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TEORIA E FUNDAMENTOS DO ATLETISMO ESCOLAR Jefferson Verbena de Freitas E d u ca çã o T E O R IA E F U N D A M E N T O S D O A T L E T IS M O E S C O L A R Je ffe rs on V er b en a d e Fr ei ta s Nesta obra, abordaremos os principais tópicos sobre o atletismo. Os conteúdos estão divididos da seguinte maneira: no capítulo 1 e 2, apresentamos um pouco da história da modalidade, até chegar na atualidade – nos níveis nacionais e internacionais; demonstramos as provas oficiais e suas instalações no atletismo, em conjunto com as regras oficiais da modalidade. Nos capítulos 3, 4, 5, 6 e 7 debatemos sobre os aspectos metodológicos, técnicos e táticos das principais provas no atletismo. Já no capítulo 8, veremos que o despertar do interesse pela prática do atletismo acontece por meio de atividades inovadoras às crianças, para que se descubram nas atividades básicas. No capítulo 9, aprendemos que o atletismo paraolímpico é praticado por atletas com deficiência (física ou visual) divididos em grupos de acordo com o grau de deficiência. E no capítulo 10 veremos como ocorrem os eventos esportivos, as competições e o papel do gestor em sua organização. Assim, desejamos-lhe uma boa sorte nessa jornada e que os conhecimentos adquiridos possam servir positivamente para sua carreira profissional. Curitiba 2021 Teoria e Fundamentos do Atletismo Escolar Jefferson Verbena de Freitas Ficha Catalográfica elaborada pela Editora Fael. F866t Freitas, Jefferson Verbena de Teoria e fundamentos do atletismo escolar / Jefferson Verbena de Freitas. – Curitiba: Fael, 2021. 278 p. ISBN 978-65-86557-87-9 1. Atletismo 2. Atletismo – Estudo e ensino II. Título CDD 796.4 Direitos desta edição reservados à Fael. É proibida a reprodução total ou parcial desta obra sem autorização expressa da Fael. FAEL Direção Acadêmica Francisco Carlos Sardo Coordenação Editorial Angela Krainski Dallabona Revisão Editora Coletânea Projeto Gráfico Sandro Niemicz Imagem da Capa Stock.adobe.com/Sergey Novikov Arte-Final Editora Coletânea Sumário Carta ao Aluno | 5 1. Introdução ao atletismo na escola | 7 2. Origem e evolução do atletismo | 31 3. As corridas rasas de velocidade | 55 4. Técnica de corrida | 81 5. Corridas de resistência e marcha atlética | 109 6. Saltos horizontais | 137 7. Saltos verticais | 159 8. Arremesso de peso e lançamento de dardo | 185 9. Lançamento de disco e lançamento de martelo | 209 10. Atividades de Atletismo para escola | 231 Gabarito | 257 Referências | 271 Prezado(a) aluno(a), Esta obra tem como objetivo apresentar algumas possibi- lidades de trabalho para proporcionar o aprendizado e a vivên- cia do atletismo por crianças e adolescentes em idade escolar. A vivência dessa modalidade deve estar presente de forma com- plementar no âmbito da Educação Física escolar, sendo con- templada dentro do planejamento do professor e, consequente- mente, na formação dos alunos, tendo como premissa-base os inúmeros benefícios que o atletismo pode proporcionar para cada um dos envolvidos no processo do ensino da modalidade. Esta obra deve ser entendida como uma proposta de construção e aplicação, considerando o ponto de vista dos professores, dos alunos em relação à demanda, seu conhecimento e experiências Carta ao Aluno – 6 – Teoria e Fundamentos do Atletismo Escolar prévias, e também as condições reais presentes. Nesse sentido, deve ser lido e sobretudo utilizado pelos alunos e futuros professores como um documento orientador para o estudo do atletismo na escola. Deve ser considerado um documento inacabado, encontrando-se continuamente em construção e atualização de acordo com a evolução do ensino e apren- dizagem da modalidade. 1 Introdução ao atletismo na escola A discussão que envolve a disciplina da Educação Física está sempre presente em congressos, fóruns, mesas-redondas; no entanto, o enfoque tem sido a metodologia a ser abordada no ambiente escolar. Com isso, vários pensamentos e abordagens surgiram e foram propostas ao longo do tempo, embasadas nas mais variadas matrizes, com o objetivo de chegar a um denomi- nador comum sobre os objetivos e a metodologia para sua execu- ção na escola (MATTHIESEN, 2014). No entanto há muito ainda a evoluir nesse sentido, principalmente no que norteia seu papel, sua importância e seus valores no âmbito escolar. Teoria e Fundamentos do Atletismo Escolar – 8 – Os conteúdos que abordam a Educação Física são os mais diversos, voltados principalmente para a cultura corporal (esporte, jogo, dança etc.) a serem colocados no planejamento e, posteriormente, incluídos nas aulas. A Base Nacional Comum Curricular (BNCC) traz que a Educação Física é o componente curricular que tematiza as práticas corporais em suas diversas formas de codificação e significação social, entendidas como manifestações das possibilidades expressivas dos sujeitos, produzidas por diversos grupos sociais no decorrer da história. Nas aulas, as práticas corporais devem ser abordadas como fenômeno cultural dinâmico, diver- sificado, pluridimensional, singular e contraditório. No seu mais novo documento, ela engloba o atletismo como esporte de “marca”, sendo o conjunto de modalidades que se caracterizam por comparar os resultados registrados em segundos, metros ou quilos (patinação de velocidade, todas as provas do atletismo, remo, ciclismo, levantamento de peso etc.). A BNCC orienta que a modalidade deve ser contemplada no 1° e 2° ano, com objetivos de experimentar e fruir, prezando pelo trabalho cole- tivo e pelo protagonismo, a prática de esportes de marca e de precisão, identificando os elementos comuns a esses esportes e discutindo a impor- tância da observação das normas e das regras dos esportes de marca e de precisão, para assegurar a integridade do indivíduo e dos demais partici- pantes. Mais tarde, para os anos finais do Ensino Fundamental, ela volta a aparecer para o 6° e 7° ano, com os objetivos anteriores, de experimentar e fruir da modalidade valorizando o trabalho coletivo e o protagonismo, e para analisar as transformações na organização e na prática dos espor- tes em suas diferentes manifestações (profissional e comunitário/lazer). Já no Ensino Médio, a Educação Física passa a ser englobada na área de Linguagem e suas Tecnologias e se torna facultativa, porém não menos importante. Ela possibilita aos estudantes explorar o movimento e a ges- tualidade em práticas corporais de diferentes grupos culturais e analisar os discursos e os valores associados a elas, bem como os processos de negociação de sentidos que estão em jogo na sua apreciação e produção (BCNN, 2018). Nesse sentido, estimula o desenvolvimento da curiosidade intelectual, da pesquisa e da capacidade de argumentação. Sendo assim, o atletismo cumpre com os pressupostos acima e deve ser comtemplado como conteúdo para o Ensino Médio. – 9 – Introdução ao atletismo na escola Podemos afirmar que a prática escolar é também um reflexo do esporte fora dela, a influência da cultura da sociedade perante a valori- zação de cada modalidade é refletida na preferência dos alunos, influen- ciando muitas vezes a abordagem de cada uma delas no âmbito escolar, e isso inclui o atletismo. Apesar de ser uma modalidade milenar, amplamente difundida e reconhecida em nível mundial, principalmente quando se trata de Jogos Olímpicos (quando se reforça a ideia de sua importância por ser uma das modalidades com maior procura de compra de ingressos pelos espectado- res, e também com os maiores preços) , e por ser conhecida como a base para todas as demais, ainda há muito o que estudar, aprender e ensinar sobre o atletismo nas suas mais variadas dimensões (escolar, formação esportiva, treinamento). Esses apontamentos reforçam o fato de o atletismo ser considerado uma modalidade esportiva tradicional na Educação Física, ainda que não seja praticado por crianças e jovens tanto quanto deveria. É fatoque a maioria das escolas e clubes não possui material com qualidade aceitável para o ensino do atletismo – não há barreiras de iniciação, colchões nem caixas de salto em condições de uso, assim como não há material para ini- ciar o ensino dos lançamentos. Isso tudo dificulta, limita, e é comumente tido pelos professores como um fator para o não ensino da modalidade, além também do não interesse por parte de alunos (MATTHIESEN, 2007). No entanto, será mesmo que não é possível fazer adaptações de forma a tornar acessível e motivador aos alunos o ensino da modalidade? A partir deste princípio, a elaboração desta obra buscar apresentar a modalidade, de forma a formalizar um roteiro para a abordagem das mais variadas provas do atletismo. Na literatura brasileira, ainda são escassos os materiais especializados que abordem o ensino desse esporte, levando em consideração a realidade de nossas escolas. Existem bibliografias interna- cionais, no entanto, elas não preveem as dificuldades espaciais e materiais que encontramos por aqui. Até por isso pode-se justificar a pouca inserção do atletismo no planejamento dos professores como conteúdo de suas aulas. O ensino do atletismo nas escolas brasileiras ainda é muito pouco exposto na literatura, o que dificulta entender o modelo que vem sendo utili- Teoria e Fundamentos do Atletismo Escolar – 10 – zado pelos professores no processo de ensino e aprendizagem da modalidade. Por outro lado, mesmo que de forma não muito segmentada, é conhecida a utilização da modalidade dentro dos conteúdos adotados pelos profissionais. O atletismo tem como característica trabalhar as habilidades naturais do ser humano, como correr, saltar e lançar (CBAT, 2003). Segundo o Comitê Olímpico Internacional (COI), em frase que reporta a importância do atletismo para o meio olímpico: “É possível fazer-se uma Olimpíada só com provas de atletismo; porém é impossível com todos os outros despor- tos, sem o