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concilio-vaticano-segundo p20

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Documentos 
 
do 
 
Concílio Ecumênico 
 
VATICANO II 
 
A presente edição é baseada na tradução oficial da Tipografia Poliglota 
Vaticana e cotejada com os textos originais em latim. 
 
Citações bíblicas no texto 
A Bíblia de Jerusalém, Paulus, São Paulo, 1985 
 
Citações bíblicas nas notas 
Bíblia Sagrada Edição Pastoral, Paulus, São Paulo, 1990 
 
Direção editorial 
Paulo Bazaglia 
 
Organização geral e cotejo com os textos originais 
Lourenço Costa 
 
 © PAULUS 2002 
 Rua Francisco Cruz, 229 
 04117-091 São Paulo (Brasil) 
 Fax (11) 5579-3627 
 Tel. (11) 5084-3066 
 www.paulus.com.br 
 editorial@paulus.com.br 
 
 
2 
NOTA INTRODUTÓRIA 
AOS DOCUMENTOS DO CONCÍLIO ECUMÊNICO VATICANO II 
 
No início de cada documento, encontra-se breve introdução que ajuda a 
contextualizar sinteticamente o caminho feito pelo texto em alusão, até ser 
aprovado. Os títulos internos, distribuídos ao longo dos dezesseis documentos, 
interpretam o que se vai ler, e os subtítulos enfocam mais em pormenores as 
várias seqüências do texto. Esses subtítulos (não presentes na edição latina 
original) ajudam a visualizar melhor o conteúdo do texto. A seqüência 
numérica segue exatamente o texto original latino. 
O critério editorial que se procurou aplicar é o da fidelidade ao original. 
O “índice analítico” final destaca as palavras-chave dos documentos 
emanados pelo Vaticano II. 
O presente livro traz também os textos convocatórios e de abertura do 
Concílio, elaborados por João XXIII, e a homilia conclusiva ao Concílio, feita 
por Paulo VI. 
Para concluir, um “Índice cronológico”. 
DOCUMENTOS DO CONCÍLIO VATICANO II 
AA Apostolicam actuositatem. Decreto sobre o apostolado dos leigos. 
AG Ad gentes. Decreto sobre a atividade missionária da Igreja. 
CD Christus Dominus. Decreto sobre o múnus pastoral dos bispos. 
DH Dignitatis humanae. Declaração sobre a liberdade religiosa. 
DV Dei Verbum. Constituição dogmática sobre a Divina Revelação. 
GE Gravissimum educationis. Declaração sobre a educação cristã. 
GS Gaudium et spes. Constituição pastoral sobre a Igreja no mundo de hoje. 
IM Inter mirifica. Decreto sobre os meios de comunicação social. 
LG Lumen gentium. Constituição dogmática sobre a Igreja. 
NA Nostra aetate. Declaração sobre as relações da Igreja com as religiões não-
cristãs. 
 
 
3 
OE Orientalium ecclesiarum. Decreto sobre as Igrejas católicas orientais 
OT Optatam totius. Decreto sobre a formação sacerdotal. 
PC Perfectae caritatis. Decreto sobre a adequada renovação da vida religiosa. 
PO Presbyterorum ordinis. Decreto sobre o ministério e vida dos presbíteros. 
SC Sacrosanctum Concilium. Constituição sobre a sagrada liturgia. 
UR Unitatis redintegratio. Decreto sobre o ecumenismo. 
CONSTITUIÇÃO APOSTÓLICA 
COM A QUAL É CONVOCADO O CONCÍLIO ECUMÊNICO VATICANO 
II 
 
JOÃO BISPO 
SERVO DOS SERVOS DE DEUS 
PARA MEMÓRIA PERPÉTUA 
Introdução 
O divino Redentor Jesus Cristo que, antes de subir ao céu, dera aos Apósto-
los o mandato de pregar o Evangelho a todos os povos, para sustento e garantia 
da sua missão, fez-lhes a consoladora promessa: “Eis que estarei convosco 
todos os dias até ao fim dos séculos” (Mt 28,20). 
Esta divina presença, em todo tempo viva e operante na Igreja, é sentida 
sobretudo nos períodos mais graves da humanidade. Então a esposa de Cristo 
se mostra em todo o seu esplendor de mestra da verdade e medianeira de 
salvação, e exerce também todo o poder da caridade, da oração, do sacrifício e 
do sofrimento: meios espirituais invencíveis, usados por seu divino Fundador 
que, em hora solene de sua vida, declarou: “Tende confiança: eu venci o 
mundo” (Jo 16,33). 
Constatações dolorosas 
A Igreja assiste, hoje, a uma crise que aflige gravemente a sociedade hu-
mana. Enquanto a humanidade está para entrar num tempo novo, obrigações 
de gravidade e amplitude imensas pesam sobre a Igreja, como nas épocas mais 
trágicas da sua história. Trata-se, na verdade, de pôr em contato o mundo 
 
 
4 
moderno com as energias vivificadoras e perenes do Evangelho: mundo que se 
exalta em suas conquistas no campo da técnica e da ciência, mas que carrega 
também as conseqüências de uma ordem temporal que alguns quiseram reor-
ganizar prescindindo de Deus. Por isso, a sociedade moderna caracteriza-se 
por um grande progresso material ao qual não corresponde igual progresso no 
campo moral. Daí, o anseio enfraquecido pelos valores do espírito. Daí o 
impulso para a procura quase exclusiva dos gozos terrenos, que o avanço da 
técnica põe, com tanta facilidade, ao alcance de todos. E daí também, um fato 
inteiramente novo e desconcertante: a existência do ateísmo militante, operan-
do em plano mundial. 
Motivos de confiança 
Estas dolorosas constatações chamam a atenção sobre o dever da vigilância 
e mantêm desperto o sentido da responsabilidade. Almas sem confiança vêem 
apenas trevas acinzentando a face da terra. Nós, porém, preferimos reafirmar 
toda a confiança em nosso Salvador, que não se afastou do mundo, por ele 
remido. Mais ainda: apropriando-nos da recomendação de Jesus, de saber 
distinguir “os sinais dos tempos” (Mt 16,3), parece-nos vislumbrar, no meio de 
tantas trevas, não poucos indícios que dão sólida esperança de tempos melho-
res à sorte da Igreja e da humanidade. Pois mesmo as guerras sangrentas que 
se sucederam em nossos tempos, as ruínas espirituais causadas por tantas 
ideologias e os frutos de experiências tão amargas não se deram sem deixar 
úteis ensinamentos. O próprio progresso científico, que deu ao homem a 
possibilidade de criar instrumentos catastróficos para a sua destruição, suscitou 
interrogações angustiosas; obrigou os seres humanos a tornarem-se pondera-
dos, mais conscientes dos próprios limites, desejosos de paz, atentos à impor-
tância dos valores espirituais; e acelerou o processo de mais estreita colabora-
ção e de mútua integração entre os indivíduos, classes e nações, para o qual, 
embora entre mil incertezas, parece já encaminhada a família humana. Tudo 
isto facilita, sem dúvida, o apostolado da Igreja, pois muitos que antes não 
percebiam a importância da sua missão, hoje, ensinados pela experiência, estão 
mais dispostos a acolher as suas advertências. 
Vitalidade atual da Igreja 
Mais, se voltarmos a atenção para a Igreja, vemos que ela não permaneceu 
espectadora inerte diante desses acontecimentos, mas seguiu, passo a passo, a 
evolução dos povos, o progresso científico, as revoluções sociais; posicionou-
 
