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CADERNO DE AULAS ECON. SETOR PÚBLICO SUMMA, R (2011) (provas baseadas nos textos!) fundação da macroeconomia: teoria geral de keynes, grande depressão 1930. PIB ou Produto: soma de todos os bens e serviços finais em um período Valor da Produção: soma de todos os bens produzidos incluindo intermediários Produto = Produção - Consumo Intermediário PIB real: descontada a inflação Consumo (C) Investimento (I) Moeda unidade de conta meio de troca reserva de valor Preço de oferta é aquele preço que induz a produção, ou seja, que cobre os custos de produção e ainda proporciona um lucro normal. demanda agregada: total de gasto com bens finais produzidos (bens de consumo e bens de investimento) renda agregada: renda paga aos agentes da economia durante o processo de produção e após as vendas Renda Agregada = Salários pagos pelos trabalhadores + Lucros recebidos pelos capitalistas Princípio da Demanda Efetiva (PDE) Gasto gera Renda. Todo mundo é obrigado a vender se quiser auferir uma renda, porém ninguém é obrigado a gastar. Gasto agregado = Renda agregada O nível de Gastos Agregados, medido aos preços de oferta, irá determinar o Produto. Nível de Produto se adapta ao nível de Demanda Agregada. Demanda Agregada determina o nível de Produto. Lei fundamental: total de salários tem que ser menor do que o total da renda. Governo deve evitar situações de desemprego (produto abaixo do pleno emprego) e inflação de demanda (produto acima do pleno emprego). Governo cobre suas despesas de três maneiras: coletando tributos (tributação bruta), emitindo moeda (variação da base monetária) e emitindo nova dívida com o setor privado (variação da dívida líquida). Déficit ou superávit. Déficit: criação de moeda. Emissão de títulos públicos (endividamento do governo) decorre da prática do governo de controlar a taxa básica de juros da economia e fazer política monetária, e não da necessidade de arrecadar fundos para poder gastar (política fiscal). AULA 1 - O princípio da demanda efetiva e a intervenção do governo Keynes e Kalecki: formuladores, anos 1930, intensa crise do desemprego e da renda agregada. até então só existia desemprego voluntário e sua persistência rendeu novas explicações. Princípio que diz que, em uma economia monetária, o nível de gastos agregados, medidos aos preços de oferta, irá determinar o nível de produto. Preço de oferta é aquele que induz a produção (cobre os custos e gera lucro). *A produção capitalista não serve para satisfazer as necessidades das pessoas, é tudo pelo lucro. O fato de existir uma quantidade de bens e serviços à venda, não implica que estes serão comprados. A Decisão de gasto é autônoma, o conjunto dos agentes escolhe o quanto gastar. As pessoas decidem quanto podem gastar, mas nunca quanto irão ganhar. Gasto diretamente gera Renda. Gasto gera Produto Gasto gera Emprego Produto = Renda = Despesa Mecanismos de ajuste Produto > Demanda ou Produto < Demanda Tendência: Produto = Demanda Produto = Produção - Consumo Intermediário Y = C + I + G + (X - M) (cálculo do PIB) Y = produto C = consumo I = investimento G = gastos do governo X = exportações M = importações *No princípio da demanda efetiva, gastos do governo aumentam o produto. Aqui, austeridade e teto de gastos não fazem sentido. Déficit público não é um problema. Gastos Autônomos consumo capitalista e financiado por crédito investimentos de curto prazo gastos públicos exportações Gastos Induzidos boa parte do consumo dos trabalhadores investimentos a longo prazo importações (de forma parcial) Economistas heterodoxos: princípio teórico revolucionário de longo prazo Economistas ortodoxos: princípio restrito ao curto prazo. no longo prazo a demanda efetiva tenderia a se ajustar ao produto potencial Multiplicador dos Gastos quando o gasto autônomo aumenta, o aumento da renda induz o crescimento de outros gastos, gerando variação na renda propensão marginal a consumir: parcela da renda destinada ao consumo. Limites do Princípio da Demanda Efetiva restrição externa restrição interna (política) o longo prazo e a elevação da produtividade PIMENTEL, K E MARTINS, M: Financiamento do gasto público “A execução de uma política fiscal que vise a preservar ou ampliar o emprego e a produção esbarra em obstáculos, segundo alguns economistas. Existiria uma impossibilidade de que o governo consiga os recursos necessários para financiar um aumento dos gastos ou dos déficits públicos. E, mesmo que conseguisse acessar os recursos necessários, dissemina-se frequentemente o receio de que tal política levaria a uma catástrofe. Há tempos que as frases “O governo está quebrado”, “A taxa de juros vai disparar se o governo se endividar mais” e “A inflação vai disparar!” fazem parte do nosso dia a dia. Na esteira desse diagnóstico construímos um conjunto de regras fiscais que constrangem o crescimento do gasto público ao longo das últimas décadas” financiamento do governo em países que emitem sua própria moeda relação entre gasto público, seu financiamento e as taxas de inflação e de juros identidade do orçamento do governo (fluxo) 𝑮 + 𝑭 + 𝒊. 𝑫𝒕−𝟏 ≡ 𝑻 + ∆𝑫 + ∆H DESPESAS G: gastos do governo F: transferências e subsídios ao setor privado 𝒊. 𝑫𝒕−1: pagamento de juros sobre a dívida pública RECURSOS T: receita tributária ∆𝑫: variação da dívida pública ∆H: variação da base monetária VARIÁVEIS DE ESTOQUE dívida pública bruta do governo: estoque de títulos públicos federais emitidos pelo Tesouro Nacional base monetária: cédulas e moedas em circulação e recursos da conta Reservas Bancárias Banco Central do Brasil: agente financeiro do Tesouro Nacional Conta Única do Tesouro no BCB: de onde debita-se os pagamentos do governo é possível que o aumento do gasto público preceda a maior arrecadação de imposto ou a venda de títulos CUT: Conta Única do Tesouro pagamento do governo: debita-se a CUT e credita-se a conta Reservas Bancárias da instituição financeira recebendo o pagamento assim, a redução do saldo da conta única precedendo o recebimento de impostos ou da venda de títulos aumenta a base monetária assim, gasto governamental injeta moeda nova na economia, tendo o mesmo efeito prático de uma emissão primária de moeda setor privado precisa decidir o que fazer com o aumento de base monetária. agentes não-monetários vão utilizar novos recursos para seus próprios planos de gastos de qualquer forma, recursos em geral voltam ao sistema bancário e retornam ao balanço do BCB BCB: responsável por controlar a taxa de juros nesse mercado de compromissadas com títulos públicos federais se não há mudanças na meta da taxa de juros (selic) o BCB é obrigado a criar uma alternativa rentável aos bancos por conta da pressão criada pela maior base monetária, uma vez que transações puramente privadas não resolvem o problema do aumento de base monetária o governo cria moeda nova para a economia, mas esta retorna para ele quando e na medida em que o setor privado desejar obter alguma remuneração pelos seus saldos líquidos e o BCB atua para fornecê-la o aumento das operações compromissadas e a ampliação dos títulos públicos federais detidos pelo setor privado são a contrapartida do controle e da manutenção da taxa de juros de curto prazo a SELIC governo = tesouro + banco central DÉFICIT PÚBLICO e superávit privado 1. base monetária (consumo e investimento) 2. títulos (ações, dívida pública e títulos privados) PANDEMIA economistas sugerindo que o BCB levasse a taxa SELIC a 0 para que a dívida pública não fosse muito pesada por conta do combate à recessão pode ser boa por um lado mas também pode trazer efeitos colaterais indesejáveis: - saída recorde de capital estrangeiro ao longo da pandemia - grande desvalorização cambial: alteração de preços relativos e piora da distribuição de renda - resultado de um sistema monetário e financeiro internacional assimétrico e hierarquizado nível crítico da taxa de juros: considera a taxa de curto prazo no brasil, a taxa de juros nos estados unidos, um parâmetro que representao risco soberano brasileiro e um parâmetro que expressa as desvalorizações esperadas pelo mercado da taxa de câmbio nominal a autoridade monetária deve ser reduzir a taxa de juros na medida do possível mas de forma a evitar fugas de capitais e depreciações abruptas, ou seja, deve levar em consideração as taxas externas, principalmente a dos EUA, o risco soberano brasileiro e as expectativas de depreciação do real aumento do déficit e da dívida pública não implica que o governo terá que pagar uma taxa de juros mais alta taxas de curto prazo: aumento do déficit a partir da elevação da base monetária exerce uma pressão para baixar a taxa de juros, exigindo a atuação do BCB para que a taxa SELIC fique próxima a meta taxas de longo prazo: condicionadas pela taxa Selic e pelas expectativas sobre sua evolução. INFLAÇÃO gastos e transferências do setor público apenas serão excessivos quando gerarem uma situação de excesso de demanda em relação ao produto potencial, gerando inflação de demanda ou ocasionando desequilíbrios no balanço de pagamentos, com possíveis impactos negativos sobre a taxa de câmbio e, consequentemente, sobre a inflação isso não ocorrendo, a elevação do gasto público não será por si só inflacionária AUSTERIDADE nenhuma medida de austeridade será necessária no pós-pandemia. governo não é restrito do ponto de vista de financiamento necessidade de gerir o nível de gasto público para gerir o nível de emprego e renda é plenamente possível controlar a evolução da relação dívida/PIB ao mesmo tempo em que realiza políticas de expansão de gastos para a promoção do emprego e da renda PÓS-PANDEMIA: DESAFIOS - conjunto de regras fiscais auto impostas que constrangerão o crescimento do gasto público - nenhuma indicação sobre a flexibilização ou revogação dessas regras de forma permanente - comprometimento da capacidade de atuação do governo e favorecimento do cenário de políticas recessivas - conta paga pelos trabalhadores MEDEIROS, C & SERRANO, F (2001) explicar a importância do conceito de inserção externa dependência do que se produz lá fora pq não pode se produzir aqui dentro aumento do consumo e diversificação do consumo quanto mais elaborada a tecnologia, mais provável dela ser importada economia brasileira: não faz sentido pensar em economia liderada por importações CEPAL: crescimento das exportações como fator estratégico para crescimento econômico sustentado crescimento liderado pelas exportações vs. crescimento liderado pelo mercado interno Um crescimento liderado pelas exportações é uma exceção e em geral é associado negativamente a “plataformas de exportação” típicas de pequenas economias dependentes e complementares ao capital estrangeiro. A importância do caso brasileiro reside, em primeiro lugar, não apenas pelo fato de que durante um dos períodos em que a economia apresentou elevadas taxas de crescimento as exportações estagnaram (50-60) como também pela constatação de que num dos períodos de relativamente rápida expansão das exportações (década de 80) a taxa de crescimento da economia foi muito baixa. importância da industrialização: se os países latino americanos se mantivessem, à guisa de supostas “vantagens comparativas” , especializados em exportar produtos agrícolas de baixa elasticidade renda e em importar produtos industriais de alta elasticidade, a necessidade de fechar as contas externas tornaria inevitável que os países crescessem a longo prazo a taxa menores que os países industrializados. industrialização: expansão das exportações libera o crescimento das importações a substituição de importações As diferenças entre as políticas específicas aplicadas e em particular o quanto e como cada país se concentrou mais na promoção de exportações ou na substituição de importações em determinado período na realidade se devem muito mais às características da estrutura produtiva e ao contexto histórico (econômico e também geopolítico) em que estes países estavam inseridos. A existência de capacidade de produção doméstica de meios de produção é fundamental para aliviar a restrição externa ao crescimento na medida em que permite o controle da propensão marginal a importar mesmo com crescimento da taxa de investimento. Neste sentido, a implantação do setor doméstico de meios de produção é uma condição crucial para que seja possível o crescimento “hacia dentro” baseado na expansão do mercado interno em contraposição ao crescimento “hacia fuera” liderado pelas exportações. Isto ocorre pelos dois motivos apontados acima. Em primeiro lugar porque a menor propensão marginal a importar e elasticidade renda das importações permite que a expansão do mercado interno não esbarre rapidamente numa restrição de balança de pagamentos. E, em segundo lugar, porque a própria extensão e dinamismo do mercado interno é consideravelmente amplificada pelos efeitos deste setor sobre a demanda global. A discussão sobre a relação entre exportações e crescimento requer considerar alguns aspectos gerais sobre o financiamento externo de uma economia e em particular sobre as possibilidades de crescimento incorrendo em déficits de conta corrente. Em primeiro lugar é importante analisar a questão da sustentabilidade (ou solvência) de uma trajetória de crescimento com déficit externo, ou seja, examinar as condições em que o crescimento dos passivos externos da economia mantenha-se relativamente sob controle e não siga uma trajetória explosiva. SERRANO, F e SUMMA, R estudo da desaceleração econômica brasileira durante os anos 2011 a 2014: causada por mudanças na orientação da política econômica doméstica e queda da demanda agregada dados mostram que a economia tinha condição de se expandir depois de 2010 “Os autores argumentam que a desaceleração resultou majoritariamente do forte declinio do crescimento da demanda doméstica, mais do que de uma queda no ritmo das exportações ou mais ainda do que qualquer mudança de condições de financiamento externo. Os autores demonstram também que a rápida queda do crescimento da demanda domestica foi um resultado deliberado de decisões políticas tomadas pelo governo. Essas decisões de desacelerar a economia não eram necessárias, no sentido que não foram tomadas em resposta ao aparecimeto de alguma restrição externa, como um problema de Balanço de Pagamentos.” “Esse rápido crescimento do superávit primário só foi possível graças a uma redução fortíssma do crescimento do gasto público. Em 2011, o investimento público caiu dramaticamente em termos reais, com queda de 17,9% no investimento da administração pública e 7,8% no investimento das empresas estatais.” “Nesta seção, mostraremos que, apesar de mudanças durante os anos 2011- 2014, com uma significante depreciação da taxa de câmbio, o país manteve baixos níveis de dívida externa, um bom perfil da dívida externa e amplas reservas internacionais. Notamos que o tamanho do setor externo no Brasil é relativamente pequeno em comparação com a economia em geral e, portanto, a desaceleração do comércio não explica a desaceleração da economia brasileira.” “Portanto, o crescimento menor das exportações do Brasil desde 2010 reflete uma tendência global, com o Brasil superando a média mundial em alguns quesitos em 2012 e 2013.” 