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1 Isopor biodegradável à base de fibra de cana-de-açúcar (Biodegradable styrofoam to sugarcane fiber base) Kate Godoy Oliveira 1,* , Jason Cardozo Pereira 1 , Rafaela Beatriz Miranda de menezes 1 , Rafael Victor Zamboni Ribeiro 1 , Bianca Santos da Conceição 1 e Vinícius Cardoso Soares 1 1 Departamento de Ciências Biológicas, Universidade Federal de São Carlos, Sorocaba, SP, Brasil. Resumo: Neste artigo apresentamos uma descrição dos procedimentos efetuados na produção de um isopor biodegradável confeccionado a partir da fibra da cana-de-açúcar. Aqui também estão presentes os resultados dos testes comparativos entre o isopor ecológico e o isopor comum de polietileno expandindo (EPS). Resultados estes mostraram que, o isopor de fibra de cana tem um tempo de decomposição muito inferior em relação ao isopor comum, entretanto não apresenta a mesma resistência e nem a mesma eficiência no uso em contato com água ou produtos úmidos. Porém, por apresentar consistência idêntica à do isopor comum, poderia ser utilizado na proteção de equipamentos, como em embalagens de eletrônicos e eletrodomésticos. Palavras-chave: Isopor biodegradável, Fibra de cana-de-açúcar, Sustentabilidade. Abstract: In this article we present a description of the procedures performed in the production of a biodegradable Styrofoam made from the fiber of sugarcane. Here they are also present the results of comparative tests between the ecological Styrofoam and Styrofoam common polyethylene expanded (EPS). These results showed that the cane fiber Styrofoam has a much lower decomposition time compared to ordinary Styrofoam, however does not have the same strength and the same or efficient use in contact with water or moist products. However, due to its similar consistency to the common polystyrene, it could be used in equipment protection, as in electronic and appliances packaging. Keywords: Biodegradable Styrofoam, Sugarcane fiber, Sustainability. * E-mail: Kate.godoy.ismart@gmail.com 2 I. INTRODUÇÃO Devido às circunstâncias ambientais em que nosso planeta atualmente se encontra, disserta-se de forma abundante em torno de sustentabilidade, produtos ecologicamente corretos e ideias eficientes para que o progresso humano não acarrete graves problemas ambientais. Ainda assim, não é difícil identificar diariamente verdadeiras agressões contra a natureza, seja com indústrias e veículos despejando toneladas de gases tóxicos em nossa atmosfera, esgotos irregulares poluindo nossas águas e o desmatamento desenfreado acabando com a vegetação. Outro fator que também contribui para esse massacre contra o meio ambiente são as embalagens, como sacolas e potes de plástico e de isopor, pois são materiais que possuem um tempo de decomposição muito elevado e que, se descartados de forma incorreta, podem gerar problemas ambientais seríssimos [1] (LIMA, Eduardo F. 2015), prejudicando a vida de outro seres vivos e tornando a Terra um lugar cada vez mais inóspito. O isopor de poliestireno expandido, ou EPS, é utilizado para diversos fins. Desde embalagens de alimentos, eletrodomésticos até revestimentos de câmaras frigoríficas. Por si só, o isopor não polui nem contamina a terra, o problema é que ele demora centenas de anos para se decompor na natureza. Além disso, nos aterros sanitários, o isopor funciona como um isolante, dificultando a degradação do lixo orgânico e a liberação dos gases resultantes da decomposição [2] (METRAGREEN, 2012). Pensando nesse fato, procuramos desenvolver um substituto para o isopor. Esse substituto (batizado de Eco-por) foi produzido à base de fibra do bagaço da cana-de-açúcar. Sendo ela composta basicamente por celulose e Homicelulose, materiais de curto tempo de decomposição [3] (COELHO, Mateus C. 2013), mesmo se o isopor biodegradável fosse descartado de forma incorreta, não causaria dano algum para o meio ambiente, pois iria se decompor de forma breve e inofensiva, podendo inclusive ser utilizado como adubo em compostagens, já que se trata de um produto natural