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CIÊNCIAS DOS MATERIAIS CIÊNCIAS DOS MATERIAIS C957 Cruz, Felipe Tsuruta Lisboa Ciência dos materiais [livro eletrônico] / Felipe Tsuruta Lisboa Cruz. – Rio de Janeiro: UVA, 2019. 3,6 MB : PDF. ISBN 978-85-5459-091-8 1. Materiais. 2. Cerâmica. 3. Polímeros. 4. Materiais de construção. I. Universidade Veiga de Almeida. II. Título. CDD – 620.11 Copyright © UVA 2019 Nenhuma parte desta publicação pode ser reproduzida por qualquer meio sem a prévia autorização desta instituição. Texto de acordo com as normas do Novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa. AUTORIA DO CONTEÚDO Felipe Tsuruta Lisboa Cruz REVISÃO Luiz Werneck Maia Isis Batista Janaina Senna PROJETO GRÁFICO UVA DIAGRAMAÇÃO UVA Bibliotecária Katia Cavalheiro CRB 7 - 4826. Ficha Catalográfica elaborada pela Biblioteca Central da UVA. SUMÁRIO Apresentação Autor 6 8 Cristalinidade e imperfeições cristalinas 33 • Estrutura cristalina − conceitos fundamentais, célula unitária e siste- mas cristalinos • Polimorfismo e alotropia. Direções e planos cristalográficos • Defeitos pontuais. Defeitos lineares. Defeitos superficiais. Defeitos volumétricos UNIDADE 2 9 • Principais critérios no processo de seleção dos materiais • Composição, estrutura e propriedades • Principais fatores ambientais que afetam as propriedades dos materiais Introdução à Ciência dos Materiais UNIDADE 1 SUMÁRIO Materiais cerâmicos e poliméricos 74 • Classificação e propriedades das cerâmicas • Classificação e propriedades dos polímeros • Aplicações dos materiais cerâmicos e poliméricos UNIDADE 4 55 • Ligas ferrosas: propriedades e aplicações • Ligas não ferrosas: propriedades e aplicações • Diagramas de fases de ligas metálicas Materiais metálicos UNIDADE 3 6 Os materiais estão mais enraizados em nossa cultura do que a maioria de nós se dá conta: transportes, habitação, vestuário, comunicação, recreação e produção de alimentos — praticamente todos os segmentos são influenciados, em maior ou menor grau, pelos materiais. Nesse sentido, desde os primórdios da engenharia até a atualidade, com os mais modernos processos de escolha de materiais aplicáveis a nossa rotina, faz-se ne- cessário o estudo das ciências dos materiais na engenharia como importante ferramen- ta na tomada de decisão sobre qual material um engenheiro deve usar. Para começar, na Unidade 1 vamos entender quais são os principais critérios nos pro- cessos de seleção dos materiais, sempre à luz dos conceitos basilares dessa importante ciência. Assim, vamos compreender os princípios básicos dessa ciência por meio de estudos de caso que nos levarão a identificar os principais materiais de engenharia para casos específicos, além dos fatores ambientais que afetam as propriedades dos mate- riais, como a corrosão em estruturas metálicas, que pode provocar acidentes graves. Seguindo nossa trilha do conhecimento em relação aos materiais de engenharia, na Uni- dade 2 chegaremos a um ponto muito importante: a estrutura dos sólidos cristalinos. Nessa etapa, vamos avaliar como e por que a disposição dos átomos e moléculas, que vão formar retículos e cristalinos, pode refletir nas propriedades dos materiais. Além dis- so, compreenderemos que as estruturas cristalinas, em um nível microscópico, apresen- tam alguns “desajustes” nas posições dos átomos, chamados de defeitos cristalinos, que interferem nas propriedades dos diversos materiais estudados. Nessa unidade, também vamos nos deparar com um tema muito comum no nosso dia a dia, que é tecnicamente chamado de alotropia, nome dado ao fenômeno da existência de um elemento químico em dois ou mais arranjos tridimensionais. O exemplo mais comum são as várias formas alotrópicas do carbono (diamante, grafite e fulereno). APRESENTAÇÃO 7 Em seguida, a Unidade 3 nos apresentará o mundo fantástico dos materiais metálicos, que têm parcela significativa no desenvolvimento da civilização. Por exemplo, não teria sido possível fabricar os automóveis sem a disponibilidade, a baixo custo, de aço ou outro material substituto comparável. Por isso, vamos mergulhar no mundo das ligas metálicas ferrosas e não ferrosas e compreender como o diagrama de fases nos ajudará a entender as propriedades desses materiais. Por fim, entraremos na Unidade 4 e analisaremos os diferentes tipos de cerâmicas e polímeros e suas aplicações típicas na sociedade, que tem o engenheiro como um dos principais profissionais responsáveis pelo desenvolvimento e pela aplicação desses ma- teriais. Veremos exemplos práticos do uso da argila e do quartzo no mundo das cerâmi- cas e dos policarbonatos e polipropilenos, utilizados na fabricação de veículos. 8 FELIPE TSURUTA LISBOA CRUZ Felipe Tsuruta é doutorando em Química pela Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ, mestre em Química pela UFRJ, com bacharelado e licenciatura na mesma área. É certificado pela Graduate School of Education Stanford University na área de formação de professores. Atualmente, é coordenador geral de pós-graduação Lato Sensu e profes- sor de Química e Ciência dos Materiais nos cursos de Engenharia da Universidade Veiga de Almeida – UVA, além de lecionar as disciplinas Gestão dos Cursos de Administração e Processos Gerenciais. AUTOR Introdução à Ciência dos Materiais UNIDADE 1 10 O desenvolvimento de muitas tecnologias que tornam nossa experiência tão confortável está intimamente associado à disponibilidade de materiais adequados. Um avanço na compreensão de um tipo de material leva, com frequência, ao progresso gradativo de alguma tecnologia. Por exemplo, não teria sido possível fabricar os automóveis sem a disponibilidade, a baixo custo, de aço ou outro material substituto comparável. Por isso, antes de tudo, para nos empoderarmos desse conhecimento, é necessário conhecermos um pouco mais sobre composição, estrutura e propriedades dos materiais, o que nos levará a decisões mais precisas sobre qual material devemos usar e quais fatores am- bientais afetam o sistema no qual o material está inserido. INTRODUÇÃO Nesta unidade, você será capaz de: • Avaliar os principais critérios na seleção de materiais e os fatores ambientais que influenciam os materiais de engenharia. OBJETIVO 11 Principais critérios no processo de seleção dos materiais A seleção de materiais é uma atividade determinante que o engenheiro exerce em sua ro- tina de trabalho, em que lida com diversas áreas profissionais e do conhecimento, como as áreas de tecnologia e saúde. A escolha adequada de um material deve se apoiar nos aspectos técnico-científicos, tecnológicos, financeiros, operacionais, de fabricação e, es- pecialmente, ambientais. Para um melhor entendimento dos critérios científicos correlacionados à seleção de ma- teriais, convém classificar previamente a grande maioria dos materiais disponíveis em três categorias: metais, cerâmicos e polímeros. Essa classificação tradicional tem como base a estrutura atômica e as ligações químicas. Figura 1: Classificação dos materiais conforme o tipo de ligação química. Fonte: ebah.com.br Covalente Iônica Metais Cerâmicas e vidros Polímeros Metálica Secundária Fatores para a seleção de materiais Ao selecionar ou projetar um material para determinada aplicação, uma série de fatores precisa ser considerada. Como fator inicial, deve-se listar as condições de operação às quais o material será submetido e definir as propriedadesrequeridas para essa aplicação. https://www.ebah.com.br/content/ABAAABINMAA/materiais-construcao-mecanica?part=4 12 Os copos podem ser fabricados com diferentes materiais, de diversas catego- rias, e serão utilizados para servir líquidos de várias substâncias em diferentes temperaturas. No entanto, se o objetivo for servir líquidos quentes, nem todos os materiais são adequados para essa finalidade. Os copos fabricados de materiais metáli- cos seriam seguros, pois apresentam boa resistência mecânica. Contudo, não seriam uma boa opção para essa aplicação, uma vez que os metais são bons condutores de calor. Assim, não seria agradável servir líquidos quentes em co- pos fabricados com esse material. Alguns polímeros têm a resistência mecânica modificada sob o efeito da tem- peratura. Os termoplásticos, por exemplo, amolecem. Dessa forma, dependen- do da temperatura do líquido a ser servido, não seria seguro o uso de copos fabricados com esse tipo de polímero. Por outro lado, os cerâmicos são bons isolantes térmicos e apresentam eleva- da resistência mecânica em altas temperaturas. Além disso, apresentam eleva- da inércia química, ou seja, demoram anos para interagir quimicamente com o conteúdo. Por isso, os materiais cerâmicos são excelentes para o acondiciona- mento de produtos que devem ter o sabor preservado. Portanto, os copos fabricados com material cerâmico são uma boa opção para a finalidade proposta. Figura 2: Copos fabricados com diferentes categorias de materiais. Exemplo Metal Polímero Cerâmica 13 Em raras ocasiões, um material apresenta a combinação máxima ou ideal de proprie- dades para uma dada aplicação. Quando isso ocorre, é necessário priorizar uma carac- terística. Por exemplo, se o material tem alta resistência mecânica, ele apresenta baixa ductibilidade (capacidade de deformação). Sendo assim, dependendo das propriedades desejadas, prioriza-se uma das características ou procede-se a uma conciliação razoável entre as duas propriedades. Outro fator importante na escolha de um material refere-se ao tipo de deterioração das propriedades que poderá sofrer enquanto estiver em serviço. Suas propriedades pode- rão ser extremamente afetadas dependendo das condições a que for exposto. Logo, a escolha do material que apresente as propriedades adequadas resultará em eficácia e durabilidade. Os aspectos ambientais são também um fator importante. Por isso, deve-se levar em consideração se é possível a reciclagem do material e quais seriam os impactos de seu descarte no meio ambiente. O fator de maior relevância é, provavelmente, o econômico. Nesse sentido, a empresa ou instituição que propõe desenvolver um novo material de engenharia deve apurar o lucro dos produtos de venda com base nos insumos necessários para a fabricação e o desen- volvimento. Por mais que um engenheiro projete um componente ou produto perfeito, este deve passar por uma análise econômica de viabilidade, de atratividade perante o mercado e de possibilidade de proporcionar lucro no longo prazo para a empresa. Assim, poderá haver uma conciliação entre as propriedades e o custo do material que não comprometa o produto final. Sobre os critérios de seleção de materiais, é importante frisar os seguintes pontos, que podem ser considerados parte de um guia para seleção de materiais, a saber: • O processo de seleção de materiais envolve uma análise das propriedades quími- cas e físicas do material a ser escolhido. • Um dos pontos a relevantes é a verificação das condições a que o material será exposto para determinar o tipo de material que pode proporcionar melhor desem- penho no processo e ou na aplicação desejada. • O material selecionado deve ser adequado não somente para o uso, mas para o processo de fabricação. 