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SISTEMA DE ENSINO DIREITO PENAL - PARTE ESPECIAL Crimes contra a Pessoa – Parte I Livro Eletrônico 2 de 94www.grancursosonline.com.br Crimes contra a Pessoa - Parte I DIREITO PENAL - PARTE ESPECIAL Leonardo Castro Sumário Introdução ........................................................................................................................................ 3 Pacote Anticrime ............................................................................................................................. 3 Demais Reflexos do Pacote Anticrime ....................................................................................... 4 Legislação ......................................................................................................................................... 5 Comentários à Legislação ............................................................................................................. 6 Sinopse .............................................................................................................................................21 Quadro Sinótico .............................................................................................................................28 Jurisprudência e Súmulas ........................................................................................................... 30 Legislação .......................................................................................................................................42 Comentários à Legislação ...........................................................................................................43 Sinopse ............................................................................................................................................ 45 Quadro Sinótico ............................................................................................................................. 47 Legislação .......................................................................................................................................48 Comentários à Legislação ...........................................................................................................48 Sinopse ............................................................................................................................................48 Quadro Sinótico ............................................................................................................................. 50 Legislação ....................................................................................................................................... 50 Comentários à Legislação ............................................................................................................51 Sinopse ............................................................................................................................................ 53 Quadro Sinótico ............................................................................................................................. 56 Legislação ....................................................................................................................................... 57 Sinopse ............................................................................................................................................ 62 Quadro Sinótico ............................................................................................................................. 65 Questões de Concurso ................................................................................................................. 67 Gabarito ........................................................................................................................................... 93 O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para EDIVANIRA VIDAL MEDEIROS - 83032908272, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 3 de 94www.grancursosonline.com.br Crimes contra a Pessoa - Parte I DIREITO PENAL - PARTE ESPECIAL Leonardo Castro Introdução Olá, amigo(a)! Neste primeiro encontro, veremos os crimes contra a vida e a lesão corporal (arts. 121/129). Para que a experiência seja proveitosa, sugiro: comece a leitura pela lei seca. De uns tempos para cá, as bancas têm cobrado com frequência a literalidade do texto legal. Caso tenha algu- ma dúvida, a resposta provavelmente estará no tópico denominado comentários à legislação. Para um estudo rápido, sem tanto aprofundamento, leia o tópico sinopse, onde são encon- trados os destaques de cada delito. Ademais, não deixe de estudar a jurisprudência selecio- nada e de resolver as questões trazidas – muitas são inéditas, com base no Pacote Anticrime. Em relação ao crime de homicídio, especificamente, há um tópico extra: o homicídio e a Parte Geral do CP. Se quiser conversar, fale comigo no Instagram ou por e-mail (endereço ao final). Um abraço! Leo. @leonardocastroprofessor contato@leonardocastroprofessor.com Pacote antIcrIme Em sua redação original, a Lei n. 13.964/19 tornou qualificado o homicídio quando prati- cado com emprego de arma de fogo de uso restrito ou proibido. O Presidente da República, no entanto, vetou a nova qualificadora em virtude de possível violação ao princípio da proporcio- nalidade entre o tipo penal descrito e a pena cominada, argumento que, de certa forma, com- partilho. Explico: a partir da entrada em vigor do Pacote Anticrime, o crime de porte ou posse ilegal de arma de fogo de uso restrito (Lei n. 10.826/03, art. 16, caput e § 1º) foi extirpado do rol dos crimes hediondos (Lei n. 8.072/90, art. 1º, parágrafo único). Em seu lugar, ficou apenas a conduta praticada com arma de fogo de uso proibido (art. 16, § 2º). Portanto, não parece co- erente a inclusão de forma qualificada do homicídio quando a arma de fogo for de uso restrito. Outro argumento sustentado no veto foi o risco de punição mais severa de agentes de segurança pública que, no exercício das suas funções, para defesa pessoal ou de terceiro, ou em situações extremas para a garantia da ordem pública, provoquem a morte de alguém. Em uma primeira leitura, a motivação não parece fazer sentido, afinal, o agente de segurança pública estaria amparado por causa excludente da ilicitude (CP, art. 23). Contudo, o exemplo trazido no teor do veto permite compreender o que se buscou evitar: o agravamento da pena imposta ao agente de segurança pública que, em conflito armado contra facções criminosas, pratique homicídio em hipótese que não caracteriza a legítima defesa. Embora o argumento seja questionável, a verdade é que o Congresso Nacional derrubou o veto, fazendo com que a nova qualificadora fosse incluída ao rol do § 2º do artigo 121 do CP. O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para EDIVANIRA VIDAL MEDEIROS - 83032908272, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 4 de 94www.grancursosonline.com.br Crimes contra a Pessoa - Parte I DIREITO PENAL - PARTE ESPECIAL Leonardo Castro demaIs reflexos do Pacote antIcrIme Além de adicionar nova qualificadora ao artigo 121 do CP, a Lei n. 13.964/19 atinge o crime de homicídio em outros aspectos. A partir da vigência do Pacote, passou a ser vedada a concessão de saída temporária aos condenados que cumprem pena pela prática de crime hediondo com resultado morte, como é o caso do homicídio qualificado (Lei n. 7.210/84, art. 122, § 2º). Além disso, a progressão de regime deve observar os novos parâmetros trazidos pelo artigo 112 da LEP, não sendo admitido o livramento condicional quandose tratar de delito hediondo ou equiparado com resultado morte, ainda que primário o condenado. Por fim, vale mencionar a legítima defesa funcional, adicionada ao artigo 25 do CP, tema tratado ao longo deste material. Há mais uma importante alteração produzida pelo Pacote Anticrime, mas no Código de Pro- cesso Penal, em seu artigo 492. A partir da entrada em vigor da Lei n. 13.964/19, em caso de condenação pelo Tribunal do Júri, o juiz-presidente da sessão determinará a execução provisória das penas, com expedição de mandado de prisão, se necessário. No entanto, essa regra vale apenas para condenações com pena igual ou superior a quinze anos de reclu- são. De constitucionalidade duvidosa, o dispositivo permanecia válido até o fechamento des- te material. PACOTE ANTICRIME – LEI N. 13.964/19 Adicionou nova qualificadora ao homicídio (art. 121, § 2º, VIII). É punido com pena de reclusão, de doze a trinta anos, o homicídio praticado com emprego de arma de fogo de uso restrito ou proibido. Como o Código Penal não conceitua o que seria uma e outra, trata-se de norma penal em branco. Ademais, é crime hediondo, como ocorre com todas as demais qualificadoras do homicídio (Lei n. 8.072/90, art. 1º, I). Adicionou ao artigo 25 do CP a legítima defesa funcional (art. 25, parágrafo único). Segundo o dispositivo, observado o caput do artigo 25, considera-se também em legítima defesa o agente de segurança pública que repele agressão ou risco de agressão a vítima mantida refém durante a prática de crimes. Adicionou ao artigo 492, I, “e”, do CPP a possibilidade de execução provisória da pena, em sentença proferida pelo juiz-presidente