 
5 
se, decididamente, contra as ideologias materialistas e negadoras da fé; viu, 
enfim, brotar e desprender-se de seu seio imensas energias de apostolado, de 
oração, de ação em todos os campos, por parte, primeiramente, de clero sem-
pre mais à altura da sua missão pela doutrina e virtude e, depois, por parte do 
laicato, que se tornou sempre mais consciente das suas responsabilidades no 
seio da Igreja e, de modo especial, do seu dever de colaborar com a hierarquia 
eclesiástica. A isto se acrescentam os imensos sofrimentos de cristandades 
inteiras, motivo pelo qual uma multidão admirável de Pastores, de sacerdotes e 
de leigos, marcam a coerência da própria fé, sofrendo perseguições de toda a 
espécie e revelando heroísmos certamente não inferiores ao dos períodos mais 
gloriosos da Igreja. De tal forma que, se o mundo aparece profundamente 
mudado, também a comunidade cristã ficou em grande parte transformada e 
renovada; isto é, fortaleceu-se socialmente na unidade, revigorou-se intelectu-
almente, purificou-se interiormente, tornando-se apta a enfrentar todos os 
combates da fé. 
O Concílio Ecumênico Vaticano II 
Diante deste duplo espetáculo: um mundo que revela um grave estado de 
indigência espiritual, e a Igreja de Cristo,tão vibrante de vitalidade, nós, desde 
quando subimos ao supremo Pontificado, não obstante a nossa indignidade e 
por desígnio da Providência, sentimos logo o urgente dever de convocar os 
nossos filhos para dar à Igreja a possibilidade de colaborar mais eficazmente 
na solução dos problemas dos nossos tempos. Por este motivo, acolhendo 
como vinda do alto uma voz íntima do nosso espírito, julgamos ter chegado o 
tempo de oferecer à Igreja católica e ao mundo o dom de um novo Concílio 
Ecumênico, em acréscimo e continuação à série dos vinte grandes Concílios, 
realizados ao longo dos séculos, como uma verdadeira providência celeste para 
o incremento da graça e o progresso cristão. A jubilosa repercussão que teve o 
seu anúncio, seguida da participação orante de toda a Igreja e do fervor, verda-
deiramente encorajador, nos trabalhos de preparação, como também o vivo 
interesse ou, pelo menos, a atenção respeitosa por parte dos não-católicos e até 
dos não-cristãos, demonstraram de maneira muito eloqüente, como não esca-
pou a ninguém a importância histórica do acontecimento. 
O próximo Concílio, portanto, reúne-se, felizmente, no momento em que a 
Igreja percebe, de modo mais vivo, o desejo de fortificar a sua fé e de se olhar 
na própria e maravilhosa unidade; como, também, percebe melhor o urgente 
dever de dar maior eficiência à sua forte vitalidade, e de promover a santifica-
 
 
6 
ção de seus membros, a difusão da verdade revelada, a consolidação das suas 
estruturas. Será esta uma demonstração da Igreja, sempre viva e sempre jo-
vem, que sente o ritmo do tempo e que, em cada século, se orna de um novo 
esplendor, irradia novas luzes, realiza novas conquistas, permanecendo, contu-
do, sempre idêntica a si mesma, fiel à imagem divina impressa na sua face 
pelo Esposo que a ama e protege, Jesus Cristo. 
Num momento, pois, de generosos e crescentes esforços que de várias par-
tes são feitos com o fim de reconstituir aquela unidade visível de todos os 
cristãos que corresponda aos desejos do divino Redentor, é muito natural que o 
próximo Concílio estabeleça as premissas de clareza doutrinal e de caridade 
recíproca, que tornarão ainda mais vivo nos irmãos separados o desejo do 
auspicioso retorno à unidade e lhe aplainarão o caminho. 
Ao mundo, enfim, perplexo, confuso, ansioso sob a contínua ameaça de 
novos e assustadores conflitos, o próximo Concílio é chamado a oferecer uma 
possibilidade para todos os homens de boa vontade, e de propor pensamentos e 
propósitos de paz: paz que pode e deve vir sobretudo das realidades espirituais 
e sobrenaturais da inteligência e da consciência humana, iluminadas e guiadas 
por Deus, Criador e Redentor da humanidade. 
Programa de trabalhos do Concílio 
Estes frutos do Concílio, por nós tão esperados e sobre os quais tão fre-
qüentemente temos falado, supõem um vasto programa de trabalho, que ora se 
está preparando. Isto diz respeito aos programas doutrinais e práticos que mais 
correspondem às exigências da perfeita conformidade à doutrina cristã, à 
edificação e ao serviço do Corpo Místico e da sua missão sobrenatural, isto é, 
a Sagrada Escritura, a veneranda Tradição, os sacramentos, a oração, a disci-
plina eclesiástica, as atividades caritativas e assistenciais, o apostolado dos 
leigos e os horizontes missionários. 
Esta ordem sobrenatural deve refletir, porém, toda a sua eficácia também 
sobre a outra, a temporal, que, infelizmente, vem a ser tantas vezes a única que 
ocupa e preocupa o homem. Também neste campo a Igreja demonstrou querer 
ser Mater et Magistra, segundo a expressão do nosso longínquo e glorioso 
antecessor Inocêncio III, pronunciada por ocasião do IV Concílio de Latrão. 
Embora não tenha finalidade diretamente terrestre, ela não pode desinteressar-
se, no seu caminho, dos problemas e inquietações gerados por eles. Sabe 
quanto aproveitam ao bem da alma aqueles meios que são aptos a tornar mais 
 
 
7 
humana a vida de todos os homens, que devem ser salvos. Sabe que, vivifican-
do a ordem temporal com a luz de Cristo, revela também os homens a si mes-
mos, leva-os, isto é, a descobrir em si mesmos o próprio ser, a própria digni-
dade e a própria finalidade. Daí a presença viva da Igreja, estendida, hoje, de 
direito e de fato, às organizações internacionais, e daí a elaboração da sua 
doutrina social referente à família, à escola, ao trabalho, à sociedade civil, e a 
todos os problemas conexos, que elevaram a um altíssimo prestígio o seu 
magistério, como a voz mais autorizada, intérprete e propugnadora da ordem 
moral, reivindicadora dos direitos e dos deveres de todos os seres humanos e 
de todas as comunidades políticas. 
Por isso, a influência benéfica das deliberações conciliares, como vivamen-
te esperamos, deverá impor-se a ponto de revestir de luz cristã e penetrar de 
fervorosa energia espiritual não só o íntimo das almas, mas o conjunto das 
atividades humanas. 
Convocação do Concílio 
O primeiro anúncio do Concílio, por nós dado no dia 25 de janeiro de 1959, 
foi como a pequena semente que lançamos com ânimo e mãos trêmulas. Am-
parados pela ajuda celestial, lançamo-nos ao complexo e delicado trabalho de 
preparação. Já se passaram quase três anos, em que, dia a dia, vimos desenvol-
ver-se a pequena semente e tornar-se, com a bênção de Deus, uma grande 
árvore. Ao rever o longo e cansativo caminho percorrido, eleva-se da nossa 
alma um hino de agradecimento ao Senhor, por ele nos ter sido pródigo em 
auxílios, de tal modo que tudo se desenrolou convenientemente, e na harmonia 
dos espíritos. 
Antes de determinar os assuntos a serem estudados, com vistas ao futuro 
Concílio, quisemos conhecer o sábio e ilustrado parecer do Colégio Cardinalí-
cio, do Episcopado de todo o mundo, dos Sagrados Dicastérios da Cúria Ro-
mana, dos Superiores das Ordens e das Congregações Religiosas, das Univer-
sidades e das Faculdades Eclesiásticas. No decorrer de um ano, terminou-se 
este ingente trabalho de consultas, de cujo exame brotaram claros os pontos a 
serem submetidos a um profundo estudo. 
Constituímos, então, os diversos organismos preparatórios, aos quais confi-
amos a árdua tarefa de elaborar os esquemas doutrinais e disciplinares, entre os 
quais escolheremos os que desejamos submeter à assembléia conciliar. 
 
 
8 
Temos, finalmente, a alegria de comunicar que este imenso trabalho de es-
tudo, ao qual deram sua contribuição valiosa cardeais, bispos, prelados, teólo-
gos, canonistas, e especialistas de todas as partes do mundo, está finalmente 
chegando ao fim. 
Confiando, pois, no auxílio do divino Redentor, princípio e fim de todas as 
coisas, de sua augusta Mãe e de são José, aos quais, desde o início, entregamos 
um tão grande acontecimento, parece-nos chegada a hora de convocar o Con-
cílio Ecumênico Vaticano II. 
Portanto, depois de ouvir o parecer de nossos irmãos os cardeais da Santa 
Igreja Romana, com a autoridade de nosso Senhor Jesus Cristo, dos santos 
apóstolos Pedro e Paulo e a nossa, anunciamos, estabelecemos e convocamos 
para o próximo ano de 1962 o Concílio Ecumênico Geral, que se celebrará na 
Basílica Vaticana, nos dias que serão fixados segundo a oportunidade que a 
boa Providência nos quiser oferecer. 
Queremos, em conseqüência, e ordenamos que a este Concílio Ecumênico, 
por nós convocado, venham de toda a parte todos os nossos diletos filhos 
cardeais, os veneráveis irmãos patriarcas, primazes, arcebispos e bispos tanto 
residenciais como titulares e, além disso, todos os que têm direito e dever de 
intervir no Concílio. 
Convite à oração 
E agora pedimos a cada um dos fiéis e a todo o povo cristão de continuar na 
participação, e na oração mais viva, que acompanhe, vivifique e adorne a 
preparação próxima do grande acontecimento. Seja esta oração inspirada pela 
fé ardente e perseverante; seja acompanhada por aquela penitênciacristã, que a 
torna mais aceita a Deus e mais eficaz; seja valorizada pelo esforço de vida 
cristã, qual penhor antecipado da disposição decidida de cada fiel em aplicar 
os ensinamentos e as diretrizes práticas que emanarem do próprio Concílio. 
Ao venerável clero, tanto secular como regular, espalhado por todo o mun-
do, a todas as categorias de fiéis dirigimos o nosso apelo. Mas, de modo espe-
cial, confiamos o seu êxito às preces das crianças, sabendo muito bem quanto é 
poderosa junto de Deus a voz da inocência; e aos enfermos e sofredores, 
porque os seus sofrimentos e a sua vida de imolação, em virtude da cruz de 
Cristo, transformam-se e elevam-se em oração, em redenção, em fonte de vida 
para a Igreja. 
 
