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Sociedade_e_Contemporaneidade

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Sociedade e 
Contemporaneidade
???????????
Sociedade e 
Contemporaneidade
Organizado por Universidade Luterana do Brasil
Universidade Luterana do Brasil – ULBRA
Canoas, RS
2016
Arlete Aparecida Hildebrando de Arruda
Deivison Moacir Cezar de Campos
Everton Rodrigo Santos
Gabriela Ramos de Almeida
Honor de Almeida Neto
Julieta Beatriz Ramos Desaulniers
Paulo G. M. de Moura
Rodrigo Perla Martins
Conselho Editorial EAD
Andréa de Azevedo Eick
Ângela da Rocha Rolla
Astomiro Romais
Claudiane Ramos Furtado
Dóris Gedrat
Honor de Almeida Neto
Maria Cleidia Klein Oliveira
Maria Lizete Schneider
Luiz Carlos Specht Filho
Vinicius Martins Flores
Obra organizada pela Universidade Luterana do Brasil. 
Informamos que é de inteira responsabilidade dos autores 
a emissão de conceitos.
Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida 
por qualquer meio ou forma sem prévia autorização da 
ULBRA.
A violação dos direitos autorais é crime estabelecido na Lei 
nº 9.610/98 e punido pelo Artigo 184 do Código Penal.
Dados técnicos do livro
Diagramação: Marcelo Ferreira
Revisão: Geórgia Marques Píppi
No Brasil, quem decide ser um profissional ou empreendedor com formação em nível superior revela diversas expectativas. Quer que 
seu currículo seja considerado diferenciado em meio a ińmeros outros 
currículos profissionais. Quer ter maior satisfação em seu trabalho ou 
empreendimento. Quer ganhar mais, seja como assalariado, seja como 
empresário. Quer pautar seu exercício profissional por maior qualificação 
em termos de conhecimento e prática, tornando-se, com isso, um agen-
te de transformação social, política, econ̂mica e cultural. Quer tornar-se 
um formador de opinião. Sem d́vida alguma, é muito provável que estas 
e outras expectativas sejam alcançadas. De modo sistemático, estudos e 
análises revelam que profissionais com formação em nível superior t̂m 
grandes vantagens e destaque na sociedade, no ambiente empreendedor e 
no mercado de trabalho no Brasil.
Os cursos de graduação da ULBRA são projetados tendo por refer̂ncia 
tais expectativas e querem acompanhar os estudantes que neles ingressam 
para que elas sejam alcançadas. São quatro as diretrizes fundamentais 
propostas pelos cursos:
1) Intermediar conhecimento atualizado, pertinente ̀ área profissio-
nal e pautado permanentemente por inovação;
2) Mover os estudantes a cultivarem de modo intensivo sua formação 
pessoal (valores, princípios, caráter, hábitos e refer̂ncias éticas);
3) Avaliar incessantemente seus contédos, práticas e formas sob o 
critério da empregabilidade de seus egressos;
4) Valorizar o empreendedorismo, ou seja, estabelecer em todos 
os ̂mbitos do curso e da universidade as condiç̃es para que os 
Apresentação
Apresentação v
acad̂micos estejam imersos em uma cultura empreendedora e de-
senvolvam ou aperfeiçoem sua conscîncia empreendedora.
A disciplina Sociedade e Contemporaneidade está entre as que de 
forma mais direta interpelam estudantes e professores em relação a essas 
diretrizes fundamentais. Independente do curso de graduação, é essencial 
que todos os envolvidos – estudantes, docentes e equipes administrativas 
de suporte ao ensino – estejam referenciados em dois trilhos que correm 
paralelamente de modo indissociado, orientando o processo de formação 
como um todo: o projeto pedaǵgico do curso com sua matriz curricular 
e todos os demais elementos que o comp̃em e a carreira profissional 
a ser construída. Nesta disciplina, abre-se concretamente a possibilidade 
de compreender no contexto social, seja no mais próximo ou naquele mais 
amplo, levando em conta suas ḿltiplas facetas, as conseqûncias e as 
possibilidades para quem decidiu fazer um curso superior e construir uma 
carreira profissional diferenciada no mercado de trabalho e no ambiente 
empresarial.
Os contédos a seguir, cuidadosamente redigidos e sistematizados por 
professores de alta qualificação e experîncia, serão, por vezes, considera-
dos desafiadores e complexos quanto a sua compreensão. O foco perma-
nente na carreira que se está desenvolvendo, justamente por isso, será um 
grande auxílio a iluminar os passos de cada estudante em seu progresso e 
descobertas.
Prof. Dr. Ricardo Willy Rieth
Sociólogo, teólogo, professor do PPGEDU e vice-reitor da Universida-
de Luterana do Brasil
 1 A Sociedade Contemporânea: Uma Rede Dinâmica ..............1
 2 Redes Sociais na era Digital ................................................31
 3 Novas Identidades em uma Sociedade em Transformação ...55
 4 Jogo de Espelhos: A Crise das Identidades Sociais na 
Sociedade Contemporânea .................................................75
 5 Educação na era Digital ......................................................99
 6 Fronteiras da Tolerância: Etnicidade, Gênero e Religião .....120
 7 Trabalho e Emprego no Mundo das Novas 
Tecnologias.......................................................................144
 8 O Brasil no Cenário Internacional da Contemporaneidade 180
 9 Organizações e Participação Política e Social no Mundo 
Contemporâneo ...............................................................198
 10 Meio Ambiente e Sustentabilidade ....................................223
Sumário
Honor de Almeida Neto1
Capítulo 1
A Sociedade 
Contemporânea: Uma 
Rede Dinâmica1
1 Doutor em Serviço Social pela PUCRS (2004), Mestre (1999) e Graduado em 
Cîncias Sociais pela mesma Universidade (1995). Coordenador do curso CST 
em Gestão Ṕblica na modalidade EAD e do curso de Cîncia Política da ULBRA 
Canoas. Integra o grupo de pesquisa Sociedade Informacional, Individualidades, 
Políticas Sociais da ULBRA. Pesquisador com experîncia na área das Cîncias Hu-
manas e Sociais com ̂nfase na análise de processos de formação da Criança e do 
Adolescente e do impacto das Novas Tecnologias de Informação e Comunicação 
(NTIC) na qualidade das relaç̃es humanas e sociais.
2 Sociedade e Contemporaneidade
Introdução
Vivemos em um período marcado pela inovação tecnológica 
cuja velocidade dos fen̂menos e a complexidade, que envol-
ve toda e qualquer temática a ser pesquisada, deixa a todos 
uma sensação de incerteza quanto ao futuro. Para um melhor 
entendimento dos códigos que distinguem a era em que vi-
vemos - Era Digital- e o estágio atual do capitalismo, aponto 
nesse capítulo alguns pressupostos. O objetivo é instrumentali-
zar voĉ, aluno, para que possa apreender alguns princípios e 
categorias teóricas contempor̂neas das Cîncias Sociais, ou 
seja, para que tenha mais elementos para entender esse nosso 
tempo, tempo em que nas palavras de Baumann “o homem 
ganha em liberdade, mas perde em certezas [...]” (BAUMANN, 
2001). Categorias de análise e conceitos são instrumentais das 
cîncias, sobretudo das cîncias humanas e sociais, e funcio-
nam como “óculos”, como lentes que ampliam o nosso olhar 
sobre a realidade aproximando-nos com mais rigor e objeti-
vidade desta realidade. Proponho nesse capítulo uma breve 
análise do impacto das Novas Tecnologias de Informação e 
Comunicação (NTIC) na qualidade das relaç̃es humanas e 
sociais, uma análise sócio-técnica da sociedade contempor̂-
nea, que tenha como centro ou como nó central as mediaç̃es 
sociais, os meios através dos quais nos comunicamos uns com 
os outros.
A história das relaç̃es humanas e da construção social 
dos fen̂menos não pode ser desvinculada da história das me-
diaç̃es sociais, das técnicas, das tecnologias disponíveis em 
cada período histórico, bem como, das rupturas que a pe-
Capítulo 1 A Sociedade Contempor̂nea: Uma Rede Din̂mica 3
netrabilidade dessas mediaç̃es instaura nas sociedades, em 
todas as suas dimens̃es. Ao se complexificarem, as media-
ç̃es instauram mudanças nas relaç̃es sociais e geram novas 
possibilidades.
Mas então, quais são essas novas mediaç̃es? Quais são 
as suas características? Qual é a penetrabilidade nas socieda-
des e quais os impactos e transformaç̃es que instauram?
1.1 Novas mediações tecnoĺgicas: novasrevoluções
Jornais, revistas, programas de rádio e TV, simpósios acad̂-
micos, filmes, documentários, sites, converĝncia de mídias e 
ińmeros novos aplicativos móveis apontam para o fato de 
que vivemos em uma sociedade da informação, era digital, 
planetária, sociedade midiática, fluída, em rede. O conceito 
de mídia, segundo Pierre Levy, refere-se “ao suporte ou veículo 
da mensagem. O impresso, o rádio, a televisão, o cinema ou 
a Internet, por exemplo, são mídias” (LEVY, p. 61).
Embora o acesso e a troca de informaç̃es sempre estives-
sem presentes na sociedade, hoje, as mediaç̃es disseminam a 
informação de uma maneira inédita e com características que 
a distinguem das mediaç̃es anteriores, instaurando profundas 
mudanças na din̂mica dos fen̂menos. Os dispositivos comu-
nicacionais, hoje disponíveis, possibilitam diferentes formas de 
comunicação entre as pessoas, rompem com a comunicação 
passiva, típica de mediaç̃es anteriores. Abrem novas possibi-
4 Sociedade e Contemporaneidade
lidades aos sujeitos cujas aç̃es retroagem sobre a sociedade, 
complexificando-a. Lembrem-se que o homem constrói a cul-
tura que constrói o homem e assim sucessivamente.
Quanto ̀s características dessas mídias, Levy aponta para 
tr̂s grandes categorias, um-todos, um-um e todos-todos. A 
imprensa, o rádio e a televisão são estruturados de acordo 
com o princípio um-todos: um centro emissor envia suas men-
sagens a um grande ńmero de receptores passivos e disper-
sos. O correio ou telefone organizam relaç̃es recíprocas entre 
interlocutores, mas apenas para contato indivíduo a indivíduo 
ou ponto a ponto (LEVY, 1999). O advento das mídias inte-
rativas, como a Internet, trouxe de original, para as relaç̃es 
sociais, a maior possibilidade de conexão entre as pessoas, 
em tempo muitíssimo mais veloz e independente da dist̂ncia, 
do espaço. Ou seja, os computadores além de agregarem for-
mas de comunicação típicas de outras eras, como a escrita, a 
imagem e o som, e acelerarem a velocidade das informaç̃es, 
permitem uma interconexão planetária inédita que efetivamen-
te nos transforma em moradores de uma “aldeia global”. 
