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Antropologia, Ética e Cultura - Introdução

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(https://md.claretiano.edu.br/anteticul-
g00146-dez-2021-grad-ead/)
1. Introdução
Para dar início ao estudo da disciplina Antropologia, Ética e Cultura, é impres-
cindível lembrar a importância deste estudo para todos os cursos de gradua-
ção, em todas as grandes áreas de formação, tais como a Saúde, Educação,
Gestão e Administração, Engenharias etc.
O Ensino Superior é o passo mais complexo na educação formal, possível so-
mente diante da conclusão da Educação Básica, que, no Brasil, abrange desde
a Educação Infantil até o Ensino Médio. Conforme a Base Nacional Comum
Curricular (2018) de�ne:
No novo cenário mundial, reconhecer-se em seu contexto histórico e cultural,
comunicar-se, ser criativo, analítico-crítico, participativo, aberto ao novo, colabora-
tivo, resiliente, produtivo e responsável requer muito mais do que o acúmulo de in-
formações. Requer o desenvolvimento de competências para aprender a aprender,
saber lidar com a informação cada vez mais disponível, atuar com discernimento e
responsabilidade nos contextos das culturas digitais, aplicar conhecimentos para
resolver problemas, ter autonomia para tomar decisões, ser proativo para identi�-
car os dados de uma situação e buscar soluções, conviver e aprender com as dife-
renças e as diversidades.
Assim, guiando-nos pela legislação brasileira e de acordo com os desa�os hu-
manos que são reconhecidos mundialmente, o desenvolvimento do pensa-
mento crítico-re�exivo pode ser considerado o maior objetivo da Educação
Básica, pela qual você passou para chegar até aqui – isso tendo em vista tanto
a sua participação responsável e cidadã quanto a preparação para o mundo do
trabalho.
Bom, mas quais são os objetivos da Educação Superior? E por que ela é chama-
https://md.claretiano.edu.br/anteticul-g00146-dez-2021-grad-ead/
https://md.claretiano.edu.br/anteticul-g00146-dez-2021-grad-ead/
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https://md.claretiano.edu.br/anteticul-g00146-dez-2021-grad-ead/
https://md.claretiano.edu.br/anteticul-g00146-dez-2021-grad-ead/
da de “superior”?
O cenário descrito envolve inovação constante, o que requer ampla quali�ca-
ção – plural e dinâmica, de modo a alcançarmos o nível mais elevado, que é o
da produção do conhecimento. “Produção do conhecimento” refere-se às pes-
quisas cientí�cas, que são realizadas desde a graduação até o pós-doutorado,
mas também diz respeito a produzir soluções para o dia a dia. O pro�ssional
graduado será requisitado pela sociedade a ser aquele que resolve: ou porque
possui conhecimento prévio ou porque sabe onde e a quem consultar para ob-
ter as respostas de que necessita. De maneira simples, podemos considerar
que, depois de formado, você ouvirá, várias vezes, as pessoas dizerem: “Você,
que estudou, dê um jeito nisso!”. Portanto, não é à toa que o aluno é tão cobrado
e estimulado, pois, se o ensino é superior, requer, também, uma dedicação su-
perior!
A universidade, por analogia, abrange um universo de saberes e deve ser o lu-
gar dinâmico em que o conhecimento alcança o seu nível mais elevado em to-
das as áreas. Diferentemente de um curso pro�ssionalizante, o curso universi-
tário – a graduação – deve graduar seu aluno para superar o nível meramente
técnico, desenvolvendo aprendizado detalhado de sua área especí�ca e tam-
bém o conhecimento mais universal.
Comparativamente, assim como seria estranho um pedreiro executar o projeto
de uma casa sem levar em conta que ela será habitada por pessoas, também
não é razoável realizar um curso de graduação sem conhecer o ser humano
sob diversos aspectos – inclusive do ponto de vista da Antropologia. A�nal,
somos seres humanos integrais e precisamos de formação que permita nos
reconhecermos enquanto tais.
Como defende a Missão do Claretiano – Rede de Educação:
Capacitar a  pessoa humana  para o exercício pro�ssional e para o compromisso
com a vida, mediante a sua formação integral; missão essa que se caracteriza pela
investigação da verdade, pelo ensino e pela difusão da cultura, inspirada nos valo-
res éticos e cristãos e no carisma Claretiano que dão pleno signi�cado à vida hu-
mana (PEC, 2012, p. 17).
Ou seja: é desejado que os pro�ssionais de nível superior sejam pessoas ple-
nas, capazes de propagar a plenitude da vida. Isso signi�ca estabelecer-se no
mercado de trabalho e na vida em sociedade, mas mantendo e reforçando o
compromisso humano e solidário.
Vale destacar que o princípio da solidariedade ofereceu a base para a constru-
ção de vários instrumentos legislativos em todo o mundo ao longo da História
Contemporânea – desde as constituições da França, promulgadas após a
Revolução Francesa (1789), a Constituição do México de 1917, a Constituição da
Alemanha de 1919 e a Constituição da Itália de 1948.
Não obstante, a solidariedade entre pessoas de todos os povos se tornou um
dos principais objetivos de todos os seres humanos com a promulgação da
Declaração Universal dos Direitos Humanos, em 10 de dezembro de 1948.
A própria Constituição do Brasil de 1988 explicita este princípio, que orienta,
em seu artigo terceiro:
Art. 3º Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil:
I – construir uma sociedade livre, justa e solidária;
II – garantir o desenvolvimento nacional;
III – erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e re-
gionais;
IV – promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e
quaisquer outras formas de discriminação (BRASIL, 1988).
Portanto, o estudo que realizaremos é de suma importância e se aplica a todos
os contextos possíveis da educação em nível superior.
Posto isso, gostaria de apresentar, de maneira resumida, algumas característi-
cas desta disciplina.
A Antropologia, assim como a Sociologia, é uma área do conhecimento que
surgiu no século 19, como resultado das grandes transformações que abala-
ram a Europa e o mundo desde o início da Idade Moderna. Contudo, enquanto
a Sociologia se preocupava com os rumos da sociedade após a Revolução
Industrial (século 18), a Antropologia preocupava-se em estudar os agrupa-
mentos humanos considerados “primitivos” ou “selvagens”, que estavam cada
vez mais escassos devido aos processos de colonização europeia no continen-
te americano e no continente africano.
Inicialmente, os antropólogos preocuparam-se em legitimar os massacres
ocasionados pelo colonialismo e imperialismo europeu. Analisando os povos
“exóticos”, de acordo com a metodologia oferecida pelo positivismo e pelo evo-
lucionismo, suas concepções eram voltadas para “conhecer, estudar, transfor-
mar, cristianizar e dominar os povos colonizados” (COLAÇO, 2011, p. 20). Ou se-
ja, o principal objetivo era tornar os povos colonizados “mais evoluídos”, de
acordo com as concepções europeias de progresso, deixando para trás aqueles
que não se adaptassem. O intuito era contribuir para a evolução natural da es-
pécie humana. Desse modo, foram realizadas classi�cações de acordo com ca-
racterísticas biológicas/raciais, assim como de seus padrões de comporta-
mento social.
De acordo com Copans (1971, p. 18-20 apud COLAÇO, 2011, p. 21):
Neste contexto, as sociedades “primitivas” são consideradas os antepassados da
sociedade ocidental contemporânea. Há uma classi�cação dos diversos estágios
que obrigatoriamente todas as sociedades passariam, veri�cadas nas formas de
produção (Marx e Engels), nas formas de parentesco (Morgan, Banchofen) e nas
formas de Direito (Sumner Maine).
Nesse sentido, considerando, resumidamente, Henry Lewis Morgan
(1818-1881) defendeu que o desenvolvimento das sociedades acontece em três
níveis ou etapas: selvageria, barbárie e civilização. Já James Frazer
(1854-1941) acreditouque o desenvolvimento das sociedades acontece a partir
das seguintes fases: da magia, da religião e da ciência. E Sir H. Sumner-Maine
(1822-1888) mostrou que as sociedades vão de um estágio arcaico (sem
Direito), passando pelo tribal (surge o Direito) e, saindo da condição nômade
para a sedentária, desenvolve a noção do pertencimento a um território e as
primeiras codi�cações do Direito escrito (COLAÇO, 2011, p. 22).
Contudo, com o passar do tempo, no século 20, os antropólogos tornaram-se
defensores da diversidade cultural, livrando-se do juízo de valores estabeleci-
do dentro do processo de colonização. Assim, foi considerada a noção de etno-
centrismo, que de�ne o comportamento de quem toma a própria etnia e cultu-
ra como superiores às demais. Em contraposição a essa forma etnocêntrica de
ser e agir, temos a compreensão da pluralidade cultural, que consiste no reco-
nhecimento da diferença entre diversas formas culturais, sem estabelecer dis-
tinção hierárquica entre elas, julgamento ou juízo de valor. Trata-se, apenas,
de situar cada qual em seu contexto.
Nesse sentido, Franz Boas (1858-1942) opôs-se ao evolucionismo e valorizou a
cultura desenvolvida e aplicada na vida cotidiana em relação a uma cultura
o�cial e que era considerada superior. Em sua obra A mente do ser humano
primitivo:
Boas desmonta de�nitivamente o conceito de raça e evolução ontogênica como pa-
radigma do pensamento antropológico e estabelece os métodos e os critérios para o
trabalho de campo que até hoje ajudam a guiar os antropólogos. Ele consegue reu-
nir nesta obra os principais temas da Antropologia e traz para a discussão a�rma-
ções como, por exemplo, a não existência de raças humanas totalmente de�nidas,
demonstrando que nenhum grupo humano é biologicamente superior a outro
(PEREIRA, 2011, p. 104).