do Tribunal do Júri (crimes dolosos contra a vida), no caso de condenação a uma pena igual ou superior a quinze anos de reclusão. O tempo máximo de cumprimento da pena privativa de liberdade passou de trinta para quarente anos (CP, art. 75). Embora não seja uma alteração específica para os crimes contra a vida, certamente terá impacto, principalmente, no homicídio qualificado, em que as penas costumam ser altas. O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para EDIVANIRA VIDAL MEDEIROS - 83032908272, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 5 de 94www.grancursosonline.com.br Crimes contra a Pessoa - Parte I DIREITO PENAL - PARTE ESPECIAL Leonardo Castro Alterou o artigo 9º-A da LEP, que obriga o condenado à identificação do perfil genético. Antes do Pacote Anticrime, obrigava apenas os condenados por crimes hediondos – dos crimes contra a vida, apenas o homicídio qualificado ou o praticado em atividade típica de grupo de extermínio. Pela atual redação, a identificação é obrigatória a crime contra a vida, desde que doloso. Logo, quase todos aqueles dos artigos 121 a 126 do CP. Estabeleceu novos parâmetros para a progressão de regime, no artigo 112 da LEP, com percentuais de dezesseis a setenta por cento. No mesmo artigo, vedou a concessão de livramento condicional ao condenado por crime hediondo ou equiparado com resultado morte. Vedou a concessão de saída temporária ao condenado que cumpre pena por praticar crime hediondo com resultado morte (LEP, art. 122, § 2º). legIslação TÍTULO I DOS CRIMES CONTRA A PESSOA1 CAPÍTULO I DOS CRIMES CONTRA A VIDA2 Homicídio simples3-4 Art. 121. Matar5-6-7 alguém8-9-10: Pena – reclusão, de seis a vinte anos. Caso de diminuição de pena11-12 § 1º. Se o agente comete o crime impelido por motivo13 de relevante valor social14 ou moral15, ou sob o domínio de violenta emoção, logo em seguida a injusta provocação da víti- ma16-17-18-19-20-21, o juiz pode reduzir a pena de um sexto a um terço.22 Homicídio qualificado23-24 § 2º. Se o homicídio é cometido: I – mediante paga25 ou promessa de recompensa26, ou por outro motivo torpe27; II – por motivo fútil28; III – com emprego de veneno29, fogo30, explosivo31, asfixia32, tortura33 ou outro meio insi- dioso ou cruel, ou de que possa resultar perigo comum34; IV – à traição35, de emboscada36, ou mediante dissimulação37 ou outro recurso que dificul- te ou torne impossível a defesa do ofendido38; V – para assegurar a execução39, a ocultação40, a impunidade41 ou vantagem42 de ou- tro crime43: Pena – reclusão, de doze a trinta anos. Feminicídio O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para EDIVANIRA VIDAL MEDEIROS - 83032908272, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 6 de 94www.grancursosonline.com.br Crimes contra a Pessoa - Parte I DIREITO PENAL - PARTE ESPECIAL Leonardo Castro VI – contra a mulher por razões da condição de sexo feminino: VII – contra autoridade ou agente descrito nos arts. 142 e 144 da Constituição Federal, integrantes do sistema prisional e da Força Nacional de Segurança Pública, no exercício da função ou em decorrência dela, ou contra seu cônjuge, companheiro ou parente consanguí- neo até terceiro grau, em razão dessa condição:44 VIII – com emprego de arma de fogo de uso restrito ou proibido:45 Pena – reclusão, de doze a trinta anos. § 2º-A Considera-se que há razões de condição de sexo feminino quando o crime envolve:46 I – violência doméstica e familiar;47 II – menosprezo ou discriminação à condição de mulher.48 Homicídio culposo § 3º. Se o homicídio é culposo:49-50 Pena – detenção, de um a três anos.51 Aumento de pena § 4º. No homicídio culposo, a pena é aumentada de 1/3 (um terço), se o crime resulta de inobservância de regra técnica de profissão, arte ou ofício, ou se o agente deixa de prestar imediato socorro à vítima, não procura diminuir as consequências do seu ato, ou foge para evitar prisão em flagrante52. Sendo doloso o homicídio, a pena é aumentada de 1/3 (um terço) se o crime é praticado contra pessoa menor de 14 (quatorze) ou maior de 60 (sessenta) anos.53 § 5º. Na hipótese de homicídio culposo, o juiz poderá deixar de aplicar a pena, se as con- sequências da infração atingirem o próprio agente de forma tão grave que a sanção penal se torne desnecessária.54 § 6º. A pena é aumentada de 1/3 (um terço) até a metade se o crime for praticado por milí- cia privada, sob o pretexto de prestação de serviço de segurança, ou por grupo de extermínio.55 § 7º. A pena do feminicídio é aumentada de 1/3 (um terço) até a metade se o crime for praticado:56 I – durante a gestação ou nos 3 (três) meses posteriores ao parto;57 II – contra pessoa menor de 14 (catorze) anos, maior de 60 (sessenta) anos, com defici- ência ou portadora de doenças degenerativas que acarretem condição limitante ou de vulne- rabilidade física ou mental; III – na presença física ou virtual de descendente ou de ascendente da vítima;58 IV – em descumprimento das medidas protetivas de urgência previstas nos incisos I, II e III do caput do art. 22 da Lei n. 11.340, de 7 de agosto de 2006.59 comentárIos à legIslação 1. O Título I da Parte Especial do Código Penal tem por objeto os crimes contra a pessoa (CP, arts. 121/154-B). Neste material, veremos os crimes contra a vida (Capítulo I) e as lesões corporais (Capítulo II). O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para EDIVANIRA VIDAL MEDEIROS - 83032908272, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 7 de 94www.grancursosonline.com.br Crimes contra a Pessoa - Parte I DIREITO PENAL - PARTE ESPECIAL Leonardo Castro TÍTULO I DOS CRIMES CONTRA A PESSOA CAPÍTULO I DOS CRIMES CONTRA A VIDA Arts. 121/128. Homicídio (art. 121); induzimento, instigação ou auxílio a suicídio ou a automutilação(art. 122); infanticídio (art. 123); aborto provocado pela gestante ou com seu consentimento (art. 124); aborto provocado por terceiro sem o consentimento da gestante (art. 125); aborto provocado por terceiro com o consentimento da gestante (art. 126). CAPÍTULO II DAS LESÕES CORPORAIS Art. 129. Lesão corporal (art. 129). CAPÍTULO III DA PERICLITAÇÃO DA VIDA E DA SAÚDE Arts. 130/136. Perigo de contágio venéreo (art. 130); perigo de contágio de moléstia grave (art. 131); perigo para a vida ou saúde de outrem (art. 132); abandono de incapaz (art. 133); exposição ou abandono de recém-nascido (art. 134); omissão de socorro (art. 135); condicionamento de atendimento médico- hospitalar emergencial (art. 135-A); maus- tratos (art. 136). CAPÍTULO IV DA RIXA Art. 137. Rixa (art. 137). CAPÍTULO V DOS CRIMES CONTRA A HONRA Arts. 138/145. Calúnia (art. 138); difamação (art. 139); injúria (art. 140). CAPÍTULO VI DOS CRIMES CONTRA A LIBERDADE INDIVIDUAL Arts. 146/154-B. Seção I (dos crimes contra a liberdade pessoal): constrangimento ilegal (art. 146); ameaça (art. 147); perseguição (art. 147-A); sequestro e cárcere privado (art. 148); redução a condição análoga à de escravo (art. 149); tráfico de pessoas (art. 149-A). Seção II (dos crimes contra a inviolabilidade do domicílio): violação de domicílio (art. 150). Seção III (dos crimes contra a inviolabilidade de correspondência): violação de correspondência (art. 151); correspondência comercial (art. 152). Seção IV (dos crimes contra a inviolabilidade dos segredos): divulgação de segredo (art. 153); violação do segredo profissional (art. 154); invasão de dispositivo informático (art. 154-A). O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para EDIVANIRA VIDAL MEDEIROS - 83032908272, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 8 de 94www.grancursosonline.com.br Crimes contra a Pessoa - Parte I DIREITO PENAL - PARTE ESPECIAL Leonardo Castro 2. Em seu Capítulo I, o Título I traz os crimes contra a vida. No entanto, duas ressalvas: (a) no homicídio, é típica a modalidade culposa do delito. Portanto, nem todos os crimes do Capítulo I são dolosos contra a vida e de competência do Tribunal do Júri; (b) Com a entrada em vigor da Lei n. 13.968/19, o artigo 122 passou a tipificar conduta que não pode ser consi- derada crime contra a vida: a participação em automutilação. 3. Estrutura do tipo penal. Homicídio Simples 4. Em regra, o homicídio simples não é crime hediondo. A exceção: quando praticado em atividade típica de grupo de extermínio, ainda que cometido por um só agente (Lei n. 8.072/90, art. 1º, I). 5. A expressão homicidium é composta por homo (homem, humus) e caedere (sufixo: cí- dio – coedes, de caedere, matar). É o crime por excelência, aquele que, desde o começo dos tempos, se faz presente entre nós. O verbo nuclear não guarda segredo: matar, retirar a vida. O conceito de morte pode ser extraído do artigo 3º da Lei n. 9.434/97. O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para EDIVANIRA VIDAL MEDEIROS - 83032908272, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 9 de 94www.grancursosonline.com.br Crimes contra a Pessoa - Parte I DIREITO PENAL - PARTE ESPECIAL Leonardo Castro Art. 3º A retirada post mortem de tecidos, órgãos ou partes do corpo humano destinados a trans- plante ou tratamento deverá ser precedida de diagnóstico de morte encefálica, constatada e regis- trada por dois médicos não participantes das equipes de remoção e transplante, mediante a utiliza- ção de critérios clínicos e tecnológicos definidos por resolução do Conselho Federal de Medicina. 