O ciberespaço permite que comunidades constituam de 
forma progressiva e de maneira cooperativa um contexto 
comum (dispositivo todos-todos); [...] são os novos disposi-
tivos informacionais (mundos virtuais, informaç̃es em fluxo) 
e comunicacionais (comunicação todos-todos) que são os 
maiores portadores de mutaç̃es culturais (LEVY, 1999, p. 
63). O ciberespaço, este novo espaço de troca, de relação, 
é construído em função das novas tecnologias e de suas ca-
racterísticas. Na comparação com as mediaç̃es anteriores, 
sobretudo a imprensa e a televisão, a Internet é potencialmen-
Capítulo 1 A Sociedade Contempor̂nea: Uma Rede Din̂mica 5
te transformadora, visto que, a televisão e a imprensa podem 
impor uma visão da realidade e proibir a resposta, a crítica e 
o confronto entre posiç̃es divergentes. [...] Em contrapartida, 
a diversidade das fontes e a discussão aberta são inerentes 
ao funcionamento de um ciberespaço2 que é incontrolável por 
esŝncia (LEVY, 1999). A Internet é um meio de comunicação 
que permite, pela primeira vez, a comunicação de muitos com 
muitos e em escala global. Assim como a difusão da máquina 
impressora no Ocidente criou o que MacLuhan chamou de a 
Galáxia de Gutenberg, ingressamos agora num novo mundo 
de comunicação: a Galáxia da Internet (CASTELLS, 2003).
O impacto das tecnologias é central para que possamos 
entender o que define-se como Terceira Revolução Industrial 
e/ou Era Digital, e as novas possibilidades associadas a esse 
nosso tempo. Como tipo ideal, podemos identificar tr̂s gran-
des rupturas, tr̂s grandes revoluç̃es. Motor da acumulação 
e expansão capitalista, a máquina a vapor promoveu a revo-
lução tecnológica do Séc. XVIII. O mesmo ocorreu com a ele-
tricidade no século XIX e com a automação, que representam 
o estágio mais recente da evolução tecnológica, ou a terceira 
onda da Revolução Industrial (ALBORNOZ, 2000). Caracteri-
zada como um processo de mudança de uma economia agrá-
ria e manual para uma economia dominada pela ind́stria, a 
Primeira Revolução Industrial tem início na Inglaterra em 1760 
e se alastra para o resto do mundo, provocando profundas 
mudanças na sociedade. Caracteriza-se pelo uso de novas 
fontes de energia; invenção de máquinas que permitem au-
2 Ver conceito no glossário ao final do capítulo.
6 Sociedade e Contemporaneidade
mentar a produção com menor gasto de energia humana; di-
visão e especialização do trabalho; desenvolvimento do trans-
porte e da comunicação e aplicação da cîncia na ind́stria. 
A revolução também promove mudanças na estrutura agrária 
e o declínio da terra como fonte de riqueza; a produção em 
grande escala voltada ao mercado internacional; a afirmação 
do poder econ̂mico da burguesia; o crescimento das cidades 
e o surgimento da classe operária, tendo como espaço de tra-
balho a fábrica. Segundo Lester Thurow (EXAME, 2001), se há 
trezentos anos cerca de 90% da população vivia da agricultu-
ra, atividade que era exercida com a mesma tecnologia primi-
tiva - cavalos, bois, pessoas e fertilizantes de origem animal, 
foi a invenção da máquina a vapor que fez com que 8 mil anos 
de agricultura como atividade dominante da humanidade che-
gassem ao fim. E, em 30 anos, os industriais da Inglaterra 
conseguiram reunir uma fortuna maior que a dos nobres, que 
foram os homens mais ricos dos séculos anteriores. 
A Primeira Revolução Industrial caracterizou-se pela con-
centração dos trabalhadores nas fábricas e pelas transforma-
ç̃es na rotina das cidades e no próprio trabalho. O uso de 
máquinas permitiu o ingresso de mulheres e de crianças no 
mundo do trabalho, principais vítimas do trabalho precarizado 
do começo do período de industrialização. Para aumentar o 
desempenho dos operários, a produção foi dividida em várias 
operaç̃es. O operário executava uma ́ nica etapa, sempre do 
mesmo modo, o que o alienou do processo de trabalho, ou 
seja, fez com que este perdesse a noção do produto final de 
seu trabalho.
Capítulo 1 A Sociedade Contempor̂nea: Uma Rede Din̂mica 7
Entre a segunda metade do século XIX e a primeira meta-
de do século XX, após a Primeira Guerra Mundial, surgiu um 
novo período denominado “Segunda Revolução Industrial”. 
Uma das principais características deste período foi a crença 
na lucratividade advinda da cîncia, ao contrário do empiris-
mo tecnológico, avesso ̀ cîncia, típico da Primeira Revolução 
Industrial. A invenção da eletricidade potencializou a capaci-
dade produtiva do homem, libertando-o dos limites da noite 
e do dia. A energia elétrica esteve para a Segunda Revolução 
Industrial como a máquina a vapor esteve para a Primeira. 
Trouxe um enorme aumento da produção industrial e para au-
mentar a produtividade do trabalho, Frederick W. Taylor criou 
o método de administração científica que se tornaria conheci-
do como taylorismo. Taylor apontava como grande problema 
das técnicas administrativas existentes o desconhecimento pela 
ger̂ncia, bem como pelos trabalhadores, dos métodos que 
otimizassem o trabalho, tarefa que seria efetivada pela ger̂n-
cia, através de experimentaç̃es sistemáticas de controle de 
tempos e de movimentos. Uma vez descobertos, os métodos 
foram repassados aos trabalhadores que se transformaram em 
executores de tarefas pré-definidas. V̂-se aqui a diminuição 
de espaços voltados ̀ auto-organização3 dos trabalhadores, 
típicos da época e do então estágio de desenvolvimento das 
forças produtivas4, rígidas, controladoras, hierarquizadas e 
com tarefas compartimentadas e meĉnicas. O salário tinha 
uma relação estreita com o tempo de execução da tarefa, da 
3 Ver glossário ao final do capítulo.
4 Ver glossário ao final do capítulo.
8 Sociedade e Contemporaneidade
jornada de trabalho. Veremos posteriormente que essa relação 
entre tempo e salário modifica-se na atualidade.
Primeiro foi a substituição das ferramentasmanuais pelas 
máquinas; depois, a eletricidade e o motor de combustão in-
terna, bem como o início das tecnologias de comunicação, 
como o telégrafo e o telefone, sendo ambos períodos mar-
cados por transformaç̃es constantes e de grande velocidade 
(CASTELLS, 1999). A ĝnese da Terceira Revolução Industrial 
encontra-se no período Pós Segunda Guerra Mundial, quando 
as ind́strias química e eletr̂nica desenvolveram-se. Tempo e 
espaço são dimens̃es centrais para entendermos as mudan-
ças pelas quais a sociedade vem passando, o tempo hoje é 
atemporal (as respostas se dão em tempo real) e o espaço é 
desterritorializado (daí vivemos em uma aldeia global).
A transformação do modelo produtivo começou a se apoiar 
nas tecnologias que já vinham surgindo nas décadas do pós-
-guerra e nos avanços das novas tecnologias da informação. 
Em substituição ao taylorismo (americano), o método de pro-
dução japon̂s (toyotismo) combina máquinas de alta comple-
xidade com uma nova forma gerencial e administrativa de pro-
dução, menos hierarquizada. As empresas estão achatando 
suas tradicionais pir̂mides organizacionais e delegando, cada 
vez mais, a responsabilidade pela tomada de decisão ̀s equi-
pes de trabalho. Hoje, os computadores e dispositivos móveis 
tornam-se a principal ferramenta em quase todos os setores 
da economia, do conhecimento, da informação e, também, 
requisito primordial ao trabalhador.
Capítulo 1 A Sociedade Contempor̂nea: Uma Rede Din̂mica 9
Na relação entre capital (recursos) e trabalho (mão 
de obra), típica do nosso período histórico, um novo perfil de 
trabalhador é exigido pelo mercado, com maior valorização 
de sua capacidade criativa. As tecnologias, hoje disponíveis, 
demandam novas compet̂ncias aos trabalhadores, para além 
de meras habilidades, restritas a tarefas repetitivas e rígidas. A 
valorização de compet̂ncias humanas, em meio ao proces-
so produtivo, leva diversos autores a denominar a sociedade 
atual como sociedade do conhecimento. A maior exiĝncia 
de qualificação da mão de obra aumenta também o fosso 
de desempregados e subempregados. Ou seja, a inclusão 
social, hoje, passa pela inclusão digital.
Quanto aos pressupostos da Sociedade Informacional, 
Castells (1999) distingue modo de desenvolvimento de modo 
de produção. O modo de produção diz respeito ̀ forma como 
é distribuído o produto do trabalho, como são feitos a apro-
priação e o uso do excedente e podendo ser, portanto, capi-
talista (sob o domínio do capital), ou estadista (sob o domínio 
e controle do Estado). Já o modo de desenvolvimento é deter-
minado pelo elemento principal para a produtividade, outrora 
o modo de desenvolvimento agrário (cuja riqueza maior era a 
posse da terra), depois a ind́stria (fontes de energia, industria-
lismo) e, hoje em dia, o controle e a produção de informação 
(informacionalismo). Tratam-se de “procedimentos mediante 
os quais os trabalhadores atuam sobre a matéria para gerar o 
produto, em ́ltima análise, determinando o nível e a qualida-
de do excedente” (CASTELLS, 1999, p. 34).
Historicamente, os modos de desenvolvimento modelam o 
comportamento social e, inclusive, a comunicação simbólica 
10 Sociedade e Contemporaneidade
dos povos. No modo de desenvolvimento informacional, as 
relaç̃es técnicas de produção difundem-se por todo o con-
junto de relaç̃es e estruturas sociais, ou seja, há uma íntima 
ligação entre cultura e forças produtivas que tende a trazer o 
surgimento de novas formas históricas de interação, controle 
e transformação social. As instituiç̃es, as companhias e a so-
ciedade em geral transformam a tecnologia, qualquer tecno-
logia, apropriando-a, modificando-a, experimentando-a [...] 
esta é a lição que a história social da tecnologia ensina [...]. 