A partir dos estudos de Bronislaw Malinowski (1884-1942), o trabalho de pes-
quisa de campo torna-se essencial para o antropólogo. Assim, propunha a al-
teridade (colocar-se no lugar do outro) como um elemento basilar para o estu-
do antropológico e para o entendimento da sociedade na qual aquele que pes-
quisa vive. Em seu livro Crime e Costume na Sociedade Selvagem, ele reforça
a necessidade de uma “jurisprudência antropológica” nascida do contato com
os “selvagens”, tratando dos problemas, dos costumes, família, posses, ou seja,
das questões básicas em que se assenta o Direito.
Alfred Radcliffe-Brown (1881-1955), por sua vez, relata que nem todas as socie-
dades se organizam com uma relação passado e presente, ou seja, tomando
uma história linear para pensar a própria existência. Assim, a sociedade do
outro deve ser pensada de acordo com os termos do outro, com observação di-
reta das ações cotidianas, descrição e comparação (COLAÇO, 2011, p. 23-24).
No Brasil, podemos destacar o trabalho de Darcy Ribeiro (1922-1997), elucidan-
do as diversas matrizes culturais que compõem a população brasileira, esta-
belecendo a diversidade como característica que a de�ne de maneira singular.
Sem dúvida, trata-se de um dos maiores intelectuais do País. Em seu estudo
da cultura brasileira, procura estabelecer critérios que identi�quem esse povo.
Nas palavras do prefácio de seu livro O povo brasileiro (1995, p. 16):
Nos faltava, por igual, uma tipologia das formas de exercício do poder e de militân-
cia política, seja conservadora, seja reordenadora ou insurgente. Toda politicologia
copiosíssima de que se dispõe é feita de análises irrelevantes ou de especulações �-
losofantes que nos deixam mais perplexos do que explicados. Efetivamente, falar
de liberais, conservadores, radicais, ou de democracia e liberalismo e até revolução
social e política pode ter sentido de de�nição concreta em outros contextos; no nos-
so não signi�ca nada, tal a ambiguidade com que essas expressões se aplicam aos
agentes mais diferentes e às orientações mais desconexas.
Dito de outro modo, diante da grandiosidade territorial e da diversidade huma-
na que há no Brasil, diversas de�nições que �guram claras na política euro-
peia e mesmo norte-americana não se aplicam da mesma maneira ao nosso
País. Esquerda e direita, progressista, liberal e conservador, entre outros ter-
mos da política, precisam ser repensados de acordo com o contexto brasileiro,
para, então, podermos entender um pouco do que se passa no cenário político
nacional.
O mesmo acontece no que diz respeito à cultura:
Faltava ainda uma teoria da cultura, capaz de dar conta da nossa realidade, em que
o saber erudito é tantas vezes espúrio e o não-saber popular alcança, contrastante-
mente, atitudes críticas, mobilizando consciências para movimentos profundos de
reordenação social. Como estabelecer a forma e o papel da nossa cultura erudita,
feita de transplante, regida pelo modismo europeu, frente à criatividade popular,
que mescla as tradições mais díspares para compreender essa nossa nova versão
do mundo e de nós mesmos? Para dar conta dessa necessidade é que escrevi O
Dilema da América Latina. Ali, proponho novos esquemas das classes sociais, dos
desempenhos políticos, situando-os debaixo da pressão hegemônica norte-
americana em que existimos, sem nos ser, para sermos o que lhes convém a eles
(RIBEIRO, 1995, p. 16).
Desse modo, mesmo no Brasil, a Antropologia debruçou-se sobre a de�nição
de critérios hábeis para permitir entender a produção cultural e as soluções
para o cotidiano – neste caso, muitas vezes, produzidas fora das universida-
des, nos saberes populares e cotidianos dentro do processo histórico. Contudo,
isso não diminui ou invalida a importância do conhecimento cientí�co no
País; apenas o diferencia daquele produzido nas demais nações da Europa e
do mundo.
Tais pensamentos e pensadores da Antropologia animam nossos estudos e
ensejam um tipo de atitude que é essencial ao educador e ao estudante, ao pro-
�ssional e ao cidadão. En�m, permitem rea�rmar, de maneira mais quali�ca-
da e consciente, nossos compromissos como seres humanos.
A partir da Antropologia e dessa atitude solidária, realizaremos um estudo in-
terdisciplinar, que se propõe a ancorar nossos entendimentos na ética, no res-
peito aos outros e a nós mesmos.
Se o conjunto de disciplinas especí�cas de cada curso remete ao fazer alta-
mente quali�cado, nesta disciplina institucional, temos o desa�o do aprimora-
mento do ser: sermos melhores – esse é o resultado almejado. Mais que con-
teúdos programáticos a serem comprovados por meio de instrumentos avalia-
tivos, a proposta é que o aluno se aproprie de tais conhecimentos, seja desa�a-
do pelas atividades e consiga gradativamente compor uma sabedoria de mun-
do útil para a vida.
Assim sendo, desejamos excelentes estudos!
2. Informações da Disciplina
Ementa
A Antropologia, Ética e Cultura, no contexto das disciplinas institucionais,
ofertada nos cursos de graduação do Claretiano – Rede de Educação, tem o
propósito de subsidiar o corpo discente quanto à importância da formação in-
tegral do ser humano na sua relação consigo mesmo, com o outro, com a natu-
reza e com o transcendente. A disciplina propõe a re�exão sobre o ser humano
como ser �nito e, ao mesmo tempo, como ser de liberdade, de consciência e de
amor. Para isso, é discutido o conceito de pessoa, numa perspectiva sincrôni-
ca e diacrônica, entendido nas suas dimensões biológica, psicológica, social e
espiritual. Os temas, tais como imanência, transcendência, alteridade, multi-
culturalidade, ética, moral, cidadania, entre outros, serão apresentados dentro
da área especí�ca vinculada ao curso em que a disciplina está alocada. E se-
rão tratados, também, nessa mesma perspectiva, alguns temas transversais,
como os direitos humanos, as histórias e culturas afrodescendentes e indíge-
nas, as questões de gênero, sexualidade e família, as políticas a�rmativas, in-
clusão e acessibilidade e a educação ambiental numa dimensão ético-
planetária. A proposta, no seu conjunto, está fundamentada no Carisma
Claretiano, no Projeto Educativo e nosPrincípios estabelecidos pela
Instituição, visando uma educação pautada em valores éticos e cristãos, aber-
ta ao diálogo e crítica a toda forma de preconceito e fundamentalismo.
Objetivos Gerais
• De�nir o que é antropologia a partir da conceituação de pessoa, numa vi-
são sincrônica e diacrônica, tendo como referência a cultura ocidental.
• Conhecer o conceito de pessoa no Projeto Educativo Claretiano e as impli-
cações no campo da educação confessional e laical da sociedade contem-
porânea.
• Enfatizar a responsabilidade do corpo discente, como futuro pro�ssional,
para compreender o ser humano como pessoa e contribuir efetivamente
para uma sociedade mais humana e sustentável.
Objetivos Especí�cos
• Identi�car a distinção entre natureza e cultura, visando a compreensão
do ser humano como ser de projeto, e, portanto, distinto dos demais seres
da natureza.
• Conhecer o método de investigação da Antropologia e sua forma de abor-
dar o ser humano.
• Compreender as diversas concepções de dignidade humana no decorrer
da história ocidental e conhecer quais foram os grupos sociais com maior
possibilidade de desfrutá-la.
• Compreender o ser humano com uma visão humanista.
• Conhecer a visão de ser humano do Claretiano – Rede de Educação, con-
forme o seu Projeto Educativo e a Carta de Princípios que orienta a vida
educativa.
• Entender a ética como estudo da moral, mostrando a relação de reciproci-
dade entre elas e suas respectivas distinções.
• Reconhecer os campos de atuação da ética, enfatizando sua importância
nas relações humanas e na vida em sociedade.
• Re�etir sobre a questão dos preconceitos e dos fundamentalismos no atu-
al contexto social e político mundial e brasileiro, entendendo como postu-
ras que se apresentam como contrárias à uma visão ética e cidadã.
 (https://md.claretiano.edu.br/anteticul-
g00146-dez-2021-grad-ead/)
Ciclo 1 – A Dimensão Antropológica do Ser Humano
Sávio Carlos Desan Scopinho
Objetivos
• Entender a distinção entre natureza e cultura, visando à compreensão
do ser humano como ser de projeto e, portanto, distinto dos demais seres
da natureza.
• Conhecer a importância do símbolo como expressão do ser humano, que
procura dar signi�cado às suas ações e se coloca como uma forma de
comunicação que transmite uma determinada compreensão de mundo.
• Estudar a linguagem como característica antropológica e como meio
que atribui signi�cado à existência humana, possibilitando a comunica-
ção verbal e escrita, entre outras formas de expressão.
Conteúdos
• Distinção entre natureza e cultura.
• Ser humano como ser simbólico.
• Linguagem como característica antropológica.
Problematização
O ser humano é um ser cultural? Como podemos considerar o ser humano di-
ante da natureza? Como entender o ser humano enquanto ser simbólico? O
que são símbolos? Qual é o papel da linguagem humana? Quais são as dife-
rentes formas com que a linguagem interfere na vida?
https://md.claretiano.edu.br/anteticul-g00146-dez-2021-grad-ead/
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Orientação para o estudo
O estudo da Antropologia é marcado pela relação entre diversos conteúdos e
áreas do conhecimento, por ser muito abrangente e complexo. Dessa forma,
requer um conhecimento básico dos conceitos que serão apresentados. Para
isso, sugere-se uma busca nos dicionários, principalmente de Filoso�a e, es-
peci�camente, de Antropologia.