6. O homicídio é delito de forma livre, que admite qualquer meio de execução. Em regra, crime comissivo – que se dá por ação, por fazer algo -, mas é possível a prática por omissão (omissão imprópria), nos termos do artigo 13, § 2º, do CP. É o que ocorre no exemplo do salva- -vidas que, ao presenciar alguém se afogando, podendo fazer algo para evitar o resultado, se omite, e, em virtude disso, ocorre a morte. Sendo imputada a prática de homicídio doloso praticado por omissão imprópria, necessá- ria a descrição do comportamento omissivo voluntário, a consciência de seu dever de agir e da situação de risco enfrentada pelo ofendido, a previsão do resultado decorrente de sua omissão, o nexo normativo de evitação do resultado, o resultado material e a situação de garantidor nos termos do artigo 13, § 2º, do Código Penal, o que se verificou no caso dos autos. Logo, observados os parâmetros do artigo 41 do CPP. (STJ, RHC 46.823/MT) 7. Embora seja crime de forma livre, devem ser excluídos os meios que, por ineficácia absoluta, não são suficientes para a produção do resultado (crime impossível; CP, art. 17). Exemplo: agindo com vontade de matar, o pretenso homicida faz com que a vítima ingira todos os medicamentos que encontrou em sua casa (ao todo, trinta comprimidos de remé- dios diversos). Embora a vítima tenha sentido mal-estar, os medicamentos ingeridos jamais provocariam a morte, mesmo em superdosagem. Todavia, cuidado: se a substância é capaz de matar, mas o agente emprega quantidade suficiente, deverá ser responsabilizado pelo ho- micídio na forma tentada. 8. O homicídio consiste em matar alguém, outro ser humano, condição presente a partir do início do trabalho de parto. Na hipótese de vida intrauterina, quem atenta contra o feto deve ser responsabilizado por aborto (CP, arts. 124/128). Iniciado o trabalho de parto, não há crime de aborto, mas sim homicídio ou infanticídio conforme o caso. Para configurar o crime de homicídio ou infanticídio, não é necessário que o nascituro tenha respirado, notadamente quando, iniciado o parto, existem outros elementos para demonstrar a vida do ser nascente, por exemplo, os batimentos cardía- cos. (STJ, HC 228.998/MG) 9. Obviamente, não se fala em homicídio contra quem já morreu. Exemplo: agindo com vontade de matar, Mariana dispara um tiro contra Luciano, que aparentava estar dormindo. O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para EDIVANIRA VIDAL MEDEIROS - 83032908272, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 10 de 94www.grancursosonline.com.br Crimes contra a Pessoa - Parte I DIREITO PENAL - PARTE ESPECIAL Leonardo Castro Contudo, em verdade, Luciano estava morto no momento do disparo – faleceu segundos an- tes, vítima de ataque cardíaco. Ou seja, nem mesmo a mais mortal das armas poderia provo- car qualquer mal à vida de Luciano, devendo ser reconhecido o crime impossível por absoluta impropriedade do objeto (CP, art. 17). Acerca do moribundo, aquele que está diante de morte certa e iminente, é possível tê-lo por vítima de homicídio, afinal, ainda há vida. 10. Pode acontecer de o sujeito atentar contra a vida humana sem saber que o está fa- zendo. Exemplo: no ano passado, em Itanhandu, Minas Gerais, dois amigos saíram para caçar juntos, mas um acabou matando o outro. O motivo: o homicida confundiu a vítima com um javali. Nesse caso, a conduta do atirador deve ser avaliada como hipótese de erro de tipo es- sencial, nos termos do artigo 20, caput, do CP. CONSEQUÊNCIAS PARA O CAÇADOR Se o erro era inevitável (escusável), dolo e culpa devem ser afastados, fazendo com que a conduta seja atípica. No entanto, se o erro pudesse ser evitado (inescusável), o que não aconteceu por imprudência, negligência ou imperícia, também deve ser afastado o dolo, mas persistea punição por homicídio culposo (CP, art. 121, § 3º). No erro sobre elementos do tipo ou erro de tipo essencial, o agente tem uma falsa percep- ção da realidade. Seus sentidos captam uma fantasia. Foi o que ocorreu com o caçador, que imaginou estar efetuando disparo de arma de fogo contra um javali. Não se trata de erro na execução (CP, art. 73), quando o agente conhece a realidade, mas não consegue executar o crime como planejou – por exemplo, atinge pessoa errada por erro de pontaria. Também não é hipótese de erro de proibição (CP, art. 21), em que não há falsa percepção da realidade, mas erro em relação à ilicitude da conduta. Se o homicida conhecesse a realidade, não teria feito o disparo, mas seus sentidos o enganaram, fazendo com que matasse uma pessoa sem querer. Homicídio Privilegiado 11. O § 1º do artigo 121 dispõe sobre causa de diminuição de pena, e não privilégio. No entanto, embora equivocada, a expressão homicídio privilegiado é muito popular, devendo ser adotada em concursos públicos. O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para EDIVANIRA VIDAL MEDEIROS - 83032908272, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 11 de 94www.grancursosonline.com.br Crimes contra a Pessoa - Parte I DIREITO PENAL - PARTE ESPECIAL Leonardo Castro CAUSA DE DIMINUIÇÃO DE PENA PRIVILÉGIO A lei diminui a pena em determinada fração. É o que ocorre no § 1º, em que a pena é reduzida de um sexto a um terço. A lei impõe penas mais brandas, diversas das trazidas para a forma simples. É o que acontece na corrupção passiva privilegiada (CP, art. 317, § 2º), punida com pena de três meses a um ano. No caput, o delito tem pena de dois a doze anos. No cálculo da pena, a causa de diminuição é aplicada na terceira fase – é o momento em que deve ser considerado o homicídio privilegiado. No privilégio, o cálculo da pena tem por base a pena mínima prevista em lei. Exemplo: na corrupção passiva (CP, art. 317, caput), o cálculo da pena inicia em dois anos. Por outro lado, na corrupção passiva privilegiada (art. 317, § 2º), o cálculo começa em três meses. 12. O homicídio privilegiado jamais será considerado hediondo. Ainda que aplicada alguma qualificadora – homicídio qualificado-privilegiado ou híbrido -, a hediondez ficará afastada. 13. O criminoso que age motivado por relevante valor social ou moral pode ser beneficia- do por circunstância atenuante (CP, art. 65, III, “a”). Naturalmente, não é possível a aplicação concomitante da atenuante e da causa de diminuição de pena do homicídio. 14. O relevante valor social diz respeito à relação entre a conduta homicida e a coletivi- dade, fazendo com que seja reduzida a reprovabilidade do delito. É o que ocorre na prática do delito por patriotismo, altruísmo, sentimento de justiça ou outro motivo considerado rele- vante para a sociedade. Exemplo: matar criminoso que aterroriza moradores de determinada localidade. 15. O relevante valor moral tem a ver com padrões éticos afetos ao homicida – a aná- lise é subjetiva. A conduta é, de certa forma, aceita, afinal, em seu lugar, e tendo por parâ- metro o homem médio, qualquer pessoa faria o mesmo. É o clássico exemplo do pai que mata aquele que estuprou sua filha. Está errado? Sim, afinal, não se pode aceitar a ação de justiceiros. Todavia, considerado o limite do aceitável, é possível compreender a conduta do homicida. 16. Para que seja reconhecida a causa de diminuição em razão do domínio de violenta emoção (homicídio emocional), devem estar presentes: (a) a precedente e injusta provo- cação da vítima; (b) o domínio de violenta emoção; (c) o liame causal e temporal entre um e outro. O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para EDIVANIRA VIDAL MEDEIROS - 83032908272, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 12 de 94www.grancursosonline.com.br Crimes contra a Pessoa - Parte I DIREITO PENAL - PARTE ESPECIAL Leonardo Castro 17. Provocação injusta é aquela desmotivada, que não encontra amparo no sentimento comum de justiça. Deve ser grave a ponto de provocar o domínio de violenta emoção. Algu- mas pessoas são mais sensíveis, mas devemos ter por parâmetro o homem médio (figura em desuso, mas decidi aplicá-la por razões didáticas) ao aferir a provocação. 18. Para que seja reconhecida a causa de diminuição de pena, o homicida deve agir sob o domínio de violenta emoção. Em choque emocional que se sobrepõe à razão, o indivíduo perde o controle e age por ímpeto, sem pensar. Ele entende a gravidade do que faz, sabe das consequências – perderá sua liberdade, causará o fim de uma vida -, mas nada mais importa. Não há mais freios inibitórios. É o caso daquele que mata após ofensa ou por ciúme presen- cial, desde que o mal causado seja suficiente para provocar a reação – a causa de diminuição não ampara reações desproporcionais. 19. Para que seja reconhecida a causa de diminuição de pena, deve o homicida agir domi- nado por violenta emoção. Se houver mera influência, não estará caracterizado o homicídio privilegiado, devendo incidir a atenuante do artigo 65, III, “c”. Ademais, a atenuante fala em ato injusto, e não em injusta provocação. 20. A violenta emoção não é causa de inimputabilidade. Em verdade, o Código Penal en- tende imputáveis aqueles que agem por emoção, violenta ou não, ou paixão (CP, art. 28, I). 