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CRIMINOLOGIA IX TERMINOLOGIAS CRIMINOLÓGICAS E OUTRAS CLASSIFICAÇÕES ESPECIAIS 1 - TERMINOLOGIAS , CLASSIFICAÇÕES E CONSIDERAÇÕES ESPECIAIS 1.1 - TESE DO VOLUME CONSTANTE Trata-se da tese desenvolvida por Guerry e Quetelet, na qual se admite um certo número de crimes na sociedade, desde que haja um controle por parte dos órgãos de Segurança Pública de forma a impedir o seu crescimento desenfreado. 1.2 – DIREITO PENAL SUBTERRÂNEO O nome subterrâneo remonta ao termo “às escuras” ou aquilo que está encobertado, como se fosse algo sujo (esgoto), de tal forma que os integrantes da persecução penal usam de técnicas pouco convencionais para descobrir provas de crimes. São os casos de tortura para que o agente confesse onde está a droga ou, em nível da criminalidade moderna do colarinho-branco, quando são feitas interceptações telefônicas sem autorização judicial ou de pessoas que possuem foro por prerrogativa de função. 1.3 – TEORIA DOS SUBSTITUTIVOS PENAIS DE FERRI Trata-se, na verdade, de uma técnica de prevenção primária dos crimes, de forma a implementar Políticas Públicas na sociedade como forma de frear o cometimento de delitos menores, como furtos, danos e consumo pessoal de drogas. Ferri propõe que para os delinquentes inofensivos são suficientes medidas de caráter pedagógico, como matricular de forma obrigatória em escolas, prestar serviços em igrejas e assistir palestras sobre os efeitos das drogas. 1.4 – LEI TÉRMICA DA CRIMINALIDADE Foi criada pelo matemático Adolphe Quetelet e estuda a influência das estações do ano (verão, primavera, outono e inverno) no cometimento de crimes. Por meio de pesquisas estatísticas, constatou-se que os mais variados crimes estavam relacionados a certas estações climáticas. Por exemplo, no verão, aumentam-se os índices de criminalidade dos crimes contra a pessoa; no inverno, são praticados crimes contra o patrimônio; na primavera, destacam-se os crimes contra a dignidade sexual. 1.5 – LEIS DE IMITAÇÃO O estudioso Jean-Gabriel Tarde constatou que os criminosos cometiam delitos com base no comportamento imitativo, de forma que o crime surge porque os integrantes da sociedade interagem entre si e copiam a conduta alheia. 1.6 – PENOLOGIA É a ciência que estuda o sistema penitenciário, de forma a dar melhor condição de cumprimento da sanção criminal no ambiente carcerário. Foi idealizado por John Howard, com o livro O estado das prisões, em que se defendia um local mais humano na execução penal, uma vez que este já é por natureza um local de difícil convivência. 1..7 – GENÉTICA CRIMINAL Consiste no estudo de fatores hereditários para o surgimento do crime. Foi comprovado cientificamente por Mendel que a transmissão hereditária de genes influencia na propensão ao crime, de tal forma que fatores biológicos, morfológicos e psicológicos são determinantes na prática de crimes. Além das características físicas, herdam-se também características morais, o que pode levar à probabilidade de praticar crimes por parte dos filhos. 1.8 – EXPERIMENTO DE MILGRAM Stanley Milgram fez um experimento que demonstra a influência no comportamento humano perpetrado por uma autoridade em relação à outra subalterna, de forma que, quando uma ordem é dada, a outra pessoa tende a obedecer, pelo simples fato de ser alguém superior ou com suposta experiência ou expertise. Pelo experimento, um Professor, um voluntário e um pesquisado interagiam por meio de uma falsa máquina de choques: ficavam numa sala o Professor e o voluntário; em outra sala, o suposto pesquisado, que teria de responder a algumas perguntas. A cada erro era dado um choque nele, aumentando-se a intensidade dos choques após sucessivos erros, até que se chegasse na voltagem mais elevada e ocorria a falsa morte. Tudo era um teatro feito apenas para testar o poder de convencimento do Professor/Autoridade em relação ao voluntário, que era instruído a dar os choques após cada erro do aluno/pesquisado. O interessante é que a maioria das pessoas que participaram do experimento, após dar o primeiro choque e ver que o pesquisado sofria com isso, não parava de continuar a acionar o botão de choque, pelo simples fato de que o Professor ficava ordenando para continuar. Os estímulos eram dados em quatro níveis, a saber: → Estímulo 1: Por favor, continue. → Estímulo 2: O experimento requer que você continue. → Estímulo 3: É absolutamente essencial que você continue. → Estímulo 4: Você não tem outra escolha a não ser continuar. Caso o voluntário não obedecesse ao estímulo 1, passava-se ao 2, e assim sucessivamente. Constatou-se que a maioria chegava a infligir o choque mais severo e letal apenas porque era ordenada por um Professor a continuar, ainda que estivesse sentindo piedade, o que demonstrou a influência e o poder que autoridades possuem em ordenar condutas até mesmo criminosas. Tal experimento pode ser utilizado para estudar as atrocidades cometidas pelo Nazismo a mando de uma autoridade. 