Além de englobar e se referir a diversos conteúdos relacionados à cultura,
linguagem, entre outros, o estudo da Antropologia não se refere somente à
compreensão do ser humano numa única ciência, mas abrange várias disci-
plinas que se relacionam, tais como: História, Biologia, Filoso�a, Teologia, en-
tre outras. Dessa forma, esta é uma área interessante para o ensino e para a
aprendizagem, visto que é interdisciplinar, quando não transdisciplinar, en-
volvendo várias áreas do conhecimento.
1. Introdução
Para estudar a disciplina e ter clareza do conteúdo que será apresentado, é im-
portante entender quem é o ser humano. Na história da humanidade, sabe-se
de muitas e variadas tentativas de compreendê-lo, passando por interpreta-
ções religiosas, �losó�cas, cientí�cas, poéticas, entre outras formas de lingua-
gem, que procuraram elaborar uma leitura coerente desse ser racional e que,
por causa disso, se coloca como diferente de todos os demais seres da nature-
za.
Assim, nosso propósito não é apresentar uma re�exão que considere somente
um estudo mais aprofundado dessas dimensões nem as diferentes formas de
compreensão do ser humano. O objetivo é propor uma tentativa de resposta à
seguinte questão: por que o ser humano é um ser que pergunta diante da reali-
dade que o circunda?
2. Distinção entre natureza e cultura
O ponto de partida para uma resposta coerente ao problema levantado é en-
tender o ser humano como ser de cultura. Muitas de�nições a respeito já fo-
ram elaboradas sobre a respectiva temática, mas, sem entrar na especi�cação
de cada uma delas, partimos do fato de que cultura é uma atitude do ser hu-
mano frente ao mundo. De momento, o importante é saber que "cultura" foi um
termo sintetizado por Edward Tylor (1832-1917) e pode ser entendido como:
[...] um extenso e contínuo processo de seleção e �ltragem de conhecimentos e ex-
periências, não somente de um indivíduo, mas sobretudo de um grupo social; no
entanto, cada grupo distingue-se por uma determinada cultura, com características
próprias (GOMES MACHADO, 2002, p. 11).
Tal compreensão de cultura, presente no universo humano, faz com que se
constate uma diferença substancial com relação aos demais seres da nature-
za, por uma especi�cação bem particularizada. O ser humano, além de se
adaptar ao meio, interage com ele, transformando-o segundo suas necessida-
des, que vão além das exigidas pela própria natureza.
O animal tem uma forma de "responder" à natureza, sem necessariamente
transformá-la. Sua ação é interativa e de adequação aos limites do próprio
meio. Numa linguagem oferecida pelas ciências biológicas, o animal entende-
se como um "sistema fechado", ou seja, sua necessidade é de duas instâncias:
sobrevivência e conservação. Por isso, pode-se a�rmar que ele se adapta ao
meio em que está inserido. O ser animal relaciona-se com seu próprio corpo e
com os demais seres da natureza, segundo leis necessárias e universais.
"Dizer que alguma coisa é natural ou por natureza signi�ca dizer que essa coi-
sa existe necessária e universalmente como efeito de uma causa necessária e
universal" (CHAUÍ, 1994, p. 289). O animal age por instinto, sendo possível pre-
ver seu comportamentoou atitude diante das diferentes situações em que se
encontra.
Por sua vez, o ser humano faz parte de um "sistema aberto". Sua relação com o
mundo não é simplesmente de adaptação, mas de transformação do próprio
meio. É possível a�rmar que "[...] o homem é a única criatura que se recusa a
ser o que ela é" (CAMUS apud ALVES, 1990, p. 14). Sua maneira de se relacionar
com a realidade leva em consideração critérios que não se pautam por leis ne-
cessárias e universais, presentes na natureza - ainda que o positivismo consi-
dere essa possibilidade -, mas por leis históricas e sociais. Nesta perspectiva,
parte-se do princípio de que o ser humano não é simplesmente o seu corpo,
mas ele tem um corpo, no sentido de que os objetos que estão a sua volta se
apresentam como extensão do seu próprio corpo. "Porque o homem, diferente-
mente do animal que é o seu corpo, tem o seu corpo" (ALVES, 1990, p. 16).
O �lósofo E. Cassirer ajuda-nos a entender essa abordagem, quando a�rma que
o ser humano tem uma diferença que não é simplesmente quantitativa, mas,
principalmente, qualitativa, quando comparado com os demais seres da natu-
reza. E isso se deve ao fato de que os seres humanos são capazes de atribuir
sentido às suas ações. Desse modo, a�rma o �lósofo:
É evidente que este mundo não constitui exceção às regras biológicas que gover-
nam a vida de todos os outros organismos. Entretanto, no mundo humano encon-
tramos uma nova característica, que parece ser a marca distintiva da vida humana.
O círculo funcional do homem não foi apenas quantitativamente aumentado; so-
freu também uma mudança qualitativa. O homem, por assim dizer, descobriu um
novo método de adaptar-se ao meio. Entre o sistema receptor e o sistema de reação,
que se encontram em todas as espécies animais, encontramos no homem um ter-
ceiro elo, que podemos descrever como o sistema simbólico. Esta nova aquisição
transforma toda a vida humana. Em confronto com os outros animais, o homem
não vive apenas numa realidade mais vasta; vive, por assim dizer, numa nova di-
mensão da realidade (CASSIRER, 1977, p. 49).
Segundo Cassirer (1977), o sistema simbólico apresenta-se como diferenciador
das relações entre os seres humanos e os demais seres da natureza. Essa situ-
ação faz com que se a�rme que o ser humano é o único ser capaz de perguntar.
Assim, essa capacidade de perguntar é uma característica inerente ao ser hu-
mano.
Na medida em que o ser humano tem consciência do mundo à sua volta, as
perguntas aparecem como consequência inevitável. Na tradição ocidental, as
questões foram surgindo à medida que o ser humano se encontrava em conta-
to com a natureza, consigo mesmo e com o próprio mundo. Desde os pré-
socráticos da civilização grega antiga até os dias atuais, para citar um exem-
plo a partir da civilização ocidental, o ser humano vem se perguntando sobre
grandes questões que desa�am a humanidade: Quem sou? De onde vim? Para
onde vou? As respostas nem sempre foram satisfatórias, mas as tentativas
apareceram e remeteram a outras questões. Gerou-se, assim, um processo dia-
lético e contínuo que simplesmente con�rma a ideia de que, enquanto ser de
cultura, o ser humano é um ser que pergunta.
Na origem, na raiz do perguntar, encontramos, portanto, a ruptura, a cisão e a con-
tradição. Não sei, preciso saber e porque sei que não sei, pergunto, na expectativa
de que a resposta possa trazer-me o conhecimento que não tenho e preciso ter
(CORBISIER apud COTRIM, s.d. p. 24).
Perguntar pelo sentido da vida, pela origem das coisas e pelo futuro que nos
aguarda se apresentam como questões que fazem parte do universo cultural
do ser humano. Mas o que faz com que o ser humano pergunte? Para respon-
der a essa pergunta - o perguntar pelo perguntar -, temos de entender duas
condições importantes, sem as quais não é possível colocar essa questão. A
primeira é entender o que signi�ca caracterizar o ser humano como um ser
simbólico e a segunda signi�ca entender o ser humano como um ser de lin-
guagem. Essas duas condições possibilitarão o estudo do ser humano como
pessoa, numa perspectiva diacrônica e sincrônica, inclusive sustentando o fa-
to de que é o único ser na natureza capaz de ter consciência de sua condição
ética e moral nas relações pessoais e sociais.
 Consulte outros autores e saiba mais sobre natureza e cultura!
Indicamos a leitura da obra de Marilena Chauí, Cultura e democracia
(http://www.cultura.ba.gov.br/arquivos/File/oqeculturavol_1_chaui.pdf)
e também do artigo Os desa�os da Filoso�a no Ensino Médio (https://pe-
riodicos.ufrn.br/saberes/article/view/12224) de Eliane Maria Rozin.
3. O ser humano como ser simbólico
Segundo Cassirer (1977, p. 49): "Em confronto com os outros animais, o ho-
http://www.cultura.ba.gov.br/arquivos/File/oqeculturavol_1_chaui.pdf
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https://periodicos.ufrn.br/saberes/article/view/12224
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mem não vive apenas numa realidade mais vasta; vive, por assim dizer, numa
nova dimensão da realidade". Assim, �ca a pergunta: o que signi�ca dizer que
o ser humano é um ser simbólico? E para respondê-la, é necessário fazer ou-
tra: a�nal, o que é um símbolo? Na busca de compreender-se no mundo, o ser
humano - não se assumindo como inerente ao próprio mundo, mas como algo
que o transcende - cria realidades que vão além dos elementos encontrados
na natureza. Não ocorre propriamente um desvirtuamento da natureza, mas
uma atribuição de signi�cados que vão além do que se encontra na mesma
natureza.
Para Riffard (1993, p. 331), a palavra "símbolo" (do grego symbolon) foi inicialmente
utilizada entre os gregos para se referir às metades de uma tabuinha que hospedei-
ro e hóspede guardavam, cada um a sua metade, transmitidas depois aos seus des-
cendentes. As duas partes juntas (sumballô) funcionavam para reconhecer os por-
tadores e para provar as relações de hospitalidade ou de aliança adquiridas no pas-
sado (RIBEIRO, 2010, p. 46).