14 Composição, estrutura e propriedades Os materiais estão mais enraizados em nossa cultura do que a maioria de nós se dá con- ta: transportes, habitação, vestuário, comunicação, recreação e produção de alimentos — praticamente todos os segmentos são influenciados, em maior ou menor grau, pelos materiais. Historicamente, o desenvolvimento e o avanço das sociedades estiveram inti- mamente ligados às habilidades dos seus membros. Essas habilidades surgiam com a prática, para atender a suas necessidades. Factualmente, vemos que os materiais esti- veram presentes até mesmo para caracterizar as civilizações antigas pelos nomes dos materiais identificados na época e pelo nível de desenvolvimento — Idade da Pedra, Idade do Bronze, Idade do Ferro. Porém, antes de falarmos das propriedades dos materiais, sua composição e estrutura, cabe refletirmos sobre a pergunta: o que são materiais? Como os entendemos ou mani- pulamos e usamos? Materiais são, obviamente, uma parte da matéria do universo; de forma mais específica, são as substâncias cujas propriedades as tornam utilizáveis em estruturas, máquinas, dis- positivos ou produtos consumíveis. Dentre eles, incluem-se metais, cerâmicas, políme- ros e demais materiais relevantes, como semicondutores, supercondutores, madeira e diversos outros materiais. Sua produção e seu processamento visando à obtenção de produtos acabados absorvem alta porcentagem de empregos, dentre os quais parte sig- nificativa na engenharia, além de contribuir com parcela do Produto Nacional Bruto (PNB). O obrigatório cuidado na proteção do corpo humano acabou por incluir os alimentos, os medicamentos, os fertilizantes, entre outros, na classe universal dos materiais, embora ainda perdure a sistemática do seu estudo específico pelas ciências biológicas e da agri- cultura. Por razões similares, os combustíveis fósseis, a água e o ar podem ser incluídos de forma holística no conceito geral de materiais, porém, são usualmente tratados com mais profundidade em campos particulares de estudo. Classificação, propriedades e composição dos materiais Os materiais sólidos foram agrupados convenientemente em três categorias básicas: metais, cerâmicas e polímeros. Esse esquema está baseado principalmente na compo- sição química e na estrutura atômica. A maioria dos materiais se enquadra em um ou outro grupo distinto. Adicionalmente, como descrito nos parágrafos anteriores, existem 15 outras categorias com compósitos, que são combinações engenheiradas de outros ou mais materiais diferentes. Uma explicação sucinta dessas classificações de materiais e de suas características representativas será apresentada a seguir. Falaremos sobre a composição química, a estrutura e as propriedades desses materiais. Metais Quanto à composição, os metais são compostos por um ou mais elementos metálicos (por exemplo, ferro, alumínio, cobre, ouro, níquel etc.) e, com frequência, também por elementos não metálicos (como carbono, nitrogênio e oxigênio) em quantidades relativa- mente pequenas. Os átomos nos metais e suas ligas estão arranjados/estruturados de uma maneira muito ordenada e, em comparação com as cerâmicas e os polímeros, são relativamente densos. Quanto às características mecânicas, esses materiais são relativa- mente rígidos e resistentes, além de serem dúcteis, maleáveis e resistentes a fraturas, por isso são amplamente utilizados em estruturas de uma forma geral (Figura 3). Figura 3: Aplicação das ligas metálicas de ferro como aço estrutural. Os materiais metálicos apresentam grande número de elétrons livres. Esses elétrons não estão ligados a qualquer átomo em particular, conforme estudamos em Química Geral, na Teoria do Mar de Elétrons. Muitas das propriedades dos metais podem ser atribuídas diretamente a esses elétrons, como a condução de corrente e de calor e o brilho carac- terístico. Além dessas propriedades, os metais também têm propriedades magnéticas interessantes. 16 Cerâmicas Quanto à composição, as cerâmicas são compostos formados por elementos metálicos e não metálicos; na maioria das vezes são óxido, nitretos e carbetos. Alguns materiais cerâmicos incluem o óxido de alumínio — alumina, Al2O3 —, o dióxido de Silício– Sílica, SiO2 –, o carbeto de Silício (SiC) e o Nitreto de Silício (Si3N4). Ainda, alguns se apresen- tam como cerâmicas tradicionais, aqueles materiais compostos por minerais argilosos (exemplo – porcelana), assim como o cimento e o vidro. Em relação ao comportamento mecânico, os materiais cerâmicos são relativamente rígidos e resistentes, com valores comparados aos dos metais. Além disso, as cerâmicas são tipicamente muito duras. Historicamente, sempre exibiram extrema fragilidade e são altamente suscetíveis a fra- tura. Entretanto, as novas cerâmicas estão sendo desenvolvidas para apresentar me- lhor resistência. Normalmente, as cerâmicas são utilizadas como utensílios de cozinha, cutelaria e até mesmo peças de motores de automóveis. Os materiais cerâmicos tam- bém são tipicamente isolantes de calor e eletricidade, além de serem mais resistentes a temperaturas elevadas e ambientes severos que os metais e polímeros. Como exemplo, podemos citar os fornos das indústrias siderúrgicas (Figura 4). Figura 4: Alto forno de uma indústria siderúrgica. O forno é constituído de um material refratário (cerâmi- ca) e é revestido por um material metálico. 17 Polímeros Os polímeros incluem os familiares materiais plásticos e de borracha. Muitos deles são compostos orgânicos que têm sua química baseada no carbono, no hidrogênio e em outros elementos não metálicos (por exemplo, O, N e Si). Além disso, eles têm estruturas moleculares muito grandes, em geral, na forma de cadeias que, com frequência, possuem uma estrutura composta por átomos de carbono. Alguns dos polímeros comuns e familiares são o polietileno (PET), o náilon, o cloreto de polivi- nila (PVC), o poliestireno e a borracha silicone. Tipicamente, esses mate- riais possuem massas específicas baixas, enquanto suas características mecânicas são, em geral, diferentes das características exibidas pelos materiais metálicos e cerâmicos — não são tão rígidos e nem tão resis- tentes quanto esses materiais. (CALLISTER; RETHWISCH, 2016, p. 15) Entretanto, em função de sua densidade reduzida, muitas vezes sua rigidez e sua resis- tência mecânica em relação a sua massa são comparáveis às dos metais e das cerâmi- cas. Ademais, muitos dos polímeros são extremamente dúcteis e flexíveis (plásticos), o que significa que são facilmente conformados de maneiras complexas, quando falamos de estrutura. Em geral, são relativamente inertes em se tratando do aspecto químico, não reagindo em um número significativo de ambientes. Uma das desvantagens característi- cas dos polímeros é sua capacidade de decomposição a baixas temperaturas, que pode limitar seus usos. Outro ponto importante é que normalmente não são condutores e não são magnéticos. 18 Outros materiais Alguns materiais não estão necessariamente classificados no rol de metais, cerâmicas ou polímeros; porém, desempenham papel importante no que concerne à aplicação para a sociedade. Compósitos Um material identificado com o compósito é composto por pelo menos dois dos mate- riais que descrevemos, como os polímeros, os metais e as cerâmicas. Esse material deve ter, necessariamente, propriedades que os materiais, separadamente, têm. Além disso, adquirem características e propriedades superiores às dos materiais separados. Por isso, são considerados materiais de grande relevância para a engenharia e, consequentemen- te, para a sociedade. Alguns materiais são naturalmente considerados compósitos, tais como os ossos, as conchas e a madeira. Como exemplo de compostos desenvolvidos pelos avanços da engenharia e da ciência dos materiais, podemos citar o Forged Com- posities ®, que é um compósito constituído de resina do tipo epóxi e fibra de carbono, desenvolvido pela parceria Lamborghini. MIDIATECA Acesse a midiateca da Unidade 1 e veja o material complementar sobre compó- sito, indicado pelo professor. Semicondutores Os semicondutores têm propriedades elétricas que são intermediárias entre aquelas exi- bidas pelos condutores elétricos (metais e ligas metálicas) e os isolantes (cerâmicas e polímeros). Além disso, as características elétricas desses materiais são extremamente sensíveis à presença de mínimas concentrações de átomos ou impurezas; tais concen- trações podem ser controladas em regiões muito pequenas do material. Os semicondu- tores tornaram possível o advento dos circuitos integrados, os quais revolucionaram as indústrias de produtos eletrônicos e de computadores ao longo das três últimas décadas. 