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Epidemiologia do Envelhecimento

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 EPIDEMOLOGIA DO ENVELHECIMENTO 
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EPIDEMIOLOGIA 
 
DO 
 
ENVELHECIMENTO 
 
 
 
 
 
 
 
 
 EPIDEMOLOGIA DO ENVELHECIMENTO 
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SUMÁRIO 
 
Epidemiologia do envelhecimento ..................................................................................................................... 5 
Tipos de estudos epidemiológicos: conceitos básicos e aplicações na área do 
envelhecimento ....................................................................................................................................................... 13 
Epidemiologia: definição e objetivos ............................................................................................................... 16 
Tipos de estudos epidemiológicos ................................................................................................................... 17 
Estudos descritivos ................................................................................................................................................ 17 
Estudos analíticos ................................................................................................................................................... 22 
Estudos ecológicos ................................................................................................................................................ 23 
Estudos seccionais................................................................................................................................................. 24 
Estudos caso-controle .......................................................................................................................................... 27 
Estudos de coorte ................................................................................................................................................... 29 
Vieses e variáveis de confusão ......................................................................................................................... 34 
O envelhecimento no Brasil: aspectos epidemiológicos ......................................................................... 36 
ABORDANDO A TRANSIÇÃO DEMOGRÁFICA E EPIDEMIOLÓGICA ......................................... 37 
1º. idade da pestilência e da fome: .................................................................................................................. 45 
2º. idade da regressão das pandemias: ........................................................................................................ 45 
3º. idade das doenças degenerativas e doenças causadas pelo homem: ..................................... 46 
CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................................................................... 50 
Referências ............................................................................................................................................................... 53 
 
 
 
Todos os direitos reservados ao Grupo Famart de Educação. Reprodução Proibida. 
Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de Fevereiro de 1998. 
Grupo Famart – Comprometimento com o seu ensino. 
 
 
 
 
 
 
 
 
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 EPIDEMOLOGIA DO ENVELHECIMENTO 
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Epidemiologia do envelhecimento 
 
 
A ideia do Brasil como um país jovem sempre esteve presente na nossa mente 
e desenhou o nosso horizonte. No entanto, de repente, nos percebemos grisalhos. A 
pergunta que se faz é: como isso aconteceu? 
A estrutura por idade e sexo de uma população, num dado momento, é o 
resultado da sua dinâmica durante um longo período, isto é, do comportamento dos 
nascimentos, das mortes e das migrações nos últimos cem anos. É essa estrutura 
que condiciona a evolução da população, no sentido do seu crescimento, ou não, 
pois o que determina esse crescimento são a fecundidade e a mortalidade que, por 
sua vez, estão diretamente relacionados à idade e sexo (BERQUÓ, 1991) 
A população brasileira, assim como a da América Latina e Caribe, vem 
sofrendo, nas últimas cinco décadas, transições decorrentes de mudanças nos níveis 
de mortalidade e fecundidade, em ritmos nunca vistos anteriormente. Essas 
mudanças fizeram com que a população passasse de um regime demográfico de alta 
natalidade e alta mortalidade para outro, primeiramente com baixa mortalidade e, a 
seguir, baixa fecundidade. Isso levou a um envelhecimento da população. Quando 
se compara a proporção de jovens (menores de 15 anos) no Brasil, no ano de 1940 
- 42,6% - com a de 2000 - 29,6% e a proporção de idosos (60 anos e mais) nos 
mesmos anos, 4,1% e 8,6%, respectivamente, tem-se uma ideia das transformações 
sofridas pela nossa população. 
 
 
 
 
 
 
 
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A essas mudanças dá-se o nome de transição demográfica, que significa a 
passagem de um regime demográfico de alta natalidade e alta mortalidade para outro 
com baixa natalidade e baixa mortalidade. 
Embora o envelhecimento da população brasileira já pudesse ser prenunciado 
no início do século 20, pela queda da mortalidade, só por volta de 1960 é que esse 
fenômeno se estabeleceu realmente, com a queda brutal da fecundidade, passando 
de 6,2 filhos por mulher em 1940 para apenas 2,01 em 2007 (DATASUS, 2007). Se 
atentarmos para o fato de que 2,1 filhos por mulher é o valor de reposição da 
população, breve teremos uma população mais envelhecida ainda. 
Dessa forma, o processo de envelhecimento depende, também, da dinâmica 
da população mais jovem que 60 anos: se esta população crescer tão ou mais 
rapidamente do que a população mais idosa, algumas questões como o apoio às 
pessoas idosas podem ser menos problemáticas, mesmo que o crescimento absoluto 
da população mais idosa tenha suas próprias consequências econômicas. O que 
importa é o crescimento relativo dos dois segmentos da população: na medida em 
que a população de 60 anos e mais cresça mais rapidamente do que a população 
abaixo de 60 anos, haverá um maior envelhecimento. E é exatamente isso que se vê 
ocorrer no Brasil. Desde as décadas de 50/60, o crescimento do contingente idoso é 
maior, supondo-se que chegue em 2015/25 a ser cinco vezes o da população total 
(PALLONI; PELÁEZ, 2003). 
Dentro desse panorama, a parcela dos muitos idosos, ou seja, aqueles com 
80 anos e mais, tem um crescimento ainda maior do que as restantes, pois cresce 
cerca de 4% ao ano, isto é, a uma taxa de 0,04, bem maior do que o crescimento da 
população total (0,008). 
O processo de envelhecimento nos países desenvolvidos ocorreu muito tempo 
depois de eles terem adquirido padrões elevados de vida, reduzido desigualdades 
sociais e econômicas e implementado um número de estratégias institucionaispara 
 
 
 
 
 
 
 
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compensar os efeitos das desigualdades residuais, ao menos na área de acesso aos 
serviços de saúde. 
 
O desenvolvimento social e econômico na América do Norte e Europa 
Setentrional e Ocidental já estava determinado quando as demandas de uma 
sociedade que envelhecia (e mesmo as preocupações sobre isso) foram 
reconhecidas. Ou seja, "os países desenvolvidos primeiro ficaram ricos e depois 
envelheceram; nós estamos ficando velhos antes de ficarmos ricos" (WHO, 2001). 
Em quase todos os países da América Latina e Caribe, um processo de 
 
 
 
 
 
 
 
 
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envelhecimento altamente comprimido começa a ocorrer no meio de economias 
frágeis, níveis altos de pobreza, desigualdades sociais e econômicas e, contraindo 
mais do que expandindo, o acesso aos serviços e recursos coletivamente financiados 
(PALLONI; PELÁEZ, 2003). 
O cronograma relativamente comprimido do envelhecimento na região pode, 
em parte pelo menos, ser traçado pela revolução médica e de saúde pública que 
provocou o declínio da mortalidade há quase meio século. As pessoas que estão 
alcançando os 60 anos depois de 2000 são aquelas que vivenciaram todos os 
benefícios da tecnologia em saúde introduzida durante o período pós Segunda 
Guerra Mundial, principalmente aquela relativa à sobrevivência na primeira infância. 
Portanto, os idosos da região nascidos anteriormente à Segunda Guerra, 
estiveram expostos à desnutrição e outras doenças em uma etapa precoce da vida, 
diferentemente do que sucede nos países industrializados que foram testemunhas 
de um aumento estável do padrão de vida. Acredita-se que essa exposição possa ter 
efeitos fisiológicos duradouros que podem afetar consideravelmente o estado de 
saúde dos adultos (PALLONI; PINTO-AGUIRRE; PELÁEZ, 2002). 
 Por causa da maior esperança de vida das mulheres e 
da tendência dos homens ao recasamento, as mulheres 
viúvas ultrapassam dramaticamente os homens viúvos em 
todos os países. Mulheres idosas que estão sozinhas são 
altamente vulneráveis à pobreza e isolamento social. Usando 
dados do Estudo "Saúde, Bem-Estar e Envelhecimento" 
(SABE), Santos (2003), mostrou que a proporção da 
esperança de vida sem incapacidade para o sexo feminino é 
menor do que para o masculino às idades de 60 e 75 anos. 
Concomitantes a essas mudanças demográficas ocorrem outras mudanças no 
comportamento da mortalidade e morbidade da população que deram origem ao 
conceito de transição epidemiológica proposto por Omran, em 1971 (OMRAN, 1971). 
 
