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DESCRIÇÃO A organização do sistema endócrino e suas respostas agudas e crônicas à atividade física. PREPARAÇÃO Conhecer os principais aspectos da organização do sistema endócrino e discutir as respostas agudas e crônicas mediadas pelo exercício sobre a atuação dos hormônios e suas funções no controle e respostas fisiológicas quando o corpo humano é exposto ao treinamento físico, o que é fundamental para profissionais da área de saúde que trabalharão com prescrição de exercícios. OBJETIVOS MÓDULO 1 Reconhecer a organização do sistema endócrino MÓDULO 2 Descrever as secreções endócrinas induzidas pelo exercício MÓDULO 3 Identificar os efeitos reguladores do sistema endócrino sobre as adaptações fisiológicas decorrentes do treinamento físico MÓDULO 4 Identificar os efeitos dos esteroides e anabolizantes no desempenho desportivo INTRODUÇÃO A partir de agora, você compreenderá as características básicas do sistema endócrino, incluindo a natureza química e os mecanismos de ação dos hormônios, para que você possa identificar e descrever as secreções endócrinas induzidas pelo exercício em comparação ao repouso. O sistema endócrino reúne o conjunto de órgãos e tecidos que secretam substâncias que atuam como mensageiros químicos e são capazes de controlar e integrar as funções de todos os órgãos do nosso organismo. Esse sistema é um sistema de controle, capaz de se ajustar às diferentes circunstâncias para manter as necessidades fisiológicas adequadas frente à qualquer modificação do ambiente interno ou externo. O exercício físico representa um estresse para o corpo, que pode ter repercussão aguda e crônica para o seu organismo como um todo. Os hormônios podem agir adequando os níveis sanguíneos de nutrientes para sustentar a maior demanda energética durante a atividade física e, em longo prazo, também estão envolvidos em alterações fisiológicas que explicam a melhoria do desempenho desportivo, como o aumento da densidade mitocondrial, que pode aumentar a capacidade de produção de ATP. Finalmente, você poderá correlacionar o papel do sistema endócrino às modificações fisiológicas crônicas que explicam o condicionamento físico decorrente do treinamento desportivo, tão importantes para manutenção e promoção da saúde. MÓDULO 1 Reconhecer a organização do sistema endócrino VISÃO GERAL DO SISTEMA ENDÓCRINO A função do sistema endócrino é regular e integrar as funções do corpo para manter o equilíbrio fisiológico frente à qualquer situação. Essa função básica é atribuída aos hormônios, que são capazes de afetar todos os aspectos da função do corpo humano por meio do controle da atividade ou expressão de enzimas, da permeabilidade das membranas, do controle de secreções, da indução da contração ou relaxamento muscular, bem como qualquer outro aspecto que podemos chamar de controle do metabolismo nos tecidos-alvo para a ação hormonal. As glândulas endócrinas são estruturas associadas a esse sistema fisiológico. Atuam como órgãos especializados em produzir, armazenar e secretar hormônios que podem atuar em alvos distantes, além de serem liberados na corrente sanguínea ou até mesmo em células próximas ao local de liberação hormonal. Essa associação é antiga, há evidências com mais de 3000 anos as quais demonstram que a humanidade reconhece desde a Antiguidade que algumas doenças estão relacionadas ao mau funcionamento dessas estruturas. O avanço da ciência, atualmente, aponta que, além das glândulas, outros órgãos e tecidos, com funções primárias distintas, também são capazes de produzir, armazenar e secretar substâncias com ação hormonal. Assim, cada vez mais, percebemos o quão complexo é o sistema endócrino no seu papel de controle e integração das funções fisiológicas. Imagem: Shutterstock.com Principais glândulas do sistema endócrino. TIPOS DE HORMÔNIOS Células especializadas em praticamente todos os órgãos, nos tecidos e nas glândulas são capazes de produzir e secretar substâncias químicas que podem ser genericamente chamadas de hormônios. Os hormônios são classificados de acordo com a “matéria-prima” usada na sua composição molecular; de acordo com a natureza ou estrutura química da molécula. Em geral, os hormônios podem ser enquadrados em três classes, sendo eles: hormônios esteroides, peptídicos e derivados de aminas. HORMÔNIOS ESTEROIDES Imagem: Shutterstock.com Estrutura molecular do colesterol. O colesterol é um lipídeo esteroide de origem animal, que é usado pelo organismo na síntese dessa classe de hormônios. São substâncias hormonais com funções muito importantes, incluindo o controle da disponibilidade de substratos energéticos. São mediadas pela ação do cortisol, produção pelo córtex adrenal, maturação e as capacidades reprodutivas atribuídas às ações dos estrógenos, progestinas e andrógenos, como o estradiol, progesterona e testosterona, respectivamente. Uma vez que esses agentes hormonais são derivados de um lipídeo, eles são hidrofóbicos e, assim, não são solúveis no plasma sanguíneo. Dessa forma, sua distribuição através do sangue requer a associação com proteínas transportadoras. Imagem: Shutterstock.com Estrutura molecular da testosterona. HORMÔNIOS PEPTÍDICOS Os hormônios peptídicos são estruturalmente cadeias polipeptídicas, ou seja, são pequenas proteínas, cuja estrutura varia de acordo com o número, a ordem e a natureza dos aminoácidos que compõem essas “pequenas” proteínas. Pelo fato desses hormônios serem cadeias de aminoácidos, todo conhecimento sobre os mecanismos de síntese e processamento das proteínas pode ser aplicado a essa classe de hormônios. A síntese dos hormônios peptídicos ocorre através do controle das etapas de transcrição e tradução gênica. Geralmente, os hormônios peptídicos são solúveis em água, determinando que, quando liberados na circulação sanguínea, encontram-se diluídos e livres no plasma. A maioria dos hormônios pertence a essa classe, incluindo fatores hormonais secretados pelo hipotálamo, como o hormônio liberador de corticotropina e o hormônio liberador de gonadotrofinas; hormônios hipofisários como o hormônio do crescimento, hormônio antidiurético, ocitocina e prolactina; a insulina e o glucagon, produzidos pelo pâncreas e hormônios mais recentemente descobertos, como as adipocinas leptina, resistina e adiponectina, produzidas e liberadas pelo tecido adiposo. Imagem: Shutterstock.com Estrutura molecular do hormônio do crescimento humano. HORMÔNIOS DERIVADOS DE AMINAS A tirosina é um aminoácido que serve como matéria-prima para a síntese dessa classe de hormônios. Os hormônios derivados de aminas incluem as catecolaminas, adrenalina, noradrenalina e dopamina e os hormônios da tireoide, triiodotironina (T3) e tiroxina (T4). Nesta classe, temos substâncias hidrossolúveis, como as catecolaminas, enquanto os hormônios tireoidianos são hidrofóbicos. Imagem: Shutterstock.com Estrutura molecular da tiroxina. ESPECIFICIDADE HORMÔNIO-CÉLULA-ALVO Os hormônios são considerados os primeiros mensageiros do metabolismo, são capazes de induzir respostas em células, tecidos e órgãos-alvo. Isso quer dizer que os hormônios não atuam em todos os tecidos do corpo. Dessa forma, o que você precisa saber para identificar quais são os alvos para a ação de um determinado hormônio? A resposta para essa pergunta reside no fato de que a resposta da célula-alvo a um hormônio depende da existência de receptores proteicos específicos. A expressão ou presença dos receptores nos tecidos do organismo pode ser restrita ou amplamente distribuída em vários tecidos. Por exemplo, o glucagon é capaz de exercer efeitos no fígado e no tecido adiposo, mas não é capaz de controlar nenhuma resposta nos músculos esqueléticos, simplesmente pelo fato da presença ou ausência de proteínas receptoras específicas para a ação do glucagon, por outro lado, receptores dos hormônios da tireoide estão presentes em todas as células no corpo. Esses receptores são alvo paraa ligação de forma seletiva e de maneira complementar à estrutura molecular dos seus respectivos ligantes, os hormônios. Você poderia comparar os hormônios e os seus respectivos receptores, respectivamente, a chaves e fechaduras para perceber a relação de especificidade na interação entre essas estruturas. Imagem: Shutterstock.com Hormônios e células-alvo. INTERAÇÃO HORMÔNIO-RECEPTOR Os receptores são como antenas localizadas nas células-alvo, com o papel de captar o sinal hormonal, que só irá desencadear respostas nas células-alvo se houver interação física entre esses dois atores do metabolismo. Assim, a interação hormônio-receptor representa a etapa que iniciará a ação hormonal, resultando no controle do metabolismo de célula-alvo. COMENTÁRIO O número estimado de receptores em uma célula está entre 2.000 a 10.000. Contudo, a quantidade de receptores não é fixa e pode variar rapidamente de acordo com as necessidades fisiológicas. Os receptores podem ser destruídos, inativados de forma transiente ou definitiva, podem ser sequestrados para o interior celular ou sua produção pode diminuir, levando à redução dos efeitos hormonais. Esses eventos podem ser interessantes em situações em que os níveis hormonais se encontram aumentados. Ao reduzir a expressão dos receptores, as células são capazes de evitar um efeito excessivo da ação hormonal. Por outro lado, a síntese de receptores pode ser estimulada e o número pode aumentar, aumentando também a sensibilidade da célula ao hormônio. LOCALIZAÇÃO DOS RECEPTORES NAS CÉLULAS-ALVO A localização dos receptores nas células-alvo pode variar entre os tipos de receptor hormonal, onde a principal condição que determina essa variação é a natureza química do hormônio. Como você viu, os hormônios podem ser moléculas produzidas a partir de diferentes precursores, conferindo a eles também diferentes características quanto à solubilidade em água, por exemplo, os hormônios