionamento empresarial, estratificadas, com divisão de tarefas, especializadas, com domínio territoriale funcionamento piramidal. Envolve o aferimento de altos lucros com grande prejuízo social. A colaboração premiada é um instrumento de combate a criminalidade. O desmantelamento de uma organização criminosa traz resultados benéficos relevantes. Microcriminalidade é composta por criminosos isolados e associados com eventual colaboração lateralizada, divisão de tarefas desorganizada, sem domínio territorial e com a possível existência de grupos agindo em paralelo. As grandes facções criminosas começaram como microcriminalidade, mas atualmente se enquadram na macrocriminalidade. A microcriminalidade explora a fragilidade sistêmica, desta forma é muito importante o caráter preventivo proposto pela criminologia.
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