 
 
 
 
 
 
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Segundo o autor, a teoria da transição epidemiológica está focalizada na complexa 
mudança dos padrões de saúde e doença e nas interações entre esses padrões e 
seus determinantes e consequências. Essas mudanças dos padrões dizem respeito 
à diminuição da mortalidade por doenças infecciosas e aumento das doenças 
crônicas não-transmissíveis. 
Há autores que preferem o termo "transição da saúde", pois dizem que, a rigor, 
estão envolvidos dois aspectos básicos da saúde nas populações humanas. Por um 
lado, está a transição das condições de saúde, isto é, os processos de saúde e 
doença que definem o perfil epidemiológico de uma população, expressado em 
termos de morte, doença e invalidez. Por outro lado, está a resposta social 
organizada a essas condições, que se instrumentaliza por meio do sistema de 
atenção à saúde. A transição da atenção à saúde tem atuado de maneira importante 
sobre a transição epidemiológica, pois as novas tecnologias têm sido aplicadas à 
população através do sistema de atenção da saúde. Um dos mecanismos para as 
mudanças nas principais causas de morte tem sido a redução dos coeficientes de 
letalidade de algumas doenças (FRENK et al., 1991). 
Embora transição demográfica e transição epidemiológica não sejam a mesma 
coisa, pois a transição epidemiológica implica em mudanças nos padrões de 
morbidade, além da mortalidade, há uma relação fundamental entre elas, pois a 
queda inicial da mortalidade se concentrou nas causas de morte infecciosas. Por 
outro lado, a queda da fecundidade afeta a estrutura da população por idades e 
repercute no perfil de morbidade, pois a proporção crescente de pessoas de idade 
avançada aumenta a importância das doenças crônicas e degenerativas. Dessa 
forma, as doenças passam de um processo agudo que termina em cura ou morte, 
para um estado crônico que as pessoas sofrem durante longos períodos da vida 
(FRENK et al., 1991) e que quando não adequadamente controlados podem gerar 
incapacidades, comprometendo significativamente a qualidade de vida dessas 
pessoas. 
 
 
 
 
 
 
 
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Omran (1971), no seu trabalho a respeito da transição epidemiológica, 
estabelece cinco proposições. Na primeira delas o autor estabelece a premissa de 
que a mortalidade é fator fundamental na dinâmica populacional. A segunda propõe 
que, durante a transição, ocorrem mudanças de longa duração nos padrões de 
mortalidade e morbidade onde as pandemias de doenças infecciosas são 
gradualmente substituídas pelas doenças degenerativas e provocadas pelo homem 
como a forma mais importante de morbidade e a principal causa de morte. 
No tempo em que essa teoria foi proposta acreditava-se que o declínio da 
mortalidade havia chegado ao nível mais baixo possível e os ganhos na esperança 
de vida caminhariam a passos lentos e, pensava-se que sete décadas de vida era o 
mais próximo desse limite. No entanto, dados internacionais de tendência da 
mortalidade específica por causas indicam que a maioria da queda dos coeficientes 
de mortalidade específica por idade está ocorrendo como um resultado do declínio 
da mortalidade por doenças cardiovasculares. 
Porém, na América Latina, o processo de transição epidemiológica não pode 
ser considerado de forma tão linear como o fizeram autores anteriores. FRENK et al. 
(1991) chamam a atenção para a situação de saúde vivida pelo Brasil e que 
compreenderia superposição de etapas, ou seja, embora tenhamos doenças do 
desenvolvimento, ainda é grande a proporção de doenças de países não 
desenvolvidos. 
 
 
 
 
 
 
 
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Enquanto há uma proporção bastante alta de óbitos por doenças do aparelho 
circulatório, a proporção de doenças infecciosas e parasitárias ainda é bem diferente 
da dos países desenvolvidos. Doenças que se pensava extintas, em dado momento 
retornam, como, por exemplo, a febre amarela e a dengue. 
Essas situações golpeiam os países em desenvolvimento mais duramente. 
Embora esses países continuem lutando com as doenças infecciosas, má-nutrição e 
complicações do parto, eles são confrontados com o rápido crescimento das doenças 
não-transmissíveis. Essa "dupla carga da doença" comprime os já escassos recursos 
ao limite. A mudança das doenças transmissíveis para as nãotransmissíveis ocorre 
rapidamente no mundo em desenvolvimento, onde doenças crônicas tais como 
doença do coração,câncer e depressão estão se tornando, rapidamente, as 
principais causas de morte e incapacidade (WHO, 2001). 
Quais as consequências desse envelhecimento para um país em 
desenvolvimento como o nosso? Há várias opiniões sobre o que acontecerá com a 
saúde da população idosa. Uma delas diz que será possível que cada vez mais 
pessoas morram nas idades mais tardias; ou seja, a curva da mortalidade será 
 
 
 
 
 
 
 
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empurrada para a frente, isto é, toda a coorte se movendo para o ponto de máxima 
idade ao morrer. Essa tendência será acompanhada pela curva da morbidade, de tal 
modo que haverá maior sobrevida sem incapacidade. 
Uma segunda vertente acredita que conforme aumenta o tempo total de vida, 
as curvas da morbidade e incapacidade não acompanham e, portanto, mais anos 
serão vividos com má saúde ou dependência. Uma terceira opinião diz que a 
investigação científica pode levar a grandes incrementos da esperança de vida 
mediante a modificação dos processos de envelhecimento. De acordo com essa 
teoria, as três curvas - mortalidade, morbidade e incapacidades - se moveriam 
paralelamente. 
Ainda uma quarta linha é a de que as tendências da mortalidade, a frequência 
das doenças crônicas e a conservação da autonomia poderiam ser influenciadas de 
maneira independente mediante 
intervenções que retardassem o início da 
doença ou reduzissem suas 
consequências incapacitantes. Se se 
aceita que as tendências da mortalidade, 
morbidade crônica e incapacidade têm 
possibilidades independentes de 
melhorar, então podem ser feitas ações específicas que influam sobre cada uma 
delas de maneira diferente. A prevenção primária (por exemplo, melhoria da nutrição 
e redução do consumo de fumo e álcool), com certeza poderia influir nos três fatores, 
retardando o início de doenças crônicas progressivas e aumentando a sobrevivência 
e a proporção de pessoas que sobrevivem sem doenças em determinadas idades 
(OMS, 1984). 
Resultados do Estudo SABE, quando comparados dois grupos de mesma 
idade - 60 a 64 anos -, mas pertencentes a coortes diferentes, mostram um aumento 
nas doenças crônicas na coorte mais recente. 
 
 
 
 
 
 
 
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Tanto nos países desenvolvidos como nos em desenvolvimento, as doenças 
crônicas são significativas e causa de incapacidade e reduzida qualidade de vida dos 
idosos. Ações de promoção da saúde e mudanças de hábitos podem diminuir as 
consequências dessas doenças, como vem ocorrendo nos EUA, com a queda das 
incapacidades em relação àquilo que era esperado. 
Para sabermos que rumos as populações tomarão, teremos que esperar mais 
algumas décadas. Mas, uma coisa é certa: teremos que mudar o paradigma atual. A 
ideia de pessoas idosas associada a doenças e dependência tem que ser substituída 
por mudanças que os façam permanecer mais tempo ativos e independentes. 
 
Tipos de estudos epidemiológicos: conceitos básicos e aplicações na 
área do envelhecimento 
 
Os idosos, particularmente os mais 
velhos, constituem o segmento que mais cresce 
na população brasileira. Entre 1991 e 2000, o 
número de habitantes com 60-69, 7079 e 80+ 
anos de idade cresceu duas a quatro vezes 
mais (28, 42 e 62%, respectivamente) do que o 
resto da população brasileira (14%). Uma 
das consequências do crescimento da população idosa é o aumento da demanda por 
serviços médicos e sociais. A análise das informações existentes sobre internações 
hospitalares no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS) mostra que o 
envelhecimento da população não pode ser encarado somente em termos do número 
absoluto ou relativo da população idosa, ou das repercussões desse aumento para 
a previdência social. As demandas dessa população por assistência médica são tão 
expressivas que o seu atendimento já responde por 23% dos gastos públicos com 
internações hospitalares do tipo I, no país. 
 
