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Raquel Rolnik I DEFININDO A CIDADE A cidade como um imã A cidade como escrita A cidade da política A cidade do mercado II A CIDADE DO CAPITAL “O ar da cidade liberta” Separar e reinar: a questão da segregação urbana Estado, cidade, cidadania Cidade e indústria I DEFININDO A CIDADE DEFINIÇÃO DE CIDADE O espaço urbano deixou assim de se restringir a um conjunto denso e definido de edificações para significar, de maneira mais ampla, a predominância da cidade sobre o campo. Periferias, subúrbios, distritos industriais, estradas e vias expressas recobrem e absorvem zonas agrícolas movimento incessante de urbanização. No limite, este movimento tende a devorar todo o espaço, transformando em urbana a sociedade como um todo. Diante de fenômenos tão diferentes como as antigas cidades muradas e as gigantescas metrópoles contemporâneas, seria possível definir cidade? Responda: 1. Que transformações você observa entre cada um dos slides apresentados? Comente o quão positivas e o quão negativas são essas transformações. 2. Qual a predominância que você observa na última imagem? Ela é positiva ou negativa para a vida urbana no século XXI? São quatro, os sentidos do pensamento urbano destacados pela autora: A cidade como um imã A cidade como escrita A cidade da política A cidade do mercado ‘’Na busca de algum sinal que pudesse apontar alguma característica essencial da cidade de qualquer tempo e lugar, a imagem que me veio foi a de um imã, um campo magnético que atrai, reúne e concentra os homens’’ (p.12) A cidade como Imã Como as aglomerações humanas começaram, quais tecnologias permitiram isso (como a do tijolo cozido e a irrigação) e o porquê a sociedade passa a ser sedentária. A cidade como um centro onde os homens artificialmente criaram à partir da natureza e onde eles se reúnem e se organizam como sociedade. A cidade como escrita “É por isso que as formas e tipologias arquitetônicas, desde quando se definiram enquanto habitat permanente podem ser lidas e decifradas, como se lê e decifra um texto” (p. 17) Evidencia a organização social da cidade e dimensão da vida, das sociabilidades. As causas de uma organização social são evidenciadas, como o excedente agrícola e as técnicas agrícolas. Especialização do trabalho e registro da vida e dos acontecimentos. O processo de migração para a vida urbana apresenta uma nova forma de separação na cidade, separação de classes, com as construções de nobres, construções comuns e construções precárias, que evidenciam uma nova forma de poder social. Questões de segregação urbana – definido claramente na cidade industrial. “a cidade, enquanto local permanente de moradia e trabalho, se implanta quando a produção gera um excedente, uma quantidade de produtos para além das necessidades de consumo imediato” (ROLNIK, 1995, p. 16). Além da importância da escrita para o registro de riquezas das cidades, a autora aponta a própria cidade enquanto escrita, pois, através da arquitetura de cada cidade é possível “ler” suas histórias e imortalizá-las. A cidade política A organização dos espaços e da arquitetura da cidade se define pelas imposições do poder - a forma política. As cidades tiveram organizações diferentes: Antiguidade – Moderno - poder divino, poder dos reis, na dominação militar sobre a cidade, na dominação do estado. E hoje? Desde as primeiras cidades, o lugar ocupado tem uma relação intrínseca com a divisão do trabalho, com a classe social de cada um/uma, mas, contraditoriamente, cada um/uma exerce sua participação política, ainda que seja através da submissão (ROLNIK, 1995). Aí se encontra o motivo de chamar a cidade de Civitas, como menção à cidade Romana, em que o conceito de cidade está sobretudo relacionado à instância política. Na pólis grega e nas civitas romana, o poder é menos centralizado, discutido entre os cidadãos em lugares específicos, como o fórum romano e a ágora grega. Um poder mais acessível, mas com suas regras próprias. A cidade - caráter coletivo que emerge da vida nas cidades: cidade significa vida coletiva. Consequentes sistemas de controle advindos da vida coletiva, como, por exemplo, os sistemas de