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Economia do Setor Público

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CADERNO DE AULAS ECON. SETOR PÚBLICO
SUMMA, R (2011) (provas baseadas nos textos!)
fundação da macroeconomia: teoria geral de keynes, grande depressão 1930.
PIB ou Produto: soma de todos os bens e serviços finais em um período
Valor da Produção: soma de todos os bens produzidos incluindo intermediários
Produto = Produção - Consumo Intermediário
PIB real: descontada a inflação
Consumo (C)
Investimento (I)
Moeda
unidade de conta
meio de troca
reserva de valor
Preço de oferta é aquele preço que induz a produção, ou seja, que cobre os custos de
produção e ainda proporciona um lucro normal.
demanda agregada: total de gasto com bens finais produzidos (bens de consumo e bens de
investimento)
renda agregada: renda paga aos agentes da economia durante o processo de produção e
após as vendas
Renda Agregada = Salários pagos pelos trabalhadores + Lucros recebidos pelos capitalistas
Princípio da Demanda Efetiva (PDE)
Gasto gera Renda. Todo mundo é obrigado a vender se quiser auferir uma renda, porém
ninguém é obrigado a gastar. Gasto agregado = Renda agregada
O nível de Gastos Agregados, medido aos preços de oferta, irá determinar o Produto.
Nível de Produto se adapta ao nível de Demanda Agregada.
Demanda Agregada determina o nível de Produto.
Lei fundamental: total de salários tem que ser menor do que o total da renda.
Governo deve evitar situações de desemprego (produto abaixo do pleno emprego) e
inflação de demanda (produto acima do pleno emprego).
Governo cobre suas despesas de três maneiras: coletando tributos (tributação bruta),
emitindo moeda (variação da base monetária) e emitindo nova dívida com o setor privado
(variação da dívida líquida).
Déficit ou superávit. Déficit: criação de moeda.
Emissão de títulos públicos (endividamento do governo) decorre da prática do governo de
controlar a taxa básica de juros da economia e fazer política monetária, e não da
necessidade de arrecadar fundos para poder gastar (política fiscal).
AULA 1 - O princípio da demanda efetiva e a intervenção do governo
Keynes e Kalecki: formuladores, anos 1930, intensa crise do desemprego e da renda
agregada. até então só existia desemprego voluntário e sua persistência rendeu novas
explicações.
Princípio que diz que, em uma economia monetária, o nível de gastos agregados, medidos
aos preços de oferta, irá determinar o nível de produto. Preço de oferta é aquele que induz
a produção (cobre os custos e gera lucro).
*A produção capitalista não serve para satisfazer as necessidades das pessoas, é tudo pelo
lucro.
O fato de existir uma quantidade de bens e serviços à venda, não implica que estes serão
comprados. A Decisão de gasto é autônoma, o conjunto dos agentes escolhe o quanto
gastar. As pessoas decidem quanto podem gastar, mas nunca quanto irão ganhar.
Gasto diretamente gera Renda.
Gasto gera Produto
Gasto gera Emprego
Produto = Renda = Despesa
Mecanismos de ajuste
Produto > Demanda ou Produto < Demanda
Tendência: Produto = Demanda
Produto = Produção - Consumo Intermediário
Y = C + I + G + (X - M) (cálculo do PIB)
Y = produto
C = consumo
I = investimento
G = gastos do governo
X = exportações
M = importações
*No princípio da demanda efetiva, gastos do governo aumentam o produto. Aqui,
austeridade e teto de gastos não fazem sentido. Déficit público não é um problema.
Gastos Autônomos
consumo capitalista e financiado por crédito
investimentos de curto prazo
gastos públicos
exportações
Gastos Induzidos
boa parte do consumo dos trabalhadores
investimentos a longo prazo
importações (de forma parcial)
Economistas heterodoxos: princípio teórico revolucionário de longo prazo
Economistas ortodoxos: princípio restrito ao curto prazo. no longo prazo a demanda efetiva
tenderia a se ajustar ao produto potencial
Multiplicador dos Gastos
quando o gasto autônomo aumenta, o aumento da renda induz o crescimento de outros
gastos, gerando variação na renda
propensão marginal a consumir: parcela da renda destinada ao consumo.
Limites do Princípio da Demanda Efetiva
restrição externa
restrição interna (política)
o longo prazo e a elevação da produtividade
PIMENTEL, K E MARTINS, M: Financiamento do gasto público
“A execução de uma política fiscal que vise a preservar ou ampliar o emprego e a produção
esbarra em obstáculos, segundo alguns economistas. Existiria uma impossibilidade de que
o governo consiga os recursos necessários para financiar um aumento dos gastos ou dos
déficits públicos. E, mesmo que conseguisse acessar os recursos necessários,
dissemina-se frequentemente o receio de que tal política levaria a uma catástrofe. Há
tempos que as frases “O governo está quebrado”, “A taxa de juros vai disparar se o governo
se endividar mais” e “A inflação vai disparar!” fazem parte do nosso dia a dia. Na esteira
desse diagnóstico construímos um conjunto de regras fiscais que constrangem o
crescimento do gasto público ao longo das últimas décadas”
financiamento do governo em países que emitem sua própria moeda
relação entre gasto público, seu financiamento e as taxas de inflação e de juros
identidade do orçamento do governo (fluxo)
𝑮 + 𝑭 + 𝒊. 𝑫𝒕−𝟏 ≡ 𝑻 + ∆𝑫 + ∆H
DESPESAS
G: gastos do governo
F: transferências e subsídios ao setor privado
𝒊. 𝑫𝒕−1: pagamento de juros sobre a dívida pública
RECURSOS
T: receita tributária
∆𝑫: variação da dívida pública
∆H: variação da base monetária
VARIÁVEIS DE ESTOQUE
dívida pública bruta do governo: estoque de títulos públicos federais emitidos pelo Tesouro
Nacional
base monetária: cédulas e moedas em circulação e recursos da conta Reservas Bancárias
Banco Central do Brasil: agente financeiro do Tesouro Nacional
Conta Única do Tesouro no BCB: de onde debita-se os pagamentos do governo
é possível que o aumento do gasto público preceda a maior arrecadação de imposto ou a
venda de títulos
CUT: Conta Única do Tesouro
pagamento do governo: debita-se a CUT e credita-se a conta Reservas Bancárias da
instituição financeira recebendo o pagamento
assim, a redução do saldo da conta única precedendo o recebimento de impostos ou da
venda de títulos aumenta a base monetária
assim, gasto governamental injeta moeda nova na economia, tendo o mesmo efeito prático
de uma emissão primária de moeda
setor privado precisa decidir o que fazer com o aumento de base monetária. agentes
não-monetários vão utilizar novos recursos para seus próprios planos de gastos
de qualquer forma, recursos em geral voltam ao sistema bancário e retornam ao balanço do
BCB
BCB: responsável por controlar a taxa de juros nesse mercado de compromissadas com
títulos públicos federais
se não há mudanças na meta da taxa de juros (selic) o BCB é obrigado a criar uma
alternativa rentável aos bancos por conta da pressão criada pela maior base monetária,
uma vez que transações puramente privadas não resolvem o problema do aumento de base
monetária
o governo cria moeda nova para a economia, mas esta retorna para ele quando e na
medida em que o setor privado desejar obter alguma remuneração pelos seus saldos
líquidos e o BCB atua para fornecê-la
o aumento das operações compromissadas e a ampliação dos títulos públicos federais
detidos pelo setor privado são a contrapartida do controle e da manutenção da taxa de juros
de curto prazo a SELIC
governo = tesouro + banco central
DÉFICIT PÚBLICO e superávit privado
1. base monetária (consumo e investimento)
2. títulos (ações, dívida pública e títulos privados)
PANDEMIA
economistas sugerindo que o BCB levasse a taxa SELIC a 0 para que a dívida pública não
fosse muito pesada por conta do combate à recessão
pode ser boa por um lado mas também pode trazer efeitos colaterais indesejáveis:
- saída recorde de capital estrangeiro ao longo da pandemia
- grande desvalorização cambial: alteração de preços relativos e piora da distribuição
de renda
- resultado de um sistema monetário e financeiro internacional assimétrico e
hierarquizado
nível crítico da taxa de juros: considera a taxa de curto prazo no brasil, a taxa de juros nos
estados unidos, um parâmetro que representao risco soberano brasileiro e um parâmetro
que expressa as desvalorizações esperadas pelo mercado da taxa de câmbio nominal
a autoridade monetária deve ser reduzir a taxa de juros na medida do possível mas de
forma a evitar fugas de capitais e depreciações abruptas, ou seja, deve levar em
consideração as taxas externas, principalmente a dos EUA, o risco soberano brasileiro e as
expectativas de depreciação do real
aumento do déficit e da dívida pública não implica que o governo terá que pagar uma taxa
de juros mais alta
taxas de curto prazo: aumento do déficit a partir da elevação da base monetária exerce uma
pressão para baixar a taxa de juros, exigindo a atuação do BCB para que a taxa SELIC
fique próxima a meta
taxas de longo prazo: condicionadas pela taxa Selic e pelas expectativas sobre sua
evolução.