 
 
 
 
 
 
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Estudos epidemiológicos têm mostrado que doenças e limitações não são 
consequências inevitáveis do envelhecimento, e que o uso de serviços preventivos, 
eliminação de fatores de risco e adoção de hábitos de vida saudáveis são importantes 
determinantes do envelhecimento saudável. Como pode ser visto na Tabela 1, parte 
expressiva das causas de mortalidade entre idosos no Brasil poderia ser reduzida 
com a implementação de programas de prevenção e tratamento adequados. As 
doenças cardiovasculares constituem o principal grupo de causas de mortalidade 
entre idosos, em países como os Estados Unidos da América e o Brasil. Fatores de 
risco modificáveis, que são responsáveis pela morte prematura atribuída a doenças 
cardiovasculares entre idosos, incluem tabagismo, consumo excessivo de álcool, 
inatividade física, obesidade, dislipidemia e controle inadequado da hipertensão e do 
diabetes. A redução do risco cardiovascular temse mostrado custo-efetiva e deveria 
ser enfatizada ao longo da vida, da infância à velhice. 
Pneumonia e influenza são 
importantes causas de hospitalização 
e morte entre a população idosa. 
Todos os idosos deveriam receber, 
anualmente, vacinação contra a gripe 
e vacinação contra pneumonia – ou, 
pelo menos, uma vez na vida. A 
morbidade e a mortalidade 
associadas a diferentes tipos de 
câncer aumentam com a idade. Os cânceres de mama e da próstata são os mais 
frequentes entre mulheres e homens idosos, respectivamente. A prevenção 
secundária, por meio da detecção precoce, é a melhor forma de redução da 
mortalidade associada a esses cânceres. O uso de cigarro está associado a várias 
das principais causas de morte entre os idosos brasileiros, tais como as neoplasias 
 
 
 
 
 
 
 
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malignas da traqueia, brônquios e pulmões, e as doenças pulmonares obstrutivas 
crônicas. Dietas ricas em frutas e verduras/legumes frescos, que contêm fibras, 
nutrientes essenciais e vitaminas, reduzem o risco de doenças cardiovasculares e 
alguns tipos de câncer. Do ponto de vista da Saúde Pública, a meta é a ingestão 
diária de cinco ou mais porções de frutas e verduras/ legumes frescos. 
 
Tabela 1 - Principais causas de mortalidade entre homens e mulheres 
idosos (60+) segundo o capítulo da CID-10* e as duas causas mais frequentes 
em cada capítulo (CID 3 dígitos). Brasil, 1996 
 
 
Estudo inclui vigilância, observação, pesquisa analítica e experimento. 
Distribuição refere-se à análise por tempo, local e características dos indivíduos. 
Determinantes são todos os fatores físicos, biológicos, sociais, culturais e 
comportamentais que influenciam a saúde. Condições relacionadas à saúde incluem 
doenças, causas de mortalidade, hábitos de vida (como tabagismo, dieta, atividades 
físicas, etc.), provisão e uso de serviços de saúde e de medicamentos. 
 
 
 
 
 
 
 
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Populações especificadas são aquelas com características identificadas, 
como, por exemplo, determinada faixa etária em uma dada população. 
Normalmente, os estudosepidemiológicos na área do envelhecimento 
centram-se nos seguintes temas: investigação dos determinantes da longevidade e 
das transições demográfica e epidemiológica; avaliação de serviços de saúde; e 
investigações da etiologia e história natural das doenças/condições relacionadas à 
saúde comuns entre idosos. 
Informações sobre as condições de saúde dos idosos e seus determinantes, 
assim como suas demandas e padrões de uso de serviços de saúde, são 
fundamentais para orientar políticas de saúde voltadas a essa população. Estudos 
epidemiológicos de base populacional, ou seja, aqueles que investigam idosos 
residentes na comunidade, fornecem esse tipo de informação, mas ainda são raros 
no Brasil. Pelo nosso conhecimento, estudos com base populacional da saúde do 
idosos foram ou estão sendo desenvolvidos somente no Rio Grande do Sul, em três 
grandes cidades das regiões Sudeste e Nordeste (São Paulo, Rio de Janeiro e 
Fortaleza) e em duas pequenas cidades no interior do país. Existe, portanto, uma 
evidente carência de informações sobre as condições de saúde da nossa população 
idosa. 
No presente trabalho, serão apresentados alguns conceitos básicos da 
epidemiologia, suas aplicações e particularidades para o estudo dessa população e 
será feita uma introdução aos principais delineamentos de estudos epidemiológicos, 
utilizando-se exemplos de pesquisas realizadas no país. 
 
Epidemiologia: definição e objetivos 
 
A Epidemiologia é definida como o estudo da distribuição e dos determinantes 
das doenças ou condições relacionadas à saúde em populações especificadas. Mais 
 
 
 
 
 
 
 
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recentemente, foi incorporada à definição de Epidemiologia a “aplicação desses 
estudos para controlar problemas de saúde”. 
 
 
Tipos de estudos epidemiológicos 
 
Os estudos epidemiológicos podem ser classificados em observacionais e 
experimentais. De uma maneira geral, os estudos epidemiológicos observacionais 
podem ser classificados em descritivos e analíticos. 
 
 
Estudos descritivos 
 
Os estudos descritivos têm por objetivo determinar a distribuição de doenças 
ou condições relacionadas à saúde, segundo o tempo, o lugar e/ou as características 
dos indivíduos. Ou seja, responder à pergunta: quando, onde e quem adoece? A 
epidemiologia descritiva pode fazer uso de dados secundários (dados pré-existentes 
de mortalidade e hospitalizações, por exemplo) e primários (dados coletados para o 
desenvolvimento do estudo). 
 
 
 
 
 
 
 
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A epidemiologia descritiva examina como a incidência (casos novos) ou a 
prevalência (casos existentes) de uma doença ou condição relacionada à saúde varia 
de acordo com determinadas características, como sexo, idade, escolaridade e 
renda, entre outras. Quando a ocorrência da doença/condição relacionada à saúde 
difere segundo o tempo, lugar ou pessoa, o epidemiologista é capaz não apenas de 
identificar grupos de alto risco para fins de prevenção, mas também gerar hipóteses 
etiológicas para investigações futuras. 
No Brasil, existem importantes bancos de dados 
secundários com abrangência nacional – como o Sistema 
de Informações sobre Mortalidade (SIM-SUS), o Sistema de 
Informações sobre Autorizações de Internações 
Hospitalares (SIH-SUS)25-28 e a Pesquisa Nacional de 
Amostra Domiciliar (PNAD, 1998) – que podem ser usados em estudos 
epidemiológicos. Os resultados apresentados na Tabela 1 constituem exemplo de 
um estudo descritivo utilizando dados do SIM-SUS. Outro exemplo do uso de dados 
secundários para estudo epidemiológico descritivo pode ser visto na Tabela 2. Nessa 
tabela, verifica-se que a mortalidade por doença de Chagas no Brasil vem diminuindo 
progressivamente, em quase todas as faixas etárias (exceto na de 70+ anos) e que 
o pico da mortalidade situa-se na sexta década de vida. Resultados semelhantes são 
encontrados quando as taxas de mortalidade são analisadas segundo coortes de 
nascimento. As maiores taxas de mortalidade entre as coortes mais velhas são, 
possivelmente, reflexo do sucesso do programa de controle da doença de Chagas 
no país, representando a redução da transmissão da infecção pelo Trypanosoma 
cruzi entre as coortes mais jovens. 
Dados secundários também têm sido utilizados para monitorar a qualidade da 
assistência hospitalar prestada ao idoso. Na Figura 1, pode-se verificar que a alta 
mortalidade entre idosos internados em uma clínica do Rio de Janeiro (que levou ao 
 
 
 
 
 
 
 
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seu fechamento temporário, a partir de denúncias divulgadas pela imprensa em 
1996), já vinha ocorrendo desde 1993, sendo maior que a observada em hospitais 
de referência em vários dos meses estudados. Esse resultado mostra que a análise 
adequada de dados secundários de internações hospitalares poderia ter antecipado 
a identificação do problema pelos órgãos competentes, evitando o excesso de 
mortalidade só identificado em meados de 1996. 
Na Figura 2, são apresentados os resultados de um estudo descritivo usando 
dados primários. Nesse estudo, cerca de 1.700 idosos e uma amostra representativa 
de indivíduos mais jovens foram entrevistados para determinadas características, 
entre elas o hábito de fumar. Os resultados mostram que a prevalência de fumantes 
diminui com a idade, de forma consistente, em homens e mulheres. A redução do 
hábito de fumar entre pessoas mais velhas, também observada em outros trabalhos, 
é consequência de pelo menos um dos seguintes fatores: 
a) redução do hábito de fumar em virtude do aumento da idade; 
b) efeito de coorte (alteração nos hábitos em gerações diferentes); e 
c) viés de sobrevivência (menor sobrevivência dos fumantes). 
 