21. O artigo 121, § 1º, tem por lapso temporal a expressão logo em seguida. No entanto, questiono: qual seria o limite de tempo para o reconhecimento do homicídio privilegiado? Uma hora? Duas? Um dia? Não é possível dizer. Isso porque, para que seja aplicável a causa de diminuição de pena, tem de existir a relação causal entre a injusta provocação, a duração do domínio da violenta emoção e a reação homicida. Para não deixar a pergunta sem respos- ta, considere que a reação deve ser imediata (incontinenti), sem lacunas temporais (ex inter- vallo). A emoção é súbita, como fogo em pólvora. Difere da paixão, sentimento duradouro, não compatível com o homicídio privilegiado. 22. O § 1º traz causa de diminuição de pena, e não forma privilegiada do delito. Se o dispo- sitivo fixasse pena, por exemplo, de quatro a dez anos – o homicídio simples tem pena de seis a vinte anos -, teríamos verdadeiro homicídio privilegiado. No entanto, o dispositivo fala em diminuição, de um sexto a um terço. Portanto, causa de diminuição de pena, e não privilégio. O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para EDIVANIRA VIDAL MEDEIROS - 83032908272, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 13 de 94www.grancursosonline.com.br Crimes contra a Pessoa - Parte I DIREITO PENAL - PARTE ESPECIAL Leonardo Castro 23. O § 2º do artigo 121 traz várias circunstâncias qualificadoras do homicídio doloso, pu- níveis com pena de reclusão, de doze a trinta anos – o homicídio simples é punido com pena de seis a vinte anos. Não são aplicáveis, portanto, ao homicídio culposo. O artigo também possui algumas causas de aumento de pena (§ 4º, § 6º e § 7º). Homicídio Qualificado 24. O homicídio qualificado é quase sempre hediondo (Lei n. 8.072/90, art. 1º, I), consu- mado ou tentado. A exceção: não será hediondo quando reconhecida a causa de diminuição do § 1º do artigo 121, hipótese denominada homicídio qualificado-privilegiado ou homicídio híbrido. A coexistência da causa de diminuição de pena é possível somente quando a quali- ficadora for de natureza objetiva (meio ou modo de execução). Exemplo:por relevante valor social, o homicida executa o delito com emprego de veneno. Qualificadoras Subjetivas de Motivo 25. Mediante paga é o homicídio mercenário, qual o homicida age por dinheiro ou outra vantagem auferida para matar a vítima. É crime hediondo, consumado ou tentado. Por se tratar de circunstância de caráter pessoal (CP, art. 30), não se comunica com os demais en- volvidos na prática delituosa – nem mesmo com o mandante, aquele que paga pela prática do homicídio. 26. Difere da paga apenas quanto ao momento em que o homicida recebe a vantagem. Na promessa, o pagamento depende da prática do delito. 27. O inciso I do § 2º encerra com fórmula genérica (por outro motivo torpe), dando azo à interpretação analógica. Torpe é o motivo que causa nojo, repulsa, asco (ex.: matar por dinheiro). Não se confunde com o motivo fútil, desproporcional (ex.: matar alguém por ouvir música em volume excessivo). O dispositivo inicia dando dois exemplos de torpeza: a paga e a promessa de recompensa. O MOTIVO TORPE NOS TRIBUNAIS SUPERIORES Não caracteriza bis in idem o reconhecimento das qualificadoras de motivo torpe e de feminicídio no crime de homicídio praticado contra mulher em situação de violência doméstica e familiar. (Informativo n. 625/STJ) O reconhecimento da qualificadora da “paga ou promessa de recompensa” (inciso I do § 2º do art. 121) em relação ao executor do crime de homicídio mercenário não qualifica automaticamente o delito em relação ao mandante, nada obstante este possa incidir no referido dispositivo caso o motivo que o tenha levado a empreitar o óbito alheio seja torpe. (Informativo n. 575/STJ) O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para EDIVANIRA VIDAL MEDEIROS - 83032908272, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 14 de 94www.grancursosonline.com.br Crimes contra a Pessoa - Parte I DIREITO PENAL - PARTE ESPECIAL Leonardo Castro A vingança, por si só, não consubstancia o motivo torpe; a sua afirmativa, contudo, não basta para elidir a imputação de torpeza do motivo do crime, que há de ser aferida à luz do contexto do fato. (STF, HC 83.309/MS) Esta Corte possui jurisprudência no sentido de que, a depender do contexto, o ciúme pode caracterizar o motivo torpe que qualifica o crime de homicídio, cabendo ao Tribunal do Júri tal valoração, caso a caso. (STJ, AgRg no AREsp 1.134.833/SP) 28. O motivo fútil é aquele desproporcional, insignificante, que em hipótese alguma po- deria justificar a prática do homicídio. Exemplo: matar o vizinho por ouvir música em volume excessivo. Não há como confundir com o motivo torpe, vil, desprezível. O MOTIVO FÚTIL NOS TRIBUNAIS SUPERIORES Anotou-se, por último, que este Superior Tribunal já assentou a tese de o reconhecimento do ciúme como motivo fútil, ou mesmo torpe, depender do caso concreto. (Informativo n. 417/STJ) (...) o acusado praticou o crime de homicídio motivado por ciúmes da ex-mulher, que havia dançado com a vítima durante uma festa de vaquejada (motivo fútil), levando a efeito o delito no momento que a vítima estava sentada, esfaqueando-a (crime executado de maneira que impossibilitou a defesa). (STJ, RHC 120.962/AL) Qualificadoras Objetivas de Meio (Compatíveis com o Artigo 121, § 1º) 29. O veneno é qualquer substância capaz de desencadear processo químico ou bioquí- mico suficiente para matar ser humano. Não precisa ser, contudo, algo produzido com o ob- jetivo de provocar a destruição biológica (ex.: agrotóxicos). O provérbio de Paracelso é válido para a análise da qualificadora: a diferença entre o remédio e o veneno está na dose. 30. Queimaduras da derme podem ser provocadas por outros meios (ácidos, altas tempe- raturas etc.), mas a qualificadora diz respeito apenas àquela provocada diretamente por fogo, reação química exotérmica por todos conhecida. O homicida que o adota para matar alguém deve ser punido com maior rigor em razão do desnecessário sofrimento imposto à vítima. 31. É incontestável o perigo comum resultante do emprego de explosivo na prática do ho- micídio. Por esse motivo, deve o sujeito ser punido com maior rigor. O explosivo que qualifica o crime pode ter fabricação artesanal – no ataque em Boston, em 2013, as bombas foram feitas com panelas de pressão, pregos e peróxido de acetona. 32. Na asfixia, a vítima tem dificuldade ou é impedida de respirar. Pode ser mecânica (afogamento, soterramento, enforcamento, esganadura, estrangulamento, sufocação) ou tó- xica (por meio de gases), a exemplo do gás sarin, mundialmente conhecido após ataque em Tóquio, em 1995. O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para EDIVANIRA VIDAL MEDEIROS - 83032908272, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 15 de 94www.grancursosonline.com.br Crimes contra a Pessoa - Parte I DIREITO PENAL - PARTE ESPECIAL Leonardo Castro 33. No homicídio qualificado pela tortura, o sujeito age com vontade de matar (animus necandi). No entanto, a morte não é suficiente: ele quer que a vítima sofra até sucumbir. Por outro lado, no crime de tortura (Lei n. 9.455/97), não há intento homicida. O sofrimento é o resultado buscado. Caso ocorra a morte (crime preterdoloso), o torturador deverá ser respon- sabilizado pela forma qualificada do delito, nos termos do artigo 1º, § 3º, da Lei de Tortura. 34. Da mesma forma como acontece no § 2º, I, o legislador traz, após dar alguns exem- plos, fórmula genérica. Além do veneno, do fogo, do explosivo, da asfixia e da tortura, será qualificado o homicídio quando empregado outro meio insidioso ou cruel, ou de que possa resultar perigo comum. MEIO INSIDIOSO MEIO CRUEL MEIO QUE POSSA RESULTAR EM PERIGO COMUM É o meio traiçoeiro. A depender do caso, pode caracterizar a qualificadora do inciso IV. É o meio de execução do crime que impõe sofrimento além do necessário. Sádico, o homicida não se contenta em dar fim à vida. Ele quer que a vítima sofra. Para o STJ, a reiteração de golpes em região vital pode caracterizar a qualificadora (REsp 1.241.987/PR). É o meio que expõe a perigo um número indeterminado de pessoas. É o exemplo do sujeito que, com o objetivo de matar alguém, dispara tiros em local público. Qualificadoras Objetivas de Modo (Compatíveis com o Artigo 121, § 1º) 35. O traidor é aquele que goza da confiança da vítima (ex.: homicida e vítima mantêm relação de amizade). O crime é qualificado em razão do elemento surpresa – o ofendido não tem chance de se defender, afinal, não espera o ataque. 36. Na emboscada, o algoz executa o homicídio de modo a dificultar ou impedir que a vítima se defenda. É o exemplo da tocaia. Embora a premeditação, em si, não qualifique o ho- micídio, pode fazer com que seja reconhecida a qualificadora do inciso IV. 37. Na dissimulação, o sujeito oculta suas reais intenções. Ex.: para matar um comercian- te, o homicida se passa por cliente. É punida com maior rigor por dificultar ou impedir que a vítima se defenda. 