 
9 
A este coro de orações convidamos também os cristãos separados da Igreja 
católica, pois também a eles o Concílio trará frutos. Sabemos que muitos 
destes filhos estão ansiosos por um retorno à unidade e à paz, segundo o 
ensinamento e a prece de Cristo ao Pai. Sabemos, também, que o anúncio do 
Concílio não só foi por eles acolhido com alegria, mas não poucos já promete-
ram oferecer as suas orações para seu feliz êxito, e esperam enviar represen-
tantes de suas comunidades para seguirem de perto os trabalhos. Tudo isto é 
para nós motivo de grande conforto e esperança, e, precisamente para favore-
cer estes contatos, instituímos, com este fim, já há tempo, um secretariado com 
esta determinada finalidade. 
Repita-se, assim, na família cristã o espetáculo dos apóstolos reunidos em 
Jerusalém, depois da ascensão de Jesus aos céus, quando a Igreja nascente se 
encontrou toda unida em comunhão de pensamento e de oração com Pedro e 
ao redor de Pedro, pastor dos cordeiros e das ovelhas. E digne-se o divino 
Espírito ouvir da maneira mais consoladora a oração que todos os dias sobe de 
todos os recantos da terra: “Renova em nossos dias como que os prodígios 
dum novo Pentecostes, e concede que a Igreja santa, reunida em unânime e 
mais intensa oração com Maria, Mãe de Jesus, e guiada por Pedro, difunda o 
reino do divino Salvador, que é reino de verdade, de justiça, de amor e de paz. 
Assim seja” (AAS 51 [1959], p. 832). 
Queremos que a presente Constituição conserve toda a sua eficácia agora e 
no futuro; de tal forma que o que por ela foi decretado seja religiosamente 
observado por todos aos quais diz respeito, e portanto, conserve a sua força. 
Nenhuma prescrição contrária, seja de que gênero for, poderá opor-se à eficá-
cia desta Constituição, visto que com esta derrogamos de todas as prescrições 
de tal gênero. Por isso, se alguém, qualquer que seja a sua autoridade, consci-
entemente ou por ignorância, agir contra o que estabelecemos, declaramos tais 
atos nulos e sem valor. Além disso, que ninguém tire ou altere algo destes 
documentos da nossa vontade ou desta Constituição. Os exemplares e extratos, 
impressos ou escritos à mão que trazem o selo de uma pessoa constituída em 
dignidade eclesiástica, e são assinados por tabelião, terão a mesma autoridade 
deste documento. Se alguém desprezar ou recusar, seja de que forma for, o que 
foi decretado, fique ciente de que incorre nas penas estabelecidas pelo direito 
aos que não obedecem às ordens dos Sumos Pontífices. 
 
Dado em Roma, junto de São Pedro, aos 25 de dezembro, festa do nasci-
 
 
10 
mento de Nosso Senhor Jesus Cristo, de 1961, quarto ano do Nosso Pontifica-
do. 
 
Eu, JOÃO, Bispo da Igreja Católica 
(Seguem-se as assinaturas dos Cardeais) 
CARTA APOSTÓLICA 
DADA 
MOTU PROPRIO 
ESTABELECE-SE O DIA DA ABERTURA 
DO CONCÍLIO VATICANO II 
A 25 de dezembro do ano passado, 1961, festa do nascimento de nosso Se-
nhor Jesus Cristo, atuando uma decisão longamente amadurecida no nosso 
espírito, e ao mesmo tempo satisfazendo a expectativa comum do mundo 
católico, com a Constituição apostólica Humanae salutis convocamos para o 
corrente ano de 1962 a celebração do Concílio Ecumênico Vaticano II. 
Agora, depois de atenta reflexão, e com o fim de darmos aos participantes 
do Concílio a possibilidade de predisporem com tempo todas as coisas, deter-
minamos estabelecer para o dia 11 do próximo mês de outubro a inauguração 
do Concílio Ecumênico Vaticano II. Escolhemos esta data sobretudo por este 
motivo: porque ela se prende à lembrança do grande Concílio de Éfeso, que 
teve suma importância na história da Igreja. 
Ao aproximar-se tão solene assembléia, não podemos deixar de exortar, a-
inda uma vez, todos os nossos filhos a intensificarem sempre mais as suas 
orações a Deus pelo feliz êxito deste acontecimento, ao qual estamos dedicado 
juntamente com os nossos veneráveis irmãos e diletos filhos, diretamente 
empenhados nos trabalhos de preparação do mesmo Concílio, e em união com 
todo o clero e povo cristão, que vivamente o esperam. Os frutos que ardente-
mente desejamos desta celebração são sobretudo estes: que a Igreja, esposa de 
Cristo, revigore sempre mais as suas divinas energias e, na mais vasta medida, 
estenda a sua benéfica influência no ânimo de todos os homens. 
Deste modo, podemos esperar que os povos, volvendo mais confiadamente 
 
 
11 
o olhar para Cristo, lumen ad revelationem gentium, especialmente aqueles 
que com tanta dor vemos sofrer por motivo de desventuras, discórdias e cala-
mitosos conflitos, possam finalmente alcançar uma verdadeira paz, no respeito 
dos direitos e dos deveres recíprocos. 
Por isso, após madura deliberação, por motu proprio e em virtude da nossa 
autoridade apostólica, estabelecemos e decretamos que o Concílio Ecumênico 
Vaticano II tenha início no dia 11 de outubro do corrente ano. 
Tudo o que estabelecemos nesta Carta apostólica motu proprio, ordenamos 
que seja afirmado e ratificado, não obstante qualquer outra disposição em 
contrário. 
 
Dado em Roma, junto de São Pedro, aos 2 de fevereiro de 1962, festa da 
Purificação da Bem-aventurada Virgem Maria, quarto ano do Nosso Pontifica-
do. 
 
JOÃO PP. XXIII 
11 DE OUTUBRO 1962 
DISCURSO DO PAPA JOÃO XXIII 
NA ABERTURA SOLENE DO CONCÍLIO 
Veneráveis irmãos, 
Alegra-se a santa mãe Igreja, porque, por singular dom da Providência di-
vina, amanheceu o dia tão ansiosamente esperado em que solenemente se 
inaugura o Concílio Ecumênico Vaticano II, aqui, junto do túmulo de São 
Pedro, com a proteção da Santíssima Virgem, de quem celebramos hoje a 
dignidade de Mãe de Deus. 
Os Concílios Ecumênicos na Igreja 
Todos os Concílios celebrados na história, tanto os 20 Concílios Ecumêni-
cos, como os inúmeros Provinciais e Regionais, também importantes, testemu-
nham claramente a vitalidade da Igreja Católica e constituem pontos lumino-
sos da sua história. 
 