19 Biomateriais Os biomateriais são empregados em componentes implantados no corpo humano para a substituição de partes do corpo doentes ou danificadas. Esses materiais não devem pro- duzir substâncias tóxicas e devem ser compatíveis com os tecidos do corpo (isto é, não devem causar reações biológicas adversas). Todos os materiais citados anteriormente – metais, cerâmicas, polímeros, compósitos e semicondutores – podem ser usados como biomateriais. A American Society for Testing and Materials (ASTM) lista diversas ligas de Cobalto (Co) que são recomendadas para aplicação em implantes cirúrgicos, dentre as quais as que contêm também elementos como Tungstênio (W), Níquel (Ni), Molibidenio (Mo) e Crômio. Materiais inteligentes Os materiais inteligentes são um grupo de novos materiais de última geração que estão sendo atualmente desenvolvidos e que terão uma influência significativa sobre muitas de nossas tecnologias. O adjetivo “inteligente” implica que esses materiais são capazes de sentir mudanças no ambiente e responder a isso de maneiras predeterminadas. Os componentes de um material inteligente incluem algum tipo de sensor (que detecta um sinal de entrada) e um atuador (que executa uma função resposta ou adaptação). Os atuadores podem provocar mudanças de forma, de posição, de frequência natural ou das características mecânicas em respostas a mudanças na temperatura, nos componentes elétricos e/ou magnéticos. Um exemplo importante de um material inteligente, que tem função de atuador, são as cerâmicas piezoelétricas, que se expandem e se contraem em resposta à aplicação de um campo elétrico ou tensão; de maneira inversa, elas também geram um campo elétrico quando suas dimensões são alteradas. Uma das principais aplicações desse material é a balança de rodoviária. A explicação do sistema de piezoeletricidade é explicada na Figura 5. Exemplo 20 Figura 5: Esquema mostra como a energia é gerada por meio da compressão do mate- rial e como o material sofre deformação com a aplicação de corrente elétrica. MIDIATECA Acesse a Unidade 1 e veja o conteúdo complementar sobre nanomateriais, in- dicado pelo professor. 21 Principais fatores ambientais que afetam as propriedades dos materiais Nesse momento, vamos tratar dos fatores ambientais e/ou externos que afetam ou in- fluenciam as propriedades dos materiais. Nesse sentido, discutiremos o aspecto do meio ambiente de duas formas: I) variáveis e aspectos que alteram as propriedades mecânicas dos materiais; e II) considerações ambientais e sociais sobre a produção e reciclagem/ reuso dos materiais. I – Fatores ambientais que alteram as propriedades dos ma- teriais Os materiais de engenharia estão inseridos em um sistema que está suscetível a diversas intempéries, que podem, em alguma medida, interferir em suas propriedades mecânicas. Nesse sentido, vamos ver algumas questões relacionadas à degradação de materiais. Em maior ou menor grau, a maioria dos materiais apresenta algum tipo de interação com um grande número de ambientes diferentes. Com frequência, tais interações compro- metem a utilidade de um material como resultado da deterioração de suas propriedades mecânicas (por exemplo, a ductilidade e a resistência), de outras propriedades físicas ou de sua aparência. Ocasionalmente, para o pesar de um engenheiro, o comportamento de um material perante a degradação para uma dada aplicação é ignorado, sendo possível um alto potencial de consequências adversas. Os mecanismosde deterioração são diferentes para os três tipos de materiais: Metais Existe uma efetiva perda de material pela corrosão, seja pela perda de material ou pela incrustação. 22 Polímeros As consequências e os mecanismos são diferentes dos outros materi- ais. Os polímeros podem, literalmente, se dissolver quando expostos a um solvente líquido, ou podem absorver o solvente e inchar e, além de radiação ultravioleta e calor, podem causar danos às respectivas estru- turas moleculares. Cerâmicos São relativamente resistentes à deterioração, que ocorre geralmente em temperaturas elevadas ou em ambientes extremos. Nesse caso, o processo também pode ser chamado de corrosão. Em nossos lares, a corrosão é responsável pela deterioração de utensílios e eletrodomésticos. Nas indústrias, a corrosão acarreta problemas ligados aos custos de manutenção e substituição de equipamentos, perda de produtos e impactos ambientais decorrentes de vazamentos em tanques e tubulações corroídos, sem contar as vidas humanas postas em risco em acidentes e explo- sões. Outra consequência da corrosão é a deterioração do mobiliário urbano e de monumentos históricos, que apresentam valor incalculável e são lentamente degradados pela ação de poluentes presentes na atmosfera. Exemplo Vamos ver de forma geral as características e alguns exemplos de corrosão e deteriora- ção dos três materiais descritos: metais, cerâmicas e polímeros. Corrosão e deterioração nos metais A corrosão é definida como ataque destrutivo e não intencional de um metal; esse ataque é eletroquímico e começa normalmente na superfície. O problema da corrosão metálica é de proporções significativas; em se tratando da questão econômica, estima-se que apro- ximadamente 5% das receitas de uma nação industrializada sejam gastos na prevenção e manutenção da corrosão ou substituição de materiais que se tonaram inadequados em virtude de ações da corrosão. Como exemplo, temos a ferrugem em carrocerias e estru- turas metálicas, radiadores, componentes estruturais de motores de carros etc. 23 Em um contexto prático da engenharia, podemos citar o desabamento de uma ponte, que ocorreu no município de Laranjeiras, no estado do Sergipe. Segundo uma equipe de peritos formada por diversos engenheiros do CREA-SE (Conse- lho Regional de Engenharia e Agronomia de Sergipe), a corrosão dos tirantes (cabos de aço) que sustentavam o estrado (pista) foi a causa do desabamento da ponte José Américo de Almeida (Ponte de Pedra Branca). Saiba mais MIDIATECA Acesse a midiateca da Unidade 1 e veja mais sobre desabamento no conteúdo com- plementar indicado pelo professor. Quais são os ambientes que favorecem a corrosão dos metais? Os ambientes corrosivos incluem a atmosfera, soluções aquosas, solos, ácidos, bases, solventes inorgânicos e até mesmo o corpo humano. Dentre os ambientes, a atmosfera é responsável por muitas perdas. A umidade, que tem o oxigênio (O2) como principal agen- te corrosivo, além de compostos à base de enxofre (S) e o cloreto de sódio (NaCl), que também contribuem de forma significativa. Detectamos esse tipo de consequência em atmosferas marinhas, onde o NaCl está presente em quantidades significativas. Por isso, diversos materiais metálicos e equipamentos eletrônicos em locais próximos a regiões praianas têm menor durabilidade. Soluções de ácido sulfúrico (H2SO4) diluído, que é produto da chuva ácida e muito co- mum em ambientes industriais, podem causar problemas de corrosão em monumentos/ estátuas, estruturas metálicas e até mesmo no concreto. Outro ambiente que favorece a corrosão de materiais metálicos é aquele composto por grandes quantidades de enxofre, como os combustíveis fósseis com essa característica. Segundo Furlan (2013, p. 14), 24 o maior problema microbiano na indústria de refino de petróleo é a con- taminação de produtos armazenados, que pode levar à perda da sua qualidade, à formação de borra e à deterioração de tubulações e tanques de estocagem. O óleo diesel apresenta os problemas microbiológicos mais sérios dentre os tipos de combustíveis comercializados. O processo de corrosão, quando tem como agente principal os micro-organismos, leva o nome de biocorrosão. A biocorrosão ocorre quando uma reação redox, com deterioração metálica, acontece por aceleração de micro-organismos. Por se tratar de uma reação de oxirredução, está catalisada pelos elétrons cedidos por meio dos metabolismos dos micro-organismos presentes no sistema. MIDIATECA Acesse a midiateca da Unidade 1 e veja o conteúdo complementar sobre a cor- rosão de aços inoxidáveis austeníticos indicado pelo professor. Corrosão de deterioração de polímeros Os polímeros sofrem degradação de forma distinta dos metais. Por serem moléculas orgânicas, podem ser solubilizados e/ou dissolvidos por solventes orgânicos. Como con- sequência, reagentes como gasolina ou tíner podem atacar plásticos e causar danos estruturais, expansão ou estufamento. Há, também, a possibilidade de ocorrência de al- terações estruturais em decorrência de radiação eletromagnética — luz ultravioleta — ou ação térmica. Essas ações podem ocasionar a quebra de ligações químicas e, como consequência, a alteração, muitas das vezes irreversível, das propriedades físicas desse material. (CALLISTER; RETHWISCH, 2016). A degradação dos materiais poliméricos se baseia em processos físico-químicos, que podem ocorrer das seguintes maneiras: • Inchamento seguido de dissolução do polímero. 