1. possíveis causas externas da desaceleração econômica: condições de financiamento externo (não), desaceleração das exportações (não), “vazamento demanda agregada (não) “As rápidas taxas de crescimento da economia brasileira nos anos 2000 se deveram à grande melhora das condições externas desde 2003, juntamente com um crescente ativismo na política econômica a partir de 2004. Nesse processo, é importante distinguir três diferentes fatores que operaram juntos, levando ao crescimento sustentável da demanda doméstica de 2004 a 2010.17 O primeiro desses fatores foi a expansão do consumo das famílias (e do investimento residencial), que aconteceu devido a uma combinação de rápido crescimento do crédito imobiliário, forte criação de empregos no setor formal, aumento do salário real e crescentetransferências do setor público para as famílias.” 2. fatores para a expansão da economia brasileira entre 2003 e 2010: expansão do consumo das famílias, impacto da política expansionista na demanda e aumento do investimento privado. “Passemos então a analisar a evolução dos componentes domésticos da demanda agregada e o papel da nova orientação da política macroeconômica na redução da taxa de crescimento de cada um desses componentes no período de 2011-2014.” “Que essa nova política é de fato hostil à retomada do crescimento é algo bastante óbvio. Mas faz muito sentido se o seu verdadeiro objetivo é começar a reverter a intervenção estatal na economia em geral e retroceder no processo de crescimento do Estado de bem-estar social, enquanto ao mesmo tempo altera a distribuição de renda em detrimento dos salários.” DWECK, E & TEIXEIRA papel do Estado (protagonismo do gasto público para o aumento da demanda e do crescimento) vs papel da política fiscal (cenário de superávit e de austeridade aumenta a confiança dos agentes econômicos) a crise de 2008 e a necessidade de adoção de políticas anticíclicas 2 vertentes antagônicas sobre o papel da política fiscal no governo Dilma: gasto demais ou gasto de menos? principais indicadores fiscais 1. resultado primário e nominal 2. endividamento público análise das continuidades e rupturas do governo Dilma em relação ao governo Lula: seguramente, a composição dos gastos foi alterada DWECK, E (2021) “O processo de elaboração, aprovação e execução orçamentária ocorrem anualmente, independentemente da situação econômica, política, social e até sanitária de qualquer país. Conforme destacado por Schick (2006), trata-se de um processo político, marcado por conflitos e busca de soluções. Apesar de possuir forte componente incremental também há rupturas importantes, tanto no conteúdo do orçamento – como principais programas e formas de tributação – quanto das regras que regem a gestão do orçamento. O processo de arrecadação e alocação de recursos públicos possui regras que balizam as relações políticas, econômica e sociais, incluindo a forma de interpretação e aplicação das mesmas, conformando a governança orçamentária.” “Dentre aos diferentes regimes de governança orçamentária, há regras específicas, mais voltadas para gestão fiscal do orçamento que se distinguem das regras puramente orçamentárias. Essas regras de gestão fiscal estão diretamente relacionadas ao contexto macroeconômico de condução da política fiscal, gerando possíveis limites à atuação do Estado, muitos dos quais artificiais. Historicamente, mudanças no arcabouço institucional da política fiscal, tanto do ponto de vista teórico quanto aplicado, estão intrinsecamente ligadas à discussão sobre o papel do Estado.” “De certa forma, a Constituição também consolida um processo que vinha ocorrendo desde meados da década de 1980 de unificação orçamentária e separação formal entre as autoridades fiscal e monetária.” “A questão da sustentabilidade da dívida e de credibilidade da política econômica se sobrepuseram, com a proposição de regras fiscais rígidas, sem espaços para discricionariedade dos governos, voltadas exclusivamente para a sustentabilidade da dívida.” “O objetivo desse artigo é destacar como determinadas regras afetam a gestão orçamentária impondo constrangimentos fiscais e avaliar seus impactos econômicos sobre crescimento do PIB, nível de emprego e indicadores fiscais. Selecionamos três regras principais que se sobrepõe e que têm objetivos e efeitos contraditórios, de forma a analisar as origens e as justificativas teóricas e políticas e os efeitos de cada regra. Em particular, vamos explorar a Regra de Ouro, que tem origem na Constituição, mas foi reforçada pela LCP 101/2000. Em segundo lugar, discutiremos as metas de resultado fiscal trazidas pela LRF e suas consequências para a execução orçamentária. Finalmente, iremos explorar os impactos do Teto de Gastos da EC 95/2016, e as mudanças decorrentes dessa nova regra. Nesse sentido, não iremos discutir todas as regras da governança orçamentárias, mas as que apresentam maiores constrangimentos fiscais, ao impor regras macroeconômicas de condução da política fiscal com impactos na gestão orçamentária.” 1. Regra de Ouro Constituição de 1988: proibição do Banco Central de conceder empréstimos ao Tesouro Constrangimentos trazidos pela regra na forma como ela se apresenta Análise das diversas interpretações da teoria de Keynes “The social security budget should be one section of the capital or long-term Budget. It is important that there should be a level charge on the ordinary Budget revised at longish intervals; and if Mr Meade's proposals are adopted, it will be doubly important to keep it out of the ordinary Budget. For the ordinary Budget should be balanced at all times. It is the capital Budget which should fluctuate with the demand for employment.” “Nesse sentido, cabe destacar alguns pontos de uma regra de ouro decorrente das propostas de Keynes. Em primeiro lugar, deve-se considerar a fase do ciclo econômico. Para Keynes, fazia sentido um orçamento corrente equilibrado no pleno emprego, quando o potencial de arrecadação seria máximo, além disso, estabilizadores automáticos, com seguridade social deveriam ser protegidos e poderiam ser financiados por dívidas. Finalmente, em uma situação de crise, a política fiscal não pode ser contracionista, sob o risco de comprometer ainda mais o próprio resultado fiscal.” “A Regra de Ouro impõe um tratamento diferenciado entre despesas correntes e de capital. Há diversas razões para essa separação comum na contabilidade pública e está associada, entre outras coisas, à durabilidade dos bens de capital e a recorrência das despesas correntes. Entretanto, a separação entre essas despesas não leva em consideração outros impactos relevantes de despesas correntes e até mesmo a relação direta entre essas duas despesas. Um exemplo comum é a construção de uma