Dessa maneira, conforme Ribeiro destaca a partir da análise semiótica, o sím-
bolo representa algo abstrato, tal qual um compromisso. Para tanto, ele pode
ser algo concreto, cujo valor não é o material de que é constituído, mas aquilo
que ele simboliza.
Por exemplo, os anéis trocados num casamento são símbolos do compromisso
assumido pelo casal, ganhando o nome de alianças.
O sentido da palavra "símbolo" desenvolveu-se bastante, chegando a envolver, por
exemplo, oráculos, presságios, fenômenos extraordinários considerados provindos
dos deuses, emblemas de corporações, crachás e vários tipos de sinais de compro-
misso, como o anel de casamento ou o anel depositado pelos participantes de um
banquete, garantindo que pagarão corretamente por ele. De fato, poucas palavras
adquiriram tão vasta signi�cação como a palavra "símbolo" (RIBEIRO, 2010, p. 47).
O símbolo podesurgir, muitas vezes, de uma necessidade natural ou como re-
sultado de uma convenção social. Mas sempre se trata de uma relação entre
seres humanos, cujo objetivo é estabelecer uma forma de comunicação, a par-
tir de uma linguagem especí�ca dos próprios seres humanos. Assim, o símbo-
lo, para ser compreendido, necessita sempre de um emissor e de um receptor
que estejam em um ambiente cultural propício para que a mensagem seja
compreendida e assimilada por todos os envolvidos. O emissor e o receptor
podem ser uma pessoa ou um povo, que se presume serem sempre capazes de
entender o conteúdo da mensagem que se quer transmitir.
Para o que se propõe neste estudo, basta entendermos que o símbolo se apre-
senta como o primeiro aspecto que possibilita a aquisição da linguagem, em-
bora ele também possa ser entendido como uma forma de linguagem, como se
verá a seguir.
Vamos apresentar um exemplo expressivo para entender o signi�cado da pa-
lavra "símbolo". Quem vai nos ajudar nesta tarefa é a obra O pequeno príncipe.
No capítulo 21 do livro, escrito por Antoine de Saint-Exupéry (1943, p. 55-56), o
pequeno príncipe encontra-se com uma raposa, que lhe faz uma proposta:
deixar-se cativar. Depois de toda uma conversa entre eles, e com a possibilida-
de de não mais se encontrarem, o pequeno príncipe entende que foi ruim te-
rem se cativado, porque permanecerá a saudade de um momento que não vol-
tará novamente. A raposa, por sua vez, apresenta outra visão, dizendo que é
importante que ocorra o envolvimento, mesmo que a separação seja inevitá-
vel, porque o momento que viveram juntos tem sua importância por si só. E é
neste momento que surge a questão simbólica como expressão de uma pre-
sença da ausência. Vamos ver o diálogo que ocorreu entre eles:
Assim o principezinho cativou a raposa. Mas, quando chegou a hora da parti-
da, a raposa disse:
"O essencial é invisível para os olhos", pois o trigo, que não signi�cava nada
para a raposa, tornou-se uma presença da ausência. Por quê? Pelo fato de que
a raposa não come trigo, os cabelos loiros do pequeno príncipe lembram uma
plantação de trigo; logo, aquilo que até então não representava nada para a ra-
posa se tornou uma presença da ausência. Tornou-se um símbolo.
Portanto, o símbolo é o primeiro passo para a realização da linguagem e se ex-
pressa como uma dimensão especi�camente antropológica - inclusive, até
mesmo, como uma forma de linguagem. Assim, como condição para a lingua-
gem, vamos dar o passo seguinte e compreender a importância da linguagem
como um elemento fundamental da cultura.
 Para saber mais!
Sobre o caráter simbólico que envolve o ser humano, indicamos as se-
guintes leituras Elizabeth Johansen e Leonel Brizola Monastirsky intitu-
lada As formas simbólicas de Ernst Cassirer e o conceito de patrimônio
cultural (https://pem.assis.unesp.br/index.php/pem/article/vi-
ew/688#:~:text=Assim%2C%20ao%20utilizar%20Ernst%20Cassirer,com-
preensivo%2C%20do%20que%20apenas%20descritivo)  e Para uma �loso-
�a do símbolo (https://www.uc.pt/�uc/dfci/public_/publicacoes/pa-
ra_uma_�loso�a_do_simbolo) de Miguel Baptista Pereira.
Recomendamos ainda que assista ao vídeo a seguir:
4. Linguagem como característica antropológi-
ca
Diante da capacidade de transformar a natureza e criar símbolos para sua
compreensão da realidade, o mundo humano apresenta-se na forma de lin-
guagem, que possibilita a comunicação. A linguagem se expressa como parte
da cultura, que se origina, por sua vez, por meio dos símbolos, entendidos,
também, como forma de linguagem humana. Esta, por sua vez, pode ser tradu-
zida nas suas mais diversas expressões, como a linguagem mítica, artística,
religiosa, cientí�ca, entre outras, podendo ser compreendidas numa perspecti-
va conceitual (lógica) e emocional (imaginação poética). Tudo isso porque o
ser humano se apresenta como ser de desejo, sempre se colocando como al-
guém que ultrapassa os elementos da natureza.
https://pem.assis.unesp.br/index.php/pem/article/view/688#:~:text=Assim%2C%20ao%20utilizar%20Ernst%20Cassirer,compreensivo%2C%20do%20que%20apenas%20descritivo
https://pem.assis.unesp.br/index.php/pem/article/view/688#:~:text=Assim%2C%20ao%20utilizar%20Ernst%20Cassirer,compreensivo%2C%20do%20que%20apenas%20descritivo
https://pem.assis.unesp.br/index.php/pem/article/view/688#:~:text=Assim%2C%20ao%20utilizar%20Ernst%20Cassirer,compreensivo%2C%20do%20que%20apenas%20descritivo
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https://pem.assis.unesp.br/index.php/pem/article/view/688#:~:text=Assim%2C%20ao%20utilizar%20Ernst%20Cassirer,compreensivo%2C%20do%20que%20apenas%20descritivo
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https://pem.assis.unesp.br/index.php/pem/article/view/688#:~:text=Assim%2C%20ao%20utilizar%20Ernst%20Cassirer,compreensivo%2C%20do%20que%20apenas%20descritivo
https://pem.assis.unesp.br/index.php/pem/article/view/688#:~:text=Assim%2C%20ao%20utilizar%20Ernst%20Cassirer,compreensivo%2C%20do%20que%20apenas%20descritivo
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https://www.uc.pt/fluc/dfci/public_/publicacoes/para_uma_filosofia_do_simbolo
https://www.uc.pt/fluc/dfci/public_/publicacoes/para_uma_filosofia_do_simbolo
https://www.uc.pt/fluc/dfci/public_/publicacoes/para_uma_filosofia_do_simbolo
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Assim, na sua dimensão cultural, o ser humano cria símbolos (presença da
ausência), que se traduzem em signos (palavras) e sinais (convenção), que se
tornam expressões da linguagem humana e condição para sua atuação con-
creta no mundo. A linguagem, por sua vez, tem como característica um códi-
go. E por apresentar um código, que expressa uma condição antropológica, ela
se torna a primeira instituição com que nos deparamos já no nosso nascimen-
to. Querendo ou não, somos envolvidos por ela; e, através dela, é que se tem
uma visão do mundo, embora não de maneira determinista. Sua in�uência é
tão signi�cativa que pode ser percebida através de cinco características bási-
cas: a objetividade, a exterioridade, a coercitividade, a autoridade moral e a
historicidade. Isso quer dizer que nosso comportamento está condicionado
por um contexto social e cultural que nos impõe padrões de comportamentos
que interferem na nossa relação com os outros e com a própria sociedade
(BERGER; BERGERapud FORACCHI; MARTINS, 1984, p. 193-199).
No caso da comunicação humana, esse código é a palavra, que pode ser tradu-
zida por meio da linguagem verbal ou não verbal.
Tratando de maneira bem simples, podemos dizer que a linguagem verbal é
aquela escrita ou falada. Já a linguagem não verbal estabelece comunicação
sem o verbo, ou seja, utilizando outros meios, tais como a obra de arte (a dança
e a música instrumental, por exemplo), imagens etc.
Para compreender melhor a questão da linguagem, vamos entender o que nos
diz Rubem Alves (1979, p. 21-39; 1984, p. 7-35). A primeira ideia colocada por
ele é entender a linguagem como rede de palavras que expressa as esferas do
desejo, que, por sua vez, se manifesta no amor ou no medo. Assim, ela expres-
sa três níveis de compreensão: uma forma de poder, apresenta uma determi-
nada cosmovisão e implica numa escala de valores. Vejamos o que signi�ca
cada um deles.
A linguagem como poder expressa o avanço e o diferencial do ser humano em
relação aos demais seres da natureza. Segundo Marshall McLuhan, "[...] a pa-
lavra falada foi a primeira tecnologia por meio da qual o homem se separou do
seu ambiente a �m de se apropriar dele sob uma forma diferente". Por sua vez,
Henri Lefebvre a�rmava que "[...] para o homem social o universo só existe por
meio da sociedade e, consequentemente, por meio da língua". E Ludwig
Feuerbach dizia que "[...] falar é um ato de liberdade; a palavra é liberdade. É
correto, portanto, que a linguagem seja considerada a raiz da cultura" (ALVES,
1979, p. 21).
O fato é que a linguagem surgiu devido a necessidades concretas, como a luta
pela sobrevivência, a necessidade de preservação e a socialização das experi-
ências bem-sucedidas. E, assim, ela tornou-se uma forma de poder.