25 Ação do clima (intemperismo): combinação da ação de agentes químicos (água, áci- dos), com ruptura das ligações decorrente de radiação eletromagnética (luz, por exemplo), calor, agentes químicos, radiação (luz) e variação de temperatura. Fatos que influenciam no processo: agentes químicos, O2 e luz ultravioleta (radiação so- lar) rompem as ligações de maneira semelhante à energia térmica. II - Considerações ambientais e sociais As tecnologias atuais e o desenvolvimento de novos materiais provocam impactos positi- vos e negativos na sociedade. Ademais, os impactos podem ser de natureza ambiental e econômica e de alcance global, dado que todos os recursos materiais naturais podem vir de qualquer parte do planeta; a globalização tem efeitos econômicos, operacionais e os efeitos ambientais não estão adstritos às fronteiras geográficas de um país. (CALLISTER; RETHWISCH, 2016). Os materiais desempenham, de fato, um papel crucial nessa tríade tecnologia-economia- -meio ambiente. Um material utilizado em algum produto final e que é então descartado, passa por vários estágios ou fases; esses estágios ou fases estão representados na Fi- gura 6. Figura 6: Representação de todos os ciclos dos materiais. Fonte: Adaptado de Callister (2012). Síntese e processamento Materiais engenheirados Projeto, fabricação e montagem do produto Aplicações: Agricultura, construção, meio ambiente, defesa, informação/ comunicações, transporte, energia, saúde, extração/ produçãoResíduo Reciclagem/ Reuso Matérias- primas 26 Esse esquema também é denominado Ciclo Total dos Materiais ou Ciclo dos Materiais, e representa o ciclo de vida de um material. As matérias-primas são extraídas de seus am- bientes naturais no planeta por mineração, perfuração, cultivo etc. Essas matérias-primas são então purificadas, refinadas e convertidas em formas brutas, tais como metais, ci- mento, petróleo, borrachas e fibras. A síntese e o processamento adicionais resultam em produtos que são aquilo que pode ser denominado como material engenheirado. Alguns exemplos incluem as ligas metálicas, as cerâmicas, os vidros, os compósitos, os semi- condutores etc. Em seguida esses materiais são conformados, tratados e montados em produtos, dispositivos e utensílios que estão prontos para o consumidor — isso constitui o estágio de projeto, fabricação e montagem do produto. O consumidor adquire esses produtos e os utiliza até que se deteriorem e se tornem obsoletos, sendo descartados. Nesse momento,os produtos podem ser reutilizados ou descartados como rejeitos, sen- do possível a incineração ou o descarte como resíduos sólidos em aterros sanitários. Dessa última forma, retornam para a terra e completam o ciclo dos materiais. Estimou-se que, em todo o mundo, cerca de 15 bilhões de toneladas de maté- rias-primas são extraídas da Terra a cada ano; algumas dessas matérias-pri- mas são renováveis, enquanto outras, não. Com o passar do tempo, está se tornando mais evidente que a Terra é um sistema fechado em relação aos seus materiais constituintes, e que seus recursos são finitos. Além disso, à medida que nossas sociedades amadurecem e as populações crescem, os recursos disponíveis tornam-se mais escassos. Assim, deve-se dar maior atenção a uma utilização mais efetiva desses recursos em relação ao ciclo dos materiais. Importante A reciclagem de produtos usados, em vez do seu descarte como resíduo, é um procedi- mento desejável por diversas razões. 1) Em primeiro lugar, o uso de materiais reciclados reduz a necessidade de extração de matérias-primas do planeta e, dessa forma, há conservação de recursos natu- rais e eliminação de quaisquer impactos ecológicos associados à fase de extração. 2) Em segundo lugar, as necessidades de energia para o refino e o processamento de materiais reciclados são, normalmente, menores que as de seus equivalentes naturais; por exemplo é necessária aproximadamente 28 vezes mais energia para refinar minérios naturais de alumínio do que para reciclar os resíduos de latas de bebidas de alumínio. 27 3) Por fim, não há necessidade de descarte de materiais reciclados. Dessa forma, o ciclo dos materiais é realmente um sistema que envolve interações e trocas entre materiais, energia e o meio ambiente. Além disso, os futuros engenheiros, em todo o mundo, devem compreender as inter-relações entre esses vários estágios, de modo a usar de maneira efetiva os recursos do planeta e minimizar os efeitos adversos sobre o nosso meio ambiente. Figura 7: Ciclo dos materiais. Fonte: br.pinterest.com COMO SEPARAR Não reciclável Etiquetas adesivas, papel carbono e celofane, papéis sanitários, papéis Reciclável Jornais e revistas, folhas de cadernos, caixas de papelão em geral, fotocópias, envelopes Reciclável Não reciclável Reciclável Tampinhas de garrafas, latas de óleo, leite em pó e conservas, latas de refrigerante, cerveja e suco, alumínio, embalagens metálicas de congelados Não reciclável Clipes, grampos, espon- jas de aço, tachinhas, pregos Reciclável Garrafas, copos, recipientes em geral Não reciclável ME TA L VIDRO PLÁSTICOP AP EL Cabos de panelas, tomadas Canos, sacos, CDs, em- balagens de produtos de limpeza, garrafas plásticas de refrigerante, suco e óleo Espelhos, vidros planos e cristais, cerâmicas e porcelanas, tubos de TVs e computador https://br.pinterest.com/pin/351140102169500092 28 MIDIATECA Acesse a midiateca da Unidade 1 e veja o material complementar sobre o ciclo de consumo indicado pelo professor. NA PRÁTICA Você sabe como funcionam os processos de corrosão e quais são as formas de proteção de estruturas metálicas em navios? Já passou pelos estaleiros do Rio de Janeiro e se deparou com aqueles navios gigantes que atracam em nossos portos? Já imaginou o trabalho que os enge- nheiros têm para cuidar de um equipamento como aqueles? Sabemos que a atmosfera no Rio de Janeiro, por ser uma cidade litorânea e úmida, apresenta alta concentração de íons salinos, que aceleram fortemente os processos de corrosão. Nesse sentido, os engenheiros responsáveis pelos navios atracados devem ter um cuidado redobrado com as estruturas metáli- cas das embarcações. Esse cuidado significa mitigar a degradação da corro- são, delongando a vida útil do navio e, consequentemente, aumentando a ren- tabilidade desse meio de transporte. Além da solução salina, outros agentes corrosivos podem atacar a estrutura metálica de uma embarcação e diminuir sua vida útil. São compostos químicos subprodutos da poluição antropogênica, tais como os derivados de enxofre (SOx), CO2 e o H2S (ácido sulfídrico). Uma das formas de minimizar a ação corrosiva desses compostos químicos pre- sentes na água é o uso de tintas que proporcionam uma proteção adicional e prolongam a vida útil do navio. 29 NA PRÁTICA Recipientes para Bebidas Carbonatadas Bebidas carbonatadas são produtos compostos por água, gás carbônico e al- gum tipo de xarope que dá cor e gosto. O gás carbônico (CO2) é um gás mo- deradamente solúvel em água. Dentre essas bebidas, temos os refrigerantes, a água com gás e outras bebidas gaseificadas. Dentre as embalagens adequadas para o acondicionamento desses tipos de bebida, temos o vidro, que pode ter variados tamanhos e formas e preserva o líquido melhor do que outros tipos de embalagem, além de apresentar boas condições higiênicas, inerentes a esse tipo de recipiente. O vidro tem também a particularidade de ser bastante versátil em relação ao tipo de conteúdo, poden- do acondicionar bebidas gaseificadas ou não. O processo de produção de uma garrafa de vidro envolve diversos equipa- mentos especializados e emprega quantidades muito exatas de determina- dos constituintes, dependendo da forma, do tamanho e do fim para o qual o recipiente é produzido. As embalagens de vidro podem ser recicladas quase que completamente. As bebidas carbonatadas também são normalmente acondicionadas em latas de alumínio, que apresentam diversas vantagens, dentre as quais: grande ca- pacidade de reciclagem; impressão em 360° ao longo do corpo da lata; boa resistência à corrosão (difícil oxidação) e leveza. 30 NA PRÁTICA Materiais piezoelétricos A piezoeletricidade – ou efeito piezoelétrico – é uma propriedade de alguns materiais que, mediante uma tensão mecânica, tornam-se eletricamente po- larizados, o que chamamos de efeito direto, e o contrário também é possível: quando colocados em uma diferença de potencial (DDP), esses materiais sofrem uma deformação mecânica. O efeito piezoelétrico com bastante detalhe porque este efeito tem muitas aplicações de suma importância na vida moderna. Em cada telefone celular, em cada computador, nos aparatos de GPS, nos relógios de pulso, em cada carro construído após 2000 e em inúmeros outros equipa- mentos, há pelo menos um cristal de quartzo que oscila e, por meio do efeito piezoelétrico, gera um sinal elétrico oscilatório cujo período serve como base para medidas extremamente precisas de tempo. Como qualquer oscilação me- cânica, a oscilação de um pedaço de quartzo sofre alguma perda de energia por amortecimento. Para manter a oscilação com a mesma amplitude, é ne- cessário repor a energia perdida. Isso é feito com a ajuda do efeito piezoelétrico inverso. A oscilação elétrica é amplificada e jogada de volta nos eletrodos nas faces do cristal. 31 Resumo da Unidade 1 Nesta unidade, estudamos três categorias de materiais: metais, cerâmicos e polímeros. Essa classificação é feita com base nas características atômicas de cada material, espe- cialmente nas ligações químicas. Ao sabermos a composição, a estrutura e as proprieda- des dos materiais, estaremos munidos de conhecimentos que nos ajudarão na seleção dos materiais adequados para uma aplicação específica. Assim, é necessário saber as condições às quais os materiais estão expostos, de modo que os fatores ambientais que podem causar danos aos materiais sejam variáveis controláveis pelo engenheiro. Nesta unidade, abordamos diversos conceitos norteadores das ciências dos materiais que darão suporte aos demais termos de que trataremos nas outras unidades. Dentre os temas tratados, veremos os critérios para a seleção, que é a escolha técnico-científica baseada nas propriedades dos materiais de en- genharia que nos ajudam a determinar o melhor material a ser utilizado nos projetos. Para isso, também conceituamos os metais, as cerâmicas, os políme- ros, os compósitos e os demais materiais. Comoforma de alinharmos nossa preocupação com uma formação sustentável, detalhamos os fatores ambien- tais que influenciam os materiais de engenharia, apontando a influência sobre o meio ambiente desde o ciclo produtivo, sua utilização e conservação. CONCEITO 32 Referências CALLISTER JR., W. D.; RETHWISCH, D. G. Ciência e Engenharia de Materiais: uma Intro- dução. 