escola ou unidade de saúde, que é uma despesa de capital, mas requer despesas correntes para serem efetivamente utilizados. Além disso, os impactos econômicos, como multiplicadores fiscais das despesas públicas e mesmo o potencial de desenvolvimento tecnológico, tradicionalmente, são considerados maiores para despesas de capital. Porém, estudos recentes mostram que multiplicadores fiscais de gastos correntes, como benefícios sociais são próximos aos investimentos (ver Sanches, 2020 e Orair et al., 2016) e gastos correntes, como os da área de ciência e tecnologia bem como aquisição de medicamentos e vacinas, podem estar associados a importantes desenvolvimentos tecnológicos. Portanto, há um grau de arbitrariedade na separação dessas duas despesas” 2. Lei de Responsabilidade Fiscal e as Metas Fiscais ano de 2000 novo componente jurídico: a criminalização da política fiscal anexo de possíveis riscos fiscais na LDO inspirada e adaptada de leis de outros países “Conforme destacado no trecho acima, vários países passaram a adotar regras rígidas de política fiscal, que deveriam ser mantidas mesmo na ocorrência de crises econômicas e de mudanças na orientação política. Dentre seus principais regramentos, a LRF trazia: a) a limitação dos gastos com pessoal, imposta às três esferas de governo e a cada um de seus Poderes; b) a criação de restrições à geração de despesas excedentes no último ano do mandato; c) o disciplinamento de toda nova despesa corrente de duração superior a dois anos; d) a imposição de que os entes governamentais assumam compromissos com metas fiscais e, a cada quatro meses, apresentem ao Poder Legislativo e à sociedade a evolução de suas finanças; e) a limitação da contratação de dívidas; f) a proibição de refinanciamentos das dívidas de estados e de municípios; e g) a punição de entes públicos (e, indiretamente, de seus beneficiários) pelo descumprimento dos limites estabelecidos pela lei.” “O Governo Federal realizou ao longo de todo o ano de 2015, o maior contingenciamento de despesas discricionárias desde o advento da LRF.Mesmo antes do orçamento ser aprovado, foram editadas medidas de contenção dos gastos, como o decreto de limite orçamentário. Esse decreto passou o limite de execução mensal durante a antevigência de 1/12 para 1/18, impondo, portanto, um corte potencial de 30% das despesas discricionárias correntes. Quando o orçamento foi aprovado, nos quatro relatórios bimestrais que se seguiram, três apontaram a necessidade de que fossem feitos novos contingenciamentos, diante da queda cada vez mais acentuada da receita, frente à desaceleração econômica.” “Essa é tipicamente uma situação descrita na literatura como ajuste fiscal autodestrutivo, no qual a própria tentativa de obtenção de um resultado fiscal impõe uma contração fiscal tão forte que afeta a capacidade de crescimento econômico reduzindo ainda mais a arrecadação. A previsão de crescimento da economia brasileira para o 2015 foi revisada para baixo, nos meses seguintes à publicação da Lei de Diretrizes Orçamentárias daquele ano. A rápida reversão dos parâmetros macroeconômicos propiciou a queda na previsão de receita, tornando impossível a obtenção da meta aprovada na LDO.” “O cenário de desaceleração econômica se manteve para o ano de 2016. Em agosto de 2015, o governo chegou a enviar o Projeto de Lei Orçamentária Anual (PLOA) de 2016 com a previsão de um déficit orçamentário, pela primeira vez desde a vigência da LRF. Entretanto, essa proposta foi recebida como uma heresia, tanto pela mídia quanto pelo Congresso, e durante a tramitação do PLOA 2016, o Poder Executivo encaminhou várias medidas, cujo objetivo era garantir um cenário de aumento do resultado fiscal.” 3. Teto de Gastos 2015 e 2016: sentidas as consequências de um ajuste fiscal autodestrutivo (austeridade piora o quadro ao invés de melhorá-lo) “Com a aprovação da EC 95/2016, somava-se uma nova regra fiscal, sem modificar as já existentes. Nesse sentido, fortaleceu a superposição das regras fiscais e com um efeito mais restritivo possível, pois a regra que prevalece é a que limita mais as despesas. Como pode ser visto na Tabela 6, em todos os anos de vigência, a LOA foi aprovada já no limite imposto pela EC 95/2016. No entanto, ao longo do ano, eventuais frustrações de receitas levam a novas restrições e contingenciamentos e, ao final do exercício financeiro, a execução é muitas vezes inferior ao limite dado pelo teto de gastos. Cabe notar que, mesmo em 2020, ano em que houve grande parte da execução de despesas por meio de créditos extraordinários que estão fora do limite do Teto, as despesas sujeitas ao teto foram executadas abaixo do limite, pois houve uma redução do valor autorizado incialmente na LOA.” “Em seu quinto ano de vigência, é possível analisar os efeitos concretos da medida que corroboram as análises preliminares apresentadas durante a tramitação da proposta ou nos anos iniciais da vigência. Em primeiro lugar, é possível constatar o baixo ritmo de crescimento da economia brasileira, mesmo após dois anos consecutivos de queda, 2015 e 2016, que antecederam a vigência da EC 95/2016. Como pode ser visto no gráfico abaixo, mesmo antes da economia brasileira ser atingida pelos impactos da pandemia da COVID-19, há sinais claros de desaceleração. Após uma breve recuperação econômica em 2017, sem atingir patamares razoáveis de crescimento, a economia brasileira começa a desacelerar a partir do quarto trimestre de 2018, mantendo um baixo ritmo de crescimento até 2020. O crescimento observado nos anos de 2017 a 2019 é próximo ao crescimento populacional, implicando a estagnação do PIB per capita em patamar muito reduzido. Dweck et al. (2020) discutem teoricamente os efeitos recessivos da regra do teto de gastos ao impor um crescimento real zero aos gastos primários federais, impedindo também que o governo federal adote medidas efetivas de estímulo à economia.” “Para além dos efeitos já observados, conforme indicado acima, o limite imposto para o teto de gastos significa uma contração do Estado brasileiro, pois significa uma redução das despesas primárias federais em termos per capita e em proporção do PIB. Diversos economistas9 questionaram a viabilidade do teto. No entanto, ao invés da revisão de uma regra sem precedentes internacionais, o governo reforça a ideia da necessidade de reformas adicionais, quase todas voltadas para reduzir despesas obrigatórias. A Constituição procurou assegurar fontes estáveis de recursos para as políticas sociais, em especial para a educação e para a Seguridade Social, além disso, garantiu a estabilidade dos servidores públicos e regras de garantia de valor real para o salário mínimo, as aposentadorias e salários dos servidores. Essas medidas visavam reverter o “histórico do país em dar-lhes [às políticas sociais] um tratamento secundário e do capital e das classes mais ricas de se apoderarem de maiores fatias do orçamento” “Os impactos negativos da emenda se estendem para área social, com uma ampliação recente das desigualdades e da pobreza. Mesmo antes da pandemia, de acordo com Hoffman (2020), o índice de gini da renda domiciliar per capita, medido a partir dos dados da PNAD-C, sai de 0,524 em 2015 para 0,543 em 2019, revertendo uma longa série de queda desde o início dos anos 2000. Já o indicador de pessoas abaixo da