A linguagem também expressa uma determinada cosmovisão, uma visão de
mundo. Como nos diz Ludwig Wittgenstein, "[...] os limites da minha lingua-
gem denotam os limites do meu mundo" (ALVES, 1979, p. 28), pois ela pode ser
entendida como um "[...] conjunto de sinais fonéticos e/ou grá�cos convencio-
nais, criados pela sociedade a �m de representar para o homem as coisas e su-
as relações, e assim tornar possível a comunicação, necessária à conjugação
da ação" (ALVES, 1984, p. 17). Assim, a linguagem apresenta-se como uma for-
ma de organização do real, fazendo com que nós tenhamos de compreender e
interpretar o mundo das palavras, que começa com a percepção, que, por sua
vez, se inicia com as sensações.
O ato de conhecer é, portanto, um ato de re-conhecer: a constatação da concor-
dância entre dados sensórios novos e as formas memorizadas. A cosmovisão,
o tempo e o espaço humano não poderiam existir sem a linguagem, pois ela se
coloca como uma importante ferramenta criada pelo ser humano, no seu es-
forço para construir um mundo, e que, depois de criada, se transforma de fer-
ramenta em sistema.
Outro aspecto importante da linguagem é a capacidade de expressar um va-
lor. Conhecemos o que nos é alcançado pelo corpo. Para Rubem Alves:
Não é correto separar o conhecimento objetivo das emoções e dos valores. [...] O
verdadeiro conhecimento objetivo brota de uma atitude valorativa e emotiva, e pre-
tende ser uma ferramenta para que o homem integre e�cazmente o referido objeto
no seu projeto de dominar o mundo (ALVES, 1984, p. 26).
Assim, "a vida é relação e, por sua vez, o valor é relação".
O ser humano vê o mundo por meio de uma atitude valorativa, buscando sig-
ni�cado e, assim, dando nomes às coisas. E, na medida em que dá um nome,
cria a palavra, que, por sua vez, expressa um valor. Os valores é que criam a
necessidade e a possibilidade da razão. "É a linguagem comum, como estrutu-
ra de valores, que se constitui na base que poderíamos chamar de comunida-
de" (ALVES, 1984, p. 30).
A partir desses três níveis, podemos dizer que a linguagem, ainda segundo
Rubem Alves, apresenta duas dimensões. Trata-se de uma forma de estrutura-
ção do mundo e, como tal, programa a nossa maneira de organizar os dados
da experiência.
Na feliz sugestão de Michael Polanyi, a linguagem é um mapeamento da realidade
que nos permite apreende-la como um todo estruturado. Nesta função é ela a fonte
das categorias fundamentais do pensamento (ALVES, 1979, p. 37).
Ela é também "expressiva de valores e intenções, revelando-nos um sujeito
oculto, individual ou coletivo, por detrás do discurso, fazendo com que o ser
humano, ainda que não o deseje, se dá a conhecer" [...] E, "[...] �nalmente, a lin-
guagem é uma ferramenta para domínio e controle da realidade" (ALVES, 1979,
p. 37).
Outro aspecto importante é considerar que a linguagem pode ser expressa de
diferentes maneiras (e cada uma delas apresenta uma determinada visão de
mundo, uma forma de poder e um valor). Por exemplo, existe a linguagem reli-
giosa, a linguagem cientí�ca, a linguagem poética, a linguagem política, entre
outras. A di�culdade que se coloca é como reconhecer a autonomia de cada
uma delas sem perder a necessidade do diálogo e o reconhecimento do que
podemos chamar de "autonomia relativa", ou seja, a consciência de que a ver-
dade é uma busca que não se encontra numa única forma de interpretação.
Um tema que tem sido relevante tanto para a linguagem �losó�ca quanto para
a linguagem teológica é a autonomia nas relações humanas, que se manifesta
do ponto de vista natural, social e cultural. Autonomia está vinculada a duas
temáticas de fundo, que são, respectivamente, a liberdade e o condicionamen-
to. Normalmente, nós somos condicionados nas várias situações em que nos
encontramos. Fisicamente, somos chamados a reconhecer nossas limitações
dentro das possibilidades que temos; o fato é que não podemos fazer tudo
aquilo que queremos e de que gostamos. Por outro lado, existe, também, o con-
dicionamento institucional. Somos envolvidos por normas e procedimentos
que limitam nossa capacidade de ação e decisão.
O problema que se coloca é quando os condicionamentos, tanto naturais como
institucionais, impedem a realização de nossas ações dentro do universo tam-
bém natural e cultural. O respeito pela autonomia implica no respeito pela di-
versidade, considerando-se os condicionamentos, mas não se deixando domi-
nar por eles. Nesse sentido, cabe uma re�exão de Hugo Assmann, que, embora
num contexto diferente, nos ajuda a pensar nessa questão:
A criação intelectual requer, sem dúvida, uma boa dose de disciplina e rigor. Isto
implica na adaptação a um mínimo de normas, cuja função é de meio, veículo e
instrumento. O empenho criativo deve encará-los como ajuda à versatilidade.
Ajustar-se a meios e instrumentos pode incrementar a �exibilidade. Só quando não
existe a �echa do desejo, que aponta para além do normativo e energiza o empe-
nho, as regras inevitáveis se transformam em camisa de força domesticadora da li-
berdade de criar. Por exemplo, o mínimo de orientações, a serem seguidas para dar
forma correta e agradável ao texto, não deve ser visto como coerção limitante, mas
como procedimentos para tornar o ato de redigir mais fácil e prazeroso (apud BELO
DE AZEVEDO, 1994. p. 7).
Também nesta discussão sobre a autonomia, faz parte a temática da autoa�r-
mação e da alteridade - sempre dentro de relações bipolares -, que expressam
a diversidade presente na realidade em suas várias formas de manifestação. A
manutenção dos valores e das ações que preservam uma tradição própria, pre-
servando a identidade e a originalidade de uma cultura, devem ser uma preo-
cupação sempre pertinente e necessária. Mas tal comportamento não pode
menosprezar, ou até mesmo eliminar, posições que vão fazer frente às nossas
posições, muitas vezes, já consolidadas.
Para uma melhor compreensão da presente re�exão, recomendamos a leitura da parábola
das rãs, presente na obra O que é religião, de Rubem Alves (1981, p. 119-120).
O reconhecimento da alteridade - do diferente, do plural e do respectivo res-
peito pelo outro -, envolvendo os seres humanos entre si e com a natureza, é
condição fundamental para a teorizaçãoe ação, principalmente da ciência e
da religião no mundo atual, tendo presente a questão ecológica. Toda tentativa
unilateral, ainda que expressiva e de grandes proporções, por ótima e positiva
que seja, termina por destruir, de alguma forma, a relação básica entre o ser
humano e seu ambiente, tanto biológico quanto social.
 Amplie seus conhecimentos!
A abordagem sobre a linguagem requer uma atenção especí�ca para os
diversos fatores envolvidos, pois trata-se de uma prática presente em to-
dos os aspectos de nossa vida. Assim, é importante aprofundar os estu-
dos, considerando a referência de Aldair C. Peruzzolo, intitulada
Dimensão humana da comunicação (https://periodicos.ufsm.br/sociai-
sehumanas/article/view/1391).
Para que não remanesçam dúvidas sobre os conteúdos estudos até o momen-
to, é fundamental que você teste seus conhecimentos, respondendo às ques-
tões a seguir.
Assim terminamos este primeiro ciclo, cuja preocupação fundamental foi com
a compreensão do ser humano na sua dimensão social e cultural. Tal aborda-
gem, por sua vez, conduziu para uma re�exão sobre o símbolo e sobre a lin-
guagem e suas diferentes formas de expressão. Agora, vamos entrar em outro
ciclo, que, como complementação do que se estudou até aqui, fará um aprofun-
damento da compreensão do ser humano, a partir de um enfoque ainda mais
particularizado.
5. Considerações
Ao fazermos a distinção entre natureza e cultura, apresentando a dimensão
simbólica e a linguagem como características especi�camente antropológi-
https://periodicos.ufsm.br/sociaisehumanas/article/view/1391
https://periodicos.ufsm.br/sociaisehumanas/article/view/1391
https://periodicos.ufsm.br/sociaisehumanas/article/view/1391
https://periodicos.ufsm.br/sociaisehumanas/article/view/1391
https://periodicos.ufsm.br/sociaisehumanas/article/view/1391
https://periodicos.ufsm.br/sociaisehumanas/article/view/1391
https://periodicos.ufsm.br/sociaisehumanas/article/view/1391
https://periodicos.ufsm.br/sociaisehumanas/article/view/1391
https://periodicos.ufsm.br/sociaisehumanas/article/view/1391
cas, devemos ter em mente, também, a noção de diversidade cultural, ou seja,
o fato de que, diante da multiplicidade de povos e culturas, cada uma deve ser
respeitada.
Observe que não se trata de propor simplesmente uma tolerância, mas de
compreender que existe uma multiplicidade de comportamentos e de relações
culturais. Tolerar, muitas vezes, signi�ca suportar aquilo de que não se gosta.
Nossa discussão sobre cultura visa promover a compreensão de que o ser hu-
mano é um ser que tem um valor em si mesmo. Ele carrega uma dignidade
própria e peculiar, independentemente da cultura à qual pertença.
Nossa comunidade educativa deve, portanto, ter uma concepção ampla de cul-
tura e aberta para acolher a pluralidade ou a multiplicidade cultural do Brasil
e do mundo.