 
 
 
 
 
 
 
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Tabela 2 - Taxas de mortalidade (por milhão) por doença de Chagas 
segundo o ano, com as coortes de nascimento assinaladas. Brasil, 1980, 1985, 
1990 e 1995 
 
 
 
 
 
 
 
 
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Figura 1 - Taxa de mortalidade por 1.000 entre idosos (60+) internados na 
Clínica Santa Genoveva, Rio de Janeiro-RJ, e entre os pacientes dos hospitais 
de referência. Rio de Janeiro, 1993-maio de 1996 
 
Figura 2 - Prevalência do hábito de fumar segundo o sexo e a faixa 
etária 
Estudos analíticos 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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Estudos analíticos são aqueles delineados para examinar a existência de 
associação entre uma exposição e uma doença ou condição relacionada à saúde. 
Os principais delineamentos de estudos analíticos são: 
a) ecológico; 
b) seccional (transversal);c) caso-controle (caso-referência); e 
d) coorte (prospectivo). 
Nos estudos ecológicos, tanto a exposição quanto a ocorrência da doença são 
determinadas para grupos de indivíduos. Nos demais delineamentos, tanto a 
exposição quanto a ocorrência da doença ou evento de interesse são determinados 
para o indivíduo, permitindo inferências de associações nesse nível. As principais 
diferenças entre os estudos seccionais, caso controle e de coorte residem na forma 
de seleção de participantes para o estudo e na capacidade de mensuração da 
exposição no passado, como será visto a seguir. 
 
Estudos ecológicos 
 
Nos estudos ecológicos, compara-se a ocorrência da doença/condição 
relacionada à saúde e a exposição de interesse entre agregados de indivíduos 
(populações de países, regiões ou municípios, por exemplo) para verificar a possível 
existência de associação entre elas. Em um estudo ecológico típico, medidas de 
agregados da exposição e da doença são comparadas. Nesse tipo de estudo, não 
existem informações sobre a doença e exposição do indivíduo, mas do grupo 
populacional como um todo. Uma das suas vantagens é a possibilidade de examinar 
associações entre exposição e doença/condição relacionada na coletividade. Isso é 
particularmente importante quando se considera que a expressão coletiva de um 
fenômeno pode diferir da soma das partes do mesmo fenômeno. Por outro lado, 
embora uma associação ecológica possa refletir, corretamente, uma associação 
 
 
 
 
 
 
 
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causal entre a exposição e a doença/ condição relacionada à saúde, a possibilidade 
do viés ecológico é sempre lembrada como uma limitação para o uso de correlações 
ecológicas. O viés ecológico – ou falácia ecológica – é possível porque uma 
associação observada entre agregados não significa, obrigatoriamente, que a mesma 
associação ocorra em nível de indivíduos. 
Na Figura 3, é apresentada a distribuição da proporção de óbitos por causas 
mal definidas entre idosos e a taxa de pobreza (proporção da população com renda 
per capita inferior a meio salário mínimo), segundo a macrorregião brasileira. Sabese 
que, para o conjunto da população idosa brasileira, cerca de 65% dos óbitos sem 
causa básica conhecida ocorrem sem assistência médica. Assim, a maior proporção 
de mortes por causas mal definidas nas regiões com maior proporção de habitantes 
com renda familiar per capita inferior a meio salário mínimo sugere que a falta da 
assistência médica ao idoso está associada à pobreza. 
 
Estudos seccionais 
 
Nos estudos seccionais, a exposição e a condição de saúde do participante 
são determinadas simultaneamente. Em geral, esse tipo de investigação começa 
com um estudo para determinar a prevalência de uma doença ou condição 
relacionada à saúde de uma população especificada (por exemplo, habitantes idosos 
de uma cidade). As características dos indivíduos classificados como doentes são 
comparadas às daqueles classificados como não doentes. 
 
Um exemplo de estudo seccional foi desenvolvido na cidade 
de Bambuí, situada no interior de Minas Gerais, para determinar a 
prevalência e os fatores sócio demográficos associados à 
depressão. Um questionário foi aplicado para identificar os 
indivíduos com depressão em uma amostra representativa da população da cidade 
 
 
 
 
 
 
 
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com 18+ anos de idade (1.041 participantes). Os episódios depressivos atuais 
estavam associados ao sexo (maior prevalência no sexo feminino, em comparação 
ao sexo masculino), à idade (maior prevalência nos mais velhos, em comparação 
aos mais jovens) e à condição atual de trabalho (maior prevalência entre aqueles 
que não estavam trabalhando, em comparação aos que estavam), conforme 
discriminação na Tabela 3. Saliente-se que as determinações do episódio 
depressivo atual e da ocupação foram feitas simultaneamente, ou seja, não foi 
possível saber se a ausência de trabalho foi anterior ou posterior ao surgimento do 
episódio depressivo. 
Esta é a característica fundamental de um estudo seccional: não é possível 
saber se a exposição antecede ou é consequência da doença/condição relacionada 
à saúde. Portanto, esse delineamento é fraco para determinar associações do tipo 
causa-efeito, mas adequado para identificar pessoas e características passíveis de 
intervenção e gerar hipóteses de causas de doenças. Em relação ao estudo de 
Bambuí, os resultados mostraram que a depressão é um importante problema de 
saúde na comunidade, especialmente entre mulheres, pessoas mais velhas e 
aqueles que não estão trabalhando. O resultado do estudo também gerou uma 
hipótese sobre a influência da ausência de trabalho no desenvolvimento do episódio 
depressivo. 
 
 
 
 
 
 
 
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Figura 3 - Proporção de óbitos por causas mal definidas entre idosos 
(60+) e taxa de pobreza segundo a macrorregião brasileira, 1997 
 
Tabela 3 - Fatores sócio demográficos, independentemente associados 
à depressão nos últimos 30 dias determinada pelo Composite International 
Diagnostic Interview (CIDI). 
 
 
 
 
 
 
 
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Estudos caso-controle 
 
Os estudos caso-controle e os estudos de coorte podem ser utilizados para 
investigar a etiologia de doenças ou de condições relacionadas à saúde entre idosos, 
determinantes da longevidade; e para avaliar ações e serviços de saúde. Os estudos 
de coorte também podem ser utilizados para investigar a história natural das 
doenças. 
Nos estudos caso-controle, primeiramente, identificam-se indivíduos com a 
doença (casos) e, para efeito de comparação, indivíduos sem a doença (controles) 
(Tabela 4). Depois, determina-se (mediante entrevista ou consulta a prontuários, por 
exemplo) qual é a Odds da exposição entre casos (a / c) e controles (b / d). Se existir 
associação entre a exposição e a doença, espera-se que a Odds da exposição entre 
casos seja maior que a observada entre controles, além da variação esperada devida 
ao acaso. 
Os estudos caso-controle, ao contrário dos estudos de coorte (ver a seguir), 
partem do efeito (doença) para a investigação da causa (exposição). Nesse artifício, 
 
 
 
 
 
 
 
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para 
residem as forças e as fraquezas desse tipo de estudo epidemiológico. Entre as 
vantagens, podemos mencionar: 
a) tempo mais curto para o desenvolvimento do estudo, uma vez 
que a 
seleção de participantes é feita após o surgimento da doença; 
b) custo mais baixo da pesquisa; 
c) maior eficiência para o estudo de doenças raras; 
d) ausência de riscos para os participantes; 
e) possibilidade de investigação simultânea de diferentes hipóteses 
etiológicas. Por outro lado, os estudos caso-controle estão sujeitos a dois 
principais tipos de vieses (erro sistemático no estudo): de seleção (casos e 
controles podem diferir sistematicamente, devido a um erro na seleção de 
participantes); e de memória (casos e controles podem diferir 
sistematicamente,na sua capacidade de lembrar a história da exposição). 
Essas limitações podem ser contornadas no delineamento e condução 
cuidadosos de um estudo caso-controle. 
 
Um estudo caso-controle investigar a associação de 
quedas entre idosos e uso de medicamentos está sendo 
desenvolvido no Município do Rio de Janeiro. Os casos são 
pessoas com 60+ anos de idade, internadas em seis 
hospitais do município por fratura decorrente de queda. Os controles são pacientes 
dos mesmos hospitais internados por outras causas. Até o momento, os resultados 
sugerem um maior risco de quedas e fraturas entre aqueles que fazem uso de 
benzodia-zepínicos (Odds Ratio-OR=1,9; Intervalo de Confiança-IC em nível de 
95%=1,0-3,8) e miorrelaxantes (OR=1,9; IC95%=1,0-4,0). 
 
