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ALFABETIZAÇÃO CONSTRUINDO ALTERNATIVAS COM JOGOS PEDAGÓCIC

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ALFABETIZAÇÃO: CONSTRUINDO ALTERNATIVAS COM 
 JOGOS PEDAGÓGICOS 
 
Karoline Kahl 
 Acadêmica do Curso de Letras/Português da UFSC 
 Maria Elza de Oliveira Lima 
Professora do Colégio de Aplicação da UFSC (Coordenadora) 
elzalima2003@yahoo.com.br 
Izabel Gomes 
Prof.ªAposentada Voluntária 
 
 
Resumo 
A construção de jogos didático-pedagógicos, além de ser uma opção divertida e 
instrutiva para os alunos entrarem em contato com o objeto de estudo, facilita o trabalho 
do educador, possibilitando-lhe maneiras de trabalhar em sala e de atingir todos os 
alunos. Dessa forma, este artigo explanará sobre as principais atividades planejadas e 
confeccionadas durante o projeto de extensão, “Capacitando professores para atuarem 
em regiões com baixo IDH”, com intuito de facilitar o processo de aprendizagem em 
classes de alfabetização. 
Palavras-chave: Jogos, aprendizagem, alfabetização. 
 
Introdução 
 É muito importante valorizar o momento da brincadeira do educando, 
pode-se notar, ao longo da história da educação, que muitos pesquisadores e estudiosos 
passaram a se importar com o ato da brincadeira, e, então, começaram a observar a sua 
evolução. Conclui-se que a brincadeira ganhou mais saliência nos aspectos cognitivos, 
pois de uma atividade lúdica passou a dar contribuições importantes na área de 
aquisição do conhecimento. Assim, auxilia no processo de aprendizagem e deixa de ser 
uma prática somente da realidade da educação infantil, podendo ser utilizada durante 
todos os níveis de ensino. Nesse caso, pode-se afirmar que é riquíssima a utilização do 
lúdico na escola como recurso pedagógico, pois como diria Rubem Alves (2003), o 
brinquedo desperta interesse e curiosidade, aspectos que contribuem na aprendizagem. 
 
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No mundo do brinquedo e dos jogos, no qual o educando aprende a ditar as 
regras, a brincadeira não é uma atividade inata, mas sim uma atividade social e humana 
que supõe contextos sociais, a partir dos quais o aprendiz comanda uma nova realidade 
e estabelece suas normas. 
Na maioria das vezes, o ser humano conhece o “brincar” por incentivo de um 
adulto, que lhe ensina e passa sua experiência e, de forma despercebida, ele vai 
recebendo toda a sua formação social. 
 
Segundo Vygotsky, no processo de desenvolvimento, a criança começa 
usando as mesmas formas de comportamento que outras pessoas 
inicialmente usaram em relação a ela. Isto ocorre porque, desde os primeiros 
dias de vida, as atividades da criança adquirem um significado próprio num 
sistema de comportamento social, refratadas através de seu ambiente 
humano, que a auxilia a atender seus objetivos. (OLIVEIRA, 1994). 
 
Isso faz com que seus atos sejam semelhantes aos daqueles que estiveram ao seu redor. 
O brinquedo consegue fazer interação entre o mundo do adulto, no qual está sendo 
incluído. A escola é primordial quando envolve atividades lúdicas no processo de 
ensino, pois atribui outros valores às brincadeiras, mostra outros caminhos e outras 
possibilidades de “pensar” sobre o brinquedo. É importante ressaltar que a brincadeira 
realizada na escola é diferente daquela que acontece em outros locais. Normalmente, as 
brincadeiras e os jogos têm uma função, uma intenção, que são determinadas, dependem 
de onde acontecem. As brincadeiras ocorridas na escola têm que estar de acordo com o 
objetivo central da instituição, seja para a alfabetização, seja para o repasse de boas 
maneiras, ou com quaisquer fins educativos. 
 A brincadeira, em seu todo, é um período de aprendizagem significativa para a 
criança, independente de onde ocorra. Na escola, mais precisamente nas Séries Iniciais, 
o trabalho com o lúdico pode ser feito de forma a reconhecer as questões da infância, 
despertando interesses, e como tentativa de estudar os assuntos de modo mais agradável. 
Torna-se importante tais atividades, também porque são novas possibilidades, para 
aqueles alunos com mais dificuldades de aprendizagem, de apreensão do conteúdo. 
Também não só para repassar conteúdos, a utilização do lúdico na escola 
caracteriza-se com um recurso pedagógico riquíssimo. Através da brincadeira, a 
 
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professora pode explorar a criatividade, a valorização do movimento, a solidariedade, o 
desenvolvimento cultural, a assimilação de novos conhecimentos e as relações da 
sociedade, incorporando novos valores etc. 
O lúdico na vida escolar deve ser preservado. A realização da brincadeira na 
escola é uma garantia desse “momento mágico” acontecer. Momento esse que desperta 
tantas coisas nas crianças. 
 