38. Ao fechar o inciso IV, o legislador adotou fórmula genérica, compatível com interpreta- ção extensiva, ao dizer que a qualificadora é aplicável quando empregado recurso que dificulte ou torne impossível a defesa do ofendido. O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para EDIVANIRA VIDAL MEDEIROS - 83032908272, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 16 de 94www.grancursosonline.com.br Crimes contra a Pessoa - Parte I DIREITO PENAL - PARTE ESPECIAL Leonardo CastroO golpe dado pelas costas da vítima qualifica o homicídio por emprego de recurso que dificul- ta ou impede a defesa? Depende. Lembre-se, adotamos a Teoria Finalista (Welzel). Portanto, toda ação típica deve ser voltada às elementares do delito (consciência somada à vontade). Ou seja, o simples fato de a vítima estar de costas, por si só, não é suficiente para a incidência da qualificadora. Deve ficar demonstrado que o homicida, de forma consciente, aproveitou a situação para facilitar a execução do delito. Qualificadoras de Finalidade 39. Para a prática de um outro delito, o indivíduo tem de praticar o homicídio. Deve existir, portanto, conexão teleológica (futura) entre o homicídio e o delito desejado pelo sujeito. To- davia, atenção à morte – ainda que dolosa – praticada no contexto do crime de roubo, quando ficará caracterizado o latrocínio (CP, art. 157, § 3º, II). 40. É qualificado o homicídio praticado com o objetivo de impedir que um outro delito seja descoberto (conexão consequencial). Ex.: após a prática de um furto, o sujeito para testemu- nha que pode reconhecê-lo. 41. O inciso V qualifica o homicídio praticado com o objetivo de assegurar a impunidade de outro crime (conexão consequencial). Ex.: ao receber voz de prisão em flagrante, o sujeito mata quem o está pretendo, com o objetivo de evitar ser capturado pela prática de crime an- terior – que pode ser, até mesmo, outro homicídio. 42. É qualificado o homicídio quando o agente o pratica com o objetivo de assegurar a vantagem de um outro delito (ex.: furto). Também decorre de conexão consequencial. 43. O inciso V do § 2º fala em crime, e não em infração penal. Portanto, não é aplicável a qualificadora quando conexo o homicídio a contravenções penais. Qualificadora Funcional 44. Da mesma forma como ocorre no feminicídio (inciso VI), o inciso VII torna qualificado o homicídio quando praticado contra algumas pessoas específicas: membros das Forças Ar- madas e integrantes dos órgãos de segurança pública. Para melhor compreender a incidência da qualificadora, veja o esquema a seguir. O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para EDIVANIRA VIDAL MEDEIROS - 83032908272, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 17 de 94www.grancursosonline.com.br Crimes contra a Pessoa - Parte I DIREITO PENAL - PARTE ESPECIAL Leonardo Castro QUALIFICADORA FUNCIONAL (CP, ART. 121, § 2º, VII) CONDUTA Ciente da condição especial ostentada pela vítima, o sujeito ativo age com vontade de matar (animus necandi). Se a intenção do agente é a prática de lesão corporal, mas a vítima morre, estará caracterizada a qualificadora do artigo 129, § 3º, do CP, somada à causa de aumento de pena do artigo 129, § 12. VÍTIMAS Autoridade ou agente descrito nos artigos 142 e 144 da CF (integrantes das Forças Armadas e de órgãos de segurança pública); Integrantes do sistema prisional. Ou seja, todos aqueles que atuam na esfera administrativa da execução de pena privativa de liberdade e de medida de segurança; Integrantes da Força Nacional de Segurança Pública; Cônjuge, companheiro ou parente consanguíneo até terceiro grau das pessoas mencionadas anteriormente. As guardas municipais são tratadas no artigo 144 da CF, mas em seu § 8º. Como o texto do inciso VII não faz menção ao caput do dispositivo constitucional, devemos considerá- lo integralmente. Ou seja, também qualifica o homicídio a conduta perpetrada contra guardas civis municipais. Os policiais penais foram inseridos no artigo 144 da CF em 2019, por força da EC n. 104). O legislador limitou a qualificadora a parentes consanguíneos. Portanto, não é aplicável o inciso VII na hipótese de parentesco civil (ex.: filhos adotivos) ou de parentesco por afinidade (ex.: sogro, genro, cunhado). NATUREZA JURÍDICA Como diz respeito à motivação do agente, o inciso VII traz qualificadora de natureza subjetiva. Ele mata uma das possíveis vítimas no exercício das funções ou em decorrência delas. Por se tratar de qualificadora de natura subjetiva, não é possível a incidência concomitante da causa de diminuição do artigo 121, § 1º, do CP (homicídio privilegiado). 45. O homicídio praticado com emprego de arma de fogo de uso restrito ou proibido é novidade trazida pelo Pacote Anticrime (Lei n. 13.964/19). Inicialmente, a nova qualificadora havia sido vetada pelo Presidente da República, mas o Congresso Nacional derrubou o veto. O Código Penal não conceitua o uso restrito ou proibido, matéria reservada a decreto – por- tanto, norma penal em branco heterogênea. De natureza objetiva, pois diz respeito ao meio de execução adotado, é possível a aplicação conjunta com o homicídio privilegiado (CP, art. 121, § 1º). O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para EDIVANIRA VIDAL MEDEIROS - 83032908272, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 18 de 94www.grancursosonline.com.br Crimes contra a Pessoa - Parte I DIREITO PENAL - PARTE ESPECIAL Leonardo Castro Feminicídio 46. A qualificadora do feminicídio foi adicionada pela Lei n. 13.104/15, quase dez anos após a Lei n. 11.340/06 (Maria da Penha). Embora não concorde, o STJ a considera de nature- za objetiva. Portanto, nada impede a incidência conjunta com o homicídio privilegiado ou com a qualificadora do motivo torpe ou do motivo fútil (CP, art. 121, § 1º e § 2º, I e II). A jurisprudência desta Corte de Justiça firmou o entendimento segundo o qual o femi- nicídio possui natureza objetiva, pois incide nos crimes praticados contra a mulher por razão do seu gênero feminino e/ou sempre que o crime estiver atrelado à violência doméstica e familiar propriamente dita, assim o animus do agente não é objeto de aná- lise. (STJ, AgRg no AREsp 1.454.781/SP) FEMINICÍDIO (CP, ART. 121, § 2º, VI) É o homicídio praticado contra mulher por razões da condição de sexo feminino. O sujeito ativo pode ser qualquer pessoa (crime comum). O sujeito passivo tem de ser, necessariamente, do sexo feminino. Em relação ao transexual nascido homem, a questão é polêmica. Se considerada apenas a capacidade de gestação, a qualificadora não pode ser reconhecida. No entanto, se somado o registro civil alterado à vulnerabilidade, a qualificadora poderia ser aplicável à vítima transexual. Ao julgar o HC 541.237/DF, por se tratar de tema em construção, o STJ deixou a decisão sobre incidir ou não a qualificadora ao Tribunal do Júri. As razões de condição de sexo feminino estão presentes quando o crime envolve: violência doméstica e familiar; menosprezo ou discriminação à condição de mulher. Alguns manuais fazem a distinção entre femicídio, o homicídio contra mulher, e o feminicídio, a forma qualificada do delito. Embora a expressão femicídio não exista no VOLP (Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa), o CEBRASPE a trouxe em uma prova do TJRO, em 2012, para o cargo de analista judiciário. 47. O inciso I do § 2º-A fala em violência doméstica e familiar, de forma cumulativa. Contu- do, errou o legislador, pois nem toda relação doméstica se dá entre familiares, e a convivência não é condição para a existência da relação familiar. Melhor seria a alternatividade. 48. O homicídio motivado por menosprezo ou discriminação à condição de mulher é outra hipótese de feminicídio. O homicida mata a mulher por tê-la por ser inferior. Não se exige a violência doméstica e familiar contra a mulher – os incisos do § 2º-A não são cumulativos. O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para EDIVANIRA VIDAL MEDEIROS - 83032908272, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgaçãoou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 19 de 94www.grancursosonline.com.br Crimes contra a Pessoa - Parte I DIREITO PENAL - PARTE ESPECIAL Leonardo Castro 49. A culpa não é, necessariamente, a ausência do dolo. Elemento normativo do tipo, a ocorrência da culpa deve ser verificada no caso concreto, quando se afere ter havido ou não a violação de um dever jurídico de cuidado. Dois exemplos: a) Durante manuseio de arma de fogo, em razão de falha imprevisível decorrente de vício na fabricação, ocorre um disparo. Acidentalmente, alguém é atingido e morre. b) Por imprudência no manuseio de arma de fogo, que não possui qualquer falha em sua estrutura, ocorre um disparo. Alguém é atingido e morre. No primeiro exemplo, não houve dolo ou culpa. A arma de fogo disparou por falha em sua fabricação. A morte não decorreu de inobservância do dever de cuidado. Logo, fato atípico. Por outro lado, no segundo exemplo, o resultado foi resultado de conduta imprudente, mas ausente o dolo, devendo o indivíduo ser responsabilizado por homicídio culposo. 50. Ocorre o homicídio culposo quando o sujeito pratica voluntariamente a conduta, mas não há dolo, direto ou eventual. Ele não quer o resultado, embora previsível a possível ocor- rência. Em seu agir, constata-se violação a dever jurídico de cuidado a todos imposto (objeti- vo) por meio de imprudência, negligência ou imperícia. 51. O homicídio culposo não é hediondo – em verdade, a Lei n. 8.072/90 não tem crimes culposos em seu teor. A pena mínima de um ano faz com que o delito seja compatível com a suspensão condicional do processo, embora não seja crime de menor potencial ofensivo (Lei n. 9.099/95, arts. 61 e 89). 