atletismo” (CBAT, 1989). De acordo com a Associação Internacional de Federações de Atle- tismo (World Athletics), os eventos dessa modalidade, que resultam diretamente dos padrões motores originais de correr, saltar e lançar, são as competições mais antigas da humanidade. O sucesso em provas tão diversas é determinado também por um conjunto diverso de capacida- des físicas, como: estatura, comprimento de membros, força, capacidade aeróbia, potência e velocidade articulados com aspectos técnicos espe- cíficos de cada prova (O’CONNOR; MAUGHAN; OLDS, 2007; BEN- -ZAKEN; ELIAKIM; MECKEL; NEMET, 2015). Além disso o atletismo pode proporcionar a formação adequada, como é preconizado na literatura (BÖHME, 2000; BOMPA, 2000; DE FREITAS, 2020; FILIN, 1996). Segundo as normas da Confederação Brasileira de Atletismo (Cbat, 2017), existem seis categorias oficiais na modalidade (sub-16, sub-18, sub-20, sub-23, adultos e másters). Ainda segundo a Cbat (2017), a moda- lidade pode, também, ser dividida por grupos de provas: saltos (salto em distância, salto triplo, salto em altura e salto com vara); lançamentos (dardo, disco, martelo e arremesso do peso); velocidade (provas rasas, ou seja, sem barreiras; 100 m, 200 m, 400 m, 4x100 m e 4x400 m e prova com barreiras, 100 m feminino, 110 m masculino, 400 m para ambos os gêneros); resistência (800 m, 1.500 m, 3.000 m com obstáculo, 5.000 m, 10.000 m, maratona, marcha atlética) e combinadas (heptatlo e decatlo). Todas essas para categorias adultas, para idades escolares iremos especi- ficar nos capítulos destinados a elas. Na realização dessas provas com efi- ciência, destacam-se o vigor físico necessário para tal execução. A potên- cia muscular, a resistência cardiovascular e a respiratória destacam-se como fatores que determinam o melhor desempenho e permitem rápida – 11 – Introdução ao atletismo na escola recuperação depois ou entre os esforços do treinamento e da competição (MORALES et al., 2011). Como referência para o desempenho dos atle- tas, a modalidade traz a distância alcançada e o tempo necessário para realização de uma prova como pontos que determinam o resultado final. Deste modo, a premissa da modalidade vai além de superar adversários, os atletas competem com eles mesmos em busca de superar suas próprias marcas (DE FREITAS et al., 2020). Já no atletismo paraolímpico, ou para-atletismo, os competidores são divididos em classes esportivas de acordo com a funcionalidade na prática esportiva para atletas com deficiência física e acuidade visual para atle- tas com deficiência visual. Os que disputam provas de pista (velocidade, meio-fundo, fundo e saltos) e de rua (maratona), levam a letra T (de track) em sua classe (T11 a T13 – deficientes visuais; T20 – deficientes intelec- tuais; T31 a T38 – paralisados cerebrais; T40 e T41 – anões; T42 a T44 – Deficiência nos membros inferiores; T45 a T47 – deficiência nos mem- bros superiores; T51 a T54 – competem em cadeiras de rodas; T61 a T64 – amputados de membros inferiores com próteses). Já os atletas que fazem provas de campo (arremessos, lançamentos) são identificados com a letra F (field) na classificação (F11 a F13 – deficientes visuais; F20 – deficientes intelectuais; F31 a F38 – paralisados cerebrais; F20 – deficientes inte- lectuais; F31 a F38 – paralisados cerebrais; F40 a F41 – anões). Para os atletas com deficiência visual, as regras de utilização de atletas-guia e de apoio variam de acordo com a classe funcional. Nas provas de 5.000 m, de 10.000 m e na maratona, os atletas das classes T11 e T12 podem ser auxi- liados por até dois atletas-guia durante o percurso (a troca é feita durante a disputa). No caso de pódio, o atleta-guia que terminar a prova recebe medalha. Há, também, situações específicas em que um guia que não está inscrito inicialmente em determinada prova tenha de correr. Neste cenário, ele não recebe medalha caso suba ao pódio (CPB, 2021). Quando se pensa na essência de correr, saltar e lançar, nota-se que há uma simplicidade que abrange a modalidade em si, principalmente no âmbito do desporto escolar em relação ao rendimento profissional. Além disso, o ensino e a aprendizagem do atletismo proporcionam, dentre outros benefícios, o desenvolvimento motor, a diversão, o sucesso, a frustração, enfim, conhecer limites e descobrir novos desafios. Mesmo com todas Teoria e Fundamentos do Atletismo Escolar – 12 – essas evidentes vantagens que a modalidade proporciona, não vemos a sua utilização com peso na Educação Física escolar perante outros espor- tes (CARDOSO, 2004). O ensino do atletismo como esporte de rendimento não é uma tarefa muito simples devido às características que envolvem a modalidade, como citado anteriormente, e a quantidades de provas presentes. As habilidades necessárias para correr uma prova de velocidade são bem diferentes do que se precisa para realizar um arremesso do peso. O mesmo podemos dizer das diferenças existentes entre uma prova de salto em altura e o lançamento do martelo, ou das necessidades fisiológicas para um bom desempenho nas provas de resistência e de salto com vara ou lançamento de dardo. No entanto, para trabalhar a modalidade dentro da escola, há maneiras muito eficientes e simples para o seu desenvolvimento geral. O aprendizado básico de suas técnicas e o desenvolvimento das capacidades físicas e cognitivas que envolvem a modalidade já comtemplam os objeti- vos de sua abordagem dentro do ambiente escolar. Para isso, recomenda-se uma formação geral, aquela na qual todas as crianças experimentam e vivenciam cada uma das provas existentes, dentro do limite possível de fazer, de acordo com a realidade de cada um. O grande número de repertório motor que envolve ter a experiência de conhecer e experimentar o máximo delas vai fazer com que o aluno adquira um arcabouço motor elevado, que vai ser utilizado em qualquer uma das provas que ele venha a seguir posteriormente, em outras modali- dades, caso ele mude de esporte, e também nas atividades doseu dia a dia. No entanto, por ser um conteúdo muito amplo, torna-se um desafio ao professor de Educação Física devido à pouca carga horária que envolve a disciplina. Sendo assim, exige criatividade e capacidade de improvi- sação do profissional para conseguir associar alguns elementos e provas no decorrer da aplicação do conteúdo, por exemplo, as provas de veloci- dade com os saltos horizontais, uma vez que a corrida de aproximação do salto em distância e triplo são bem semelhantes à corrida dos 100 m, do lançamento de disco e do arremesso do peso (técnica Barischnikov) que utilizam o giro como parte inicial de preparação para execução do movi- mento posterior. Outra possibilidade, bem interessante, são os projetos de extensão extracurriculares, que poderiam ser um complemento para o – 13 – Introdução ao atletismo na escola ensinamento da modalidade. Mais à frente, nos capítulos destinados às provas, iremos falar mais sobre isso. 1.1 Nós, professores A formação profissional dos professores que ministram aulas de Edu- cação Física na escola também é um fator que contribui para a pouca uti- lização do atletismo enquanto conteúdo para as aulas, pois, em muitos currículos, a disciplina é ministrada em apenas um semestre, com carga horária baixa, o que faz com que todos os conteúdos que competem à modalidade não sejam contemplados, deixando assim o aluno em forma- ção com uma deficiência para ministrar o atletismo posteriormente. O professor deve ser capacitado para entender toda a importância que envolve o ensino do atletismo na escola, tudo que a modalidade fornece de desenvolvimento para seus alunos por faixa etária, e entender que, para aplicar o conteúdo, não é necessário um conhecimento aprofundado do treinamento da modalidade em si, nem uma vasta quantidade de materiais (oficiais) ou espaço adequado (pista), principalmente porque a modalidade permite construir materiais alternativos que irão comtemplar o aprendi- zado por parte dos alunos. Assim, é desmistificada a condição normalmente imposta pelos profissionais, da dificuldade que é ministrar o atletismo dentro da escola devido a esses fatores citados anteriormente. Além disso, cabe ao professor preparar e aplicar as aulas de maneira lúdica, motivacional e que promova o interesse dos alunos. Vale ressaltar que as aulas não devem contemplar somente a execução das atividades físicas; a utilização, por exemplo, da sala de aula com utilização de recursos visuais é uma excelente alterna- tiva para atender as situações anteriormente descritas. Lembrando que, na grande maioria dos casos, os alunos não conhecem todo o contexto que envolve a modalidade, sempre acreditam que trata-se de “só correr”, o que à primeira vista é algo não motivador para a prática, e que influencia dire- tamente as atitudes iniciais desses alunos de quererem aprender o esporte. Dessa forma, o professor assume o papel fundamental de desper- tar o interesse do aluno, promover o aprendizado básico que envolve as diversas provas do atletismo, sendo fundamental identificar as dificulda- Teoria e Fundamentos do Atletismo Escolar – 14 – des de cada aluno, entender as limitações motoras e sociais que podem estar presentes, propor situações para facilitar o aprendizado com geração de estímulos para promover situações novas e básicas. Sendo assim, ao identificar situações de deficiência e dificuldades na aprendizagem, é pre- ferível que o professor retroceda no processo de ensino das habilidades do que introduza novas situações específicas sem solidificar a básica. Para isso, o conhecimento básico de crescimento e desenvolvimento por parte dos profissionais é fundamental para esse entendimento e para propor soluções dentro da capacidade de desenvolvimento de cada um. Os alunos devem aprender sobre a história da modalidade, como ela foi inserida em nosso país, quem são os atletas de maior destaque, além de vivenciarem as diversas provas presentes dentro desse esporte. 