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METODOLOGIA DO ENSINO DE ATLETISTMO ANTENOR DE OLIVEIRA SILVA NETO Este livro compreende o atletismo como um conjunto de modalidades que compõe as habilidades motoras básicas do ser humano, como correr, andar, lançar e saltar, condu- zindo o leitor ao esporte mais tradicional e secular de todos os tempos. A obra parte dos contextos histórico, cultural, pedagógico e técnico para tratar do ensino do atletismo na escola, mostrando como esse esporte contribui para o de- senvolvimento de capacidades específicas e para a formação integral dos alunos. Com base nos gestos motores fundamentais e nas caracte- rísticas de cada modalidade, esta obra apresenta estratégias e possibilidades metodológicas para o processo de ensino do atletismo de maneira lúdica e didática, considerando as adaptações necessárias para a realização das práticas devido à realidade dos espaços disponíveis na escola. Código Logístico 59340 Fundação Biblioteca Nacional ISBN 978-85-387-6622-3 9 7 8 8 5 3 8 7 6 6 2 2 3 Metodologia do ensino de atletismo Antenor de Oliveira Silva Neto IESDE BRASIL 2020 CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ S581m Neto, Antenor de Oliveira Silva Metodologia do ensino de atletismo / Antenor de Oliveira Silva Neto. - 1. ed. - Curitiba [PR] : IESDE, 2020. 108 p. : il. Inclui bibliografia ISBN 978-85-387-6622-3 1. Atletismo - Estudo e ensino. 2. Treinamento (Atletismo) - Estudo e ensino. 3. Educação física - Estudo e ensino. I. Título. 20-63472 CDD: 796.42 CDU: 796.42 Todos os direitos reservados. IESDE BRASIL S/A. Al. Dr. Carlos de Carvalho, 1.482. CEP: 80730-200 Batel – Curitiba – PR 0800 708 88 88 – www.iesde.com.br © 2020 – IESDE BRASIL S/A. É proibida a reprodução, mesmo parcial, por qualquer processo, sem autorização por escrito do autor e do detentor dos direitos autorais. Projeto de capa: IESDE BRASIL S/A. Imagem da capa: Sergey Novikov/niktalena/Shutterstock Antenor de Oliveira Silva Neto Doutorando e Mestre em Educação pela Universidade Tiradentes (Unit). Pós-Graduado em Educação Inclusiva e Libras e em Atendimento Educacional Especializado (AEE) pela Faculdade Amadeus. Pós-graduado em Educação Física Adaptada e em Psicomotricidade e Desenvolvimento Humano pela Faculdade Faveni. Graduado em Educação Física pela Unit. Professor no ensino superior, nas modalidades EaD e presencial, ministrando as seguintes disciplinas: Atletismo, Crescimento, Desenvolvimento Humano e Aprendizagem Motora, Atividade Física para Pessoas com Deficiência, Introdução à Educação Física, entre outras. Agora é possível acessar os vídeos do livro por meio de QR codes (códigos de barras) presentes no início de cada seção de capítulo. Acesse os vídeos automaticamente, direcionando a câmera fotográ�ca de seu smartphone ou tablet para o QR code. Em alguns dispositivos é necessário ter instalado um leitor de QR code, que pode ser adquirido gratuitamente em lojas de aplicativos. Vídeos em QR code! SUMÁRIO 1 Introdução ao atletismo 9 1.1 Conhecendo o atletismo 9 1.2 Provas oficiais 14 1.3 Instalações 22 2 Atletismo na escola 30 2.1 Aspectos didáticos e metodológicos 30 2.2 Atletismo e a Base Nacional Comum Curricular 35 2.3 O papel do professor no ensino do atletismo 41 3 Corridas e saltos 47 3.1 Corridas rasas, meio-fundo e fundo 47 3.2 Corridas com barreiras e obstáculos 55 3.3 Revezamentos 61 3.4 Saltos horizontais e verticais 63 4 Lançamentos e arremesso 72 4.1 Lançamento de disco 72 4.2 Lançamento de dardo 75 4.3 Lançamento de martelo 78 4.4 Arremesso de peso 80 5 Provas combinadas e marcha atlética 85 5.1 Provas combinadas: heptatlo e decatlo 85 5.2 Marcha atlética 89 6 Paratletismo 94 6.1 Paratletismo e inclusão 94 6.2 Classificação funcional 96 6.3 Provas 99 Gabarito 104 Agora é possível acessar os vídeos do livro por meio de QR codes (códigos de barras) presentes no início de cada seção de capítulo. Acesse os vídeos automaticamente, direcionando a câmera fotográ�ca de seu smartphone ou tablet para o QR code. Em alguns dispositivos é necessário ter instalado um leitor de QR code, que pode ser adquirido gratuitamente em lojas de aplicativos. Vídeos em QR code! Este livro compreende o atletismo como um conjunto de modalidades que compõe as habilidades motoras básicas do ser humano, como correr, andar, lançar e saltar, nos conduzindo ao esporte mais tradicional e secular de todos os tempos. Ele parte dos contextos histórico, cultural, pedagógico e técnico para nos levar ao ensino do atletismo na escola, mostrando como esse esporte contribui para o desenvolvimento de capacidades específicas e para a formação integral dos alunos. Com base nos gestos motores fundamentais e nas características de cada modalidade, esta obra apresenta estratégias e possibilidades metodológicas para o processo de ensino do atletismo de maneira lúdica e didática, considerando as adaptações necessárias para a realização das práticas devido à realidade dos espaços disponíveis na escola. Nesse sentido, no primeiro capítulo, discorremos sobre o conceito e a origem do atletismo – considerando seu processo histórico no Brasil e no mundo –, os principais órgãos responsáveis por esse esporte, as competições oficiais, bem como as instalações e os equipamentos necessários para a prática da modalidade. No segundo capítulo, apresentamos os aspectos didáticos e metodológicos do atletismo no contexto escolar, a influência da mídia na disseminação da prática esportiva, o papel do professor e as possibilidades para trabalhar o conteúdo de modo prazeroso. Discutimos também a Base Nacional Comum Curricular (BNCC), principalmente com relação às competências gerais e específicas, bem como as habilidades a serem desenvolvidas pelos alunos nas aulas de Educação Física. O terceiro capítulo estabelece os exercícios coordenativos como fundamentais para a aprendizagem, o desenvolvimento e o aprimoramento de todas as modalidades do atletismo. Versa, ainda, acerca da classificação das corridas e dos saltos, como também das exigências físicas e estruturais e sequências de movimentos de cada um, oferecendo subsídios para a prática desse esporte no contexto escolar. No quarto capítulo, tratamos dos aspectos técnicos, metodológicos e didáticos e das principais regras dos lançamentos de disco, dardo, martelo e arremesso de peso, conhecendo, de maneira detalhada, as sequências pedagógicas para o desenvolvimento das modalidades, com o objetivo de iniciar o esporte na escola, inclusive com a adaptação de materiais. APRESENTAÇÃO O quinto capítulo evidencia as provas combinadas do atletismo, que compreendem um conjunto de provas divididas em heptatlo e decatlo, quantas e quais são as modalidades pertencentes a esse grupo de provas e a sua classificação. Ainda nesse capítulo, tratamos da marcha atlética e das características de execução do movimento da marcha, envolvendo o processo didático-pedagógico para iniciação da modalidade. No sexto e último capítulo, tratamos da história da prática esportiva para pessoas com deficiência, do esporte adaptado e da evolução das paralimpíadas, até chegar à compreensão e à regulamentação que temos atualmente, com classificação funcional, classes e provas. Além disso, discutimos os aspectos gerais e específicos do esporte e das principais regras, destacando a importância das modalidades para a inclusão social de pessoas com deficiência e dos valores presentes nessa prática, que representam lições para a vida. Os capítulos desta obra nos conduzem por um trajeto que apresenta as diversas modalidades e faces do atletismo, em que é possível compreendê-lo não apenas pelo seu viés técnico, mas, sobretudo, pelas possibilidades didático-pedagógicas para o processo de ensino-aprendizagem e formação global do aluno. Os aspectos socioeducacionais presentes nesse esporte ultrapassam os muros dacompetição, tornando-o um agente de inclusão e de preparação para o pleno exercício da cidadania. Bons estudos! Introdução ao atletismo 9 1 Introdução ao atletismo Antes de conhecer a história do mais tradicional e secular dos esportes, é interessante perguntar: você sabia que o atletismo é um conjunto de modalidades esportivas? Isso mesmo! O atletismo se divide em corridas, lançamentos, arremessos e saltos. Geralmente, essas modalidades são praticadas em estádios, exceto a maratona – por ser uma corrida de longa distância – e as corridas de rua. Com origem na Grécia, o atletismo é um dos esportes mais anti- gos, com a primeira competição de que se tem registro ocorrendo em 776 a.C., na cidade de Olímpia. É considerado um esporte de base, pois sua prática possui a extensão dos movimentos funda- mentais do ser humano: caminhar, correr, saltar e lançar. Neste capítulo, conheceremos a origem do atletismo e o seu processo histórico no Brasil e no mundo. Veremos, também, os principais órgãos responsáveis por esse esporte, as competições oficiais, as instalações e os equipamentos necessários. 1.1 Conhecendo o atletismo Vídeo O atletismo é inerente ao homem, afinal, nossos ancestrais já anda- vam e precisavam correr, saltar e lançar como uma forma primitiva de sobrevivência, numa luta constante de busca por alimentos e contra predadores. Podemos dizer que, a partir disso, o homem desenvolveu habilidades que explicam o surgimento das primeiras competições es- portivas atléticas, já que elas nasceram da imitação dos movimentos naturais do ser humano. Nesse sentido, o atletismo é considerado o esporte mais antigo do mundo. Trata-se de um conjunto de modalidades esportivas que envol- ve corridas, saltos, lançamentos e arremessos. No início de sua prática, essas atividades eram consideradas preparação para a guerra. 