A comunicação consciente (linguagem humana) é o que faz 
a especificidade biológica da espécie humana. Como nossa 
prática é baseada na comunicação, e a Internet transforma 
o modo como nos comunicamos, nossas vidas são profun-
damente afetadas por essa nova tecnologia da comunicação 
(CASTELLS, 2003).
Se, ao longo da história da humanidade, a riqueza este-
ve sempre ligada ̀ posse e ao controle de recursos materiais 
como a terra, o ouro, o petróleo (fonte de energia); hoje a 
riqueza não é algo material, palpável, ela é imaterial: o co-
nhecimento. O conhecimento é a fonte primária de riqueza na 
sociedade pós-industrial. A revolução tecnológica e a transfor-
mação social estão ligadas ̀ penetrabilidade da informação 
por toda a estrutura social, daí que o grau de desenvolvimento 
das sociedades, atualmente no modo de desenvolvimento in-
formacional, tem no ńmero de computadores por habitante 
um indicador fundamental (CASTELLS, 1999). Ao transformar 
e produzir tecnologia, em busca de novos conhecimentos e 
novas formas de processamento das informaç̃es, nossa so-
ciedade acaba inevitavelmente se organizando em forma de 
rede, sendo esta uma de suas características principais. Hoje, 
Capítulo 1 A Sociedade Contempor̂nea: Uma Rede Din̂mica 11
com a acentuação da globalização através das NTIC, redi-
mensionam-se as noç̃es de espaço e de tempo, e ao aproxi-
mar dist̂ncias e comunicar os fatos em tempo real, as novas 
mediaç̃es permitem que muitas intervenç̃es no contato entre 
as pessoas possam acontecer. O maior ńmero de mediaç̃es 
faz com que as pessoas interajam mais, o que aumenta a ve-
locidade dos fen̂menos e a sua complexidade.
O que é inerente ̀ sociedade informacional é o fato de 
as tecnologias agora disponíveis ampliarem, em quantidades 
impensáveis e imprevisíveis, as aç̃es humanas e o seus alcan-
ces, quaisquer que sejam essas aç̃es, boas ou ruins. Imagine, 
por exemplo, que pela internet podemos realizar uma obra 
social, mas também organizar uma briga de torcidas organi-
zadas de futebol. Imagine a extensão da ação de um pedófilo, 
por exemplo, que antes tinha apenas os grupos familiares e os 
vizinhos como potenciais alvos de sua ação. Hoje ele tem o 
mundo todo.
Concomitantemente, novos espaços e formas de articula-
ção são potencializados pois a informação, fonte de poder na 
sociedade informacional, é mais socializada fazendo com que 
relaç̃es sociais antes desconhecidas, venham ̀ tona modi-
ficando culturas. A maior visibilidade dos fen̂menos sociais 
faz com que estes sejam construídos através de relaç̃es cada 
vez mais secundárias e menos primárias: “[...] vivemos numa 
época de mundialização, todos os nossos grandes proble-
mas deixaram de ser particulares para se tornarem mundiais 
[...]” (MORIN, 1999, p. 19). Os fen̂menos sociais, hoje, são 
construídos de forma cada vez mais complexa, necessitando 
por parte do analista outros “óculos”, daí o uso da categoria 
12 Sociedade e Contemporaneidade
de análise “Rede Din̂mica”. A “Rede Din̂mica” é um concei-
to que condensa a complexidade e a diversidade do mundo 
atual, e os potenciais trazidos pelas novas mediaç̃es que ca-
racterizam a Terceira Revolução Industrial. Manuel Castells de-
monstra a lógica que rege a teia que une e move as ińmeras 
mutaç̃es verificadas no social, estreitamente associadas ao 
ritmo veloz com que ocorrem, denominadas por ele de socie-
dade informacional. Há uma lógica de funcionamento desse 
nosso mundo aparentemente ilógico, mesmo construído com 
um grau cada vez maior de imprevisibilidade e de incerteza. 
Tal lógica é a lógica da rede ̀ qual vivemos conectados, in-
terligados, interdependentes. Trata-se de um novo paradigma 
que perpassa a din̂mica social. A figura abaixo apresenta as 
dimens̃es do conceito de Rede Din̂mica:
O movimento de produção das sociedades sempre foi, ao 
longo da História, auto-eco-organizativo, porém, na Tercei-
Capítulo 1 A Sociedade Contempor̂nea: Uma Rede Din̂mica 13
ra Revolução Industrial, ou era pós-industrial temos mais es-
paços para realizar os nossos potenciais, pois as mediaç̃es, 
hoje, t̂m mais elementos voltados ̀ autonomia, estão mais 
de acordo com o ritmo de cada um. Por exemplo, não neces-
sitamos mais aguardar o ritmoe a boa vontade do caixa do 
banco para pagarmos uma conta. Não precisamos sequer nos 
deslocar até o banco (cujo atendimento presencial está, aliás, 
em extinção), mas precisamos de conhecimento sobre como 
operar uma transfer̂ncia bancária pelo computador. Temos 
hoje, potencialmente, melhores condiç̃es de interagir com o 
social a partir de uma postura mais aut̂noma. O pressupos-
to de produção das sociedades, atualmente, constrói-se do 
individual para o coletivo, através dos movimentos que desen-
cadeiam seus agentes, das energias e interesses dos agentes 
individuais para o todo. Trata-se, também, por isso, de uma 
sociedade eminentemente aprendente, no sentido de poder 
constituir-se enquanto um espaço de formação para os seus 
agentes (ALMEIDA NETO, 2007).
Há, hoje em dia, a necessidade de forjar um novo habitus5 
no trabalhador, mais flexível e que acompanhe esse frenético 
ritmo de inovaç̃es. Como as tecnologias rompem as barrei-
ras de tempo e de espaço, observa-se uma descentralização 
crescente das tarefas no ̂mbito do trabalho (do emprego em 
processo de extinção). A remuneração não se dá mais na re-
lação direta entre tempo e salário, ou seja, não se calcula 
mais em função do tempo em que o trabalhador cumpre sua 
jornada na empresa, fábrica, mas sim pelo produto do seu tra-
5 Ver glossário ao final do capítulo.
14 Sociedade e Contemporaneidade
balho. Assim, o controle do tempo passa ̀ mão do trabalha-
dor. Emergem profissionais liberais com vários empregadores 
e que t̂m na mobilidade de sua mão de obra um diferencial. 
As tecnologias permitem essa fluidez nos locais de trabalho, 
atualmente em grande parte restritos ao computador pessoal, 
ou mesmo a um celular de ́ltima geração. Esse novo profis-
sional é ele próprio sua empresa.
Na sociedade informacional tende a envelhecer a organiza-
ção cuja capacidade de reestruturação, de desburocratização 
das aç̃es e agilidade na gestão sejam limitadas. Aqui, repor-
tamo-nos a uma outra dimensão que caracteriza a sociedade 
do conhecimento, a de não se organizar em uma perspectiva 
apenas local, mas sim glocal. A riqueza da sociedade em rede 
está em sua diversidade e não na uniformidade, temos condi-
ç̃es de explorar a diversidade dos agentes que a comp̃em, 
os diversos e impensáveis capitais que possuem, que formam o 
que Levy denomina de inteliĝncia coletiva, coletivos inteligen-
tes a serem construídos de forma intencional pela Rede. Levy 
refere a engenharia do laço social como “a arte de suscitar 
coletivos inteligentes e valorizar ao máximo a diversidade das 
qualidades humanas” (LEVY, 1998, p. 32). Quanto melhor os 
grupos humanos conseguem se constituir em coletivos inteli-
gentes, em sujeitos cognitivos, abertos, capazes de iniciativa, 
de imaginação e de reação rápidas, melhor asseguram seu su-
cesso no ambiente altamente competitivo que é o nosso (LEVY, 
1998).
Outra dimensão da metáfora “Rede Din̂mica” é a visi-
bilidade, a “aldeia global” é possibilitada pelas NTIC que 
permitem fazer circular as informaç̃es internas e externas, o 
Capítulo 1 A Sociedade Contempor̂nea: Uma Rede Din̂mica 15
que a torna também cada vez mais interdependente e, por 
isso, também, mais complexa. Quando Levy refere o potencial 
democrático da sociedade informacional, ele fala da possibi-
lidade de construção de coletivos inteligentes que valorizem 
a diversidade das ińmeras redes que a din̂mica do social 
constrói e reconstrói, que escapem de controles verticalizados, 
que misturem lazer, cultura, trabalho e produção, pois se inse-
rem na lógica econ̂mica dos mercados. É importante ressal-
tar que, inevitavelmente, toda a sociedade está sendo afetada 
pela nova din̂mica social, fato que reforça a import̂ncia de 
lançar um olhar que d̂ conta destas transformaç̃es.
1.2 Movimentos Sociais: o poder em 
xeque na Sociedade em Rede 
Dinâmica
Como forma de materializar esse conceito abstrato na aproxi-
mação com a realidade contempor̂nea, podemos nos repor-
tar ̀s manifestaç̃es que ocorreram no ano de 2013 no Brasil, 
na esteira de outros movimentos sociais concomitantes que fo-
ram observados em outros países. Se as relaç̃es humanas e 
sociais são relaç̃es de poder e de dominação, as relaç̃es de 
poder na sociedade da informação são colocadas em xeque 
frente ao potencial democrático e revolucionário da sociedade 
em rede, inerente ao nosso novo ecossistema informacional, 
digital. Em primeiro lugar, trata-se de uma relação horizonta-
lizada e não verticalizada. A informação que sempre foi fonte 
de poder é hoje socializada e reconstruída a todo instante, sem 
16 Sociedade e Contemporaneidade
um controle central. A Rede Din̂mica é horizontal, democrá-
tica, não linear.