1.2 O aluno Os alunos são o principal componente de tudo que estamos falando até o momento, são eles os protagonistas de todo o sistema educacional. Temos sempre que lembrar que uma mesma turma é formada por um corpo heterogêneo, com inúmeras diferenças entre eles. Se as individualidades biológicas fazem com que as diferenças entre os alunos sejam, por vezes, enormes e visíveis a olho nu, elas são expo- nenciais quando observadas no plano cognitivo e psicológico. Essas dife- renças têm, obviamente, reflexos no plano das práticas dos alunos e dos seus comportamentos perante as matérias. Por outro lado, as diferenças também colocam diante do professor maiores desafios e dificuldades em nível do planejamento, da estruturação e da organização das diferentes unidades didáticas. Quando se trata da dicotomia de gênero masculino/feminino obser- vada em cada turma, o educador exerce um papel importante no decorrer das atividades. Cabe a ele propor atividades que envolvam ambos, sem que haja separação. Mesmo que, a partir das séries finais do Ensino Fun- damental, o processo da puberdade comece a acentuar as diferenças físi- cas, a busca pela inclusão na atividade sem a necessidade de divisão por gênero é fator importante nesse processo. – 15 – Introdução ao atletismo na escola Ainda no plano motor, para além das diferenças à partida apresenta- das pelos alunos, reflexo, na maior parte dos casos, das reduzidas vivên- cias anteriores em termos de atividades físicas e desportivas (fruto, por exemplo, da ausência de Educação Física no 1º ciclo do Ensino Básico), temos que levar em consideração o processo da puberdade, que por si só introduz grandes desafios para professores e para os próprios alunos (ROLIM; GARCIA, 2012). Sendo assim, entramos no mérito da maturação biológica, que é des- crita por Malina et al. (2004) como um processo de desenvolvimento até que se atinja o estado maduro, capacitando o organismo a progredir para níveis mais elevados de funcionamento e que varia de acordo com o sis- tema biológico considerado. É geralmente observada em dois contextos: o timing e o tempo. O timing refere-se à ocorrência de um determinado evento maturacional (menarca, espermarca, início do desenvolvimento das mamas, aparecimento de pelos pubianos e idade do pico de cresci- mento, entre outros), e o tempo refere-se à taxa com a qual progride a maturação (velocidade em que ocorre a passagem do estágio inicial da maturação sexual para o estágio maduro). Sabe-se que, durante a ado- lescência, a maturação varia consideravelmente entre indivíduos com a mesma idade cronológica e que os efeitos da maturação sobre a atividade motora variam em relação ao gênero (Lloyd et al., 2014). Além disso, Malina et al. (2009) define o crescimento como sendo o aumento do tamanho do corpo como um todo ou tamanho atingido por partes específicas. Este crescimento provoca muitas alterações que são resultadas de três processos celulares: 1. Aumento no número celular, ou hiperplasia; 2. Aumento do tamanho celular, ou hipertrofia; e 3. Aumento em substâncias intercelulares, ou agregação. A maturação pode ser avaliada por alguns métodos, como: sexual, idade óssea e somática. A maturação sexual (TANNER, 1962), apesar de ter um custo baixo, exige que um perito (médico) faça a avaliação, ou que os próprios jovens se autoavaliem, com a utilização de figuras que indicam em qual dos cinco estágios eles se encontram, o que pode causar algum tipo de constrangimento e/ou a invasão de privacidade ao avaliado. A maturação esquelética é indicada como padrão ouro de avaliação do estágio biológico, e se baseia em avaliar, por meio de imagens radio- Teoria e Fundamentos do Atletismo Escolar – 16 – gráficas, o aparecimento dos centros de ossificação (STRATTON et al., 2004; BAXTER-JONES; EISENMANN; SHERAR, 2005). Contudo, seu alto custo, a dificuldade de encontrar um local devidamente apropriado e a existência de poucos peritos para a análise das imagens dificultam a utilizaçãodeste método. O percentual da estatura adulta predita (% EMP) é um método simples, não invasivo, de baixo custo e sem prejuízos físicos e psicológicos (para os avaliados) para avaliação do estágio maturacio- nal (MALINA et al., 2007; FIGUEIREDO, 2007; CASTRO, 2014; DE FREITAS, 2015; CRUZ, 2015). Além disto, sua fidedignidade científica também tem sido reportada na literatura. Para essa metodologia, são uti- lizadas equações que predizem, a partir de medidas antropométricas sim- ples, a estatura do indivíduo quando adulto, podendo assim transformar a estatura atual no percentual da estatura adulta (MALINA et al., 2007; FIGUEIREDO, 2007). A idade cronológica, que é calculada como um único ponto de tempo a partir da data de nascimento, tem sido tradicionalmente usada nos espor- tes para agrupar equipes de classificação por idade, identificar atletas talentosos e definir limites para a prescrição de exercícios. No entanto, a literatura tem demonstrado claramente que indivíduos da mesma idade cronológica podem diferir marcadamente no que diz respeito à maturidade biológica. A maturação biológica refere-se ao progresso em direção a um estado maduro, varia em tempo e ritmo e entre diferentes sistemas corpo- rais. A variação interindividual significativa existe para nível (magnitude da mudança), tempo (início da mudança) e ritmo (taxa de mudança) da maturação biológica. Dependendo dessas variáveis, as crianças serão vis- tas como biologicamente à frente de sua idade cronológica (indivíduo em maturação precoce) (LLOYD et al., 2014). Pesquisadores pediátricos e médicos observaram a importância de considerar a maturação biológica para desenvolver programas de treina- mento apropriados para otimizar a adaptação ao treinamento e minimizar o risco de lesões relacionadas à atividade (GABBETT et al., 2008; LLOYD; OLIVER, 2012) e, por que não, para os professores também usarem essa variável em suas aulas de Educação Física e entenderem que as limitações das capacidades físicas de seus alunos naquele momento podem ocorrer em função do período maturacional no qual eles se encontram. – 17 – Introdução ao atletismo na escola Assim, após o entendimento da importância de conhecer os alunos, como é possível trabalhar o desenvolvimento das capacidades físicas de acordo com a idade cronológica (idade em anos) e a idade biológica (período maturacional em que se encontra)? Podemos utilizar o Modelo de Desenvolvimento para Jovens pro- posto por Lloyd e Oliver (2012), em que eles sugerem o desenvolvi- mento dessas capacidades físicas a partir do que conhecemos como “janelas de oportunidade” críticas durante os anos de desenvolvimento, quando crianças e adolescentes são mais sensíveis à adaptação indu- zida por treinamento (BALYI; HAMILTON, 2004). O modelo também afirma que o não uso dessas janelas resultará na limitação do futuro potencial atlético. As janelas de oportunidade são períodos mais sensíveis para o desenvolvimento de determinada variável, ou seja, aquela fase em que a criança ou adolescente está mais propício para desenvolver, de forma mais veloz, determinada capacidade física em relação a outros momen- tos. Isso vai depender da idade cronológica, da idade biológica e do gênero daquele jovem no momento. Podemos entender melhor essa questão no modelo proposto abaixo – vale ressaltar que isso se aplica de maneira geral ao crescimento e desenvolvimento das pessoas, e que podemos utilizá-lo, então, para levar para a prática o que nos interessa, de acordo com as características necessárias para aquela modalidade, associando ao desenvolvimento do jovem para o atletismo. Como já vimos anteriormente, o atletismo, no seu processo, requer capacidades físicas como velocidade, força nos membros superiores e inferiores, potência, coordenação motora, resistência cardiovascular, ou seja, demanda a grande maioria das valências físicas, o que requer um desenvolvimento geral dessas capacidades e difere o atletismo de outras modalidades. Quando analisamos o modelo proposto, notamos em uma primeira impressão a diferença entre os homens (figura 1.1) e as mulheres (figura 1.2), sendo o processo da mulher mais adiantado que os dos homens em idade cronológica, isso se explica pelo fato das meninas iniciarem sua puberdade mais cedo do que os meninos. Teoria e Fundamentos do Atletismo Escolar – 18 – Figura 1.1 – O modelo de desenvolvimento para jovens homens M od el o de d es en vo lv im en to d e Jo ve ns d o G ên er o M as cu lin o Id ad e C ro no ló gi ca 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 + Pe río do s de Id ad e Pr im ei ra In fâ nc ia M ei a In fâ nc ia A do le sc en te A du lto St at us M at ur ac io na l Id ad e Pr é PV C PV C Id ad e Pó s P V C C ap ac id ad es Fí si ca s FM S FM S FM S FM S SS S SS S SS S SS S Fo rç a Fo rç a Fo rç a Fo rç a Po tê nc ia Po tê nc ia Po tê nc ia Po tê nc ia Ve lo ci da de Ve lo ci da de Ve lo ci da de Ve lo ci da de R es is tê nc ia R es is tê nc ia R es is tê nc ia R es is tê nc ia O ta m an ho d a fo nt e se re fe re à im po rtâ nc ia ; c ai xa s a zu is c la ra s r ef er em -s e a pe río do s p ré -a do le sc en te s d e ad ap ta çã o, a s ca ix as e m a zu l e sc ur o re fe re m -s e a pe río do s d e ad ap ta çã o da a do le sc ên ci a. P V C = p ic o ve lo ci da de d e cr es ci m en to Fonte: elaborada pelo autor a partir de Lloyd e Oliver (2012). – 19 – Introdução ao atletismo na escola Figura 1.2 – O modelo de desenvolvimento para jovens mulheres M od el o de d es en vo lv im en to d e Jo ve ns d o G ên er o Fe m in in o Id ad e C ro no ló gi ca 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 + Pe río do s de Id ad e Pr im ei ra In fâ nc ia M ei a In fâ nc ia A do le sc en te A du lto St at us M at ur ac io na l Id ad e Pr é PV C PV