8. ed. Rio de Janeiro: LTC, 2012. . Ciência e Engenharia de Materiais: Uma Introdução. 9. ed. Rio de Janeiro: LTC, 2016. FURLAN, B. G. Corrosão Microbiana. 2013. Trabalho de Conclusão de Curso. (Escola de Engenharia de Lorena) – Universidade de São Paulo, Lorena, São Paulo. 2013. 47f. SHACKELFORD, J. F. Ciência dos Materiais. 6. ed. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2008. Biblioteca Virtual. Cristalinidade e imperfeições cristalinas UNIDADE 2 34 Essencialmente, todos os materiais que possuem uma estrutura atômica organizada de- vem ter uma atenção especial quanto ao estudo da sua estrutura cristalina. Nessa uni- dade, vamos abordar como a estrutura cristalina se organiza no nível atômico e qual é o reflexo dessas características nas propriedades dos materiais de engenharia. E como nem tudo é perfeito, os materiais cristalinos também não são. Por isso, vamos investigar quais são os tipos de defeitos cristalinos e quais são os reflexos nos materiais usados pelos engenheiros. INTRODUÇÃO OBJETIVO Nesta unidade, você será capaz de analisar os tipos de imperfeições que existem e os papéis que elas representam ao afetar o comportamento dos materiais. 35 Estrutura cristalina − conceitos fundamen- tais, célula unitária e sistemas cristalinos Conceitos fundamentais Os materiais sólidos podem ser classificados de acordo com a regularidade pela qual seus átomos ou íons estão arranjados em relação aos outros. Um material cristalino é um material no qual os átomos estão posicionados segundo um arranjo periódico ou repetitivo ao longo de grandes distâncias atômicas, ou seja, existe uma ordem a longo alcance, tal que, quando ocorre o fenômeno da solidificação, os átomos se posicionam num padrão tridimensional repetitivo, no qual cada átomo está ligado aos seus átomos vizinhos mais próximos (CALLISTER; RETHWISCH, 2012). Essencialmente todos os me- tais, uma relevante parte dos materiais cerâmicos e alguns polímeros cristalizam-se, ou seja, podem formar estruturas/arranjos cristalinos quando estão no estado sólido. Mas por que devemos saber sobre a cristalinidade de um material? Algumas das pro- priedades dos sólidos cristalinos dependem da estrutura cristalina do material, ou seja, como os átomos, íons ou moléculas estão arranjados será decisivo para a caracteriza- ção dessas propriedades. Há diversos tipos de estruturas cristalinas dos materiais que já descrevemos na Unidade 1 (metais, cerâmicas e polímeros) e algumas dessas derivam de unidades básicas sobre as quais vamos estudar nesse momento. Célula unitária A ordenação de longo alcance, que é uma característica dos cristais ― sólidos que pos- suem estrutura cristalina ― podem ser observados na Figura 1. Essa imagem nos mostra uma característica relevante do significado do longo alcance, ou seja, os padrões são repe- tidos muitas e muitas vezes por toda a estrutura do material. Esse modelo mostra um dos vários padrões, ou reticulados, que podem ser desenvolvidos quando apenas um tipo de átomo está presente. Como esse é repetido indefinidamente, torna-se conveniente dividir o que chamamos de rede cristalina em células unitárias, que são pequenos volumes, cada um tendo todas as características encontradas no cristal inteiro. Também podemos consi- derar que são pequenas entidades que se repetem ao longo da estrutura cristalina. 36 Figura 1: Efeito da repetição de uma unidade organizada no longo alcance. Figura 2: Representação da célula unitária na rede cristalina. Figura 3: Parâmetros de rede de uma célula unitária. A geometria da célula unitária é definida por seus parâmetros de rede, conforme de- monstrado abaixo. αβ b x y z c a γ Parâmetros de rede: • Comprimentos das arestas: a, b e c. • Ângulos entre as arestas: α, β e γ. Fonte: Adaptado de Callister e Rethwisch (2012). 37 Sistemas cristalinos Os sistemas cristalinos representam grupos distintos de acordo com os arranjos atômi- cos. Dessa forma, podemos considerar que há somente sete geometrias de células uni- tárias que podem ser empilhadas para preencher o espaço tridimensional. Os sistemas cristalinos estão detalhados na Tabela 1. Sistema cristalino Cúbico Tetragonal Ortorrômbico Hexagonal Romboédrico ou trigonal Monoclínico Triclínico Relações axiais a = b = c a = b ≠ c a ≠ b ≠ c a = b ≠ c a = b = c a ≠ b ≠ c a ≠ b ≠ c Ângulo entre os eixos α = β = γ = 90° α = β = γ = 90° α = β = γ = 90° α = β = 90° e γ = 120° α = β = γ ≠ 90° α = γ = 90° e β ≠ 90° α ≠ β ≠ γ ≠ 90 E como seria a geometria de cada um dos sistemas cristalinos? Figura 4: Geometria dos sete sistemas cristalinos. Cúbico Simples Monoclínico simples Monoclínico de bases centradas Hexagonal Triclínico Cúbico de corpo centrado (CCC) Cúbico de faces cen- tralizadas (CFC) Tetragonal simples Ortorrômbica simples Ortorrômbico de corpo centrado Ortorrômbico de bases centradas Ortorrômbico de faces centradas Tetragonal de corpo centrado Romboédrico Fonte: ebah.com.br https://www.ebah.com.br/content/ABAAABvOAAA/estrutura-cristalina-dos-metais 38 Agora que já conhecemos as diferentes formas dos átomos dispostos de forma tridimen- sional nas células unitárias, ou seja, as geometrias, como são os possíveis arranjos dos átomos nas células? Esses átomos vão ocupar posições específicas e formar o que chamamos de “Redes de Bravais”, que são 14 possíveis arranjos diferentes desses átomos nos espaços. Figura 5 – As 14 redes de Bravais Cúbica Simples Monoclínica simples Monoclínica de base centrada Hexagonal Triclínica Cúbica de corpo centrado Cúbica de faces cen- tralizadas Tetragonal simples Ortorrômbi- casimples Ortorrômbico de corpo centrado Ortorrômbica de bases centradas Ortorrômbica de faces centradas Tetragonal de corpo centrado Romboédrica Simples Fonte: pt.slideshare.net É importante ressaltar que todos os materiais cristalinos, teoricamente, estão dispostos com alguma das redes cristalinas de Bravais. MIDIATECA Acesse a midiateca da Unidade 2 e veja o conteúdo complementar indicado sobre a estrutura cristalina do óxido de ferro. https://pt.slideshare.net/guilhermecuzzuol9/estrutura-cristalina-37503063 39 Polimorfismo e alotropia. Direções e planos cristalográficos Polimorfismo e alotropia Alguns materiais, sejam eles metais, não metais, sejam metaloides, podem ter mais de uma estrutura cristalina. Esse fenômeno é tecnicamente nominado como polimorfismo. Se considerarmos esses sólidos na forma elementar, podemos nomear esse fenômeno de alotropia. Um exemplo clássico é encontrado com o carbono, que possui o grafite, que é polimorfo nas condições ambientais, diferente do diamante, que é produzido em condições de pressão altíssimas. De acordo com Callister e Rethwisch (2016), [...] um metal comum que apresenta uma mudança alotrópica é o estanho. O estanho branco (ou β), que possui estrutura crista- lina tetragonal de corpo centrado à temperatura ambiente, trans- forma-se a 13,2 C no estanho cinza (ou α), que possui cristalina semelhante à do diamante (estrutura cúbica do diamante). A taxa na qual essa mudança ocorre é bem lenta, porém, quanto menor a temperatura, mais rápida é a taxa de transformação. Acompanhando essa transformação do estanho branco para o cinza, ocorre um aumento no volume (27%); de maneira corres- pondente, ocorre uma diminuição na massa específica 7,30 g/ cm3 para 5,77 g/cm3. Consequentemente, essa diminuição no volume resulta na desintegração do estanho branco metálico em pó grosseiro alotrópico cinza. Essa transição de estranho branco em estanho cinza produziualguns resultados dramáti- cos na Rússia em 1850. Exemplo 40 O inverno daquele ano foi particularmente frio, com a ocorrência de temperaturas mínimas recordes durante longos períodos de tempo. Os uniformes de alguns soldados russos tinham botões de estanho, muitos dos quais se desfizeram em razão dessas condições extremamente frias, assim como também ocorreu com muitos tubos de estanho usados em instalações hidráu- licas. Esse problema veio a ser conhecido como a ‘doença do estanho’ (p. 55 e 56). O ferro é um dos principais materiais metálicos que apresentam o fenômeno da alotropia (Figura 6). Essa variação alotrópica é muito importante em processos metalúrgicos, pois permite a mudança de certas propriedades do aço, por meio de tratamentos térmicos. Para um metal, a presença de planos e direções compactos facilita na capacidade de deforma- ção. A estrutura Cúbica de Corpo Centrado (CCC) tem menos direções compactas que a Cúbica de Faces Centradas (CFC), ou seja, é menos dúctil do que a estrutura CFC. Assim, podemos tornar o ferro mais dúctil, por meio do aquecimento, levando o ferro α a ferro γ. Figura 6: Formas alotrópicas do Ferro (Fe). Fontes: wfem.unicamp.br e passeidireto.com 1.500 Tempo Te m pe ra tu ra °c 1.539°c 1.394°c 912°c 768°c Líquido Ferro δ Ferro γ Ferro β Ferro α 1.400 1.300 1.200 1.100 1.000 900 800 700 41 Outro exemplo importante de um material é a sílica (SiO2), que tem mais de uma estrutu- ra cristalina. Por isso, apresenta várias formas polimórficas. O diagrama de fase pressão- -temperatura para o sistema SiO2 mostra as temperaturas associadas às pressões em que ocorrem as transformações polimórficas. As principais formas polimórficas da sílica são o quartzo, com estrutura fortemente uni- da e estável, e os minerais tridimita e cristobalita. Confirmado pelo exemplo dos estanhos na Rússia no final do século XVIII, geralmente, as transformações polimórficas e alotrópicas são acompanhadas de mudanças de den- sidade e mudanças de outras propriedades físicas, como mostramos na tabela abaixo. Tabela 2 – Formas polimórficas da sílica. Formas polimórficas da sílica (SiO2) Quartzo Tridimita Cristobalita Densidade (g/cm3) 2,65 2,27 2,32 MIDIATECA Acesse a midiateca da Unidade 2 e leia o material complementar indicado sobre formas alotrópicas do carbono. Direções e planos cristalográficos Pontos, direções e planos na célula unitária Em todos os materiais cristalinos é necessário especificar um ponto particular dentro da célula unitária. Nesse caso, vamos identificar uma direção cristalográfica ou algum plano cristalográfico de átomos. 