52. A primeira parte do § 4º do artigo 121 do CP traz causas de aumento exclusivamente aplicáveis ao homicídio culposo, fazendo com que a pena seja aumentada de um terço (fração fixa, não variável). HOMICÍDIO CULPOSO – CAUSAS DE AUMENTO DE PENA (CP, ART. 121, § 4º, 1ª PARTE) Inobservância de regra técnica de profissão, arte ou ofício Não configura bis in idem, a incidência conjunta da causa de aumento da pena definida pelo art. 121, § 4º, do Código Penal, relativa à inobservância de regra técnica de profissão, arte ou ofício, no homicídio culposo cometido com imperícia médica. (STJ, AgRg nos EDcl no AREsp 1.686.212/SE) Deixar de prestar socorro à vítima No homicídio culposo, a morte instantânea da vítima não afasta a causa de aumento de pena prevista no art. 121, § 4º, do CP – deixar de prestar imediato socorro à vítima -, a não ser que o óbito seja evidente, isto é, perceptível por qualquer pessoa. (Informativo 554/STJ) Não procura diminuir as consequências do seu ato Fugir para evitar prisão em flagrante Muito se questiona sobre a constitucionalidade dessa causa de aumento de pena, pois pune aquele que busca evitar ser preso. O STF, no entanto, entendeu pela constitucionalidade do artigo 305 do CTB, que tipifica a conduta daquele que afasta do local do acidente de trânsito para fugir à responsabilidade penal ou civil que lhe possa ser atribuída. (ADC 35/DF) O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para EDIVANIRA VIDAL MEDEIROS - 83032908272, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 20 de 94www.grancursosonline.com.br Crimes contra a Pessoa - Parte I DIREITO PENAL - PARTE ESPECIAL Leonardo Castro 53. Na parte final do § 4º do artigo 121, a pena é aumentada de um terço se o crime for praticado contra pessoa menor de catorze anos (treze ou menos) ou maior de sessenta anos (igual ou superior). 54. No § 5º, o artigo 121 do CP tem por objeto o perdão judicial na hipótese de crime cul- poso, quando a consequência do delito atinge o agente de forma tão grave que a sanção penal se torne desnecessária. Basta imaginar o exemplo em que, ao manobrar um automóvel, o pai atropela e mata seu filho. Seja qual for a pena aplicável, nenhuma será mais dura do que a dor provocada pela perda e/ou pelo mal por ele causado. O perdão judicial tem natureza jurídica de causa de extinção da punibilidade – portanto, o crime não deixa de existir. A aplicação do dispositivo independe de consentimento do homicida. O perdão judicial não pode ser concedido ao agente de homicídio culposo na direção de veículo automotor (art. 302 do CTB) que, embora atingido moralmente de forma grave pelas consequências do acidente, não tinha vínculo afetivo com a vítima nem sofreu sequelas físicas gravíssimas e permanentes. Conquanto o perdão judicial. (Informativo 542/STJ) 55. Com fundamento no § 6º, a pena deve ser aumentada de um terço até metade se o homicídio doloso for praticado por milícia privada, sob o pretexto de prestação de serviço de segurança, ou por grupo de extermínio. MILÍCIA GRUPO DE EXTERMÍNIO Expressão adotada desde a época da criação da Guarda Nacional, em 1831, força extinta no começo do século passado, em 1922, as milícias consistiam em forças policiais para a manutenção da ordem em algumas regiões do país – não havia ilegalidade nessas formações. Atualmente, contudo, o termo tornou-se pejorativo, pois faz alusão a organizações criminosas armadas que agem sob o pretexto de oferecer segurança em locais abandonados pelo Estado – as milícias nascem nas lacunas estatais. Exemplo: em comunidade carente, indivíduos armados extorquem moradores em troca de proteção que deveria ser oferecida por forças policiais. Embora a lei nada diga, deve ser considerado grupo de extermínio a associação de três ou mais indivíduos, o mesmo número exigido para a existência de uma associação criminosa (CP, art. 288), com o objetivo de matar pessoas que ostentem característica comum entre si (ex.: condenados por crimes sexuais). O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para EDIVANIRA VIDAL MEDEIROS - 83032908272, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 21 de 94www.grancursosonline.com.br Crimes contra a Pessoa - Parte I DIREITO PENAL - PARTE ESPECIAL Leonardo Castro 56. O § 7º traz causas de aumento de pena aplicáveis exclusivamente ao feminicídio, com variação de um terço até metade. 57. A majorante somente pode ser aplicável se o homicida tiver ciência da gestação. 58. Causa de aumento aplicável apenas quando praticado o delito na presença, física ou virtual, de ascendentes ou descendentes (filhos, pais etc.). Não incide o dispositivo se o femi- nicídio for cometido na presença de colaterais (sobrinhos, primos, irmãos etc.). 59. Reconhecida a causa de aumento, deve ser absorvido o delito do artigo 24-A da Lei n. 11.340 – crime de descumprimento de medidas protetivas de urgência. sInoPse Conduta O homicídio consiste em matar alguém. Para que fique caracterizado o delito, a vida tem de ser extrauterina – se intrauterina, o crime será o de aborto (CP, arts. 124/128). Crime de forma livre, admite qualquer meio de execução capaz de produzir a morte da vítima. Bem Jurídico O bem jurídico tutelado é a vida humana extrauterina, que tem por início o trabalho de parto. Objeto Material É o ser humano atingido pelo ataque. Sujeitos do Crime Crime comum, o homicídio pode ser praticado por qualquer pessoa, desde que iniciada a vida extrauterina. O sujeito passivo também pode ser qualquer pessoa, mas algumas vítimas influenciam na forma como o homicida deve ser punido, podendo, até mesmo, caracterizar outro delito. VÍTIMA CONSEQUÊNCIA HOMICÍDIO CONTRA A MULHER POR RAZÕES DA CONDIÇÃO DO SEXO FEMININO. Torna o homicídio qualificado pelo feminicídio (§ 2º, VI). As razõesda condição do sexo feminino estão no § 2º-A do artigo 121 do CP. O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para EDIVANIRA VIDAL MEDEIROS - 83032908272, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 22 de 94www.grancursosonline.com.br Crimes contra a Pessoa - Parte I DIREITO PENAL - PARTE ESPECIAL Leonardo Castro HOMICÍDIO PRATICADO CONTRA AUTORIDADES E AGENTES DESCRITOS NOS ARTIGOS 142 E 144 DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL. Torna o crime qualificado. Segundo o inciso VII do § 2º, é punido com pena de reclusão, de doze a trinta anos, o homicídio contra autoridade ou agente descrito nos artigos 142 e 144 da CF, integrantes do sistema prisional e da Força Nacional de Segurança Pública, no exercício da função ou em decorrência dela, ou contra seu cônjuge, companheiro ou parente consanguíneo até terceiro grau, em razão dessa condição. HOMICÍDIO DOLOSO CONTRA PESSOA MENOR DE CATORZE E MAIOR DE SESSENTA ANOS DE IDADE. Aumenta a pena do crime – um terço. No entanto, importante ressaltar que a causa de aumento de pena atinge apenas o homicídio doloso. Ademais, para o feminicídio, há causa de aumento específica (CP, art. 121, § 7º, II). HOMICÍDIO CONTRA O PRÓPRIO FILHO. Se a mãe atenta contra a vida do filho, pode ficar caracterizado o crime de infanticídio, desde que ela aja influenciada pelo estado puerperal, durante o parto ou logo após (CP, art. 123). HOMICÍDIO CONTRA O PRESIDENTE DA REPÚBLICA, DO SENADO FEDERAL, DA CÂMARA DOS DEPUTADOS OU DO SENADO FEDERAL. Se praticado homicídio doloso contra o Presidente da República, o do Senado Federal, o da Câmara dos Deputados ou o do Supremo Tribunal Federal, se a motivação for política, o crime será o do artigo 29 da Lei n. 7.170/83. Elemento Subjetivo É o dolo, direto ou eventual. É típica a modalidade culposa (art. 121, § 3º), algo a se observar em questões sobre o erro de tipo essencial ou descriminantes putativas (art. 20, caput e § 1º). Consumação e Tentativa Crime material, o homicídio se consuma com a morte da vítima, verificada a partir do diagnóstico de morte encefálica, como previsto no artigo 3º, caput, da Lei n. 9.434/97. Por ser crime plurissubsistente, é possível a tentativa. Ademais, é possível conciliar o homicídio com os institutos da desistência voluntária e do arrependimento eficaz (CP, art. 15), tema melhor tratado na legislação comentada. Ação Penal Crime de ação penal pública incondicionada, sem exceção. O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para EDIVANIRA VIDAL MEDEIROS - 83032908272, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 23 de 94www.grancursosonline.com.br Crimes contra a Pessoa - Parte I DIREITO PENAL - PARTE ESPECIAL Leonardo Castro Hediondez Em regra, o homicídio simples não é hediondo, salvo quando praticado em atividade típi- ca de grupo de extermínio. Por outro lado, o homicídio qualificado é crime hediondo, exceto se reconhecida a causa de diminuição de pena denominada homicídio privilegiado (CP, art. 121, § 1º). Art. 1º (...) I – homicídio (art. 121), quando praticado em atividade típica de grupo de extermínio, ainda que cometido por um só agente, e homicídio qualificado (art. 121, § 2º, incisos I, II, III, IV, V, VI, VII e VIII); (Lei dos Crimes Hediondos) Homicídio Privilegiado O § 1º traz causa de diminuição de pena, equivocadamente intitulada homicídio privile- giado. A pena do homicídio é diminuída, de um sexto a um terço, se o agente comete o crime impelido por motivo de relevante valor social ou moral, ou sob o domínio de violenta emoção, logo em seguida a injusta provocação