A cultura associada ̀s novas tecnologias é a cultura da 
autonomia, muito presente na relação dos jovens (geração 
internet), em relação ̀s instituiç̃es e aos poderes instituídos 
da sociedade. As práticas nas redes sociais materializam essa 
cultura que se choca com a cultura, por exemplo, da sala de 
aula, cujo tipo de organização (escola) é ainda vertical e tra-
dicional, assim como de outras tantas instituiç̃es tipicamente 
modernas (rígidas, hierarquizadas, burocráticas, controlado-
ras). Nas palavras de Castells (2012) a nova cultura da auto-
nomia empodera os jovens e traz a eles felicidade. Traz felici-
dade, pois a internet aumenta duas áreas fundamentais para 
isso, a sociabilidade e o empoderamento.
A Rede não tem centro, começo, nem fim, tem várias entra-
das e várias saídas. Sendo assim, os movimentos sociais que 
emergiram em 2013 começaram na Internet, estes são: “espa-
ços de autonomia, muito além do controle de governos e em-
presas que monopolizavam os canais de comunicação como 
alicerces de seu poder” (CASTELLS, 2012, p. 7). Assim, “indi-
víduos formaram redes [...] uniram-se e sua união os ajudou 
a superar o medo, essa emoção paralisante em que poderes 
constituídos se sustentam”. Bem de acordo com a velocidade 
que distingue nosso tempo, “os movimentos espalharam-se 
por contágio num mundo ligado pela internet caracterizado 
pela difusão rápida, viral, de imagens e ideias”.
Como vivemos em uma aldeia global e em rede, podería-
mos perguntar onde começaram os movimentos? Desenvolve-
Capítulo 1 A Sociedade Contempor̂nea: Uma Rede Din̂mica 17
ram-se em rede: no mundo árabe, Espanha, Grécia, Portugal, 
Itália, Grã-Bretanha, além de Israel e Estados Unidos, Ásia e 
Brasil, Tunísia e Isl̂ndia.
Mas o que há de comum entre todos eles? Observa-se que 
“em todos os casos, os movimentos ignoraram partidos polí-
ticos, desconfiaram da mídia, não reconheceram nenhuma li-
derança e rejeitaram toda a organização formal, sustentando-
-se na internet e em assembleias locais” (CASTELLS, 2012, p. 
16). E de onde v̂m os movimentos sociais? “São a resposta 
̀s injustiças de todas as sociedades: exploração econ̂mica; 
pobreza desesperançada” (idem). São ainda frutos da “desi-
gualdade injusta; comunidade política antidemocrática; Esta-
dos repressivos; Judiciário injusto; racismo; xenofobia; nega-
ção cultural; censura; brutalidade policial; incitação ̀ guerra; 
fanatismo religioso; descuido com o nosso planeta azul; des-
respeito ̀ liberdade pessoal; violação da privacidade; geron-
tocracia; intoler̂ncia; sexismo; homofobia e outras atrocida-
des que retratam os monstros que somos nós” (2012, p. 16). 
Qualquer relação com o cenário político brasileiro atual, não 
é mera coincid̂ncia.
Dessa forma, os movimentos transformaram o medo em 
indignação e a indignação em esperança. Isso porque as re-
laç̃es de poder são constitutivas da sociedade, pois aqueles 
que t̂m o poder constroem as instituiç̃es conforme seus va-
lores e interesses. E quais as formas de exercer o poder? Pela 
coerção (viol̂ncia exercida pelo Estado) e/ou pela construção 
de significados na mente das pessoas, mediante mecanismos 
de manipulação simbólica. Até porque “torturar corpos é me-
nos eficaz que moldar mentalidades” (idem, p. 11). Mas onde 
18 Sociedade e Contemporaneidadehá poder há também contrapoder, pois, “esse processamento 
mental é condicionado pelo ambiente da comunicação, e a 
mudança do ambiente (como observamos com as NTIC) afeta 
diretamente as normas de construção de significado e, portan-
to, as relaç̃es de poder” (2012). Como vimos a comunicação 
que temos hoje é de “todos com todos”, uma comunicação 
em massa, baseada em redes horizontais de comunicação in-
terativa que, geralmente, são difíceis de controlar por parte de 
governos ou empresas, “por isso empresas e governos temem 
a internet” (idem, p. 12).
Se é verdade que o ciberespaço é também um espaço, 
um lugar, é preciso que um movimento que ocorre neste novo 
lugar, imaterial, materialize-se nos espaços ṕblicos locais, 
urbanos. Pois “ao assumir e ocupar o espaço urbano, os ci-
dadãos reivindicam sua própria cidade, uma cidade da qual 
foram expulsos pela especulação imobiliária e pela burocracia 
municipal”. Não é por acaso que observamos de forma cres-
cente a substituição de espaços ṕblicos, voltados ao interesse 
ṕblico (nem do Estado nem do mercado), por espaços de 
consumo. Shoppings centers, por exemplo, não são espaços 
ṕblicos, são espaços privados e voltados ao consumo e não 
̀ conviv̂ncia social.
Se uma das características principais da rede din̂mica e 
do nosso tempo é a velocidade, cabe ressaltar o quão ef̂me-
ros foram e são esses movimentos, ”constituem assim, comu-
nidades instant̂neas de prática transformadora”. Interessante 
observar o poder de viralização de postagens e mobilizaç̃es 
nas redes sociais, em torno de determinadas causas, a uma 
velocidade impensada e atingindo um ńmero expressivo de 
Capítulo 1 A Sociedade Contempor̂nea: Uma Rede Din̂mica 19
pessoas. Essa é uma possibilidade associada a características 
das novas tecnologias e do grau de comunicação e interação 
que engendram. Ou seja, após postada uma mensagem na 
rede, ela assume “vida própria”, não tem mais dono, é por 
natureza imprevisível uma mensagem auto-eco-organizativa.
Lembro de um caso emblemático que ocorreu justamente 
nesse período em sala de aula, quando uma aluna expressou 
sua preocupação e pavor com o fato de que, na esteira das 
mobilizaç̃es dos jovens que ocorreram concomitantemen-
te (em rede) em diversas cidades do Brasil e do Rio Grande 
do Sul, ela havia proposto uma mobilização com o objetivo 
de qualificar e garantir o transporte de sua cidade do inte-
rior gácho até a universidade e de forma gratuita. A aluna 
relatou que em poucos minutos havia mais de 100 curtidas, 
comentários e compartilhamentos e que, ao longo do dia, na 
medida em que aumentavam as curtidas e interaç̃es a partir 
de sua provocação, ela havia arrastado, involuntariamente, 
uma multidão de jovens até a frente da prefeitura da cidade 
para protestar e pressionar. Trata-se de um caso sintomático, 
pois “no Brasil, sem que ninguém esperasse [...] sem líderes e 
sem partidos nem sindicatos [...] um grito de indignação contra 
o aumento do preço dos transportes reuniu multid̃es em mais 
de 350 cidades” (CASTELLS, 2012, p. 178). Um dos motivos 
das manifestaç̃es, mas não o ́nico, foi a questão do preço 
do transporte ṕblico, o Passe Livre, pois “ a mobilidade é um 
direito universal e a imobilidade estrutural das metrópoles bra-
sileiras é resultado de um modelo caótico [...] produzido pela 
especulação imobiliária e pela corrupção municipal” (idem, 
anterior). E ainda, na esteira desse processo ”um transporte 
20 Sociedade e Contemporaneidade
a serviço da ind́stria do automóvel, cujas vendas o governo 
subsidia” (idem, anterior).
O movimento colocou em cheque o neopatrimonialismo 
brasileiro, tanto a classe política como as instituiç̃es políti-
cas, modernas, burocráticas, morosas e que usam a demo-
cracia a serviço dos profissionais da política. Exigiu também 
mais democracia não mais reduzida a “um mercado de votos 
em eleiç̃es realizadas de tempos em tempos, mercado do-
minado pelo dinheiro e pelo clientelismo e pela manipulação 
midiática” (idem, p. 179). Colocou em xeque a classe política 
pela própria natureza e morfologia do movimento, em rede 
din̂mica. Afinal: em uma manifestação sem líderes, ou com 
ińmeros líderes, com quem negociar? Quem cooptar? Como 
comprar o líder?
As lideranças, assim como o próprio movimento, são ef̂-
meras, fluidas. Por essa razão, essas manifestaç̃es pegaram 
a todos desprevenidos: políticos, mídia, intelectuais (sobretu-
do os modernos) e sociedade como um todo: “milhares de 
pessoas eram ao mesmo tempo indivíduos e coletivos, sempre 
conectadas em rede e enredadas na rua, mão na mão, tuítes a 
tuítes, post a post, imagem a imagem” (idem, 2012). Tratou-se 
de um movimento dos jovens, da cultura da internet “[...] que 
a gerontocracia dominante não entende e suspeita, quando 
seus próprios filhos e netos se comunicam pela internet e ela 
sente que está perdendo o controle” (idem, p. 179). E não há 
mesmo como ter controle, imprevisibilidade é uma das dimen-
s̃es da rede din̂mica, “pois a autocomunicação de massas 
é a plataforma tecnológica da cultura da autonomia” (idem, 
p. 180).
Capítulo 1 A Sociedade Contempor̂nea: Uma Rede Din̂mica 21
Ińmeras foram as bandeiras desse movimento em rede, 
bem de acordo com a diversidade e complexidade que carac-
terizam nosso tempo: transporte ṕblico gratuito; a corrupção 
entre o Estado e a especulação imobiliária; o meio-ambiente 
e a diversidade (inclusive o direito dos homossexuais); o di-
nheiro gasto na copa; a PEC 37 (proposta de emenda cons-
titucional); a sáde e a segurança ṕblica; o salário do Ney-
mar. O movimento contemplava ińmeras bandeiras, inclusive 
antidemocráticas. Mas havia algo ainda mais em comum: a 
restrição aos políticos e aos partidos, essas estruturas políticas 
tipicamente modernas (hierarquizadas, com caciques, chefes). 
Todos disseram “chega” ̀ política tradicional feita pelos e para 
os políticos, para a elite econ̂mica aliada ao Estado em todas 
as suas formas.
Hoje a capacidade de mobilização das pessoas é espon-
t̂nea, não depende da permissão de um partido de massa, 
como ocorria nas antigas manifestaç̃es. O paradoxo é que 
temos instituiç̃es “democráticas” piramidais para atender as 
demandas em rede (horizontais). Outro aspecto central ̀ essa 
análise está ligado ̀ nova visibilidade típica da sociedade 
contempor̂nea. O movimento não foi em nada pautado pela 
mídia tradicional, aliás, de pouca import̂ncia na vida cada 
vez mais individualista, customizada e aut̂noma dos jovens. 