C Id ad e Pó s P V C C ap ac id ad es Fí si ca s FM S FM S FM S FM S SS S SS S SS S SS S Fo rç a Fo rç a Fo rç a Fo rç a Po tê nc ia Po tê nc ia Po tê nc ia Po tê nc ia Ve lo ci da de Ve lo ci da de Ve lo ci da de Ve lo ci da de R es is tê nc ia R es is tê nc ia R es is tê nc ia R es is tê nc ia O ta m an ho d a fo nt e se re fe re à im po rtâ nc ia ; c ai xa s s al m ão c la ra s r ef er em -s e a pe río do s p ré -a do le sc en te s d e ad ap ta çã o, a s ca ix as e m sa lm ão e sc ur o re fe re m -s e a pe río do s d e ad ap ta çã o da a do le sc ên ci a. P V C = p ic o ve lo ci da de d e cr es ci m en to . Fonte: elaborada pelo autor a partir de Lloyd e Oliver (2012). Teoria e Fundamentos do Atletismo Escolar – 20 – O modelo nos mostra que a maioria dos componentes da aptidão, senão todos, são treináveis ao longo da infância e adolescência. O modelo foi desenvolvido para que professores, treinadores esportivos e pais tenham uma visão geral do desenvolvimento físico, identificando quando e por que o treinamento de cada componente da aptidão deve ser enfatizado. O tamanho da fonte quer dizer que, quanto maior o tamanho desta, mais importante é treinar essa qualidade de aptidão no momento indicado. Por exemplo, o modelo mostra que um menino de 12 a 13 anos deve concen- trar seu treinamento principalmente na força, potência, velocidade, agilidade e desenvolvimento de habilidades específicas do esporte (SSS), com foco reduzido na hipertrofia, mobilidade, habilidade de movimento fundamental (FMS), resistência e condicionamento metabólico (LLOYD; OLIVER, 2012). A partir do exposto acima, iremos desenvolver um panorama de trabalhopara o desenvolvimento dessas habilidades associando ao atle- tismo e as idades escolares. As séries escolares são divididas em Educação Infantil (idades 3, 4 e 5 anos), Ensino fundamental – séries iniciais (idades 6, 7, 8, 9 e 10 anos de idade) Ensino Fundamental – séries finais (idades 11, 12, 13 e 14 anos) e Ensino Médio (idades 15, 16 e 17 anos). 1.3 Habilidades Motoras Fundamentais (FMS) e Específicas (SSS) 1.3.1 FMS O desenvolvimento das habilidades básicas (correr, saltar e lançar, na sua forma mais natural, justamente as que compõem as características básicas necessárias para o aprendizado das mais diversas provas que estão presentes dentro da modalidade), principalmente voltadas para o ganho de arcabouço motor, é algo já bastante estudado por pesquisadores das áreas do cresci- mento e desenvolvimento, assim como por cientistas do esporte. Segundo Oliver et al. (2011), o trabalho visando a um ganho de habilidade motoras nas idades iniciais é essencial para garantir que os padrões de movimento corretos sejam dominados em um ambiente seguro e divertido, assegurando o desempenho seguro e eficaz de movimentos esportivos mais complexos – 21 – Introdução ao atletismo na escola em um estágio posterior. No modelo de YPD fica evidente a importância desse trabalho durante todo o Ensino Fundamental (séries iniciais), pois é nesse exato momento que ocorre a “janela de oportunidade”, sendo o período mais sensível para um maior desenvolvimento dessas habilidades, indicado então pelo maior tamanho da fonte e pelas cores azul (para homens) e rosa (para mulheres). Para o gênero masculino, são estabelecidas as idades de 5 a 11 anos, e para o gênero feminino, dos 5 aos 9 anos de idade. Visto isso, reforça-se a importância de que um amplo desenvolvimento nessa fase irá beneficiar o ganho de padrões motores específicos e mais refinados para o desenvolvimento das técnicas esportivas mais à frente (DELI et al., 2005). Para o desenvolvimento dessas habilidades, podemos propor atividades pré-desportivas de atletismo que irão auxiliar nesse processo. Todos esses jogos estarão presentes no capítulo 10 desta obra. Idade entre 6 e 8 anos: 2 Brincadeiras de pique (corrente, pega-pega, corre cotia) 2 Estafetas 2 Jogo das bandeiras 2 Brincadeiras de pular corda 2 Corrida em Escada 2 Saltos Cruzados 2 Salto com Corda 2 Lançamento de Dardinhos 2 Lançamento Ajoelhado 2 Lançamento ao Alvo Idade entre 9 e 10 anos: 2 Jogos e brincadeiras variadas 2 Corrida Progressiva de Resistência 2 Revezamento de Velocidade/Barreira/Slalom 2 Salto em Distância com Vara Teoria e Fundamentos do Atletismo Escolar – 22 – 2 Salto em Distância Exato 2 Lançamento Rotacional 2 Lançamento para trás 1.3.2 SSS A partir do início da puberdade, caracterizado pelo modelo nas meni- nas a partir dos 10 anos, e nos meninos aos 12 anos, os jovens devem ini- ciar o desenvolvimento das habilidades específicas da modalidade dese- jada para sua prática. Sendo assim, ainda no Ensino Fundamental, porém nas suas séries finais, entende-se a necessidade de se começar a trabalhar a parte técnica que envolve as provas do atletismo, ou seja, para as corridas inicia-se a aprendizagem do gestor motor correto para buscar um maior equilíbrio corporal, que vai favorecer provas de velocidade, e economia de movi- mento, para as provas de longa distância. Então, o trabalho do posiciona- mento correto dos braços, tronco e pernas durante o ato de correr passa a ser um ponto fundamental nessa fase, e a utilização do educativos de corrida uma estratégia muito eficiente para o desenvolvimento da técnica. Para o grupo de saltos, principalmente quando se fala dos horizon- tais, boa parte deles é desenvolvido nas corridas, já que a primeira fase do distância e do triplo é justamente a corrida de aproximação, que necessita de uma técnica muito próxima das usadas nas provas de velocidade rasas. Já para as demais fases, desenvolvem-se atividades que fazem com que as crianças saltem utilizando uma das pernas, posteriormente aterrissando com as duas. No caso das provas citadas anteriormente, mais à frente será fundamental aprender, uma vez que a última fase dos saltos é a queda, a amortecer seu movimento ao cair diretamente na areia, começando pelas pernas e posteriormente tocando os glúteos no chão, precedidos de peque- nas corridas (isso para a séries finais do Ensino Fundamental). Já para os saltos verticais, quando se trata do salto em altura, inicia- -se a aprendizagem do salto com a técnica tesoura, e pode-se utilizar mate- riais alternativos para se transpor. É importante sempre ressaltar a queda da tesoura em pé, principalmente quando não se tem materiais para amortecer – 23 – Introdução ao atletismo na escola a queda (exemplo: espuma ou colchão). No Ensino Médio, caso haja uma área de queda apropriada, podem ser utilizados exercícios educativos e, pos- teriormente, a técnica de Fosbury. Já para o salto com vara, recomenda-se o ensinamento na escola da empunhadura e do transporte da vara (pode-se utilizar um cabo de vassoura). Para o Ensino Fundamental e Médio, são usados exercícios de apoio (caso haja varas de bambu ou oficiais e algo para amortecimento da fase de queda), vide exercícios no Capítulo 10. Somente utiliza-se do salto completo em caso de muito treinamento e da existência de equipamentos oficiais (o que não é realidade da grande maioria de nossas escolas), pois trata-se de uma prova com alto risco de acidentes graves. Partindo para os lançamentos (de dardo, disco, martelo) e o arremesso (de peso), de imediato encontramos uma limitação em nossas escolas, prin- cipalmente da infraestrutura, uma vez que o desenvolvimento da maioria deles requer um amplo espaço para que os objetos, mesmo que adaptados, sejam lançados. Não obstante, é possível aplicar no processo de ensino e aprendizagem o ensino da técnica, utilizando principalmente “bolinhas”, sejam elas de tênis ou de meia, com variação do peso de acordo com o avanço da idade do Ensino Fundamental para o Médio. Vale ressaltar que, para o treinamento técnico, principalmente para correção da fase de cons- trução e lançamento, essas estratégias de utilizar materiais alternativos aos implementos oficiais são utilizadas pelos atletas profissionais de alto rendimento. Tratando-se do desenvolvimento das Habilidades Específicas (SSS) desse grupo, deve-se priorizar o aprendizado de cada uma das fases que competem a cada uma das provas. No lançamento do dardo, a aprendizagem da empunhadura, seguida do posicionamento do braço e da posição de força, são fundamentais para o Ensino Fundamental, e no Ensino Médio há o aperfeiçoamento desses fundamentos, seguidos da aprendizagem correta da corrida de aproxima- ção, da transição e das passadas laterais, para posteriormente ser feito o lançamento. Lembrando sempre da importância de se ensinar de forma analítica, partindo para global posteriormente. Torna-se fundamental a utilização do implemento (dardo) mesmo que ele tenha que ser “cons- truído” pelos alunos junto com o professor, para melhor aprendizado e experiência com a prova. Vale ressaltar que isso deve se aplicar para todas as demais provas desse grupo. Teoria e Fundamentos do Atletismo Escolar – 24 – O lançamento do disco e do martelo seguem o mesmo processo pedagógico, com o ensino da empunhadura dos implementos, seguido das principais posições do corpo para o aprendizado do giro do corpo em torno do seu próprio eixo. Já no Ensino Médio, deve-se aprender a parte mais difícil dessas duas provas, que é a “construção do momentum” ou seja, os giros técnicos em alta velocidade que são necessários para ace- lerar o corpo, consequentemente transferidos para os implementos. Após isso, aprende-se a fazer a transição de todas as fases, unindo-as em um só movimento. Para o arremesso do peso, todo o processo pedagógico citado ante- riormente pode ser aplicado na aprendizagem dos alunos. Essaprova tem uma característica particular, e pode utilizar-se de duas técnicas comuns para a realização do arremesso. São elas a técnica O’Brien, que utiliza um deslize, ou arraste, e a Barischnikov, que utiliza a técnica do giro, assim como o lançamento do disco e martelo. No entanto, apesar de ser o