peptídicos e as catecolaminas são hidrossolúveis enquanto que os hormônios esteroides e tireoidianos são lipossolúveis. A partir dessa diferença, você pode deduzir a localização dos receptores nas células-alvo. Como a membrana plasmática é uma estrutura formada, principalmente, por uma bicamada de fosfolipídios, criando uma barreira física hidrofóbica entre os ambientes intracelular e extracelular, os hormônios hidrossolúveis serão impermeáveis à membrana plasmática. Por outro lado, os hormônios lipossolúveis serão permeáveis. A partir da premissa de que os hormônios são os primeiros mensageiros do sistema endócrino e seus efeitos se iniciam a partir da interação física entre eles e os respectivos receptores, você pode deduzir que os hormônios impermeáveis à membrana terão receptores localizados na membrana. Em contrapartida, os hormônios permeáveis podem se associar a proteínas intracelulares, estejam esses receptores no citoplasma ou até mesmo compartimentalizados em organelas, como é o caso de receptores de testosterona, T4 e aldosterona, que podem ser encontrados no núcleo. Vale ressaltar que os hormônios lipossolúveis também podem interagir com receptores de membrana. Imagem: Shutterstock.com Receptores de hormônios hidrossolúveis. Os receptores de insulina, glucagon, GH, que são hormônios peptídicos, bem como os receptores adrenérgicos das catecolaminas, serão obrigatoriamente proteínas localizadas nas membranas, enquanto que receptores dos hormônios esteroides como o estrogênio e a testosterona, glicocorticoides como o cortisol, além dos hormônios da tireoide, podem “se dar ao luxo” de atravessar livremente a membrana plasmática, podendo então interagir com proteínas de membrana ou receptores intracelulares. Imagem: Shutterstock.com Receptores de hormônios esteroides. PRODUÇÃO E SECREÇÃO HORMONAL A produção de um hormônio também está relacionada à natureza química da molécula. Como os hormônios peptídicos são cadeias de aminoácidos, cuja sequência peptídica está determinada no material genético, a síntese se dá da mesma forma que a síntese de qualquer proteína. Perceba, assim, que a produção de um hormônio peptídico ocorrerá através da transcrição gênica e, em seguida, a tradução do RNA para a formação desses hormônios, independentemente, do tamanho da cadeia peptídica. Imagem: Shutterstock.com Síntese de hormônio peptídicos. Os demais tipos de hormônios serão sintetizados a partir de suas moléculas precursoras específicas e serão transformados em intermediários e nos produtos, através de reações enzimáticas específicas nos tecidos produtores. ATENÇÃO A síntese de serotonina, por exemplo, ocorre através de apenas duas reações enzimáticas. Primeiro, a enzima triptofano hidroxilase transforma o aminoácido L-triptofano em 5-hidroxitriptofano e, em seguida, a enzima 5-hidroxitriptofano descarboxilase produz 5-hidroxitriptamina ou serotonina. A maior parte da serotonina no plasma sanguíneo é produzida pelas células enterocromafins do intestino, onde essas enzimas são expressas. Você pode extrapolar essa lógica para os hormônios esteroides, glicocorticoides e catecolaminas, que são produzidos por tecidos especializados através de reações enzimáticas presentes nesses tecidos de forma específica. A secreção dos hormônios ocorre através da exocitose de vesículas constituídas a partir do metabolismo do aparelho de Golgi, que contém os hormônios que foram sintetizados. Esse processo de secreção pode ocorrer de duas maneiras: SECREÇÃO CONSTITUTIVA É aquela que acontece tão logo os hormônios tenham sido produzidos, como nos casos do cortisol e testosterona. SECREÇÃO REGULADA Depende de um mecanismo ou sinal de controle para que a exocitose ocorra, nesse caso, os hormônios produzidos ficam armazenados no ambiente intracelular e são secretados após um sinal regulatório, como ocorre com a secreção de insulina que acontece a partir do aumento da glicemia. Imagem: Shutterstock.com Exocitose. CONTROLE DAS SECREÇÕES POR FEEDBACK Uma série de fatores pode influenciar a secreção hormonal, incluindo os estados alimentados e jejum, o ciclo circadiano, o ciclo claro-escuro e o exercício físico. A liberação dos hormônios é regulada pelo sistema nervoso e pelo sistema endócrino, quando dados hormônios assumem a função de controlar a secreção de outros hormônios em um sistema de integração metabólica. Apesar dessa complexidade, o principal mecanismo fisiológico de controle é conhecido como feedback ou retroalimentação. O feedback negativo é comum no controle dos níveis hormonais, a maioria dos hormônios do eixo hipotálamo-hipófise estão sujeitos a esse mecanismo. Os níveis de GH podem ser controlados dessa forma. Quando os níveis plasmáticos estão reduzidos, o hipotálamo secreta o hormônio liberador de GH (GHRH), que atua na hipófise anterior provocando a liberação do GH, que irá atuar em vários alvos metabólicos, incluindo a promoção da liberação de fatores de crescimento chamados de somatomedinas, como o fator de crescimento semelhante à insulina (IGF), principalmente, no fígado. O aumento dos níveis sanguíneos de GH e IGF é percebido, tanto pelo hipotálamo, quanto pela hipófise e determinam a redução da atividade desse eixo, inibindo a liberação do GHRH e do próprio GH. Imagem: Shutterstock.com Feedback negativo dos hormônios da tireoide. O feedback positivo apresenta características semelhantes quando o tecido produtor recebe sinais dos efeitos do hormônio secretado. Porém, neste caso, ao invés de haver um controle inibitório, ocorre um efeito positivo, ou seja, aumenta-se a secreção do hormônio, como em um ciclo-vicioso. VOCÊ SABIA Durante a amamentação, a ação mecânica de sucção do bebê estimula a liberação de ocitocina pela hipófise posterior, que aumenta a capacidade contrátil dos ductos mamários, que, por sua vez, aumentam a secreção de ocitocina, criando um ciclo-vicioso que é interrompido quando o bebê está satisfeito. OS HORMÔNIOS ATUAM CONTROLANDO O METABOLISMOO metabolismo é o conjunto de reações químicas que ocorre em um tecido. Essas reações são fruto da interação entre enzimas, receptores e proteínas da comunicação celular. Ou seja, depende da presença ou ausência dessas proteínas, do seu tipo e de sua quantidade. Em função dessa propriedade, pode-se afirmar que o metabolismo é tecido-específico. Estima-se que as células de músculo cardíaco apresentam cerca de 20 vezes mais mitocôndrias que as células de músculo esquelético, enquanto os eritrócitos ou glóbulos vermelhos não possuem sequer uma mitocôndria. Imagem: Shutterstock.com Essa organela é famosa por sua função bioenergética e atua como uma “usina de energia aeróbia” graças à presença das enzimas do ciclo de Krebs e dos complexos proteicos da cadeia de transporte de elétrons. Assim, podemos extrapolar que o músculo cardíaco tem uma capacidade aeróbia muito maior que o músculo esquelético e que os eritrócitos não desempenham esses processos do metabolismo bioenergético, evidenciando que a especificidade do metabolismo tecidual é atribuída à expressão também tecido específica de um conjunto de enzimas e proteínas. É sobre o controle desses processos enzimáticos que os hormônios atuam. Os hormônios são capazes de modificar a síntese das proteínas intracelulares através do controle da expressão gênica, controlam a atividade enzimática, alteram o transporte através da membrana e induzem a secreção celular, controlando o metabolismo celular. Durante a prática de exercício físico, a secreção de adrenalina pelas glândulas suprarrenais é capaz de aumentar a permeabilidade das membranas plasmáticas das células musculares à glicose, aumentando a captação e é capaz de ativar as enzimas-chave da glicólise, processo de reciclagem de ATP a partir de glicose, através de mecanismos como a regulação da enzima Fosfofrutoquinase (PFK). Perceba que há, tanto o aumento da disponibilidade, quanto da capacidade de utilização de glicose como fonte de energia. Esses efeitos são agudos, ocorrem de forma rápida para sustentar o exercício. Já hormônios esteroides, como a testosterona, têm efeito anabólico, atuando de forma crônica, aumentando a expressão, ou seja, a quantidade de enzimas nos tecidos-alvo e, dessa forma, exercendo controle sobre o metabolismo. Tabela 1 – Visão geral dos hormônios. Hormônios peptídicos Hormônios esteroides Hormônios derivados de aminas Catecolaminas Hormônios tireoidianos Exemplos Glucagon, leptina, ocitocina, vasopressina Testosterona, progesterona, cortisol, estrogênio Epinefrina, norepinefrina, dopamina Tiroxina (T4), triiodotironina (T3) Síntese e armazenamento Transcrição, tradução, armazenados em vesículas Síntese enzimática quando necessário Síntese enzimática antecipada e armazenados em vesículas Síntese enzimática antecipada e armazenados em vesículas Liberação Exocitose regulada Difusão simples, exocitose constitutiva Exocitose regulada Difusão simples Transporte Dissolvido no plasma Associado a proteínas de transporte Dissolvido no plasma Associado a proteínas de transporte Tempo de meia- vida Curto (minutos) Longo (horas) Curto (poucos minutos) Longo (horas – dias) Localização do receptor Proteínas de membrana plasmática Proteínas de membrana, citoplasmáticas ou nucleares Proteínas de membrana plasmática Núcleo Mecanismo de sinalização Sistema de segundo mensageiros Ativam fatores de transcrição gênica Sistema de segundo mensageiros Ativação de fatores de transcrição gênica Principais respostas Controle da atividade e expressão de enzimas Controle da expressão gênica, síntese de proteínas Controle da atividade de enzimas Indução da síntese de novas proteínas Autor: Adaptado de McArdle, Katch e Katch, 2016. VISÃO GERAL DO SISTEMA ENDÓCRINO O especialista Wagner Santos Coelho apresentará um resumo de todos os subtópicos abordados no módulo. VERIFICANDO O APRENDIZADO 1. A IRISINA É UMA MIOCINA, OU SEJA, UM HORMÔNIO PRODUZIDO PELO MÚSCULO ESQUELÉTICO, CUJA LIBERAÇÃO É INDUZIDA PELO EXERCÍCIO FÍSICO A PARTIR DA QUEBRA DE UMA PROTEÍNA PRECURSORA LOCALIZADA NA MEMBRANA, CHAMADA DE FNDC5. LOGO, ESSA MIOCINA É CLASSIFICADA COMO UM HORMÔNIO PEPTÍDICO. QUANTO À NATUREZA QUÍMICA DESSA CLASSE DE HORMÔNIOS, ESCOLHA A ALTERNATIVA VERDADEIRA: A) Hormônios peptídicos necessitam de transportadores plasmáticos. B) A secreção desses hormônios ocorre através de difusão simples. C) A síntese dos hormônios peptídicos requer a ativação da transcrição gênica. D) Hormônios peptídicos são formados como cadeias de colesterol. E) Os receptores de irisina são proteínas intracelulares. 