INFLAÇÃO
gastos e transferências do setor público apenas serão excessivos quando gerarem uma
situação de excesso de demanda em relação ao produto potencial, gerando inflação de
demanda ou ocasionando desequilíbrios no balanço de pagamentos, com possíveis
impactos negativos sobre a taxa de câmbio e, consequentemente, sobre a inflação
isso não ocorrendo, a elevação do gasto público não será por si só inflacionária
AUSTERIDADE
nenhuma medida de austeridade será necessária no pós-pandemia. governo não é restrito
do ponto de vista de financiamento
necessidade de gerir o nível de gasto público para gerir o nível de emprego e renda
é plenamente possível controlar a evolução da relação dívida/PIB ao mesmo tempo em que
realiza políticas de expansão de gastos para a promoção do emprego e da renda
PÓS-PANDEMIA: DESAFIOS
- conjunto de regras fiscais auto impostas que constrangerão o crescimento do gasto
público
- nenhuma indicação sobre a flexibilização ou revogação dessas regras de forma
permanente
- comprometimento da capacidade de atuação do governo e favorecimento do cenário
de políticas recessivas
- conta paga pelos trabalhadores
MEDEIROS, C & SERRANO, F (2001)
explicar a importância do conceito de inserção externa
dependência do que se produz lá fora pq não pode se produzir aqui dentro
aumento do consumo e diversificação do consumo
quanto mais elaborada a tecnologia, mais provável dela ser importada
economia brasileira: não faz sentido pensar em economia liderada por importações
CEPAL: crescimento das exportações como fator estratégico para crescimento econômico
sustentado
crescimento liderado pelas exportações vs. crescimento liderado pelo mercado interno
Um crescimento liderado pelas exportações é uma exceção e em geral é associado
negativamente a “plataformas de exportação” típicas de pequenas economias dependentes
e complementares ao capital estrangeiro.
A importância do caso brasileiro reside, em primeiro lugar, não apenas pelo fato de que
durante um dos períodos em que a economia apresentou elevadas taxas de crescimento as
exportações estagnaram (50-60) como também pela constatação de que num dos períodos
de relativamente rápida expansão das exportações (década de 80) a taxa de crescimento
da economia foi muito baixa.
importância da industrialização: se os países latino americanos se mantivessem, à guisa de
supostas “vantagens comparativas” , especializados em exportar produtos agrícolas de
baixa elasticidade renda e em importar produtos industriais de alta elasticidade, a
necessidade de fechar as contas externas tornaria inevitável que os países crescessem a
longo prazo a taxa menores que os países industrializados.
industrialização: expansão das exportações libera o crescimento das importações
a substituição de importações
As diferenças entre as políticas específicas aplicadas e em particular o quanto e como cada
país se concentrou mais na promoção de exportações ou na substituição de importações
em determinado período na realidade se devem muito mais às características da estrutura
produtiva e ao contexto histórico (econômico e também geopolítico) em que estes países
estavam inseridos.
A existência de capacidade de produção doméstica de meios de produção é fundamental
para aliviar a restrição externa ao crescimento na medida em que permite o controle da
propensão marginal a importar mesmo com crescimento da taxa de investimento.
Neste sentido, a implantação do setor doméstico de meios de produção é uma condição
crucial para que seja possível o crescimento “hacia dentro” baseado na expansão do
mercado interno em contraposição ao crescimento “hacia fuera” liderado pelas exportações.
Isto ocorre pelos dois motivos apontados acima. Em primeiro lugar porque a menor
propensão marginal a importar e elasticidade renda das importações permite que a
expansão do mercado interno não esbarre rapidamente numa restrição de balança de
pagamentos. E, em segundo lugar, porque a própria extensão e dinamismo do mercado
interno é consideravelmente amplificada pelos efeitos deste setor sobre a demanda global.
A discussão sobre a relação entre exportações e crescimento requer considerar alguns
aspectos gerais sobre o financiamento externo de uma economia e em particular sobre as
possibilidades de crescimento incorrendo em déficits de conta corrente. Em primeiro lugar é
importante analisar a questão da sustentabilidade (ou solvência) de uma trajetória de
crescimento com déficit externo, ou seja, examinar as condições em que o crescimento dos
passivos externos da economia mantenha-se relativamente sob controle e não siga uma
trajetória explosiva.
SERRANO, F e SUMMA, R
estudo da desaceleração econômica brasileira durante os anos 2011 a 2014: causada por
mudanças na orientação da política econômica doméstica e queda da demanda agregada
dados mostram que a economia tinha condição de se expandir depois de 2010
“Os autores argumentam que a desaceleração resultou majoritariamente do forte declinio do
crescimento da demanda doméstica, mais do que de uma queda no ritmo das exportações
ou mais ainda do que qualquer mudança de condições de financiamento externo. Os
autores demonstram também que a rápida queda do crescimento da demanda domestica foi
um resultado deliberado de decisões políticas tomadas pelo governo. Essas decisões de
desacelerar a economia não eram necessárias, no sentido que não foram tomadas em
resposta ao aparecimeto de alguma restrição externa, como um problema de Balanço de
Pagamentos.”