mesmo movimento, devido à característica dos implementos há bastante diferença no gesto técnico do giro entre as duas provas. Em termos de aprendizagem, preconiza-se que o movimento seja ensinado por partes, independentemente da técnica a qual o aluno melhor se adapte. No nível escolar médio, deve haver o aprendizado do movimento completo, se pos- sível com utilização do implemento oficial, ou adaptado ao peso próximo para algumas atividades. Para esse momento do desenvolvimento das habilidades específicas, iremos usar capítulos específicos de cada prova, assim como o capítulo 10, para exemplificar com exercícios e atividades a serem trabalhadas com os alunos para aprendizagem, desenvolvimento e aprimoramento das técni- cas existentes. Para conhecimento das características e de todas as fases que contemplam cada uma das provas, os textos específicos vão ser utili- zados para tratar de tal tema. 1.3.3 Força, Potência e Velocidade O mito de que criança não pode fazer treinamento de força já vem sendo desconstruído por alguns cientistas do esporte. No entanto, reforça- -se que a prescrição deste treinamento deve ser feita por pessoas qualifica- – 25 – Introdução ao atletismo na escola das para tal função, ou seja, profissionais da Educação Física que tenham conhecimento do assunto. O modelo proposto por Lloyd e Oliver (2012) sugere que a janela de oportunidade para os ganhos de força e potência acontecem dos 12 aos 16 anos de idade para os meninos, e dos 10 aos 15 anos para as meninas, sendo que o período mais sensível (reforçados pelas cores azul e rosa mais escuras) coincide com o Pico de Velocidade de Crescimento (PVC). Isso se justifica por este ser o período em que ocorre maior ganho de massa muscular nos jovens em função do seu rápido cres- cimento e desenvolvimento. No entanto, é notório, ao fazer a leitura e interpretação do YPD, que os ganhos são acentuados a partir dos 5 anos de idade em ambos os gêneros. Mas será então que temos que pegar nossas crianças e adolescentes e colocá-los para fazer exercícios resistidos usando halteres ou máquinas? Apesar de alguns estudos demonstrarem que o treinamento organi- zado e sistematizado promove ganhos de força em crianças, ele não pre- cisa ser executado da forma mencionada anteriormente. Isso pode e deve ocorrer de forma natural dentro do processo de ensino e aprendizagem da modalidade, muito facilmente desenvolvido no atletismo, uma vez que ati- vidades que envolvem saltos e lançamentos são capazes de gerar ganho de força de membros inferiores e superiores, respectivamente. Sendo assim, atividades como pular corda, piques que envolvem saltos com uma das pernas, brincadeira do morto vivo, amarelinha, saltos em comprimento a partir da posição parada, são atividades que irão desenvolver força nos membros inferiores e são exercícios básicos para as provas de saltos. Já os lançamentos utilizando bolas de futebol, basquete ou feitas com materiais alternativos, em suas mais variadas situações (uma das mãos, ambas as mãos, variação da direção do lançamento), irão desenvolver força e ajudar no processo de ensino e aprendizagem das provas de lançamento e arre- messos para os alunos do Ensino Fundamental. A utilização de medicine ball nas suas variadas massas, e os próprios lançamentos com os imple- mentos das provas, vão contribuir para o ganho de força dos membros superiores dos alunos do Ensino Médio. Vale ressaltar que o modelo YPD reforça a ideia de que a força deve ser tratada como prioridade no processo de formação e desenvolvimento das crianças e jovens para uma determinada modalidade, seja ela em nível Teoria e Fundamentos do Atletismo Escolar – 26 – escolar ou de rendimento, uma vez que existe uma correlação bem alta entre os mais altos níveis de força e as maiores velocidades, maior potên- cia e até mesmo melhores habilidades motoras básicas e específicas, o que vai então facilitar o aprendizado das mais variadas provas do atletismo dentro da escola. O modelo também traz como referência para o desenvolvimento da velocidade, baseando-se em estudos anteriores, que ela deve ser desenvol- vida desde as séries iniciais do Ensino Fundamental até o Ensino Médio. É sugerido que, para as crianças no Ensino Fundamental, sejam realizadas atividades voltadas para os sprints, técnicas de corrida, enquanto para as idades referentes ao Ensino Médio sejam utilizados treinamento de força e pliometria. Mais uma vez, o processo de ensino e aprendizagem do atle- tismo, com atividades já citadas anteriormente para o desenvolvimento da força, irão contemplar também ganho de velocidade, uma capacidade básica da nossa modalidade. 1.3.4 Resistência No que diz respeito ao modelo, não há uma janela de opor- tunidade para o desenvolvimento da resistência aeróbia durante o período escolar. Mas por isso não devemos trabalhá-la como con- teúdo dentro da modalidade do atletismo? Não é bem assim. Para a modalidade, ela é fundamental, principalmente porque existem diversas provas (como 1.000 m e 3.000 m para idades escolares, 5.000 m, 10.000 m, 42.195 m, 20.000 m de marcha para adultos profis- sionais), que têm a resistência aeróbica como fator fundamental para seu desempenho. O que o modelo diz é que a resistência não precisa ser tra- balhada de forma prioritária com crianças e jovens, e deve estar inserida dentro de outras atividades quando se treina o atletismo, o que talvez se aplique a modalidades coletivas, ou esportes nos quais essa variável não seja tão importante. Porém, no atletismo, precisamos dar ênfase a ela, sendo assim, a sugestão é que seja trabalhada durante todo o período de desenvolvimento da criança, a partir de jogos e brincadeiras que deman- dam um certo tempo contínuo de atividade durante o Ensino Fundamental, e no Ensino Médio por meio de corridas contínuas com variações de velo- cidade e distâncias (ex.: estafetas por tempo, jogo do ponto por distância – 27 – Introdução ao atletismo na escola e tempo percorrido). Mais atividades estarão presentes no capítulo 10, de jogos pré-desportivos. Nota-se que, em todas as capacidades propostas no modelo, ela aparece durante todo o período da vida, no entanto em níveis e graus diferentes, de acordo com a idade. 1.3.5 Jogos Escolares e o Atletismo Os primeiros Jogos Escolares ocorreram no final da década de 1960, organizados pelo Ministério da Educação (MEC) com o nome de Jogos Estudantis Brasileiros (Jebs), que foi considerado um ponto muito importante e culminou no início do desenvolvimento do desporto esco- lar no Brasil. Segundo consta no site da Secretaria Especial do Esporte, com o pas- sar dos anos, vários jogos envolvendo os estudantes do Ensino Funda- mental e Médio vêm ocorrendo no país, no entanto ocorreram várias alte- rações no nome da competição – Jogos Estudantis Brasileiro (Jebs), Jogos Escolares Brasileiros, (Jebs), Campeonatos Escolares Brasileiros (Cebs), Olimpíada Colegial da Esperança (OCE), Jogos da Juventude (JJ), Olim- píada Escolar (OE) e, atualmente, Jogos Escolares da Juventude (JEV). Também houve mudanças nos órgãos responsáveis pela organização dos eventos – Ministério da Educação (MEC), Secretaria de Educação Física e Desporto, Comitê Olímpico Brasileiro. Os jogos têm como objetivo pro- mover o intercâmbio social e esportivo, as boas relações entre mestres e alunos, promoção de relação segura entre os estudantes e o poder público, além de possibilitar o surgimento de talentos esportivos. Em relação às modalidades, nas primeiras edições apenas cinco esportes estiveram presentes, sendo o atletismo um deles e permanecendo até hoje, tendo sua presença garantida em todas as edições. Naprimeira edição, apenas nove estados participaram, sendo que nos dias atuais todos os 26 estados, além do Distrito Federal, competem no evento. Atualmente, a competição é dividida em duas categorias: Módulo I, para alunos de 12 a 14 anos, e Módulo II, para alunos de 15 a 17 anos. O evento reúne cerca de 4.500 alunos de escolas públicas e privadas de todo o país. Para assegurarem sua presença no evento, os atletas devem estar Teoria e Fundamentos do Atletismo Escolar – 28 – matriculados em instituições de ensino e participar das seletivas classifi- catórias organizadas pelas 27 unidades federativas (26 estados e Distrito Federal), que contemplam mais de 2 milhões de jovens, de 40.000 escolas e 3.950 cidades brasileiras. Ao todo, 16 modalidades integram o programa dos Jogos da Juven- tude: atletismo, badminton, basquete, ciclismo, futsal, ginástica rítmica, ginástica artística masculina, ginástica artística feminina, handebol, judô, natação, taekwondo, tênis de mesa, vôlei, vôlei de praia e wrestling. Grandes nomes do esporte brasileiro passaram pelos Jogos da Juven- tude, entre eles a campeã olímpica Sarah Menezes e a campeã mundial Mayra Aguiar, ambas do judô; os mesa-tenistas Hugo Calderano e Bruna Takahashi; Darlan Romani, Paulo André e Rosângela Santos, todos do atletismo; os armadores Raulzinho e Tainá Paixão, do basquete; a nada- dora Etiene Medeiros; a ciclista Paola Reis e Haniel Langaro e Tamires Morena, do handebol. Nas etapas que antecedem os jogos, cada município tem autonomia para definir qual critério usar para selecionar os alunos que irão participar da etapa estadual. Algumas cidades optam por realizar uma competição entre as escolas e assim classificar seus atletas. No atletismo, o que vem sendo feito é cada cidade levar até dois participantes por prova da moda- lidade no gênero masculino e no feminino, e os dois mais bem colocados em cada prova estão automaticamente classificados. Essa organização da competição municipal, assim como a ida à etapa estadual, é de responsa- bilidade de cada município, algo que muitas vezes dificulta a participação dos alunos, visto que em muitas prefeituras não há interesse por essa temá- tica. Quando não se faz uma competição