10 Metodologia do ensino de atletismo De acordo com Oliveira (2006), há evidências de que a origem do atletismo aconteceu por volta de 4 mil anos atrás, no Antigo Egito, onde os homens realizavam corridas. Já na Grécia Antiga, surgiram jogos re- gulares, com disputas de corrida, arremesso de objetos diversos e sal- tos. Porém, os registros efetuados na Grécia, em 776 a.C., indicam que somente a corrida existiu no estádio. EUPHILETOS. Ânfora do prêmio Panathenaic de terracota. c. 530 a.C., 62,2 cm. Terracota. Metropolitan Museum of Art, Nova York. Pharos//W ikimedia Commons Os Jogos Olímpicos da antiguidade tiveram início no ano de 776 a.C., sendo realizados até 393 d.C., quando foram suspensos por meio de uma proibição expressa do imperador romano Teodósio I. Este impe- diu a realização das competições por motivos religiosos. Por ser cristão, o imperador combatia qualquer movimentação, reunião ou culto que promovesse práticas não cristãs, e os torneios olímpicos estavam en- tre os eventos que mais agrupavam pessoas, sendo considerados uma atividade pagã. A decisão fez com que o templo dedicado a Zeus, em Olímpia, fos- se fechado para os Jogos Olímpicos, interrompendo-se, assim, uma tradição depois de mais de mil anos. Mariano (2012) afirma que essa decisão gerou muita revolta no povo, pois não se tratavam apenas de competições, os jogos eram também um momento festivo. Entretanto, eles nada puderam fazer para combater a proibição. Já na era moderna, mais precisamente em 1892, Pierre de Frédy, mais conhecido como Barão de Coubertin, apresentou um projeto de Figura 1 Ânfora grega com repre- sentação de práticas de atletismo Introdução ao atletismo 11 restituição da tradição para se realizar um evento desportivo periódico, tal qual se fazia na Grécia Antiga. Sua intenção era criar um movimento internacional, chamado por ele de olimpismo, com o intuito de promo- ver a união entre os povos por meio do esporte. Além disso, Pierre queria formar o caráter dos jovens com a prática esportiva, a disciplina e o autoconhecimento, para que conseguissem dominar a si mesmo, ter espírito de equipe e disposição para competir. O projeto, entretanto, só foi colocado em prática no ano de 1894, após a realização de um congresso esportivo na cidade de Paris, que contou com a participação de 14 países. Nesse mesmo encontro, foi criado o Comitê Olímpico Internacional (COI), com sede na Suíça. O COI criou as normas para que fossem realizados os primeiros jogos em 1896, e Atenas foi escolhida como cidade-sede, por sentimento de valor histórico e representativo. O programa de atletismo dos Jogos Olímpicos de 1896, em Atenas, foi composto por corridas de 100 m, 400 m, 800 m e 1.500 m; além de 110 m com barreiras, saltos em distância, altura, triplo e com vara, e, ainda, arremesso de peso e lançamentos de disco. Uma maratona es- pecial foi sugerida pelo francês Michel Bréal para recordar o soldado Fidípedes, que correu da cidade de Maratona até Atenas para anunciar aos gregos a vitória de Milcíades sobre os persas em 490 a.C. O percur- so foi de 42 km, que compreendia a distância aproximada percorrida por Fidípedes, e teve como vencedor o grego Louís Spýros. Lu ck yB ird ie /W ik im ed ia C om m on s Figura 2 Pierre de Frédy, fundador dos Jogos Olímpicos da era moderna Materialscientist / Wikimedia Commons Figura 3 Cerimônia de abertura dos Jogos Olímpicos de Atenas, 1896 12 Metodologia do ensino de atletismo Primeiramente aberto apenas a competidores do sexo masculino, o programa de atletismo olímpico foi modificado com o tempo. Em 1900, por exemplo, foram introduzidas as seguintes provas: 400 m com bar- reiras, 2.500 m com obstáculos e lançamento de martelo. Dentre as modalidades clássicas, as últimas a aparecerem no programa dos Jogos Olímpicos modernos foram o lançamento de dardo, em 1908, e o pen- tatlo, em 1912. Nesse ano, realizaram-se também o primeiro decatlo e os revezamentos de 4×100 metros e 4×400 metros. É importante destacar que o programa original olímpico era ex- clusividade dos homens, e a cada ano foram sendo acrescentadas as modalidades; a última prova clássica a ser inserida foi o lançamento de dardo, oficialmente disputado em 1908. As mulheres vieram a par- ticipar das provas de atletismo dos Jogos Olímpicos somente em 1928. No Brasil, o atletismo surgiu no final do século XIX. Em meados dos anos 1880, os resultados de competições de várias modalidades do atletismo no Rio de Janeiro eram anunciados no Jornal do Commercio da capital carioca. Entre os anos de 1900 a 1930, o atletismo teve uma ascensão mui- to significativa, chamando a atenção de muitos atletas da época para a sua prática. Sendo assim, ele foi consolidado no país pela antiga Confederação Brasileira de Desportos (CBD), que era a responsável por praticamente todos os esportes no Brasil. De acordo com a Confederação Brasileira de Atletismo (CBAt), a CBD se filiou, em 1914, à Federação Internacional de Atletismo Amador, cria- da em 1912. Em 2001 mudou para Associação Internacional das Fede- rações de Atletismo, mas permaneceu com a mesma sigla (IAAF) – vale ressaltar que a IAAF mudou de nome e logomarca em 2019, passando a se chamar World Athletics; em português, Atletismo Mundial. Essa fi- liação foi o que possibilitou a primeira participação brasileira em um torneio olímpico, nos Jogos de Paris, em 1924, conhecidos como Jogos de Verão. O primeiro campeonato nacional no Brasil foi o Campeonato Brasileiro de Seleções Estaduais, no ano de 1925 (CBAt, 2008). Em 1931, liderada pela Confederação Brasileira de Desportos (CBD), a seleção nacional começou a disputar os Campeonatos Sul-America- decatlo: competição de atletismo composta por dez provas. Nos Jogos Olímpicos, é exclusivamente praticada por homens. O equivalente feminino dessa prova é o heptatlo, com sete provas. Glossário Introdução ao atletismo 13 nos. Segundo dados da CBAt (2008), “em 1932, Clovis Rapozo (oitavo no salto em distância) e Lúcio de Castro (sexto no salto com vara) chega- ram às finais nos Jogos Olímpicos de Los Angeles, nos Estados Unidos.Quatro anos depois, Sylvio de Magalhães Padilha foi o quinto nos 400 m com barreiras nos Jogos de Berlim, na Alemanha”. Em 1945, foi criado o Troféu Brasil de Atletismo, que contou com a participação de clubes representando todos os estados brasileiros. Hoje, é a maior competição nacional de atletismo do calendário do país. Ainda de acordo com a CBAt (2008, on-line), “em 1952, nos Jo- gos de Helsinque, na Finlândia, Adhemar Ferreira da Silva conquistou a medalha de ouro no salto triplo, em 23 de julho”, batendo o recorde mundial com um salto de 16,22 m. Arquivo Nacional/W ikim edia Com m ons Visando a uma maior atenção e um maior foco na disseminação do esporte, em 1977, o atletismo se desliga oficialmente da CBD e passa a ser coordenado pela CBAt, órgão criado especificamente para cuidar do atletismo em todas as esferas, da base nas escolas até o alto ren- dimento. A CBAt teve origem no Rio de Janeiro em 1977, mudou para Manaus em 1994 e, em 2013, transferiu-se para São Paulo. Para resumir o processo histórico do atletismo que vimos até aqui, destacamos algumas datas importantes na linha do tempo a seguir. No início, as competições eram realizadas em um conjunto de modalidades, que envolviam atletismo, futebol, remo, entre outras. Acesse o QR Code a seguir e veja uma fotografia do evento realizado na época. Curiosidade Figura 4 Adhemar Ferreira da Silva durante os Jogos de Helsinque, em 1952 14 Metodologia do ensino de atletismo 1.2 Provas oficiais Vídeo Uma característica imprescindível para que um esporte seja con- siderado como oficial é a existência de um órgão regulamentador ao qual esteja associado e subordinado. Assim é o papel das federações, confederações, associações e comitês, que são responsáveis por orga- nizar eventos e, principalmente, elaborar as regras de cada esporte. 776 a.C. Primeira prova olímpica, uma corrida de 200 m chamada de stadium. 1896 Retorno das competições de estádio – atletismo moderno (corridas, saltos, lançamentos e combinadas). 394 d.C. Interrupção dos Jogos Olímpicos. 1910 Primeiras competições de atletismo no Brasil sob a responsabilidade da Confederação Brasileira de Desporto (CBD). 1914 CBD filia-se à IAAF. 1924 Primeira participação do Brasil em Jogos Olímpicos (Paris). 1928 Primeira participação das mulheres em Jogos Olímpicos (Amsterdã). 1929 Primeira competição oficial de atletismo no Brasil – Campeonato Brasileiro de Seleções Estaduais. 1945 Primeira edição do Troféu Brasil de Atletismo. Hoje, é a principal competição nacional do calendário da CBAt. 1952 Primeira medalha no atletismo do Brasil, com Adhemar Ferreira da Silva no salto triplo (estabelecendo o novo recorde mundial). 2001 A IAAF altera sua denominação para Associação Internacional das Federações de Atletismo. 2019 A IAAF muda a logomarca e o nome para World Athletics. 1912 Criação da Federação Internacional de Atletismo Amador (IAAF). 