da vítima. Incomunicabilidade do Privilégio Por ter natureza subjetiva, a causa de diminuição de pena não se comunica entre os en- volvidos na prática do homicídio (CP, art. 30). Portanto, é possível que, em um mesmo homicí- dio, um coautor seja punido por homicídio qualificado enquanto outro é responsabilizado por homicídio privilegiado, afinal, como dito, a causa de diminuição não se comunica. Hediondez O homicídio privilegiado jamais será hediondo. Ainda que presente alguma qualificadora, a hediondez permanecerá afastada. Homicídio Qualificado-Privilegiado Se o § 1º fosse, de fato, forma privilegiada do delito, jamais seria possível a construção qualificado-privilegiado – leia a explicação no item XX (legislação comentada). No entanto, por se tratar de causa de diminuição, as qualificadoras do § 2º podem coexistir com o § 1º, desde que de natureza objetiva (meio ou modo de execução do delito). O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para EDIVANIRA VIDAL MEDEIROS - 83032908272, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 24 de 94www.grancursosonline.com.br Crimes contra a Pessoa - Parte I DIREITO PENAL - PARTE ESPECIAL Leonardo Castro Relevante Valor Social O relevante valor social é aquele que desperta interesse da coletividade. Exemplo: matar criminoso que tirava a paz dos moradores de uma cidade. Relevante Valor Moral O relevante valor moral é aquele relacionado a interesse particular do homicida. Exemplo: o sujeito mata aquele que assassinou seu filho. Domínio de Violenta Emoção Deve incidir a causa de diminuição do § 1º quando o homicida age sob o domínio de violenta emoção, logo em seguida a injusta provocação da vítima (ex.: xingamentos). Por violenta emoção, entenda como o sentimento capaz de fazer com que o indivíduo perca o autocontrole. A reação deve ser imediata, logo em seguida a injusta agressão. Homicídio Qualificado GLOSSÁRIO • Homicídio híbrido: quando presentes, concomitantemente, a causa de diminuição de pena do § 1º (homicídio privilegiado) e circunstância qualificadora de natureza objetiva (§ 2º). • Homicídio mercenário: é o praticado em troca de recompensa (§ 2º, I). • Venefício: homicídio praticado com emprego de veneno (§ 2º, III). • Homicídio procustiano: homicídio praticado pelo emprego de traição (§ 2º, IV). • Homicídio teseuniano: homicídio motivado por vingança. Pode qualificar o delito, mas não é regra (§ 2º, I). • Feminicídio: homicídio praticado contra a mulher por razões da condição de sexo feminino. Homicídio funcional: é aquele previsto no § 2º, VII. No homicídio simples, do caput, a pena é de reclusão, de seis a vinte anos. Na forma qua- lificada, a pena começa em doze anos, podendo alcançar trinta anos, o antigo limite máximo de cumprimento de pena privativa de liberdade em nosso país – atualmente, o limite é de quarenta anos (CP, art. 75). Provavelmente, em breve, a pena máxima do homicídio qualificado será modificada para o novo teto. As qualificadoras estão no § 2º do artigo 121, melhor vistas no esquema a seguir. O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para EDIVANIRA VIDAL MEDEIROS - 83032908272, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 25 de 94www.grancursosonline.com.br Crimes contra a Pessoa - Parte I DIREITO PENAL - PARTE ESPECIAL Leonardo Castro QUALIFICADORA DESCRIÇÃO Mediante paga ou promessa de recompensa, ou por outro motivo torpe (§ 2º, I). Na primeira parte, temos a figura do mercenário, (sicário, assassino de aluguel etc.), aquele que mata em troca de recompensa (recebida ou prometida). Para essa relação, temos, no mínimo, três pessoas: o mandante, o assassinoe a vítima. Nem sempre a qualificadora alcançará o mandante – pode parecer injusto, mas expliquei no tópico sobre o homicídio hediondo. Em seguida, o legislador traz fórmula genérica. Torpe é o motivo repugnante, que causa nojo. Por exemplo, matar por herança. Por motivo fútil (§ 2º, II). É importante não confundir o motivo fútil com o torpe. O motivo fútil é o desproporcional, em que há total desequilíbrio entre ação/reação. Por exemplo, matar alguém em discussão sobre futebol. Em casos reais, pode ser difícil a distinção, mas não há diferença prática, afinal, ambas fazem com que o homicídio seja qualificado. Com emprego de veneno, fogo, explosivo, asfixia, tortura ou outro meio insidioso ou cruel, ou de que possa resultar perigo comum (§ 2º, III). Da mesma forma como ocorre no inciso I, o legislador usa fórmula genérica, mas traz alguns exemplos concretos. Meio insidioso é o traiçoeiro, aquele em que a vítima tem sua vida atingida por golpe dissimulado (ex.: veneno na bebida). O meio cruel é o que causa na vítima sofrimento desnecessário, que ultrapassa o necessário para causar a morte. Se disparo tiros contra alguém, evidentemente, a crueldade está presente, mas a qualificadora é aplicável ao excesso. Exemplo: morte por empalamento. Por fim, o meio que resulte em perigo comum, a exemplo do explosivo. À traição, de emboscada, ou mediante dissimulação ou outro recurso que dificulte ou torne impossível a defesa do ofendido (§ 2º, IV). Mais uma vez, fórmula genérica acompanhada de exemplos. O homicídio deve ser punido com mais rigor quando a vítima não tem a chance de se defender. Ou seja, temos no inciso IV a tipificação da covardia. É o exemplo da emboscada, quando o homicida fica em tocaia, aguardando a passagem da vítima pelo local. Quanto à traição, uma informação importante: a condição de traidor é exclusiva de quem goza, de alguma forma, de confiança da vítima. O traidor frustra a expectativa da vítima, que esperava outro comportamento. Por isso, o homicídio qualificado pela traição é crime próprio, pois exige qualidade especial do criminoso. Para assegurar a execução, a ocultação, a impunidade ou vantagem de outro crime (§ 2º, V). É a qualificadora aplicável, por exemplo, ao indivíduo que mata testemunha de um crime anteriormente praticado, ou que pratica o homicídio para assegurar a execução de um delito ou para ocultar vantagem dele obtida. Importante destacar que o inciso V fala em crime. Ou seja, não se fala em homicídio qualificado quando se busca ocultar uma contravenção penal. O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para EDIVANIRA VIDAL MEDEIROS - 83032908272, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 26 de 94www.grancursosonline.com.br Crimes contra a Pessoa - Parte I DIREITO PENAL - PARTE ESPECIAL Leonardo Castro Feminicídio (§ 2º, VI). O feminicídio é forma qualificada do homicídio, quando a vítima é morta por razões da condição de sexo feminino. Ela morre em razão do seu gênero. Para que o conceito não ficasse demasiadamente aberto, o legislador explicou o que quis dizer com condição de sexo feminino: quando o crime envolve violência doméstica e familiar ou menosprezo ou discriminação à condução de mulher. Cuidado: o STJ entende que se trata de qualificadora de natureza objetiva. Homicídio funcional (§ 2º, VII). É qualificado o homicídio quando praticado contra autoridade ou agente descrito nos artigos 142 e 144 da Constituição Federal, integrantes do sistema prisional e da Força Nacional de Segurança Pública, no exercício da função ou em decorrência dela, ou contra seu cônjuge, companheiro ou parente consanguíneo até terceiro grau, em razão dessa condição. Exemplo: matar uma pessoa por ser casada com um policial militar. Homicídio com emprego de arma de fogo de uso restrito ou proibido (§ 2º, VIII). Novidade do Pacote Anticrime (Lei n. 13.964/19), a nova qualificadora havia sido vetada pelo Presidente da República. No entanto, o Congresso Nacional derrubou recentemente o veto. Norma penal em branco heterogênea, pois o conceito de arma de fogo de uso restrito ou proibido é extraído de decreto, a qualificadora do inciso VIII tem natureza objetiva. Portanto, compatível com o denominado homicídio privilegiado (art. 121, § 1º). Causas de Aumento de Pena do Homicídio Doloso HIPÓTESES AUMENTO Homicídio praticado contra pessoa menor de catorze ou maior de sessenta anos. Um terço. Homicídio praticado por milícia privada, sob o pretexto de prestação de serviço de segurança, ou por grupo de extermínio. Cuidado: o homicídio praticado em atividade típica de grupo de extermínio é hediondo, ainda que simples (Lei n. 8.072/90, art. 1º). Um terço até metade. O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para EDIVANIRA VIDAL MEDEIROS - 83032908272, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 27 de 94www.grancursosonline.com.br Crimes contra a Pessoa - Parte I DIREITO PENAL - PARTE ESPECIAL Leonardo Castro Causas de Aumento de Pena do Feminicídio HIPÓTESES AUMENTO A pena do feminicídio é aumentada quando o crime é praticado: (a) durante a gestação ou nos três meses posteriores ao parto; (b) contra pessoa menor de catorze anos, maior de sessenta anos, com deficiência ou portadora de doenças degenerativas que acarretem condição limitante ou de vulnerabilidade física ou mental; (c) na presença física ou virtual de descendente ou de ascendente da vítima; (d) em descumprimento das medidas protetivas de urgência previstas na Lei Maria da Penha (Lei n. 11.340/06, art. 22). Um terço até metade. Homicídio Qualificado-Privilegiado É possível a incidência da causa de diminuição do § 1º do art. 121 (homicídio privilegiado) em conjunto