 
12 
O gesto do mais recente e humilde sucessor de são Pedro que vos fala, de 
convocar esta soleníssima reunião, pretendeu afirmar, mais uma vez, a conti-
nuidade do magistério eclesiástico, para o apresentar, em forma excepcional, a 
todos os homens do nosso tempo, tendo em conta os desvios, as exigências e 
as possibilidades deste nosso tempo. 
É bem natural que, inaugurando o Concílio Ecumênico, nos apraza con-
templar o passado, para ir recolher, por assim dizer, as vozes, cujo eco anima-
dor queremos tornar a ouvir na recordação e nos méritos, tanto dos mais anti-
gos, como também dos mais recentes Pontífices, nossos predecessores: vozes 
solenes e venerandas, elevadas no Oriente e no Ocidente, desde o século IV até 
à Idade Média, e desde então até aos nossos dias, que transmitiram desde 
aqueles Concílios o seu testemunho; vozes a aclamarem em perenidade de 
fervor o triunfo da instituição divina e humana, a Igreja de Cristo, que recebe 
dele o nome, a graça e o significado. 
Mas, ao lado dos motivos de alegria espiritual, é também verdade que sobre 
esta história se estende ainda, por mais de 19 séculos, uma nuvem de tristeza e 
de provações.Não é sem motivo que o velho Simeão manifestou a Maria, Mãe 
de Jesus, aquela profecia, que foi e permanece verdadeira: “Este menino está 
posto para ruína e para ressurreição de muitos, e será sinal de contradição” (Lc 
2,34). E o próprio Jesus, chegando à idade adulta, fixou bem claramente a 
atitude que o mundo havia de continuar a tomar perante a sua pessoa através 
dos séculos, ao pronunciar aquelas palavras misteriosas: “Quem vos ouve, a 
mim ouve” (Lc 10,16); e com aquelas outras, citadas pelo mesmo evangelista: 
“Quem não está comigo, está contra mim; e quem não recolhe comigo, des-
perdiça” (Lc 11,23). 
O grande problema, proposto ao mundo, depois de quase dois milênios, 
continua o mesmo. Cristo sempre a brilhar no centro da história e da vida; os 
homens ou estão com ele e com a sua Igreja, e então gozam da luz, da bonda-
de, da ordem e da paz; ou estão sem ele, ou contra ele, e deliberadamente 
contra a sua Igreja: tornam-se motivo de confusão, causando aspereza nas 
relações humanas, e perigos contínuos de guerras fratricidas. 
Os Concílios Ecumênicos, todas as vezes que se reúnem, são celebração 
solene da união de Cristo e da sua Igreja, e por isso levam à irradiação univer-
sal da verdade, à reta direção da vida individual, doméstica e social; ao reforço 
das energias espirituais, em perene elevação para os bens verdadeiros e eter-
nos. 
 
 
13 
Estão diante de nós, na sucessão das várias épocas dos primeiros 20 séculos 
da história cristã, os testemunhos deste magistério extraordinário da Igreja, 
recolhido em vários volumes imponentes: patrimônio sagrado dos arquivos 
eclesiásticos, tanto aqui em Roma como nas bibliotecas mais célebres do 
mundo inteiro. 
Origem e causa do Concílio Ecumênico Vaticano II 
No que diz respeito à iniciativa do grande acontecimento que agora se rea-
liza, baste, a simples título de documentação histórica, reafirmar o nosso 
testemunho humilde e pessoal do primeiro e imprevisto florescer no nosso 
coração e nos nossos lábios da simples palavra “Concílio Ecumênico”. Palavra 
pronunciada diante do sacro Colégio dos Cardeais naquele faustíssimo dia 25 
de janeiro de 1959, festa da Conversão de são Paulo, na sua Basílica. Foi algo 
de inesperado: uma irradiação de luz sobrenatural, uma grande suavidade nos 
olhos e no coração. E, ao mesmo tempo, um fervor, um grande fervor que se 
despertou, de repente, em todo o mundo, na expectativa da celebração do 
Concílio. 
Três anos de preparação laboriosa, consagrados a indagar ampla e profun-
damente as condições modernas da fé e da prática religiosa, e de modo especi-
al da vitalidade cristã e católica. 
Pareceram-nos como um primeiro sinal, um primeiro dom de graça celesti-
al. 
Iluminada pela luz deste Concílio, a Igreja, como esperamos confiadamen-
te, engrandecerá em riquezas espirituais e, recebendo a força de novas energi-
as, olhará intrépida para o futuro. Na verdade, com atualizações oportunas e 
com a prudente coordenação da colaboração mútua, a Igreja conseguirá que os 
homens, as famílias e os povos voltem realmente a alma para as coisas celesti-
ais. 
E assim, a celebração do Concílio torna a ser motivo e singular obrigação 
de grande reconhecimento ao supremo dispensador de todos os bens, por 
celebrarmos com cânticos de exultação a glória de Cristo Senhor, Rei glorioso 
e imortal dos séculos e dos povos. 
Oportunidade de celebrar o Concílio 
Há ainda um argumento, veneráveis irmãos, que não é inútil propor à vossa 
 
 
14 
consideração. Para tornar mais concreta a nossa santa alegria, queremos, diante 
desta grande assembléia, notar as felizes e consoladoras circunstâncias em que 
se inicia o Concílio Ecumênico. 
No exercício cotidiano do nosso ministério pastoral ferem nossos ouvidos 
sugestões de almas, ardorosas sem dúvida no zelo, mas não dotadas de grande 
sentido de discrição e moderação. Nos tempos atuais, elas não vêem senão 
prevaricações e ruínas; vão repetindo que a nossa época, em comparação com 
as passadas, foi piorando; e portam-se como quem nada aprendeu da história, 
que é também mestra da vida, e como se no tempo dos Concílios Ecumênicos 
precedentes tudo fosse triunfo completo da idéia e da vida cristã, e da justa 
liberdade religiosa. 
Mas parece-nos que devemos discordar desses profetas da desventura, que 
anunciam acontecimentos sempre infaustos, como se estivesse iminente o fim 
do mundo. 
No presente momento histórico, a Providência está-nos levando para uma 
nova ordem de relações humanas, que, por obra dos homens e o mais das 
vezes para além do que eles esperam, se dirigem para o cumprimento de 
desígnios superiores e inesperados; e tudo, mesmo as adversidades humanas, 
dispõe para o bem maior da Igreja. 
É fácil descobrir esta realidade, se se considera com atenção o mundo hodi-
erno, tão ocupado com a política e as controvérsias de ordem econômica, que 
já não encontra tempo de atentar em solicitações de ordem espiritual, de que se 
ocupa o magistério da santa Igreja. Este modo de proceder não é certamente 
justo, e com razão temos de desaprová-lo; não se pode, contudo, negar que 
estas novas condições da vida moderna têm, pelo menos, esta vantagem de ter 
suprimido aqueles inúmeros obstáculos, com os quais, em tempos passados, os 
filhos do século impediam a ação livre da Igreja. De fato, basta percorrer 
mesmo rapidamente a história eclesiástica, para verificar sem sombra de 
dúvida que os próprios Concílios Ecumênicos, cujas vicissitudes constituíram 
uma sucessão de verdadeiras glórias para a Igreja Católica, foram muitas vezes 
celebrados com alternativas de dificuldades gravíssimas e de tristezas, por 
causa da intromissão indevida das autoridades civis. Elas, é certo, propunham-
se, às vezes, proteger com toda a sinceridade a Igreja; mas, as mais das vezes, 
isto não se dava sem dano e perigo espiritual, porque eles procediam segundo 
as conveniências da sua política interesseira e perigosa. 
 
 
15 
A este propósito, confessamo-vos que sentimos dor vivíssima pelo fato de 
muitíssimos Bispos, que nos são tão caros, fazerem hoje sentir aqui a sua 
ausência, por estarem presos pela sua fidelidade a Cristo, ou detidos por outros 
impedimentos; a sua lembrança leva-nos a elevar fervorosíssimas orações a 
Deus. Porém, não sem grande esperança e com grande conforto para a nossa 
alma, vemos que a Igreja, hoje finalmente livre de tantos obstáculos de nature-
za profana, como acontecia no passado, pode desta Basílica Vaticana, como de 
um segundo Cenáculo Apostólico, fazer sentir por vosso meio a sua voz, cheia 
de majestade e de grandeza. 
Fim principal do Concílio: defesa e difusão da doutrina 
O que mais importa ao Concílio Ecumênico é o seguinte: que o depósito 
sagrado da doutrina cristã seja guardado e ensinado de forma mais eficaz. 
Essa doutrina abarca o homem inteiro, composto de alma e corpo, e a nós, 
peregrinos nesta terra, manda-nos tender para a pátria celeste. 
Isto mostra como é preciso ordenar a nossa vida mortal, de maneira que 
cumpramos os nossos deveres de cidadãos da terra e do céu, e consigamos 
deste modo o fim estabelecido por Deus. Quer dizer que todos os homens, 
tanto considerados individualmente como reunidos em sociedade, têm o dever 
de tender sem descanso, durante toda a vida, para a consecução dos bens 
celestiais, e de usarem só para este fim os bens terrenos sem que seu uso 
prejudique a eterna felicidade. 
O Senhor disse: “Procurai primeiro o Reino de Deus e a sua justiça” (Mt 
6,33). Esta palavra “primeiro” exprime, antes de mais, em que direção devem 
mover-se os nossos pensamentos e as nossas forças; não devemos esquecer, 
porém, as outras palavras desta exortação do Senhor, isto é: “e todas estas 
coisas vos serão dadas por acréscimo” (Mt 6,33). Na realidade, sempre existi-
ram e existem ainda, na Igreja, os que, embora procurem com todas asforças 
praticar a perfeição evangélica, não se esquecem de ser úteis à sociedade. De 
fato, do seu exemplo de vida, constantemente praticado, e das suas iniciativas 
de caridade toma vigor e incremento o que há de mais alto e mais nobre na 
sociedade humana. 
Mas, para que esta doutrina atinja os múltiplos níveis da atividade humana, 
que se referem aos indivíduos, às famílias e à vida social, é necessário primei-
ramente que a Igreja não se aparte do patrimônio sagrado da verdade, recebido 
 