1977 Criação da CBAt no Rio de Janeiro. Introdução ao atletismo 15 Sem as entidades representativas não seria possível estabelecer normas, padrões e regras para cada modalidade. Imagine cada país criando sua própria regra para uma mesma prática; seria um caos para realizar uma competição internacional, não é mesmo? Portanto, a se- guir, conheceremos algumas dessas organizações para depois saber quais são as provas oficiais e as instalações determinadas por elas. O atletismo não é diferente de outros esportes, isto é, possui mui- tas instituições responsáveis por ele e que vão de abrangência nacio- nal à internacional. Entidade máxima responsável por organizar competições mundiais e coordenar federações e confederações. WORLD ATHLETICS Com sede em Manaus, este é o órgão responsável por organizar competições em seu domínio na América do Sul. CONFEDERAÇÃO SUL-AMERICANA DE ATLETISMO (CONSUDATLE) Responsável pela administração, organização e realização das Olimpíadas. Seleciona e acompanha o país-sede dos Jogos em sua organização. COMITÊ OLÍMPICO INTERNACIONAL (COI) Atua diretamente com a CONSUDATLE no atendimento das federações regionais filiadas. Mantém relacionamento com os clubes e atletas, além de coordenar o esporte em nível estadual. CONFEDERAÇÃO BRASILEIRA DE ATLETISMO (CBAt) Instituição máxima no esporte do Brasil. Todas a federações com esportes olímpicos e algumas que não possuem esporte nos Jogos Olímpicos são subordinadas ao COB. COMITÊ OLÍMPICO DO BRASIL (COB) Quando falamos em esporte adaptado, surgem órgãos específicos em função das especificidades de cada deficiência, que exigem atenção especial e um conjunto de regras ajustadas. Entidade máxima responsável, que tem, entre suas principais funções, organizar as Paralimpíadas. Responsável por coordenar todos os esportes que fazem parte das Paralimpíadas. COMITÊ PARALÍMPICO INTERNACIONAL (IPC) COMITÊ PARALÍMPICO BRASILEIRO (CPB) 16 Metodologia do ensino de atletismo Após conhecermos as entidades responsáveis pelo atletismo em ní- vel nacional e internacional, é hora de saber quais são as provas oficiais e suas classificações. As provas oficiais do atletismo são classificadas em diferentes grupos, de acordo com as capacidades e habilidades atléticas utilizadas pelos praticantes na competição. O conjunto de mo- dalidades é dividido em quatro grupos: provas de pista, provas de cam- po, provas de rua e provas combinadas. Figura 5 Organograma de provas oficiais PROVAS DE PISTA PROVAS DE CAMPO PROVAS DE RUA PROVAS COMBINADAS Lançamento de disco Salto em altura Maratona Lançamento de martelo Salto com vara Marcha Lançamento de dardo Salto em distância Arremesso de peso Salto triplo 100 m com barreiras Salto em distância Arremesso de peso 400 m rasos 110 m com barreiras Arremesso de disco Salto com vara Lançamento de dardo 1.500 m rasos 100 m com barreiras Salto em altura Arremesso de peso 200 m rasos Salto em distância Lançamento de dardo 800 m rasos Fonte: Dicionário Olímpico, 2020. Corridas rasas Provas de lançamento Heptatlo Provas de salto Decatlo Corridas de revezamento Corridas com barreiras Corridas com obstáculos Dividem-se em:Dividem-se em: Dividem-se em: Dividem-se em: PISTAS Ocorrem em IMPLEMENTOS São usados ESTÁDIOS Ocorrem em PERCURSO Tem Dividem-se em: São tipos de 7 provas 10 provas MasculinoFeminino Ink on g B ou tch ale rn/ Sh utt ers toc k Introdução ao atletismo 17 Como podemos ver, nas provas de pista, acontecem corridas ra- sas e revezamento, com barreiras e obstáculos. Já nas provas de cam- po, temos os lançamentos de dardo, disco e martelo, o arremesso de peso, os saltos em altura, com vara, em distância e triplo. Nas provas de rua, os atletas participam da maratona e da marcha atlética. Por fim, nas provas combinadas, os atletas realizam o heptatlo (conjunto de sete provas) para o feminino e o decatlo (conjunto de dez provas) para o masculino. Percebemos que há uma classificação por gênero masculino e fe- minino nas provas; isso acontece devido à diferença nas capacidades de proficiência física entre homens e mulheres, que são muito utiliza- das no atletismo. Dentre elas, podemos citar força, velocidade e re- sistência. Quando comparamos os resultados das provas, fica muito evidente essa diferenciação. Por exemplo, no masculino, o recorde mundial de uma maratona (42.195 m) é do queniano Eliud Kipchoge, com o tempo de 01:59:40; já no feminino, o recorde é da queniana Brigid Kosgei, com 02:14:04. As diferenças nos resultados seguem nos saltos, lançamentos, ar- remessos e demais provas. Por isso, a forma mais justa é separar as categorias por gênero na fase adulta. Já no processo de crescimento, maturação e desenvolvimento, o jovem possui diferenças morfológi- cas, psicofisiológicas, cognitivas, afetivas e sociais que ainda estão em formação; por isso, existe a classificação por faixa etária. A Norma 12, art. 1º da CBAt (2020), aprovada pela AssembleiaGeral em 26 de abril de 2014 e atualizada pelo Departamento Técnico em 26 agosto de 2019, refere-se às categorias e respectivas faixas etárias ofi- ciais do atletismo no Brasil, em consonância com as normas e regras da World Athletics e da CONSUDATLE, devendo ser aplicada obrigatoria- mente no atletismo brasileiro. Vamos ver, a seguir, quais são elas. a. Categoria Sub-14: atletas com 12 e 13 anos no ano da competição. b. Categoria Sub-16: atletas com 14 e 15 anos no ano da competição. c. Categoria Sub-18: atletas com 16 e 17 anos no ano da competição. d. Categoria Sub-20: atletas com 16, 17, 18 e 19 anos no ano da competição. e. Categoria Sub-23: atletas com 16, 17, 18, 19, 20, 21 e 22 anos no ano da competição. f. Categoria de Adultos: atletas de 16 anos em diante no ano da competição. O filme Raça retrata a vida do norte-ame- ricano Jesse Owens, corredor que, durante as Olimpíadas de 1936, mostrou ao mundo que a ideia de supremacia ariana construída por Hitler era apenas uma ideia racista. Direção: Stephen Hopkins. Canadá: Diamonds Films, 2016. Filme 18 Metodologia do ensino de atletismo g. Categoria de Masters: atletas de 35 anos em diante (idade a ser considerada no dia da competição). É importante destacar que, além das categorias definidas pelos ór- gãos regulamentadores, existe a divisão por faixa etária dentro das ca- tegorias, que é apresentada no Quadro 1. Quadro 1 Categorias e faixas etárias da CBAt Idade Masculino – Faixa etária Feminino – Faixa etária 35 a 39 anos M35 F35 40 a 44 anos M40 F40 45 a 49 anos M45 F45 50 a 54 anos M50 F50 55 a 59 anos M55 F55 60 a 64 anos M60 F60 65 a 69 anos M65 F65 70 a 74 anos M70 F70 75 a 79 anos M75 F75 80 a 84 anos M80 F80 85 a 89 anos M85 F85 90 a 94 anos M90 F90 95 a 99 anos M95 F95 100 anos e acima M100 F100 Fonte: CBAt, 2020. Ainda de acordo a Norma 12 da CBAt (2020), para as provas serem validadas e terem seus resultados homologados, a aplicação dessa norma é condição básica obrigatória em todas as competições oficiais de atletismo realizadas no Brasil. Além da classificação descrita no Quadro 1, a mesma norma da CBAt permite que as competições ofi- ciais, no Brasil, sejam subdivididas em: • Competições Sub-14: os atletas não podem participar em mais de duas provas, sendo uma individual e outra no revezamento. É vedada a participação de atletas menores de 11 anos de idade; para essa faixa etária, é recomendado o Programa Miniatletismo da CBAt/Word Athletics. Introdução ao atletismo 19 • Competições Sub-16: podem participar atletas com 14 e 15 anos de idade no ano da competição. • Competições Sub-18: podem participar atletas com 16 e 17 anos de idade no ano da competição. • Competições Sub-20: podem participar atletas com 16, 17, 18 e 19 anos de idade no ano da competição. • Categoria Sub-23: atletas com 16 e 17 anos de idade não podem participar das provas de arremesso, lançamentos e decatlos, no masculino, e das provas de 10.000 metros, maratona e marcha atlética, no masculino ou feminino. Atletas da categoria Sub-20 com 18 e 19 anos podem participar das competições Sub-23, exceto das provas de maratona e 50 km marcha atlética. A Norma 12 da CBAt (2020), ainda, estabelece idades mínimas para a participação de atletas em corridas de rua. São elas: • Provas com percurso de até 5 km: 14 (catorze) anos completos até 31 de dezembro do ano da prova. • Provas com percurso menor que 10 km: 16 (dezesseis) anos com- pletos até 31 de dezembro do ano da prova. • Provas com percurso de 10 km a 30 km: 18 (dezoito) anos com- pletos até 31 de dezembro do ano da prova. • Maratona e acima: 20 (vinte) anos completos até 31 de dezembro do ano da prova. Essa definição considera os fatores biológicos e fisiológicos dos in- divíduos, principalmente quanto aos estágios de desenvolvimento e maturação. É importante que qualquer prática esportiva seja benéfica aos atletas e não o contrário. O crescimento das corridas de rua e o aumento no número de praticantes não pode ser motivo para a prática indiscriminada e sem o devido cuidado com a saúde. A seguir, apresentaremos o quadro de provas oficiais do atletismo na categoria masculina. Da categoria Sub-16 à categoria Adulto são rea- lizadas todas as provas com variação de distâncias nas corridas, altura nos saltos e peso nos arremessos e lançamentos. A categoria Sub-14 segue os mesmos critérios e provas, exceto a corrida com obstáculos, que não há. No documentário Town of runners, a paixão pela corrida é o viés da história de duas meninas na Etiópia que buscam, no esporte, uma vida diferente. O filme retrata três anos de treinamento dessas corredoras e seus altos e baixos para se tornarem atletas profis- sionais. Direção: Jerry Rothwrll. Etiópia; EUA: Met Film Production, 2012. Filme 20 Metodologia do ensino de atletismo Quadro 2 Provas oficiais do atletismo masculino Provas Adulto Sub-23 Sub-20 Sub-18 Sub-16 Sub-14 Corridas rasas 100 m 200 m 400 m 800 m 1.500 m 5.000 m 10.000 m 100 m 200 m 400 m 800 m 1.500 m 5.000 m 10.000 m 100 m 200 m 400 m 800 m 1.500 m 3.000 m 5.000 m 100 m 200 m 400 m 800 m 1.500 m 3.000 m 75 m 250 m 1.000 m 60 m 150 m 800 m Corridas com barreiras 110 m 400 m 110 m 400 m 110 m 400 m 110 m 400 m 100 m 300 m 60 m Corrida com obstáculos 3.000 m 3.000 m 3.000 m 2.000 m 1.000 m Não há Marcha atlética 20.000 m 50.000 m 20.000 m 10.000 m 10.000 m 5.000 m 2.000 m Revezamentos 4×100 m 4×400 m 4×100 m 4×400 m 4×100 m 4×400 m 4×400 m Misto**** 4×75 m 4×60 m Saltos Distância Altura Triplo Vara Distância Altura Triplo Vara Distância Altura Triplo Vara Distância Altura Triplo Vara Distância Altura Triplo Vara Distância Altura Vara ** Arremesso Lançamentos Peso (7,26 kg) Disco (2 kg) Dardo (800 g) Martelo (7,26 kg) Peso (7,26 kg) Disco (2 kg) Dardo (800 g) Martelo (7,26 kg) Peso (6 kg) Disco (1,75 kg) Dardo (800 g) Martelo (6 kg) Peso (5 kg) Disco (1,5 kg) Dardo (700 g) Martelo (5 kg) Peso (4 kg) Disco (1 kg) Dardo (600 g) Martelo (4 kg) Peso (3 kg) Disco (750 g) Dardo (500 g) Martelo (3 kg) *** Combinada Decatlo Decatlo Decatlo Decatlo Pentatlo Tetratlo ** A vara dever ter comprimento de 2,80 m a 3,40 m. *** Cabo com comprimento de 90 cm. **** Prova realizada com dois atletas do naipe masculino e dois atletas do naipe feminino. Fonte: Elaborado pelo autor com base em CBAt, 2020. As provas oficiais de corrida para o feminino apresentam a mesma classificação nas categorias Sub-16 até a categoria Adulto do masculi- no. Assim como nas provas masculinas, as diferenças estão nas pro- vas de arremesso e lançamentos. Observe que os pesos são diferentes entre o masculino e o feminino e existe diferença do decatlo para os Introdução ao atletismo 21 homens e heptatlo para as mulheres. Com relação à categoria Sub-14 feminino, esta segue a mesma divisão de provas; as únicas alterações são no peso do dardo e do martelo, com 100 g a menos. Quadro 3 Provas oficiais do atletismo feminino Provas Adulto Sub-23 Sub-20 Sub-18 Sub-16 Sub-14 Corridas 100 m 200 m 400 m 800 m 1.500 m 5.000 m 10.000 m 100 m 200 m 400 m 800 m 1.500 m 5.000 m 10.000 m 100 m 200 m 400 m 800 m 1.500 m 3.000 m 5.000 m 100 m 200 m 400 m 800 m 1.500 m 3.000 m 75m 250 m 1.000 m 60 m 150 m 800 m Corridas com barreiras 100 m 400 m 100 m 400 m 100 m 400 m 100 m 400 m 80 m 300 m 60 m Corrida com obstáculos 3.000 m 3.000 m 3.000 m 2.000 m 1.000 m Não há Marcha atlética 20.000 m 20.000 m 10.000 m 5.000 m 3.000 m 2.000 m Revezamentos 4×100 m 4×400 m 4×100 m 4×400 m 4×100 m 4×400 m 4×400 m Misto**** 4×75 m 4×60 m Saltos Distância Altura Triplo Vara Distância Altura Triplo Vara Distância Altura Triplo Vara Distância Altura Triplo Vara Distância Altura Triplo Vara Distância Altura Vara ** Arremesso Lançamentos Peso (4 kg)Disco (1 kg) Dardo (600 g) Martelo (4 kg) Peso (4 kg) Disco (1 kg) Dardo (600 g) Martelo (4 kg) Peso (4 kg) Disco (1 kg) Dardo (600 g) Martelo (4 kg) Peso (3 kg) Disco (1 kg) Dardo (500 g) Martelo (3 kg) Peso (3 kg) Disco (750 g) Dardo (500 g) Martelo (3 kg) Peso (3 kg) Disco (750 g) Dardo (400 g) Martelo (2 kg) *** Combinada Heptatlo Heptatlo Heptatlo Heptatlo Pentatlo Tetratlo ** A vara deve ter comprimento de 2,80 m a 3,40 m. *** Cabo com comprimento de 80 cm. **** Prova realizada com dois atletas do naipe masculino e dois atletas do naipe feminino. Fonte: Elaborado pelo autor com base em CBAt, 2020. 22 Metodologia do ensino de atletismo Como falamos no início do capítulo, o atletismo é um conjunto de mo- dalidades esportivas. Cada uma dessas modalidade possui características, especificidades e, ainda, é dividida por gênero e idade; isso torna esse es- porte ainda mais completo e possibilita inúmeras maneiras de trabalhá-lo em espaços escolares. Com tantas opções, imagine o que podemos de- senvolver na escola com corridas, saltos, arremesso e lançamentos! 1.3 Instalações Vídeo Para a execução das provas de atletismo, assim como em outros es- portes, é necessário um espaço específico. Nesse sentido, o conjunto de modalidades é praticado na pista e no campo, exceto as corridas de rua e as provas combinadas, como vimos anteriormente. Na pista, são realizadas as provas de corridas e a marcha, enquanto, no campo, acon- tecem os saltos, lançamentos e o arremesso. Podemos encontrar pistas com tamanhos diversos, entretanto, focaremos nas medidas oficiais. Figura 6 Pista e campo de atletismo Áreas para saltos horizontais • Salto em distância • Salto triplo Áreas para lançamento de dardo Pistas para corridas Áreas para arremesso de peso 200 m 5.000 m 1.500 m 800 m 400 m, 400 m com barreiras e revezamento 4x100 m10.000 m e revezamento 4x400 m 3.000 m com obstáculos 100 m e 100 m com barreiras 110 m com barreiras Áreas para lançamento de disco e martelo Áreas para saltos verticais • Salto em altura • Salto com vara Pontos de partida Ponto de chegada de todas as modalidades de corrida Yul iya n V elc he v/ Sh ut te rs to ck Introdução ao atletismo 23 As pistas de atletismo, geralmente, ficam dentro de estádios, principalmente as que são utilizadas em competições internacio- nais; isso se deve ao fato de possuírem arquibancada para o públi- co e estrutura para recepção e acomodação dos atletas. As provas acontecem simultaneamente e, por isso, a pista e o campo possuem distribuição organizada para atender a modalidades diferentes ao mesmo tempo, ficando apenas as finais com exclusividade. As pistas de atletismo possuem pisos e tamanhos diferentes, mas, de acordo com as regras oficiais da CBAt (2020), a pista deve ser construída em formato oval, com duas curvas em formato de meia lua que liguem as duas retas. A reta principal pode ser identi- ficada, na Figura 6, pela linha de chegada (padrão em todas as pro- vas) e pelo prolongamento, onde acontecem as provas de 100 m; ela também atende às corridas com barreiras. Para uma pista receber provas oficiais, ela precisa ter certificado de aprovação emitido pela World Athletics. As marcações oficiais determinam que deve haver oito raias me- dindo 1,22 metros de largura e separadas por faixas de 5 centíme- tros de largura. Uma volta completa na raia interna (raia 1) mede 400 metros; a raia mais externa (raia 8) mede 449 metros de exten- são. Por conta dessa diferença de comprimento entre as raias, nas provas acima de 200 metros, que passam pelas curvas, foram fei- tos os escalonamentos no ponto de partida da prova, assim há uma compensação e as distâncias ficam iguais. No campo, são realizadas as provas de salto em distância, tri- plo, em altura e com vara, lançamento de disco, martelo e dardo, e arremesso de peso. Vamos conhecer as áreas de execução dessas modalidades? Os saltos estão divididos em horizontal (salto triplo e em distân- cia) e vertical (salto com vara e em altura). Consequentemente, estes necessitam de quatros instalações, de acordo com as regras oficiais da CBAt (2020). As provas sempre são realizadas em sentido anti-horário. A curva logo após a largada é chamada de primeira curva e a outra, segunda curva. Importante 24 Metodologia do ensino de atletismo Para essa modalidade, é necessário um corredor (pista de balanço)me- dindo entre 40 e 45 metros de comprimento, com largura de 1,22 metros, demarcado com linhas brancas de 5 centímetros de largura (a mesma dimensão da pista). Além disso, deve haver a tábua de impulsão, que é feita de madeira, com 1,22 metros de largura e 20 centímetros de com- primento; ela deve ser fixada no mesmo nível da pista. Na sequência, deve existir um espaço de 1 a 3 metros entre a tábua e a área de queda. Esta deve medir entre 2,75 e 3 metros e ser preenchida com areia fofa e molhada; sua superfície deve estar no mesmo nível da pista. SALTO EM DISTÂNCIA Possui as mesmas medidas da instalação para o salto em distân- cia. As diferenças ficam por conta da tábua de impulsão, que deve ter distância da área de queda de, no mínimo, 13 metros para homens e 11 metros para mulheres. Além disso, precisa ter, pelo menos, 21 me- tros até o final da área de queda. SALTO TRIPLO Petrovic Igor/Shutterstock Pe tro vic Ig or/ Sh utt ers toc k Figura 7 Área do salto em distância Área de queda 2,75 e 3 m Tábua de impulsão (1,22 m x 20 cm) de 1 a 3 m 1,22m Pista de balanço (entre 40 e 45 m) Linha branca de demarcação da pista (5 cm) IESDE21m Figura 8 Área do salto triplo 13 m para homens 11 m para mulheres Tábua de impulsão Pista de balanço IESDE Área de queda 2,75 e 3 m 21m Introdução ao atletismo 25 A instalação dessa modalidade é formada por um corredor com lar- gura mínima de 16 metros e extensão entre 15 e 25 metros. A área de queda deve ter de 5 a 6 metros de comprimento, 3 a 4 metros de largura e 70 centímetros de altura. O colchão fica posicionado atrás da fasquia. SALTO EM ALTURA Figura 9 Corredor do salto em altura Postes Fasquia Pista de balanço Colchão de queda Pet rovi c Ig or/S hut ters toc k Pe tro vic Ig or /S hu tte rs to ck IESDE70 cm 3 a 4 m 5 a 6 m 15 a 25 m 16 m Para essa modalidade, é necessário um corredor medindo entre 40 e 45 metros de comprimento, com largura de 1,22 metros, demarcado com linhas brancas de 5 centímetros de largura (a mesma dimensão da pista). O encaixe da vara deve ser enterrado a 20 centímetros de profundidade e com a borda visível no mesmo nível da superfície. Em seu início, a caixa de apoio da vara tem largura de 60 centímetros e, ao final, 40,8 centímetros de altura. O colchão da área de recepção deve medir entre 5 e 6 metros quadrados. Nas laterais da abertura de encaixe da vara, encontram-se dois apêndices do colchão com 2 metros de comprimento. SALTO COM VARA Pista de corrida (entre 40 e 45 m) Cerca de 4 m Caixa de apoio 40,8 cm 20 cm 60 cm Colchão de recepção (entre 5 e 6 m) Área de aterrissagem Figura 10 Corredor de salto com vara IESDE 1,22 m 26 Metodologia do ensino de atletismo Para os lançamentos e arremessos, são necessários três espaços. Suas respectivas características são apresentadas a seguir. Compreende um círculo de lançamento com diâmetro interno de 2,5 metros, com borda na cor branca de 6 centímetros de espessura. Nessa modalidade, deve haver uma linha com 75 centímetros de com- primento e 5 centímetros de largura que vai da borda do círculo em direção à área de queda. Ela marca o local de saída das duas linhas perpendiculares ao eixo central da área de queda. Esta, por sua vez, é constituída de duas linhas brancas de 5 centímetros, formando um ângulo de 34,92º. Para que o disco não atinja outras pessoas, no mo- mento do lançamento, há uma tela de proteção chamada gaiola. LANÇAMENTO DE DISCO Figura 11 Gaiola de lançamentode disco Gaiola 34,92° Linhas local de saída (75 cm) Formado por um círculo, o local de lançamento conta com diâmetro interno de 2,13 metros e borda na cor branca de 6 centímetros de es- pessura. A frente possui o setor de queda, que é representado por duas linhas brancas de 5 centímetros de largura e, assim como no lançamento