Vale salientar que, em nosso cotidiano, já vislumbramos exemplos signi�cati-
vos de promoção da vida e da cultura humana, com as interações entre profes-
sores, alunos e funcionários de vários estados do Brasil, como é o caso de
Rondônia, Goiás, Minas Gerais, Paraná e Distrito Federal; além das parcerias e
contatos com comunidades educativas claretianas da Argentina, do Chile e da
Colômbia: povos com culturas diferentes, porém unidos para a promoção da
educação de pessoas mais livres, fraternas e humanas.
O princípio educativo do diálogo é o caminho que possibilita uma compreen-
são ampla e abrangente de cultura. No próximo ciclo, vamos re�etir sobre o
homem como ser livre.
 (https://md.claretiano.edu.br/anteticul-
g00146-dez-2021-grad-ead/)
Ciclo 2 – O Conceito de Pessoa 
Everton Luis Sanches
Objetivos
• Conhecer os pensadores que iniciaram o estudo antropológico e suas
principais preocupações.
• Identi�car o método de investigação da Antropologia e sua forma de
abordar o ser humano.
• Compreender as diversas concepções de dignidade humana no decorrer
da história ocidental e conhecer quais foram os grupos sociais com mai-
or possibilidade de desfrutá-la.
Conteúdos
• Perspectiva diacrônica: a pessoa na história ocidental.
• Perspectiva sincrônica: entre a humanização e a rei�cação.
Problematização
O que signi�ca ser humano (ser um homem ou uma mulher)? É possível de�-
nir o ser humano? Além dos aspectos físicos, o que permite identi�car um
ser humano? Quais comportamentos, ideias e valores você considera huma-
nos e de�nem a sua existência? O que motiva a sua existência enquanto ser
humano? O que motiva você a viver?
Orientação para o estudo
As análises propostas, por tratarem do fenômeno humano, dizem respeito a
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todos nós. Assim, é importante aproveitar a oportunidade para desenvolver o
autoconhecimento enquanto se toma contato com múltiplas percepções de
mundo e formas de organizar a vida coletiva.
Mantenha a sua atenção durante a leitura, pois algumas coisas podem não
fazer sentido no início, mas, com a continuidade do estudo, as coisas tendem
a �car mais fáceis. E, se a di�culdade continuar, lembre-se de consultar o di-
cionário (diagramação: é possível linkar com o da SAV?) para ajudar no en-
tendimento de algumas expressões ou conceitos com os quais você ainda
não tenha familiaridade. Persistir é o caminho.
1. Introdução
Falar sobre o ser humano não é nada fácil, especialmente se �zermos uma
abordagem que atravesse um longo período de tempo e diferentes modelos de
civilização. As diversas formas de viver ensejam diferentes percepções e vári-
os usos linguísticos para tratar do mesmo tema. Sendo assim, mesmo a análi-
se mais simples e didática abrangerá muita complexidade.
Diante dessa complexidade, qualquer área da ciência que se aventurar em tal
percurso não poderá fazê-lo sozinha, mas precisará se apoiar também em ou-
tras áreas do conhecimento para elaborar uma análise competente da capaci-
dade humana de ser e existir em diferentes contextos, de amar, odiar e se ar-
mar; de querer, conquistar, perder ou abandonar; de manter padrões de com-
portamento, transformar e revolucionar o funcionamento da vida. En�m, nun-
ca teremos uma compreensão completa de nós mesmos, justamente por ser-
mos tão plurais e dinâmicos. Assim, vamos implementar esse caminho
tomando-o como um recorte possível e responsável, que lançará luz a alguns
aspectos fundamentais do fenômeno humano entre inúmeros outros que per-
manecem a serem desbravados.
Trata-se, portanto, de um estudo interdisciplinar, realizado a partir da
Antropologia; sintético, porém profundo.Desse modo, áreas como a História, a
Filoso�a, a Sociologia e o Direito poderão auxiliar o nosso percurso.
E sobretudo, todo o estudante deve ter em mente, em qualquer área do conhe-
cimento, que não há conhecimentos social, cultural, político, econômico, geo-
grá�co, histórico, biológico ou quaisquer que sejam, que não sejam em seu
mais alto nível de compreensão um conhecimento de si. Dito isso, todo estudo,
quando bem realizado, torna-se transformador para quem o realiza.
Nesse sentido, esperamos que, ao realizar esse estudo seja ampliada a sua
compreensão de si a partir da análise dos mais diferentes "outros" contextos
humanos localizados no espaço e tempo.
2. Perspectiva diacrônica: a pessoa na história
ocidental
O que signi�ca ser humano (ser um homem ou uma mulher)? É possível de�-
nir o ser humano? Além dos aspectos físicos, o que permite identi�car um ser
humano? Quais comportamentos, ideias e valores você considera humanos e
de�nem a sua existência?
Tais perguntas não são fáceis de se responder. Por isso, é fundamental de�nir
claramente o contexto para que se ofereça respostas, precipitando-nos a uma
perspectiva histórica de análise do fenômeno humano, da existência humana.
O existir se mostra, em sua constituição, como �uxo signi�cativo de eventos - é a
condição humana histórica - do mesmo modo a re�exão é um processo de reapro-
priação e de reavaliação interpretativa contínuas abrindo sempre novas possibili-
dades de compreensão. Como enigma prático o existir vai, em sua dinâmica pró-
pria, revelando-se sob novos aspectos, buscando para si sempre novas conforma-
ções. A historicidade é, assim, constitutiva tanto do existir quanto da elucidação in-
terpretativa desse existir (VON ZUBEN, 2016, p. 14).
Uma vez que "humano" e "humanidade" têm sua signi�cação de�nida por es-
tudos e experiências imersos em seus períodos históricos, podemos conside-
rar que, ao longo da história ocidental, foram estabelecidas distinções sobre o
que é ou não humano, sobre o que deve ser valorizado e aquilo que deve ser re-
preendido nos comportamentos.
Assim, temos um percurso de busca, no qual o pressuposto era a mudança de
acordo com padrões mais elevados de humanidade. A vida moderna é, segura-
mente, um produto disso:
O mundo europeu estava em expansão, graças às novas tecnologias de navegação e
ao espírito empreendedor ou aventureiro dos conquistadores espanhóis e portugue-
ses. Uma �loso�a natural, baseada na observação empírica do mundo e no uso do
raciocínio matemático para interpretá-la, estava substituindo as tradições religio-
sas e especulativas, que tinham base na leitura ritual de velhos livros e na autori-
dade estabelecida dos padres. A crença geral era de que essas mudanças eram para
o bem, e eram descritas em termos de "progresso" e "evolução". Mais tarde, econo-
mistas começaram a falar de "desenvolvimento econômico". Muito mais recente-
mente, cientistas sociais adotaram o termo "modernização" (SCHWARTZMAN,
2004, p. 12).
Procurou-se desenvolver um modo de vida, um modelo de civilização e pa-
drões culturais mais racionais, que pudessem tornar a humanidade mais ele-
vada, superando velhas crendices, num processo de modernização constante.
Era preciso cultivar o que fosse no sentido do "progresso" almejado para que
toda a sociedade "evoluísse".
Todavia, do ponto de vista da convivência, é importante considerar a elabora-
ção de entendimentos discriminatórios, subdividindo a humanidade em cate-
gorias, variando de acordo com o grau de adaptação ao sistema dominante.
A situação de interesses político-comerciais e político-sociais costuma então deter-
minar a "visão de mundo". Aquele que em sua conduta de vida não se adapta às
condições do sucesso capitalista, ou afunda ou não sobe (WEBER, 2004, p. 64).
Essa imposição de adaptação às premissas de entendimento do mundo mo-
derno no âmbito político e econômico acabou resultando em diversos con�i-
tos humanos, além de muitos desa�os preexistentes que também permanece-
ram (Quadro 1).
Quadro 1 Os custos dos con�itos em vidas humanas crescem constantemente.
*Nota: os valores da população mundial são estimativas referentes ao meio do século.
Fonte: adaptado de ONU – PNUD (2005).
Considerando as informações do Quadro 1, divulgado pelo Programa das
Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD-ONU) em 2005, podemos cons-
tatar que a estimativa da população mundial morta em con�itos subiu de me-
nos de meio por cento (0,32%) no século 16 para mais de quatro por cento
(4,35%) no século 20. Ou seja: o número de mortes em con�itos aumentou mais
de 13 vezes.
Nesse ínterim, a era moderna teve como resultantes alguns paradoxos: as pes-
soas vivem mais, porém também morrem mais em con�itos; a tecnologia per-
mite maior conforto e plenitude, mas também é e�ciente na fabricação de ar-
mas de destruição em massa.
A idade moderna e contemporânea também é marcada por muitas mudanças
no cerne da humanidade, promovendo maior autonomia e abrindo inúmeras
possibilidades para a população mundial.
Nas sociedades antigas, as pessoas viviam de acordo com suas tradições, em um
mundo dominado por poderes transcendentais, e eram limitadas por um destino
de�nido desde seu nascimento. Com a modernidade, o mundo passou a ser visto
como aberto à compreensão graças ao uso da ciência e da racionalidade, e seus re-
cursos e poderes passaram a ser postos a serviço da humanidade. Ao mesmo tem-
po, o nascimento deixou de ser a fonte do destino. Por meio do trabalho, da dedica-
ção e do uso da inteligência é possível transcender as próprias condições e
responsabilizar-se pela própria vida (SCHWARTZMAN, 1997, p. 11).
Portanto, relacionando os números do relatório e as análises sociais/históri-
cas elencadas, podemos dizer que, num período em que o uso da razão abriu
espaço para que o esforço de cada um fosse valorizado e permitisse melhorar
as suas condições de vida - livrando as pessoas da prevalência das condições
de nascimento -, permaneceu crescente um dos grandes desa�os históricos da
humanidade: aprender a conviver paci�camente.