 
 
 
 
 
 
 
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Tabela 4 - Delineamento de um estudo caso-controle 
 
 
Estudos de coorte 
 
Nos estudos de coorte, primeiramente, identifica-se a população de estudo e 
os participantes são classificados em expostos e não expostos a um determinado 
fator de interesse (Tabela 5). Depois, os indivíduos dos dois grupos são 
acompanhados para verificar a incidência da doença/condição relacionada à saúde 
entre expostos (a / a + d) e não expostos (c / c + d). Se a exposição estiver associada 
à doença, espera-se que a incidência entre expostos seja maior do que entre não 
expostos, além da variação esperada devida ao acaso. Nesse tipo de estudo, a 
mensuração da exposição antecede o desenvolvimento da doença, não sendo sujeita 
ao viés de memória como nos estudos caso-controle. Além disso, os que 
desenvolveram a doença e os que não desenvolveram não são selecionados, mas 
sim identificados dentro das coortes de expostos e não expostos, não existindo o viés 
de seleção de casos e controles. Os estudos de coorte permitem determinar a 
incidência da doença entre expostos e não expostos e conhecer a sua história 
natural. 
 
 
 
 
 
 
 
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Tabela 5 - Delineamento de um estudo de coorte 
 
A principal limitação para o desenvolvimento de um estudo de coorte, além do 
seu custo financeiro, é a perda de participantes ao longo do seguimento por conta de 
recusas para continuar participando do estudo, mudanças de endereços ou 
emigração. Os custos e as dificuldades de execução podem comprometer o 
desenvolvimento de estudos de coorte, sobretudo quando é necessário um grande 
número de participantes ou longo tempo de seguimento para acumular um número 
de doentes ou de eventos que permita estabelecer associações entre exposição e 
doença. 
 
 
 
 
 
 
 
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Por essas razões, são poucos os estudos de coorte com base populacional 
desenvolvidos entre idosos brasileiros. Um desses estudos (Epidoso) está sendo 
desenvolvido na cidade de São Paulo, onde cerca de 1.700 pessoas com 65+ anos 
estão sendo acompanhadas. Um outro estudo está sendo desenvolvido, onde estão 
sendo acompanhados todos os residentes na comunidade com 60+ anos de idade 
(cerca de 1.700 pessoas). De uma maneira geral, os principais objetivos de um 
estudo prospectivo consistem em determinar a incidência de condições adversas à 
saúde e investigar determinantes dessas condições. 
O delineamento básico do estudo de coorte de Bambuí está apresentado na 
Figura 4. Inicialmente, foi conduzido um censo para identificar todos os residentes na 
cidade. Em seguida, aqueles com 60+ anos de idade foram convidados a participar 
do estudo. Os que aceitaram participar foram incluídos na linha de base do estudo e 
submetidos a entrevista, exame físico e diversos exames laboratoriais. A entrevista 
foi realizada com a utilização de um questionário estruturado e précodificado, 
contendo informações sobre características sócio demográficas, morbidade auto-
 
 
 
 
 
 
 
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referida, uso de medicação, uso de serviços de saúde e fontes de cuidados, hábitos 
de vida, aspectos psicossociais, história reprodutiva, função física e saúde mental. 
Foi constituída uma soroteca e um banco de DNA para investigações futuras. As 
informações obtidas na linha de base do estudo são denominadas variáveis 
exploratórias (exposição) e a sua associação com condições adversas de saúde 
(variáveis de desfecho) serão investigadas, comparando-se as incidências dessas 
condições ao longo do tempo, entre expostos e não expostos. As principais variáveis 
de desfecho investigadas nesse estudo são: morte; internações hospitalares; declínio 
físico e cognitivo; acidentes; episódios depressivos; e uso de medicamentos e de 
serviços de saúde. A adesão ao estudo foi alta, tanto na linha de base (dos 1.742 
idosos selecionados, 92% foram entrevistados e 86% examinados) quanto no 
primeiro seguimento (somente 1,7% foram perdidos para acompanhamento). Esses 
resultados mostram que a escolha da cidade e a forma de abordagem da comunidade 
foram adequadas para garantir a adesão ao estudo na linha de base e a pequena 
perda de acompanhamento, condição essencial para o sucesso de um estudo de 
coorte. 
Nas últimas décadas, importantes estudos de coorte com base populacional 
de idosos vêm sendo realizados em países desenvolvidos. Os resultados dessas 
pesquisas têm sido fundamentais para subsidiar programas de prevenção e 
promoção da saúde dessas populações. Não se sabe, entretanto, se esses 
resultados são generalizáveis para países em desenvolvimento. Estudos de coorte 
com base populacional da população idosa nesses países são importantes para, 
entre outras razões: 
a) determinar a incidência de eventos adversos de saúde entre idosos, 
orientando estratégias de prevenção adequadas à realidade nacional; 
b) contribuir para o entendimento da etiologia de algumas doenças; e 
c) estudar fatores culturais, comportamentos e estilos de vida que podem 
 
 
 
 
 
 
 
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variar entre comunidades e países, associados a esses eventos. 
 
Figura 4 - Delineamento do estudo de coorte. 1996-2007 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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Vieses e variáveis de confusão 
 
Além dos aspectos gerais da pesquisa epidemiológica, os estudos sobre 
envelhecimento requerem alguns cuidados ou estratégias especiais a serem levados 
em conta, tanto no planejamento quanto na condução, análise e interpretação dos 
resultados. Entre esses aspectos, destaca-se o uso de respondentes próximos. 
Alguns idosos mais velhos podem estar 
muito doentes ou apresentar déficit 
cognitivo que impeça a sua participação na 
pesquisa. Nesse caso, pode-se recorrer a 
uma pessoa próxima para se obter alguma 
informação e assegurar a validade interna 
 
 
 
 
 
 
 
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do estudo. É fundamental, entretanto, que o uso de respondente próximo seja 
considerado na análise (mediante estratificação ou ajustamento, por exemplo) e na 
interpretação dos resultados da pesquisa. 
Uma dificuldade dos estudos epidemiológicos sobre envelhecimento é a 
definição da população-alvo. Isso é particularmente importante quando o estudo 
inclui idosos mais velhos, porque a institucionalização cresce de forma marcante com 
a idade. Estudos epidemiológicos de idosos residentes na comunidade, que excluem 
idosos institucionalizados, podem subestimar a prevalência de incapacidade na 
população. Esse viés será mais acentuado em comunidades com maior grau de 
institucionalização. 
O viés de seleção sempre deve ser lembrado em estudos do tipo casocontrole 
da população idosa. Ele ocorre quando casos e controles diferem entre si 
sistematicamente, devido à forma de seleção. O recrutamento de casos entre 
pacientes hospitalizados (ou institucionalizados) é particularmente sujeito ao viés de 
seleção, porque os fatores que levam à hospitalização – por exemplo: gravidade da 
doença, tabagismo e maior idade – também estão associados a muitos fatores de 
risco. 
O viés de sobrevivência, igualmente, deve ser considerado em estudos sobre 
a saúde do idoso. Os participantes idosos de estudos epidemiológicos são 
sobreviventes porque aqueles expostos a fatores de risco têm maior probabilidade 
de morte prematura. Esse viés tende a reduzir a magnitude das associações 
encontradas entre fatores de risco e doença/condição relacionada à saúde entre 
idosos. 
Para finalizar, também é importante considerar o efeito de variáveis de 
confusão nos estudos epidemiológicos sobre envelhecimento, ou seja, de fatores que 
podem ser uma explicação alternativa para a associação encontrada. O fator de 
confusão está presente quando duas variáveis são associadas, mas parte da 
 
 
 
 
 
 
 
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associação – ou toda ela – é decorrente de uma associação independente com uma 
terceira variável (de confusão). Por exemplo, as quedas podem estar associadas ao 
uso de diuréticos, sugerindo um efeito causal. A insuficiência cardíaca, entretanto, 
confunde esta associação porque o uso de diuréticos faz parte do seu tratamento e 
a insuficiência cardíaca é também um fator de risco para quedas. O efeito de 
confusão pode ser controlado mediante estratificação ou ajustamento na análise dos 
dados. 
A idade é um fator potencial de confusão de muitas associações porque, 
frequentemente, está associada à exposição e à doença/condição em diferentes 
situações. O efeito da idade pode ser controlado mediante pareamento, estratificação 
ou ajustamento na análise. Quando o estudo inclui idosos mais velhos, recomenda-
se o ajustamento pela idade com intervalos mais curtos (ou como variável contínua), 
em lugar de intervalos mais amplos (cinco em cinco ou dez em dez anos, por 
exemplo). 
 