de disco, essas duas linhas formam um ângulo de 34,92º. Para evitar que o martelo toque o árbitro ou a plateia, existe a gaiola de proteção. LANÇAMENTO DE MARTELO Petrovic Igor/Shutterstock Petrovic Igor/Shutterstock IESDE Círculo de lançamento (2,5 m) Introdução ao atletismo 27 Figura 12 Corredor de lançamento de dardo Nessa modalidade, há um corredor medindo de 30 a 36 metros de comprimento, com 4 metros de largura, e marcado com linhas brancas de 5 centímetros de largura. No final desse corredor, fica a área de lançamento com 8 metros de diâmetro e no mesmo nível do solo. Duas linhas brancas de 5 centímetros de largura, com ângulo de 28,96°, for- mam o setor de queda. LANÇAMENTO DE DARDO O círculo do arremesso possui diâmetro interno de 2,13 metros, borda com 5 centímetros de largura e na cor branca. Na parte frontal, deve ser fixado um anteparo, normalmente feito de madeira ou aço, em formato de meia lua na parte interna, acompanhando o formato do círculo. Seu tamanho varia entre 9 e 10 centímetros de altura, apro- ximadamente, com 1,22 metros de comprimento e 11 a 30 centímetros de largura. A área de queda contém duas linhas de 5 centímetros de largura, na cor branca, que formam um ângulo de 34,92°. ARREMESSO DE PESO Petrovic Igor/Shutterstock Petrovic Igor/Shutterstock Figura 13 Círculo do arremesso de peso Eixo central Linha branca 34,92° IESDECírculo de arremesso 2,13 m Anteparo 9-10x1,22x11-30 Ângulo de lançamento 28,96° Pista: de 30 a 36 m Área de lançamento 8m Posição de saída O atleta não deve passar desta linha Alumínio Área de contato 4 m Dardo feminino Peso: 600 g | Comprimento: 2,20/2,30 m Dardo masculino Peso: 800 g | Comprimento: 2,60/2,70 m IESDE 28 Metodologia do ensino de atletismo Neste capítulo, pudemos compreender a história do atletismo e a sua execução até os dias atuais. Com esse conhecimento, foi possível abordar a constituição dos órgãos responsáveis pelo esporte no Bra- sil e no mundo, bem como a institucionalização de diretrizes e regras. Foi possível, ainda, conhecer sobre as instalações e competições e, dessa forma, compreender a categorização, os métodos e as técnicas de cada modalidade. CONSIDERAÇÕES FINAIS O atletismo é um dos esportes mais clássicos que existem, pois pos- sui os movimentos elementares que representam o comportamento do ser humano, como andar, correr, saltar, segurar, lançar e arremessar; movimentos estes que, em determinado período da evolução, estavam associados à caça e à busca pela sobrevivência, passando para forma- ção e preparação do homem para guerras e competições, até ganhar o status de esporte, com o surgimento das entidades regulamentadoras e, por conseguinte, das regras e dos padrões para sua prática. Observando a peculiaridade do surgimento do atletismo, sua evo- lução no decorrer dos anos e o status que carrega nos dias atuais, podemos considerá-lo como um esporte nobre. Isso se prova ao ve- rificarmos a mobilização de um evento olímpico e, principalmente, da ascensão das corridas de rua. Pensando na magnitude do atletismo, a quantidade de modalida- des, classificações, provas, regras e instalações não poderiam ser menos complexas. Estamos diante de um esporte que traz um conjunto de ati- vidades capaz de atender a todos os públicos. É com essa máxima que o professor deve iniciar o trabalho no contexto escolar, independente- mente de espaços (que podem ser facilmente adaptados) e da heteroge- neidade de capacidades, habilidades e potencialidades dos alunos. ATIVIDADES 1. O atletismo é uma modalidade que consiste em um conjunto de provas esportivas (corridas, saltos, lançamentos e arremessos); existem também as provas combinadas, em que os atletas realizam o heptatlo (conjunto de sete provas) para o feminino e o decatlo (conjunto de dez provas) para o masculino. Explique por que acontece essa classificação por gênero masculino e feminino nas provas. Introdução ao atletismo 29 2. Em uma competição de atletismo, observa-se que, nas provas de 200 m e 400 m, os atletas não saem da mesma posição na largada. Por que ocorrem os escalonamentos no ponto de partida da prova? 3. Em se tratando de saltos horizontais, quais são as principais semelhanças e diferenças existentes entre o salto em distância e o salto triplo? REFERÊNCIAS CONFEDERAÇÃO BRASILEIRA DE ATLETISMO. História do Atletismo. São Paulo: CBAt, 2008. Disponível em: http://www.cbat.org.br/acbat/historico.asp acesso em: 24 maio 2020. CONFEDERAÇÃO BRASILEIRA DE ATLETISMO - CBAt. Regras De Competição e Regras Técnicas – 2020: Edição Oficial para o Brasil. São Paulo: CBAt, 2020. Disponível em: http://www.cbat. org.br/repositorio/cbat/documentos_oficiais/regras/regrasdecompeticaoeregrastecnicas_ edicao2020.pdf. Acesso em 18 maio 2020. DICIONÁRIO OLÍMPICO. Atletismo. 2020. Disponível em: http://www.dicionarioolimpico. com.br/. Acesso em: 18 maio 2020. MARIANO, C. Educação Física: o atletismo no currículo escolar. 2 ed. Rio de Janeiro: Wak, 2012. OLIVEIRA, M. C. Atletismo Escolar: uma proposta de ensino na educação infantil. Rio de Janeiro: Sprint, 2006. 30 Metodologia do ensino de atletismo 2 Atletismo na escola Neste capítulo, abordaremos os aspectos didáticos e metodo- lógicos do atletismo no contexto escolar, a influência da mídia na disseminação da prática esportiva, do seu reconhecimento nas aulas de Educação Física e como o professor poderá fazer o seu planejamento para que o atletismo se torne prazeroso para o alu- no e contribua na sua formação enquanto cidadão. Discutiremos, também, a Base Nacional Comum Curricular (BNCC), principalmente com relação às competências gerais e específicas, bem como as habilidades a serem desenvolvidas pe- los alunos nas aulas de Educação Física no ensino fundamental e médio. Ainda, discorreremos a respeito do papel do professor no ensino do atletismo como um facilitador e mediador da aprendiza- gem do aluno. 2.1 Aspectos didáticos e metodológicos Vídeo O atletismo, por muito tempo, foi negligenciado na Educação Fí- sica escolar e os motivos são diversos. Dentre eles, podemos citar a infraestrutura inadequada das escolas, a predominância dos esportes coletivos (como futsal, vôlei, handebol e jogo de queimada), o desin- teresse dos professores e alunos em trabalhar e praticar o atletismo, entre outros. Os esportes possuem papel importante na cultura de uma socie- dade. Sendo muitas vezes fatores determinantes na sociedade, assim também é possível afirmar que os esportes em alta na mídia, que fazem parte da grade de transmissão televisiva, representam uma espécie de hierarquia em relação aos demais. Os esportes citados anteriormente representam o topo dessa hierarquização, já o atletismo figura abaixo nesse cenário. Atletismo na escola 31 Entre vários aspectos, podemos considerar que se o atletismo ti- vesse maior espaço nos veículos de comunicação, despertaria maior interesse. Esse primeiro ponto não seria significativo se a cultura es- colar influenciasse a mídia e não o contrário. Outro ponto que merece atenção, relacionado também à divulgação da modalidade pela mídia, é a falta de espaço adequado, incentivos à prática, parcerias e persona- lidades desse esporte. Matthiesen (2017) aponta que a mudança desse cenário começa a partir da formação superior, isto é, os graduandos precisam aumentar o interesse na modalidade para poder desenvolver um trabalho que discuta todas as vertentes educativas do atletismo, desde técnicas até os aspectos sociais. O baixo interesse dos acadêmicos resulta em difi- culdades ligadas diretamente ao modo como os conteúdos são plane- jados e, consequentemente,conduzidos durante as aulas. Ainda de acordo com Matthiesen (2017), o processo de ensino- -aprendizagem do atletismo e seus aspectos didáticos e metodológicos evidenciam a necessidade de entendimento desse esporte como um conjunto de modalidades esportivas de iniciação, devido aos seus fun- damentos básicos, como correr, saltar, lançar e arremessar. Atualmente, a esportivização impõe a competição e a vitória como os fatores mais importantes de sua prática. Embora reconheçamos que o atletismo esteja ligado historicamente ao alto rendimento, na escola, precisamos trabalhá-lo de maneira lúdica e recreativa também. É importante que esse esporte seja vivenciado no contexto educacio- nal além do tradicional; isso significa dizer que os valores, tais quais respeito, disciplina, ética, espírito de equipe, entre outros, precisam fazer parte da formação dos alunos enquanto sujeitos em fase de desenvolvimento. Para tanto, partimos do pressuposto de que a maio- ria dos alunos não se tornarão atletas de alto nível. Alguns autores, como Matthiesen (2017), consideram que o atletismo pode ser organizado na escola em três etapas. A primeira seria uma espécie de “pré-atletismo”, em que os alunos correm, saltam, caminham e arremessam de maneira natural e espontânea, com base em jogos e brincadeiras, executando movimentos básicos. A segunda etapa compreende o desenvolvimento desses mesmos movimentos, porém, com um nível de dificuldade maior para que sejam aprimora- das as capacidades motoras, inserindo exercícios mais complexos e esportivização: prática de transformar jogos e outras práticas corporais em esporte institucionalizado, ou seja, com característica competitiva. Glossário 32 Metodologia do ensino de atletismo exigindo maior destreza e habilidade. Na terceira etapa, são realizados os movimentos com a intencionalidade e a prática do atletismo, sem que haja uma cobrança excessiva para execução do movimento com perfeito gesto técnico, pois isso cabe a um programa específico de trei- namento do atletismo. Essa abordagem metodológica, possibilitada por meio do brincar, garante que o atletismo seja trabalhado na escola de modo prazeroso e que atenda a cada estágio do indivíduo, favorecendo o desenvolvimen- to integral da criança. A prática