2. OS HORMÔNIOS SÃO MENSAGEIROS QUÍMICOS PRODUZIDOS POR TECIDOS ESPECIALIZADOS QUE ATUAM CONTROLANDO O METABOLISMO DOS TECIDOS-ALVO. PORTANTO, SUA AÇÃO OCORRE ATRAVÉS DO CONTROLE DA ATIVIDADE E EXPRESSÃO DE ENZIMAS E OUTRAS PROTEÍNAS EM TECIDOS- ALVO ESPECÍFICOS. A) Ambas as afirmativas são falsas. B) Ambas as afirmativas são verdadeiras e a segunda justifica a primeira. C) Ambas as afirmativas são verdadeiras, mas a segunda não justifica a primeira. D) A primeira afirmativa é verdadeira e a segunda é falsa. E) A primeira afirmativa é falsa e a segunda é verdadeira. GABARITO 1. A irisina é uma miocina, ou seja, um hormônio produzido pelo músculo esquelético, cuja liberação é induzida pelo exercício físico a partir da quebra de uma proteína precursora localizada na membrana, chamada de FNDC5. Logo, essa miocina é classificada como um hormônio peptídico. Quanto à natureza química dessa classe de hormônios, escolha a alternativa verdadeira: A alternativa "C " está correta. Os hormônios peptídicos, constituídos por cadeias de aminoácidos, sintetizados a partir da transcrição gênica, secretados por exocitose, são solúveis em água. Por essa razão, não requerem transportadores plasmáticos e têm, obrigatoriamente, receptores localizados na membrana. 2. Os hormônios são mensageiros químicos produzidos por tecidos especializados que atuam controlando o metabolismo dos tecidos-alvo. Portanto, sua ação ocorre através do controle da atividade e expressão de enzimas e outras proteínas em tecidos-alvo específicos. A alternativa "B " está correta. Hormônios são agentes do sistema endócrino, produzidos por tecidos especializados e podem ter diferentes naturezas químicas. Suas ações dependem da interação seletiva com proteínas conhecidas como receptores nas células-alvo, tornado suas ações condicionadas à presença dessas estruturas e, assim, tecido-específicas. A partir da interação entre os hormônios e seus receptores, uma cadeia de eventos ocorre, até que uma resposta celular ocorra graças ao controle de enzimas-chave nas células- alvo, repercutindo no controle do metabolismo celular. MÓDULO 2 Descrever as secreções endócrinas induzidas pelo exercício VISÃO GERAL DAS SECREÇÕES HORMONAIS NO EXERCÍCIO A taxa de secreção, ou seja, a quantidade secretada em um determinado intervalo de tempo, da maioria dos hormônios não é constante. Isso ocorre porque a liberação hormonal se ajusta às necessidades fisiológicas impostas pelas condições do ambiente interno e externo do nosso organismo, determinando a quantidade do hormônio no plasma sanguíneo, como ocorre durante situações de repouso ou exercício físico. A concentração plasmática de um hormônio pode ser influenciada por variáveis, como a quantidade sintetizada na glândula produtora, a taxa de secreção ou depuração do hormônio liberado, a quantidade de proteínas transportadoras para os hormônios hidrofóbicos e as modificações no volume plasmático. A taxa de secreção depende da combinação e magnitude dos agentes químicos estimulantes e inibitórios que controlam a secreção. A secreção de insulina, por exemplo, é estimulada pelo aumento nos níveis plasmáticos de glicose, aminoácidos e pela acetilcolina do sistema nervoso parassimpático e pode ser inibida pela norepinefrina do sistema nervososimpático e pela epinefrina circulante. Imagem: Shutterstock.com Liberação aeróbia de energia. O exercício físico requer o aumento da demanda bioenergética em comparação com o repouso. Com isso, você pode presumir que o organismo exige um conjunto de respostas para atender a essa situação que é mediada pelas ações hormonais. EXEMPLO Podemos destacar que uma queda acentuada na liberação de insulina logo após o início do exercício combinado a um aumento de forma tardia da quantidade de glucagon gera um aumento gradual na secreção das catecolaminas e do cortisol. Hormônios como epinefrina, glucagon e cortisol são capazes de aumentar de forma acentuada a mobilização e utilização de substratos energéticos durante a prática de exercícios físicos, ajustando a demanda energética à condição imposta pelo estresse da atividade. Esses hormônios atuarão em alvos específicos e, em muitos casos, de maneira sinérgica, como, no caso da epinefrina e glucagon, que, simultaneamente, provocam a quebra de triglicerídeos no tecido adiposo, liberando ácidos graxos na corrente sanguínea como forma de mobilização de substratos energéticos. Imagem: Shutterstock.com Mobilização hormonal de triglicerídeos. Muitas dessas variações na secreção hormonal são influenciadas pelas características da atividade física, como intensidade, frequência e duração, bem como, por outros fatores, como idade, sexo e o nível de aptidão física. HORMÔNIOS DAS GLÂNDULAS SUPRARRENAIS O corpo possui duas glândulas suprarrenais localizadas imediatamente acima de cada rim. Anatomicamente, elas são divididas em duas porções distintas: MEDULA Porção interna CÓRTEX Porção externa A medula produz e secreta as catecolaminas, já o córtex secreta os mineralocorticoides, glicocorticoides e androgênios. Imagem: Shutterstock.com Hormônios da glândula adrenal. HORMÔNIOS DA MEDULA SUPRARRENAL O sistema nervoso simpático é ativado durante o exercício físico e a norepinefrina, que representa o principal neurotransmissor liberado por esse sistema, atua na medula da suprarrenal. Esta responde secretando epinefrina e norepinefrina na circulação sanguínea, com a epinefrina representando cerca de 80% dessas secreções. Essa resposta é capaz de prolongar e aumentar os efeitos mediados pelo sistema nervoso simpático. Imagem: Shutterstock.com Imagem: Shutterstock.com Ações do sistema nervoso simpático. VOCÊ SABIA Exercícios físicos como o ciclismo, com intensidades acima de 50% do VO2máx, induzem um aumento da secreção de norepinefrina, majoritariamente, secretada pelas terminações nervosas do sistema nervoso simpático. Já os níveis de epinefrina tendem a se manter estáveis até intensidades de 75% do VO2máx. À medida que a intensidade da atividade aumenta, os níveis de epinefrina também se elevam. As funções primárias do aumento das catecolaminas durante o exercício estão relacionadas à manutenção da glicemia e à utilização de substratos energéticos, em função dos seus efeitos sobre a glicogenólise hepática e muscular. Dessa forma, a quebra do glicogênio hepático contribui para disponibilizar glicose na corrente sanguínea, enquanto a quebra do glicogênio muscular serve ao próprio músculo como fonte de energia. Imagem: Shutterstock.com Ações das catecolaminas. Adicionalmente, esses hormônios têm efeitos sobre a função do miocárdio, os vasos sanguíneos, aumentando toda a função cardiovascular no sentido de também aumentar o débito cardíaco e, assim, contribuir para distribuição de sangue a todos os tecidos durante o exercício físico. HORMÔNIOS ADRENOCORTICAIS Os hormônios adrenocorticais ou corticosteroides são produzidos pelo córtex das glândulas suprarrenais e secretados em resposta à ação do hormônio corticotrófico (ACTH) liberado pela adeno-hipófise. Esses hormônios podem ser enquadrados em três subclasses de acordo com suas funções primárias; mineralocorticoides, glicocorticoides e androgênios. Imagem: Shutterstock.com MINERALOCORTICOIDES A aldosterona representa quase 95% e todos os mineralocorticoides produzidos, sendo o principal mineralocorticoide do nosso organismo. Esses hormônios não ficam prontos e armazenados em vesículas secretoras, sua produção e liberação dependem dos estímulos fisiológicos e, assim, a quantidade liberada em função do exercício não aumenta imediatamente após o início da atividade. Seus níveis só são elevados após 45 minutos de atividade física, portanto, em atividades de menor duração, seus efeitos contribuem para respostas fisiológicas durante o período de recuperação. A liberação de aldosterona pode ser controlada por diferentes fatores, incluindo efeito inibitório do fator natriurético atrial, liberado pelo coração a partir do aumento da pressão arterial e da volemia. Já a redução da volemia, queda da pressão arterial, redução dos níveis de sódio e aumento do potássio no sangue, apresentam efeitos positivos, estimulando a liberação de aldosterona. Outro fator liberador é o estresse, que ativa o eixo hipotálamo-hipófise e, através do ACTH, promovem a liberação de aldosterona, incluindo o estresse provocado pelo exercício físico. ATENÇÃO Como o nome desses hormônios sugere, os mineralocorticoides controlam os níveis iônicos, “minerais”, no sangue, principalmente, mantendo a natremia (Nível de sódio) e calemia (Nível de potássio) . Em função disso, esses hormônios contribuem para a manutenção do pH, volemia e pressão arterial. SISTEMA RENINA-ANGIOTENSINA- ALDOSTERONA Imagem: Shutterstock.com Sistema renina-angiotensina-aldosterona. Dentre os fatores que estimulam a secreção de aldosterona, a ativação do sistema renina-angiotensina- aldosterona representa aquele com maior efeito sobre a liberação hormonal. Durante o exercício, há uma maior ativação do sistema nervoso simpático, que induz constrição dos vasos sanguíneos que irrigam os rins, diminuindo a taxa de filtragem glomerular. Essa redução leva os rins a secretar a renina na corrente sanguínea que irá ativar uma cascata de efeitos de ativação dos hormônios