“Esse rápido crescimento do superávit primário só foi possível graças a uma redução
fortíssma do crescimento do gasto público. Em 2011, o investimento público caiu
dramaticamente em termos reais, com queda de 17,9% no investimento da administração
pública e 7,8% no investimento das empresas estatais.”
“Nesta seção, mostraremos que, apesar de mudanças durante os anos 2011- 2014, com
uma significante depreciação da taxa de câmbio, o país manteve baixos níveis de dívida
externa, um bom perfil da dívida externa e amplas reservas internacionais. Notamos que o
tamanho do setor externo no Brasil é relativamente pequeno em comparação com a
economia em geral e, portanto, a desaceleração do comércio não explica a desaceleração
da economia brasileira.”
“Portanto, o crescimento menor das exportações do Brasil desde 2010 reflete uma
tendência global, com o Brasil superando a média mundial em alguns quesitos em 2012 e
2013.”
1. possíveis causas externas da desaceleração econômica: condições de
financiamento externo (não), desaceleração das exportações (não), “vazamento
demanda agregada (não)
“As rápidas taxas de crescimento da economia brasileira nos anos 2000 se deveram à
grande melhora das condições externas desde 2003, juntamente com um crescente
ativismo na política econômica a partir de 2004. Nesse processo, é importante distinguir três
diferentes fatores que operaram juntos, levando ao crescimento sustentável da demanda
doméstica de 2004 a 2010.17 O primeiro desses fatores foi a expansão do consumo das
famílias (e do investimento residencial), que aconteceu devido a uma combinação de rápido
crescimento do crédito imobiliário, forte criação de empregos no setor formal, aumento do
salário real e crescentetransferências do setor público para as famílias.”
2. fatores para a expansão da economia brasileira entre 2003 e 2010: expansão do
consumo das famílias, impacto da política expansionista na demanda e aumento do
investimento privado.
“Passemos então a analisar a evolução dos componentes domésticos da demanda
agregada e o papel da nova orientação da política macroeconômica na redução da taxa de
crescimento de cada um desses componentes no período de 2011-2014.”
“Que essa nova política é de fato hostil à retomada do crescimento é algo bastante óbvio.
Mas faz muito sentido se o seu verdadeiro objetivo é começar a reverter a intervenção
estatal na economia em geral e retroceder no processo de crescimento do Estado de
bem-estar social, enquanto ao mesmo tempo altera a distribuição de renda em detrimento
dos salários.”
DWECK, E & TEIXEIRA
papel do Estado (protagonismo do gasto público para o aumento da demanda e do
crescimento) vs papel da política fiscal (cenário de superávit e de austeridade aumenta a
confiança dos agentes econômicos)
a crise de 2008 e a necessidade de adoção de políticas anticíclicas
2 vertentes antagônicas sobre o papel da política fiscal no governo Dilma: gasto demais ou
gasto de menos?
principais indicadores fiscais
1. resultado primário e nominal
2. endividamento público
análise das continuidades e rupturas do governo Dilma em relação ao governo Lula:
seguramente, a composição dos gastos foi alterada
DWECK, E (2021)
“O processo de elaboração, aprovação e execução orçamentária ocorrem anualmente,
independentemente da situação econômica, política, social e até sanitária de qualquer país.
Conforme destacado por Schick (2006), trata-se de um processo político, marcado por
conflitos e busca de soluções. Apesar de possuir forte componente incremental também há
rupturas importantes, tanto no conteúdo do orçamento – como principais programas e
formas de tributação – quanto das regras que regem a gestão do orçamento. O processo de
arrecadação e alocação de recursos públicos possui regras que balizam as relações
políticas, econômica e sociais, incluindo a forma de interpretação e aplicação das mesmas,
conformando a governança orçamentária.”
“Dentre aos diferentes regimes de governança orçamentária, há regras específicas, mais
voltadas para gestão fiscal do orçamento que se distinguem das regras puramente
orçamentárias. Essas regras de gestão fiscal estão diretamente relacionadas ao contexto
macroeconômico de condução da política fiscal, gerando possíveis limites à atuação do
Estado, muitos dos quais artificiais. Historicamente, mudanças no arcabouço institucional da
política fiscal, tanto do ponto de vista teórico quanto aplicado, estão intrinsecamente ligadas
à discussão sobre o papel do Estado.”
“De certa forma, a Constituição também consolida um processo que vinha ocorrendo desde
meados da década de 1980 de unificação orçamentária e separação formal entre as
autoridades fiscal e monetária.”
“A questão da sustentabilidade da dívida e de credibilidade da política econômica se
sobrepuseram, com a proposição de regras fiscais rígidas, sem espaços para
discricionariedade dos governos, voltadas exclusivamente para a sustentabilidade da
dívida.”
“O objetivo desse artigo é destacar como determinadas regras afetam a gestão
orçamentária impondo constrangimentos fiscais e avaliar seus impactos econômicos sobre
crescimento do PIB, nível de emprego e indicadores fiscais. Selecionamos três regras
principais que se sobrepõe e que têm objetivos e efeitos contraditórios, de forma a analisar
as origens e as justificativas teóricas e políticas e os efeitos de cada regra. Em particular,
vamos explorar a Regra de Ouro, que tem origem na Constituição, mas foi reforçada pela
LCP 101/2000. Em segundo lugar, discutiremos as metas de resultado fiscal trazidas pela
LRF e suas consequências para a execução orçamentária. Finalmente, iremos explorar os
impactos do Teto de Gastos da EC 95/2016, e as mudanças decorrentes dessa nova regra.
Nesse sentido, não iremos discutir todas as regras da governança orçamentárias, mas as
que apresentam maiores constrangimentos fiscais, ao impor regras macroeconômicas de
condução da política fiscal com impactos na gestão orçamentária.”
1. Regra de Ouro
Constituição de 1988: proibição do Banco Central de conceder empréstimos ao Tesouro
Constrangimentos trazidos pela regra na forma como ela se apresenta
Análise das diversas interpretações da teoria de Keynes
“The social security budget should be one section of the capital or long-term Budget. It is
important that there should be a level charge on the ordinary Budget revised at longish
intervals; and if Mr Meade's proposals are adopted, it will be doubly important to keep it out
of the ordinary Budget. For the ordinary Budget should be balanced at all times. It is the
capital Budget which should fluctuate with the demand for employment.”
“Nesse sentido, cabe destacar alguns pontos de uma regra de ouro decorrente das
propostas de Keynes. Em primeiro lugar, deve-se considerar a fase do ciclo econômico.
Para Keynes, fazia sentido um orçamento corrente equilibrado no pleno emprego, quando o
potencial de arrecadação seria máximo, além disso, estabilizadores automáticos, com
seguridade social deveriam ser protegidos e poderiam ser financiados por dívidas.
Finalmente, em uma situação de crise, a política fiscal não pode ser contracionista, sob o
risco de comprometer ainda mais o próprio resultado fiscal.”
“A Regra de Ouro impõe um tratamento diferenciado entre despesas correntes e de capital.