42 Coordenadas de pontos A posição de um ponto numa rede cristalina é definida, num sistema de coordenadas cartesianas, em termos do número de parâmetros de rede em cada direção. As coorde- nadas são escritas como três distâncias separadas por vírgulas. z 0,0,1/2 0,0,0 1,1,2 1,1,1 1,1,0 1/2,1/2,1/2 1/2,1/2,0 y x Figura 7: Coordenadas de pontos em uma célula unitária ortorrômbica. Fonte: Van Vlack (1984). Direções Cristalográficas O que são direções cristalográficas? Uma direção cristalográfica é definida como uma linha definida entre dois pontos, ou um vetor. É importante fazermos menção a direções específicas nas redes cristalinas, o que é particularmente muito importante no caso dos metais e ligas com propriedades que variam com a orientação cristalográfica. Ou seja, a direção cristalográfica é um ponto importante para sabermos as propriedades desse material. Uma direção cristalográfica é identificada por três índices, denominados índices de Miller, representados entre colche- tes, da seguinte forma: [hkl]. Esses índices representam um vetor! Como determinamos os índices de Miller para as direções? 43 Estabeleça a origem do sistema de coordenadas. Subtraia as coordenadas (final – inicial). Determine as coordenadas iniciais do vetor. Determine as coordenadas finais do vetor. Caso obtenha valores não inteiros, esses três números são multiplicados ou divididos por um fator comum para obter o conjunto de menores números inteiros. Vamos ver um exemplo? Exemplo x y z 1,1,1 0,0,0 44 x Coordenadas finais do vetor Coordenadas iniciais do vetor Resultados da subtração Redução Índice de Miller [hkl] y 11 00 11 z 1 0 1 Não se aplica [111] 45 Defeitos pontuais. Defeitos lineares. Defei- tos superficiais. Defeitos volumétricos As propriedades de alguns materiais são significativamente influenciadas pela presença de imperfeições. Portanto, é importante que o Engenheiro possua conhecimentos sobre os tipos de imperfeições que existem e os papéis que elas desempenham ao afetar o comportamento dos materiais. As propriedades mecânicas dos metais puros apresentam alterações sig- nificativas quando esses materiais são ligados (isto é, quando são adicio- nados átomos de impurezas) ― por exemplo, o latão (70% de Cobre/30% de Zinco) é muito mais duro e resistente do que o cobre puro. É possível citarmos também como exemplo dispositivos microeletrôni- cos em computadores e calculadora, além de diversos itens em nossas cozinhas como utensílios domésticos que possuem as propriedades es- pecíficas e de interesse para a sociedade, pois possuem as impurezas específicas (CALLISTER; RETHWISCH, 2016, p. 96). Até esse ponto da unidade, consideramos que existe um ordenamento de átomos tal qual chamamos de retículo cristalino, que forma os materiais cristalinos. Porém, se- gundo os autores, [...] um sólido ideal, ou seja, perfeitamente ordenado, é praticamente im- possível de existir. Por isso, os materiais contêm uma série de imperfei- ções denominadas defeitos cristalinos, que podemos conceituar como uma irregularidade na rede cristalina com uma ou mais das suas dimen- sões na ordem do diâmetro atômico. A classificação das imperfeições é normalmente feita de acordo com a geometria ou a dimensionalidade do defeito. São apresentados abaixo os principais defeitos existentes numa estrutura cristalina de acordo com a dimensão (CALLISTER; RETHWIS- CH, 2016, p. 96). 46 Tabela 3: Classificação dos defeitos de acordo com as dimensões. Figura 8: Representação esquemática de uma impureza (átomo) intersticial e substitucional. Fonte: paginapessoal.utfpr.edu.br Dimensão Defeito 210 SuperficiaisLinearesPontual 3 Volumétricos Defeitos pontuais São descontinuidades localizadas nos arranjos atômicos ou iônicos, teoricamente perfei- tos, de uma estrutura cristalina. Os defeitos pontuais envolvem uma única posição espe- cífica na rede. O defeito pontual mais simples é a lacuna. A necessidade da existência de lacunas é explicada considerando os princípios da termodinâmica, ou seja, se há lacunas há aumento da entropia. Conceitualmente, lacunas representam o resultado da ausência de um átomo em uma posição do retículo cristalino. As posições ditas “vazias” podem impactar em proprieda- des, tais como a estabilidade física e a resistência ao longo de toda a rede. Vamos ver que essas impurezas podem ocupar espaços vazios ― interstícios ― da estrutura ou substituir átomos da rede (Figura 8). Um ponto importante a ser ressaltado: considerando que não há cristal ideal, como já dissemos anteriormente, todos os materiais cristalinos possuem esses tipos de defeitos, ou seja, as lacunas (Figura 9). Átomo intersticial Átomo substitucional 47 Impureza Intersticial Tem uma ocorrência quando um átomo ocupa um espaço vazio ― interstício ― da estru- tura cristalina que estaria normalmente vazia. Em regra, o átomo intersticial é pequeno o suficiente para se alojar em um vazio da rede. Um exemplo de impureza intersticial provocada pela engenharia e que traz consequên- cias positivas é a austenita, que é um tipo de aço de estrutura CFC (Cúbica de Faces Centradas) que contém até 2,0% de carbono instersticial. Esse aço tem vasta aplicação, conforme podemos ver o trecho extraído do site da Tuper.com. Entre os principaistipos de aço inox estão os austeníticos, ferríticos e martensíticos. Os austeníticos (tipos 304, 304L, 316 e 316L) possuem de 17% a 25% de cromo e de 7% a 20% de níquel. Apresentam alta ducti- lidade, ou seja, facilidade de trabalhar com o material, bom desempenho em soldagem e são o tipo de aço inox mais utilizado por apresentar boa resistência à corrosão. Os aços inoxidáveis desta classe não são magné- ticos, ou seja, não são atraídos por ímãs (2015, citação do site). Esse tipo de impureza acontece quando um átomo é substituído por um átomo de um elemento diferente daquele que forma a rede cristalina. Uma consequência dessa substi- tuição, por conta da diferença de tamanho do átomo dito “impuro”, pode provocar distor- ções na rede cristalina. Logicamente que quanto maior a diferença de tamanho entre o átomo que for substituído da rede com os átomos da impureza, maiores serão, espera-se, as distorções resultantes desse processo. 48 Um exemplo de material bastante comum para a sociedade e que a engenharia tem participação fundamental no seu processo produtivo é o latão. Trata-se de um material metálico formado por aproximadamente 60% de cobre e 30% de zinco substitucional. Seguem algumas propriedades físicas do latão: • Boa estampabilidade. • Moderada deformação a frio. • Ótima usinabilidade. Algumas aplicações: • Rodas. • Porcas. • Hastas de válvulas. • Bijuterias em geral. • Cartuchos para munição (Figura 9). • Engrenagens em geral (Figura 10). • Zippers. Saiba mais Figura 9: Munição de 9mm cujo cartucho é feito de latão. Figura 10: Sistema de engrena- gens de uns relógios cujas com- posições são de latão. 49 Defeitos lineares Um defeito linear acontece normalmente alguns átomos estão desalinhados. Esse de- salinhamento nós chamaremos de discordância. As discordâncias são geradas durante o processo de cristalização do material ou quando o material sofre algum processo de deformação por esforço físico. Mesmo que as discordâncias estejam presentes em to- dos os materiais, essas são particularmente aplicáveis no processo de compreensão da deformação e no aumento da resistência mecânica dos metais. Figura 11: Rede com defeitos lineares – discordâncias. Figura 12: Movimento de deslocamento provocado por um defeito linear. Movimento de discordâncias A rede, quando submetida a uma tensão cisalhante, pode sofrer deslizamento e as dis- cordâncias se movem em uma estrutura cristalina (Figuras 11 e 12). A movimentação normalmente ocorre num plano que segue uma direção contida nesse plano. Porém, não há uma movimentação das discordâncias em quaisquer direções. Em regra, onde há maior densidade de átomos, há maior deslizamento, pois há menor energia necessária para esse processo acontecer. 50 Podemos trazer para nossa realidade uma característica importante dos metais que têm a estrutura CFC (Cúbica de Faces Centradas) e que possuem alta ductilidade, pois há uma densidade maior de átomos, ao passo que estruturas como HC (Hexagonal Com- pacta) não têm uma densidade de átomos tão grande. Defeitos superficiais Os defeitos superficiais ou interfaciais, segundo Callister e Rethwisch (2012), são contor- nos que possuem duas dimensões e que normalmente separam regiões dos materiais que possuem estruturas cristalinas e/ou orientações cristalográficas diferentes. Vamos citar como exemplo de imperfeições o contorno de grão. Os contornos de grão Está presente em todos os materiais cristalinos e podem estar em todo ma- terial (Figura 13). Onde há os contornos de grão pode haver algum desarranjo atômico na transição da orientação cristalográfica de um grão para a orien- tação de um grão que está ao lado. Essa desordem atômica resulta em uma descontinuidade no plano de deslizamento de um grão para o outro e prejudica a movimentação das discordâncias. Como exemplo prático, para ajustar as propriedades de uma liga metálica, há possibilidade de controlar e saber o tamanho do grão por meio de métodos analíticos, dentre os quais o ASTM E112-13 “Standard Test Methods for Determi- ning Average Grain Size” ― Métodos de teste padrão para determinar o tamanho médio de grãos. Com isso, é possível, por exemplo, controlarmos a quantidade de áreas de contorno de grãos em aços austeníticos, e, com isso, elevar a resis- tência mecânica desse material. Exemplo 51 Grão Orientação da célula unitária Contorno do grão A B Um tipo especial de contorno de grão são as maclas, em que se observa uma específica simetria em espelho da rede cristalina; ou seja, os átomos de um lado do contorno estão localizados em uma posição que é a posição refletida do outro lado. A região refletida é nominada Macla, que é um mecanismo de deformação plástica, resultante de processos de tratamento térmico ― também conhecidas como maclas de recozimento — e de cisa- lhamento — maclas de deformação. Exemplos de maclas estão ilustrados na Figura 14. Figura 14: Contorno de Macla. Fonte: e-agps.info Figura 13: Contorno de grão. Fonte: Adaptado de ebah.com.br MIDIATECA Acesse a midiateca da Unidade 2 e leia o conteúdo complementar indicado sobre contorno de grãos. http://www.e-agps.info/angelus/cap6/defeitos.htm 52 Defeitos volumétricos São agregados tridimensionais dos átomos ou poros. É comum dividi-los em três cate- gorias. 