angiotensina I e II. A angiotensina II terá efeitos potentes sobre a liberação de aldosterona. As principais ações da aldosterona ocorrem a partir da ligação com receptores intracelulares que controlam a expressão gênica e promovem a síntese de novas proteínas que atuam como canais de sódio nos túbulos renais. Em função disso, há um aumento da reabsorção do sódio nos rins que resulta em aumento da reabsorção de água e controle da volemia, evitando a queda da pressão arterial. GLICOCORTICOIDES O eixo neuroendócrino entre o hipotálamo e a hipófise é controlado pelo estresse provocado pelo exercício físico, culminando na secreção de ACTH pela adeno-hipófise. O ACTH promove a liberação de cortisol no córtex das suprarrenais, o principal glicocorticoide produzido. A liberação do cortisol responde ao exercício de forma diretamente proporcional à intensidade e duração da atividade, ou seja, quanto maior a intensidade e duração, maior será a liberação do cortisol. Níveis extremamente elevados podem ser observados após atividades de longa duração, como maratonas ou treinamento de força, podendo permanecer elevados até 2 horas após a interrupção do exercício físico, indicando um papel também durante a recuperação ao estresse físico. Imagem: Shutterstock.com Ações do cortisol. As ações do cortisol durante e, após uma atividade física, são fundamentais para a manutenção da homeostase glicêmica e a disponibilidade de energia. Essas ações incluem o catabolismo de proteínas de praticamente todas as células, ou seja, a degradação de proteínas para liberar aminoácidos que serão direcionados ao fígado. No fígado, o cortisol ativa as enzimas da gliconeogênese que irão transformar justamente esses aminoácidos e outros substratos em glicose, para manter a glicemia. Os efeitos do cortisol sobre a gliconeogênese são sinérgicos aos do GH e glucagon, o que potencializa e auxilia as açõesdesses hormônios. Além disso, o cortisol promove a mobilização de ácidos graxos no tecido adiposo a partir da quebra dos triglicerídeos. ATENÇÃO Repare como é interessante que a combinação de efeitos do cortisol siga uma lógica que torne as respostas fisiológicas ao exercício harmônicas, sempre em prol da manutenção das funções metabólicas e fisiológicas, principalmente, através da manutenção da glicemia e disponibilidade energética para o exercício físico. HORMÔNIOS GONADAIS E ADAPTAÇÕES AO EXERCÍCIO As gônadas são representadas pelos testículos no homem e ovários na mulher, e produzem os hormônios responsáveis por conferir as características sexuais e a função reprodutora. A testosterona é o hormônio androgênico mais importante e sua concentração é cerca de 10 vezes maior em homens do que em mulheres. Como a concentração plasmática de testosterona funciona como um marcador do estado anabólico, você pode atribuir as diferenças de massa e força muscular observadas entre homens e mulheres às diferenças na concentração de testosterona. A concentração sérica de testosterona aumenta durante o exercício e tende a se manter elevada até uma hora após interrupção da atividade em homens e mulheres como parte dos efeitos agudos do exercício. SAIBA MAIS O treinamento regular parece exercer efeitos crônicos sobre os níveis de testosterona, levando a uma redução generalizada dos níveis séricos, tanto no repouso, quanto na resposta aguda ao estímulo provocado pelo exercício. Esses efeitos indicam uma adaptação que pode ser explicada pela maior sensibilidade aos efeitos hormonais, levando a uma redução dos níveis totais sem comprometer as ações hormonais. Uma vez que a testosterona é um hormônio com potentes efeitos anabólicos, suas ações em longo prazo se correlacionam com o condicionamento físico provocado pela prática regular de exercícios. A testosterona tem papel na renovação das proteínas e mudanças na quantidade e qualidade das proteínas presentes nos tecidos. No músculo esquelético, suas ações são capazes de melhorar vários aspectos metabólicos, passando pela maior capacidade bioenergética, poder de renovação tecidual, resistência e força muscular, aprimorando a capacidade contrátil. Imagem: Shutterstock.com Funções da testosterona. HORMÔNIOS PANCREÁTICOS NA REGULAÇÃO GLICÊMICA PARA O EXERCÍCIO A porção endócrina do pâncreas é responsável pela produção de hormônios, como a insulina e o glucagon. Esses dois hormônios são fundamentais para o controle da glicemia e atuam em situações opostas, ou seja, apresentam efeitos antagônicos. Insulina A insulina é um hormônio hipoglicemiante, reduzindo a taxa de glicose no sangue. Glucagon O glucagon tem efeito contrário, com ação hiperglicemiante. Assim, você pode presumir que ambos não atuam simultaneamente e cada um é exigido em um momento específico. O EXERCÍCIO FÍSICO REDUZ A LIBERAÇÃO DE INSULINA A liberação de insulina ocorre em função do aumento da glicemia decorrente da alimentação e suas ações incluem o aumento da permeabilidade das membranas das células musculares e do tecido adiposo à glicose, promovendo a captação de glicose nesses tecidos para reestabelecer a normoglicemia. A insulina também estimula a captação de aminoácidos, a síntese do glicogênio hepático e muscular e a lipogênese. A insulina provoca redução dos níveis de glicose no sangue, ou seja, um efeito hipoglicemiante. Ao praticarmos uma atividade física, estamos sujeitando o organismo a um maior consumo de energia e, assim, a atividade física também tem efeito hipoglicemiante. Atividade física Os efeitos hipoglicemiantes da atividade física destinam a glicose para o músculo esquelético. Insulina A ação da insulina sobre a redução da glicemia leva ao direcionamento da glicose para o armazenamento em outros tecidos. ATENÇÃO A partir dessas informações, é importante que você perceba que a presença de insulina durante o exercício poderia representar um problema ao promover um efeito hipoglicemiante potente. Essa combinação é incompatível com o desempenho e com a própria manutenção das atividades vitais do organismo. Estudos demostram que a concentração plasmática de insulina é reduzida em função da duração e intensidade do exercício, mesmo que haja aumento da glicemia provocado pela ação de hormônios, que promovam a degradação do glicogênio com liberação de glicose no sangue. Essa redução é explicada por um efeito do sistema nervoso autônomo simpático e das catecolaminas que atuam nas células β- pancreáticas, inibindo a liberação da insulina. Essa resposta é fundamental para dessensibilizar os tecidos dos efeitos da insulina e permitir que outros hormônios possam atuar sensibilizando o fígado a degradar o glicogênio para liberar glicose e ativar a gliconeogênese, garantindo a manutenção da glicemia durante o exercício. O EXERCÍCIO FÍSICO AUMENTA A LIBERAÇÃO DE GLUCAGON Imagem: Shutterstock.com Controle glicêmico pelo glucagon. Os efeitos do glucagon são contrários aos da insulina. É um hormônio hiperglicemiante que estimula a gliconeogênese para aumentar a liberação de glicose no sangue. O glucagon também atua no tecido adiposo mobilizando os triglicerídeos e liberando ácidos graxos na corrente sanguínea. Durante a atividade física, o aumento do consumo bioenergético força uma redução da glicemia; as células α-pancreáticas percebem essas mudanças e aumentam a liberação de glucagon. Durante o exercício, a liberação do glucagon não ocorre de forma imediata e sim de forma gradual, tendo em vista que o glucagon tem poucos efeitos sobre a quebra do glicogênio hepático durante a atividade física e atua majoritariamente para a manutenção da glicemia à medida que o exercício progride. HORMÔNIOS TIREÓIDEOS E SUAS RELAÇÕES ÀS ADAPTAÇÕES AO EXERCÍCIO A tireoide secreta dois hormônios derivados de aminas ligados ao iodo: TIROXINA (T4) TRIIODOTIRONINA (T3) Esses hormônios são liberados em resposta à secreção do hormônio tireoestimulante (TSH) pela adeno- hipófise. A concentração de T4 liberada é maior, contudo, os efeitos de T3 são mais rápidos. Como esses hormônios não são solúveis em água, eles se associam a uma glicoproteína de transporte produzida pelo fígado para serem disponibilizados através da corrente sanguínea. SAIBA MAIS A maioria das células do nosso corpo, com exceção do encéfalo, baço, testículos, útero e a própria tireoide, é alvo para as ações desses hormônios que atuam estimulando o metabolismo e aumentam a taxa de consumo de oxigênio, síntese de proteínas, glicogenólise e lipólise, e levam a um efeito indireto no aumento da taxa metabólica basal. A concentração dos hormônios tireoidianos não se altera de forma significativa durante o exercício, provavelmente, porque seus efeitos não são agudos e não promovem os ajustes necessários durante a prática de exercícios. Apesar disso, a fração livre de T4, ou seja, aquela que não está ligada à proteína transportadora aumenta em até 35%, possivelmente, em função da temperatura central, que pode alterar a afinidade do hormônio com a sua proteína de transporte. Estudos indicam que o exercício físico promove uma resposta coordenada entre a hipófise e a tireoide, levando a uma maior renovação dos hormônios tireoidianos, mesmo que não haja evidências de aumento dos níveis hormonais. HORMÔNIO DO CRESCIMENTO (GH) O GH (somatotropina) é um hormônio peptídico produzido e liberado pela adeno-hipófise em resposta ao fator liberador de somatotropina do hipotálamo (GHRH). Suas ações fisiológicas são generalizadas, pois atuam em todas as células do corpo controlando respostas relacionadas à divisão e proliferação celular. Essas ações requerem estímulo à síntese de proteínas, que é facilitada pelo GH através de três processos de controle, que incluem: O aumento no transporte de aminoácidos através da membrana plasmática. O estímulo da transcrição gênica com a síntese de RNAs. A ativação dos ribossomos, controlando a traduçãogênica e a síntese de proteínas. Imagem: Shutterstock.com Hormônio do crescimento. RESPOSTAS