linha de pobreza, medidos a partir de dados da PNAD-C. passa de 14,1 milhões de pessoas em 2014 para mais de 20 milhões em 2019.” A anatomia da crise da Previdência: John Eatwell “O problema da previdência é como garantir que os aposentados tenham um número suficiente de direitos monetários para comprar os bens e serviços de que necessitam, e como assegurar a concordância (tácita ou implícita) da força de trabalho em abrir mão de bens e serviços que produziu” “É o envelhecimento da população em muitos países nas próximas décadas que está por trás da presente crise da previdência. Como será demonstrado abaixo, essa crise é um fenômeno geral, independente de como as pensões são financiadas. Entretanto, ela tem sido usualmente descrita como a crise do sistema público de pensões, como é o caso da Tabela 1” “PN = (S+T)YW onde P é a aposentadoria média per capita ao ano e N é o número de aposentados. Assim, PN é o total das aposentadorias pagas a cada ano. Essas aposentadorias são um fluxo de poder de compra que será usado para adquirir os bens e serviços que foram produzidos pela população ocupada. No lado direito da equação, W é a população ocupada, Y é o valor do produto per capita, ou produtividade, da população ocupada. Assim WY é o valor total do fluxo de bens e serviços. S é a propensão média a poupar e T é a alíquota média de impostos” “As equações (3) e (4) expressam a mesma relação fundamental em termos de taxas de crescimento: n-w = r + y p (3) r = sa + t(1-a) (4) onde as letras minúsculas indicam taxas de crescimento. Assim, n é a taxa de crescimento da população aposentada, w é a taxa de crescimento da força de trabalho, y é a taxa de crescimento da produtividade, p é a taxa de crescimento do valor real da aposentadoria média, e r é uma média ponderada das taxas de crescimento dos impostos, t, e da poupança, s, definida na equação (4), a = S/(S+T)” “A solução para a crise, dessa forma, reside na determinação de que valores de w, r, y, ou p devem ser alterados. Dado o crescimento do valor de n, uma combinação apropriada das outras variáveis deve, necessariamente, ser mudada, seja por mudança de política econômica ou calote. Quando se discute a crise da previdência, muito atenção tem sido dada à relação entre a forma como as aposentadorias são financiadas e a equação (3). Deve-se notar, entretanto, que essas mesmas questões surgirão qualquer que seja a forma de financiamento das aposentadorias. O debate sobre a forma de financiamento deve ser conduzido à luz do impacto dos diferentes arranjos financeiros sobre w, r, y ou p.” “Um esquema do tipo Regime de Repartição é um esquema público no qual impostos são cobrados com o objetivo de prover a transferência de poder de compra para os aposentados. O direito de receberaposentadoria é essencialmente um direito político, cujos termos são garantidos pelo Estado o que não significa dizer que o Estado não pode subseqüentemente alterar os termos sob os quais essas aposentadorias são providas. A transferência de bens e serviços da força de trabalho para os aposentados é bem transparente. Um arranjo do tipo Regime de Ccapitalização para aposentadorias pode ser gerido pelo setor público, embora esses sejam tipicamente esquemas do setor privado. Sob um Regime de Capitalização o indivíduo poupa durante sua vida adquirindo, assim, um estoque de ativos financeiros que podem ser usados no futuro para comprar bens e serviços, seja realizando os ativos, seja comprando uma apólice de uma empresa de previdência privada. O direito de receber uma aposentadoria é um direito financeiro, possuído pelo indivíduo embora o valor desse direito dependa de uma variedade de circunstâncias econômicas, como as condições do mercado de ativos financeiros, taxas de juros e taxas de inflação.” “Um ponto importante, preliminar, a ser levantado, e que é fundamental para todo o debate sobre aposentadorias, é que em termos macroeconômicos não há diferença entre esses dois regimes no que se refere ao total de transferências, isto é, quanto ao impacto em r. Para dados valores de n, w, y e p, o valor de r tem que ser o mesmo qualquer que seja o esquema de financiamento. No caso do RR, os impostos correntes são usados para pagar as aposentadorias correntes. No caso do RC, são as poupanças correntes que são usadas para pagar as aposentadorias correntes. A poupança de hoje está financiando as aposentadorias de hoje. Dessa forma, a carga sobre a força de trabalho, definida como os bens e serviços que são extraídos da renda da força de trabalho, é exatamente a mesma, seja o sistema previdenciário do país RC ou RR” tabela de vantagens e desvantagens do RR e do RC “O desempenho macroeconômico é um determinante fundamental do valor real das aposentadorias. Se de fato os regimes de capitalização resultam em maiores taxas de poupança e crescimento quando comparados aos regimes de repartição, então o impacto geral deve ser certamente benéfico, ao menos para o aposentado médio. O que interessa para o nível geral das aposentadorias no futuro é o fato de a economia exibir ou não um crescimento acelerado, e não se algum segmento particular da sociedade é beneficiado.” “Então, em que pese ser possível argumentar que a existência de regimes de capitalização promove o desenvolvimento dos mercados financeiros, não há uma relação clara entre o crescimento desses mercados e a poupança agregada, o crescimento ou a eficiência econômica.” “Convém notar que, enquanto o nível de recursos destinados às aposentadorias permanecer constante, esse argumento aplica-se também aos regimes de capitalização. Ainda que em muitas instâncias os regimes de capitalização sejam significativamente menos eficientes que os regimes de repartição, eles têm a virtude política de reduzir o valor real das aposentadorias, adequando-os aos recursos disponíveis de forma automática, isto é, sem que haja a necessidade de uma decisão política explícita. Diante das crises dos sistemas de aposentadorias, os regimes de capitalização se apresentam como um instrumento para a redução na taxa de crescimento das aposentadorias per capita médias.” “Qualquer que seja o sistema de provisão de aposentadorias utilizado, sempre permanecerá a necessidade de se transferir um determinado montante de recursos reais da população economicamente ativa para os aposentados. Se o sistema previdenciário é regido pelo regime de capitalização ou se esse está para ser implementado, medidas devem ser tomadas para reduzir os altos custos administrativos, a iniqüidade e os elevados riscos. Há também a necessidade de se implementar uma rede de seguridade social para os idosos carentes. A conversão para o regime de capitalização não pode ser usada como um instrumento para cortes velados das aposentadorias dos menos desfavorecidos. Se o sistema previdenciário é regido pelo regime de repartição, medidas devem ser adotadas para conscientizar a sociedade acerca da relação entre a cobrança de impostos e o pagamento de benefícios previdenciários, além de se providenciar um maior número de alternativas dentro do próprio sistema. Qualquer que seja o sistema, ou combinação de sistemas, adotado, suas características devem ser avaliadas à partir dos parâmetros definidos na equação (3)” A PREVIDÊNCIA SOCIAL ‘PAGA O PREÇO’ DO AJUSTE FISCAL E DA EXPANSÃO DO PODER FINANCEIRO: Denise