Material e Métodos 
A partir da idéia de que a brincadeira é uma atividade sócio-cultural, que se 
origina de valores e hábitos de um determinado grupo social, dirigiu-se a construção dos 
jogos educativos tentando abranger as características do nordeste brasileiro, local no 
qual o projeto de extensão foi realizado. Buscou-se utilizar instrumentos e falares mais 
próximos da realidade desta região e se tentou a adaptação de jogos e brincadeiras que 
objetivassem um determinado estudo, compatível com a realidade de cada unidade de 
ensino, podendo ser elaborados com sucatas, com caixas de leite, e, até mesmo, com o 
reaproveitamento de jogos e brinquedos. 
Segundo Alves (2003:31), “Os brinquedos dão prazer. Os brinquedos fazem 
pensar”. Isso se confirma quando notamos que os educandos apreenderam as regras do 
jogo. No caso, tentou-se, além das regras de funcionamento do jogo, a interação com o 
ensino de português e matemática, confeccionando jogos que despertassem o interesse e 
fizessem com que os alunos aprendessem brincando. 
Entretanto, pesquisas e viagens de estudos, juntamente com os alunos, fizeram-
se muito importantes para encontrar todos esses recursos. 
Deve-se ter um olhar muito observador que possa transformar, mediante 
pequenos detalhes, um jogo, como por exemplo: o bingo, em algo que o aluno possa 
estar aprendendo. Para montar tal jogo, a tentativa foi de pegar a idéia central, e adaptá-
la para o ensino das letras do alfabeto. Na foto, pode-se observar que as cartelas 
mesclam letras cursivas e scripts. 
 
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Figura 1: bingo de letras 
 
Assim, com esses “olhares observadores”, vários jogos foram criados. Eles serão 
descritos na seção seguinte, “Resultados e Análise”. 
 
Resultados e Análise 
Pode-se ressaltar que a pesquisa por jogos didáticos foi muito proveitosa, e, a 
cada descoberta, surgiam mais idéias e adaptações que poderiam ser feitas até mesmo 
com jogos já existentes, como o caso do jogo da memória. Para esse jogo, buscamos 
incluir figuras e nomes, diferentemente do jogo tradicional, que nas duas partes 
encontram-se figuras. 
 
 
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Figura 2: jogo da memória - Figura 3: jogo da memória - 
figuras e palavras inteiras figuras e palavras para completar 
A figura 2 mostra o jogo da memória feito com uma figura colada em uma 
cartela e seu respectivo nome colado em outra. Dessa forma, a criança terá o trabalho de 
ler o nome e associar a figura presente na outra cartela. Já a figura 3, exibe o mesmo 
jogo, só que com alterações na cartela com o nome escrito. Em nível mais avançado, o 
aluno pegará a cartela com o nome, e tentará associar à figura, mas o detalhe desse jogo 
é que a palavra não está escrita inteiramente, faltam letras, e nesse caso, antes de 
descobrir o par, o jogador terá que descobrir qual é a palavra. 
As cores e os trabalhos bem feitos também atraem as crianças. Se for o caso de 
trabalhar com sucatas, não se faz tantas exigências, mas se for o caso de aquisição de 
materiais para serem confeccionados, deve-se optar por cores fortes e vibrantes. O 
aproveitamento de materiais também é levado em conta, no jogo “Lince”, adaptação de 
um jogo já existente, pode-se observar as cores utilizadas: para o tabuleiro foi utilizada 
uma folha de papel cartão azul-escuro, e para as cartelas com os nomes foram utilizados 
retalhosde papéis coloridos. Esse jogo, segue a foto abaixo, foi pensado da seguinte 
maneira: é para ser jogado no mínimo com três jogadores, sendo que um ficará somente 
sorteando as palavras. Esse jogador pegará uma palavra de dentro de um saco e 
mostrará aos demais jogadores, aquele que ler e primeiro encontrar a figura 
correspondente no tabuleiro ganha a cartela. Vencerá o jogador que obtiver mais 
cartelas. 
 
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Figura 4: lince 
Outro jogo bem chamativo, e que também foram feitas adaptações a partir de um 
jogo já existente, foi o jogo do “Mico”. Nesse caso, montamos o jogo do “Mico 
Geométrico”, que funciona seguindo as regras do jogo tradicional. Dando-se, entretanto, 
ênfase ao estudo das figuras geométricas. Esse jogo foi criado por uma aluna do curso 
de matemática, durante seu estágio. 
 