O envelhecimento no Brasil: aspectos epidemiológicos 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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A ideia do Brasil como um país jovem sempre esteve na nossa mente e 
desenhou o nosso horizonte. No entanto, presente de repente, percebemo-nos 
grisalhos. A pergunta que se faz é: como isso aconteceu? 
A estrutura por idade e sexo de uma população, em um dado momento, é o 
resultado da sua dinâmica durante um longo período, isto é, do comportamento dos 
nascimentos, das mortes e das migrações nos últimos 100 anos. É essa estrutura 
que condiciona a evolução da população, no sentido do seu crescimento, ou não, 
pois o que determina esse crescimento é a fecundidade e a mortalidade que, por sua 
vez, são fatores que estão diretamente relacionados à idade e sexo. 
A população brasileira, assim como a da América Latina e Caribe, vem 
sofrendo, nas últimas cinco décadas, transições decorrentes de mudanças nos níveis 
de mortalidade e fecundidade, em ritmos nunca vistos anteriormente. Essas 
mudanças fizeram com que a população passasse de um regime demográfico de 
altas natalidade e mortalidade para outro, primeiramente com baixa mortalidade e a 
seguir, baixa fecundidade. Isso levou a um envelhecimento da população. 
 
ABORDANDO A TRANSIÇÃO DEMOGRÁFICA E EPIDEMIOLÓGICA 
 
Quando se compara a proporção de jovens (menores de 15 anos) no Brasil, 
no ano de 1940 – 42,6% - com a de 2000 – 29,6% e a proporção de idosos (60 anos 
e mais) nos mesmos anos, 4,1% e 8,6%, respectivamente, tem-se uma ideia das 
transformações sofridas pela nossa população. A representação gráfica da 
distribuição da população segundo idade e sexo, ou seja, a pirâmide populacional, 
em intervalo de tempo de 50 anos, dá a visão dessa grande modificação. 
A uma pirâmide de forma piramidal, com base larga, paredes inclinadas e 
ápice pontiagudo, segue-se outra com forma que caminha a passos largos para o 
que se convencionou chamar de “barril” ou “bala de canhão”. A essas mudanças dá-
se o nome de transição demográfica, que significa a passagem de um regime 
 
 
 
 
 
 
 
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demográfico de alta natalidade e alta mortalidade para outro, com baixa natalidade e 
baixa mortalidade. 
De maneira esquemática, pode-se dividir os países, quanto à sua transição 
demográfica, em três tipos: os de iniciação precoce da transição; os de iniciação 
tardia e aqueles que ainda não iniciaram a sua transição. No primeiro grupo estão, 
por exemplo, os países europeus ocidentais, que fizeram a sua transição há séculos. 
No segundo grupo estão os países da América Latina e Caribe, que iniciaram esse 
processo há cerca de 50 anos. E, finalmente, os países africanos, que ainda não 
iniciaram seu processo de transição demográfica, ou seja, ainda têm uma estrutura 
jovem de população. 
Embora o envelhecimento da população brasileira já pudesse ser prenunciado 
no início do século XX, pela queda da mortalidade, só por volta de 1950 é que esse 
fenômeno se estabeleceu realmente, com o declínio brutal da fecundidade, que 
passou de 6,2 filhos por mulher em 1940 para apenas 2,3 em 2000 e 2,1 em 2003. 
Se atentarmos para o fato de que 2,1 filhos por mulher é o valor de reposição 
da população, breve teremos uma população mais envelhecida ainda. Alguns 
estados brasileiros já vivem essa situação, por exemplo, São Paulo, Santa Catarina 
e Rio Grande do Sul, que têm taxas de fecundidade de 1,7 filhos por mulher. 
Dessa forma, o processo de envelhecimento depende, também, da dinâmica 
da população mais jovem que 60 anos: se esta população crescer tão ou mais 
rapidamente do que a população mais idosa, algumas questões, como o apoio às 
pessoas idosas podem ser menos problemáticas, mesmo que o crescimento absoluto 
da população mais idosa tenha suas próprias consequências econômicas. O que 
importa é o crescimento relativo dos dois segmentos da população: na medida em 
que a população de 60 anos cresça mais rapidamente do que a população abaixo de 
60 anos, haverá um maior envelhecimento. E é exatamente isso que estamos vendo 
ocorrer no Brasil. 
 
 
 
 
 
 
 
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Na tabela 1 podem-se observar as taxas de crescimentodas populações de 
60 anos e mais, e total. Desde as décadas de 50/60, o crescimento do contingente 
idoso é maior, supondo-se que chegue em 2015/25 a ser cinco vezes o da população 
total. 
 
Tabela 1. Taxas de crescimento da população brasileira, idosa e total, em 
diferentes épocas 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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Dentro desse panorama, a parcela dos muitos idosos, ou seja, aqueles com 
80 anos e mais, tem um crescimento ainda maior do que as restantes, pois cresce 
cerca de 4% ao ano, isto é, a uma taxa de 0,04, bem maior do que o crescimento da 
população total. 
O processo de envelhecimento nos países desenvolvidos ocorreu muito tempo 
depois de eles terem adquirido padrões elevados de vida, reduzido desigualdades 
sociais e econômicas, e implementado um número de estratégias institucionais para 
compensar os efeitos das desigualdades residuais, ao menos na área de acesso aos 
serviços de saúde. O desenvolvimento social e econômico na América do Norte e 
Europa Setentrional e Ocidental já estavam determinados quando as demandas de 
uma sociedade que envelhecia (e mesmo as preocupações sobre isso) foram 
reconhecidas. Ou seja, “os países desenvolvidos primeiro ficaram ricos e depois 
envelheceram; os países da América Latina e 
Caribe estão ficando velhos antes de serem ricos”. 
Nenhum país na América Latina apresenta uma história e um contexto 
institucional similares. Ao contrário: em quase todos os países, um processo de 
envelhecimento altamente comprimido começa a ocorrer no meio de economias 
frágeis, níveis crescentes de pobreza, aumentando, mais do que diminuindo, as 
desigualdades sociais e econômicas e, contraindo, mais do que expandindo, o 
acesso aos serviços e recursos coletivamente financiados. 
O cronograma relativamente comprimido do envelhecimento na região pode, 
em parte pelo menos, ser traçado pela revolução médica e de saúde pública que 
provocou o declínio da mortalidade há quase meio século. As pessoas que estão 
alcançando os 60 anos depois de 2000 são aquelas que vivenciaram todos os 
benefícios da tecnologia em saúde introduzida durante o período pós II Guerra 
Mundial, principalmente aquela relativa à sobrevivência na primeira infância. Na 
figura 2 pode ser observada a diferença temporal na transição demográfica dos 
 
 
 
 
 
 
 
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países desenvolvidos e dos em desenvolvimento. O que ocorreu em mais de 200 
anos na Europa Ocidental está acontecendo em poucas décadas na América 
Latina. 
O crescimento da população idosa na América Latina está mais ligado às 
descobertas revolucionárias relativas às questões médicas e de saúde pública, 
principalmente a diminuição da mortalidade infantil que começou depois de 1930, e 
não, necessariamente, às melhorias nos padrões gerais de vida. Portanto, os idosos 
da região foram expostos à desnutrição e outras doenças, em uma etapa precoce da 
vida, diferentemente do que ocorreu nos países industrializados que foram 
testemunho de um aumento estável dos padrões de vida. Acredita-se que tais 
questões possam ter efeitos fisiológicos duradouros que podem afetar 
consideravelmente o estado de saúde dos adultos. 
Em resumo, a região está envelhecendo “prematuramente”, a composição por 
estado de saúde e incapacidade pode piorar e tornar-se desfavorável mais cedo do 
que tarde, e as redes familiares e domésticas estão perdendo terreno antes que 
mecanismos sociais para efetuar as transferências institucionais sejam 
adequadamente estabelecidos. 
Um fenômeno que acompanha o envelhecimento da população é a 
feminização da velhice. As mulheres vivem mais do que os homens em quase todas 
as partes do mundo. Por exemplo, para idades de 65 anos e mais, havia 75 homens 
para cada 100 mulheres na Europa em 2005. No Brasil, o censo de 2000 acusou, 
para a mesma faixa etária, 82 homens para cada 100 mulheres e o Estudo SABE, no 
Município de São Paulo, mostrou, no mesmo período, a existência de 179 mulheres 
para cada 100 homens de 75 anos e mais. 
 