Há diversas razões para essa separação comum na contabilidade pública e está associada,
entre outras coisas, à durabilidade dos bens de capital e a recorrência das despesas
correntes. Entretanto, a separação entre essas despesas não leva em consideração outros
impactos relevantes de despesas correntes e até mesmo a relação direta entre essas duas
despesas. Um exemplo comum é a construção de uma escola ou unidade de saúde, que é
uma despesa de capital, mas requer despesas correntes para serem efetivamente
utilizados. Além disso, os impactos econômicos, como multiplicadores fiscais das despesas
públicas e mesmo o potencial de desenvolvimento tecnológico, tradicionalmente, são
considerados maiores para despesas de capital. Porém, estudos recentes mostram que
multiplicadores fiscais de gastos correntes, como benefícios sociais são próximos aos
investimentos (ver Sanches, 2020 e Orair et al., 2016) e gastos correntes, como os da área
de ciência e tecnologia bem como aquisição de medicamentos e vacinas, podem estar
associados a importantes desenvolvimentos tecnológicos. Portanto, há um grau de
arbitrariedade na separação dessas duas despesas”
2. Lei de Responsabilidade Fiscal e as Metas Fiscais
ano de 2000
novo componente jurídico: a criminalização da política fiscal
anexo de possíveis riscos fiscais na LDO
inspirada e adaptada de leis de outros países
“Conforme destacado no trecho acima, vários países passaram a adotar regras rígidas de
política fiscal, que deveriam ser mantidas mesmo na ocorrência de crises econômicas e de
mudanças na orientação política. Dentre seus principais regramentos, a LRF trazia: a) a
limitação dos gastos com pessoal, imposta às três esferas de governo e a cada um de seus
Poderes; b) a criação de restrições à geração de despesas excedentes no último ano do
mandato; c) o disciplinamento de toda nova despesa corrente de duração superior a dois
anos; d) a imposição de que os entes governamentais assumam compromissos com metas
fiscais e, a cada quatro meses, apresentem ao Poder Legislativo e à sociedade a evolução
de suas finanças; e) a limitação da contratação de dívidas; f) a proibição de
refinanciamentos das dívidas de estados e de municípios; e g) a punição de entes públicos
(e, indiretamente, de seus beneficiários) pelo descumprimento dos limites estabelecidos
pela lei.”
“O Governo Federal realizou ao longo de todo o ano de 2015, o maior contingenciamento de
despesas discricionárias desde o advento da LRF.Mesmo antes do orçamento ser
aprovado, foram editadas medidas de contenção dos gastos, como o decreto de limite
orçamentário. Esse decreto passou o limite de execução mensal durante a antevigência de
1/12 para 1/18, impondo, portanto, um corte potencial de 30% das despesas discricionárias
correntes. Quando o orçamento foi aprovado, nos quatro relatórios bimestrais que se
seguiram, três apontaram a necessidade de que fossem feitos novos contingenciamentos,
diante da queda cada vez mais acentuada da receita, frente à desaceleração econômica.”
“Essa é tipicamente uma situação descrita na literatura como ajuste fiscal autodestrutivo, no
qual a própria tentativa de obtenção de um resultado fiscal impõe uma contração fiscal tão
forte que afeta a capacidade de crescimento econômico reduzindo ainda mais a
arrecadação. A previsão de crescimento da economia brasileira para o 2015 foi revisada
para baixo, nos meses seguintes à publicação da Lei de Diretrizes Orçamentárias daquele
ano. A rápida reversão dos parâmetros macroeconômicos propiciou a queda na previsão de
receita, tornando impossível a obtenção da meta aprovada na LDO.”
“O cenário de desaceleração econômica se manteve para o ano de 2016. Em agosto de
2015, o governo chegou a enviar o Projeto de Lei Orçamentária Anual (PLOA) de 2016 com
a previsão de um déficit orçamentário, pela primeira vez desde a vigência da LRF.
Entretanto, essa proposta foi recebida como uma heresia, tanto pela mídia quanto pelo
Congresso, e durante a tramitação do PLOA 2016, o Poder Executivo encaminhou várias
medidas, cujo objetivo era garantir um cenário de aumento do resultado fiscal.”
3. Teto de Gastos
2015 e 2016: sentidas as consequências de um ajuste fiscal autodestrutivo (austeridade
piora o quadro ao invés de melhorá-lo)
“Com a aprovação da EC 95/2016, somava-se uma nova regra fiscal, sem modificar as já
existentes. Nesse sentido, fortaleceu a superposição das regras fiscais e com um efeito
mais restritivo possível, pois a regra que prevalece é a que limita mais as despesas. Como
pode ser visto na Tabela 6, em todos os anos de vigência, a LOA foi aprovada já no limite
imposto pela EC 95/2016. No entanto, ao longo do ano, eventuais frustrações de receitas
levam a novas restrições e contingenciamentos e, ao final do exercício financeiro, a
execução é muitas vezes inferior ao limite dado pelo teto de gastos. Cabe notar que,
mesmo em 2020, ano em que houve grande parte da execução de despesas por meio de
créditos extraordinários que estão fora do limite do Teto, as despesas sujeitas ao teto foram
executadas abaixo do limite, pois houve uma redução do valor autorizado incialmente na
LOA.”
“Em seu quinto ano de vigência, é possível analisar os efeitos concretos da medida que
corroboram as análises preliminares apresentadas durante a tramitação da proposta ou nos
anos iniciais da vigência. Em primeiro lugar, é possível constatar o baixo ritmo de
crescimento da economia brasileira, mesmo após dois anos consecutivos de queda, 2015 e
2016, que antecederam a vigência da EC 95/2016. Como pode ser visto no gráfico abaixo,
mesmo antes da economia brasileira ser atingida pelos impactos da pandemia da
COVID-19, há sinais claros de desaceleração. Após uma breve recuperação econômica em
2017, sem atingir patamares razoáveis de crescimento, a economia brasileira começa a
desacelerar a partir do quarto trimestre de 2018, mantendo um baixo ritmo de crescimento
até 2020. O crescimento observado nos anos de 2017 a 2019 é próximo ao crescimento
populacional, implicando a estagnação do PIB per capita em patamar muito reduzido.
Dweck et al. (2020) discutem teoricamente os efeitos recessivos da regra do teto de gastos
ao impor um crescimento real zero aos gastos primários federais, impedindo também que o
governo federal adote medidas efetivas de estímulo à economia.”
“Para além dos efeitos já observados, conforme indicado acima, o limite imposto para o teto
de gastos significa uma contração do Estado brasileiro, pois significa uma redução das
despesas primárias federais em termos per capita e em proporção do PIB. Diversos
economistas9 questionaram a viabilidade do teto. No entanto, ao invés da revisão de uma
regra sem precedentes internacionais, o governo reforça a ideia da necessidade de
reformas adicionais, quase todas voltadas para reduzir despesas obrigatórias. A
Constituição procurou assegurar fontes estáveis de recursos para as políticas sociais, em
especial para a educação e para a Seguridade Social, além disso, garantiu a estabilidade
dos servidores públicos e regras de garantia de valor real para o salário mínimo, as
aposentadorias e salários dos servidores. Essas medidas visavam reverter o “histórico do
país em dar-lhes [às políticas sociais] um tratamento secundário e do capital e das classes
mais ricas de se apoderarem de maiores fatias do orçamento”
“Os impactos negativos da emenda se estendem para área social, com uma ampliação
recente das desigualdades e da pobreza. Mesmo antes da pandemia, de acordo com
Hoffman (2020), o índice de gini da renda domiciliar per capita, medido a partir dos dados
da PNAD-C, sai de 0,524 em 2015 para 0,543 em 2019, revertendo uma longa série de
queda desde o início dos anos 2000. Já o indicador de pessoas abaixo da linha de pobreza,
medidos a partir de dados da PNAD-C. passa de 14,1 milhões de pessoas em 2014 para
mais de 20 milhões em 2019.”