municipal, os professores podem, em comum acordo, decidir e inscrever os alunos na etapa estadual, respei- tando o limite de participantes por prova. Isso acontece muito em cidades pequenas nas quais não existe um projeto extracurricular que envolva o atletismo, sendo assim, a decisão é tomada partir do que é visto nas aulas de Educação Física, e são escolhidos os melhores em cada prova. A etapa subsequente é de responsabilidade dos governos estaduais. Em Minas Gerais, os Jogos Escolares de Minas Gerais (JEMG) são orga- nizados pela Secretaria de Esportes em parceria com a Federação Mineira – 29 – Introdução ao atletismo na escola Escolar (FEEMG). O atletismo é a modalidade que reúne o maior número de alunos/atletas participantes, e a classificação para a etapa nacional (Jogos da Juventude) depende do número de vagas previstas no regulamento da competição. O que tem acontecido é o campeão de cada prova ter sua vaga garantida e, de acordo com o número restante de vagas, os treinadores con- vocados para representar o estado e acompanhar os atletas convocam os melhores segundos resultados, baseados nas marcas do ranking nacional, fornecidas pelo site da Confederação Brasileira de Atletismo, e assim é definida a seleção que irá defender o estado na etapa nacional. Ainda no Módulo I, há alguns anos vêm acontecendo os Jogos Sul-americanos Esco- lares, no qual o campeão nacional de cada prova e alguns segundos coloca- dos são convocados para participação na competição. Por fim, no mais alto nível da presença do atletismo nos jogos escola- res temos a Gymnasiade, maior competição do mundo para alunos/atletas com idades entre 13 e 17 anos. Organizada pela International School Sport Federation (ISF), a competição reúne os melhores jovens atletas escolares do mundo. O evento não tem uma periodicidade regular, mas os últimos foram realizados em 2013 (Brasil), 2016 (Turquia), 2018 (Marrocos) e há um previsto para 2021 (China) ainda a ser realizado. Para participação dos atletas brasileiros, a Confederação Brasileira de Desporto Escolar (CBDE) organiza uma seletiva, para a qual cada estado manda seus representantes. Os vencedores ganham o direito a representar o Brasil no evento. Segundo o site da Confederação Paralímpica Brasileira, as Para- limpíadas Escolares tiveram a sua primeira edição em 2009 e têm por finalidade estimular a participação dos estudantes de todas as escolas do território nacional que tenham deficiência física, visual e intelectual em atividades esportivas, promovendo uma ampla mobilização em torno do esporte. É uma realização do Comitê Paralímpico Brasileiro (CPB) e da Secretaria de Esportes. Este é o maior evento mundial para crianças com deficiência em idade escolar, e desde sua primeira edição o atletismo tem presença garantida. Atletas do paradesporto brasileiro já passaram pelas Paralimpíadas Escolares, como os velocistas Alan Fonteles, ouro em Londres 2012; Verônica Hipólito, prata no Rio 2016, e Petrúcio Ferreira, recordista mundial nos 100 m (classe T47); o nadador Talisson Glock, prata no Rio 2016; o jogador de goalball Leomon Moreno, prata no Jogos Teoria e Fundamentos do Atletismo Escolar – 30 – de Londres e bronze no Rio 2016; a mesa-tenista Bruna Alexandre, bronze no Rio 2016, entre outros. Para a participação na etapa nacional, muitos estados, como Minas Gerais, por exemplo, organizam suas seletivas junto com os jogos escolares não paralímpicos, e os vencedores são classifica- dos para as Paralimpíadas Escolares. Visto isso, fica notório que o atletismo na escola pode assumir vários caracteres de formação, podemos ir da sua utilização para o desenvolvi- mento das capacidades físicas, passando pela formação esportiva e che- gando até o esporte competitivo. Não entrando no mérito sobre o papel da Educação Física escolar no desporto, mas deixando uma reflexão para professores e futuros professores, o mais importante de tudo é que a moda- lidade seja trabalhada devido à grande importância que ela pode ter na vida de qualquer criança e adolescente. Atividades 1. Como a modalidade do atletismo deve ser vista dentro do con- texto da Educação Física escolar? 2. Qual deve ser a postura do professor ao ministrar o conteúdo do atletismo? 3. Como o conhecimento do processo de crescimento e desenvol- vimento, assim como das janelas de oportunidade dos alunos, auxilia o professor no planejamento e condução do conteúdo? 4. Como o professor deve trabalhar as diversas provas da modali- dade na escola? 2 Origem e evolução do atletismo A formação dos profissionais da Educação Física é contem- plada com uma imensa gama de conteúdo, sendo a história a base do conhecimento para o entendimento da modalidade. Não se pode precisar onde começou o atletismo, no entanto há registros históricos que orientam sobre a sua origem e a maneira como eram realizados os primeiros movimentos. Os modelos técnicos que presenciamos nas provas atual- mente, são um processo de evolução ao longo da história a par- tir dos movimentos naturais visando a melhora do desempenho esportivo do atleta (GINCIENE; MATHIESSEN, 2012). Teoria e Fundamentos do Atletismo Escolar – 32 – Visto isso, é possível afirmar que a história consegue explicar tudo o que acontece no mundo do atletismo. Por esse fato, podemos entender por que algumas regras são alteradas, a evolução, a técnica, nos implementos, as tecnologias adotadas nos vestuários (roupas e sapatilhas) e o modelo das competições. Utilizando o seu contexto histórico, é possível verificar onde, quando e por quem o atletismo foi e vem sendo praticado até os dias atuais, quais seus objetivos enquanto prática esportiva e esporte de rendimento e, entre outras coisas, auxiliar na solução de problemasatuais e presentes em aulas de Educação Física, como é o caso da falta de material e de espaço físico para a sua prática. (MATHIESSEN, 2005; 2009) O atletismo é considerado como um dos conteúdos clássicos da Edu- cação Física (MATTHIESEN, 2005), no entanto não se pode afirmar muito sobre sua história que gira em torno de registros muito antigos e não muito assertivos, muitos considerados mais lendas do que história. A maioria dos estudos acadêmicos dirige seus objetivos à área de treinamento da moda- lidade. Uma busca mais aprofundada sobre sua história é dificultada pelos poucos registros que muitas vezes aparecem apenas como introdução dos trabalhos (MATTHIESEN, 2009). A sua história é bastante rica, inúmeras lendas compõem essa origem, no entanto não é possível afirmar qual é a origem definitiva da modalidade. Muito se especula que na Pré-História ocorreu o “nascimento” da cor- rida, e por isso ela é considerada como um dos movimentos naturais do ser humano, cujo objetivo era se locomover de maneira mais rápida que o andar. Isso facilitou, entre outras coisas e, principalmente, que o homem pudesse caçar, e também fugir dos predadores (GINCIENE; MATHIESSEN,2012). No entanto pouco se pode comparar aquela corrida com as provas de velo- cidade que compõem o atletismo, principalmente pela característica técnica, pelas regras e até mesmo pelo vestuário que é necessário para o desempenho no esporte. Mais do que isso, os objetivos que abrangem cada uma delas são bem diferentes entre si (GINCIENE; MATHIESSEN, 2012). O atletismo chega a ser confundido com a mitologia quando observa- mos o período da Antiguidade Clássica com os Jogos Olímpicos (JO) que deram origem aos atuais e que trazem como reminiscência cultural mais marcante a figura de Discóbolo de Miron. – 33 – Origem e evolução do atletismo A Grécia foi o berço da modalidade competitiva que com o tempo foi perdendo o caráter religioso e assumindo exclusivamente o caráter esportivo. A história do atletismo pode ser dividida em três períodos: O “primeiro”, de suas origens, nas civilizações primitivas à extin- ção dos antigos JO pelo imperador romano Teodósio no ano de 393 d.C.; o “segundo”, da Idade Média, a época de atividade descontí- nua ou mesmo de decadência para as competições de pista e campo, ao século passado, quando educadores vitorianos introduziram os esportes nas escolas inglesas, definindo-os, codificando-os e, mais tarde, difundindo-os pela Europa; e o “terceiro”, do renascimento dos jogos olímpicos, em 1896, com o barão francês Pierre de Cou- bertin, ao atletismo dos dias atuais (BRANDT, 2002). Há registros em fontes literárias descrevendo imagens atléticas em 3000 a.C. Essas atividades já tinham tradição nas civilizações do Egito e da Meso- potâmia milênios antes dos Jogos na Grécia antiga (AZEVEDO, 2010). Os registros atléticos nos templos e em tumbas demonstram o inte- resse pelas atividades. O atletismo sempre esteve presente como esporte no Egito antigo, e, além dele, o boxe, o arco e flecha, a vela, os jogos com bola, a luta e até mesmo eventos com cavalos, que também fizeram parte desse período e, provavelmente, eram restritos aos membros das classes elevadas. Textos egípcios mostram a importância da atividade física na preparação do faraó e membros da corte. Também na própria Grécia pré-clássica, já se praticava o atletismo antes dos Jogos Olímpicos. Os minoicos, civilização que habitava a ilha de Creta no período de 2100 a 1100 a.C., tinham interesse especial pela ginástica. Os afrescos (obra pictórica feita sobre parede) indicam que as atividades atléticas eram praticadas por membros da nobreza em áreas perto do palácio. Na cultura minoica, os touros eram muito importantes (minotauro de Creta) e, também, faziam parte dos eventos esportivos como a realização de saltos sobre o touro, por parte dos atletas. Outros esportes praticados pelos minoicos eram o boxe, a luta e as acrobacias (VERONESE-FILHO; STINGHEN, 2012). Já os micênicos (1600-1100 a.C.) adotaram os esportes minoicos e acrescentaram as competições de pista. Assim como na Creta minuana, os estudos indicam que havia um forte componente