controle de fluxos: semáforos, faixas de pedestres, filas de ônibus. Ainda, os controles políticos administrativos que dizem gerir a cidade a partir de relações de poder, sendo estas reforçadas pelos aparelhos ideológicos e repressivos do Estado E hoje? Qual o poder? Através dessa analogia com a Civitas Romana, a autora questiona se ainda há centralidades de poder nas grandes metrópoles e se o papel político das pessoas é levado em consideração, ou existe apenas uma relação de submissão, constatando que houve uma intensificação desse controle, principalmente por conta da instantaneidade das câmeras e dos computadores. Entretanto, esse mesmo espaço urbano controlado também é palco de resistência de inúmeros movimentos populares (ROLNIK, 1995) A cidade como mercado O processo de florescimento mercantil, onde se inicia a cidades em impérios e nações. As trocas foram essenciais para a abertura das cidades e sua comunicação, já que a cidade não trabalhava mais fechada, para suprir as necessidades internas, deveriam suprir necessidade de outras cidades, outros povos. “Deste modo, cerâmica manufaturada na Itália foi encontrada no sul da Rússia ou no norte da África”- abertura econômica das cidades e de como a divisão do trabalho iniciou- se no mundo. Hoje a cidade vive para o mercado. Quais foram os grandes gestores e construtores das cidades? Respondam: 3. Conforme estudamos, podemos fazer algumas analogias para definir e entender a cidade, sendo elas: a cidade como imã, a cidade como escrita, a cidade como política e a cidade como mercado. Comente em pelo menos 10 linhas o que você entendeu sobre cada uma delas. A cidade como imã: A cidade como um centro onde os homens artificialmente criaram a partir da natureza e onde eles se reúnem e se organizam como sociedade. A cidade como escrita: evidencia a organização social da cidade e dimensão da vida, das sociabilidades. “É por isso que as formas e tipologias arquitetônicas, desde quando se definiram enquanto hábitat permanente podem ser lidas e decifradas, como se lê e decifra um texto” A cidade como política: a organização dos espaços e da arquitetura da cidade se define pelas imposições do poder - a forma política. As cidades tiveram organizações diferentes: Antiguidade – Moderno - poder divino, poder dos reis, na dominação militar sobre a cidade, na dominação do estado. A cidade como mercado: o processo de florescimento mercantil, onde se inicia a cidades em impérios e nações. As trocas foram essenciais para a abertura das cidades e sua comunicação, já que a cidade não trabalhava mais fechada, para suprir as necessidades internas, deveriam suprir necessidade de outras cidades, outros povos. II A CIDADE DO CAPITAL “O ar da cidade liberta” Separar e reinar: a questão da segregação urbana Estado, cidade, cidadania Cidade e indústria O que mudou nas antigas cidades medievais a partir da formação do mercantilismo capitalista, e o que acontece na cidade contemporânea hoje em relação ao capitalismo? As cidades a partir do ponto de vista econômico capitalista. Suas características. Quais as mudanças de poder, do Estado? Como se procedem a organização espacial do trabalho, a organização da moradia e da circulação de bens, de pessoas, a divisão de poder e a diferenciação de classes. A cidade moderna tem essa clareza e essa configuração de cidade do capital estabelecida. “O ar da cidade liberta” Cidade feudal – Cidade industrial O trabalho servil e o controle senhorial, o controle do poder pela igreja, a cidade “não planejada”, vivendo para si mesma e para os seus vizinhos. Cidade era o próprio feudo, caracterizando o poder de organização dessa sociedade. Sistema baseado na imobilidade social, e com o aparecimento do mercantilismo, o servo abandonou ocampo e passou a tentar a vida na cidade, que oferecia possibilidades de trabalho assalariado e uma ascensão social. Questões relacionadas as conquistas de cidades, formando monarquias, reinos ou estados centralizados, militarizados e despóticos. Nas cidades, o controle passou para uma classe mercantil emergente, os burgueses. Logo, se antes os/as servos/as submetiam-se aos senhores, na vida urbana eles passaram a submeter-se