A anatomia da crise da Previdência: John Eatwell
“O problema da previdência é como garantir que os aposentados tenham um número
suficiente de direitos monetários para comprar os bens e serviços de que necessitam, e
como assegurar a concordância (tácita ou implícita) da força de trabalho em abrir mão de
bens e serviços que produziu”
“É o envelhecimento da população em muitos países nas próximas décadas que está por
trás da presente crise da previdência. Como será demonstrado abaixo, essa crise é um
fenômeno geral, independente de como as pensões são financiadas. Entretanto, ela tem
sido usualmente descrita como a crise do sistema público de pensões, como é o caso da
Tabela 1”
“PN = (S+T)YW
onde P é a aposentadoria média per capita ao ano e N é o número de aposentados. Assim,
PN é o total das aposentadorias pagas a cada ano. Essas aposentadorias são um fluxo de
poder de compra que será usado para adquirir os bens e serviços que foram produzidos
pela população ocupada. No lado direito da equação, W é a população ocupada, Y é o valor
do produto per capita, ou produtividade, da população ocupada. Assim WY é o valor total do
fluxo de bens e serviços. S é a propensão média a poupar e T é a alíquota média de
impostos”
“As equações (3) e (4) expressam a mesma relação fundamental em termos de taxas de
crescimento:
n-w = r + y p (3)
r = sa + t(1-a) (4)
onde as letras minúsculas indicam taxas de crescimento. Assim, n é a taxa de crescimento
da população aposentada, w é a taxa de crescimento da força de trabalho, y é a taxa de
crescimento da produtividade, p é a taxa de crescimento do valor real da aposentadoria
média, e r é uma média ponderada das taxas de crescimento dos impostos, t, e da
poupança, s, definida na equação (4), a = S/(S+T)”
“A solução para a crise, dessa forma, reside na determinação de que valores de w, r, y, ou p
devem ser alterados. Dado o crescimento do valor de n, uma combinação apropriada das
outras variáveis deve, necessariamente, ser mudada, seja por mudança de política
econômica ou calote. Quando se discute a crise da previdência, muito atenção tem sido
dada à relação entre a forma como as aposentadorias são financiadas e a equação (3).
Deve-se notar, entretanto, que essas mesmas questões surgirão qualquer que seja a forma
de financiamento das aposentadorias. O debate sobre a forma de financiamento deve ser
conduzido à luz do impacto dos diferentes arranjos financeiros sobre w, r, y ou p.”
“Um esquema do tipo Regime de Repartição é um esquema público no qual impostos são
cobrados com o objetivo de prover a transferência de poder de compra para os
aposentados. O direito de receberaposentadoria é essencialmente um direito político, cujos
termos são garantidos pelo Estado o que não significa dizer que o Estado não pode
subseqüentemente alterar os termos sob os quais essas aposentadorias são providas. A
transferência de bens e serviços da força de trabalho para os aposentados é bem
transparente. Um arranjo do tipo Regime de Ccapitalização para aposentadorias pode ser
gerido pelo setor público, embora esses sejam tipicamente esquemas do setor privado. Sob
um Regime de Capitalização o indivíduo poupa durante sua vida adquirindo, assim, um
estoque de ativos financeiros que podem ser usados no futuro para comprar bens e
serviços, seja realizando os ativos, seja comprando uma apólice de uma empresa de
previdência privada. O direito de receber uma aposentadoria é um direito financeiro,
possuído pelo indivíduo embora o valor desse direito dependa de uma variedade de
circunstâncias econômicas, como as condições do mercado de ativos financeiros, taxas de
juros e taxas de inflação.”
“Um ponto importante, preliminar, a ser levantado, e que é fundamental para todo o debate
sobre aposentadorias, é que em termos macroeconômicos não há diferença entre esses
dois regimes no que se refere ao total de transferências, isto é, quanto ao impacto em r.
Para dados valores de n, w, y e p, o valor de r tem que ser o mesmo qualquer que seja o
esquema de financiamento. No caso do RR, os impostos correntes são usados para pagar
as aposentadorias correntes. No caso do RC, são as poupanças correntes que são usadas
para pagar as aposentadorias correntes. A poupança de hoje está financiando as
aposentadorias de hoje. Dessa forma, a carga sobre a força de trabalho, definida como os
bens e serviços que são extraídos da renda da força de trabalho, é exatamente a mesma,
seja o sistema previdenciário do país RC ou RR”
tabela de vantagens e desvantagens do RR e do RC
“O desempenho macroeconômico é um determinante fundamental do valor real das
aposentadorias. Se de fato os regimes de capitalização resultam em maiores taxas de
poupança e crescimento quando comparados aos regimes de repartição, então o impacto
geral deve ser certamente benéfico, ao menos para o aposentado médio. O que interessa
para o nível geral das aposentadorias no futuro é o fato de a economia exibir ou não um
crescimento acelerado, e não se algum segmento particular da sociedade é beneficiado.”
“Então, em que pese ser possível argumentar que a existência de regimes de capitalização
promove o desenvolvimento dos mercados financeiros, não há uma relação clara entre o
crescimento desses mercados e a poupança agregada, o crescimento ou a eficiência
econômica.”
“Convém notar que, enquanto o nível de recursos destinados às aposentadorias
permanecer constante, esse argumento aplica-se também aos regimes de capitalização.
Ainda que em muitas instâncias os regimes de capitalização sejam significativamente
menos eficientes que os regimes de repartição, eles têm a virtude política de reduzir o valor
real das aposentadorias, adequando-os aos recursos disponíveis de forma automática, isto
é, sem que haja a necessidade de uma decisão política explícita. Diante das crises dos
sistemas de aposentadorias, os regimes de capitalização se apresentam como um
instrumento para a redução na taxa de crescimento das aposentadorias per capita médias.”