dos jogos é importante para aperfeiçoar a compreensão de convivência e respeito pelo próximo, além de pos- sibilitar o trabalho de conceitos, ética e cidadania. No jogo, a criança expõe seus sentimentos e emoções, promovendo relação constante de diversão e interação social. Os jogos são metodologias e estratégias pedagógicas fundamentais que permitem momentos de diálogo, análise e reflexão do que está sendo realizado. Assim, é possível construir o conhecimento e traba- lhar valores, como respeito, responsabilidade, união e cooperação, que são importantes para a vida em sociedade. É por meio dos jogos que a criança aprende a conviver com outras pessoas, trocando experiências e ampliando o seu conhecimento. Mas, para isso, é importante destacar aqueles em que os participan- tes jogam uns com os outros e não contra; eles são exercícios para compartilhar, unir pessoas e despertar a coragem para assumir riscos, tendo pouca preocupação com o fracasso e o sucesso em si. Durante o jogo, a criança se manifesta com uma naturalidade rara- mente observada em outras atividades. Na educação infantil, deve-se fazer uso dos jogos e brincadeiras na prática pedagógica, pois essas atividades fomentam o pensamento da criança. Com base na concepção do jogo, entende-se que o brincar é par- te integrante do desenvolvimento infantil; por meio dele, as crianças expressam o que vivem e sentem. A brincadeira deve ser encarada como algo sério na infância, pois é uma forma natural de as crian- ças externarem medos, problemas e angústias que enfrentam ou já enfrentaram. Ao brincar, a criança adquire a capacidade de simboli- zação e segue para novos espaços e construção da realidade; duran- te a brincadeira, ela desenvolve uma atitude positiva diante da vida. Nesse ato, o adulto ou criança faz coisas, não se trata apenas de Atletismo na escola 33 pensar ou desejar, o brincar é fazer; isso é prático e envolve corpo, objetos, tempo e espaço. O brincar desenvolve capacidades sensoriais, cognitivas, sociais, afetivas e psicomotoras na criança, facilitando a construção do apren- dizado, seja em grupo ou individualmente. É necessário que brinquem e vivenciem, em nível simbólico, suas ideias para a compreensão das experiências vividas. A brincadeira é caracterizada pela ludicidade e a atividade lúdica apresenta aspectos importantes a serem levados em consideração, tais como: o tempo e o espaço, os jogadores, os brinque- dos e objetos, e as ações e reações dos envolvidos. Com base na compreensão do jogo e da brincadeira, entendemos a importância do atletismo experimentado de modo lúdico no âmbito escolar. Ao propormos atividades divertidas, os alunos se entregam e as fazem com empenho, gerando experiência coletiva e individual, cada um com suas próprias impressões no contexto de vida e dos funda- mentos básicos do esporte. Segundo Mariano (2012), é preciso rever o atletismo lecionado no formato tradicional, que super valoriza a performance, e passar a vê-lo como prática educativa que, além de ensinar regras, gestos e técnicas, visa à formação global dos alunos, em que todos possam congregar, socializar, participar e incluir, para que não seja um esporte apenas para os mais habilidosos. Para promover aspectos didáticos e metodológicos, o professor precisa oferecer diversidade nas atividades do atletismo. Nesse senti- do, as práticas corporais lúdicas, culturais e psicológicas constituem-se como parte fundamental nesse processo. De acordo com Oliveira (2006), ainda existem barreiras para o ensi- no do atletismo, apresentadas com caráter didático-pedagógico, o que implica dizer que os profissionais priorizam outros esportes em detri- mento do atletismo, deixando de trabalhar o valor cultural do espor- te. Para o autor, essa escolha evidencia a fragilidade no planejamento das aulas de Educação Física na escola, visto que não aborda todos os conteúdos propostos pela BNCC e, mais grave, o aluno não vivencia a cultura corporal do movimento por meio desse esporte, que possui dinâmica indispensável às demais modalidades esportivas. Precisamos entender o atletismo, além da prática específica da mo- dalidade, como um importante aliado pedagógico no desenvolvimento 34 Metodologia do ensino de atletismo de habilidades para os demais esportes. É um erro acreditar que o atle- tismo está restrito à pista, ao campo e às regras oficiais; muito pelo contrário, ele pode ser trabalhado em quadras, pátios, espaços com areia e, até mesmo, dentro da sala de aula, por meio de jogos de mími- ca, desenhos, maquetes, pinturas, questionários, entre outros. A reali- dade das escolas brasileiras não garante espaços oficiais para todos os esportes, entretanto, é possível desenvolvê-los pedagogicamente. O artigo Atletismo na escola é possível! Experiência do ensino do atletismo em aulas de Educação Física, de João Bressen et al., publicado na revista Corpoconsciência em 2018, trata de uma investigação a respeito da pre- sença do atletismo como conteúdo das aulas de Educação Física em uma escola pública. Os autores observam a compreensão limitada de alunos e professores acerca de saberes que fundamentam o atletismo em detrimento de outros esportes e mostram possibilidades do ensino da modalidade com base nas situações diagnosticadas. Acesso em: 18 maio 2020. http://periodicoscientificos.ufmt.br/ojs/index.php/corpoconsciencia/article/view/5760 Artigo Fundamentados por Oliveira (2006), o estímulo e a inserção do atletismo na escola necessita da criatividade do professor na utilização de ativida- des prazerosas que atraiam os alunos, assim todos podem participar. Na escola, os movimentos devem ser naturais, com base no que os edu- candos já fazem,para que eles se sintam motivados nas aulas práticas. O planejamento não pode ser complexo a nível dos alunos não consegui- rem executar movimentos básicos; assim, uma estratégia é a utilização de materiais alternativos e que os próprios alunos possam construir. Sabemos que toda prática esportiva carrega um viés competitivo. O direcionamento didático dado na escola, muitas vezes, prioriza provas de acordo com o esporte e suas regras oficiais. É importante deixar claro que isso não é proibido, porém, o problema é quando o professor compreende apenas dessa forma. A consequência disso é uma prática que não se torna saudável, com tendência a ser seletiva para os mais habilidosos e segregadora para os demais, tornando o atletismo desinteressante para os alunos. Ademais, a popularidade de um esporte influencia bastante em sua prática no ambiente escolar e nas preferências dos alunos. Por Atletismo na escola 35 isso, orientamos que o professor inicie o conteúdo sob o olhar das coberturas dos eventos, dos ídolos dos esportes e de suas marcas e, ainda, aborde temas relacionados à modalidade, como as vestimentas, marcas, patrocinadores e movimentação do mercado. Dessa forma, os alunos poderão ser envolvidos no esporte antes mesmo da prática pro- priamente dita. Quanto mais o conteúdo for atraente e envolvente para os alunos nas discussões externas, maior será a chance de sucesso dentro da escola. Isso exige do professor habilidade de criar, pensar e agir de ma- neira didática, metodológica e pedagógica em seu planejamento, para que o atletismo, no contexto educacional, possa influenciar a vida dos alunos e, consequentemente, a sociedade. 2.2 Atletismo e a Base Nacional Comum CurricularVídeo Que o atletismo é conteúdo da Educação Física nós já sabemos, en- tretanto, alguns questionamentos surgem naturalmente, tais quais: o que ensinar? Quando ensinar? Qual é a fundamentação e quais são os documentos norteadores? Tais perguntas podem ser respondidas com base na BNCC. Logo, antes mesmo de dialogar sobre as possibilidades de ensino do atletismo no contexto escolar, é fundamental conhecê-la. A BNCC é um documento que define as principais competências (ge- rais e específicas), habilidades e aprendizagens que todos os alunos precisam desenvolver ao longo da educação básica, nos níveis de ensi- no infantil, fundamental e médio. Ela assegura que os conteúdos e suas respectivas competências e habilidades sejam trabalhados em todo o território nacional, desde as escolas dos grandes centros, até aquelas localizadas em regiões mais afastadas. É importante destacar que a BNCC é um documento basilar, não um currículo cujo conteúdo deve ser reproduzido nas escolas; mesmo por- que ela não traz uma matriz curricular do que precisa ser ensinado aos alunos, e sim oferece um conjunto de orientações com vistas a nortear os professores na construção dos currículos, entendendo as especifici- dades de cada região e local. 