 
16 
dos seus maiores; e, ao mesmo tempo, deve também olhar para o presente, 
para as novas condições e formas de vida introduzidas no mundo hodierno, 
que abriram novos caminhos ao apostolado católico. 
Por esta razão, a Igreja não assistiu indiferente ao admirável progresso das 
descobertas do gênero humano, e não lhes negou o justo apreço, mas, seguindo 
estes progressos, não deixa de avisar os homens para que, bem acima das 
coisas sensíveis, elevem os olhares para Deus, fonte de toda a sabedoria e 
beleza; e eles, aos quais foi dito: “Submetei a terra e dominai-a” (Gn 1,28), 
não esqueçam o mandamento gravíssimo: “Adorarás o Senhor teu Deus, e só a 
ele servirás” (Mt 4,10; Lc 4,8), para que não suceda que a fascinação efêmera 
das coisas visíveis impeça o verdadeiro progresso. 
Como deve ser promovida a doutrina 
Isto posto, veneráveis irmãos, vê-se claramente tudo o que se espera do 
Concílio quanto à doutrina. 
O XXI Concílio Ecumênico, que se aproveitará da eficaz e importante so-
ma de experiências jurídicas, litúrgicas, apostólicas e administrativas, quer 
transmitir pura e íntegra a doutrina, sem atenuações nem subterfúgios, que por 
vinte séculos, apesar das dificuldades e das oposições, se tornou patrimônio 
comum dos homens. Patrimônio não recebido por todos, mas, assim mesmo, 
riqueza sempre ao dispor dos homens de boa vontade. 
É nosso dever não só conservar este tesouro precioso, como se nos preocu-
pássemos unicamente da antiguidade, mas também dedicar-nos com vontade 
pronta e sem temor àquele trabalho hoje exigido, prosseguindo assim o cami-
nho que a Igreja percorre há vinte séculos. 
A finalidade principal deste Concílio não é, portanto, a discussão de um ou 
outro tema da doutrina fundamental da Igreja, repetindo e proclamando o 
ensino dos Padres e dos Teólogos antigos e modernos, que se supõe sempre 
bem presente e familiar ao nosso espírito. 
Para isto, não havia necessidade de um Concílio. Mas da renovada, serena e 
tranqüila adesão a todo o ensino da Igreja, na sua integridade e exatidão, como 
ainda brilha nas Atas Conciliares desde Trento até ao Vaticano I, o espírito 
cristão, católico e apostólico do mundo inteiro espera um progresso na pene-
tração doutrinal e na formação das consciências; é necessário que esta doutrina 
certa e imutável, que deve ser fielmente respeitada, seja aprofundada e exposta 
 
 
17 
de forma a responder às exigências do nosso tempo. Uma coisa é a substância 
do “depositum fidei”, isto é, as verdades contidas na nossa doutrina, e outra é a 
formulação com que são enunciadas, conservando-lhes, contudo, o mesmo 
sentido e o mesmo alcance. Será preciso atribuir muita importância a esta 
forma e, se necessário, insistir com paciência, na sua elaboração; e dever-se-á 
usar a maneira de apresentar as coisas que mais corresponda ao magistério, 
cujo caráter é prevalentemente pastoral. 
Como se devem combater os erros 
Ao iniciar-se o Concílio Ecumênico Vaticano II, tornou-se mais evidente 
do que nunca que a verdade do Senhor permanece eternamente. De fato, ao 
suceder uma época a outra, vemos que as opiniões dos homens se sucedem 
excluindo-se umas às outras e que muitas vezes os erros se dissipam logo ao 
nascer, como a névoa ao despontar o sol. 
A Igreja sempre se opôs a estes erros; muitas vezes até os condenou com a 
maior severidade. Agora, porém, a esposa de Cristo prefere usar mais o remé-
dio da misericórdia do que o da severidade. Julga satisfazer melhor às necessi-
dades de hoje mostrando a validez da sua doutrina do que renovando condena-
ções. Não quer dizer que faltem doutrinas enganadoras, opiniões e conceitos 
perigosos, contra os quais nos devemos premunir e que temos de dissipar; mas 
estes estão tão evidentemente em contraste com a reta norma da honestidade, e 
deram já frutos tão perniciosos, que hoje os homens parecem inclinados a 
condená-los, em particular os costumes que desprezam a Deus e a sua lei, a 
confiança excessiva nos progressos da técnica e o bem-estar fundado exclusi-
vamente nas comodidades da vida. Eles se vão convencendo sempre mais de 
que a dignidade da pessoa humana, o seu aperfeiçoamento e o esforço que 
exige é coisa da máxima importância. E o que mais importa, a experiência 
ensinou-lhes que a violência feita aos outros, o poder das armas e o predomí-
nio político não contribuem em nada para a feliz solução dos graves problemas 
que os atormentam. 
Assim sendo, a Igreja Católica, levantando por meio deste Concílio Ecu-
mênico o facho da verdade religiosa, deseja mostrar-se mãe amorosa de todos, 
benigna, paciente, cheia de misericórdia e bondade também com os filhos dela 
separados. Ao gênero humano, oprimido por tantas dificuldades, ela diz, como 
outrora Pedro ao pobre que lhe pedia esmola: “Eu não tenho nem ouro nem 
prata, mas dou-te aquilo que tenho: em nome de Jesus Cristo Nazareno, levan-
 
 
18 
ta-te e anda” (At 3,6). Quer dizer, a Igreja não oferece aos homens de hoje 
riquezas caducas, não promete uma felicidade só terrena; mas comunica-lhes 
os bens da graça divina, que, elevando os homens à dignidade de filhos de 
Deus, são defesa poderosíssima e ajuda para uma vida mais humana; abre a 
fonte da sua doutrina vivificante, que permite aos homens, iluminados pela luz 
de Cristo, compreender bem aquilo que eles são na realidade; a sua excelsa 
dignidade e o seu fim; e mais, por meio dos seus filhos, estende a toda parte a 
plenitude da caridade cristã, que é o melhor auxílio para eliminar as sementes 
da discórdia; e nada é mais eficaz para fomentar a concórdia, a paz justa e a 
união fraterna. 
Promover a unidade na família cristã e humana 
A solicitude da Igreja em promover e defender a verdade, deriva disso que, 
segundo o desígnio de Deus “que quer salvar todos os homens e que todos 
cheguem ao conhecimento da verdade” (1Tm 2,4), os homens não podem sem 
a ajuda de toda a doutrina revelada conseguir uma completa e sólida união dos 
espíritos, com a qual andam juntas a verdadeira paz e a salvação eterna. 
Infelizmente, a família cristã, não atingiu ainda, plena e perfeitamente, esta 
visível unidade na verdade. A Igreja Católica julga, portanto, dever seu empe-
nhar-se ativamente para que se realize o grande mistério daquela unidade, que 
Jesus Cristo pediu com oração ardente ao Pai celeste, pouco antes do seu 
sacrifício. Ela goza de paz suave, bem convicta de estar intimamente unida 
com aquela oração; e muito se alegra depois, quando vê que essa invocação 
estende a sua eficácia, com frutos salutares, mesmo àqueles que estão fora do 
seu seio. Mais ainda, se consideramos bem esta mesma unidade, impetrada por 
Cristo para a sua Igreja, parece brilhar com tríplice raio de luz sobrenatural e 
benéfica: a unidade dos católicos entre si, que se deve manter exemplarmente 
firmíssima; a unidade de orações e desejos ardentes, com os quais os cristãos 
separados desta Sé Apostólica ambicionam unir-se conosco; por fim, a unidade 
na estima e no respeito para com a Igreja Católica, por parte daqueles que 
seguem ainda religiões não-cristãs. 
Quanto a isso, é motivo de tristeza considerar como a maior parte do gêne-
ro humano, apesar de todos os homens terem sido remidos pelo sangue de 
Cristo, não partilhem daquelas fontes da graça divina que existem na Igreja 
Católica. Por isso, à Igreja Católica, cuja luz tudo ilumina e cujaforça de 
unidade sobrenatural beneficia toda a humanidade, bem se adaptam as palavras 
 