“Qualquer que seja o sistema de provisão de aposentadorias utilizado, sempre permanecerá
a necessidade de se transferir um determinado montante de recursos reais da população
economicamente ativa para os aposentados. Se o sistema previdenciário é regido pelo
regime de capitalização ou se esse está para ser implementado, medidas devem ser
tomadas para reduzir os altos custos administrativos, a iniqüidade e os elevados riscos. Há
também a necessidade de se implementar uma rede de seguridade social para os idosos
carentes. A conversão para o regime de capitalização não pode ser usada como um
instrumento para cortes velados das aposentadorias dos menos desfavorecidos. Se o
sistema previdenciário é regido pelo regime de repartição, medidas devem ser adotadas
para conscientizar a sociedade acerca da relação entre a cobrança de impostos e o
pagamento de benefícios previdenciários, além de se providenciar um maior número de
alternativas dentro do próprio sistema. Qualquer que seja o sistema, ou combinação de
sistemas, adotado, suas características devem ser avaliadas à partir dos parâmetros
definidos na equação (3)”
A PREVIDÊNCIA SOCIAL ‘PAGA O PREÇO’ DO AJUSTE FISCAL E DA EXPANSÃO DO
PODER FINANCEIRO: Denise Lobato Gentil
introdução
2 correntes: ideias liberais-conservadoras, reforma da previdência ou ideais
desenvolvimentistas
resultado fiscal do sistema previdenciário: fatores exógenos, política macroeconômica
recessiva causadora da queda das receitas do orçamento da seguridade social
“O governo Temer se colocou nas mãos de partidos políticos que demonstram não ter
nenhum compromisso com os cidadãos e que querem apenas tirar proveito da máquina
pública, à revelia da deterioração das condições de vida de amplas parcelas da população e
em detrimento dos direitos sociais assegurados na Constituição Federal.”
cap II
“O resultado fiscal da Previdência Social nos últimos sete anos tem sido influenciado pela
política macroeconômica recessiva adotada nos governos Dilma e Temer. O desenho dessa
política – que tem basicamente diferenças de intensidade, mas não na essência dos
instrumentos utilizados pelos dois governos – tem implicado no corte radical nos
investimentos para cumprir com as metas de superávit primário, em renúncias de receitas
de contribuições sociais e de impostos, em juros nominais e reais elevados, câmbio
valorizado e redução do crédito público. Como resultado da redução de gastos
discricionários da União, houve forte queda do investimento agregado da economia, puxado
principalmente pelo encolhimento do investimento público.”
“Esse quadro de profunda crise provocado pela adoção de políticas
macroeconômicas restritivas gerou grave recuo nas receitas de Contribuições
Previdenciárias e nas Contribuições Sociais (CSLL, Cofins e PIS/PASEP) que
dependem do nível de emprego formal, do patamar salarial e da produção e faturamento
da indústria, setor da economia que gera a maior arrecadação para o sistema. No
entanto, o governo federal em suas frequentes manifestações a favor da reforma da
Previdência Social, nunca se implicou na dilapidação da arrecadação de contribuições
destinadas à área social.”
“Se o arranjo de políticas contracionistas dos governos Dilma e Temer
produziram grave recessão e, portanto, queda brusca nas receitas e aumento de gastos
com benefícios sociais (como seguro desemprego, antecipação de aposentadorias, saúde
pública, segurança pública), operando no sentido contrário ao equilíbrio fiscal,
pergunta-se: por que esse regime macroeconômico é tão obstinadamente defendido? A
resposta está longe de ser óbvia. A massificação das opiniões de analistas do setor
financeiro na grande mídia, pregando ajuste fiscal e juros elevados, contribuiu para
transformá-las num consenso. São as únicas (se não as principais) saídas possíveis para
a crise, mesmo ao preço de elevado sacrifício social.”
recessão é sim desejada por ser funcional ao capitalismo
governo adota medidas que desacelera bruscamente a atividade econômica
cap III
principais fatos da cena política que caracterizam o processo de dilapidação de recursos da
seguridade social
1. vultosas desonerações de contribuições sociais, apropriação dos recursos públicos
destinados a políticas sociais
“As desonerações provocaram apenas aumento das
margens de lucro das empresas e queda importante nas receitas da Previdência Social,
privando a sociedade de recursos que poderiam ter sido empregados de forma mais
eficiente para gerar bem-estar.”
“É inescapável concluir que o governo adota uma narrativa contraditória, já que
desonera e perdoa tributos numa área em que diz haver um alarmante déficit. De duas,
uma: ou não existe tal déficit na Previdênciae, assim, o governo decidiu que poderia
abrir mão de receitas ou o próprio governo, ao renunciar a tão grande montante de
receitas está deliberadamente provocando o déficit que diz desejar combater.”
2. o projeto de securitização da dívida ativa da União
3. elevação do percentual de desvinculação de recursos da seguridade social de 20%
para 30%
“Assim, o governo parece contrariar a lógica mais elementar. Se a Previdência
Social é deficitária e se há queda profunda na arrecadação de contribuições sociais, por
que elevar o percentual de desvinculação de recursos atrelados à Seguridade Social?
Seria minimamente plausível retirar tantos recursos de um sistema tido como deficitário
para depois ter que devolver? Ou estaria o governo propositalmente reservando este
percentual mais elevado para efetivamente retirar recursos da Seguridade quando suas
receitas voltassem a crescer?”
4. a dívida ativa previdenciária: mais um mecanismo de entrega de recursos da
Previdência para o setor privado (privatização disfarçada)
“O Brasil parece, de fato, ser o paraíso dos sonegadores da Previdência. É
perfeitamente compreensível que o cidadão comum se pergunte por que deveria aceitar
uma reforma da previdência que procura achatar sua renda e exigir dez anos a mais de
contribuição, quando o próprio governo não se mostra nem desejoso e nem capaz de
gerir com competência a cobrança de tributos das empresas devedoras.”
5. gasto com propaganda de reforma da Previdência
6. o custo da aprovação da reforma da previdência se soma ao custo da sobrevivência
política do presidente
“Para culminar, em julho de 2017, foi apresentada pela Procuradoria-Geral da
República (PGR) a acusação de corrupção passiva contra o Presidente Michel Temer.
Para ter prosseguimento perante a Justiça, a acusação precisaria ser admitida pelos
deputados em duas etapas: na Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania (CCJ) e no
plenário da Câmara. Para conseguir votos de deputados da base aliada a seu favor, na
semana em que foi feita a votação no plenário da Câmara (cuja maioria dos membros
estão também envolvidos em investigações criminais), o Presidente concedeu benefícios
fiscais na forma de parcelamento e perdão de dívidas de Estados, Municípios e
empresas (inclusive as pertencentes a deputados e senadores), assim como liberação de
verbas a deputados sem que estivessem minimamente pautadas pelo critério de
atendimento às necessidades de uma população castigada pela depressão econômica.
Grande parte desse pacote de favores políticos foi feito às custas da redução de receitas
da Previdência Social. A seguir é elencada a parte conhecida das medidas de
sustentação política ao Presidente.”
conclusão
“Uma das conclusões centrais deste artigo é de que o resultado fiscal da Previdência tem
sido determinado fundamentalmente pela diminuição brutal de receitas provocada pela
depressão econômica, muito mais que pela elevação dos gastos, cujas taxas de
crescimento real anual estavam em queda antes do anúncio da reforma.”
GOBETTI, S e ORAIR, R (2016)
introdução
“O Brasil é um dos países em desenvolvimento que tem uma das mais altas cargas
tributárias do mundo, por volta de 33% do produto interno bruto (PIB), próxima da média
dos países da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).