36 Metodologia do ensino de atletismo A criação de um documento que determinasse princípios para a edu- cação básica estava prevista há décadas. Segundo Penteado (2019), uma base comum estava prevista desde 1988. O discurso ressurgiu com a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) no ano de 1996, mas somente em 2014 ganhou força, após a proposta ser incluída como meta no Plano Nacional de Educação (PNE). Ainda de acordo com Penteado (2019), a criação de uma Base Nacional Comum Curricular visa garantir que todos os estudantes possam aprender com base em um conjunto fundamental de conhe- cimentos comuns, independentemente das escolas serem públicas ou privadas, urbanas ou rurais. Espera-se que os riscos de desigualdades educacionais sejam reduzidos e, com isso, eleve-se a qualidade da edu- cação e do ensino no país. A BNCC estabelece ao longo dos anos da educação básica as apren- dizagens essenciais, que asseguram aos estudantes o desenvolvimento de dez competências gerais. Ela também esclarece o conceito de com- petência na qual as orientações estão pautadas: competência é definida como a mobilização de conhecimentos (conceitos e procedimentos), habilidades (práticas, cognitivas e socioemocionais), atitudes e valores para resolver demandas complexas da vida cotidiana, do pleno exercício da cidadania e do mundo do trabalho. (BRASIL, 2018a, p. 8) Nesse sentido, com base nas competências, os alunos podem desen- volver habilidades por meio da mobilização de conhecimentos, atitudes e valores que a própria BNCC ressalta, como a resolução de questões do cotidiano, do mundo do trabalho e para exercer a cidadania. Vale ressaltar que a BNCC é classificada em parte Comum e parte Diversificada. A primeira contempla conhecimentos em comum a todos os estudantes e a segunda atende a conteúdos complementares, com as especificidades e particularidades de cada região, e pode ser defini- da por instituições, redes e sistemas de ensino. Após conhecer brevemente a BNCC, listamos as dez competências gerais que o documento apresenta com algumas competências que po- dem ser desenvolvidas por meio do atletismo. Na coluna à esquerda, temos as competências gerais da BNCC e, na coluna à direita, algumas características do conteúdo de atletismo. Atletismo na escola 37 Quadro 1 Competências gerais da educação básica e características do conteúdo de atletismo Competências gerais da BNCC Características do conteúdo de atletismo Valorizar e utilizar os conhecimentos histori- camente construídos sobre o mundo físico, social, cultural e digital para entender e explicar a realidade, continuar aprendendo e colaborar para a construção de uma sociedade justa, democrática e inclusiva. Refletir sobre o processo histórico do atletismo, desde as habilidades fundamentais do ser hu- mano na caça e na pesca como elementos de sobrevivência, perpassando pelas competições na Grécia e preparação para a guerra, até o esporte como é visto e praticado atualmente. Exercitar a curiosidade intelectual e recorrer à abordagem própria das ciências, incluindo a in- vestigação, reflexão, análise crítica, imaginação e criatividade, para investigar causas, elaborar e testar hipóteses, formular e resolver proble- mas, e criar soluções (inclusive tecnológicas) com base nos conhecimentos das diferentes áreas. Refletir e problematizar a evolução do atle- tismo, considerando sua institucionalização, modernização e conjunto de modalidades esportivas com análise das áreas educacionais, tecnológicas, da saúde e do esporte. Valorizar e fruir as diversas manifestações ar- tísticas e culturais, das locais às mundiais, e par- ticipar de práticas diversificadas da produção artístico-cultural. Praticar as modalidades do atletismo enquan- to cultura corporal do movimento nas mais diversas formas de expressão do ser humano. Observar quais as modalidades mais praticadas e as diferenças locais, regionais e mundiais. Utilizar diferentes linguagens – verbal (oral ou visual-motora, como Libras, e escrita), corporal, visual, sonora e digital –, bem como conhecer as linguagens artística, matemática e científica, para se expressar e partilhar informações, ex- periências, ideias e sentimentos em diferentes contextos e produzir sentidos que levem ao entendimento mútuo. Entender o movimento humano como forma de comunicação e expressão de sentimentos. O corpo que corre, salta, lança e arremessa é o mesmo que fala, sente, responde e se comunica. Por meio dos movimentos presentes no atletismo, é possível fazer a correlação com as configurações necessárias para a Língua Brasileira de Sinais (Libras). Compreender, utilizar e criar tecnologias digi- tais de informação e comunicação de maneira crítica, significativa, reflexiva e ética nas diversas práticas sociais (incluindo as escolares) para se comunicar, acessar e disseminar informações, produzir conhecimentos, resolver problemas, e exercer protagonismo e autoria na vida pessoal e coletiva. Praticar e discutir os jogoseletrônicos que simulam as modalidades, em que, para o personagem do jogo correr, saltar, lançar e arremessar, é necessário que o jogador faça os mesmos movimentos em perfeita harmonia entre a máquina e o homem. Com base nisso, uma série de discussões pode ser estabelecida. (Continua) 38 Metodologia do ensino de atletismo Competências gerais da BNCC Características do conteúdo de atletismo Valorizar a diversidade de saberes e vivências culturais, apropriar-se de conhecimentos e experiências que possibilitem entender as relações próprias do mundo do trabalho e fazer escolhas alinhadas ao exercício da cidadania e ao seu projeto de vida, com liberdade, autono- mia, consciência crítica e responsabilidade. Resgatar os jogos e brincadeiras populares que acontecem no município, estado ou país, re- fletindo sobre suas origens e valores culturais. Com isso, disseminar os conhecimentos daque- la comunidade e conhecer outros pertencentes a outras comunidades. Argumentar com base em fatos, dados e infor- mações confiáveis, para formular, negociar e de- fender ideias, pontos de vista e decisões comuns que respeitem e promovam os direitos huma- nos, a consciência socioambiental e o consumo responsável em âmbito local, regional e global, com posicionamento ético com relação ao cuida- do de si mesmo, dos outros e do planeta. Conhecer os valores éticos e morais necessários à prática do esporte e traçar um paralelo com os avanços tecnológicos dos equipamentos, análises de desempenho e construção de estádios, muitas vezes instalados em locais de preservações ambientais. É importante também considerar a matéria-prima utilizada na fabricação dos equipa- mentos e o descarte de copos de água mineral nas corridas de rua, entre outros fatores. Conhecer-se, apreciar-se e cuidar de sua saúde física e emocional, compreendendo-se na diver- sidade humana e reconhecendo suas emoções e as dos outros, com autocrítica e capacidade para lidar com elas. Exercitar o autoconhecimento, a autopercepção e a relação da prática esportiva com o seu bem-estar físico, social e mental. O saber ven- cer e perder faz parte do processo de formação dos estudantes e precisa ser trabalhado desde a educação infantil. Exercitar a empatia, o diálogo, a resolução de conflitos e a cooperação, fazendo-se respeitar e promovendo o respeito ao próximo e aos direi- tos humanos, com acolhimento e valorização da diversidade de indivíduos e de grupos sociais, seus saberes, identidades, culturas e potenciali- dades, sem preconceitos de qualquer natureza. Praticar o atletismo não é apenas um ato com- petitivo; antes de qualquer coisa é um ato co- letivo. Com base nesse entendimento, o aluno percebe que não é simplesmente jogar contra o outro, mas sim jogar com o outro, partindo do princípio de que se o importante é competir, o fundamental é cooperar. Agir pessoal e coletivamente com autonomia, responsabilidade, flexibilidade, resiliência e determinação, tomando decisões com base em princípios éticos, democráticos, inclusivos, sustentáveis e solidários. Valorizar a garra, determinação, foco, disciplina, força de vontade e respeitar o próximo são atitudes indispensáveis na prática esportiva. A capacidade de perceber que aprendemos com as diferenças presentes em nosso dia a dia faz de nós indivíduos melhores. Fonte: Organizado pelo autor com base na BNCC, 2018a. Atletismo na escola 39 Podemos observar, no quadro, as competências gerais da BNCC e como o atletismo se correlaciona com a proposta do documento norteador. Esse é um exemplo do que se espera das equipes pedagó- gicas na formulação da proposta curricular, isto é, que estabeleçam os conteúdos a serem trabalhados com os estudantes, fundamentados e direcionados pelas competências. De acordo com a BNCC (2018a, p. 213), a Educação Física se apre- senta como “o componente curricular que tematiza as práticas corporais em suas diversas formas de codificação e significação social, entendidas como manifestações das possibilidades expressivas dos sujeitos, pro- duzidas por diversos grupos sociais no decorrer da história”. Parte-se, assim, do pressuposto de que o movimento humano está inserido na cultura, não sendo limitado a um período de tempo, nem ao corpo. Nesse contexto, entende-se que as práticas corporais desenvolvidas na escola devem ser abordadas como um fenômeno cultural dinâmico. Desse modo, os alunos poderão construir e reconstruir conhecimen- tos que possibilitem a ampliação de sua consciência a respeito de seus movimentos e dos recursos para o cuidado de si e dos outros, além de desenvolver autonomia para apropriação e utilização da cultura corpo- ral de movimento em diversas finalidades, favorecendo a participação de modo confiante e autoral na sociedade (BRASIL, 2018a). A BNCC classifica os conteúdos da Educação Física na educação básica em seis unidades temáticas: Jogos e Brincadeiras, Esportes, Ginástica, Danças, Lutas, e Práticas Corporais de Aventura. O atletismo está cate- gorizado em Esportes, precisamente como Esporte de Marca e Precisão, conceituado como o “conjunto de modalidades que se caracterizam por comparar os resultados registrados em segundos, metros ou quilos (pa- tinação de velocidade, todas as provas do atletismo, remo, ciclismo, le- vantamento de peso etc.)” (BRASIL, 2018a, p. 214). O atletismo é contemplado na unidade temática de Jogos e Brin- cadeiras pelas atividades de iniciação, pelos jogos populares e muitos outros, trabalhando os movimentos básicos da modalidade; e na uni- dade de Práticas Corporais de Aventura, principalmente pela crescente prática de trail run (corrida de trilha) e trekking (caminhada realizada em montanhas, serras etc). Com base nas competências gerais, é possível chegar às competências específicas da Educação Física na BNCC, para compreender o atletismo e 40 Metodologia do ensino de atletismo seu encaixe de maneira singular na educação básica para o desenvol- vimento das habilidades previstas. As cinco primeiras competências buscam: compreender a origem da cultura corporal do movimento, planejar e empregar estratégias para