Seguindo adiante, veri�camos que os con�itos no início do século 21 são dife-
rentes daqueles ocorridos durante o século 20. De acordo com o mesmo relató-
rio:
As instituições internacionais de segurança de hoje foram criadas como resposta
às duas grandes guerras da primeira metade do século XX e às ameaças colocadas
pela guerra fria. O mundo de hoje enfrenta novos desa�os. A natureza e a geogra�a
do con�ito mudaram. Há sessenta anos, uma geração visionária de líderes do pós-
guerra procurou resolver as ameaças colocadas pelos con�itos entre Estados. As
Nações Unidas foram um produto dos seus esforços. No início do século XXI, a
maior parte dos con�itos são dentro de Estados e a maioria das vítimas é civil. Os
desa�os de hoje não são menos profundos do que os desa�os enfrentados há ses-
senta anos (PNUD, 2005, p. 153).
Assim, os desa�os de convivência entre as potências econômicas nacionais
do eixo socialista e as do eixo capitalista que marcaram o período da Guerra
Fria (1945-1989) não são mais o grande dilema. Com o �m da predominância
�agrante da luta entre comunismo e liberalismo na conjuntura internacional,
as di�culdades de convivência e as lutas por poder manifestam-se principal-
mente no interior das nações, diante de processos de exclusão de grupos soci-
ais, lutas políticas, crescimento dos movimentos fundamentalistas, con�itos
religiosos e ideológicos endógenos.
O genocídio do Ruanda, em 1994, matou quase 1 milhão de pessoas. A guerra civil
na República Democrática do Congo matou 7% da população. No Sudão, uma longa
guerra civil de duas décadas entre o Norte e o Sul custou mais de 2 milhões de vi-
das e desalojou 6 milhões de pessoas. Quando o con�ito terminou, irrompeu uma
nova crise humanitária patrocinada pelo Estado na região ocidental de Darfur.
Hoje, estima-se que 2,3 milhões estejam desalojados e outros 200.000, ou mais, fugi-
ram para o vizinho Chade. A década de1990 também assistiu à limpeza étnica no
coração da Europa, quando violentos con�itos civis varreram os Balcãs (PNUD,
2005, p. 153-154).
Todavia, se incluirmos nessa lista a violência urbana e os con�itos na Europa
e Oriente Médio posteriores ao ataque ao World Trade Center (EUA) em 11 de
setembro de 2001, teremos um diagnóstico ainda mais preocupante de nossa
falta de habilidade para resolver paci�camente nossos con�itos com o "outro",
seja ele (o outro) oriundo do outro lado do mundo, seja do mesmo país e região.
Retomando o início de nossa re�exão, temos, na base constitutiva de todos es-
ses con�itos, a sobreposição de diferentes concepções sobre o que signi�ca ser
humano (ser um homem ou uma mulher), sobre os comportamentos, ideias e
valores que devem ser cultivados pelos seres humanos e quais devem ser
combatidos ou mesmo exterminados.
Analisando de maneira mais objetiva, longe de ser uma luta determinada por
forças "do bem" contra as forças "do mal", todos os lados em con�ito se pro-
põem a ser ícones de algo melhor e correto para toda a humanidade, impondo
como adequadas compreensões que não são consensuais para todas as cultu-
ras. O esgotamento das negociações das divergências ou mesmo a indisposi-
ção para o diálogo leva ao �m do sufrágio, do qual emergem os con�itos.
Isso não signi�ca dizer que não existam pessoas mal-intencionadas no mun-
do, que desejam impor à força seus interesses, mas leva-nos a reconhecer que
mesmo elas acreditam na validade de suas intenções, de modo a defendê-las
sem dimensionar os altos custos humanos. A destrutividade das ações parece
justi�cada, por mais irracional que seja.
As pessoas costumam considerar a guerra como uma "tempestade social". A�rma-
se que a guerra "puri�ca" a atmosfera, que tem grandes vantagens - ela "fortalece a
juventude", tornando-a corajosa. E acredita-se, de maneira geral, que sempre houve
e sempre haverá guerras. As guerras são motivadas biologicamente. Segundo
Darwin, a "luta pela existência" é a lei da vida (REICH, 1972, p. 244).
Wilhelm Reich (1972), em sua análise psicossocial, considera absurdo defen-
der a necessidade do con�ito e propõe repensar a questão, encarar o que nos
leva à guerra considerando a forma como organizamos a civilização e como
nos organizamos pessoalmente.
[...] por algum motivo os homens evitam conhecer as causas profundas da guerra.
Além disso, há, sem dúvida, melhores meios do que a guerra para tornar a juventu-
de forte e sadia, ou seja, uma vida amorosa feliz, um trabalho agradável e seguro,
esportes em geral e liberdade em relação às intrigas maldosas. Tais argumentos
são, portanto, vazios de signi�cado (REICH, 1972, p. 244).
Qual será, então, a causa das guerras? De maneira breve, o autor considera a
atitude do "cidadão comum", ou das "massas", lembrando que: "Os ditadores
construíram o seu poder sobre a irresponsabilidade social das massas huma-
nas. Utilizaram-na conscientemente e nem sequer procuraram encobrir esse
fato" (REICH, 1972, p. 245). Assim, cabe a cada um de nós, membros anônimos
da massa popular, assumir a própria responsabilidade diante dos grandes pro-
blemas da humanidade.
O próprio Reich (1972, p. 245) elucida que:
Quem leva a sério as massas humanas, exige delas plena responsabilidade, pois só
elas são essencialmente pací�cas. A responsabilidade e a capacidade de ser livre
devem ser acrescentadas agora ao amor pela paz.
Portanto, a segurança e a liberdade de ação devem superar os con�itos e in-
cluir a prática da paz entre pessoas e nações.
Isso nos remete aos desa�os que temos mais do que a um entendimento pessi-
mista em relação à civilização, pois ainda estamos trilhando um caminho en-
leado por um processo muito mais abrangente, de longa duração:
As primeiras civilizações surgiram há cerca de cinco mil anos, nos vales da
Mesopotâmia e do Egito. Ali, os seres humanos estabeleceram cidades e estados,
inventaram a escrita, desenvolveram religiões organizadas e construíram grandes
edifícios e monumentos - tudo o que caracteriza a vida civilizada. A ascensão do
homem à civilização foi longa e penosa. Cerca de 99% da história humana se de-
senrolou antes do surgimento da civilização, ao longo das extensas eras pré-
históricas (PERRY, 1999, p. 4).
Considerando as grandes transformações da humanidade em cerca de 1% de
sua história, construindo-se nesse período de acordo com diferentes modelos
de civilização, talvez seja possível dirimir o custo humano durante os próxi-
mos passos a serem dados.
Socialmente, a modernidade trata de padrões, esperança e culpa. Padrões - que ace-
nam, fascinam ou incitam, mas sempre se estendendo, sempre um ou dois passos à
frente dos perseguidores, sempre avançando adiante apenas um pouquinho mais
rápido do que os que lhe vão no encalço. [...] E sempre mesclando a esperança de al-
cançar a terra prometida com a culpa de não caminhar su�cientemente depressa
(BAUMAN, 1998, p. 91).
Falando de outra maneira, de acordo com o sociólogo Zygmunt Bauman (1998),
na modernidade, estamos sempre buscando atender a padrões de vida com
suas exigências: outro curso, novo emprego, entender novas tecnologias etc.,
na esperança de melhorar sempre nossas condições de vida e sempre alertas,
com a sensação de que estamos atrasados, de que já deveríamos ter o dinheiro,
o conhecimento ou as atitudes que ainda não pudemos. Superar o passado em
busca de um futuro melhor tornou-se a prerrogativa deste momento.
Não obstante, vamos nos empenhar em entender um pouco mais sobre como
as concepções de humano dentro da civilização ocidental se transformaram
desde o mundo antigo até a atualidade, como foi defendida a dignidade huma-
na e quem foram os que mais desfrutaram dessa dignidade.
A história da dignidade, para o direito, pode ser sintetizada nas seguintes fases: 1)
apenas o serviço ao Estado gera dignidade, de forma diretamente proporcional à
posição hierárquica; 2) reconhece-se uma dignidade mínima comum a todo ser hu-
mano, mas, acima disso, permanece o escalonamento; 3) a dignidade propriamente
dita é igual para todos os seres humanos (CORREA, 2013, p. 1).
Considerando tal perspectiva de construção da dignidade humana ao longo da
história ocidental, trataremos dos desa�os a serem enfrentados, daqueles que
foram excluídos e das possibilidades que foram abertas. Mas longe de estabe-
lecer julgamentos, vamos tratar com respeito àquilo que passou, para que pos-
samos atender às necessidades do presente, construindo um futuro melhor.
Vejamos o Quadro 2.
Quadro 2 Concepções de humano ao longo da História Ocidental.
Fonte: acervo pessoal do autor Everton Luís Sanches.
Importante ainda esclarecer que não é almejado dar a última palavra a respei-
to do assunto. Pelo contrário, é um início de conversa, com indicações para o
aprimoramento constante das conclusões.
Analisando atentamente o Quadro 2, podemos perceber que o que de�nia o lu-
gar de cada um na sociedade foi mudando ao longo do tempo, até chegarmos
ao momento atual, em que precisamos rever nossas posições e aceitar que vi-
vemos uma crise de entendimentos a respeito do ser humano.
Para analisarmos melhor este assunto, assista ao vídeo a seguir.