1.9 – CRIMINOLOGIA VERDE É o estudo acerca da responsabilidade penal de pessoas jurídicas por crimes contra o meio ambiente, analisando-se a melhor forma de proteger a biodiversidade. 1.10 – CRIMINOLOGIA CLÍNICA É a ciência que se vale dos conceitos, princípios e métodos de investigação médico psicológicos, ocupando-se do indivíduo condenado, para nele investigar a dinâmica de sua conduta criminosa. Inicialmente, será feito um diagnóstico da personalidade, passando-se na sequência para as perspectivas futuras de voltar ou não a delinquir, o que se chama de prognóstico. Após, com o diagnóstico e prognóstico em mãos, irá propor estratégias de intervenção, com vistas à superação ou contenção de uma possível tendência criminal e a evitar a reincidência, o que se chama de tratamento. 1.11 – VITRIOLAGEM É a ação de lançar ácido sulfúrico na face de alguém com o fim de desfigurar o seu rosto, ocasionando-lhe lesões permanentes. 1.12 – TIPOLOGIA DE SHELDON Consiste na classificação de criminosos por meio da análise de traços físicos, intelectuais e emocionais. A classificação de Sheldon foi dividida em três marcantes: O endomorfo constitui o indivíduo de estrutura corporal adiposa ou gorda. É alguém alegre, brincalhão e sociável. Não é propenso ao crime. O mesomorfo é o indivíduo com estrutura óssea e muscular, sendo ágil, enérgico e esbelto. Propenso a crimes violentos. Por fim, o ectomorfo é o indivíduo pacato, introvertido e calculista, em que predomina a função cerebral. Destaca-se pelo cometimento de crimes de corrupção. 1.13 – TESTE DE RORSCHACH Também chamado de “Teste do Borrão de Tinta”, consiste em apresentar para o examinando dez pranchas com manchas de tinta simétrica; as respostas dadas para formatar o comportamento psicológico do indivíduo, de forma a aquilatar a sua personalidade com base na afetividade, no humor, na inteligência e nos traços neuróticos. 1..14 – ABULOMANIA Distúrbio psicológico decorrente da abulia, em que o indivíduo não possui vontade própria e sempre faz aquilo que outro determina em razão da incapacidade de tomar decisões. Trata-se de um comportamento altamente influenciável e com pouca ou nenhuma vontade própria; e tal tipo de pessoa comete crime por interferência alheia, por exemplo, partícipes e coautores. 1.15 - TEORIA DE MASLOW Tal teoria preleciona que as necessidades dos seres humanos obedecem a certa hierarquia, de forma que quando se alcança um nível quer se subir ao próximo, ou seja, quando o agente realiza uma meta cultural ele passa a ter outra mais elevada, e assim sucessivamente. Trazendo esse comparativo para o surgimento do crime, quando a pessoa começa a ter metas culturais elevadas e não dispõe de meios para alcançá-las, ela escolhe caminhos mais curtos (prática de crimes) para chegar ao nível mais elevado. 1.16 – SÍNDROME DE PETER PAN São pessoas imaturas e que não conseguem respeitar as normas sociais por motivo de rebeldia, agindo como se fossem crianças ou adolescentes que nunca crescem, daí surgindo o nome “Peter Pan” em alusão à história do menino que nunca crescia e vivia na “Terra do Nunca”. Os crimespraticados por esses indivíduos são pichações, danos a patrimônio, uso de drogas, lesões corporais em boates e corrida (“racha”) automobilística nas ruas da cidade. 1.17 – SÍNDROME DE ALICE NO PAÍS DAS MARAVILHAS Também conhecida como “Direito Penal da Fantasia”, tal síndrome relaciona-se com aquelas pessoas que não aceitam um Direito Penal mais enérgico e que combata de forma mais contundente a criminalidade moderna. São pessoas que vivem no mundo da fantasia e que acham que não existem organizações criminosas, pessoas más, agentes profissionais voltados para o crime e outros tipos de criminosos extremamente perigosos, como os terroristas. 1.18 – PSICOPATIA Deve ser ressaltado que não se trata de uma doença, ou seja, não gera a imputação de uma medida de segurança. Constitui um transtorno da personalidade caracterizado pelo comportamento impulsivo do indivíduo afetado, sendo assim ele não respeita as normas sociais e é indiferente aos direitos e aos sentimentos alheios. 1.19 – COMPLEXO DE ÉDIPO Trata-se da obsessão do filho em relação à mãe como uma forma de paixão cega por aquela pessoa que o gerou. 1.20 – COMPLEXO DE ELECTRA Ao contrário do complexo de Édipo, neste é a filha que se apaixona pelo pai e passa a nutrir ódio pela mãe, pois esta divide a atenção do pai com ela. 1.21 – LUDOPATIA Trata-se da doença do jogo. O chamado ludopata é alguém que não consegue ficar longe da jogatina, ainda que isso cause o seu prejuízo financeiro, falência nas relações familiares e distanciamento de todas as pessoas do seu convívio social. 