Assim, rompe-se o monopólio da opinião e da informação que 
circula, pois cada elemento da rede é a mídia, com seu celular 
ligado e registrando em tempo real os fatos, retroagindo sobre 
outros fatos e outras postagens (informaç̃es), exercitando as-
sim a inteliĝncia coletiva. Por fim o movimento, assim como 
a rede, é fluído, flexível e ef̂mero, pode desaparecer, como 
desapareceu realmente aqui no Brasil e reaparecer com outra 
22 Sociedade e Contemporaneidade
roupagem, outros propósitos, novas bandeiras, afinal a rede 
é din̂mica.
Finalizando esse capítulo aponto para a absoluta imprevisi-
bilidade que distingue nosso tempo e que desafia os intelectuais, 
e a mudança radical que as novas mediaç̃es trouxeram e v̂m 
instaurando na vida das pessoas e das sociedades, pois “o que 
é irreversível no Brasil e no mundo é o empoderamento dos 
cidadãos, sua autonomia comunicativa e a conscîncia dos 
jovens de que tudo que sabemos do futuro é que eles o farão” 
(CASTELLS, 2012, p. 182). Mas fiquemos atentos, pois tudo 
ainda está por se definir, o ciberespaço é também uma arena 
de lutas, de disputas e as forças conservadoras t̂m uma ca-
pacidade imensa de reorganização e reestruturação. Assim ao 
instrumentalizar os alunos e os jovens, sobretudo, a respeito 
dos códigos que distinguem nosso tempo, neste diálogo ne-
cessário com a cîncia, pensamos poder contribuir para esse 
fazer e esse novo devir.
Glossário
Auto-organização - Os seres vivos são auto-organizadores 
que se autoproduzemincessantemente. O princípio de auto-
-eco-organização vale, evidentemente, de maneira específica 
para os humanos, que desenvolvem a sua autonomia na de-
pend̂ncia da cultura, e para as sociedades que dependem do 
meio geoecológico (MORIN, 1999, p. 33).
Capítulo 1 A Sociedade Contempor̂nea: Uma Rede Din̂mica 23
Ciberespaço - É o novo meio de comunicação que surge 
da interconexão mundial dos computadores. O termo espe-
cifica não apenas a infra-estrutura material da comunicação 
digital, mas também o universo ocênico de informaç̃es que 
ela abriga, assim como os seres humanos que navegam e ali-
mentam esse universo (LEVY, 1999, p. 17).
Força produtiva - Força produtiva não é senão a capaci-
dade de trabalhar real dos homens vivos: a capacidade de 
produzir por meio do seu trabalho e com a utilização de de-
terminados meios materiais de produção, os meios materiais 
para a satisfação das necessidades sociais da vida, o que quer 
dizer em condiç̃es capitalistas, a capacidade de produzir mer-
cadorias. Tudo o que aumenta esse efeito útil da capacidade 
humana de trabalhar (e portanto, em condiç̃es capitalistas, 
inevitavelmente também o lucro dos seus exploradores) é uma 
nova força produtiva social. Disponível em: <https://comu-
nism0.wordpress.com/o-conceito-de-forcas-produtivas/>.
Habitus - “é um sistema adquirido de prefer̂ncias, de prin-
cípios de visão e de divisão (o que comumente chamamos de 
gosto), de estruturas cognitivas duradouras (que são essencial-
mente produto da incorporação de estruturas objetivas e de 
esquemas de ação que orientam a percepção da situação e a 
resposta adequada). O habitus é essa espécie de senso práti-
co do que se deve fazer em dada situação [...]” (BOURDIEU, 
1997, p. 42).
24 Sociedade e Contemporaneidade
Recapitulando
 Â A história da humanidade, das relaç̃es humanas e so-
ciais esteve sempre, senão determinada, altamente in-
fluenciada pelas tecnologias disponíveis em cada perío-
do.
 Â As tecnologias mudam as formas de produção de rique-
za e de distribuição destas riquezas.
 Â Novas formas de produção engendram novas formas de 
relaç̃es e modificam culturas, transformando socieda-
des.
 Â Modos de produção são as formas como são produzi-
das e, sobretudo, distribuídas as riquezas de uma socie-
dade. Podem ser estatais (sobre o controle do estado, 
estatismo) e capitalistas (sobre o controle das empresas 
privadas).
 Â Modo de desenvolvimento refere-se ̀quilo que produz 
a riqueza de uma sociedade, podem ser agrário, cuja 
maior fonte de riqueza é a terra; industrial (ind́stria) e 
informacional (a informação).
 Â A revolução industrial teve tr̂s grandes rupturas, tr̂s 
grandes transformaç̃es, todas associadas ̀s tecnolo-
gias disponíveis nesses períodos históricos.
 Â Vivemos no modo de desenvolvimento informacional 
que rompe com as noç̃es clássicas de tempo e de es-
paço, impondo uma nova velocidade aos fen̂menos 
sociais.
Capítulo 1 A Sociedade Contempor̂nea: Uma Rede Din̂mica 25
 Â Os dispositivos comunicacionais complexificam as rela-
ç̃es humanas e sociais, pois se constroem na relação 
todos-todos, sendo assim, essas relaç̃es são construí-
das de forma cada vez mais secundária e menos primá-
ria.
 Â Vivemos na sociedade em rede com maior velocidade e 
visibilidade nos fen̂menos sociais.
 Â O indivíduo e a formação demandada a ele são centrais 
para a nova produção do social, por isso “ganhamos 
em liberdade, mas perdemos em certezas”.
 Â Temos a capacidade de disseminar e compartilhar nos-
sos conhecimentos, construindo coletivos inteligentes.
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26 Sociedade e Contemporaneidade
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Acesso em: 08 jan. 2004.
Atividades
 1) Assinale a alternativa incorreta:
a) As tecnologias são centrais para a produção das so-
ciedades, pois constituem-se em mediaç̃es, em meio 
de comunicação entre os homens.
b) O que há de novo hoje, na sociedade informacional, 
é o papel central que assume a mídia de massa como 
a televisão, o jornal e o rádio.
28 Sociedade e Contemporaneidade
c) A internet revoluciona o mundo e a forma como nos 
comunicamos uns com os outros, pois coloca em rela-
ção direta todos com todos.
d) Vivemos em um mundo onde a velocidade e a visibi-
lidade transformam as relaç̃es primárias em relaç̃es 
construídas cada vez mais de forma secundária.
e) As novas mídias permitem a construção de uma Inte-
liĝncia coletiva pela maior possibilidade que cria de 
conexão entre as pessoas.
 2) Quanto ̀ diferença entre modos de produção e modos de 
desenvolvimento é correto afirmar que:
a) Modos de desenvolvimento referem-se ̀ forma como 
é distribuída a riqueza do trabalho do homem.
b) Informacionalismo é o modo de produção típico do 
capitalismo industrial.
c) No modo de produção capitalista, o controle da distri-
buição do produto do trabalho é do Estado.
d) O modo de desenvolvimento é determinado pelo ele-
mento principal para a produtividade, antes agrário, 
depois industrial e hoje informacional.
e) No modo de desenvolvimento agrário a principal fonte 
de produção de riqueza foi a ind́stria.
 3) A sociedade, atualmente, organiza-se em rede, em Rede 
Din̂mica nas palavras de Castells. Quais das alternativas 
Capítulo 1 A Sociedade Contempor̂nea: Uma Rede Din̂mica 29
abaixo não apresentam dimens̃es do conceito de Rede 
Din̂mica?
a) Visibilidade, fluidez, velocidade.
b) Autonomia, aumento do potencial democrático, flui-
dez.
c) Rigidez, controle, relaç̃es verticalizadas.
d) Interdepend̂ncia, auto-organização, complexidade.
e) Indeterminação, abertura, flexibilidade.
 4) Não são características do novo mundo do trabalho hoje:
a) A demanda por trabalhadores com ińmeras compe-
t̂ncias, muito além de habilidades restritas a tarefas 
pré-determinadas.
b) A remuneração em função do produto do trabalho em 
detrimento ao tempo gastona função.
c) A incerteza e a constante necessidade de reinvenção 
de produtos e de trabalhadores.
d) O fim do emprego mas não o fim do trabalho.
e) O controle cada vez mais rígido por parte das ger̂n-
cias das empresas, sobretudo empresas de ponta.
 5) Quais das alternativas abaixo não são características da 
cultura associada ̀s novas mídias e ̀ sociedade do co-
nhecimento?
a) Autonomia;
30 Sociedade e Contemporaneidade
b) Empoderamento;
c) Participação;
d) Passividade;
e) Democratização.
Gabriela Ramos de Almeida1
Capítulo 2
Redes Sociais na era 
Digital1
1 Doutora em Comunicação e Informação pela UFRGS (2015), Mestre em Comu-
nicação e Cultura Contempor̂neas pela UFBA (2009), Bacharel em Comunica-
ção Social com Habilitação em Jornalismo pelo Centro Universitário Estácio - FIB 
(2004). Atualmente é professora e pesquisadora no curso de Comunicação Social 
da ULBRA, nas habilitaç̃es em Jornalismo e Produção Audiovisual, e coordenado-
ra adjunta do curso de Jornalismo. Como pesquisadora e docente, atua na área 
de Comunicação, com ̂nfase em Audiovisual, principalmente nos seguintes temas: 
narrativas audiovisuais, cinema documentário, ensaio fílmico, poéticas contempo-
r̂neas, teorias do cinema, teorias da arte e jornalismo em vídeo e televisão.
32 Sociedade e Contemporaneidade
Introdução
A morte de uma dona de casa por espancamento, em 2014, no 
Guarujá (São Paulo), após ter sido “condenada” pelo tribunal 
popular das redes sociais e linchada brutalmente pelos conter-
r̂neos nas ruas do bairro onde vivia, se tornou paradigmático 
ao revelar, a um só tempo, o poder de viralização da informa-
ção na Internet e os perigos decorrentes da falta de cuidado 
e de critério ao tomar como verdade e passar adiante aquilo 
que se l̂ online. Fabiane Maria de Jesus era casada, tinha dois 
filhos ainda pequenos e foi vítima de um boato de uma página 
do Facebook que publicou um suposto retrato falado de uma 
mulher acusada de sequestrar crianças em Bonsucesso, no Rio 
de Janeiro, para praticar rituais de magia negra. Fabiane foi 
confundida com o desenho, atacada na rua e linchada por um 
grupo de pessoas da sua própria cidade, que não questionou 
a veracidade da informação, a data da publicação ou o local 
onde teriam acontecido os crimes atribuídos ̀ mulher (como 
se soube posteriormente, toda a história era falsa: não havia 
sequestro e nem magia negra, e um retrato falado relativo ao 
caso não havia sido divulgado originalmente pela polícia).