religioso nos eventos atléticos (VERONESE-FILHO; STINGHEN, 2012). Teoria e Fundamentos do Atletismo Escolar – 34 – Visto isso, o atletismo é conhecido como o pai dos esportes, tendo em vista as características básicas que estão presentes na modalidade, no seu âmbito mais natural (correr, saltar, lançar) que são necessárias e fun- damentais para a prática da maioria de outros esportes. Sobre a primeira competição de atletismo O mais antigo registro de competições de atletismo data de 776 a.C., mas é certo que os esportes organizados, incluindo provas de pista e campo foram praticados muitos séculos antes. Já nas primitivas civilizações, o homem cultivava o gosto de competir, medindo sua força e rapidez e habilidade. Os exercícios des- tinados a aprimorar ou a manter a saúde do corpo decorriam da própria luta pela sobrevivência; obrigados a enfrentar, de início, inúmeros obstáculos naturais e, mais tarde, o seu seme- lhante, o homem apurou seus instintos de correr, saltar e lançar (BRANDT, 2012). Em 1225 a.C, o primeiro pentatlo, uma série de cinco eventos (cor- rida, salto em distância, luta livre, disco e dardo) foi disputado pelo mesmo atleta (GOMES, 2019). Para homenagear os visitantes e honrar os deuses, os gregos organizavam eventos esportivos próximo à cidade de Olímpia, uma tradição que foi mantida até a segunda metade do século X a.C. Por indicação de Pítia, foi decidido pelo rei Ífito de Élida, que a sacerdotisa que interpretava o oráculo de Delfos reviveria essa tradição e, em 884 a.C, convencida de que os deuses interviriam em seus interesses e acabariam com a devastação de pragas no Peloponeso. A única prova do programa foi a corrida de estádio (grego stádion, latim stadium) vencida por Corebo (grego Kóroibos, latim Coroebus), da Élida (BRANDT, 2012). A corrida era disputada em um percurso de 192,27 metros em um estádio que tinha o formato em U. Essa distância foi definida baseada ao equivalente a 600 pés do herói mitológico Hércules, cujas realizações e façanhas estavam ligadas à origem dos jogos. Mais tarde em 724 a.C. em um formato diferente de pista, a corrida de estádio (stádium) passou a ser executada em duas voltas completas na pista sendo que quatro anos mais tarde a primeira prova de fundo foi realizada. Para sua execução era necessário completar 12 voltas completas pela pista. (TUBINO, 2010; BRANDT, 2012; VERONESE-FILHO; STINGHEN, 2012). – 35 – Origem e evolução do atletismo Durante grande parte da Antiguidade o programa de provas dos Jogos Olímpicos teve poucas alterações. No entanto uma grande mudança ocor- reu no século VII a.C. quando as mulheres puderam competir em Esparta. A decisão de que as mulheres, assim como os homens, poderiam compe- tir entre si para medir a força e a velocidade coube a Licurgo. E assim, nos jogos de Delfos, elas participaram de uma prova de velocidade de 160 metros. Os romanos de uma forma mais recreativa do que competitiva, assi- milaram no século I d.C. a cultura grega e prosseguiram com a tradição dos Jogos Olímpicos. Além de levar a modalidade de forma que o desem- penho não era o principal objetivo, não tinha fins lucrativos e levando em conta que os atletas eram em sua maioria escravos ou negros, o atle- tismo dos romanos apresentava uma decadência em relação aos gregos (TUBINO, 2010; VERONESE-FILHO; STINGHEN, 2012). Muito do que se conhece sobre os princípios que regiam as provas do atletismo daquele tempo se deve aos registros e às narrativas homéricas, pós-homéricas e de outros poetas e prosadores. As largadas se iniciavam após um sinal sonoro executado pelo toque de uma trompa, que tinha um formato de cone ou até mesmo por um “grito” do árbitro, que indicava o momento exato em que o atleta poderia começar a correr. Nos dias de hoje o sinal sonoro é emitido por umapistola eletrônica disparada pelo árbitro de partida após os seus comandos de voz (iremos ver detalhadamente no capítulo de provas de velocidade). Para as provas de saltos horizontais, muito se assemelha aos dias atuais, ao qual o atleta vem correndo por um espaço delimitado e impulsiona seu corpo sem ultrapassar a linha limite estabelecida para assim se fazer a projeção para aterrissar na caixa de areia. Se hoje temos a tábua de impulsão, naquele tempo era traçada no chão uma linha estabelecendo o limite até onde o atleta poderia colocar o seu pé antes de iniciar a fase de voo. Hoje o atleta pode realizar até seis saltos em uma final, enquanto naquele período se realizavam apenas três saltos para definir o campeão. O lançamento de disco iniciou-se utilizando a pedra como imple- mento, no entanto nos tempos de Ífito começou a se utilizar com um mate- rial feito de bronze, mas era mais grosso ao centro e com suas bordas mais finas, com tamanho variado de 20 a 36 cm e massa de 5 kg. O discóbolo, Teoria e Fundamentos do Atletismo Escolar – 36 – símbolo utilizado na representação da Educação Física é uma referência à prova do disco. Já na prova do dardo era utilizado um implemento com aproximadamente 1,80 m de comprimento, com uma de sus extremidades pontiagudas e de ferro, com formato semelhante aos dos dias atuais. Pos- suía cordas em seu local de empunhadura, onde os atletas posicionavam sua mão para a execução do movimento, lançando-os a grandes distâncias. Os primeiros registros de provas de atletismo na Idade Média são por volta do ano 1154 e foram de total abandono das competições de pista e campo. A não ser em alguns povos da América pré-colombiana e outros povos do oriente em que se praticavam algumas corridas, quase não houve esporte organizado nessa época (TUBINO, 2010). Ainda em 1154, um movimento simples e discreto acontecia em Londres e em outras cidades inglesas com a realização de algumas provas de corrida, saltos em distância e altura, arremesso do peso, mas eram praticados sem muitas regras fixas. No entanto, foram exatamente os ingleses, principalmente os povos das ilhas britânicas que sempre apreciaram os esportes que reviveram de forma definitiva as competições que envolviam as provas de pista e campo da modalidade. Mesmo com uma proibição real por um período, os ingle- ses praticavam a modalidade de forma ilegal. No início do século passado, com a reforma nas escolas públicas introduzida pelos educadores vitorianos, foram aproveitados os princípios defendidos por Thomas Arnold, na Rugby School (OLIVEIRA, 2006; VERONESE-FILHO; STINGHEN, 2012). As primeiras provas de velocidade com barreiras foram praticadas por volta de 1838 por alunos de Eton, mais tarde provas de longa distân- cia também foram corridas com a utilização de barreiras e eram chamadas de steeplechase, o que hoje são as provas com obstáculos (GOMES, 2019). O atletismo mais tarde passou a ser oficializado após a adesão de mais escolas britânicas. A partir disso se expandiu para a Irlanda, País de Gales e Escócia, chegando posteriormente a outros países da Europa. Os alemães e os escandinavos passaram a adotar o atletismo inglês mesmo tendo como base da sua Educação Física a ginástica (GOMES, 2019). As primeiras provas que foram regulamentadas pelos vitorianos com- preendiam as quatros modalidades clássica dos gregos (corridas, saltos em distância, lançamento de dardo e disco). Elas serviram de ponto de – 37 – Origem e evolução do atletismo partida para o programa de competições moderno. O salto em distância, o salto triplo, em altura e com vara (cujo origem está ligada aos saltos dos ingleses em riachos e canais), além das provas de corridas de velocidade e longas distâncias que variavam desde 110 jardas até 4 milhas. Além disso, o lançamento de disco, dardo e martelo (este último de origem celta) se juntavam ao arremesso de peso e existia ainda uma forma muito primi- tiva que pode ser a origem das provas de revezamento e das combinadas, baseadas no pentatlo (BRANDT, 2002). Figura 2.1 – Jogos Olímpicos da Antiguidade Fonte: Stock.adobe.com/maroussia44 2.1 Jogos olímpicos da era moderna e o atletismo Enquanto os Jogos Olímpico da Antiguidade eram considerados fes- tivais sagrados, em que os deuses eram cultuados pelos atletas, as Olím- piadas da era Moderna surgiram sem que houvesse um vínculo religioso em seu entorno. O idealizador, Pierre de Coubertein, era seguidor da teoria darwinista, e constituiu o evento de forma laica sem nenhuma relação com a religiosidade (HELAL, 1990). Com o objetivo de ser um movimento internacional, que visava pro- mover o estreitamento de relações entre os povos pelo esporte, em uma sessão solene realizada na Sorbonne, em Paris, Pierre de Fredi, barão de Coubertin, elaborou e defendeu um projeto de recriação dos Jogos Teoria e Fundamentos do Atletismo Escolar – 38 – Olímpicos que haviam sido extintos por Teodósio. O evento tinha como objetivo formar o caráter de jovens a partir da prática esportiva, com fins pedagógicos, além de desenvolver o espírito de equipe, a vontade de com- petir e o domínio de si (BRANDT, 2002). Em 1894 foi criado o Comitê Olímpico Internacional, com sede na cidade de Lausanne na Suíça. A definição da criação e desenvolvimento do órgão ocorreu após um congresso realizado na Sorbonne. Com isso, definiu-se a realização dos primeiros Jogos da era Moderna que ocorre- riam em 1896, na Grécia (AZEVEDO, 2010). O primeiro programa olím- pico de atletismo compreendia corridas de 100, 400, 800 e 1.500 metros, e mais a de 110 metros com barreiras, saltos em distância, altura, triplo e com vara, lançamento de disco e arremesso de peso. Única prova realizada fora da pista, com o objetivo de reviver a façanha do soldado ateniense Pheidippídes (ver capítulo 4), a maratona, foi organizada para os corredores de fundo, por sugestões do linguista e helenista francês Michel Bréal, naquela ocasião apenas a maratona foi corrida fora da pista e seu primeiro vencedor foi o grego Louís Spýros (BRANDT, 2002). No capí- tulo de corridas