1.22 – ONEOMANIA Caracteriza-se pela compulsão no consumo de bens materiais. Trata-se de uma doença obsessivo-compulsiva em que a pessoa somente se sente aliviada quando compra algo, caso contrário, ela fica tomada por sentimento de frustração, vazio e depressão. 1.23 – STALKING Trata-se de algo muito comum nos dias de hoje, em que cada vez mais as pessoas filiam se a redes sociais e o acesso à sua vida privada torna-se cada vez mais fácil. Ou aquela pessoa que age com violência moral e invade a privacidade alheia, por meio de mensagens amorosas por telefone (SMS, whatsapp etc.), e-mail, postagens em redes sociais, envio de presentes não desejados, frequência dos mesmos lugares que a vítima vai, tudo de forma incessante e repetitiva, causando-lhe constrangimento. 1..24 – EFEITO LÚCIFER Trata-se de um sentimento que acomete indivíduos em momentos de estresse psicológico ou físico causado por certas situações sociais extremas, a ponto de aflorar um instinto de sadismo e crueldade por meio de atos atrozes, podendo gerar lesões corporais e até mesmo homicídios. 1.25 – TEORIA DE COHEN Albert Cohen foi o autor da famosa obra Delinquent boys, em que estudou a figura da subcultura delinquente, já citada alhures, quando pessoas que foram excluídas socialmente se reúnem e formam uma associação diferencial, instituindo-se modos de pensar próprios e que usam da violência contra o sistema para serem respeitados. 1.26 – HOT SPOTS No jargão popular, seriam as chamadas zonas quentes de criminalidade ou áreas de concentração da delinquência. 1.27 – SLUMS A palavra de origem inglesa significa bairro pobre, onde há grande concentração de pessoas. 1..28 - THREE STRIKES AND YOU’RE OUT Traduzindo para o português, a expressão significaria “Três chances e você está fora”. Com nítida influência da chamada Escola de Chicago, a chamada teoria do “three strikes and you are out” se vale da expressão vinculada ao beisebol, esporte popular nos Estados Unidos. É que nesse esporte, quando um jogador comete sua terceira falha dentro do mesmo jogo, ele é eliminado. Para Christiano Gonzaga: Essa lógica, de acordo com a doutrina criminalista ora analisada, deve ser trazida para o direito penal visando à efetiva prevenção à prática do crime. Sob essa ótica, todo agente mereceria três chances antes de ser punido de forma mais severa por uma infração penal que tenha praticado. Caso ele fizesse as três faltas consecutivas, o que equivaleria a três condutas criminosas, não haveria nenhum benefício em sua execução penal. 1.29 – TICKING TIME BOMB SCENARIO A teoria do cenário da bomba-relógio: Os fundamentos de tal teoria podem ser resgatados do pensamento utilitarista de Jeremy Bentham, em que se relativizam vários princípios em prol de algo mais útil para a sociedade, em que pese o aspecto moral seja desconsiderado. Trata-se de um exemplo de laboratório, em que se supõe que um terrorista esteja nas mãos das autoridades e ele sabe onde está uma bomba que está prestes a ser ativada e matar milhares de pessoas. A indagação é se a tortura é cabível diante desse cenário, tendo em vista que o seu uso vai permitir a manutenção da vida de várias pessoas. Pelo que se percebe, é uma relativização da proibição da tortura, com base no princípio da proporcionalidade de que é melhor prejudicar uma pessoa em benefício de uma coletividade. 1.30 – SÍNDROME DE ESTOCOLMO Trata-se de uma síndrome em que a vítima passa a nutrir certa afeição pelo sequestrador por motivo de sobrevivência. Em razão de estar cerceada na sua liberdade e de apenas ter o convívio do sequestrador, a vítima somente tem uma saída que é relacionar-se de forma afetuosa com ele, tentando dessa forma obter a sua compaixão. Síndrome de Londres: Ao contrário da síndrome tratada anteriormente, na chamada síndrome de Londres a vítima passa a nutrir certo ódio pelos seus algozes, gerando uma antipatia e, consequentemente, até mesmo a sua morte. 1..31 – SÍNDROME DE LIMA Ao contrário da síndrome de Estocolmo, os reféns tornam-se simpáticos aos olhos de seus raptores, que acabam por sucumbir aos seus desejos e necessidades. É possível que essa reação obedeça ao sentimento de culpa e à indecisão moral dos sequestradores. 1.32 – SÍNDROME DE OSLO Nesse tipo de síndrome, ao contrário das demais, as vítimas passam a acreditar que são merecedoras das agressões morais e físicas que estão sofrendo, em razão de alguma conduta pretérita por parte delas. Ocorre muito em situações de violência doméstica quando a mulher assume para o marido que merecia sofrer as lesões perpetradas por ele, mas isso apenas com o intuito de fazer com que ele cesse imediatamente as agressões e pareça ter razão acerca dos fatos que originaram o episódio.