Para aumentar os contornos brutais do acontecimento, os 
algozes de Fabiane registraram o linchamento com celulares 
e publicaram vídeos explícitos no YouTube, como se não hou-
vesse problema algum no justiçamento com as próprias mãos; 
na execução sumária de uma pessoa que passa de suspeita 
a culpada, e de culpada a condenada ̀ pena de morte, sem 
sequer saber do que estava sendo acusada, sem ser levada ̀ 
Justiça e sem possibilidade alguma de defesa (física e moral). 
Capítulo 2 Redes Sociais na era Digital 33
Para piorar ainda mais, os vídeos se tornaram virais2, ou seja, 
foram compartilhados por milhares de usuários de redes so-
ciais digitais.
A polícia identificou nos vídeos alguns dos agressores e 
arrolou no processo também o administrador da página do 
Facebook em que o retrato falado foi publicado, que foi res-
ponsabilizado pela divulgação do boato. No entanto, ainda 
que não seja possível culpabilizar criminalmente os usuários 
de redes sociais que compartilharam um boato como se fosse 
verdade, podemos questionar se eles também não são res-
ponsáveis, em alguma medida, pelo trágico desfecho do caso. 
O questionamento se torna ainda mais plausível quando se 
considera que a página em questão não era de um jornal ou 
meio qualquer de imprensa (ou seja, contédo produzido por 
jornalistas profissionais) e sim, apenas uma página amadora 
de divulgação de notícias policiais locais.
O exemplo que abre este texto permite iniciar uma discus-
são sobre diversos aspectos que envolvem a chamada sociabi-
lidade online e alguns fen̂menos a ela associados, especial-
mente o consumo de notícias e de contédo de entretenimento; 
a presença dos indivíduos nas redes sociais digitais; a criação 
de narrativas pessoais sobre suas próprias vidas; os laços que 
2 Mendes J́nior e Costa definem o viral como algo que “se refere ̀ forma 
de comunicação cuja din̂mica replica a da introdução de um vírus num 
sistema, disseminação abrangente, veloz e fora de controle. Na era da 
tecnologia, quando milhares de pessoas estão conectados ̀ webesfera o 
tempo todo, ideias são propagadas rapidamente nas redes sociais.” (MEN-
DES JÚNIOR e COSTA, 2014, s/p).
34 Sociedade e Contemporaneidade
estabelecem com outros usuários e os seus comportamentos 
de produção e difusão de informaç̃es e contédos diversos.
Redes sociais “analógicas” sempre existiram em alguma 
medida como espaços de sociabilidade envolvendo grupos 
unidos por laços familiares, profissionais, de amizade ou in-
teresses em comum. Mas, ao mesmo tempo, o cenário que se 
desenha após a popularização da Internet banda larga, das 
redes sociais e dos dispositivos móveis de comunicação (como 
smartphones, tablets e notebooks) embaralha alguns conceitos 
e torna confusos alguns limites que dizem respeito aos fen̂me-
nos mencionados acima como, por exemplo: as fronteiras en-
tre o ṕblico e o privado (muito mais fáceis de serem definidas 
no passado, quando as pessoas se expunham prioritariamente 
em seus círculos pessoais mais próximos); as diferenças entre 
a notícia e o boato; entre um jornalista e um cidadão comum 
que presencia um fato e o relata numa rede social; ou entre 
uma rede social e um veículo de comunicação tradicionalmen-
te instituído. No entanto, antes de avançar, é necessário definir 
o que são exatamente as redes sociais na era digital e estabe-
lecer alguns par̂metros que vão nortear a discussão proposta 
pelo texto.
2.1 As redes sociais como espaços de 
sociabilidade
Talvez as redes sociais não sejam responsáveis pela criação 
de fen̂menos sociais ou comunicacionais até então inexisten-
tes, mas certamente modificam seus modos de operação, ao 
Capítulo 2 Redes Sociais na era Digital 35
afetar a sociabilidade humana ampliando exponencialmente 
o seu alcance. Nossa perspectiva, alinhada com Manuel Cas-
tells, evita o dilema do determinismo tecnológico e considera 
que “a tecnologia é a sociedade, e a sociedade não pode 
ser entendida ou representada sem suas ferramentas tecno-
lógicas” (CASTELLS, 2009, p. 43, grifo do autor). Entretanto, 
algumas quest̃es podem ser levantadas a respeito do modo 
como a tecnologia, em sua inevitável inserção no cotidiano 
dos indivíduos nas sociedades industrializadas, interfere nesta 
sociabilidade.
Muitos exemplos podem ser convocados para exemplificar 
a discussão ou iniciar um debate sobre as possibilidades da 
comunicação pós-redes sociais digitais (qualquer usuário de 
ferramentas e plataformas como Facebook, Instagram, Twitter 
ou YouTube é capaz de citar um caso viralizado que tenha lhe 
chamado muito a atenção). Como explica Raquel Recuero, 
estes fen̂menos representam mudanças nos modos de “orga-
nização, identidade, conversação e mobilização social”, pois 
a comunicação passa a permitir uma capacidade de conexão 
diferente: as redes conectam não apenas computadores, mas 
pessoas (RECUERO, 2010, p. 16-17).
A autora aponta a possibilidade de expressão e sociabi-
lização por meio das ferramentas de comunicação mediada 
pelo computador (e posteriormente pelos demais dispositivos 
móveis, podemos acrescentar) como a principal mudança que 
a Internet trouxe ̀ sociedade. O que define uma rede social, 
segundo Recuero, são seus elementos: “atores (pessoas, insti-
tuiç̃es ou grupos; os nós da rede) e suas conex̃es (interaç̃es 
ou laços sociais)” (RECUERO, 2010, p. 24).
36 Sociedade e Contemporaneidade
Os sites de redes sociais, a exemplo do Facebook, permi-
tem a criação de espaços ṕblicos mediados, ou seja, “am-bientes onde as pessoas podem reunir-se publicamente através 
da mediação da tecnologia” (BOYD apud RECUERO, 2009). 
Estes ambientes guardam algumas características que são de-
finidas por Boyd e recuperadas por Recuero:
• Persistência: Refere-se ao fato de aquilo que foi dito 
permanecer no ciberespaço. Ou seja, as informaç̃es, 
uma vez publicadas, ficam no ciberespaço;
• Capacidade de Busca (searchability): Refere-se à capa-
cidade que esses espaços t̂m de permitir a busca e per-
mitir que os atores sociais sejam rastreados, assim como 
outras informaç̃es;
• Replicabilidade: Aquilo que é publicado no espaço di-
gital pode ser replicado a qualquer momento, por qual-
quer indivíduo. Isso implica também no fato de que essas 
informaç̃es são difíceis de ter sua autoria determinada;
• Audiências Invisíveis: Nos públicos mediados, há a 
presença de audîncias nem sempre visíveis através da 
participação [...] (RECUERO, 2009).
Apesar do lugar de protagonismo que as redes sociais ocu-
pam na sociabilidade do nosso tempo, é importante lembrar 
que elas se expandem fora e além do ambiente virtual, no 
modo como os indivíduos se utilizam delas para criar novos 
laços ou manter os já existentes – laços estes que irão afetar 
a sua vida de forma concreta. E não apenas isso: as pessoas 
passam boa parte do tempo em que estão acordadas aces-
Capítulo 2 Redes Sociais na era Digital 37
sando redes sociais para fins de relacionamento pessoal, mas 
também para falar de si, trabalhar, se informar, divulgar, co-
mentar e compartilhar contédos, tornando mais complexa a 
sua presença online.
Este comportamento contribui para a criação de comuni-
dades virtuais, definidas por André Lemos como agregaç̃es 
“em torno de interesses comuns, independentes de fronteiras 
ou demarcaç̃es territoriais fixas”, instituindo um território sim-
bólico e não físico (LEMOS, 1997, s/p). O alargamento dos 
laços sociais em espaços que não são definidos geografica-
mente constitui uma mudança importante do cotidiano pós-
-redes sociais digitais, embora, como aponta Recuero (2010, 
p. 135), tecnologias anteriores como o telefone e a carta já 
proporcionassem a comunicação entre os indivíduos indepen-
dente de sua presença física num mesmo lugar.
O que ocorre, segundo Lemos, é que o ciberespaço (for-
mado pelas redes informáticas, a realidade virtual e o universo 
multimídia) promove uma forma distinta de cultura que se de-
senha a partir da converĝncia do social com o tecnológico. 
Como aponta o autor, não deixa de ser interessante que a tec-
nologia, vista historicamente como um instrumento de aliena-
ção, desencantamento e individualismo se torne a ferramenta 
promotora de um novo tipo de sociabilidade: “A cibercultura 
que se forma sob os nossos olhos mostra como as novas tec-
nologias são efetivamente ferramentas de compartilhamento 
de emoç̃es, de convivialidade e de retorno comunitário” (LE-
MOS, 1997, s/p).
38 Sociedade e Contemporaneidade
2.2 A construção da presença online
No presente, quando falamos em redes sociais, as refer̂n-
cias imediatas são Facebook, Twitter e Instagram. No entan-
to, alguns anos antes da popularização destas ferramentas 
já existiam outras plataformas de autopublicação e troca de 
mensagens que permitiam a qualquer usuário da rede pro-
duzir e compartilhar seus próprios contédos e opinĩes em 
blogs e fotologs, bem como existiam sites, fóruns e serviços 
de comunicação instant̂nea que os usuários utilizavam como 
chats (a exemplo dos instant messengers como o extinto MSN 
e de sites como Bate-Papo UOL ou Terra Chat, para ficar nos 
brasileiros).