AGUDAS DO EXERCÍCIO FÍSICO SOBRE O HORMÔNIO DO CRESCIMENTO Em atividades de curta duração, observa-se elevação nos níveis de GH, que gera um efeito benéfico sobre a remodelagem do tecido muscular, do osso e do tecido conjuntivo. Essa resposta pode variar em função da intensidade e nível de condicionamento. Em atividades submáximas, indivíduos sedentários demostram maior resposta na liberação de GH que indivíduos treinados, que pode ser indicativo do grau de dificuldade individual, uma vez que, com o nível de intensidade submáxima absoluta, a percepção relativa do esforço torna o grau de dificuldade maior para os indivíduos sedentários. Durante o exercício levado à exaustão, o aumento dos níveis de GH é semelhante em indivíduos treinados ou sedentários, porém, indivíduos treinados retornam aos níveis basais de GH após a interrupção do exercício de forma mais rápida e indivíduos sedentários mantêm os níveis elevados por várias horas de recuperação. O GH também possui um papel importante na bioenergética durante a atividade física à medida em que atua tornando mais lenta a degradação de carboidratos e auxilia na mobilização e utilização de gorduras como energia e o GH estimula a gliconeogênese. RESUMINDO A compreensão que você pode tirar dessas ações são a indicação de um efeito fisiológico protetor sobre o controle da glicemia, preservando a concentração plasmática de glicose para o bom funcionamento do organismo, especialmente, do sistema nervoso, cardíaco e muscular esquelético durante o exercício físico. RESPOSTAS CRÔNICAS DO EXERCÍCIO FÍSICO SOBRE O HORMÔNIO DO CRESCIMENTO A hipertrofia muscular é uma adaptação crônica ao treinamento físico, especialmente, frente ao treinamento resistido. Apesar de a concentração do GH aumentar em homens e mulheres em função da duração e intensidade do exercício físico, os efeitos do GH sobre a síntese de proteínas que promove a hipertrofia, formação da cartilagem, crescimento ósseo e proliferação celular não são completamente compreendidos. Uma das hipóteses sugere que o exercício promova de forma direta a liberação de GH e a liberação de fatores de crescimento, chamados somatomedinas pelo fígado e rins, como o fator de crescimento semelhante à insulina (IGF), que estariam envolvidos na promoção de efeitos anabólicos sobre os tecidos. FATORES DE CRESCIMENTO SEMELHANTE À INSULINA E O EXERCÍCIO As somatomedinas ou fatores de crescimento são responsáveis pelos efeitos indiretos do GH, que atua estimulando, principalmente, o fígado a sintetizar e liberar os fatores de crescimento semelhantes à insulina (IGF-1 e IGF-2). A resposta do GH sobre a liberação das somatomedinas leva entre 8 a 30 horas. Os efeitos do IGF são semelhantes aos do GH, facilitando a captação tecidual de aminoácidos, promovendo um balanço nitrogenado positivo, o que favorece a síntese de proteínas e explica um potente efeito anabólico desses fatores sobre o tecido muscular, ósseo e cartilaginoso. SECREÇÕES ENDÓCRINAS INDUZIDAS PELO EXERCÍCIO O especialista Wagner Santos Coelho explicará um pouco mais sobre a secreção hormonal no exercício. VERIFICANDO O APRENDIZADO 1. O EXERCÍCIO FÍSICO REPRESENTA UM ESTRESSE METABÓLICO. PARA QUE SEJA POSSÍVEL AUMENTAR OS PADRÕES DE RECRUTAMENTO MUSCULARES QUE GARANTEM A CAPACIDADE DE DESEMPENHAR ATIVIDADES FÍSICAS QUE REQUEIRAM TAXAS METABÓLICAS SUPERIORES ÀQUELAS DO REPOUSO, SEJA EM ATIVIDADES DE INTENSIDADE MODERADA OU INTENSA, É NECESSÁRIO ATIVAR PROCESSOS BIOENERGÉTICOS, CONSUMINDO SUBSTRATOS RICOS EM ENERGIA PARA RECICLAGEM DE ATP. ESSES PROCESSOS SÃO AMPLAMENTE REGULADOS PELA FUNÇÃO HORMONAL. DENTRE AS AFIRMATIVAS ABAIXO, ESCOLHA A ÚNICA VERDADEIRA: A) O cortisol é secretado em quantidades discretas em função do exercício físico. B) Picos elevados de insulina são observados imediatamente após o início do exercício. C) O glucagon estimula a síntese do glicogênio para promover as reservas de energia. D) As catecolaminas atuam degradando o glicogênio hepático para liberar glicose na corrente sanguínea. E) O cortisol age de forma crônica ativando a síntese de proteínas para o aumento da massa muscular. 2. LEIA AS AFIRMATIVAS ABAIXO. I) O EXERCÍCIO AUMENTA O CONSUMO DE SUBSTRATOS ENERGÉTICOS, INCLUINDO AUMENTO DA CAPTAÇÃO E UTILIZAÇÃO DE GLICOSE PELO MÚSCULO ESQUELÉTICO. II) OS HORMÔNIOS COMO O GLUCAGON E O CORTISOL ATUAM NO FÍGADO, ATIVANDO A SÍNTESE DE GLICOGÊNIO PARA MANTER AS RESERVAS DE ENERGIA. DIANTE DESTAS AFIRMATIVAS, PODEMOS AFIRMAR QUE: A) Ambas as afirmativas são falsas. B) Ambas as afirmativas são verdadeiras e a segunda justifica a primeira. C) Ambas as afirmativas são verdadeiras, mas a segunda não justifica a primeira. D) A primeira afirmativa é verdadeira e a segunda é falsa. E) A primeira afirmativa é falsa e a segunda é verdadeira. GABARITO 1. O exercício físico representa um estresse metabólico. Para que seja possível aumentar os padrões de recrutamento musculares que garantem a capacidade de desempenhar atividades físicas que requeiram taxas metabólicas superiores àquelas do repouso, seja em atividades de intensidade moderada ou intensa, é necessário ativar processos bioenergéticos, consumindo substratos ricos em energia para reciclagem de ATP. Esses processos são amplamente regulados pela função hormonal. Dentre as afirmativas abaixo, escolha a única verdadeira: A alternativa "D " está correta. O aumento da bioenergética no exercício é regulado pela ação de vários hormônios. O cortisol atua promovendo o catabolismo de proteínas e estimulando a gliconeogênese. É liberado de forma proporcional à intensidade e duração da atividade e suas ações atuam de forma sinérgica ao aumento do glucagon, que também ativa a gliconeogênese. Ocorre redução dos níveis de insulina. As catecolaminas exercem um importante efeito de degradação do glicogênio hepático para manutenção da glicemia. 2. Leia as afirmativas abaixo. I) O exercício aumenta o consumo de substratos energéticos, incluindo aumento da captação e utilização de glicose pelo músculo esquelético. II) Os hormônios como o glucagon e o cortisol atuam no fígado, ativando a síntese de glicogênio para manter as reservas de energia. Diante destas afirmativas, podemos afirmar que: A alternativa "D " está correta. A alternativa D está correta. Durante o exercício físico, o aumento do consumo de glicose é compensado pela ativação da degradação do glicogênio e gliconeogênese, que são ativadas em maior ou menor grau pelos hormônios glucagon e cortisol. MÓDULO 3 Identificar os efeitos reguladores do sistema endócrino sobre as adaptações fisiológicas decorrentes do treinamento físico RESPOSTAS HORMONAIS AGUDAS E CRÔNICAS AO EXERCÍCIO FÍSICO O treinamento é capaz de estimular adaptações estruturais e funcionais que aprimoram o desempenho de diversas tarefas físicas e garantem a manutenção e promoção da saúde através de diversos ajustes fisiológicos que melhoram a saúde cardiovascular, respiratória e metabólica. Coletivamente, você pode chamar esses ajustes de “condicionamento físico”. Determinadas alterações requerem que a prática de exercícios físicos seja planejada de forma adequada. A vida sedentária favorece o surgimento de problemas de saúde, da mesma forma que o excesso de exercícios também pode ser nocivo à saúde. Assim, o planejamento do treinamento deve ser minucioso quanto à frequência, duração, intensidade, velocidade, tipo de treinamento, intervalos de recuperação e, sempre que possível, planejado de forma individualizada, adequando aos objetivos e aptidões físicas de cada um, independente do sexo ou da idade. Os ajustes fisiológicos agudos adaptam o organismo às demandas do exercício e as alterações crônicas que induzem o condicionamento físico e promovem saúde, envolvem vários sistemas fisiológicos e diversas ações hormonais. As secreçõesendócrinas em função do estímulo do exercício físico podem acontecer de duas formas: RESPOSTAS AGUDAS São imediatas e ocorrem tão logo o exercício inicie, embora o estímulo ou inibição da liberação varie entre os diferentes hormônios, as respostas agudas regulam a concentração hormonal no plasma para ajustar o organismo às demandas do exercício que está em curso, como é o caso da liberação gradual de catecolaminas. Estas estimulam a degradação do glicogênio hepático e muscular e a mobilização de ácidos graxos no tecido adiposo, aumentando a bioenergética durante o exercício. RESPOSTAS CRÔNICAS São definidas como modificações dos níveis hormonais ou até mesmo na sensibilidade da ação hormonal e se estabelecem como respostas adaptativas à prática regular de exercício. Respostas crônicas sobre a sensibilidade à insulina, por exemplo, justificam a recomendação da prática regular de exercícios físicos como tratamento não farmacológico do quadro de diabetes tipo 2, que é caracterizado pela resistência à ação da insulina. Assim, o exercício contribui para a redução da glicemia de forma independente à ação da insulina e, com o passar do tempo, o organismo do indivíduo requer menores índices de insulina para regular a glicose sanguínea com a mesma eficiência, contribuindo, portanto, para o controle da doença. TREINAMENTO FÍSICO E FUNÇÃO ENDÓCRINA O estudo das adaptações endócrinas ao treinamento é um grande desafio para a ciência dada a complexidade da integração entre as ações hormonais e as funções de controle do sistema nervoso. Contudo, parece consensual a ideia de que as respostas hormonais a uma sessão de exercícios padronizada reduzem conforme o organismo se adapta ao treinamento. Estudos comparando as respostas endócrinas de indivíduos altamente treinados e sedentários a atividades com os mesmos níveis absolutos de intensidade evidenciam que as respostas hormonais são menores nos indivíduos fisicamente ativos. A explicação para esse fato indica que os tecidos-alvo para os hormônios se tornam mais sensíveis às ações hormonais, possibilitando que níveis hormonais