Figura 5: jogo do Mico Geométrico 
 
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Para reaproveitar papéis mais grossos, como de caixas ou papelão, montamos 
jogos de cartelas. Com o ensino já em estágio mais avançado, pode-se trabalhar com 
montagem de palavras e posteriormente de frases. Para o jogo de palavras foi colocado 
letras separadas nas cartelas. Aliás, esse jogo pode ser jogado individualmente ou em 
grupo e tem por objetivo formar o maior número de palavras possíveis nas cartelas. O 
jogo de frases funciona assim como o de palavras, só que formando, desta vez, frases. 
 
Figura 6: jogo de palavras Figura 7: jogo de Frases 
Um outro jogo confeccionado foi o de sílabas. Para o mesmo utilizamos cartelas 
de papel colorido e figuras recortadas de revistas. A palavra foi dividida em sílabas e 
coladas em pedacinhos de papel, quando o vocábulo era mais complexo, colamos uma 
sílaba na cartela, de modo a facilitar. A criança deverá encontrar as sílabas 
correspondentes a cada palavra e montar na cartela. 
 
Figura 8: jogo de sílabas 
 
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O tradicional dominó também foi modificado, ao invés de colocar duas figuras 
iguais, buscou-se colocar uma figura e seu nome. As pedras foram montadas em restos 
de fórmica que foram doados. Esse pode ser um material difícil de ser encontrado, mas 
pode ser substituído por papelão, é a intenção de reaproveitar tudo o que for possível. 
 
Figura 9: dominó 
Para estudar adição, subtração, multiplicação e divisão, montamos várias 
cartelas com aproximadamente 20 continhas, e os seus resultados em pedacinhos de 
papel separados. Esse jogo foi pensado para ser trabalhado em grupo, assim como a 
maioria dos jogos criados. O grupo deve resolver as contas, achar o resultado e encaixar 
na cartela. A equipe vencedora será aquela que terminar primeiro. 
 
 
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Figura 10: jogo de continhas 
O jogo abaixo tem como objetivo encaixar cada palavra na figura 
correspondente, ou, se a professora preferir, pode colocar na parte superior os nomes e 
as crianças tentarão descobrir a figura. Novamente, nesse jogo, as cores fortes estão bem 
presentes. É uma aposta que fazemos, pois acreditamos com isso conseguir prender um 
pouco mais a atenção da criança. 
 
Figura 11: jogo de figuras e palavras 
Outra opção para o início da alfabetização é a montagem de palavras de um 
modo bem simples, como o que pretendemos na figura a seguir: 
 
 
Figura 12: montando palavra 
 
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Pode-se visualizar que em uma tira de papel foi colada uma figura, e as 
divisórias da palavra a ser montada. A criança tem que montar a palavra com as letras 
que foram feitas separadamente. Esse é um joguinho rápido e simples, que pode ser 
utilizado no final da aula, entre uma atividade e outra, ou enquanto os alunos esperam 
por aqueles que não acabaram a atividade. 
Este artigo se finda com a exibição dum outro modo de trabalhar o jogo do 
bingo. Desta vez, a pessoa, que cantará o bingo, não falará o número exato a ser 
procurado nas cartelas, mas sim uma operação. Os participantes do jogo têm que 
resolver a operação e procurar o resultado nas suas cartelas. Esse é um jogo que pode 
ser utilizado, em qualquer série, basta aumentar o nível de complexidade. 
 
Figura 13: Bingo de números 
Considerações Finais 
Neste trabalho somente alguns, de tantos jogos pensados e elaborados, foram 
mostrados. 
A escolha de materiais que possam ser encontrados com facilidade e as 
adaptações de jogos foram feitas de modo a facilitar o encontro entre divertimento e 
aprendizagem. Com um pouquinho de criatividade e dedicação, podem-se transformar 
 
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as aulas em momentos agradáveis e produtivos, que agradem a todos. Criar o espaço da 
brincadeira dentro da sala de aula possibilita ao professor fazer do ensino algo divertido, 
que prenda a atenção do aluno, mostrando, aos mesmos, modos diferentes de se pensar a 
realidade, redimensionando conceitos. 
 
Referências 
ALVES, Rubem. Conversas sobre educação. São Paulo: Verus, 2003. 
 
BRANDÃO, Heliana; FROESELER, Maria das Graças V. G. O livro dos jogos e das 
brincadeiras: para todas as idades. Belo Horizonte: Leitura,1997. 
CUNHA, Nylse Helena Silva. Brinquedo, linguagem e alfabetização. Petrópolis/RJ: 
Vozes, 2004. 
 
OLIVEIRA, Zilma de Moraes Ramos de. L. S. Vygotsky: algumas idéias sobre 
desenvolvimento e jogo infantil. São Paulo: FDE, 1994, p. 43-46. (Idéias, 2).

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