de resistência estará descrito mais sobre a maratona. Figura 2.2 – Estádio de Atenas Fonte: Domínio Público. – 39 – Origem e evolução do atletismo A maratona permaneceu como a prova de rua e foi vencida por um compatriota que conhecia muito bem todo o bosque de Boulogne, trajeto definido para que acontecesse a prova (VIDIGAL, 2012). O interesse em torno do atletismo era crescente, e nos Jogos de Saint Louis de 1904 mais de cem atletas estavam inscritos nas provas que se mantiveram iguais às do Jogos de Paris, em 1900. A prova combinada do Decatlo (o atleta faz 10 provas diferentes durante os jogos e vence o atleta que somar a maior quantidade de pontos que são destinados de acordo com a marca do mesmo em cada uma delas) apareceu pela primeira vez nos jogos. A maioria absoluta era dos Estados Unidos e, como era esperado, ficaram disparados na frente do quadro de medalhas daquela edição. Nos Jogos de Londres, em 1908, apareceu pela primeira vez a prova do lançamento do dardo, e todas as demais provas remanescentes do calendário anterior. Disputando os jogos em casa, os britânicos tiveram um crescimento grande no número de medalhas conquistadas, no entanto os americanos mais uma vez lideraram a competição. Em 1912, em Estocolmo, as provas de 5.000 e 10.000 metros, além dos revezamentos 4x100 m e 4x400 m foram incluídos no calendário de provas pela primeira vez e o decatlo que havia ficado de fora da última edição retornou à competição. O fato curioso fica pela retirada do pro- grama da prova dos 400 metros com barreira. Os americanos mais uma vez se mantiveram à frente do quadro de medalhas sendo seguidos dessa vez pela Finlândia. Seguidamente realizadas a cada 4 anos, em 1916, as Olímpiadas foram canceladas devido à Primeira Guerra Mundial. O retorno se deu em 1920 na Antuérpia, com a inclusão da prova dos 3000 metros com obstáculos, e maisuma vez os americanos lideraram a competição, mas dessa vez empatados em número de medalhas de ouro com os finlandeses, sendo 9 medalhas para cada país. Nos Jogos Olímpicos de 1924 realizados em Paris, 27 provas do atle- tismo foram realizadas e todas eram masculinas. Duas provas foram excluídas do programa em relação aos jogos anteriores na Antuérpia: os 3 km de marcha atlética e o lançamento de peso de 25,4 kg. Americanos e finlandeses seguiram à frente na disputa pelas medalhas. Teoria e Fundamentos do Atletismo Escolar – 40 – Os Jogos de Amsterdã, em 1928, foram um marco na história, pois as mulheres participaram pela primeira vez nas competições de atletismo das Olimpíadas, e conquistaram o direito a competir entre si nas provas de 100 metros, 800 metros, 4x100 m, salto em altura e lançamento do disco. O Canadá esteve na liderança do quadro de medalhas feminino, e, no mas- culino, permaneceu a supremacia dos norte-americanos. Nos Jogos Olímpicos de 1932, em Los Angeles, 29 provas de atle- tismo foram realizadas. Vinte e três para homens e seis para mulheres. Pela primeira vez na história, os 50 km de marcha atlética foram disputados em Olimpíadas. As mulheres foram incluídas pela segunda vez, com des- taque para o lançamento do disco feminino que fez a primeira aparição. No quadro de medalhas os EUA lideraram no masculino e no feminino. Em 1936, realizado na cidade de Berlim, as provas de atletismo se mantiveram as mesmas da edição anterior tanto para as mulheres quanto para os homens, dessa vez a liderança do quadro de medalhas feminino ficou por conta das alemãs, enquanto no masculino os alemães ocuparam a segunda colocação. A Segunda Guerra Mundial fez com que nos anos de 1940 e 1944 os Jogos Olímpicos fossem cancelados. Nos Jogos Olímpicos de 1948, novamente acontecendo na cidade de Londres, 33 eventos do atletismo foram realizados, sendo 24 masculinos e 9 femininos. Quatro provas fizeram a estreia durante os jogos: os 10 km de mar- cha atlética para homens e os 200 metros, o salto em distância e o lançamento de peso para mulheres, tornando um protagonismo maior para elas a partir desses jogos. Enquanto os EUA mantiveram a liderança de medalhas no masculino, pela primeira vez a Holanda aparece à frente para o feminino. Em 1952, em Helsinque, não houve nenhuma alteração no programa de provas tanto para o masculino quanto para o feminino. Chama a aten- ção para a segunda colocação do quadro de medalhas do masculino sendo ocupado pela extinta Checoslováquia e a liderança da Austrália no femi- nino. No entanto, o fato mais importante fica a cargo das conquistas do brasileiro, medalha de ouro, Adhemar Ferreira da Silva no salto triplo e do bronze de José da Conceição, no salto em altura. Os Jogos Olímpicos de 1956 foram realizados em Melbourne, sendo a primeira vez que a prova de 20 km da marcha apareceu, mas apenas para os homens. A Austrália se manteve na liderança do quadro feminino e – 41 – Origem e evolução do atletismo pela primeira vez a União Soviética apareceu em segundo lugar no quadro geral de medalhas. Em 1960 nos jogos realizados em Roma, o grande des- taque fica por conta da grande ascensão da União Soviética, que ocupou a liderança no quadro feminino encostando nos EUA no masculino. Os primeiros Jogos Olímpicos no continente asiático ocorreram em Tóquio, em 1964, e pela primeira vez apareceu a prova dos 400 metros feminino. Nesses jogos ficou consagrado o primeiro atleta a vencer a maratona por duas vezes, o etíope Abebe Bikila, repetiu o êxito de quatro anos antes, e tornou-se o primeiro bicampeão da maratona olímpica. Em 1968 os jogos aconteceram na Cidade do México sem alterações da edição anterior. Já em 1972 as provas dos 100 metros com barreiras e 4x400 m apareceram no programa feminino aproximando-se cada vez mais do masculino. Pela primeira vez os EUA deixaram a liderança do quadro de medalhas, sendo liderado pela União Soviética no masculino e pela Alema- nha Oriental no feminino. Em Montreal, em 1976, e em Moscou, em 1980, os alemães do lado oriental e os soviéticos seguiram dominando a maioria das provas e se estabelecendo à frente do quadro de medalhas. Os Jogos Olímpico de 1984, em Los Angeles, marcam a retomada dos americanos frente aos demais países, conquistando o primeiro lugar na maio- ria das provas. Além disso, pela primeira vez as mulheres puderam competir na maratona, nos 400 metros com barreira e nas provas combinadas (heptatlo, conjunto de sete provas disputadas pelas mulheres assim como o decatlo para os homens, vence aquela atleta que somar o maior número de pontos em cada uma delas). Enquanto em 1988 em Seul, os 10.000 metros foram incluídos no programa horário dos jogos para as atletas do gênero feminino. Nos Jogos Olímpicos de verão de 1992, em Barcelona, o número de provas já chegava a 43, sendo 24 masculinos e 19 femininos. Em Atlanta, em 1996, com a entrada da prova dos 5000 metros feminino, as mulheres já demonstravam sua força dentro da modalidade, chegando bem próxi- mas ao número de provas dos homens. Em Sidney, em 2000, o atletismo alcançou a marca de 46 provas disputadas em ambos os gêneros. Nesse ano passaram a fazer parte dos eventos femininos as provas dos 20 km de marcha, o salto com vara e o lançamento de martelo. A hegemonia das medalhas permanecia com os norte-americanos. Teoria e Fundamentos do Atletismo Escolar – 42 – Os Jogos Olímpicos de 2004 tornaram-se muito marcantes por voltar às suas origens. A competição foi realizada entre os dias 18 e 29 de agosto em Atenas, na Grécia. A maioria das provas aconteceram no estádio Olímpico de Atenas. No entanto, a maratona ocorreu nas ruas da cidade de Maratona e foi finalizada no estádio Panathinaiko. A marcha atlética foi competida nas ruas de Atenas, enquanto as provas masculina e feminina do arremesso do peso foram realizadas nas ruínas da cidade de Olímpia. As mesmas 46 provas foram realizadas em rela- ção à edição anterior. Em 2008, os jogos retornaram à Ásia novamente, agora na China, país que apesar de não ter tradição no atletismo, já era uma potência mun- dial no esporte, inclusive conseguindo superar os EUA pela primeira vez como o maior vencedor de medalhas de ouro de todos os Jogos Olímpicos daquele ano. No atletismo, as provas realizaram-se no estádio Nacional de Pequim (Ninho de Pássaro), recinto especialmente construído para os jogos que ficou mundialmente famoso pela sua montagem arquitetônica. Pela primeira vez aparecia a prova dos 3.000 metros com obstáculos para as mulheres. A edição ficou marcada pelas primeiras medalhas olímpi- cas do maior atleta de todos os tempos na modalidade, Usain Bolt (atleta jamaicano das provas de 100 m, 200 m e revezamento 4x100 m, conside- rado o maior atleta da história da modalidade). Mais uma vez realizado no mês de agosto, agora entre os dias 3 e 12, os Jogos Olímpicos de 2012 contaram com 47 provas, sendo 24 eventos masculinos e 23 eventos femininos (não houve a prova de 50 km marcha atlética). As provas de pista e campo foram realizadas no estádio Olímpico de Londres, enquanto as provas de rua maratona e marcha iniciaram e terminaram no The Mall. Os Jogos Olímpicos de 2016 foram os primeiros a serem realizados na América do Sul e o segundo da América Latina, já que a Cidade do México foi sede em 1968. Por estar no hemisfério sul, os Jogos então rea- lizados no Brasil, na cidade do Rio de Janeiro aconteceram na estação do ano do inverno, o que poucas vezes aconteceu na história desse evento. As provas aconteceram entre os dias 3 e 21 de agosto. Um fato ficou marcado em termos de cultura olímpica, as Olimpíadas no Brasil foram as primeiras a não realizarem a abertura e o encerramento – 43 – Origem e evolução do atletismo no mesmo local em que ocorreram as provas do atletismo. Enquanto as provas da modalidade ocorreram no estádio Nilton Santos, as festividades ocorreram no estádio Mario Heleno Filho (Maracanã). O Brasil
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