 
 
 
 
 
 
 
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Várias são as explicações para esse fenômeno como diferenças biológicas 
(por exemplo: o fator de proteção conferido por hormônios femininos em relação à 
isquemia coronariana); diferenças de exposição às causas de risco de trabalho; 
diferenças no consumo de álcool e tabaco, que estão sabidamente associados às 
causas de mortes mais frequentes na faixa etária acima dos 45 anos, como 
neoplasias e doenças do aparelho circulatório; diferenças de atitudes em relação à 
doença e incapacidade (as mulheres são mais atentas ao aparecimento de sintomas 
e sinais). 
No entanto, ao mesmo tempo em que as mulheres têm a vantagem de viverem 
por mais tempo, elas estão mais expostas que os homens à violência doméstica e 
discriminação no acesso à educação, renda, alimentos, trabalho significativo, cuidado 
da saúde, heranças, medidas de segurança social e poder político. Essas 
desvantagens cumulativas significam que as mulheres têm comparativamente aos 
homens, maior possibilidade de serem pobres e de apresentarem incapacidades e 
múltiplos problemas de saúde nas idades mais longevas. 
Usando dados do Estudo SABE (pesquisa longitudinal para traçar as 
condições de vida e saúde dos idosos residentes no Município de São Paulo, 
realizada por meio de entrevistas domiciliares em 2000 e 2006) de 2000, Santos, 
 
 
 
 
 
 
 
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mostrou que embora a esperança de vida seja maior para as mulheres, a proporção 
dessa esperança de vida sem incapacidade é maior para o sexo masculino. 
Devido à maior expectativa de vida das mulheres e da tendência dos homens 
de casarem com mulheres mais jovens e de recasarem se suas esposas morrerem, 
as mulheres viúvas ultrapassam dramaticamente os homens viúvos em todos os 
países. Mulheres idosas que estão sozinhas são altamente vulneráveis à pobreza e 
isolamento social. 
O papel tradicional das mulheres como cuidadoras da família, pode também 
contribuir para sua crescente pobreza e má saúde na idade avançada. Algumas 
mulheres são forçadas a desistir de empregos remunerados para exercer suas 
responsabilidades de cuidadoras. Outras, nunca tiveram acesso a empregos 
remunerados por conta de seu trabalho em tempo integral em papéis de cuidadoras 
não remuneradas, olhando as crianças, pais idosos, esposos doentes e netos. Assim, 
a provisão do cuidado da família é, frequentemente, executada em detrimento da 
segurança econômica e boa saúde da mulher cuidadora na idade mais tardia. 
Concomitantes a essas mudanças demográficas ocorrem outras mudanças no 
comportamento da mortalidade e morbidade da população. Essas mudanças deram 
origem ao conceito de transição epidemiológica proposto por Omran9. Segundo o 
autor, a teoria da transição epidemiológica está focalizada na complexa mudança dos 
padrões de saúde e doença e nas interações entre esses padrões e seus 
determinantes e consequências. Essas mudanças dos padrões dizem respeito à 
diminuição da mortalidade por doenças infecciosas e ao aumento das doenças não-
transmissíveis. A Figura 3 mostra a evolução da mortalidade proporcional por 
doenças infecciosase parasitárias, doenças do aparelho circulatório, neoplasias 
malignas e causas externas. 
Alguns autores utilizam o termo “transição da saúde”, pois dizem que, a rigor, 
estão envolvidos dois aspectos básicos da saúde nas populações humanas. Por um 
 
 
 
 
 
 
 
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lado, está a transição das condições de saúde, isto é, os processos de saúde e 
doença que definem o perfil epidemiológico de uma população, expressado em 
termos de morte, doença e invalidez. Por outro lado, está a resposta social 
organizada a essas condições, que se instrumentaliza por meio do sistema de 
atenção à saúde. 
Um dos mecanismos para as mudanças nas principais causas de morte tem 
sido a redução dos coeficientes de letalidade de algumas doenças (coeficiente de 
letalidade é igual ao número de óbitos por determinada causa dividido pelo número 
de doentes pela mesma causa). 
A transição demográfica e a transição epidemiológica não são a mesma coisa, 
pois a transição epidemiológica implica em mudanças nos padrões de morbidade, 
além da mortalidade, havendo uma relação fundamental entre elas, pois a queda 
inicial da mortalidade se concentrou nas causas de mortes infecciosas. 
Por outro lado, a queda da fecundidade afeta a estrutura da população por 
idades e repercute no perfil de morbidade, já que a proporção crescente de pessoas 
de idade avançada aumenta a importância das doenças crônicas e degenerativas. 
Dessa forma, as doenças passam de um processo agudo que termina, 
frequentemente, em morte, para um estado crônico que as pessoas sofrem durante 
longos períodos da vida. 
Omran estabeleceu algumas proposições em relação à transição 
epidemiológica. A primeira aponta a premissa de que a mortalidade é fator 
fundamental na dinâmica populacional. A segunda propõe que, durante a transição, 
ocorrem mudanças de longa duração nos padrões de mortalidade e morbidade, onde 
as pandemias de doenças infecciosas são gradualmente substituídas pelas doenças 
degenerativas e provocadas pelo homem como a forma mais importante de 
morbidade e, a principal causa de morte. Nesse momento ocorrem três sucessivos 
estágios da transição epidemiológica. 
 
 
 
 
 
 
 
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1º. idade da pestilência e da fome: 
Caracterizada não por mudanças nas taxas médias de mortalidade, mas por 
uma estagnação das taxas de óbitos em níveis extremamente altos por um período 
que se acredita que tenha sido de milhares de anos. Durante esse estágio as taxas 
de morte flutuaram em níveis altos entre picos e depressões em resposta a epidemias 
que periodicamente devastavam as populações. Os “grandes matadores” nessa 
época incluíam gripe, pneumonia, diarreia, varíola, tuberculose e outras doenças 
relacionadas. Crianças e recém-nascidos eram dizimados por essas doenças, 
embora as mulheres em idade reprodutiva também enfrentassem um alto risco por 
causa das complicações da gravidez e do parto. Uma vez que a maior parte das 
causas durante esse período tendia a atingir principalmente os jovens, os efeitos na 
sobrevivência eram profundos de tal modo que a expectativa de vida oscilava entre 
20 e 40 anos 
2º. idade da regressão das pandemias: 
 
É uma fase de transição caracterizada mais pelas rápidas mudanças nos 
componentes de nossa história epidemiológica. Durante esse estágio, os picos e 
depressões da mortalidade eram alisados inicialmente por rápidos incrementos em 
 
 
 
 
 
 
 
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saneamento e padrões de vida com medidas médicas e de saúde pública 
contribuindo significativamente, com a melhoria das condições de saúde e sociais. 
Aqueles que poderiam ter sucumbido às doenças infecciosas e parasitárias 
sobreviveram dos anos iniciais para idades adultas e velhas onde eles enfrentam os 
elevados riscos de morrer de doenças e agravos crônicos não transmissíveis. Como 
as doenças degenerativas e infecciosas tendem a matar nos extremos opostos da 
estrutura etária, a transformação nas causas de morte durante essa era resultou na 
redistribuição dos óbitos dos jovens para os mais velhos. Os efeitos mais favoráveis 
na sobrevivência foram, dessa forma, concentrados entre os recém-nascidos, as 
crianças e mulheres em idade reprodutiva. Durante esse estágio, a esperança de 
vida ao nascer aumentou para cerca de 50 anos; 
 
3º. idade das doenças degenerativas e doenças causadas pelo homem: 
Tem sido descrito basicamente como uma fase de platô na história 
epidemiológica, onde se alcançou um nível de equilíbrio na mortalidade, mas 
consideravelmente mais baixo do que aquele do primeiro estágio. Neste estágio, o 
ritmo do declínio nas taxas de mortalidade através das estruturas etárias diminui 
assim que os limites teóricos dos declínios da mortalidade são alcançados. As 
principais causas de morte para a população são as ditas doenças e agravos crônicos 
não transmissíveis, tais como doenças cardíacas, cerebrovasculares, neoplasias que 
tendem a matar em idades próximas do que se acreditava ser o fim do “span vital” 
(limite biológico da vida humana ou animal). O efeito na longevidade é uma 
esperança de vida para a população que alcança sete décadas, e das quais se 
esperavam poucas mudanças no futuro. 
No tempo em que essa teoria foi proposta, acreditava-se que o declínio da 
mortalidade havia chegado ao nível mais baixo possível, e os ganhos na esperança 
de vida caminhariam a passo lentos e, pensava-se que sete décadas de vida era o 
 
 
 
 
 
 
 