Lobato Gentil introdução 2 correntes: ideias liberais-conservadoras, reforma da previdência ou ideais desenvolvimentistas resultado fiscal do sistema previdenciário: fatores exógenos, política macroeconômica recessiva causadora da queda das receitas do orçamento da seguridade social “O governo Temer se colocou nas mãos de partidos políticos que demonstram não ter nenhum compromisso com os cidadãos e que querem apenas tirar proveito da máquina pública, à revelia da deterioração das condições de vida de amplas parcelas da população e em detrimento dos direitos sociais assegurados na Constituição Federal.” cap II “O resultado fiscal da Previdência Social nos últimos sete anos tem sido influenciado pela política macroeconômica recessiva adotada nos governos Dilma e Temer. O desenho dessa política – que tem basicamente diferenças de intensidade, mas não na essência dos instrumentos utilizados pelos dois governos – tem implicado no corte radical nos investimentos para cumprir com as metas de superávit primário, em renúncias de receitas de contribuições sociais e de impostos, em juros nominais e reais elevados, câmbio valorizado e redução do crédito público. Como resultado da redução de gastos discricionários da União, houve forte queda do investimento agregado da economia, puxado principalmente pelo encolhimento do investimento público.” “Esse quadro de profunda crise provocado pela adoção de políticas macroeconômicas restritivas gerou grave recuo nas receitas de Contribuições Previdenciárias e nas Contribuições Sociais (CSLL, Cofins e PIS/PASEP) que dependem do nível de emprego formal, do patamar salarial e da produção e faturamento da indústria, setor da economia que gera a maior arrecadação para o sistema. No entanto, o governo federal em suas frequentes manifestações a favor da reforma da Previdência Social, nunca se implicou na dilapidação da arrecadação de contribuições destinadas à área social.” “Se o arranjo de políticas contracionistas dos governos Dilma e Temer produziram grave recessão e, portanto, queda brusca nas receitas e aumento de gastos com benefícios sociais (como seguro desemprego, antecipação de aposentadorias, saúde pública, segurança pública), operando no sentido contrário ao equilíbrio fiscal, pergunta-se: por que esse regime macroeconômico é tão obstinadamente defendido? A resposta está longe de ser óbvia. A massificação das opiniões de analistas do setor financeiro na grande mídia, pregando ajuste fiscal e juros elevados, contribuiu para transformá-las num consenso. São as únicas (se não as principais) saídas possíveis para a crise, mesmo ao preço de elevado sacrifício social.” recessão é sim desejada por ser funcional ao capitalismo governo adota medidas que desacelera bruscamente a atividade econômica cap III principais fatos da cena política que caracterizam o processo de dilapidação de recursos da seguridade social 1. vultosas desonerações de contribuições sociais, apropriação dos recursos públicos destinados a políticas sociais “As desonerações provocaram apenas aumento das margens de lucro das empresas e queda importante nas receitas da Previdência Social, privando a sociedade de recursos que poderiam ter sido empregados de forma mais eficiente para gerar bem-estar.” “É inescapável concluir que o governo adota uma narrativa contraditória, já que desonera e perdoa tributos numa área em que diz haver um alarmante déficit. De duas, uma: ou não existe tal déficit na Previdênciae, assim, o governo decidiu que poderia abrir mão de receitas ou o próprio governo, ao renunciar a tão grande montante de receitas está deliberadamente provocando o déficit que diz desejar combater.” 2. o projeto de securitização da dívida ativa da União 3. elevação do percentual de desvinculação de recursos da seguridade social de 20% para 30% “Assim, o governo parece contrariar a lógica mais elementar. Se a Previdência Social é deficitária e se há queda profunda na arrecadação de contribuições sociais, por que elevar o percentual de desvinculação de recursos atrelados à Seguridade Social? Seria minimamente plausível retirar tantos recursos de um sistema tido como deficitário para depois ter que devolver? Ou estaria o governo propositalmente reservando este percentual mais elevado para efetivamente retirar recursos da Seguridade quando suas receitas voltassem a crescer?” 4. a dívida ativa previdenciária: mais um mecanismo de entrega de recursos da Previdência para o setor privado (privatização disfarçada) “O Brasil parece, de fato, ser o paraíso dos sonegadores da Previdência. É perfeitamente compreensível que o cidadão comum se pergunte por que deveria aceitar uma reforma da previdência que procura achatar sua renda e exigir dez anos a mais de contribuição, quando o próprio governo não se mostra nem desejoso e nem capaz de gerir com competência a cobrança de tributos das empresas devedoras.” 5. gasto com propaganda de reforma da Previdência 6. o custo da aprovação da reforma da previdência se soma ao custo da sobrevivência política do presidente “Para culminar, em julho de 2017, foi apresentada pela Procuradoria-Geral da República (PGR) a acusação de corrupção passiva contra o Presidente Michel Temer. Para ter prosseguimento perante a Justiça, a acusação precisaria ser admitida pelos deputados em duas etapas: na Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania (CCJ) e no plenário da Câmara. Para conseguir votos de deputados da base aliada a seu favor, na semana em que foi feita a votação no plenário da Câmara (cuja maioria dos membros estão também envolvidos em investigações criminais), o Presidente concedeu benefícios fiscais na forma de parcelamento e perdão de dívidas de Estados, Municípios e empresas (inclusive as pertencentes a deputados e senadores), assim como liberação de verbas a deputados sem que estivessem minimamente pautadas pelo critério de atendimento às necessidades de uma população castigada pela depressão econômica. Grande parte desse pacote de favores políticos foi feito às custas da redução de receitas da Previdência Social. A seguir é elencada a parte conhecida das medidas de sustentação política ao Presidente.” conclusão “Uma das conclusões centrais deste artigo é de que o resultado fiscal da Previdência tem sido determinado fundamentalmente pela diminuição brutal de receitas provocada pela depressão econômica, muito mais que pela elevação dos gastos, cujas taxas de crescimento real anual estavam em queda antes do anúncio da reforma.” GOBETTI, S e ORAIR, R (2016) introdução “O Brasil é um dos países em desenvolvimento que tem uma das mais altas cargas tributárias do mundo, por volta de 33% do produto interno bruto (PIB), próxima da média dos países da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). Diferentemente do que ocorre nas economias desenvolvidas, entretanto, a carga brasileira é concentrada em tributos indiretos e regressivos, não em tributos diretos e progressivos.1 O país também é um dos poucos no mundo em que os dividendos distribuídos a acionistas de empresas estão totalmente isentos de Imposto de Renda de Pessoa Física (IRPF). Essa isenção para as pessoas físicas foi introduzida em 1995, junto com outro benefício que reduziu significativamente o Imposto de Renda de Pessoas Jurídicas (IRPJ): a possibilidade de deduzir do lucro tributável uma despesa