reduzidos sejam capazes de exercer os mesmos efeitos fisiológicos. Por outro lado, para exercícios com mesma intensidade relativa, como o percentual da carga máxima de cada indivíduo, ou de intensidade máxima, as respostas endócrinas são semelhantes, independentemente, do nível de condicionamento. HORMÔNIO DO CRESCIMENTO (GH) À medida que o treinamento físico aeróbio progride e a aptidão física melhora, os indivíduos evidenciam menos elevação nos níveis de GH em comparação com sedentários para a mesma intensidade. SAIBA MAIS Após seis semanas de treinamento aeróbio, é possível observar uma redução de até 45% na secreção do GH durante um teste de mesma intensidade, provavelmente, pelo fato de que a melhoria da aptidão física como resposta ao treinamento reduza o estresse em esforços físicos com mesma intensidade absoluta. HORMÔNIO ADRENOCORTICOTRÓFICO (ACTH) O ACTH é produzido e liberado pela adeno-hipófise durante o exercício físico. Seus efeitos podem ser diretos sobre órgãos-alvo para promover ajustes fisiológicos ao exercício ou através do efeito sobre o córtex das glândulas suprarrenais que liberam o cortisol. O aumento da liberação de ACTH durante o exercício é uma adaptação observada em função do treinamento. Os níveis aumentados de ACTH em indivíduos treinados contribuem para a mobilização de substratos energéticos, como as gorduras e para a preservação dos depósitos de glicogênio, certamente, beneficiando o rendimento e atividades de alta intensidade e de longa duração. Imagem: Shutterstock.com Ativação do eixo corticotrópico ao estresse. CORTISOL O aumento dos níveis de cortisol de forma aguda está diretamente correlacionado à intensidade e ao volume do treino. Programas de treinamento que provocam as maiores respostas sobre o cortisol geram respostas agudas nos níveis de GH, lactato e estão altamente correlacionados com o aumento sérico da enzima creatina cinase (CK). Essas evidências suportam o papel do cortisol em situações de exercício, tendo em vista que o aumento na produção de lactato reflete a taxa do metabolismo anaeróbico, e a liberação de CK indica um estresse tecidual com dano celular que é proporcional à intensidade do exercício. Esse aumento é mais importante em indivíduos sedentários em comparação com ativos para a mesma intensidade absoluta. Isso porque, o condicionamento físico reduz o estresse provocado pelo exercício. ATENÇÃO As adaptações crônicas não apresentam resultados consistentes entre os estudos. Na literatura, têm sido reportadas respostas em que se observam aumento, redução ou nenhuma alteração nos níveis basais frente ao treinamento físico crônico. Em animais, essas diferenças individuais explicam a grande variabilidade observada no volume de massa muscular entre os indivíduos. As respostas agudas refletem o estresse metabólico provocado pela sessão de exercício. As respostas crônicas estão envolvidas no controle do metabolismo das proteínas para a homeostase tecidual. HORMÔNIOS SEXUAIS As gonadotrofinas são representadas pelos hormônios folículo estimulante (FSH) e luteinizante (LH), produzidos pela adeno-hipófise em resposta à estimulação hipotalâmica. As gônadas masculinas, testículos; e femininas, ovários, são alvos para esses hormônios, que secretam testosterona em resposta ao FSH e LH. Em geral, o condicionamento físico, através do treinamento de endurance reduz os níveis de hormônios sexuais em homens e mulheres. Imagem: Shutterstock.com Eixo hipotálamo-testículos. Estudos comparando corredores com sedentários de ambos os sexos observaram níveis de testosterona mais baixos em homens; e, em mulheres, a redução dos níveis de progesterona e estrogênio, em função de aumento da depuração e menor taxa de produção desses hormônios. Essas alterações em mulheres podem afetar os ciclos menstruais, o que pode levar à disfunção menstrual e à diminuição dos níveis de FSH em mulheres treinadas durante todo o ciclo menstrual. Com o treinamento resistido, o nível de testosterona aumenta de forma aguda e esse aumento é seguido de um aumento na expressão de receptores androgênicos no tecido muscular e de uma redução abaixo dos níveis basais de testosterona. Uma hipótese para essa redução sugere que essa combinação de efeitos promove o movimento da testosterona do sangue para o ambiente intracelular imediatamente após as sessões de treinamento resistido. As adaptações crônicas indicam níveis basais de testosterona elevados após cinco semanas de treinamento resistido, que tende a ser ainda mais elevado em atletas de levantamento de peso. Essas adaptações explicam parte dos efeitos positivos do treinamento sobre o aumento na massa magra e da força. Entretanto, esses achados são controversos, pois alguns estudos não observaram aumentos significativos na concentração plasmática de testosterona. Parece ser consenso na literatura que a expressão dos receptores de hormônios androgênicos aumenta com o treinamento resistido, o que auxilia nos efeitos sobre a massa muscular e força. RAZÃO TESTOSTERONA/CORTISOL A relação de concentração de testosterona/cortisol tem sido usada para indicar o estado anabólico/catabólico do músculo esquelético frente ao exercício físico. EXEMPLO Você pode interpretar essa relação de diferentes maneiras, por exemplo, um aumento de testosterona com manutenção da concentração de cortisol, ou a manutenção da concentração de testosterona combinada com a redução do cortisol poderiam indicar um estado anabólico. Contudo, a aplicação dessa relação ainda requer melhor compreensão e parece ser uma simplificação para um problema mais amplo e complexo e deve ser usada com cautela. CATECOLAMINAS O aumento agudo das catecolaminas, epinefrina, norepinefrina e dopamina reflete a demanda do exercício sendo importante para aumentar a produção de força, taxa de contração muscular, disponibilidadede substratos energéticos e atua como facilitador para a ação de outros hormônios como a testosterona, o cortisol e o glucagon. A magnitude da resposta aguda depende da força de contração exigida, do volume total de massa muscular recrutado e dos intervalos de recuperação. Essa resposta aguda também tem papel no controle do fluxo sanguíneo. As ações hormonais são extremamente específicas de acordo com os tipos de receptores presentes nas células-alvo. A presença dos receptores β-adrenérgicos nos capilares musculares provoca o aumento do diâmetro desses vasos. A presença da isoforma α-adrenérgico provoca o efeito contrário, diminuindo o diâmetro e o fluxo de sangue do vaso sanguíneo do trato digestório e o fluxo de sangue será reduzido no trato gastrointestinal e aumentado no sistema musculoesquelético. O treinamento crônico promove redução das respostas das glândulas adrenais ao sistema nervoso simpático, em função da redução da liberação de norepinefrina. Logo, a produção de epinefrina e norepinefrina pelas suprarrenais cai drasticamente em função do treinamento, provocando uma resposta de bradicardia e menor elevação da pressão arterial durante o exercício em pessoas fisicamente ativas submetidas ao treinamento submáximo em comparação aos sedentários. Por outro lado, em exercício máximo, os níveis de catecolaminas são maiores em sujeitos treinados. Essa adaptação maximiza o controle de pressão arterial de pessoas treinadas durante o treinamento de alta intensidade ao aumentar a contratilidade cardíaca e potencializa o fluxo sanguíneo para os músculos ativos. O treinamento ainda promove reduções da frequência cardíaca e da pressão arterial de repouso que representam adaptações positivas para o organismo ao reduzir a sobrecarga cardíaca, tanto durante o exercício, quanto em repouso. Imagem: Shutterstock.com Reposta aguda das catecolaminas ao exercício físico. HORMÔNIO ANTIDIURÉTICO (ADH) O ADH ou vasopressina tem um importante papel no controle da homeostase ao exercer efeitos sobre a volemia, pressão arterial e o tônus vascular. A resposta aguda indica aumento na secreção desse hormônio, que pode contribuir para a manutenção dessas variáveis fisiológicas. ATENÇÃO Independentemente da intensidade do exercício físico, seja o exercício submáximo ou intenso até a exaustão não são observadas diferenças na concentração hormonal no plasma em função do treinamento. HORMÔNIOS TIREÓIDEOS As respostas adaptativas do treinamento sobre as concentrações plasmáticas de T3 e T4 são controversas e não são em compreendidas na medida em que existem estudos reportando redução significativa ou nenhuma alteração frente ao treinamento resistido. Já o treinamento de endurance, em mulheres, parece reduzir os níveis basais de T3 e T4 quando o indivíduo deixa de ser sedentário e à medida que aumenta o volume de treinamento, em função da melhoria do condicionamento físico, os níveis hormonais aumentam. Especula-se que esse aumento decorre da redução da gordura corporal, que ativa uma maior taxa de renovação desses hormônios. HORMÔNIOS PANCREÁTICOS Um dos principais benefícios da prática regular de exercícios é o aumento da sensibilidade às ações da insulina através de diversos mecanismos fisiológicos e metabólicos. Em geral, o indivíduo exposto ao treinamento aeróbio ou resistido requer menos insulina em qualquer situação, do repouso ao exercício em diferentes intensidades. Essa mesma reposta aplica-se aos níveis de glucagon, com redução significativa dos níveis de glucagon em sujeitos treinados. ATIVIDADE FÍSICA REGULAR E O RISCO DE DIABETES MELITO TIPO 2 (DM2) Imagem: Shutterstock.com Resistência à insulina. O DM2 é uma patologia caracterizada pela resistência à insulina, principalmente, nos músculos esqueléticos. A resistência à insulina leva à hiperglicemia que, combinada com outros fatores de risco, como obesidade, hipertensão e dislipidemia, levam à síndrome metabólica, o que gera alto risco para doenças cardiovasculares, Alzheimer e vários tipos de câncer. O exercício regular aliado à redução