Diferentemente do que ocorre nas economias desenvolvidas, entretanto, a carga brasileira é
concentrada em tributos indiretos e regressivos, não em tributos diretos e progressivos.1 O
país também é um dos poucos no mundo em que os dividendos distribuídos a acionistas de
empresas estão totalmente isentos de Imposto de Renda de Pessoa Física (IRPF). Essa
isenção para as pessoas físicas foi introduzida em 1995, junto com outro benefício que
reduziu significativamente o Imposto de Renda de Pessoas Jurídicas (IRPJ): a possibilidade
de deduzir do lucro tributável uma despesa fictícia denominada juros sobre capital próprio
(JSCP).”
baixa tributação sob o lucro
baixa progressividade do IRPF
modelo brasileiro de imposto se assemelha com o modelo reaganiano
nenhuma reforma foi feita no IRPF brasileiro visando ampliar sua progressividade
cap 2
evolução da tributação de renda no brasil
cap 3
tributação do lucro no mundo desenvolvido
maioria dos países praticam a dupla tributação (sobre o lucro e dps sobre os dividendos)
cap 4
Quão progressivo é o IRPF no Brasil?
isenção de dividendos: renúncia substancial de receitas para o governo e favorece
concentração de renda
condições tributárias mais favoráveis aos rendimentos do capital
alíquotas efetivas decrescem no topo da distribuição
cap 5
simulação de mudanças na legislação do IRPF
ECONOMIA PARA POUCOS
CAP 1
“A austeridade é uma ideia força, poderosa quando transformada em discurso, perigosa
quando aplicada politicamente. O comprometimento dos governos com ajustes e
consolidações fiscais, que reduz o papel do Estado e distribui sacrifícios à população, se
apoia em um discurso, em argumentos teóricos e em uma literatura empírica. O objetivo
deste capítulo é analisar - discurso, argumentos e literatura - e mostrar que a austeridade se
sustenta em discursos falaciosos, argumentos morais e em evidências empíricas frágeis.”
ideia ganha destaque após a crise de 2008
origem da palavra vem da filosofia moral
“Como veremos mais adiante, o discurso moderno da austeridade ainda carrega essa carga
moral e transpõe, sem adequadas mediações, essas supostas virtudes do indivíduo para o
plano público, personificando, atribuindo características humanas ao governo.”
“O debate econômico em torno dos efeitos da contração fiscal deu corpo ao conceito de
austeridade que pode ser definido por seu instrumento (ajuste fiscal - preferencialmente
corte de gastos) e seus objetivos (gerar crescimento econômico/equilibrar as contas
públicas). Nesse sentido, a austeridade é
“a política que busca, por meio de um ajuste fiscal, preferencialmente por cortes
de gastos, ajustar a economia e promover o crescimento.”
“A defesa da austeridade fiscal sustenta que, diante de uma desaceleração econômica e de
um aumento da dívida pública, o governo deve realizar um ajuste fiscal, preferencialmente
com corte de gastos públicos em detrimento de aumento de impostos. Esse ajuste teria
efeitos positivos sobre o crescimento econômico ao melhorar a confiança dos agentes na
economia. Ou seja, ao mostrar “responsabilidade” em relação às contas públicas, o governo
ganha credibilidade junto aos agentes econômicos e, diante da melhora nas expectativas, a
economia passa por uma recuperação decorrente do aumento do investimento dos
empresários, do consumo das famílias e da atração de capitais externos. A austeridade
teria, portanto, a capacidade de reequilibrar a economia, reduzir a dívida pública e retomar o
crescimento econômico.”
“Ou seja, em um contexto de crise econômica, a austeridade é contraproducente e tende a
provocar queda no crescimento e aumento da dívida pública, resultado contrário ao que se
propõe.”
a fada da confiança e a metáfora do orçamento doméstico
“Para Paul Krugman (2015), a crença de que a austeridade gera confiança é baseada em
uma fantasia onde se acredita que, por um lado, os governos são reféns de “vigilantes
invisíveis da dívida” que punem pelo mau comportamento e, por outro lado, existe uma
“fada da confiança” que recompensará o bom comportamento. O autor ainda mostra
evidências de que a os países europeus que mais aplicaram a austeridade foram os que
menos cresceram (Krugman, 2015). Na mesma linha, Skidelsky e Fraccaroli (2017)
mostram que a confiança não é causa, mas acompanha o desempenho econômico e que
austeridade não aumenta, mas diminui a confiança ao gerar recessão.”
“De acordo com Girardi, Meloni e Stirati (2018) seus resultados atestam que a difícil
recuperação econômica pós-crise 2008/2009 se deve justamente à estagnação dos
principais componentes da demanda agregada e de que a resposta mais apropriada para o
crescimento seriam os estímulos fiscais, e não a austeridade.”
“No entanto, como defende Milios (2015),a austeridade não é irracional, tampouco
estritamente errada, essa nada mais é do que a imposição dos interesses de classe dos
capitalistas. Trata-se de uma política de classe ou uma resposta dos governos às demandas
do mercado e das elites econômicas à custa de direitos sociais da população e dos acordos
democráticos. Os capitalistas, por sua vez, se beneficiam das políticas de austeridade em
três frentes”
CAP 2
aumento do ajuste fiscal e seu impacto na estagnação da desigualdade social
“Portanto, a política fiscal tem um papel central na explicação da desigualdade, pois a
capacidade e a forma de arrecadar e de gastar impacta a distribuição da renda dos países,
tanto em termos diretos, na determinação da renda disponível, quando em termos indiretos,
na oferta de bens e serviços gratuitos à população, especialmente saúde e educação, que
funcionam como a redistribuição material de renda por meio de acesso à serviços.”
“Segundo CEPAL (2015), o Brasil é o país que mais reduz a desigualdade social por meio
de transferências (pensões e outras) e gastos sociais (saúde e educação) na América
Latina.”
“Em linhas gerais, podemos resumir o impacto distributivo da polícia fiscal no Brasil como
uma política um lado que concentra (tributário) e outro que distribui (o gasto); ou seja, que o
sistema tributário não contribui para redução da desigualdade, pois todo o ganho de
distribuição com a arrecadação direta, é perdido pela arrecadação indireta e que todo o
efeito distributivo ocorre pelos gastos públicos: transferências e pelos serviços públicos.
Portanto, podemos afirmar que a política fiscal tem um papel central na redistribuição de
renda, tanto a partir da arrecadação quanto dos gastos públicos, em especial as
transferências de renda e a oferta de serviços públicos gratuitos.”
“Ao se restringir a análise ao efeito de deslocamento que a previdência social realiza,
desconsidera-se que os benefícios de 1 salário mínimo “levam” uma pessoa das posições
iniciais na distribuição (renda de mercado igual a zero) para o sexto décimo de renda.
Verdade que o benefício no teto do RGPS implica deslocá-lo para o percentil 80 da
população adulta com rendimento e para benefícios relacionados às carreiras “nobres” do
funcionalismo à posições iguais ou superiores ao percentil 95. Sem uma análise mais
cuidadosa, se corre o risco de “jogar fora o bebê com a água suja”, ou seja, colocar em
risco nosso grau de cobertura associado com mudanças em benefícios regressivos. É o que
se vê em medidas presentes na proposta da Reforma Previdenciária, como a extensão do
período de carência para as aposentadorias por idade, a desvinculação do salário mínimo
ao BPC, a majoração da idade para a concessão do BPC, a possibilidade de acúmulo de
benefícios de diferentes regimes e a proibição para todos os valores do acúmulo de
aposentadoria e pensão por morte.”