fictícia denominada juros sobre capital próprio (JSCP).” baixa tributação sob o lucro baixa progressividade do IRPF modelo brasileiro de imposto se assemelha com o modelo reaganiano nenhuma reforma foi feita no IRPF brasileiro visando ampliar sua progressividade cap 2 evolução da tributação de renda no brasil cap 3 tributação do lucro no mundo desenvolvido maioria dos países praticam a dupla tributação (sobre o lucro e dps sobre os dividendos) cap 4 Quão progressivo é o IRPF no Brasil? isenção de dividendos: renúncia substancial de receitas para o governo e favorece concentração de renda condições tributárias mais favoráveis aos rendimentos do capital alíquotas efetivas decrescem no topo da distribuição cap 5 simulação de mudanças na legislação do IRPF ECONOMIA PARA POUCOS CAP 1 “A austeridade é uma ideia força, poderosa quando transformada em discurso, perigosa quando aplicada politicamente. O comprometimento dos governos com ajustes e consolidações fiscais, que reduz o papel do Estado e distribui sacrifícios à população, se apoia em um discurso, em argumentos teóricos e em uma literatura empírica. O objetivo deste capítulo é analisar - discurso, argumentos e literatura - e mostrar que a austeridade se sustenta em discursos falaciosos, argumentos morais e em evidências empíricas frágeis.” ideia ganha destaque após a crise de 2008 origem da palavra vem da filosofia moral “Como veremos mais adiante, o discurso moderno da austeridade ainda carrega essa carga moral e transpõe, sem adequadas mediações, essas supostas virtudes do indivíduo para o plano público, personificando, atribuindo características humanas ao governo.” “O debate econômico em torno dos efeitos da contração fiscal deu corpo ao conceito de austeridade que pode ser definido por seu instrumento (ajuste fiscal - preferencialmente corte de gastos) e seus objetivos (gerar crescimento econômico/equilibrar as contas públicas). Nesse sentido, a austeridade é “a política que busca, por meio de um ajuste fiscal, preferencialmente por cortes de gastos, ajustar a economia e promover o crescimento.” “A defesa da austeridade fiscal sustenta que, diante de uma desaceleração econômica e de um aumento da dívida pública, o governo deve realizar um ajuste fiscal, preferencialmente com corte de gastos públicos em detrimento de aumento de impostos. Esse ajuste teria efeitos positivos sobre o crescimento econômico ao melhorar a confiança dos agentes na economia. Ou seja, ao mostrar “responsabilidade” em relação às contas públicas, o governo ganha credibilidade junto aos agentes econômicos e, diante da melhora nas expectativas, a economia passa por uma recuperação decorrente do aumento do investimento dos empresários, do consumo das famílias e da atração de capitais externos. A austeridade teria, portanto, a capacidade de reequilibrar a economia, reduzir a dívida pública e retomar o crescimento econômico.” “Ou seja, em um contexto de crise econômica, a austeridade é contraproducente e tende a provocar queda no crescimento e aumento da dívida pública, resultado contrário ao que se propõe.” a fada da confiança e a metáfora do orçamento doméstico “Para Paul Krugman (2015), a crença de que a austeridade gera confiança é baseada em uma fantasia onde se acredita que, por um lado, os governos são reféns de “vigilantes invisíveis da dívida” que punem pelo mau comportamento e, por outro lado, existe uma “fada da confiança” que recompensará o bom comportamento. O autor ainda mostra evidências de que a os países europeus que mais aplicaram a austeridade foram os que menos cresceram (Krugman, 2015). Na mesma linha, Skidelsky e Fraccaroli (2017) mostram que a confiança não é causa, mas acompanha o desempenho econômico e que austeridade não aumenta, mas diminui a confiança ao gerar recessão.” “De acordo com Girardi, Meloni e Stirati (2018) seus resultados atestam que a difícil recuperação econômica pós-crise 2008/2009 se deve justamente à estagnação dos principais componentes da demanda agregada e de que a resposta mais apropriada para o crescimento seriam os estímulos fiscais, e não a austeridade.” “No entanto, como defende Milios (2015),a austeridade não é irracional, tampouco estritamente errada, essa nada mais é do que a imposição dos interesses de classe dos capitalistas. Trata-se de uma política de classe ou uma resposta dos governos às demandas do mercado e das elites econômicas à custa de direitos sociais da população e dos acordos democráticos. Os capitalistas, por sua vez, se beneficiam das políticas de austeridade em três frentes” CAP 2 aumento do ajuste fiscal e seu impacto na estagnação da desigualdade social “Portanto, a política fiscal tem um papel central na explicação da desigualdade, pois a capacidade e a forma de arrecadar e de gastar impacta a distribuição da renda dos países, tanto em termos diretos, na determinação da renda disponível, quando em termos indiretos, na oferta de bens e serviços gratuitos à população, especialmente saúde e educação, que funcionam como a redistribuição material de renda por meio de acesso à serviços.” “Segundo CEPAL (2015), o Brasil é o país que mais reduz a desigualdade social por meio de transferências (pensões e outras) e gastos sociais (saúde e educação) na América Latina.” “Em linhas gerais, podemos resumir o impacto distributivo da polícia fiscal no Brasil como uma política um lado que concentra (tributário) e outro que distribui (o gasto); ou seja, que o sistema tributário não contribui para redução da desigualdade, pois todo o ganho de distribuição com a arrecadação direta, é perdido pela arrecadação indireta e que todo o efeito distributivo ocorre pelos gastos públicos: transferências e pelos serviços públicos. Portanto, podemos afirmar que a política fiscal tem um papel central na redistribuição de renda, tanto a partir da arrecadação quanto dos gastos públicos, em especial as transferências de renda e a oferta de serviços públicos gratuitos.” “Ao se restringir a análise ao efeito de deslocamento que a previdência social realiza, desconsidera-se que os benefícios de 1 salário mínimo “levam” uma pessoa das posições iniciais na distribuição (renda de mercado igual a zero) para o sexto décimo de renda. Verdade que o benefício no teto do RGPS implica deslocá-lo para o percentil 80 da população adulta com rendimento e para benefícios relacionados às carreiras “nobres” do funcionalismo à posições iguais ou superiores ao percentil 95. Sem uma análise mais cuidadosa, se corre o risco de “jogar fora o bebê com a água suja”, ou seja, colocar em risco nosso grau de cobertura associado com mudanças em benefícios regressivos. É o que se vê em medidas presentes na proposta da Reforma Previdenciária, como a extensão do período de carência para as aposentadorias por idade, a desvinculação do salário mínimo ao BPC, a majoração da idade para a concessão do BPC, a possibilidade de acúmulo de benefícios de diferentes regimes e a proibição para todos os valores do acúmulo de aposentadoria e pensão por morte.” “Neste caso, os autores parecem esquecer que grande parte do efeito distributivo nos países da OCDE advém da tributação direta, muito superior à brasileira, além de um regime previdenciário total mais progressivo. Em dado divulgado pela receita, é possível observar que o Brasil tem a menor carga tributária incidente sobre