alimentar são estratégias para a prevenção e tratamento desse quadro. A adesão a programas de exercícios físicos proporciona grandes benefícios para a saúde. Dentre esses benefícios, há o melhor controle de glicemia, porque o músculo esquelético ativo aumentará o consumo de glicose e contribuirá para a redução da glicemia. A captação de glicose pelo músculo esquelético durante o exercício não depende da insulina, que, no caso do DM2, está com sua ação comprometida. Logo, essa redução da glicemia independente da ação da insulina reduz a necessidade da insulina, melhorando a sua sensibilidade a longo prazo. Vários estudos confirmam que o exercício regular reverte a resistência à insulina por conta de adaptações bioquímicas que favorecem a remoção da glicose do sangue, que incluem aumento da quantidade do transportador de glicose GLUT4 e maior capacidade de síntese de glicogênio nas células musculares. Objetivos do exercício na resistência à insulina Prevenir a progressão do DM2. Reduzir a dependência pelo tratamento farmacológico. Reduzir o risco de comorbidades. Tabela: Wagner Santos Coelho. A combinação de programas de treinamento aeróbio e de força promove melhorias expressivas em comparação ao treinamento aeróbio isolado em função de envolver maior volume de massa muscular e do gasto calórico adicional. Os benefícios incluem a redução de risco cardiovascular, perda de peso combinada com a regulação de parâmetros séricos como o controle da glicemia e lipidemia, aumentando a sensibilidade à insulina e melhora do perfil psicológico, reduzindo a ansiedade e melhorando o estado geral de humor e autoestima. Entretanto, os benefícios são perdidos com a interrupção da prática de exercícios regularmente. Mecanismos do exercício sobre a resistência à insulina Melhora da sensibilidade à insulina em todo o corpo e músculo esquelético. Aumento da massa muscular (aumento da captação de glicose). A contração estimula a captação de glicose. Melhora da função das células β-pancreática. Tabela: Wagner Santos Coelho. Apesar dos benefícios relatados, também existem riscos da atividade física para o DM2, principalmente, envolvendo respostas agudas durante a prática da atividade, como arritmias cardíacas, aumento excessivo da pressão arterial, aumento da hiperglicemia etc., cujo risco deve ser minimizado através da avaliação e monitoramento adequado durante a prática. TREINAMENTO RESISTIDO E FUNÇÃO ENDÓCRINA O treinamento resistido induz a remodelagem dos músculos com aumento da massa muscular como resposta crônica ao treinamento que envolve um complexo processo anabólico ativado por diferentes hormônios, que leva ao aumento da síntese de proteínas e a redução da degradação proteica. Situação essa que acarreta uma taxa de renovação positiva, bem como alterações no tipo de proteínas que podem explicar benefícios nas funções musculares. VOCÊ SABIA Em homens, o treinamento resistido aumenta a frequência e amplitude de secreção de testosterona e GH, criando um ambiente hormonal favorável à hipertrofia muscular. Estudos indicam que esses efeitos são mais importantes em programas que envolvem grandes grupos musculares e alta intensidade como exercícios de agachamento com cargas de 85-90% da carga máxima ou um treinamento com alto volume, com séries combinadas e intervalos curtos de recuperação. No longo prazo, o treinamento resistido provoca aumento dos níveis de testosterona de repouso em homens. MÚSCULO COMO ÓRGÃO ENDÓCRINO No início dos anos 2000, identificou-se pela primeira vez a capacidade de células musculares de liberar fatores químicos, denominados miocinas, que atuam como hormônios. Assim, o tecido muscular passou a ser considerado um órgão endócrino secretor. Essas miocinas são hormônios peptídicos que podem agir no próprio músculo ou em outros tecidos e incluem fatores hormonais de diferentes famílias, como interleucinas(IL), fatores de crescimento, agentes anti e pró-inflamatórios. Fatores como a miostatina, IL-6 e IL-7 estão envolvidas na hipertrofia e miogênese. O fator neurotrófico derivado do encéfalo (BDNF) ativa a oxidação de gorduras. Fatores de crescimento, como o IGF-1 e o IGF-2 aprimoram a função endotelial e a saúde mineral óssea. A irisina ativa a síntese de novas mitocôndrias no tecido adiposo, acelerando o metabolismo aeróbio nessas células. ATENÇÃO É fundamental apontar que a secreção desses hormônios é influenciada pela atividade contrátil do músculo e, assim, esses efeitos são observados em indivíduos ativos, enquanto o comportamento sedentário pode levar a alterações dessas respostas que podem estar associadas ao surgimento de diversas doenças, como a resistência à insulina, doenças cardiovasculares, osteoporose e câncer. A irisina, liberada em função do exercício, é capaz de recuperar problemas cognitivos no quadro da doença de Alzheimer em modelos animais, sugerindo um elo entre a menor incidência de quadros de demência em pessoas fisicamente ativas ao longo da vida em comparação com sedentários. PEPTÍDEOS OPIOIDES E ATIVIDADE FÍSICA O organismo é capaz de produzir opioides capazes de alterar o humor. Esses podem ser produzidos na adeno-hipófise a partir da molécula precursora propiocortina e incluem outras substâncias como: Β-LIPOTROPINA Β-ENDORFINA DINORFINA As endorfinas podem atuar como neurotransmissores ou neuro-hormônios e são capazes de regular a secreção de vários outros hormônios, podendo estimular a secreção de GH, ACTH, cortisol e catecolaminas. As concentrações séricas de endorfinas em geral aumentam até cinco vezes em relação ao repouso com a prática de exercícios aeróbios ou de força com intensidade moderada. Os efeitos das endorfinas combinados com a ativação do sistema endocanabinoide mediado pelo exercício pode fazer parte das explicações para o melhor estado de humor geral e bem-estar das pessoas fisicamente ativas. O papel fisiológico desses agentes ainda não está completamente esclarecido, mas uma das hipóteses sugere o desencadeamento do “barato do exercício”, um estado de euforia e sentimento de jovialidade relatada por pessoas fisicamente ativas. Esses agentes hormonais ainda podem levar à maior tolerância à dor, auxiliar no controle do apetite, reduzir a ansiedade, tensão, raiva e confusão. RESPOSTAS HORMONAIS AGUDAS E CRÔNICAS AO EXERCÍCIO FÍSICO O especialista Wagner Santos Coelho apresentará um resumo do módulo com as adaptações agudas e crônicas mais importantes para o sistema endócrino. VERIFICANDO O APRENDIZADO 1. O ENGAJAMENTO EM UM PROGRAMA DE EXERCÍCIOS FÍSICOS É MUITO IMPORTANTE COMO ESTRATÉGIA PARA O TRATAMENTO DO QUADRO DE DIABETES MELITO TIPO 2 (DM2) E NO CONTROLE DE TODOS OS DISTÚRBIOS METABÓLICOS QUE ACOMPANHAM ESSA DOENÇA. SOBRE ESSE ASSUNTO, ESCOLHA A ÚNICA AFIRMATIVA VERDADEIRA. A) A prática de exercícios reverte o DM2 ao aumentar a secreção de insulina. B) A maior utilização de glicose pelo músculo no exercício auxilia no controle da hiperglicemia. C) Não há riscos reportados para a participação de pacientes de DM2 em programas de exercícios. D) Apenas o treinamento através de exercícios aeróbios promove benefícios significativos. E) Uma das adaptações crônicas ao exercício físico é o aumento da resistência à insulina. 2. UMA DAS ADAPTAÇÕES CRÔNICAS AO TREINAMENTO DE FORÇA É A HIPERTROFIA MUSCULAR, O QUE LEVA AO AUMENTO DOS NÍVEIS DE FORÇA MUSCULAR. VÁRIOS FATORES CONTRIBUEM PARA ESSAS ADAPTAÇÕES, COMO O TEMPO DE PRÁTICA, O PROGRAMA DE TREINAMENTO, FATORES GENÉTICOS, A ALIMENTAÇÃO E O REPOUSO. FISIOLOGICAMENTE, O SISTEMA ENDÓCRINO TEM PAPEL FUNDAMENTAL NA PROMOÇÃO DE RESPOSTAS ADAPTATIVAS QUE LEVAM À HIPERTROFIA. DENTRE AS OPÇÕES ABAIXO, ESCOLHA AQUELA QUE REPRESENTA EXEMPLOS DE HORMÔNIOS QUE PROMOVEM A HIPERTROFIA MUSCULAR. A) Testosterona e cortisol B) Epinefrina e aldosterona C) GH e testosterona D) Norepinefrina e dopamina E) IL-6 e glucagon GABARITO 1. O engajamento em um programa de exercícios físicos é muito importante como estratégia para o tratamento do quadro de diabetes melito tipo 2 (DM2) e no controle de todos os distúrbios metabólicos que acompanham essa doença. Sobre esse assunto, escolha a única afirmativa verdadeira. A alternativa "B " está correta. O estilo de vida ativo pode auxiliar na recuperação, inclusive, contribuir para a cura do quadro de diabetes melito tipo 2, ao contribuir para a redução da glicemia de forma independente à ação da insulina e aumenta a sensibilidade dos tecidos diante da ação da insulina ao promover modificações metabólicas. 