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IED_Teoria_Pura_do_Direito_e_Teoria_Tridimensional

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Introdução ao Estudo do Direito 
 
 A moral Kantiana. 
 Immanuel Kant (1724-1804) foi um filósofo alemão, fundador da “Filosofia 
Crítica” - sistema que procurou determinar os limites da razão humana. Sua obra 
é considerada a pedra angular da filosofia moderna. 
Segundo Kant, a capacidade que o homem tem de diferenciar o certo do errado 
é inata, ou seja, já nasce com ele. Sendo assim, a moral humana independe da 
experiência, pois já nascemos com ela. Sendo anterior à experiência, ela é 
“formal”, ou seja, vale para todas as pessoas, onde quer que elas estejam e em 
qualquer tempo. 
 
 “ Duas coisas me enchem a alma de crescente admiração e respeito, quanto 
mais intensa e frequentemente o pensamento delas se ocupa: o céu estrelado 
sobre mim e a lei moral dentro de mim”. 
Immanuel Kant 
 
 A moral Kantiana exclui a ideia de que possamos ser regidos se não por nós 
próprios. É a pessoa humana, ela própria, que é a medida e a fonte do dever. O 
homem é criador dos valores morais, dirige ele próprio a sua conduta. 
 Para Kant a consciência a fonte dos valores. Mas não se trata de uma 
consciência instintiva e sentimental; A Consciência moral para Kant é a própria 
Razão. 
 Assim, a moral de Kant é uma moral racional: a regra da moralidade é 
estabelecida pela razão. Princípio do dever é a pura Razão. A regra da ação não 
é uma lei exterior a que o homem se submete, mas é uma lei que a razão, 
Atividade Legisladora, impõe à sensibilidade. Nestas condições, o homem, no 
ato moral, é ao mesmo tempo, Legislador e Súdito. 
 Todo ser racional possui um valor absoluto. 
 Direito e Moral são instrumentos de controle social que pertencem ao campo 
da ética e que não se excluem. Para Kant, o direito é coercitivo, enquanto a 
moral, é incoercível. 
 
A Teoria Pura do Direito 
 A obra de Hans Kelsen (1881 -1973) é o reflexo de um Homem que lutou 
contra o espírito de sua época e se insurgiu contra a manipulação do Direito 
pelos jogos de interesses políticos, embasado com um forte espírito positivo, 
buscou dissociar o direito de qualquer conotação sociológica ou política para 
compor sua obra. A teoria de Kelsen advém de um período em que o Direito em 
si não servia ao bem das nações ou a libertação dos povos, mas se ajoelhava 
aos pés de ideologias políticas servindo-lhes de fundamento, fundamento este 
que almejava para si o status de verdade absoluta. 
 Diversos doutrinadores se dedicavam a fundar teorias jurídicas para 
fundamentar os mais diversos regimes políticos. Abalado pelo impacto das 
grandes guerras, ele certamente vê nesta “ciência política do Direito” sua causa 
mais próxima, e movido por grande descrença para com a mesma; inicia a 
construção de uma ciência jurídica nova, imparcial, despida de ideologismos, 
destinada tão somente à análise do Direito em sua forma pura, ou seja, uma 
teoria do Direito que se limita à análise do Direito positivo como sendo a 
realidade jurídica. 
 Kelsen cria uma teoria extremamente tecnicista, limitada ao estudo do 
Direito positivo, que não almeja nada além de explicar “aquilo que é” e “como é”, 
sem se perder nos idealismos que pensam como “deveria ser” e que se cuidam 
de analisar o que “viria ser”. É curioso, entretanto, que sua teoria almeje uma 
mudança social no que diz respeito ao objeto e ao conceito da ciência jurídica, e 
se almeja tal mudança está amparado em uma crença idealística de que “se 
fosse assim seria melhor. Opera-se para tanto uma limitação do campo de 
conhecimento das ciências jurídicas visando assegurar a pureza de seu método 
de pesquisa próprio, o que nas palavras de Kelsen (2000): “[…] se propõe a 
garantir um conhecimento apenas dirigido ao Direito e excluir deste 
conhecimento tudo quanto não pertença ao seu objeto, tudo quanto não se possa 
rigorosamente determinar como Direito. Quer isto dizer que ela visa libertar a 
ciência jurídica de todos os elementos que lhe são estanhos. Este é o seu 
princípio metodológico fundamenta” 
 Em síntese para Hans Kelsen o campo da ciência do direito consiste no 
estudo dos fundamentos para a existência de uma ciência pura do direito, livre 
de qualquer conexão com os demais campos do conhecimento, e da real 
necessidade desta pureza como única forma do Direito atingir seu objetivo 
primordial, qual seja a paz social. 
 