“Neste caso, os autores parecem esquecer que grande parte do efeito distributivo nos
países da OCDE advém da tributação direta, muito superior à brasileira, além de um regime
previdenciário total mais progressivo. Em dado divulgado pela receita, é possível observar
que o Brasil tem a menor carga tributária incidente sobre a Renda, Lucro e Ganho de
Capital.”
“Em segundo lugar, haveria uma reprovação à direção da despesa governamental para
investimento público e subsídio ao consumo. Para os capitalistas, os gastos devem ser
apenas para investimentos públicos que não concorram com os negócios privados. A crítica
maior recaia sobre o outro tipo de gasto – o subsídio ao consumo popular – por uma
questão “moral” – cada um deve ganhar o pão com o próprio suor”
“Assim, embora a explicação principal da piora do resultado fiscal naquele momento fosse o
próprio efeito das políticas de austeridade adotadas anteriormente (ver Dweck e Rossi 2018
e Dweck e Tonon, 2018), a explicação para construir a narrativa usada para depor a
presidente Dilma e para orientar a mudança abrupta na política econômica após o
impeachment foi outra. A desaprovação das mudanças políticas decorrentes do pleno
emprego, que aumentaram o poder de barganha dos trabalhadores, levou ao discurso do
“desperdício de gastos”, com o claro objetivo de recompor a função social da doutrina das
“finanças públicas sólidas”, segundo a que o nível de emprego deve depender
exclusivamente do “estado de confiança” dos empresários (ver Dweck e Teixeira 2018).”
“Essa drástica redução da participação do Estado na economia é representativa de outro
projeto de país, outro pacto social, que reduz substancialmente os recursos públicos para
garantia dos direitos sociais, como saúde, educação, previdência e assistência social.
Nesse novo pacto social, transfere-se responsabilidade para o mercado no fornecimento de
bens sociais, como discutiremos a seguir. Trata-se de um processo que transforma direitos
sociais em mercadorias. “
“O grande objetivo da EC 95 é reduzir as despesas públicas federais para contrair cada vez
mais o tamanho do Estado Brasileiro. O objetivo principal é ampliar o superávit primário sem
ter que alterar a arrecadação federal, abrindo espaço inclusive para redução da
arrecadação em um futuro próximo, ou seja, um ajuste fiscal permanente”
“Diante do potencial redistributivo de quase todos esses gastos elencados acima, conforme
destacado na seção 1.2, essas medidas, que já estão sendo parcialmente implantadas,
terão impactos extremamente regressivos. Será preciso fazer um corte muito acentuado nas
políticas de todas as áreas, inclusive saúde e educação, e nos próximos anos não haverá
limite para despesa nas demais áreas de atuação do governo federal.”
ASPECTOS POLÍTICOS DO PLENO EMPREGO, Michal Kalecki
“1. Uma maioria consolidada dos economistas já é da opinião de que, mesmo em um
sistema capitalista, o pleno emprego pode ser assegurado por um programa de gastos do
governo, desde que haja planta adequada para empregar toda a força de trabalho existente,
e desde que a oferta de matérias-primas estrangeiras necessárias possa ser obtida em
troca de exportações”
“Em primeiro lugar deve se afirmar que embora a maioria dos economistas agora
concordem que o pleno emprego pode ser alcançado pelos gastos do governo, este de
modo algum foi o caso, mesmo no passado recente. Entre os opositores dessa doutrina
existiam (e ainda existem) proeminentes e autointitulados “especialistas econômicos”
estreitamente ligados aos bancos e à indústria. Isso sugere que há um fundo político na
oposição à doutrina do pleno emprego, mesmo que os argumentos apresentados sejam
econômicos. Isso não quer dizer que as pessoas que desenvolvem esses argumentos não
acreditem em suas teorias, por mais pobres que sejam. Mas a ignorância obstinada
geralmente é uma manifestação de motivações políticas subjacentes.”
“As razões para a oposição dos “líderes industriais” ao pleno emprego alcançado via gastos
do governo podem ser subdivididos em três categorias: (i) não gostam da interferência do
governo no problema do emprego como tal; (ii) não gostam da direção dos gastos do
governo (o investimento público e o consumo subsidiado); (iii) não gostam das mudanças
sociais e políticas resultantes da manutenção do pleno emprego. Vamos examinar em
detalhe cada uma dessas três categorias de restrições a uma política governamental
expansionista.” “A função social da doutrina das “finanças saudáveis” é fazer com que o
nível de emprego dependa do estado de confiança.”
“Nós consideramos as razões políticas para a oposição à política de criação de emprego via
gastos governamentais. Mas, mesmo que esta oposição fosse superada – como pode muito
bem ocorrer sob a pressão das massas – a manutenção do pleno emprego causaria
mudanças sociais e políticas que dariam um novo impulso para a oposição dos líderes
empresariais. Com efeito, sob um regime de pleno emprego permanente, a demissão
deixaria de desempenhar o seu papel enquanto “medida disciplinar”. A posição social do
patrão seria prejudicada, e a autoconfiança e consciência de classe da classe trabalhadora
cresceria.As greves por aumentos salariais e melhorias nas condições de trabalho criariam
tensão política. É verdade que os lucros seriam mais elevados sob um regime de pleno
emprego do que são, em média, nos termos do livre mercado, e até mesmo o aumento dos
salários decorrente do maior poder de barganha dos trabalhadores é menos propenso a
reduzir os lucros do que para aumentar preços, e, portanto, afeta negativamente apenas os
interesses rentistas. Mas a “disciplina nas fábricas” e a “estabilidade política” são mais
apreciadas do que os lucros pelos líderes empresariais. Seu instinto de classe lhes diz que
um pleno emprego duradouro é inaceitável a partir do seu ponto de vista, e que o
desemprego é uma parte integrante do sistema capitalista “normal”.”
“Tal economia tem muitas características de uma economia planificada, e às vezes é
comparada, ainda que ignorantemente, com o socialismo. No entanto, este tipo de
planejamento tende a aparecer sempre que uma economia se estabelece uma alta meta de
produção numa esfera particular, quando se torna uma economia especializada da qual a
economia armamentista é um caso especial. Uma economia armamentista envolve uma
redução do consumo em comparação com o que poderia ocorrer sob o pleno emprego.”
“Deveria um progressista ficar satisfeito com o ciclo de negócios político da forma como
descrito na seção anterior? Acho que a isto deveríamos nos opor em dois níveis: (i) que isto
não assegura um pleno emprego duradouro; (ii) que esta intervenção governamental está
associada ao investimento público que não abarca o subsídio ao consumo. O que as
massas demandam agora não é a mitigação da recessão, mas sua abolição total. Nem
deveria a consequente utilização mais completa dos recursos ser feita em investimentos
públicos não desejados apenas para gerar emprego. O programa de gastos governamentais
deveria estar dedicado apenas ao investimento público de fato necessário. O resto do gasto
público necessário para manter o pleno emprego deveria ser usado para subsidiar o
consumo (através de transferências às famílias, pensões e aposentadorias, redução dos
impostos indiretos e subsídios aos bens de primeira necessidade). Os opositores deste tipo
de gasto governamental alegam que o governo não terá, então, nenhuma contrapartida ao
seu dinheiro. A resposta é que a contrapartida deste dispêndio é o maior padrão de vida das
massas. Este não é o propósito de toda a atividade econômica?”

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