 
19 
de São Cipriano: “A Igreja, aureolada de luz divina, envia os seus raios ao 
mundo inteiro; é, porém, luz única, que por toda a parte se difunde sem que 
fique repartida a unidade do corpo. Estende os seus ramos sobre toda a terra 
pela sua fecundidade, difunde sempre mais e mais os seus regatos: contudo, 
uma só é a cabeça, única é a origem, uma é a mãe copiosamente fecunda; por 
ela fomos dados à luz, alimentamo-nos com o seu leite, vivemos do seu espíri-
to” (De Catholicae Ecclesiae unitate, 5). 
Veneráveis irmãos, isto se propõe o Concílio Ecumênico Vaticano II, que, 
ao mesmo tempo que une as melhores energias da Igreja e se empenha por 
fazer acolher pelos homens mais favoravelmente o anúncio da salvação, como 
que prepara e consolida o caminho para aquela unidade do gênero humano, 
que se requer como fundamento necessário para que a cidade terrestre se 
conforme à semelhança da celeste “na qual reina a verdade, é lei a caridade, e 
a extensão é a eternidade” (Cf. Santo Agostinho, Epist. CXXXVIII, 3). 
Conclusão 
E agora, “dirige-se a vós a nossa voz” (2Cor 6,11), Veneráveis Irmãos no 
Episcopado. Eis-nos, finalmente, todos reunidos nesta Basílica Vaticana, onde 
está o eixo da história da Igreja: onde o céu e a terra estão estreitamente uni-
dos, aqui junto do túmulo de Pedro, junto a tantos túmulos dos nossos Santos 
Predecessores, cujas cinzas, nesta hora solene, parecem exultar com frêmito 
arcano. 
O Concílio, que agora começa, surge na Igreja como dia que promete a luz 
mais brilhante. Estamos apenas na aurora: mas já o primeiro anúncio do dia 
que nasce de quanta suavidade não enche o nosso coração! Aqui tudo respira 
santidade, tudo leva a exultar! Contemplemos as estrelas, que aumentam com 
seu brilho a majestade deste templo; aquelas estrelas, segundo o testemunho 
do Apóstolo são João (Ap 1,20) sois vós mesmos; e convosco vemos brilhar 
aqueles candelabros dourados à volta do sepulcro do Príncipe dos Apóstolos, 
isto é, as igrejas a vós confiadas. 
Vemos, ao vosso lado, em atitude de grande respeito e de expectativa cheia 
de simpatia, essas digníssimas personalidades aqui presentes, chegadas a 
Roma dos cinco continentes, para representarem as nações do mundo. 
Pode dizer-se que o céu e a terra se unem na celebração do Concílio: os 
santos do céu, para proteger o nosso trabalho; os fiéis da terra, continuando a 
 
 
20 
rezar a Deus; e vós, fiéis às inspirações do Espírito Santo, para procurardes 
que o trabalho comum corresponda às esperanças e às necessidades dos vários 
povos. Isto requer da vossa parte serenidade de espírito, concórdia fraterna, 
moderação nos projetos, dignidade nas discussões e prudência nas delibera-
ções. 
Queira o céu que as vossas canseiras e o vosso trabalho, para o qual se diri-
gem não só os olhares de todos os povos, mas também as esperanças do mun-
do inteiro, correspondam plenamente às aspirações comuns. 
Deus todo-poderoso, em vós colocamos toda a nossa esperança, desconfi-
ando das nossas forças. Olhai benigno para estes Pastores da vossa Igreja. A 
luz da vossa graça sobrenatural nos ajude a tomar as decisões e a fazer as leis, 
e ouvi todas as orações que vos dirigimos com unanimidade de fé, de palavra e 
de espírito. 
Ó Maria, auxílio dos cristãos, auxílio dos Bispos, de cujo amor tivemos re-
centemente uma prova especial no vosso templo de Loreto, onde tivemos o 
prazer de venerar o mistério da Encarnação, disponde todas as coisas para um 
feliz resultado, e, juntamente com o vosso esposo são José, com os santos 
apóstolos são Pedro e são Paulo, com são João Batista e são João Evangelista, 
intercedei por nós junto de Deus. 
A Jesus Cristo, amabilíssimo Redentor nosso, Rei imortal dos povos e do 
tempo, amor, poder e glória pelos séculos dos séculos. Assim seja! 
PAULO BISPO 
SERVO DOS SERVOS DE DEUS 
COM OS PADRES DO SAGRADO CONCÍLIO 
PARA A PERPÉTUA MEMÓRIA 
CONSTITUIÇÃO 
SACROSANCTUM CONCILIUM 
SOBRE A SAGRADA LITURGIA 
Proêmio 
1. O sagrado Concílio, propondo-se fomentar sempre mais a vida cristã en-
Eduardo
Nota
aqui
 
 
21 
tre os fiéis, adaptar melhor às exigências do nosso tempo aquelas instituições 
que são suscetíveis de mudanças, favorecer tudo o que pode contribuir à união 
dos que crêem em Cristo, e revigorar tudo o que contribui para chamar a todos 
ao seio da Igreja, julga ser sua obrigação ocupar-se de modo particular também 
da reforma e do incremento da liturgia. 
O lugar da liturgia no mistério da Igreja 
2. A liturgia, com efeito, mediante a qual, especialmente no divino sacrifí-
cio da eucaristia, “se atua a obra da nossa redenção”1 contribui sumamente 
para que os fiéis exprimam em suas vidas e manifestem aos outros o mistério 
de Cristo e a genuína natureza da verdadeira Igreja, que tem a característica de 
ser ao mesmo tempo humana e divina, visível, mas dotada de realidades invi-
síveis, operosa na ação e devotada à contemplação, presente no mundo e 
contudo peregrina; de tal modo que nela o humano é orientado e subordinado 
ao divino, o visível ao invisível, a ação à contemplação, a realidade presente à 
futura cidade para a qual estamos encaminhados.2 Deste modo a liturgia, 
enquanto edifica aqueles que estão na Igreja em templo santo no Senhor, em 
habitação de Deus no Espírito,3 até atingir a medida da plenitude de Cristo,4 ao 
mesmo tempo e de modo admirável robustece as suas forças para que preguem 
o Cristo; e assim aos que estão fora, ela mostra a Igreja como estandarte ergui-
do diante das nações,5 sob o qual os filhos dispersos de Deus possam reunir-se 
na unidade,6 para que haja um só rebanho e um só pastor.7 
A constituição sobre a liturgia e os outros ritos 
3. Por este motivo, o sagrado Concílio julga oportuno relembrar os princí-
pios referentes ao incremento e a reforma da liturgia e estabelecer algumas 
normas práticas. 
Entre esses princípios e normas alguns há que podem e devem ser aplicados 
tanto ao rito romano quanto a todos os demais ritos, embora as normas práticas 
 
1 Secreta do IX Dom. dep. Pentecostes. 
2 Cf. Hb 13,14 
3 Ef 2,22 
4 Cf. Ef 4,13. 
5 Cf. Is 11,12. 
6 Cf. Jo 11,52. 
7 Cf. Jo 10,16. 
 
 
22 
que seguem devam ser entendidas somente com referência ao rito romano, a 
não ser que se trate de assuntos que pela sua natureza digam respeito também 
os demais ritos. 
Apreço por todos os ritos legitimamente reconhecidos 
4. Enfim, o sagrado Concílio, obedecendo fielmente à Tradição, declara 
que a santa mãe Igreja considera com igual direito e honra todos os ritos 
legitimamente reconhecidos e quer para o futuro conservá-los e de todos os 
modos incrementá-los, e deseja que, onde for necessário, sejam cuidadosa e 
integralmente revistos, conforme o espírito da sã tradição e se lhes dê novo 
vigor como exigem as condições e necessidades dos tempos atuais. 
Capítulo I 
PRINCÍPIOS GERAIS PARA A REFORMA E INCREMENTO DA 
SAGRADA LITURGIA 
I. A NATUREZA DA SAGRADA LITURGIA E SUA IMPORTÂNCIA 
NA VIDA DA IGREJA 
 
5. Deus, o qual “quer salvar todos os homens e fazer com que cheguem ao 
conhecimento da verdade” (1Tm 2,4), “havendo outrora falado muitas vezes e 
de muitos modos aos pais pelos profetas” (Hb 1,1), quando veio a plenitude 
dos tempos, mandou o seu Filho, Verbo feito carne, ungido pelo Espírito 
Santo, para anunciar a boa nova aos pobres, curar os contritos de coração,8 
“médico da carne e do espírito”,9 mediador entre Deus e os homens.10 Com 
efeito, sua humanidade, na unidade da pessoa do Verbo, foi o instrumento de 
nossa salvação. Pelo que em Cristo “deu-se o perfeito cumprimento da nossa 
reconciliação com Deus e nos foi comunicada a plenitude do culto divino”.11 
Esta obra da redenção humanae da perfeita glorificação de Deus, que tem o 
 
8 Cf. Is 61,1; Lc 4,18. 
9 Sto. Inácio de Antioquia, Ef 7,2. 
10 Cf. 1Tm 2,5 
11 Sacramentarium Veronense [Leonianum]: ed. C. Mohlberg, Roma, 1956 n. 1265, pág. 
102. 
 