Por um lado, temos atualmente a compreensão de pessoa humana, em que
"pessoa" se refere ao indivíduo singular e único, enquanto "humana" se refere
ao ser coletivo, ao conjunto da humanidade que cada um de nós representa. A
implicação de tal compreensão, amplamente defendida pela Declaração
Universal dos Direitos Humanos (https://nacoesunidas.org/wp-content
/uploads/2018/10/DUDH.pdf) (1948) e pelos documentos que a sucederam, é de
que determinadas coisas, ao serem feitas contra uma pessoa, constituem um
crime contra toda a humanidade na medida em que a destitui de sua condição
de "ser humano". É o caso da tortura, por exemplo.
Importante:
Existem versões em português da DUDH que trazem a expressão "ser humano" ao invés de "pessoa huma-
na". Contudo, a versão original da Declaração, em inglês, usaa expressão human person, aproximando-se
mais da tradução escolhida e permitindo, assim, os comentários sobre sua signi�cância.
Tal proposta exige das lideranças e das pessoas do mundo todo um acordo so-
bre a universalidade do humano, assim como quanto à necessidade de respei-
tarmos mesmo aquilo que não concordamos ou entendemos.
Mas alcançar tal objetivo não é nada fácil. Mesmo a compreensão do mundo
material tem sido submetida ao crivo das crenças, desacreditando pesquisas
cientí�cas e leis estabelecidas nacional e internacionalmente. Esse fenômeno
tem sido chamado de "pós-verdade (https://www.revista-uno.com.br/wp-
https://nacoesunidas.org/wp-content/uploads/2018/10/DUDH.pdf
https://nacoesunidas.org/wp-content/uploads/2018/10/DUDH.pdf
https://nacoesunidas.org/wp-content/uploads/2018/10/DUDH.pdf
https://nacoesunidas.org/wp-content/uploads/2018/10/DUDH.pdf
https://nacoesunidas.org/wp-content/uploads/2018/10/DUDH.pdf
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https://nacoesunidas.org/wp-content/uploads/2018/10/DUDH.pdf
https://nacoesunidas.org/wp-content/uploads/2018/10/DUDH.pdf
https://nacoesunidas.org/wp-content/uploads/2018/10/DUDH.pdf
https://nacoesunidas.org/wp-content/uploads/2018/10/DUDH.pdf
https://nacoesunidas.org/wp-content/uploads/2018/10/DUDH.pdf
https://www.revista-uno.com.br/wp-content/uploads/2017/03/UNO_27_BR_baja.pdf
https://www.revista-uno.com.br/wp-content/uploads/2017/03/UNO_27_BR_baja.pdf
https://www.revista-uno.com.br/wp-content/uploads/2017/03/UNO_27_BR_baja.pdf
https://www.revista-uno.com.br/wp-content/uploads/2017/03/UNO_27_BR_baja.pdf
https://www.revista-uno.com.br/wp-content/uploads/2017/03/UNO_27_BR_baja.pdf
content/uploads/2017/03/UNO_27_BR_baja.pdf)".
Pós-verdade, do inglês post-truth, foi considerada a palavra do ano pelo dicio-
nário Oxford em 2016. De acordo com Zarzalejos (2017, p. 11):
A pós-verdade não é sinônimo de mentira, mas "descreve uma situação na qual,
durante a criação e a formação da opinião pública, os fatos objetivos têm menos in-
�uência do que os apelos às emoções e às crenças pessoais". A pós-verdade consis-
te na relativização da verdade, na banalização da objetividade dos dados e na su-
premacia do discurso emocional.
A palavra já havia sido usada anteriormente, na década de 2000, com o intuito
de discutir a manipulação política com o uso de "[...] técnicas para suavizar
emotivamente as mensagens, com o propósito de causar uma espécie de
curto-circuito no senso crítico e analítico dos cidadãos" (ZARZALEJOS, 2017, p.
11).
Desse modo, a verdade, traduzida como pós-verdade, é apresentada não mais
como o esclarecimento e aprofundamento do conhecimento de acontecimen-
tos - políticos, econômicos, sociais etc. -, mas é identi�cada como um diálogo
o mais direto possível entre crenças infundadas, subjetividades irre�etidas e
interesse político-econômico de grandes núcleos de poder.
[...] a verdade não tem êxito e as descrições que não se ajustam a ela - ou mesmo
que nem se aproximam - sim, vencem, e além disso, terminam impunes. Como
a�rma o escritor Adolfo Muñoz (El País, de 02 de fevereiro de 2017) "a mentira polí-
tica ganha porque tem as qualidades necessárias para triunfar, convertendo-se no
que Richard Dawkins chamou de "meme". O meme é uma unidade de conhecimen-
to viral, na visão deste autor, que se dispersa à margem de seus atributos de veraci-
dade. Vivemos no universo dos memes e necessitamos de critérios para distinguir
o verdadeiro do falso, o seguro do provável, o certo sobre o duvidoso. E nos fazemos
perguntas cada vez mais angustiantes: seria o Photoshop, por exemplo, uma técni-
ca da pós-verdade? Seria a contextualização de um recurso falsi�cador? O insulto
poderia ser considerado uma mera descrição? Os efeitos especiais no cinema ou as
experiências de realidade virtual, por exemplo, são um atentado à integridade da
verdade, tal como a temos entendido até agora? (ZARZALEJOS, 2017, p. 12).
https://www.revista-uno.com.br/wp-content/uploads/2017/03/UNO_27_BR_baja.pdf
https://www.revista-uno.com.br/wp-content/uploads/2017/03/UNO_27_BR_baja.pdf
https://www.revista-uno.com.br/wp-content/uploads/2017/03/UNO_27_BR_baja.pdf
https://www.revista-uno.com.br/wp-content/uploads/2017/03/UNO_27_BR_baja.pdf
Diante de tantas variantes a serem consideradas antes de chegar a um veredi-
to (verdadeiro ou fake?), a necessidade de entendimento mistura-se com o de-
sejo de ter razão; nesse emaranhado de notícias e informações que invadem o
cotidiano do indivíduo via redes sociais e toda forma de tecnologia de infor-
mação e comunicação, a vontade de lidar com a verdade cada vez mais intan-
gível e inacessível faz com que os sujeitos se apressem em acreditar numa in-
verdade tangível.
As subjetividades (recheadas de crenças pessoais irre�etidas) de pessoas su-
perestimuladas por informações que se apresentam nas formas mais variadas
(vídeos, imagens, piadas, textos jornalísticos, memes, gifs etc.) se sobrepõem à
objetividade (acontecimentos e análise de seus desdobramentos e diversos
signi�cados).
Assim, a descrição mais objetiva e cuidadosa, cheia de senões, talvez, de acor-
do com referência tal e que aponta possibilidades de entendimento, aparece
como um rascunho malfeito de uma verdade inacessível, enquanto a a�rma-
ção jocosa, preconceituosa e taxativa se apresenta como verdade que querem
esconder.
Em meio à di�culdade para trazer à tona o que seja verdadeiro e honesto, é
aberto um espaço de confusão entre aquilo que seja verdadeiro e aquilo que
um indivíduo ou grupo social gostaria que fosse verdadeiro. Nesse cenário, a
célebre frase de René Descartes, considerado ícone da ciência moderna,
"Penso, logo existo", pode ser trocada pela atitude traduzida em "Acredito, logo
é verdade".
Vamos investigar os caminhos possíveis para a superação dos con�itos?
Sigamos adiante!
 Saiba mais!
Para aprofundar os estudos referentes ao contexto da pós-verdade, fake
news e fact-checking, recomendamos que faça a leitura do artigo Pós-
verdade, fake news e fact-checking: impactos e oportunidades para o jor-
nalismo. Clique aqui (http://sbpjor.org.br/congresso/index.php/sbpjor
/sbpjor2017/paper/viewFile/746/462) e bons estudos!
3. Perspectiva sincrônica: entre a humaniza-
ção e a rei�cação
Iniciamos este ciclo com algumas perguntas e buscamos respondê-las no tó-
pico anterior, na medida do possível. As perguntas eram: o que signi�ca ser
humano (ser um homem ou uma mulher)? É possível de�nir o ser humano?
Além dos aspectos físicos, o que permite identi�car um ser humano? Quais
comportamentos, ideias e valores você considera humanos e de�nem a sua
existência?
Contudo, as respostas não encerraram um debate. Pelo contrário, constituem
pontos de partida. Podemos resumir didaticamente esses pontos de partida
que abordamos até agora e encaminhar a continuidade do estudo da seguinte
maneira:
1. O signi�cado de ser humano vem mudando ao longo da história da hu-
manidade conforme os modelos de civilização que foram construídos.
2. Há várias possibilidades de compreensão ainda hoje e, embora haja legis-
lação internacional e muitas pesquisas cientí�cas que tratem do assunto,
não há consenso.
3. Várias teorias e práticas políticas foram estabelecidas no período con-
temporâneo, ou seja, desde a Revolução Francesa, em 1789. Contudo, essa
busca intensa de modernização, de construção de um mundo civilizado,
evoluído e de equilíbrio duradouro (modernidade sólida, de acordo com
Zygmunt Bauman, conforme veremos adiante) gerou altos custos huma-
nos e não alcançou os seus objetivos.
4. Com a fragmentação do conhecimento cientí�co e religioso na contempo-
raneidade, conjuntamente à di�culdade de diálogo, temos uma crise de
valores.
5. A modernidade trouxe a prerrogativa de superar o passado em busca de
um futuro melhor, porém não temos certeza de como fazê-lo. Temos, atu-
almente, apenas a certeza de que precisamos seguir adiante, nos adap-
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