aos senhores mercantis, os burgueses. Reflexão: a que tipo de libertação se pode falar, sem acesso aos meios de produção? (alienação, individualismo, segregação, etc...) Separar e reinar a questão da segregação urbana Sobre a segregação nas cidades. “é como se toda cidade fosse um imenso quebra-cabeças, feito de peças diferenciadas, onde cada qual conhece seu lugar e se sente estrangeiro nos demais” (ROLNIK, 1995, p. 40). A autora centra essa discussão na funcionalidade que tem cada bairro (bairros para morar ou trabalhar), mas, sobretudo na conivência do poder público em alimentar essas segregações socioespaciais. Local de trabalho e Local de moradia A nobreza e a população comum Papel do Estado? 1. na Idade Média o local de trabalho e de moradia se misturavam, nas cidades contemporâneas isso mudou por conta do trabalho assalariado; 2. a intencionalidade da burguesia de homogeneizar determinadas áreas e segregar a população menos favorecida em outras. Para homogeneizar e delimitar sua área de influência, a burguesia instaurou o que se define de “padrão burguês de habitação” (ROLNIK, 1995, p. 50) O jeito de morar burguês expressa uma dicotomia casa-rua: a rua deixa de ser um espaço de troca coletiva para a burguesia e tem significado de caos, de perigo para seu status. Assim, transferem para a casa a esfera da vida privada e dentro de toda uma micropolítica desenvolvem e passam aos descendentes seu habitus, a reprodução do arbitrário cultural dominante, baseado em micropoderes machistas, patriarcais. O habitus é um conjunto unificador e separador de pessoas, bens, escolhas, consumos, práticas, etc. O que se come, o que se bebe, o que se escuta e o que se veste constituem práticas distintas e distintivas; são princípios classificatórios, de gostos e estilos diferentes. O estabelece, perante habitus esses esquemas classificatórios, o que é requintado e o que é vulgar, sempre de forma relacional, já que, “por exemplo, o mesmo comportamento ou o mesmo bem pode parecer distinto para um, pretensioso ou ostentatório para outro e vulgar para um terceiro”. Segundo Pierre Bourdieu. Produção do espaço urbano Segregação sócio-espacial Edifícios públicos e de poder Torres Gêmeas - Nova York A segregação socioespacial é sustentada por motivos econômicos e políticos: • econômicos porque a terra urbana é mercadoria do setor imobiliário; • políticos, pois “(...) a segregação é produto e produtora do conflito social. Separa-se porque a mistura é conflituosa e quanto mais separada é a cidade, mais visível é a diferença, mais acirrado poderá ser o confronto” (ROLNIK, 1995, p. 52). Estado, cidade, cidadania O Estado se firma como instituição forte após a unificação das cidades sob o domínio de um poder central A evolução do Estado como instituição reguladora da organização social e espacial, e como o Estado contribuiu para a segregação social e urbana. A segregação espacial também é uma forma de se obter uma segregação social. o Estado surgiu a serviço do capitalismo mercantilista e, a forma de ação desse Estado nas cidades capitalistas compõe-se a partir de um plano: as cidades capitalistas são planejadas. A ideia de planejamento milimétrico, que faz menção à racionalidade técnica emergiu após a revolução científica do século XVII. A questão do controle estatal no planejamento urbano também está visível, nas instituições de controle disciplinar criadas para “garantir o sossego da burguesia” (ROLNIK, 1995, p. 61), sendo elas as prisões, os asilos e os hospitais que exercem o poder sobre as mentes e os corpos. O papel do Estado é para um modelo de normalidade e saúde. Uma nova forma de produzir espaço: “a lógica da racionalidade, do cálculo e da previsão, que emerge a partir das práticas econômicas do grande comércio e manufatura, penetra assim na produção do espaço, com planos e projetos debaixo do braço” (ROLNIK, 1995, p. 58). O trabalho humano transforma e produz espaço; a partir da racionalidade técnica do planejamento urbano, a divisão do trabalho mudou, mudaram as relações de trabalho, fato que contribuiu para acirrar a divisão de classes por meio da divisão do trabalho, separou-se a parte racional da prática, iniciou-se