e descartável. II. MATERIAIS E MÉTODOS A produção do isopor biodegradável se desenvolveu de forma artesanal. Utilizou-se como principal componente a cana-de-açúcar que, após moída, permaneceu exposta ao sol durante 3 dias até ficar completamente seca. Depois de seca, a fibra do bagaço foi separada da casca e processada num liquidificador até virar um pó. Essa fibra moída, em razão de seus componentes, apresenta um pH ácido entre 4,7 e 5,6 [4] (ANDRADE, 1998), como se trata de um componente crucial do isopor biodegradável à ser produzido para fins diversos e inclusive embalagens de alimentos, seria interessante neutralizar o seu pH. Para isso, o pó de fibra proveniente do bagaço foi cozido por 10 minutos em um litro de água que foi tratada com 21 g de bicarbonato de sódio e submetida a teste com um indicador de pH. “Em muitas situações de tratamento, ocorre a necessidade de se alterar o valor do pH das águas, de forma a atender a determinadas exigências. Para a elevação de pH, os compostos mais utilizados são a soda cáustica (hidróxido de sódio), a cal hidratada (hidróxido de cálcio) e a barrilha (carbonato e bicarbonato de sódio).” [5] (PIVELI, 2000) Após fervida, a fibra foi separada da água com o auxílio de uma peneira e 3 depositada num recipiente para que sua temperatura diminuísse. Para a fabricação de uma embalagem, seria necessário que o nosso produto adquirisse uma forma fixa e sólida sem perder sua característica de produto biodegradável e ecologicamente correto. Produzimos então uma cola, adicionando duas colheres de farinha de trigo em 250 ml de água, ferveu-se a mistura por 10 minutos e, após isso, adicionou-se uma colher de vinagre [6] (ZAN, 2010). Como não tínhamos uma proporção determinada para a mistura de fibra moída e cola, executamos um teste em três recipientes diferentes numerados em "1", "2" e "3": o recipiente "1" continha a proporção de duas colheres de cola para uma de bagaço moído, no recipiente "2" havia a proporção de uma colher de cola para duas de bagaço moído, e por fim, o recipiente "3" possuía a proporção de duas colheres de cola para duas colheres de bagaço moído. Logo após, os recipientes foram colocados num local sob a incidência de luz solar até as amostras ficarem totalmente secas. As proporções da amostra que se apresentou (depois de seca) com consistência mais semelhante à de um isopor comum ( no caso a do recipiente " 2 "), foram utilizadas para confecção de uma embalagem, colocando a mistura sobre uma tigela revestida com papel filme (para facilitar a remoção do produto quando seco). A embalagem, depois de pronta, foi submetida a testes de comparação com uma embalagem de isopor comum que possuía as mesmas dimensões de tamanho. Já a própria amostra que serviu como base de proporção cola/fibra, foi enterrada ao lado de uma peça de isopor comum com as mesmas dimensões de tamanho para se comparar o grau de degradação de cada exemplar num período de tempo determinado. III. RESULTADOS E DISCUSSÕES No teste comparativo do tempo de degradação, às 13 horas do dia 27 de maio de 2016, uma amostra de isopor biodegradável à base de bagaço de cana-de- açúcar foi enterrada ao lado da de um isopor comum (ESP). Ambas às amostras tinham aproximadamente 17 cm de diâmetro e 2 cm de espessura e foram enterradas num buraco de 10 cm de profundidade exposto às condições comuns de meio ambiente. 22 dias depois, às 13 horas do dia 18 de junho de 2016, as amostras de isopor comum e isopor biodegradável foram desenterradas enovamente comparadas. No isopor de poliestireno expandido não houve nenhuma alteração de tamanho e nenhum indício de degradação. Já no isopor de fibra de cana-de-açúcar pôde-se notar uma redução considerável em suas dimensões de 17 cm de diâmetro para 14 cm e de 2 cm de espessura para 1,5 cm, como indicam a tabela e as imagens a seguir. Tabela 1: tabela comparativa sobre a decomposição das amostras de isopor. O isopor convencional não apresentou nenhum sinal de degradação, no entanto, o isopor biodegradável teve uma redução considerável em seu