O tipo de uso que deles se fazia é semelhante ao que ocor-
re atualmente, embora as redes mais populares hoje operem 
uma espécie de junção entre as funcionalidades das ferramen-
tas de autopublicação e os serviços de troca instant̂nea de 
mensagens. Este uso que visa ̀ exposição e ao relacionamento 
interpessoal situa-se naquilo que Paula Sibilia (2003) nomeia 
como “imperativo da visibilidade”, um desejo de exibição que 
muitas vezes torna pouco definíveis as fronteiras entre o ṕbli-
co e o privado, a depender de como um sujeito decide existir 
e se expor nas redes sociais digitais. A exist̂ncia de uma rede 
específica para o compartilhamento de fotografias como o Ins-
tagram, por exemplo, denuncia e ao mesmo tempo alimenta a 
lógica da exposição online baseada numa construção de si a 
ser tornada ṕblica.
Para Sibilia (2003, s/p), mais do que simplesmente respon-
der se os limites entre ṕblico e privado se apagaram, é im-
Capítulo 2 Redes Sociais na era Digital 39
portante considerar que a subjetividade contempor̂nea está 
passando por um processo de alteração bastante significativo, 
do qual as redes sociais são sintoma e fomentadoras, mas 
que também aparece na busca por visibilidade presente em 
publicaç̃es como revistas de celebridades, em reality shows, 
documentários em primeira pessoa e biografias e autobiogra-
fias literárias. As chamadas “narrativas do eu” vivem transfor-
maç̃es profundas, “acompanhando as mudanças que estão 
acontecendo em todos os ̂mbitos – marcados pela acelera-
ção, a virtualização, a globalização, a digitalização” (SIBILIA, 
2003, s/p).
A presença online é transformada, portanto, numa espécie 
de “performance” em que o indivíduo alimenta uma projeção 
de si num perfil de rede social (ou de várias, de forma com-
plementar). Há pessoas que passam inclusive a ganhar a vida 
em função desta exposição, transformando seu cotidiano em 
produto a ser consumido por outros usuários das mesmas re-
des: não são artistas, modelos, atletas, políticos ou figuras de 
refer̂ncia em qualquer área. São celebridades da Internet, e 
hoje este título tem valor por si só, principalmente comercial.
Talvez a socialite norte-americana Kim Kardashian seja o 
exemplo maior neste segmento que extrapola em muito as re-
des sociais digitais: ganhou fama após a divulgação de um 
vídeo amador de sexo explícito que ela mesma tornou ṕblico 
(nem a intimidade do ato sexual resistiu ao imperativo da vi-
sibilidade), expandiu sua presença da Internet ̀ comunicação 
massiva tradicional (especialmente a televisão e as publica-
ç̃es impressas) e, enfim, passou a atuar como modelo e em-
presária, nunca deixando de alimentar os seus perfis nas redes 
40 Sociedade e Contemporaneidade
sociais, principal espaço de divulgação do produto que ela 
vende, que é a sua própria persona.
Diferentemente do que quer o senso comum, a ideia de 
performance atrelada ̀ presença online não está vinculada ̀ 
mentira ou ao fingimento, pois as coisas são mais complexas 
do que nos diz o meme segundo o qual todas as pessoas são 
felizes nas redes sociais. O fato de a presença online pressu-
por performance não significa necessariamente que as pesso-
as mintam em relação ao que exp̃em, mas sim que escolhem, 
selecionam aquilo que querem tornar ṕblico a respeito da 
sua vida, trabalho, convívio familiar, interesses pessoais, lazer 
e dos diversos aspectos da sua rotina.
Mesmo que por vezes haja a impressão de superexposição, 
os indivíduos fazem recortes segundo aquilo que consideram 
suas maiores qualidades, ou ainda de acordo com o modo 
como gostariam de ser vistos socialmente. E a partir deste re-
corte, cada um vai construindo as suas possibilidades de so-
cialização nas redes sociais digitais e constituindo grupos de 
interesse. Como explica Recuero:
Judith Donath (1999) sustenta que a percepção do Outro 
é essencial para a interação humana. Ela mostra que, no 
ciberespaço, pela auŝncia de informaç̃es que geral-
mente permeiam a comunicação face a face, as pessoas 
são julgadas e percebidas por suas palavras. Essas pala-
vras, constituídas como express̃es de alguém, legitima-
das pelos grupos sociais, constroem as percepç̃es que 
os indivíduos t̂m dos atores sociais. É preciso, assim, 
colocar rostos, informaç̃es que gerem individualidade e 
Capítulo 2 Redes Sociais na era Digital 41
empatia, na informação geralmente an̂nima dociberes-
paço (RECUERO, 2010, p. 27).
As pessoas constroem, assim, através da distinção, uma 
persona ṕblica “adequada” ̀ s redes sociais digitais que gosta 
de algumas coisas e detesta outras (sim, falar do que se detes-
ta é tão importante quanto falar do que se ama na elaboração 
desta performance); que frequenta determinados ambientes e 
círculos sociais (embora certamente não apenas aqueles que 
mostra); que manifesta opinĩes políticas a partir de um deter-
minado lugar de fala; que tenta tomar cuidado com o que diz 
a depender de quem vai ler. Mas não é esta, afinal, a forma 
como todos nós tentamos nos expor e nos projetar enquanto 
sujeitos nos mais diversos ̂mbitos da vida fora da Internet?
2.3 O consumo e a difusão da informação 
com o advento das redes sociais 
digitais
A seção anterior do texto foi iniciada com menç̃es aos blogs 
e fotologs, apontados como espaços de sociabilidade online 
que antecederam as redes sociais que conhecemos e utiliza-
mos atualmente. É possível, no entanto, apontar uma diferen-
ça fundamental de alcance entre os contédos publicados nos 
blogs dos primórdios da Internet e aquilo que circula nas re-
des sociais do presente: nos blogs, o usuário publicava algo e 
esperava que alguém desempenhasse a ação de ir até a sua 
página para ler o seu contédo (divulgado prioritariamente 
por email e por messengers).
42 Sociedade e Contemporaneidade
Enquanto isso, redes sociais como Facebook e Twitter são 
alimentadas de forma endógena pelos próprios usuários, que 
produzem contédos ou compartilham contédos produzidos 
por terceiros (que podem ou não ser empresas jornalísticas ou 
de entretenimento formalmente constituídas), de acordo com 
uma lógica segundo a qual basta estar online com estas pá-
ginas abertas para “receber” aquilo que seus contatos nestas 
redes irão compartilhar.
A possibilidade de compartilhamento potencializa imensa-
mente o alcance dos contédos, e um post publicado numa 
rede social pode se tornar viral em poucas horas (algo que 
dificilmente acontecia com as publicaç̃es daqueles primeiros 
blogs). Atualmente, o potencial de alcance dos blogs é maior 
do que no passado em função da profissionalização do campo 
e também da possibilidade de viralização dos seus links nas re-
des sociais mais populares. Os blogs foram vistos, inicialmen-
te, como uma forma amadora de divulgação de textos e ideias 
ou como uma espécie de diário virtual, mas hoje, apesar de 
seguirem abrigando contédos amadores e pessoais, também 
formam, em sua vertente mais profissionalizada, um espaço 
importante de produção de contédo e publicação fora do es-
paço convencional dos grandes veículos de comunicação (ou 
mesmo hospedados nos portais destes veículos).
No entanto, o fato de, a princípio, qualquer pessoa poder 
se tornar um produtor de contédo ao publicar um texto, fo-
tografia, vídeo ou informação numa rede social não significa 
que todo usuário produza notícia ou possa ser considerado 
um jornalista. A distinção entre informação e notícia é funda-
mental, especialmente em um momento em que a falta de cri-
Capítulo 2 Redes Sociais na era Digital 43
tério em relação ̀quilo que se decide passar adiante – seja no 
Facebook, no Twitter ou mesmo no Whatsapp – pode resultar 
em tragédias como a da dona de casa Fabiane de Jesus ou, de 
forma menos grave, na destruição da reputação de indivíduos 
e empresas em poucos minutos. Por este motivo é importante, 
também, pensarmos no nosso próprio lugar enquanto consu-
midores e divulgadores de todo tipo de contédo nas redes 
sociais, especialmente aqueles que incluem juízos de valor.
A Internet inaugurou possibilidades até então inéditas de 
autopublicação, ou seja, qualquer pessoa que disponha de 
um computador ou dispositivo móvel com acesso ̀ rede e 
um perfil em rede social ou plataformas de compartilhamento 
como o YouTube pode divulgar o que quiser. Se, antes, tínha-
mos um cenário em que poucas empresas e grupos de comu-
nicação produziam quase todo o contédo e as informaç̃es 
que eram consumidas pelas populaç̃es em escala mundial (o 
que caracterizava a comunicação de massa), atualmente esta 
produção é muito mais difusa e descentralizada, o que tem 
inclusive provocado uma crise no jornalismo como o conhece-
mos e ocasionado enxugamentos em redaç̃es.
No entanto, quando se tem um volume de informaç̃es cir-
culando tão grande que inclusive supera as possibilidades de 
que todas elas sejam efetivamente consumidas, o jornalismo 
opera como um balizador fundamental no sentido de orien-
tar os cidadãos em relação ̀ diferença entre notícias e meras 
informaç̃es produzidas e divulgadas de forma amadora, que 
não passaram pelos processos envolvidos na criação de con-
tédo jornalístico. São algumas destas etapas: elaboração de 
uma pauta, checagem e verificação, apuração, realização de 
44 Sociedade e Contemporaneidade
entrevistas com todos os lados envolvidos e pesquisa docu-
mental, bem como a avaliação dos chamados “valores-notí-
cia” (conjunto de qualidades ou atributos de um fato, que são 
levados em consideração no momento em que se analisa se 
um acontecimento qualquer deve ou não ser noticiado, como 
a quantidade de pessoas envolvidas e a sua import̂ncia so-
cial, fator tragédia, a proximidade local, atualidade, concor-
r̂ncia, perfil editorial da empresa, as chances de interessar a 
um grande ńmero de pessoas, entre outros)3.
É possível que o caso da dona de casa assassinada no 
Guarujá não tivesse um fim trágico e cruel se a história do fal-
so retrato falado tivesse sido devidamente apurada. A notícia 
não seria a suspeita de que uma mulher sequestrava crianças 
para usá-las em rituais de magia negra, e sim que um perigo-
so boato envolvendo um crime falso estava mobilizando uma 
cidade e poderia resultar numa tentativa de vingança por parte 
da população.