o processo de alienação do trabalhador. Assim, as habitações clandestinas, de ocupações ou invasões, até mesmo as favelas que são entendidas como “subnormais”, pois fogem ao padrão burguês de habitação, são percebidas como áreas inimigas do grande capital imobiliário, pois, desvalorizam a região, como também inimigas dos padrões de saúde, porque, segundo o argumento do Estado, esses ambientes são propícios a desenvolverem seres que geram riscos à “saúde”. A população que reside nesses lugares geralmente reclama por reconhecimento legal e infraestrutura, e, a máquina estatal com toda a “boa-vontade”, propõe a racionalização e a homogeneização desses espaços a fim de inseri-los dentro do padrão burguês através dos programas habitacionais do governo, como o “Minha casa, minha vida”, destaca Rolnik (1995). O papel do Estado: controla a cidade e cria segregações que são favoráveis ao grande capital. Entretanto, a tensão popular é existente: a todo o momento há a luta pela apropriação do espaço urbano, a luta pelo direito à cidade. Cidade e indústria. A evolução das antigas corporações de ofício medievais, que acumularam lucros, começou a praticar regras tipicamente capitalistas (baixar custos, aumentar os lucros e eliminar pessoal) – evolução fabril. A indústria como a “(...) força poderosa que dá ritmo e intensidade a estes movimentos” (ROLNIK, 1995, p. 71), ditando, inclusive, os padrões de moda, estando esta na raiz da servidão moderna. O processo de transformação industrial-capitalista só foi possível a partir da “(...) destruição da oficina do mestre artesão e a emergência de um processo de parcelamento e seriação do trabalho” (ROLNIK, 1995, p. 72). De acordo com a racionalidade técnica, cartesiana, é necessário que cada membro produtor se responsabilize por uma parte do processo de produção. Porém é a partir dessa lógica que o/a trabalhador/a passa a não ter domínio sobre o produto de seu trabalho, aliena-se e mecaniza-se. O/a empregador/a passa a ter controle total sobre os/as trabalhadores/as. Caracteriza a industrialização enquanto um efeito desterritorializador, pois quebra vínculos e retira os indivíduos de seus territórios. A desterritorialização é um processo proposital no mundo industrial, afinal, como em uma produção em massa, tem-se a ideia de “produzir” pessoas padronizadas. Entretanto, no convívio urbano essa tentativa de homogeneidade funciona como um estopim para as tensões populares, que muitas vezes desmembram em conflitos violentos: criminalidade, saques, quebra-quebras, passeatas, barricadas. Rolnik (1995) pontua que essas ações são expressões claras da cidade dividida. Hoje, cidade pós industrial, o tempo e o espaço são remodelados. “Nela não existe mais a necessidade de concentração, uma vez que sob o paradigma eletrônico-nuclear os terminais e bancos de dados podem estar dispersos pelo território” (ROLNIK, 1995, p. 88). Assim, a estudiosa retorna à definição de cidade como “ímã”, que, segundo essa lógica pós-industrial, não é mais possível, afinal, os sistemas tecnológicos controlam as pessoas sem necessariamente aglomerá-las. Transformação da paisagem da cidade ... Vista e claridade são promessas que poucas vezes se concretizam. O que se esperar de uma cidade que dá as costas ao seu rio? É certeza que as separações e os divórcios, a violência familiar, os excessosde canais a cabo, a falta de comunicação, a falta de desejo, a apatia, a depressão, os suicídios, as neuroses, os ataques de pânico, a obesidade, a tensão muscular, a insegurança e a hipocondria, o estresse e o sedentarismo, são culpa dos arquitetos e incorporadores. Esses males, exceto o suicídio, todos me acometem. Martin in Medianera de Gustavo Taretto Filme: MEDIANERA: Buenos Aires na era no amor virtual. Direção: Gustavo Taretto. Argentina – Espanha - Alemanha: Imovision, 2011. 1 filme (95 min), color. Responder a questão: Conforme estudamos, como podemos refletir sobre a cidade e a sociedade em que vivemos? Descreva quais pontos você poderia repensar/mudar/inovar enquanto morador e cidadão, a partir do seu olhar, olhar de estudante de arquitetura e urbanismo.
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