1) “Porosidades”: causadas principalmente por gases que participam do processo de so- lidificação. O efeito desejado é produzir uma diminuição na resistência mecânica, porém, também pode provocar fraturas devido a pequenas tensões. 2) Os “precipitados” são aglomerados de partículas cuja composição difere da compo- sição original. São pequenas partículas que são introduzidas na matriz por reações nor- malmente no estado sólido. Como aplicação, pode aumentar a resistência de ligas estru- turais, funcionando como um obstáculo para o movimento das discordâncias. 3) “Inclusões” são partículas indesejáveis ou grandes partículas de precipitados. São ge- ralmente defeitos indesejáveis na microestrutura, uma vez que sua presença provoca efeitos prejudiciais nas propriedades mecânicas, elétricas e ópticas. NA PRÁTICA As ligas de bronze, muito usadas pelos engenheiros, possuem vasta aplicação e podem ser um ótimo exemplo sobre como podemos aplicar conceitos de impurezas nos sólidos. O bronze é formado por uma solução de cobre (Cu), com alguns átomos substituídos por estanho (Sn), ou seja, forma uma solu- ção sólida substitucional. O objetivo da liga formada com as impurezas é obter características diferentes e melhores do que o cobre isoladamente. O estanho pode aumentar a dureza e a resistência mecânica da liga, sem alterar uma ca- racterística importante, que é a ductilidade. 53 Resumo da Unidade 2 Nessa unidade abordamos todos os aspectos relacionados à estrutura cristalina; desde a formação da célula unitária, até o reflexo das menores unidades organizadas dos mate- riais em suas propriedades físicas e químicas. Ao compreender como funciona micros- copicamente a estrutura de um material, passamos a compreender que nenhum material tem uma rede cristalina perfeita e que os defeitos cristalinos podem provocar efeitos positivos e negativos. CONCEITO Os principais conceitos abordados na unidade foram: célula unitária (são pequenos volumes organizados, cada um tendo todas as características en- contradas no cristal inteiro). Também vimos que alguns materiais, sejam eles metais, não metais, sejam metaloides, podem ter mais de uma estrutura cris- talina e esse fenômeno é tecnicamente nomeado de polimorfismo. Se consi- derarmos esses sólidos na forma elementar, podemos denominar esse fenô- meno de alotropia. Fechando nossa unidade, vimos que não existem cristais perfeitos, que há diversas imperfeições chamadas de defeitos cristalinos, que podem ser classificados como defeitos pontuais, defeitos lineares, defeitos superficiais e defeitos volumétricos. 54 Referências BROWN, T. L. Química: a ciência central. 13. ed. São Paulo: Person,2016. Biblioteca Virtual. CALLISTER JR., W. D.; RETHWISCH, D. G. Ciência e engenharia de materiais: uma intro- dução. 8. ed. Rio de Janeiro: LTC, 2012. . Ciência e engenharia de materiais: uma introdução. 9. ed. Rio de Janeiro: LTC, 2016. TUPER (site). Tuper explica as diferenças entre os principais tipos de aço inox. Publica- do em 28 de agosto de 2015. Disponível em: <https://www.tuper.com.br/tuper-explica-as- -diferencas-entre-os-principais-tipos-de-aco-inox/>. Acesso em: 1º abr. 2019. SHACKELFORD, J. F. Ciência dos materiais. 6. ed. São Paulo: Pearson, 2008. VAN VLACK, L. H. Princípios de ciência e tecnologia dos materiais. 4. ed. Rio de Janei- ro: Campus-Elsevier, 1984. https://www.tuper.com.br/tuper-explica-as-diferencas-entre-os-principais-tipos-de-aco-inox/ https://www.tuper.com.br/tuper-explica-as-diferencas-entre-os-principais-tipos-de-aco-inox/ Materiais metálicos UNIDADE 3 56 Os metais puros em sua grande maioria não apresentam as propriedades necessárias para dadas aplicações em engenharia. Por isso é necessário que a tecnologia da En- genharia transforme esses metais em ligas metálicas, que são resultado da mistura de metais entre si ou de metal com outra substância não metálica. As ligas metálicas são soluções sólidas que acrescentam novas propriedades e/ou as melhoram em relação ao metal puro. Nesse sentido, escolher um metal ou uma liga metálica para uso adequado é uma tarefa complexa e que exige do engenheiro conhecimentos fundamentais de ciência dos materiais. INTRODUÇÃO OBJETIVO Nesta unidade, você será capaz de: • Analisar os diferentes tipos de materiais metálicos, observando as diferenças de composição, as propriedades que os distinguem para identificar suas aplicações típicas. 57 Ligas ferrosas: propriedades e aplicações Os materiais metálicos consistem normalmente em combinações que envolvam elemen- tos metálicos. É comum em engenharia a utilização das ligas metálicas, que nada mais são que soluções sólidas que envolvam metais e inclusive ametais. Mas a utilização de ligas não implica não ter aplicação de metais em elevado grau de pureza na prática. O cobre, por exemplo, pode ser usado no estado quimicamente quase puro. Porém, isso não ocorre com o ferro, que está quase sempre ligado ao carbono e a outros elementos e por isso, na prática, o ferro é usado na forma de liga metálica. Os metais possuem uma característica relevante, fundamentada pelo modelo do “Mar de Elétrons”, que descreve que os elétrons saem temporariamente da camada de valência e migram para o átomo vizinho e assim sucessivamente. Esse modelo explica a ligação metálica e justifica diversas propriedades dos materiais metálicos, tais como, boa capa- cidade de condução de corrente elétrica e calor e uma aparência brilhosa. Ligas ferrosas As ligas ferrosas são aquelas nas quais o ferro é o principal componente, ou seja, ele é solvente da solução sólida. Nessa liga, o carbono, bem como outros elementos, pode estar presente e atua como soluto, pois se apresenta em quantidades bem menores do que o ferro. A vasta aplicação das ligas ferrosas se dá em virtude da abundância desse material no planeta Terra e, como consequência da grande oferta, a Engenharia desen- volveu diversos processos modernos e eficientes para a produção de ligas ferrosas. A fabricação dessa liga é bastante viável, o material é muito versátil, o que conduz a um amplo espectro de aplicações em diversas áreas da sociedade. Classificação de ligas ferrosas A classificação de ligas ferrosas é baseada no teor de carbono e podem existir três dife- rentes grupos: a) Ferro: % de carbono < 0,005. b) Aço: 0,005 < % de carbono < 2,11. c) Ferro fundido: 2,11 < % de carbono < 6,67. 58 Aço é uma denominação genérica para ligas de ferro e carbono com teores de carbono variando de 0,005 a 2,11%, podendo evidentemente, e sendo bastante comum, conter outros elementos residuais do processo de produção, além de outros elementos adicio- nados de propósito no intuito de conferir alguma propriedade inexistente no material. Se a liga metálica for formada apenas pela adição de carbono ao ferro, sem nenhum outro constituinte presente, este será chamado especificamente de aço-carbono. Do contrário, ligas de aço (ou aço-liga), indicam a presença de outros elementos metálicos em menor proporção. Ferro fundido é a designação genérica para ligas de ferro-carbono com teores de carbono mais elevados do que os descritos anteriormente, acima de 2,11%. Figura 1: Aço. Aço Os aços podem ser classificados segundo vários critérios, dentre os quais, o teor de carbono. Classificação do aço quanto ao teor de carbono Os aços podem ser classificados quanto ao teor de carbono, presente na liga metálica. Ao se acrescentar carbono no ferro aumenta-se a dureza do material. A resistência au- menta e a ductilidade diminui com o teor de Carbono, são aços de relativa baixa dureza, oxidam-se facilmente e suas propriedades deterioram-se a baixas e altas temperaturas, sendo os mais usados e de mais baixo custo. O carbono possui um raio atômico menor que o do ferro, mas não o suficiente para entrar em quantidades expressivas nos interstícios de suas células unitárias, e também não possui raio atômico grande o suficiente para entrar nas vacâncias presentes nessas mesmas células unitárias. Ligas substitucionais ocorrem quando um dos constituintes entram nas vacâncias das células unitárias. Quando os átomos de um dos elementos metálicos têm raio atômico suficientemente pequeno para entrar nos espaços entre as células unitárias, os interstícios, formam-se as ligas intersticiais. 