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mais próximo desse limite. No entanto, dados internacionais de tendência da 
mortalidade específica por causas, indicam que a maioria da queda dos coeficientes 
de mortalidade específica por idade está ocorrendo como um resultado do declínio 
da mortalidade por doenças cardiovasculares. Assim, Olshansky definiu o que 
chamou de quarto estágio, ou seja, a idade das doenças degenerativas retardadas, 
representada por: 
a) rápido declínio das taxas de mortalidade, que estão concentradas 
principalmente nas idades avançadas, e que ocorrem em ritmos semelhantes para 
homens e mulheres; 
b) o padrão etário da mortalidade por causa permanece o mesmo do 
terceiro estágio, mas a distribuição etária das mortes por doenças degenerativas é 
desviada, progressivamente, para as idades mais velhas. 
c) os aumentos relativamente rápidos na sobrevivência são concentrados 
entre a população em idades avançadas. Neste estágio, as principais causas 
degenerativas de morte que prevaleciam durante o terceiro estágio da transição 
permanecem como os “grandes matadores”, mas o risco de morrer dessas doenças 
está redistribuído para idades ainda mais velhas. 
Na América Latina, no entanto, esse processo de transição epidemiológica não 
pode ser considerado de forma tão linear como o fizeram os autores anteriores. 
Frenk10 propõe um novo modelo denominado “polarizado prolongado”, que explicaria, 
em parte, a situação de saúde vivida pelo Brasil e que seria composto dos seguintes 
traços: 
Superposição de etapas: ao contrário da teoria original da transição 
epidemiológica, que pressupõe uma sequência unidirecional dos padrões de 
morbimortalidade, na AméricaLatina as diferentes etapas não se sucedem, mas, sim, 
superpõem-se. Embora o Brasil tenha uma proporção de óbitos por doenças do 
aparelho circulatório bastante alta (31,2%), a proporção por doenças infecciosas e 
 
 
 
 
 
 
 
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parasitárias ainda é bem diferente da dos países desenvolvidos - 5,5% para o Brasil 
contra 0,4% na Áustria; 
Contra-transição: os movimentos de contra-fluxo em vários países da 
América Latina têm sido frequentes, como mostra, entre nós, por exemplo, o retorno 
da febre amarela e da dengue; 
Transição prolongada: os processos anteriormente descritos, mostram que 
não há uma resolução clara do processo de transição. Os países em 
desenvolvimento continuam em uma situação de morbimortalidade mista, onde 
continua existindo uma grande incidência de infecções comuns, sem que se chegue 
ao predomínio completo das doenças crônicas, ao contrário dos países 
industrializados, que também passaram por essa superposição de etapas em que 
coexistiram os dois tipos de morbidade. A diferença é o caráter prolongado dessa 
superposição em alguns países latino-americanos; 
 Polarização epidemiológica – a persistência das desigualdades sociais faz 
com que haja heterogeneidade nas etapas vividas pelos diferentes grupos sociais, 
convivendo padrões pré-transicionais, em algumas regiões com padrões de 
morbidade pós-transicional. 
Essas situações golpeiam os países em desenvolvimento mais duramente. 
Embora essas noções continuem lutando com as doenças infecciosas, má-nutrição 
e complicações do parto, elas são confrontadas com o rápido crescimento das 
doenças não-transmissíveis. Essa “dupla carga da doença” comprime os já escassos 
recursos ao limite. A mudança das doenças transmissíveis para as nãotransmissíveis 
ocorre rapidamente no mundo em desenvolvimento, onde doenças crônicas, tais 
como: doença do coração, câncer e depressão estão se tornando rapidamente as 
principais causas de morte e incapacidade. 
E quais são as consequências desse envelhecimento para um país não 
desenvolvido como o nosso? Há várias opiniões sobre o que acontecerá com a saúde 
 
 
 
 
 
 
 
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da população idosa. Uma delas diz que será possível que, cada vez mais pessoas 
morram nas idades mais tardias, ou seja, a curva da mortalidade será empurrada 
para frente e tenderá à “retangularização”, isto é, toda a coorte se movendo para o 
ponto de máxima idade ao morrer. Essa tendência será acompanhada pela curva da 
morbidade, de tal modo que haverá maior sobrevida sem incapacidade. 
Uma segunda vertente, acredita que conforme aumenta o tempo total de vida, 
as curvas da morbidade e incapacidade não acompanham e, portanto, mais anos 
serão vividos com má saúde ou dependência. 
Uma terceira opinião diz que a investigação científica pode levar a grandes 
incrementos da esperança de vida mediante a modificação dos processos de 
envelhecimento. De acordo com essa teoria, as três curvas – mortalidade, morbidade 
e incapacidades – mover-se-iam paralelamente. 
Ainda uma quarta linha, é a de que as tendências da mortalidade, a frequência 
das doenças crônicas e a conservação da autonomia poderiam ser influenciadas de 
maneira independente mediante intervenções que retardassem o início da doença ou 
reduzissem suas consequências incapacitantes. Se for aceito que as tendências da 
mortalidade, morbidade crônica e incapacidade têm possibilidades independentes de 
melhorar, então podem ser feitas ações específicas que influam sobre cada uma 
delas de maneira diferente. A prevenção primária (melhoria da nutrição e redução do 
consumo de fumo e álcool), com certeza poderia influir nos três fatores, retardando o 
início de doenças crônicas progressivas e aumentando a sobrevivência e a proporção 
de pessoas que sobrevivem sem doenças em determinadas idades. 
Tanto nos países desenvolvidos como nos em desenvolvimento, as doenças 
e agravos crônicos não transmissíveis são significativos, podendo causar 
incapacidade e reduzida qualidade de vida nos idosos. Ações de promoção da saúde 
e mudanças de hábitos podem diminuir as consequências dessas doenças, como 
 
 
 
 
 
 
 
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vem ocorrendo nos EUA, com a redução das taxas de incapacidade em relação ao 
esperado. 
 
CONSIDERAÇÕES FINAIS 
 
Este estudo apresentou, alguns conceitos básicos da epidemiologia e os 
delineamentos de estudos epidemiológicos observacionais que podem ser utilizados 
para a investigação de doenças e fatores associados a elas na população idosa. 
A qualidade de um estudo epidemiológico depende, entre outros fatores, da 
representatividade dos participantes, da qualidade da informação sobre a exposição 
e a doença/condição relacionada à saúde, da ausência de vieses e do controle 
adequado das variáveis de confusão. Portanto, antes de iniciar uma pesquisa, é 
preciso definir, cuidadosamente, a população de estudo, o tamanho da amostra 
(quando for o caso) e o método de seleção dos participantes. Os instrumentos de 
coleta de dados devem ser desenvolvidos e pré-testados, tendo em vista o conjunto 
de informações ou medidas que se deseja obter. 
Para o desenvolvimento de um estudo epidemiológico, é preciso considerar as 
questões éticas pertinentes. No Brasil, aprovou-se, recentemente, um conjunto de 
normas éticas a serem observadas na condução de estudos envolvendo seres 
humanos. Por exigência dessas normas, os protocolos para desenvolvimento de 
estudos epidemiológicos utilizando dados primários devem ser aprovados por um 
comitê de ética credenciado. 
O envelhecimento das populações é um dos mais importantes desafios para a 
Saúde Pública contemporânea, especialmente nos países em desenvolvimento, 
onde o envelhecimento ocorre em um ambiente de pobreza e grande desigualdade 
social. Estudos epidemiológicos de boa qualidade e delineados de forma a 
contemplar essas especificidades são essenciais para subsidiar o desenvolvimento 
 
 
 
 
 
 
 
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de políticas de saúde adequadas à realidade da população de idosos nesses países, 
para que envelheçam com saúde. 
Para sabermos que rumos às populações tomarão, teremos que esperar mais 
algumas décadas. Mas, uma coisa é certa: há de se mudar o paradigma atual. A ideia 
de pessoas idosas associadas a doenças e dependência tem que ser substituída por 
mudanças que as façam permanecer mais tempo ativos e independentes. 
Atuando em função dessa mudança de paradigma a Organização Mundial da 
Saúde adotou o termo “envelhecimento ativo” para expressar o processo de 
conquista dessa visão13. 
 
 
 
Envelhecimento ativo é o processo de otimização das oportunidades de saúde, 
participação e segurança, com o objetivo de melhorar a qualidade de vida à medida 
que as pessoas ficam mais velhas. O envelhecimento ativo aplica-se tanto a 
indivíduos quanto a grupos populacionais, e permite que as pessoas percebam o seu 
potencial para o bem-estar físico, social e mental ao longo do curso da vida, e que 
essas pessoas participem da sociedade de acordo com suas necessidades, desejos 
e capacidades; ao mesmo tempo, propicia proteção, segurança e cuidados 
adequados,

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