resolver desafios e aumentar as possibilidades de aprendizagem das práticas corporais, refletir critica- mente sobre as relações entre a realização das práticas corporais e os processos de saúde/doença, identificar a multiplicidade de padrões de desempenho, saúde, beleza e estética corporal, e identificar as formas de produção dos preconceitos (BRASIL, 2018a). Portanto, considerando essas competências específicas, podemos incluir o atletismo com caráter de iniciação nas unidades temáticas de Jogos e Brincadeiras e Esportes de Marca e Precisão nos 1º e 2º anos do ensino fundamental, de acordo com os objetos de conhecimento previstos e classificados pela Base. Já as outras cinco competências específicas visam interpretar e re- criar os valores, os sentidos e os significados atribuídos às diferentes práticas corporais, reconhecer as práticas corporais como elementos constitutivos da identidade cultural dos povos e grupos, usufruir das práticas corporais de maneira autônoma para potencializar o envol- vimento em contextos de lazer, reconhecer o acesso às práticas cor- porais como direito do cidadão, e experimentar, desfrutar, apreciar e criar diferentes brincadeiras, jogos, danças, ginásticas, esportes, lutas e práticas corporais de aventura, valorizando o trabalho coletivo e o protagonismo (BRASIL, 2018a). Nesse sentido, a aplicação do atletismo pode acontecer nas unidades temáticas de Jogos e Brincadeiras, Esportes de Marca e Precisão e Prá- ticas Corporais de Aventura. O trabalho com o atletismo está presente nos 6º e 7º anos do ensino fundamental com foco no aprofundamento das práticas corporais, bem como na sua compreensão e realização nos contextos de lazer e saúde, dentro e fora da escola. Na etapa do ensino médio, compreende-se que os estudantes já possuem um nível maior de habilidades, pensamento crítico e abstrato.Por isso, os conteúdos são constituídos por áreas temáticas, e a Edu- cação Física faz parte da área de Linguagens e suas Tecnologias, que, de acordo com a própria BNCC – Ensino Médio (2018b, p. 473), “busca consolidar e ampliar as aprendizagens previstas na BNCC de Ensino Fundamental nos componentes Língua Portuguesa, Arte, Educação Física e Língua Inglesa”. Ao ler o seguinte QR Code com seu celular, você pode acessar o documento da BNCC. As habili- dades específicas do atletismo na Educação Física escolar para o ensino fundamental estão da página 227 em diante. Dica Atletismo na escola 41 Logo, ao trabalhar o atletismo nessa etapa da educação básica, os alunos são capazes não apenas de desenvolver condicionamento físico, consciência corporal, lazer e saúde, mas de se movimentar “com dife- rentes intencionalidades, construídas em suas experiências pessoais e sociais com a cultura corporal de movimento” (BRASIL, 2018b, p. 475). Dessa forma, a Educação Física tem um papel fundamental na for- mação de sujeitos capazes de desfrutar, construir e transformar com base na cultura corporal do movimento, tornando-se responsáveis por tomar decisões conscientes, éticas e reflexivas diante das práticas cor- porais em sua vida e na sociedade. Partindo desse pressuposto, a forma de abordagem do atletismo contribui de maneira significativa para a constituição de valores como ética, respeito, altruísmo, determinação, disciplina e foco, indispensá- veis para a vida acadêmica, pessoal e profissional. Ao ler o seguinte QR Code com seu celular, você pode acessar o documento da BNCC. Na página 483, já na parte que trata do ensino médio, você encontrará as habilidades específicas da área. Dica 2.3 O papel do professor no ensino do atletismo Vídeo As constantes mudanças das práticas metodológicas, que vem acompanhando a evolução tecnológica e as necessidades dos atuais estudantes, têm sido de grande importância para um ensino adequa- do à realidade educacional. Entretanto, tais mudanças exigem do pro- fessor cada vez mais criatividade e atualização para desenvolver sua práxis docente. O papel do professor está ainda mais desafiador na medida em que sua finalidade se expande de maneira síncrona aos avanços tec- nológicos, com a inserção de elementos mais dinâmicos e atraentes ao mundo do aluno. Dessa maneira, o professor precisa tornar o conteú- do prazeroso, chamando a atenção dos estudantes, considerando suas experiências e o contexto no qual estão inseridos. A contemporaneidade não admite mais a transmissão de conteúdo; o professor não é apenas aquele que transfere conhecimento e o aluno não é o reprodutor desse conhecimento engessado. Nos dias atuais, o profes- sor media e conduz o aluno ao saber e esse aluno descobre, cria, recria e adquire novos conhecimentos, com base no que já está consolidado. Segundo Libâneo (1998, p. 29), a função do educador vai além de depositar conhecimento, “ele deve se envolver no universo dos edu- candos para poder pinçar temas que fazem parte dos seus saberes, 42 Metodologia do ensino de atletismo para então situar novos assuntos no grupo de informações que já esta- vam preestabelecidas”. Todo material produzido, a exemplo dos livros didáticos, pode e deve ser considerado, uma vez que fazem parte da produção do conhecimen- to materializado; mas, antes de qualquer coisa, precisa ser entendido como a partida para o descobrimento de outros conhecimentos. O papel do professor não é reproduzir, repetir ou revisar conteú- do; a prática do ensinar requer renovação, criatividade e utilização de novos componentes que levem o aluno a pensamentos mais críticos, reflexivos e práticos. Podemos usar como exemplo o ensino da mo- dalidade corrida de rua: além de trabalhar o conhecimento técnico de distâncias, passadas e exercícios coordenativos, é fundamental que o professor conduza os alunos a uma análise dos fatores sociais, políticos e econômicos presentes na corrida, tais como lazer, saúde, meio am- biente, investimentos para a prática, entre outros. Nesse sentido, cabe ao professor a responsabilidade da dissemina- ção e estímulo do pensamento crítico e reflexivo do aluno na relação entre o conteúdo específico, a abordagem básica de compreensão do assunto e as análises da utilização e importância desse conhecimento para as situações de vida e aplicabilidade na sociedade. Quando o professor assume o papel de mediar a aprendizagem dos alunos, já trata-se de uma situação inovadora, pois, historicamente, ele foi visto como o detentor de todo o saber. Portanto, é indispen- sável que o docente renove sua metodologia e atualize o processo didático-pedagógico de ensinar e aprender. Ao mediar, o professor facilita o processo de maneira que a informação se converta em conhecimento e novas aprendizagens. Ter a resposta para todas as perguntas não se trata de, necessariamente, ser o melhor, mas sim de descobrir com o estudante e, principalmente, fazer boas pergun- tas, levando em conta a experiência do aluno além dos muros da escola. Quando, por exemplo, um aluno questiona sobre o recorde do salto em altura, é apenas uma curiosidade, porém, quando o professor leva o aluno a refletir sobre a altura atingida e faz perguntas do tipo: quais fatores podem influenciar a altura desse recorde? Por que antigamente não chegaram a essa marca? Os tênis, equipamentos e treinos eram di- ferentes? Foi devido aos avanços tecnológicos e da medicina esportiva? Questionamentos como esses elevam o conhecimento a outro pata- Atletismo na escola 43 mar e, por consequência, a aprendizagem torna-se mais significativa e transcende a sala de aula. Chamamos isso de intencionalidade. Para colocar o aluno como protagonista do seu aprendizado, ele precisa adotar uma postura de proatividade, mas o professor deve encaminhá-lo ao conhecimento provocando reflexões, despertando o desejo pelo que está sendo es- tudado e relacionando o conteúdo com outras situações por meio de uma construção autônoma e crítica. Antes de tudo, o professor precisa ter em mente que sua função é formar cidadãos por meio da cultura corporal do movimento, tornan- do-os sujeitos autônomos, críticos e instruídos ao cuidar de si mesmos, identificando diferenças étnicas, sociais e culturais. Nessa perspectiva, o papel do professor no ensino do atletismo é utilizar a história e os fun- damentos e técnicas das modalidades para promover a construção do conhecimento e contribuir com a formação do indivíduo na sociedade. É importante que o professor observe o leque de opções no atle- tismo para despertar o prazer e um novo significado para o aprendi- zado no aluno. Independentemente se o conteúdo for técnico ou não, ele precisa desenvolver capacidades físicas, motoras, afetivas e sociais para que haja uma formação integral e humanizada. De acordo com Matthiesen (2017), para que o atletismo ganhe mais espaço na escola, é necessário, por exemplo, que o professor não tra- balhe o correr simplesmente por correr, assim como o saltar por saltar e o arremessar e lançar como atos simples e sem significados. Estes devem ser contextualizados, discutidos, refletidos e analisados sob a ótica da integralidade e interdisciplinaridade. O artigo Atletismo Escolar: possibilidades e estratégias de objetivo, conteúdo e método em aulas de Educação Física, publicado por Carmen Marques e Jacob iora na revista Movimento em 2009, apresenta uma crítica sobre a utilização do atletismo apenas com métodos que visam ao alto rendimento, desprezando criatividade, novas formas de movimento e inserção destas no contexto dos esportes. Propõe-se o ensino do esporte na escola com fins pedagógicos e utilizando metodologias que se adequem tanto à realidade escolar quanto aos espaços disponíveis para as aulas práticas. Acesso em: 18 maio 2020. https://seer.ufrgs.br/Movimento/article/view/3078 Artigo 44 Metodologia do ensino de atletismo Portanto, é fundamental que, na escolha dos conteúdos curriculares
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