2. Uma das adaptações crônicas ao treinamento de força é a hipertrofia muscular, o que leva ao aumento dos níveis de força muscular. Vários fatores contribuem para essas adaptações, como o tempo de prática, o programa de treinamento, fatores genéticos, a alimentação e o repouso. Fisiologicamente, o sistema endócrino tem papel fundamental na promoção de respostas adaptativas que levam à hipertrofia. Dentre as opções abaixo, escolha aquela que representa exemplos de hormônios que promovem a hipertrofia muscular. A alternativa "C " está correta. A alternativa C está correta. Os hormônios do crescimento (GH) e testosterona têm seus níveis influenciados pela prática de exercícios físicos e são dois importantes agentes anabólicos. MÓDULO 4 Identificar os efeitos dos esteroides e anabolizantes no desempenho desportivo SUBSTÂNCIAS E MÉTODOS PROIBIDOS O desempenho no alto rendimento é determinado por diversos fatores além do treinamento físico. Os recursos ergogênicos são substâncias e técnicas utilizadas para aprimorar o desempenho. Esses recursos podem ser nutricionais, físicos, mecânicos, psicológicos ou farmacológicos e melhoram a capacidade desportiva, os processos fisiológicos, psicológicos e as vantagens mecânicas das habilidades esportivas. VOCÊ SABIA O uso de recursos ergogênicos remonta à Antiguidade, onde o consumo de carne crua, partes específicas de animais e bebidas alcoólicas eram usados para incorporar características dessas fontes, como a força ou agilidade de um determinado animal, sendo usado em atividades atléticas ou por soldados ao se prepararem para batalhas. Atualmente, o alto nível competitivo leva os atletas a buscarem todo tipo de recurso que possa proporcionar melhor desempenho. Muitos recursos apresentam efeitos placebo, pois provocam resultados apenas pelo poder da sugestão, a partir da crença de que aquilo irá funcionar. Várias outras substâncias ou métodos têm seus efeitos relatados na literatura e uma extensa lista inclui estudos para avaliar possíveis efeitos positivos sobre o desempenho de substâncias como: álcool, efedrina, anfetaminas, suplementação nutricional, transfusão sanguínea, cafeína, maconha, cocaína e hormônios. O uso de esteroides anabolizantes, hormônio do crescimento humano, desidroepiandrosterona (DHEA) estão entre as principais preocupações das agências antidopagem, uma vez que o uso indiscriminado de substância pode trazer dois problemas distintos; o primeiro é a criação de uma competição injusta onde alguns atletas levam vantagens ao burlar as regras e usar métodos proibidos para aprimorar o rendimento, e segundo, talvez mais importante, decorra do fato de que essa prática aumenta muito a chance de efeitos colaterais adversos que podem variar desde desconforto físico até situações muito graves que podem levar ao óbito. Foto: Shutterstock.com Doping no Esporte. A Agência Internacional Antidopagem (WADA) publica anualmente atualizações do código mundial antidopagem, cujos propósitos são o de proteger os atletas em participar de competições justas e livres de artifícios para elevar o rendimento físico, promover a saúde e garantir eficácia, padronização e coordenação de programas antidopagem em nível internacional. A lista de substâncias e métodos proibidos inclui fatores proibidos permanentemente ou apenas nos períodosde competição e pode ser estendida especificamente em função de uma modalidade desportiva em particular. Proibidos permanentemente Agentes anabolizantes, hormônios peptídicos e fatores de crescimento, agonistas β-adrenérgicos, moduladores hormonais e metabólicos e diuréticos usados para mascarar o uso de substâncias ilícitas. Proibidos durante as competições Já estimulantes, narcóticos, canabinoides e glicocorticoides são proibidos apenas durantes as competições e β-bloqueadores são proibidos em esportes específicos. ESTEROIDES ANDROGÊNICOS Nessa classe de drogas, estão os esteroides anabolizantes; drogas que atuam de forma semelhante aos hormônios androgênico masculino, como a testosterona, e inclui uma extensa lista de substâncias. Atletas e não atletas utilizam esses agentes com expectativas de ganhar peso, massa muscular, força, potência, velocidade e resistência. De fato, o uso de esteroides promove melhoria dessas capacidades físicas acima daquilo esperado apenas com o treinamento. Os atletas mais beneficiados serão aqueles das modalidades desportivas que dependem dessas capacidades físicas, assim, o uso mais comum inclui as modalidades do atletismo nas corridas de velocidade, arremessos, levantamento de peso e futebol americano. Por outro lado, essas substâncias são usadas para fins clínicos no tratamento de doenças que acarretam a perda ou desgaste muscular e são eficazes em mitigar muitos efeitos das doenças em função da capacidade de promover o anabolismo e a retenção de nitrogênio. EFEITOS DOS ESTEROIDES Imagem: Shutterstock.com Efeitos fisiológicos da testosterona. O papel dos hormônios esteroides, principalmente, a testosterona, está relacionado às mudanças e ao grande desenvolvimento observado durante a puberdade e adolescência. Os hormônios masculinos promovem efeitos androgênicos e anabólicos. EFEITOS ANDROGÊNICOS Referem-se às modificações das características sexuais primárias e secundárias, que incluem o crescimento do pênis e testículos, mudanças no timbre da voz, distribuição de pelo, crescimento de pelos na face, axila e genitais e aumento da agressividade. Já os efeitos anabólicos incluem o crescimento muscular, ósseo, aumento do número de eritrócitos e da capacidade de condução neural. EFEITOS ANABÓLICOS São quimicamente sintetizados e funcionam de maneira semelhante à testosterona, ou seja, com as mesmas propriedades anabólicas. A indústria farmacêutica desenvolve drogas que tenham efeitos androgênicos reduzidos, principalmente, relacionados às características sexuais masculinizantes. Entretanto, as ações androgênicas são essencialmente efeitos anabólicos sobre os tecidos-alvo, assim, em geral, quanto maiores os efeitos anabólicos, maiores também são os efeitos androgênicos. MECANISMOS DE AÇÃO Os efeitos anabólicos dos esteroides ocorrem a partir da interação com receptores intracelulares localizados no citoplasma e após a formação do complexo hormônio-receptor. Este é deslocado para o núcleo celular, onde fatores de transcrição gênica serão ativados, resultando na síntese de RNA mensageiros específicos, em seguida, podem ser traduzidos pela ação do sistema dos ribossomos, dando origem a novas proteínas que sustentam os efeitos anabólicos. Os esteroides também podem atuar sobre receptores localizados no próprio núcleo, exercendo as mesmas respostas celulares. ATENÇÃO Aparentemente, o treinamento de força de alta intensidade é necessário para que os esteroides exerçam seus efeitos anabólicos. Estudos sugerem que a ação dos esteroides depende do número de sítios disponíveis, ou seja, dos receptores nas células-alvo para a formação do complexo hormônio-receptor. Em homens, esses sítios fisiologicamente encontram-se próximos da saturação, assim, o uso isolado da droga exerce poucos efeitos, por outro lado, o treinamento de força aumenta a expressão dos receptores e, dessa forma, potencializa os efeitos da droga. EFEITOS ANTICATABÓLICOS DOS ESTEROIDES Muitos benefícios decorrentes do treinamento que promovem o condicionamento físico são explicados pelo aumento da massa muscular e por mudanças metabólicas. Essas adaptações envolvem o aumento na quantidade e qualidade de enzimas-chave das vias bioenergéticas, dos sistemas de comunicação celular e de proteínas estruturais. O aumento da massa muscular, no entanto, não é fruto apenas das respostas anabólicas, mas sim da combinação entre as taxas de síntese e degradação de proteínas (turnover proteico), que você pode traduzir como taxa de renovação proteica. O metabolismo de proteínas é dinâmico, uma célula requer milhares de proteínas diferentes, a toda hora, que precisam ser sintetizadas e, quando não são mais necessárias, são degradadas. A meia vida de uma proteína varia de 30 segundos até vários dias. As respostas anabólicas crônicas podem decorrer de um efeito anabólico ou anticatabólico e da combinação dos dois fatores, ou seja, o corpo pode acumular proteínas ao aumentar a sua síntese, mantendo o nível de degradação, reduzir a degradação ou combinar o aumento da síntese com a inibição da degradação de proteínas. Os anabolizantes apresentam efeitos anticatabólicos ao inibirem a sinalização dos hormônios glicocorticoides e reduzir a resposta catabólica desses hormônios durante a recuperação ao exercício. Ao bloquear os efeitos de hormônios como o cortisol, cuja secreção aumenta frente ao estresse provocado pelo exercício, promove-se uma recuperação mais eficiente do organismo. Muitos atletas relatam que os esteroides permitem que eles treinem de forma mais intensa e se recuperem mais rapidamente. Contudo, esses efeitos positivos são um “tiro pela culatra” quando os atletas interrompem o uso da droga, porque várias adaptações ocorrem como fruto dos níveis aumentados dos esteroides, incluindo o aumento da secreção do cortisol, que, com a interrupção do uso, apresentará um efeito catabólico mais potente do que o esperado em níveis regulares, como um efeito rebote. EFEITOS PSICOLÓGICOS Alguns estudos reportam que o uso de esteroides anabolizantes aumenta os níveis adrenérgicos e serotonérgicos no sistema nervoso central, que pode contribuir para um comportamento mais agressivo, aprimorando a resposta de “luta e fuga” do sistema nervoso autônomo simpático em até 200%. Foto: Shutterstock.com Esse estado psicossomático é caracterizado por aumento da sensação de bem-estar, autoconfiança, euforia e tolerância ao estresse, podendo garantir aos usuários uma capacidade maior de suportar o estresse do treinamento. ESTEROIDES ANABOLIZANTES E PERFORMANCE O uso indiscriminado dos esteroides cresce a partir da década de 1960, principalmente, por atletas de fisiculturismo e de potência, resultando em mudanças importantes nos perfis dos atletas e no rendimento. Contudo, apenas a partir de estudos realizados na década de 1990 que se compreenderam as relações entre as doses necessárias para a promoção de melhores índices de rendimento desportivo. VOCÊ SABIA Quanto mais altos os níveis séricos de testosterona, maiores são os efeitos sobre a massa muscular e, consequentemente, os níveis de força e potência muscular. Em alguns casos, estudos reportam aumentos dos níveis de força de até 30%. Atletas que fazem uso de esteroides geralmente combinam várias formas de esteroides sintéticos com outros suplementos como o hormônio do crescimento, IGF-1 e clenbuterol; além de administrarem drogas com a intenção de prevenir efeitos colaterais como o nolvadex, usado para evitar a ginecomastia, crescimento anormal das mamas. Imagem: Shutterstock.com Ginecomastia. Em resumo, os efeitos dos esteroides anabolizantes sobre a performance incluem o aumento dos níveis de força, potência, massa muscular e velocidade, principalmente, em atletas expostos ao treinamento de alta intensidade. Apesar de não ser observado aumento do consumo máximo de oxigênio (VO2máx), a capacidade aeróbica pode melhorar em função da maior geração de potência, o que permite
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