tamanho, indicando um processo de decomposição mais acentuado. AMOSTRAS DIMENSÃO INICIAL EM CM (DIÂMETRO X ESPESSURA) DIMENSÃO FINAL EM CM (DIÂMETRO X ESPESSURA) ISOPOR COMUM 17 X 2 17 X 2 ISOPOR BIODEGRADÁVEL 17 X 2 14 X 1,5 4 Imagem 1: Comparação do estado físico do isopor convencional de poliestireno expandido antes (à esquerda) e depois (à direita) de ser enterrado para o teste de degradação. Imagem 2: Comparação do estado físico do isopor biodegradável à base de fibra de cana-de- açúcar antes (à esquerda) e depois (à direita) de ser enterrado para o teste de degradação. Imagem 3: Comparação do estado físico do isopor biodegradável e convencional antes (à esquerda) e depois (à direita) de serem enterrados para o teste de degradação. No teste de solubilidade, como já era esperado, o isopor usual de poliestireno se mostrou insolúvel em água, não apresentando nenhuma deformação após repouso em local úmido e ao entrar em contato direto com a água. Já o nosso isopor ecológico, após algum tempo exposto a um ambiente úmido, apresentou uma consistência mole e maleável, diferente da usual, tornando sua utilização imprópria para qualquer fim. Ao entrar em contato direto com água, o isopor de fibra de cana pôs-se a se dissolver, isso pelo fato de em sua composição estar presente, como estrutura de liga, a farinha de trigo, material solúvel em água [7] (CALLEGARO et al. 2005). IV. CONCLUSÕES O isopor biodegradável à base de fibra de cana-de-açúcar reagiu bem aos testes e se mostrou mais eficiente no quesito tempo de degradação comparado ao isopor convencional de poliestireno. Esse fato é uma vantagem levando em conta o quadro ambiental em que nosso planeta se encontra pelo fato de seu processo de decomposição não afetar de forma negativa o equilíbrio ecológico. Entretanto, nosso produto não se mostrou utilizável em contato com água ou em ambientes úmidos, tendo assim, a sua utilização restringida à locais de pouca umidade ou secos. Por fim, sua textura e consistência semelhante à do isopor usual, lhe permite ser utilizado normalmente em embalagem para produtos secos, sejam eles alimentos, eletrônicos, móveis, eletrodomésticos, entre outros e é claro, com a vantagem de ser um produto natural, biodegradável e de baixo custo. 5 V. AGRADECIMENTOS Somos gratos a todos os colaboradores do projeto que se empenharam dando o melhor de si, e ao Professor Doutor James Alves Souza pela sua iniciativa desse trabalho essencial que nos permitiu ver por completo como se dá a construção de uma pesquisa. REFERÊNCIAS [1]LIMA, Eduardo F. O tempo de decomposição dos materiais mais comuns. Greenme.2015. Disponível em: < https:// www.greenme.com.br/consumir/reutilizaca o-e-reciclagem/2522-o-tempo-de-decompos icao-dos-materiais-mais-comuns >. Acesso em 13, jun. 2016. [2]METAGREEN. O isopor pode ser reciclado? Como jogar fora o Poliestireno Expandido. 2012. Disponível em: < http://www.metagreen.com.br/blog/o-isopor - pode-ser-reciclado-como-jogar-fora-o-poli es tireno-expandido.html >. Acesso em 13, jun. 2016. [3]COELHO, Mateus C. et al. Teores de hemicelulose, celulose, lignina e nitrogênio durante a decomposição de resíduos vegetais de cana-de-açúcar no Cerrado. In. Congresso brasileiro de ciência do solo, 34. Florianópolis. 2013. [4]ANDRADE, A. R. P. Tratamento do caldo. Manual técnico da usina de açúcar Santa Terezinha. Santana do Paraíba, São Paulo, 1998. [5]PIVELI, Roque P. Curso: Qualidade das águas e poluição: Aspectos físicos- químicos, 2000. Disponível em < http://www.leb.usp/disciplinas/Fernand / leb360/Fasciculo%206%20Alcalinidade %20%20Acidez.pdf >. Acesso em 18, jun. 2016 [6] ZAN, Eloá. Cola caseira para papel feita com farinha de trigo, 2010. Disponívelem<http://www.bemtefiz.com .br/sustentabilidade/cola-caseira-para-pa pel-feita-com-farinha-de-trigo/ >.Acesso em 18, jun. 2016. [7] CALLEGARO, Maria da Graça K. et al. Determinação da fibra alimentar insolúvel e solúvel. 2005. Disponível em <www.scielo.br/pdf/cta/v25n2/25023.pd f >. Acesso em 18, jun. 2016.
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