com alguma das qualificadoras (§ 2º), desde que a qualificadora tenha natureza objetiva – aquelas referentes ao meio ou modo de execução do delito. Ex.: o pai que mata o estuprador da filha usando veneno como meio de execução. O homicídio por ele praticado é qualificado (§ 2º, III), mas privilegiado em virtude da motivação do delito (§ 1º). No entanto, não é compatível o § 1º com as qualificadoras de natureza subjetiva (motivo do crime). Explico: no homicídio privilegiado, a ideia é mais ou menos a seguinte: o homicida deve ser punido porque não lhe é dado o direito de matar outras pessoas, mas a sua pena deve ser diminuída em razão da menor reprovabilidade de sua conduta. No exemplo do pai que mata o estuprador da filha, é bem provável que o jurado, ao se colocar no lugar do homi- cida, conclua que teria feito igual. Não teria lógica dizer que o homicídio foi privilegiado e, ao mesmo tempo, fútil ou torpe. Por isso, o homicídio privilegiado não é compatível com qualificadoras de ordem subjetiva (ex.: motivo torpe). Por fim, atenção: o homicídio qualificado-privilegiado não é hediondo, pouco importando se consumado ou tentado. Primeiro, por não estar no rol dos crimes hediondos (Lei n. 8.072/90, art. 1º); segundo, porque não seria coerente um crime ser considerado, ao mesmo tempo, privilegiado e hediondo. Homicídio Culposo No homicídio culposo, embora o resultado seja o mesmo do homicídio doloso, o desvalor da conduta é inferior, já que a morte decorre de falta de observância de dever objetivo de cuida- do a todos imposto – por exemplo, manusear arma de fogo sem o devido cuidado. A culpa se manifesta por três meios: (a) pela imprudência, representada por um agir; (b) pela negligência, O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para EDIVANIRA VIDAL MEDEIROS - 83032908272, vedada, por quaisquer meios ea qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 28 de 94www.grancursosonline.com.br Crimes contra a Pessoa - Parte I DIREITO PENAL - PARTE ESPECIAL Leonardo Castro que se dá por omissão, por deixar de agir e; (c) pela imperícia, a culpa profissional, ligada ao exercício de arte, ofício ou profissão. Se o homicídio culposo for praticado na direção de veículo automotor, deve o indivíduo ser punido pelo crime do artigo 302 do Código de Trânsito Brasileiro (Lei n. 9.503/97), em razão do princípio da especialidade. De qualquer forma, tanto em uma hipótese (homicídio culposo do CP) quanto em outra, o crime não será de competência do Tribunal do Júri, que deve julgar apenas os crimes dolosos contra a vida. Perdão Judicial Há alguns dias, em um noticiário, li a respeito de uma mãe que, ao dar ré em seu automóvel na garagem de casa, por acidente, atropelou a filha de três anos, causando a sua morte. Se- gundo a matéria, a mãe sempre tomava cuidado ao sair, pois a criança, vez ou outra, gostava de brincar atrás do veículo. No entanto, no dia da tragédia, por estar atrasada para o trabalho, não se lembrou de olhar atrás do automóvel e acabou matando a criança. Considerando os objetivos de imposição de pena – a punição do agente, por exemplo -, questiono: há alguma função em se aplicar uma pena de detenção, de um a três anos, para essa mãe? É evidente que não. Provavelmente, a punição a ela imposta pelo mal causado é pior do que qualquer sanção penal. A respeito do tema, importante saber: (a) trata-se de causa de extinção da pu- nibilidade. Logo, o delito continua a existir, só não é punível; (b) o perdão judicial independe de aceitação do réu. Causas de Aumento de Homicídio Culposo HIPÓTESES AUMENTO Quando o homicídio culposo resultar de inobservância de regra técnica de profissão, arte ou ofício. Um terço.Quando o homicida foge para evitar prisão em flagrante. Quando o agente deixa de prestar imediato socorro à vítima. Quando o homicida não procura diminuir as consequências do seu ato Quadro sInótIco HOMICÍDIO Crime comum, simples, material, de dano, de forma livre, não transeunte, comissivo ou omissivo (exceção), progressivo, instantâneo com efeitos permanentes, unissubjetivo, plurissubsistente. O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para EDIVANIRA VIDAL MEDEIROS - 83032908272, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 29 de 94www.grancursosonline.com.br Crimes contra a Pessoa - Parte I DIREITO PENAL - PARTE ESPECIAL Leonardo Castro O homicídio simples está previsto no caput do artigo 121 do CP. Punido com pena de reclusão, de seis a vinte anos, em regra, não é hediondo. De acordo com o artigo 1º, I, da Lei n. 8.072/90, são hediondos, simples ou consumado, quando praticado em atividade típica de grupo de extermínio, ainda que cometido por um só agente, e homicídio qualificado, exceto quando qualificado-privilegiado. Embora bem aceita a expressão homicídio privilegiado, o artigo 121, § 1º, do CP trata de causa de diminuição de pena – diminui a pena de um sexto a um terço -, e não de privilégio. O dispositivo é aplicável quando o homicídio decorre de: Motivo de relevante valor social; Motivo de relevante valor moral; Sob o domínio de violenta emoção, logo em seguida a injusta provocação da vítima. É possível o denominado homicídio qualificado-privilegiado ou híbrido, quando a causa de diminuição de pena do § 1º é aplicada em conjunto com qualificadora. No entanto, essa construção somente é admitida quando a qualificadora for de caráter objetivo (meio ou modo de execução). O homicídio culposo é punido com pena de detenção, de um a três anos. Não se trata de crime de menor potencial ofensivo, pois a pena máxima ultrapassa dois anos, mas admite suspensão condicional do processo (Lei n. 9.099/95, arts. 61 e 89). No homicídio culposo, a pena é aumentada de um terço, se o crime resulta de inobservância de regra técnica de profissão, arte ou ofício, ou se o agente deixa de prestar imediato socorro à vítima, não procura diminuir as consequências do seu ato, ou foge para evitar prisão em flagrante. Na hipótese de homicídio culposo, o juiz poderá deixar de aplicar a pena, se as consequências da infração atingirem o próprio agente de forma tão grave que a sanção penal se torne desnecessária. Trata-se de perdão judicial, causa de extinção da punibilidade que independe de aceitação pelo beneficiado (CP, art. 107, IX). NATUREZA DAS QUALIFICADORAS DO HOMICÍDIO NATUREZA OBJETIVA • Emprego de veneno, fogo, explosivo, asfixiam tortura ou outro meio insidioso ou cruel, ou que possa resultar perigo comum; • À traição, de emboscada, ou mediante dissimulação ou outro recurso que dificulte ou torne impossível a defesa do ofendido; • Emprego de arma de fogo de uso restrito ou proibido; • Feminicídio. NATUREZA SUBJETIVA • Mediante paga ou promessa de recompensa, ou por outro motivo torpe; • Por motivo fútil; • Homicídio funcional. O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para EDIVANIRA VIDAL MEDEIROS - 83032908272, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 30 de 94www.grancursosonline.com.br Crimes contra a Pessoa - Parte I DIREITO PENAL - PARTE ESPECIAL Leonardo Castro CAUSAS DE AUMENTO DE PENA DO HOMICÍDIO DOLOSO GERAIS • Aumento de um terço Homicídio praticado contra pessoa menor de quatorze ou maior de sessenta anos. Homicídio praticado por milícia privada, sob o pretexto de prestação de serviço de segurança, ou por grupo de extermínio. APENAS DO FEMINICÍDIO • Aumento de um terço até metade A pena do feminicídio é aumentada de um terço até a metade se o crime for praticado: (a) durante a gestação ou nos 3 (três) meses posteriores ao parto; (b) contra pessoa menor de 14 (catorze) anos, maior de 60 (sessenta) anos, com deficiência ou portadora de doenças degenerativas que acarretem condição limitante ou de vulnerabilidade física ou mental; (c) na presença física ou virtual de descendente ou de ascendente da vítima; (d) em descumprimento das medidas protetivas de urgência. JurIsPrudêncIa e súmulas Homicídio A tenra idade da vítima é fundamento idôneo para a majoração da pena-base do crime de homicídio pela valoração negativa das consequências do crime. (Informativo n. 679/STJ) O dolo eventual não é compatível com as qualificadoras de traição, emboscada dissimu- lação. (Informativo n. 677) A qualificadora do meio cruel é compatível com o dolo eventual. (Informativo n. 665/STJ) Não caracteriza bis in idem o reconhecimento das qualificadoras de motivo torpe e de fe- minicídio no crime de homicídio praticado contra mulher em situação de violência doméstica e familiar. (Informativo n. 625/STJ) Não incide a qualificadora de motivo fútil (art. 121, § 2º, II, do CP), na hipótese de homicídio supostamente praticado por agente que disputava “racha”, quando o veículo por ele conduzi- do – em razão de choque com outro automóvel também participante do racha – tenha atingi- do o veículo da vítima, terceiro estranho à disputa automobilística. (Informativo n. 583/STJ) O reconhecimento da qualificadora da paga ou promessa de recompensa (inciso I do § 2º do art. 121) em relação ao executor do crime de homicídio mercenário não qualifica automa- ticamente o delito em relação ao mandante, nada obstante este possa incidir no referido dis- positivo caso o motivo que o tenha levado a empreitar o óbito alheio seja torpe. (Informativo n. 575/STJ) A morte instantânea,
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