A Teoria Tridimensional de Miguel Reale. 
 
É tida como a melhor sistematização da visão culturalista sobre o Direito. Para 
Reale, toda experiência jurídica pressupõe a correlação entre esses três 
elementos: fato, valor e norma. A Teoria tridimensional do Direito de Miguel 
Reale (1910 – 2006), um dos mais conhecidos juristas brasileiros, nos trouxe 
uma nova visão acerca da realidade jurídica, partindo do pressuposto de que o 
direito é compreendido sob três aspectos epistemológicos: fato, valor e norma. 
Contudo, a história nos mostra que nem sempre o direito foi visto sob a 
perspectiva unitária destes três fatores, pois o direito sempre foi visto ou 
analisado diante de um enfoque unilateral de cada um dos três aspectos, de 
forma setorizada. 
 
O elementos: 
O fato vem a ser um acontecimento social que envolve interesses básicos para 
o homem e que por isso se enquadra no conjunto de assuntos regulados pela 
ordem jurídica. Miguel Reale chama a atenção para a distinção existente entre 
as duas acepções que a palavra “fato” comporta na teoria tridimensional: o direito 
como fato histórico-cultural, um fenômeno social e como dimensão do direito. 
Importa distinguir o fato do direito, global e unilateralmente entendido como um 
acontecimento histórico, e quanto ao fato enquanto fator ou dimensão daquela 
experiência. – O fato indica uma circunstância de cada momento no desenrolar 
do processo jurídico. Bem, fato nestas acepções, é tudo aquilo que naquele 
determinado meio do direito, corresponde ao já dado ou ao já posto no meio 
social e que valorativamente se integra na unidade ordenada da norma jurídica, 
dando resultado a dialeticidade dos três fatores. 
 
O valor corresponde ao elemento moral do direito. Se toda obra humana é 
impregnada de valores, igualmente o direito, ele protege e procura realizar 
valores ou bens fundamentais e vida social. 
 
A norma consiste no comportamento ou organização social imposto aos 
indivíduos. 
Ainda de acordo com Miguel Reale, em todo e qualquer fenômeno jurídico há a 
existência de um fato subjacente, sobre o qual incide um valor, que confere 
determinado significado a este fato, determinando a ação dos homens a atingir 
um objetivo, e por fim uma regra ou norma, que tem a finalidade de integrar um 
elemento a outro, por exemplo, o fato ao valor. Assim, sempre que surgir uma 
norma jurídica, ela mede o fato e o valora. 
 
O Direito congrega todos os três elementos, sendo uma integração normativa de 
fatos segundo valores. 
Como um bom exemplo segundo Paulo Nader, diante do disposto no art. 548 do 
CC: “É nula a doação de todos os bens sem reserva de parte, ou renda suficiente 
para a subsistência do doador”. Neste caso, o fato seria a circunstância de 
alguém querer realizar a doação de seus bens a outrem, sem reservar o 
suficiente a sua subsistência. O valor que a lei tutela, no caso, é o valor vida, que 
visa impedir um fato anormal que viria a colocá-lo em perigo. A norma, expressa 
um dever jurídico: não realizar a doação sem reservar parte para a própria 
subsistência.

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