59 Aços baixo carbono têm teores menores de 0,3% no elemento carbono. Produzidos em maior quantidade, não respondem a tratamentos térmicos. A quantidade total de elemen- tos de liga não é suficiente para alterar profundamente as estruturas dos aços resultan- tes que são fáceis de conformar e soldar, são relativamente moles e fracos e possuem ductilidade e tenacidade excepcionais. As aplicações mais comuns dos aços baixo car- bono são em chapas para a indústria automobilística, latas de folhas de flandres, pontes, placas para fabricação de tubos, caldeiras, peças de grandes dimensões em geral, perfis estruturais e construção civil. Aços de alta resistência e baixa liga contêm outros elementos metálicos, esses elemen- tos residuais (cobre, níquel, vanádio e molibdênio) estão presentes acima dos teores nor- mais, porém não são superiores a 2%. Apresentam ótimas propriedades mecânicas, têm resistência a corrosão e soldabilidade e são amplamente usados na construção de estru- turas de menor peso e custo reduzido. Utilizados na construção de edifícios altos, navios, pontes, equipamentos ferroviários e em obras de grande porte (Figura 2). Figura 2: Vergalhões de aço para estruturas de concreto em um canteiro de obras. Aço médio carbono - Apresenta teores de 0,25% a 0,6% no elemento carbono e podem ser tratados termicamente por austenitização, têmpera e revenido; após o tratamento se tornam mais resistentes, apresentam menor ductilidade e tenacidade. Sendo os aços mais comumente encontrados, têm inúmeras aplicações em construção civil e estrutu- ras. Sua utilização está presente em rodas e equipamentos ferroviários, engrenagens. Aço bastante utilizado na produção de peças que necessitam de elevada resistência me- cânica, ao desgaste e à tenacidade. Aço alto carbono - Apresentam teores superiores a 0,6% no elemento carbono, são os mais duros, os mais resistentes e os menos dúcteis, usados em uma condição endure- cida e revenida, sendo resistentes ao desgaste e à abrasão. São utilizados na fabricação de aços, ferramentas com constituintes contendo geralmente cromo, vanádio, tungstênio e molibdênio na forma de carbeto, para elevar a dureza. 60 Os aços-carbono têm aplicações na construção de automóveis (carcaça, suspenção e direção), navios e aeronaves (trem de pouso). Apresentam uma larga gama de proprieda- des, sãorelativamente baratos e representam 80% de toda a produção de aço. Aços de liga ou aços ligados apresentam teores superiores de diversos elementos me- tálicos. Na verdade, são aços-carbono em que foram adicionados outros constituintes em um teor que venha a dar propriedades à liga ferrosa, como cromo, níquel, vanádio, molibdênio, tungstênio, cobalto, boro, cobre e residuais encontrados em maiores teores, como manganês, silício, fósforo e enxofre. Elementos de liga aumentam a dureza e a resistência além de conferir propriedades es- peciais como resistência à corrosão, estabilidade a baixas e altas temperaturas, dimi- nuem o peso (relativo à resistência específica) e melhoram as propriedades elétricas e magnéticas. Dentre os elementos de liga com utilizações mais expressivas, podem ser mencionados o níquel, que ao ser adicionado cerca de 2,5% aumenta a resistência ao impacto, cerca de 12 a 20% adicionados deixa o material com considerável resistência à corrosão em aços baixo carbono e, quando presentes nos aços com cerca de 36%, o coeficiente de expansão térmica fica com valores próximos a zero. MIDIATECA Acesse a midiateca da Unidade 3 e veja o conteúdo sobre aço indicado como mate- rial complementar pelo professor. O tungstênio (W) é o metal que apresenta a mais elevada temperatura de fusão, sendo evidentemente usado em materiais que serão submetidos a elevada temperatura. É um constituinte adicionado nas ligas ferrosas no intuito de aumentar a resistência térmica do material por formar partículas duras e resistentes ao desgaste, mantendo a dureza do material mesmo trabalhando a altas temperaturas. É comum o seu uso na fabricação de aços para ferramentas. 61 O cromo (Cr) é normalmente adicionado às ligas ferrosas para a obtenção dos aços crô- micos ou inoxidáveis. A sua adição aumenta a resistência à corrosão e ao calor, aumenta a resistência ao desgaste (devido à formação de carbetos de cromo), aumenta a dureza e a resistência em aços baixa liga, é adicionado com o níquel e o molibdênio, para elevar a resistência à corrosão dos aços inoxidáveis. Ferros fundidos Formam uma classe de ligas ferrosas que possui teores de carbono acima de 2,11% (nor- malmente entre 3,0 e 4,5%) que se fundem a temperaturas mais baixas, 1150 a 1300°C. A cementita é metaestável e sob condições de resfriamento e composição pode-se dis- sociar em carbono grafite. Apresentam teores de silício superiores a 1%. Existem três tipos de ferro fundido: o ferro fundido cinzento, com 2 a 4% de carbono, em que a grafite está como lamelas ou folhas; ferro fundido nodular, com teor de carbono variando de 3 a 4%, tendo a grafite forma de nódulos ou esferas; ferro fundido vermicular, 2,5 a 4% de carbono, com a grafite na forma compacta. Um exemplo desse material é demonstrado na Figura 3. Figura 3: Exemplo de utensílio doméstico feito de ferro fundido. 62 Ligas não ferrosas: propriedades e aplicações Ligas metálicas não ferrosas são aquelas que não têm como constituinte o elemento ferro no material. Usadas em geral em materiais que necessitam de propriedades como resistência à corrosão, resistência ao desgaste, condutores elétricos, resistência a altas temperaturas e peso reduzido. De modo geral, por trabalharem com elementos mais caros que o ferro, são mais caras que as ligas ferrosas. São utilizadas em aplicações bem específicas. Cobre O cobre com valores acima de 99% de pureza torna-se um excelente condutor de corren- te elétrica e com aderência elevada ao vidro. As propriedades mecânicas variam muito e dependem da forma como o metal foi obtido e do teor de elementos de liga presentes, mas normalmente é dúctil e maleável a frio. Ligas de cobre As ligas apresentam excelente condutibilidade elétrica, elevada condutibilidade térmica, elevada resistência à corrosão, algumas ligas podem atingir resistência elevada, resistên- cia específica inferior ao aço e ao alumínio, mas a sua maior utilização é no estado puro (70 a 80%). Os latões, ligas de cobre e zinco, apresentam resistência a tração superiores ao metal cobre. Um latão com 40% de zinco chega a ter o dobro de resistência. Um latão com cerca de 30% de zinco apresenta um alongamento superior, em grandes proporções, ao metal cobre. Ligas com 70% de cobre, 29% de zinco e 1% de estanho pos- suem excelente resistência à corrosão. Latões com cerca de 2% de alumínio apresentam boa resistência à corrosão devido a uma camada protetora de óxido de alumínio que se forma à superfície, podendo ser utili- zados na confecção de tubos. 63 Latões com cerca de 1,5% de alumínio e 1,5% de níquel têm um acréscimo elevado na sua resistência mecânica e na sua resistência à corrosão em peças em contato com água doce, do mar, vapor e ácidos diluídos. Os bronzes constituem uma família de ligas do cobre, tendo como principal elemento de liga o estanho. Essas ligas têm uma cor que passa do vermelho ao amarelo em função do teor de estanho. A composição dos bronzes inclui de modo geral 95% de cobre e 5% de estanho. Na prática industrial, o teor de estanho quase nunca ultrapassa 9%. Os bronzes mais comumente comercializados e de uso geral apresentam também valo- res de zinco variando de 2 a 3% que oferecem uma melhora na fundibilidade, na resistên- cia à tração e o alongamento. São utilizadas na fabricação de torneiras, tubos e peças a serem soldadas. O estanho melhora as propriedades mecânicas do cobre. A resistência à tração é aumen- tada, assim como o seu alongamento. Bronzes com valores de níquel variando de 15 a 30% tornam o material resistente à cor- rosão marinha. MIDIATECA Acesse a midiateca da Unidade 3 e veja o conteúdo sobre a fabricação dos fios de cobre indicado como material complementar pelo professor. Alumínio O alumínio é inerte ao ar, porque é protegido por uma camada de óxido de alumínio for- mada na sua superfície. Protegido por essa camada, o alumínio não sofre ataque dos po- luentes encontrados na atmosfera urbana, industrial e/ou marinha. O alumínio é o metal mais abundante na crosta terrestre, o seu processamento é caro, mas é um dos mate- riais mais usados atualmente. 64 Ligas de alumínio O alumínio com elevado grau de pureza limita a sua utilização como material estrutu- ral devido a sua fraca resistência. A sua utilização como liga amplia consideravelmente as suas aplicações. Forma normalmente ligas com manganês, cobre, magnésio, silício, ferro, níquel, lítio, dentre outros possíveis. Algumas ligas possuem resistência mecânica superior aos aços estruturais. Suas propriedades mecânicas variam muito com a pureza do metal e dos elementos de liga. Ligas de alumínio e magnésio são fáceis de polir e conservam o polimento por muito tempo, são obtidos materiais fáceis de serem chapeados. Quando a essa liga é acrescen- tado o manganês, aumenta-se a resistência mecânica sem modificar a deformabilidade. É industrializado em folhas e prestam-se ao embutimento e ao polimento, além de apre- sentarem resistência marinha. Ligas de alumínio com cobre, titânio e magnésio apresentam resistência mecânica má- xima ao choque e as vibrações. A melhoria nas propriedades mecânicas não altera a fundibilidade da liga. De um modo geral, as ligas de alumínio têm ampla aplicação na construção civil e arqui- tetura, embalagens, indústria aeroespacial, indústrias automobilística, ferroviária e naval, condutores elétricos de alta voltagem, utensílios de cozinha e ferramentas portáteis (Fi- gura 4). O teor de elementos de liga presentes gira em torno de 15%, dificilmente passando dis- so. Manganês, ferro e/ou manganês presentes aumentam a resistência da liga. O cobre aumenta a usinabilidade, e o silício aumenta a resistência à corrosão. Adicionando-se manganês e silício aumenta-se a fluidez de fundição. Figura 4: Peças de alumínio usadas em perfis de portas e janelas. 65 Titânio Metal abundante, mas com custo elevado de processamento, forma ligas com alumínio, estanho, vanádio, molibdênio, nióbio, manganês,
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