 
23 
seu prelúdio nas maravilhas divinas operadas no povo do Antigo Testamento, 
completou-a o Cristo Senhor, especialmente pelo mistério pascal de sua sagra-
da paixão, ressurreição dos mortos e gloriosa ascensão; por este mistério, 
Cristo “morrendo, destruiu a nossa morte e, ressurgindo, deu-nos a vida”.12 
Pois, do lado de Cristo agonizante sobre a cruz nasceu “o admirável sacramen-
to de toda a Igreja”.13 
A obra da salvação continuada pela Igreja realiza-se na liturgia 
6. Portanto, como Cristo foi enviado pelo Pai, assim também ele enviou os 
apóstolos, cheios do Espírito Santo, não só porque, pregando o Evangelho a 
todos os homens14 anunciassem que o Filho de Deus com a sua morte e ressur-
reição nos livrou do poder de satanás15 e da morte e nos transferiu para o reino 
do Pai, mas também para que levassem a efeito, por meio do sacrifício e dos 
sacramentos, sobre os quais gira toda a vida litúrgica, a obra de salvação que 
anunciavam. Assim pelo batismo os homens são inseridos no mistério pascal 
de Cristo: com ele mortos, sepultados, e ressuscitados;16 recebem o espírito de 
adoção de filhos, “no qual clamam: Abba, Pai ” (Rm 8,15), e se tornam assim 
verdadeiros adoradores que o Pai procura.17 Do mesmo modo, toda vez que 
come a ceia do Senhor, anunciam a sua morte até que venha.18 Por esse moti-
vo, no próprio dia de Pentecostes, no qual a Igreja se manifestou ao mundo, 
“os que receberam a palavra” de Pedro “foram batizados”. E “perseveravam na 
doutrina dos apóstolos, e na comum fração do pão e na oração… louvando a 
Deus e sendo bem vistos por todo o povo” (At 2,41-47). Desde então, a Igreja 
jamais deixou de reunir-se para celebrar o mistério pascal: lendo “tudo quanto 
nas Escrituras a ele se referia” (Lc 24,27), celebrando a eucaristia na qual “se 
representa a vitória e o triunfo de sua morte”19 e, ao mesmo tempo, dando 
graças “a Deus pelo seu dom inefável” (2Cor 9,15) em Cristo Jesus, “para 
louvor de sua glória” (Ef 1,12) por virtude do Espírito Santo. 
 
12 Missal romano, prefácio pascal. 
13 Cf. oração após a 2ª lição do Sábado santo, no Missal Romano, antes da reforma da Se-
mana Santa. 
14 Cf. Mc 16,15. 
15 Cf. At 26,18. 
16 Cf. Rm 6,4; Ef 2,6; Cl 3,1; 1Tm 2,11. 
17 Cf. Jo 4,23. 
18 Cf. 1Cor 11,26. 
19 Conc. Trid. Sess. XIII, Decr. de SS. Eucharist., c. 5. Denz. 878. 
 
 
24 
Presença de Cristo na liturgia 
7. Para realizar tão grande obra, Cristo está sempre presente em sua Igreja, 
e especialmente nas ações litúrgicas. Está presente no sacrifício da missa, tanto 
na pessoa do ministro, pois aquele que agora se oferece pelo ministério sacer-
dotal é o “mesmo que, outrora, se ofereceu na cruz”,20 como sobretudo nas 
espécies eucarísticas. Ele está presente pela sua virtude nos sacramentos, de tal 
modo que, quando alguém batiza, é o próprio Cristo quem batiza.21 Está pre-
sente na sua palavra, pois é ele quem fala quando na Igreja se lêem as Sagra-
das Escrituras. Está presente, por fim, quando a Igreja ora e salmodia, ele que 
prometeu: “onde se acharem dois ou três reunidos em meu nome, aí estou eu 
no meio deles” (Mt 18,20). 
Realmente, nesta grandiosa obra, pela qual Deus é perfeitamente glorifica-
do e os homens são santificados, Cristo sempre associa a si a Igreja, sua ama-
díssima esposa, que invoca seu Senhor, e por ele presta culto ao eterno Pai. 
Com razão, portanto, a liturgia é considerada como exercício da função sa-
cerdotal de Cristo. Ela simboliza através de sinais sensíveis e realiza em modo 
próprio a cada um a santificação dos homens; nela o corpo místico de Jesus 
Cristo, cabeça e membros, presta a Deus o culto público integral. 
Por isso, toda celebração litúrgica, como obra de Cristo sacerdote e do seu 
corpo, que é a Igreja, é uma ação sagrada por excelência, cuja eficácia nenhu-
ma outra ação da Igreja iguala, sob o mesmo título e grau. 
Liturgia terrestre e liturgia celeste 
8. Na liturgia da terra nós participamos, saboreando-a já, da liturgia celeste, 
que se celebra na cidade santa de Jerusalém, para a qual nos encaminhamos 
como peregrinos, onde o Cristo está sentado à direita de Deus, qual ministro 
do santuário e do verdadeiro tabernáculo;22 com toda a milícia do exército 
celeste entoamos um hino de glória ao Senhor e, venerando a memória dos 
santos, esperamos fazer parte da sociedade deles; esperamos pelo salvador, 
nosso Senhor Jesus Cristo, até que ele, nossa vida, se manifeste, e nós aparece-
 
20 Conc. Trid. Sess. XXII, Doctr. De SS. Missæ sacrif., c. 2. Denz. 940. 
21 Cf. Sto. Agostinho, Tractatus in Joannem, VI, cap. I, n. 7: PL 35, 1428. 
22 Cf. Ap 21,2; Cl 3,1; Hb 8,2. 
 
 
25 
remos com ele na glória.23 
A liturgia não é a única atividade da Igreja 
9. A sagrada liturgia não esgota toda a ação da Igreja; com efeito, antes que 
os homens possam achegar-se à liturgia, é necessário que sejam chamados à fé 
e à conversão: “Como poderiam invocar aquele em quem não creram? E como 
poderiam crer naquele que não ouviram? E como poderiam ouvir sem prega-
dor? E como podem pregar se não forem enviados?” (Rm 10,14-15). 
É por este motivo que a Igreja anuncia a mensagem de salvação àqueles 
que ainda não crêem, a fim de que todos os homens conheçam o único verda-
deiro Deus e o seu enviado, Jesus Cristo, e se convertam de seus caminhos, 
fazendo penitência.24 E aos que crêem tem o dever de pregar constantemente a 
fé e a penitência, de dispô-los à recepção dos sacramentos, de ensinar-lhes a 
guardar tudo o que Cristo mandou,25 de estimulá-los a todas as obras de cari-
dade, piedade e apostolado, através das quais se torne manifesto que os fiéis 
cristãos não são deste mundo, e, contudo, são a luz do mundo e dão glória ao 
Pai diante dos homens. 
A liturgia é o cimo e a fonte da vida da Igreja 
10. Contudo, a Liturgia é o cimo para o qual se dirige a ação da Igreja e, ao 
mesmo tempo, a fonte donde emana toda a sua força. Na verdade, o trabalho 
apostólico ordena-se a conseguir que todos os que se tornaram filhos de Deus 
pela fé e pelo batismo, se reúnam em assembléia, louvem a Deus na Igreja, 
participem no sacrifício e comam a Ceia do Senhor. 
A liturgia, por sua vez, impele os fiéis, saciados pelos “mistérios pascais”, a 
viverem “em união perfeita”,26 e pede que “sejam fiéis na vida a quanto rece-
beram pela fé”.27 A renovação, na eucaristia, da aliança do Senhor com os 
homens, solicita e estimula os fiéis para a imperiosa caridade de Cristo. Da 
liturgia, portanto, e particularmente da eucaristia, como de uma fonte, corre 
sobre nós a graça, e por meio dela conseguem os homens com total eficácia a 
santificação em Cristo e a glorificação de Deus, a que se ordenam como a seu 
 
23 Cf. Fl 3,20; Cl 3,4. 
24 Cf. Jo 17,3; Lc 24,27; At 2,38. 
25 Cf. Mt 28,20. 
26 Postcommunio da Vigília pascal e do Dom. da Ressurreição. 
27 Oração da missa de terça-feira da oitava da Páscoa. 
 