Esse equilíbrio entre a liberdade proporcionada pela auto-
publicação na Internet e o respeito ̀ informação de qualidade 
é bastante difícil de ser alcançado, mas a função balizadora 
do jornalismo segue forte: normalmente, quando queremos 
verificar se uma informação publicada numa rede social é ver-
dadeira ou não, consultamos a imprensa tradicional, buscan-
do as rádios conceituadas na produção de notícias, acessando 
os portais dos jornais de maior credibilidade ou mesmo aguar-
dando o noticiário televisivo. O problema ocorre quando o 
3 Ver, a este respeito: TRAQUINA, Nelson. Jornalismo: quest̃es, teorias e estórias. 
Lisboa: Vega, 1999.
Capítulo 2 Redes Sociais na era Digital 45
ímpeto de compartilhar se sobrep̃e ̀ necessidade de saber 
se um fato qualquer é falso ou verdadeiro e quais são as suas 
nuances, contribuindo para a circulação de boatos que só au-
mentam a sensação de confusão e excesso de informação que 
é partilhada por muitos usuários das redes sociais.
A exist̂ncia da imprensa e de veículos de comunicação 
com grande credibilidade construída historicamente não quer 
dizer que o jornalismo é infalível. É possível que o Jornalismo, 
como instituição, nunca tenha sido tão criticado quanto no 
presente. Se, antigamente, tínhamos um cenário em que se 
tomava como verdade absoluta o que era noticiado pelo jor-
nalismo, atualmente as redes sociais não apenas ampliam a 
circulação das notícias como também oferecem outras vis̃es, 
contrapontos, espaços de resposta e desmentidos, exigindo do 
usuário um papel bastante ativo na filtragem e na avaliação 
daquilo que ele consome e que vai ajudar a constituir a sua 
experîncia no mundo.
A relação do jornalismo com as redes sociais, portanto, é 
de retroalimentação, tanto do ponto de vista de quem produz 
notícias quanto de quem consome4: a imprensa baseia a sua 
produção de notícias em parte na repercussão real ou poten-
cial de determinados assuntos nas redes sociais, de modo que 
as redes pautam efetivamente o jornalismo. O contrário tam-
bém ocorre, e as discuss̃es nas redes sociais são pautadas 
4 Sobre a auŝncia de uma vocação essencialmente jornalísticadas redes 
sociais digitais e sua relação de complementariedade com o jornalismo, 
ver o artigo Redes Sociais na Internet, Difusão de Informação e Jornalismo: 
Elementos para discussão, de Raquel Recuero (2009).
46 Sociedade e Contemporaneidade
pelo que o jornalismo noticia, especialmente no ̂mbito da 
política e dos costumes.
Ao mesmo tempo, como consumidores, quando lemos algo 
numa rede social que pode ser contédo amador ou falso, 
buscamos acessar o portal da Folha de São Paulo, da Globo, 
ou localmente da Zero Hora ou da rádio Gácha para veri-
ficar se aquilo é verdade; em seguida, voltamos para a rede 
social e somos expostos ao compartilhamento massivo destas 
mesmas notícias, acompanhado de comentários que confir-
mam, problematizam, desmentem ou complementam aquela 
informação que acabamos de consumir, num fluxo bastante 
complexo e circular. Ocorre que esse fluxo será quase sempre 
determinado por aquilo que cada um escolhe consumir nas re-
des sociais, a depender de quem sejam as suas conex̃es nas 
redes e do tipo de contédo publicado pelas páginas e perfis 
que o indivíduo segue.
Em outros tempos, o máximo que o consumidor de notícias 
e contédos podia fazer era trocar de canal, de estação, desli-
gar a TV ou o rádio e fechar o jornal/revista (mas nunca alterar 
aquilo que tinha sido produzido e estava sendo exposto). Hoje 
em dia, o usuário pode selecionar de forma mais ativa os con-
tédos e as notícias com os quais deseja ter contato de acordo 
com diversos critérios, como o interesse pessoal por um con-
junto de assuntos, o seu posicionamento político-ideológico, 
seus valores familiares, religiosos etc. Assim se decide, por 
exemplo, quais páginas e perfis cada um quer acompanhar.
No entanto, quando as pessoas aplicam esses filtros, por 
vezes acabam restringindo também o seu universo informativo 
Capítulo 2 Redes Sociais na era Digital 47
e de refer̂ncias, fazendo com que a experîncia de consu-
mo de notícias e contédos se baseie somente no que seus 
contatos nas redes e as páginas que segue compartilham. Ao 
mesmo tempo em que esta abertura representa uma possibili-
dade de autonomia do indivíduo que passa a ser responsável 
pelo seu consumo de bens simbólicos, também pode significar 
uma restrição da sua “dieta” informacional e cultural, levando 
a uma interpretação do mundo pouco tolerante e aberta ̀ 
diferença, já que é possível que a pessoa receba apenas con-
tédos com os quais concorda de antemão e que dialogam 
com a sua própria visão de mundo.
Isto pode acontecer a partir do momento em que as pessoas 
passam a tomar como universais alguns conjuntos de par̂me-
tros e valores que na verdade são individuais ou, no máximo, 
dizem respeito apenas ̀quele grupo de pessoas que são suas 
conex̃es nas redes, criando falsos consensos. É importante 
considerar a exist̂ncia de uma relação pendular e dialética 
entre a experîncia individual e a coletividade. Do contrário, 
ao restringir o nosso consumo de informaç̃es apenas ao que 
nos interessa pessoalmente ou a pessoas e páginas que di-
vulgam notícias alinhadas ̀ nossa visão de mundo, podemos 
passar a achar que esses valores são universais.
O consenso sobre um assunto qualquer nas minhas redes 
sociais não significa que aquela é a visão geral da opinião 
ṕblica, apenas que é a visão compartilhada pelos meus con-
tatos (que pode condizer com a visão da opinião ṕblica, mas 
não o vai necessariamente). É fundamental, portanto, que os 
indivíduos sejam capazes de dialogar, inclusive, com outros 
que comungam valores distintos, mas que habitam o mesmo 
48 Sociedade e Contemporaneidade
bairro, cidade, estado, país, contribuindo para a formação de 
uma experîncia coletiva mais plural.
A ideia de performance e de produção de uma projeção de 
si que aparece no uso que é feito das redes sociais digitais está 
associada não apenas ̀quilo de muito pessoal que um sujeito 
publica (como relatos de viagens, impress̃es sobre lugares 
e produtos ou fotografias de momentos íntimos e familiares). 
O que ele comenta, opina e compartilha nas redes também 
constitui uma parte importante desta performance, pois ajuda 
a construir uma persona que comunga de uma determinada 
visão de mundo e utiliza o espaço das redes para manifestá-la.
O modo como nos relacionamos com os indivíduos que 
nos são próximos no contato físico (como parentes, colegas de 
trabalho ou da universidade, amigos etc.) também é afetado 
por essa projeção, pois, ao estabelecer conex̃es nas redes 
sociais com as pessoas que conhecemos pessoalmente, toma-
mos contato com opinĩes e interesses que por vezes nos eram 
desconhecidos, descortinando outras facetas destas pessoas, 
para o bem e para o mal. Podemos dizer que a experîncia 
da rede social não se encerra no ambiente virtual, e sim trans-
cende a vida concreta. E porque, também, é fundamental agir 
nas redes sociais com a mesma responsabilidade e critério que 
pautam a vida fora delas.
Capítulo 2 Redes Sociais na era Digital 49
Recapitulando
Este capítulo buscou discutir a participação dos usuários nas 
redes sociais digitais a partir de algumas noç̃es centrais, a sa-
ber: a rede social como espaço de sociabilidade; a construção 
da presença online; a exposição de si e o consumo e difusão 
da informação. Estes aspectos estão todos articulados entre 
si, pois é justamente em função da organização de uma rede 
social como espaço de sociabilidade que o indivíduo ao mes-
mo tempo se informa, difunde informaç̃es e performatiza, ou 
seja, se exp̃e no nível pessoal e usa as próprias informaç̃es 
que difunde como forma de construir uma imagem de si.
A ideia de performance online não se dá apenas em função 
do borramento das fronteiras entre ṕblico e privado, como na 
exposição pessoal, na publicação de fotos ou no ato de tornar 
ṕblico aspectos e fatos da vida íntima. Aquilo que compar-
tilhamos em termos de contédo, o cuidado que temos (ou 
que nos falta) no momento de difundir informaç̃es e o que 
aprovamos ou rechaçamos no momento em que manifesta-
mos nossas opinĩes também constituem a nossa presença nas 
redes sociais.
Referências
CANCLINI, Néstor Garcia. A globalização imaginada. São 
Paulo: Iluminuras, 2010.
50 Sociedade e Contemporaneidade
CASTELLS, Manuel. A sociedade em rede (A era da informa-
ção: economia, sociedade e cultura; v. 1). São Paulo: Paz 
e Terra, 2010.
LEMOS, André. Ciber-socialidade: tecnologia e vida so-
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www.e-publicacoes.uerj.br/ojs/index.php/logos/article/
view/14575/11038>.
MENDES JÚNIOR, Hélio, COSTA, Alfredo. A Comunicação 
Viral nas redes sociais da internet: Estudo de dois casos 
de repercussão. Comunicação, Cultura e Sociedade. n. 3, 
vol. 3, Jan-Ago 2014. Disponível em <http://periodicos.
unemat.br/index.php/ccs/article/view/63/51>.
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In: SOSTER, Demétrio de Azeredo; FIRMINO, Fernando. 
(Org.). Metamorfoses jornalísticas 2: a reconfiguração da 
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<http://www.raquelrecuero.com/artigos/artigoredesjorna-
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RECUERO, Raquel. Redes sociais na Internet. Porto Alegre: 
Sulina, 2010.
SIBILIA, Paula. Os diários íntimos na Internet e a crise da 
interioridade psicoĺgica. Anais do XII Encontro da Com-
pós (Recife), 2003. Disponível em <http://www.compos.
org.br/data/biblioteca_1049.PDF>.
Capítulo 2 Redes Sociais na era Digital 51
TRAQUINA, Nelson. Jornalismo: quest̃es, teorias e estórias. 
Lisboa: Vega, 1999.
Atividades
 1) Assinale a alternativa FALSA:
a) As redes sociais digitais amplificam o alcance da co-
municação humana.
b) A possibilidade de expressão e sociabilização por meio 
das ferramentas de interação mediada por computa-
dor foi a principal mudança que a internet trouxe ̀ 
sociedade.
c) Os elementos das redes sociais são as pessoas e suas 
conex̃es.

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