a Renda, Lucro e Ganho de Capital.” “Em segundo lugar, haveria uma reprovação à direção da despesa governamental para investimento público e subsídio ao consumo. Para os capitalistas, os gastos devem ser apenas para investimentos públicos que não concorram com os negócios privados. A crítica maior recaia sobre o outro tipo de gasto – o subsídio ao consumo popular – por uma questão “moral” – cada um deve ganhar o pão com o próprio suor” “Assim, embora a explicação principal da piora do resultado fiscal naquele momento fosse o próprio efeito das políticas de austeridade adotadas anteriormente (ver Dweck e Rossi 2018 e Dweck e Tonon, 2018), a explicação para construir a narrativa usada para depor a presidente Dilma e para orientar a mudança abrupta na política econômica após o impeachment foi outra. A desaprovação das mudanças políticas decorrentes do pleno emprego, que aumentaram o poder de barganha dos trabalhadores, levou ao discurso do “desperdício de gastos”, com o claro objetivo de recompor a função social da doutrina das “finanças públicas sólidas”, segundo a que o nível de emprego deve depender exclusivamente do “estado de confiança” dos empresários (ver Dweck e Teixeira 2018).” “Essa drástica redução da participação do Estado na economia é representativa de outro projeto de país, outro pacto social, que reduz substancialmente os recursos públicos para garantia dos direitos sociais, como saúde, educação, previdência e assistência social. Nesse novo pacto social, transfere-se responsabilidade para o mercado no fornecimento de bens sociais, como discutiremos a seguir. Trata-se de um processo que transforma direitos sociais em mercadorias. “ “O grande objetivo da EC 95 é reduzir as despesas públicas federais para contrair cada vez mais o tamanho do Estado Brasileiro. O objetivo principal é ampliar o superávit primário sem ter que alterar a arrecadação federal, abrindo espaço inclusive para redução da arrecadação em um futuro próximo, ou seja, um ajuste fiscal permanente” “Diante do potencial redistributivo de quase todos esses gastos elencados acima, conforme destacado na seção 1.2, essas medidas, que já estão sendo parcialmente implantadas, terão impactos extremamente regressivos. Será preciso fazer um corte muito acentuado nas políticas de todas as áreas, inclusive saúde e educação, e nos próximos anos não haverá limite para despesa nas demais áreas de atuação do governo federal.” ASPECTOS POLÍTICOS DO PLENO EMPREGO, Michal Kalecki “1. Uma maioria consolidada dos economistas já é da opinião de que, mesmo em um sistema capitalista, o pleno emprego pode ser assegurado por um programa de gastos do governo, desde que haja planta adequada para empregar toda a força de trabalho existente, e desde que a oferta de matérias-primas estrangeiras necessárias possa ser obtida em troca de exportações” “Em primeiro lugar deve se afirmar que embora a maioria dos economistas agora concordem que o pleno emprego pode ser alcançado pelos gastos do governo, este de modo algum foi o caso, mesmo no passado recente. Entre os opositores dessa doutrina existiam (e ainda existem) proeminentes e autointitulados “especialistas econômicos” estreitamente ligados aos bancos e à indústria. Isso sugere que há um fundo político na oposição à doutrina do pleno emprego, mesmo que os argumentos apresentados sejam econômicos. Isso não quer dizer que as pessoas que desenvolvem esses argumentos não acreditem em suas teorias, por mais pobres que sejam. Mas a ignorância obstinada geralmente é uma manifestação de motivações políticas subjacentes.” “As razões para a oposição dos “líderes industriais” ao pleno emprego alcançado via gastos do governo podem ser subdivididos em três categorias: (i) não gostam da interferência do governo no problema do emprego como tal; (ii) não gostam da direção dos gastos do governo (o investimento público e o consumo subsidiado); (iii) não gostam das mudanças sociais e políticas resultantes da manutenção do pleno emprego. Vamos examinar em detalhe cada uma dessas três categorias de restrições a uma política governamental expansionista.” “A função social da doutrina das “finanças saudáveis” é fazer com que o nível de emprego dependa do estado de confiança.” “Nós consideramos as razões políticas para a oposição à política de criação de emprego via gastos governamentais. Mas, mesmo que esta oposição fosse superada – como pode muito bem ocorrer sob a pressão das massas – a manutenção do pleno emprego causaria mudanças sociais e políticas que dariam um novo impulso para a oposição dos líderes empresariais. Com efeito, sob um regime de pleno emprego permanente, a demissão deixaria de desempenhar o seu papel enquanto “medida disciplinar”. A posição social do patrão seria prejudicada, e a autoconfiança e consciência de classe da classe trabalhadora cresceria.As greves por aumentos salariais e melhorias nas condições de trabalho criariam tensão política. É verdade que os lucros seriam mais elevados sob um regime de pleno emprego do que são, em média, nos termos do livre mercado, e até mesmo o aumento dos salários decorrente do maior poder de barganha dos trabalhadores é menos propenso a reduzir os lucros do que para aumentar preços, e, portanto, afeta negativamente apenas os interesses rentistas. Mas a “disciplina nas fábricas” e a “estabilidade política” são mais apreciadas do que os lucros pelos líderes empresariais. Seu instinto de classe lhes diz que um pleno emprego duradouro é inaceitável a partir do seu ponto de vista, e que o desemprego é uma parte integrante do sistema capitalista “normal”.” “Tal economia tem muitas características de uma economia planificada, e às vezes é comparada, ainda que ignorantemente, com o socialismo. No entanto, este tipo de planejamento tende a aparecer sempre que uma economia se estabelece uma alta meta de produção numa esfera particular, quando se torna uma economia especializada da qual a economia armamentista é um caso especial. Uma economia armamentista envolve uma redução do consumo em comparação com o que poderia ocorrer sob o pleno emprego.” “Deveria um progressista ficar satisfeito com o ciclo de negócios político da forma como descrito na seção anterior? Acho que a isto deveríamos nos opor em dois níveis: (i) que isto não assegura um pleno emprego duradouro; (ii) que esta intervenção governamental está associada ao investimento público que não abarca o subsídio ao consumo. O que as massas demandam agora não é a mitigação da recessão, mas sua abolição total. Nem deveria a consequente utilização mais completa dos recursos ser feita em investimentos públicos não desejados apenas para gerar emprego. O programa de gastos governamentais deveria estar dedicado apenas ao investimento público de fato necessário. O resto do gasto público necessário para manter o pleno emprego deveria ser usado para subsidiar o consumo (através de transferências às famílias, pensões e aposentadorias, redução dos impostos indiretos e subsídios aos bens de primeira necessidade). Os opositores deste tipo de gasto governamental alegam que o governo não terá, então, nenhuma contrapartida ao seu dinheiro. A resposta é que a contrapartida deste dispêndio é o maior padrão de vida das massas. Este não é o propósito de toda a atividade econômica?”
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