 
26 
fim todas as outras obras da Igreja. 
Necessidade das disposições pessoais 
11. Para chegar a essa eficácia plena, é necessário que os fiéis se acerquem 
da sagrada liturgia com disposições de reta intenção, adaptem a mente às 
palavras, e cooperem com a graça divina para não recebê-la em vão.28 Por isso, 
é dever dos sagrados pastores vigiar para que, na ação litúrgica, não só se 
observem as leis para a válida e lícita celebração, mas que os fiéis participem 
dela conscientemente, ativa e frutuosamente. 
Liturgia e oração pessoal12. Contudo, a vida espiritual não se limita unicamente à participação da 
sagrada Liturgia. O cristão, chamado para a oração comunitária, deve também 
entrar no seu quarto para rezar a sós ao Pai;29 e até, segundo ensina o Apósto-
lo, deve rezar sem cessar.30 O mesmo Apóstolo nos ensina também a trazer 
sempre no nosso corpo os sofrimentos da morte de Jesus, para que a sua vida 
se revele na nossa carne mortal.31 É por esse motivo que no sacrifício da missa 
suplicamos ao Senhor que “aceitando a oferta do sacrifício espiritual” faça “de 
nós uma oferta eterna”. 
Os atos de piedade inspirem-se na liturgia 
13. Os atos de piedade do povo cristão, conquanto conformes às leis e nor-
mas da Igreja, são muito de se recomendar, principalmente, quando se fazem 
por ordem da Sé Apostólica. 
Gozam também de especial dignidade os atos de piedade das Igrejas parti-
culares, que se realizam por disposição dos bispos, e segundo os costumes ou 
os livros legitimamente aprovados. 
Importa, porém, ordenar esses atos de piedade, levando em conta os tempos 
litúrgicos, de modo que estejam em harmonia com a sagrada Liturgia, nela se 
inspirem, e a ela, por sua própria natureza muito superior, conduzam o povo 
cristão. 
 
28 Cf. 2Cor 6,1. 
29 Cf. Mt 6,6. 
30 Cf. 1Ts 5,17. 
31 Cf. 2Cor 4,10-11. 
 
 
27 
II. NECESSIDADE DE PROMOVER A FORMAÇÃO LITÚRGICA E A 
PARTICIPAÇÃO ATIVA 
14. É desejo ardente da mãe Igreja que todos os fiéis cheguem àquela plena, 
consciente e ativa participação na celebração litúrgica que a própria natureza 
da liturgia exige e à qual o povo cristão, “raça escolhida, sacerdócio real, 
nação santa, povo adquirido” (1Pd 2,9; cf. 2,4-5), tem direito e obrigação, por 
força do batismo. 
A esta plena e ativa participação de todo o povo cumpre dar especial aten-
ção na reforma e incremento da sagrada liturgia: com efeito, ela é a primeira e 
necessária fonte, da qual os fiéis podem haurir o espírito genuinamente cristão. 
Esta é a razão que deve levar os pastores de almas, em toda a sua atividade 
pastoral, a procurarem-na com o máximo empenho, através da devida forma-
ção. 
Mas, não havendo esperança alguma de que isto aconteça, se antes os pas-
tores de almas não se imbuírem primeiramente do espírito e da força da litur-
gia e não se tornarem mestres nela, é absolutamente necessário que se dê o 
primeiro lugar à formação litúrgica do clero. Diante disso, o sagrado Concílio 
decidiu estabelecer quanto segue: 
Formação dos professores de liturgia 
15. Os professores escolhidos para ensinar liturgia nos seminários, nas ca-
sas religiosas de estudos e nas faculdades teológicas devem receber a formação 
conveniente ao seu cargo em estabelecimentos para isso especialmente desti-
nados. 
Ensino da liturgia 
16. A sagrada liturgia deve ser tida, nos seminários e casas religiosas de es-
tudos, por uma das disciplinas necessárias e mais importantes, nas faculdades 
de teologia como disciplina principal, e seja ensinada tanto sob o aspecto 
teológico e histórico, quanto espiritual, pastoral e jurídico. Além disso, procu-
rem os professores das demais disciplinas, sobretudo os de teologia dogmática, 
Sagrada Escritura, teologia espiritual e pastoral fazer ressaltar, a partir das 
exigências intrínsecas de cada disciplina, o mistério de Cristo e a história da 
salvação, para que se veja claramente a sua conexão com a liturgia e a unidade 
da formação sacerdotal. 
 
 
28 
Formação litúrgica dos candidatos ao sacerdócio 
17. Nos seminários e casas religiosas, adquiram os clérigos uma vida espi-
ritual informada pela liturgia, mediante uma conveniente iniciação que lhes 
permita penetrar no sentido dos ritos sagrados e participar perfeitamente neles, 
mediante a celebração dos sagrados mistérios, como também mediante outros 
atos de piedade permeados do espírito da sagrada liturgia. Aprendam também 
a observar as leis litúrgicas, para que a vida dos seminários e institutos religio-
sos se impregne totalmente de espírito litúrgico. 
Ajudar os sacerdotes no ministério 
18. Os sacerdotes, quer seculares, quer religiosos, que já labutam na vinha 
do Senhor, sejam ajudados por todos os meios oportunos, para que, sempre 
mais plenamente, penetrem o sentido do que realizam nas sagradas funções, 
vivam a vida litúrgica, e façam dela participantes os fiéis a eles confiados. 
Formação litúrgica dos fiéis 
19. Com empenho e paciência procurem os pastores de almas dar a forma-
ção litúrgica e promovam também a participação ativa dos fiéis, tanto interna 
como externa, segundo a sua idade, condição, gênero de vida e grau de cultura 
religiosa, na convicção de que estão cumprindo um dos mais importantes 
deveres do fiel dispensador dos mistérios de Deus. Neste ponto guiem o reba-
nho não só com palavras, mas também com o exemplo. 
Meios audiovisuais e liturgia 
20. As transmissões por rádio e televisão das funções sagradas, particular-
mente em se tratando da santa missa, façam-se com discrição e dignidade, sob 
a direção e responsabilidade de pessoa competente, escolhida para tal ofício 
pelos bispos. 
III. REFORMA DA SAGRADA LITURGIA 
21. A santa mãe Igreja, para permitir ao povo cristão o acesso mais seguro 
à abundância de graças que a liturgia contém, deseja fazer uma acurada refor-
ma geral da liturgia. Na verdade, a liturgia compõe-se de uma parte imutável, 
porque de instituição divina, e de partes suscetíveis de mudanças. Estas, com o 
passar dos tempos, podem ou mesmo devem variar, se nelas se introduzirem 
elementos que menos correspondam à natureza íntima da própria liturgia, ou 
 
 
29 
se estes se tenham tornado menos oportunos. 
Nesta reforma, porém, o texto e as cerimônias devem ordenar-se de tal mo-
do, que de fato exprimam mais claramente as coisas santas que eles significam 
e o povo cristão possa compreendê-las facilmente, à medida do possível, e 
também participar plena e ativamente da celebração comunitária. 
Em vista disso, o sagrado Concílio estabeleceu as seguintes normas de ca-
ráter geral. 
A) NORMAS GERAIS 
A regulamentação litúrgica compete à hierarquia 
22. §1. Regular a sagrada liturgia compete unicamente à autoridade da Igre-
ja, a qual reside na Sé Apostólica e, segundo as normas do direito, no bispo. 
 §2. Em virtude do poder concedido pelo direito, pertence também às 
competentes conferências territoriais dos bispos, de vários tipos, legitimamen-
te constituídas, regular, dentro de determinados limites, a liturgia. 
 §3. Portanto, ninguém mais, absolutamente, mesmo que seja sacerdote, 
ouse, por sua iniciativa, acrescentar, suprimir ou mudar seja o que for em 
matéria litúrgica. 
Tradição e progresso 
23. Para conservar a sã tradição e abrir ao mesmo tempo o caminho a um 
progresso legítimo, faça-se uma acurada investigação teológica, histórica e 
pastoral acerca de cada uma das partes da liturgia que devem ser revistas. 
Tenham-se ainda em consideração as leis gerais da estrutura e do espírito da 
liturgia, a experiência adquirida nas mais recentes reformas litúrgicas e nos 
indultos aqui e além concedidos. Finalmente, não se introduzam inovações, a 
não ser que utilidade autêntica e certa da Igreja o exija, e com a preocupação 
de que as novas formas como que surjam a partir das já existentes. 
Evitem-se, na medida do possível, diferenças notáveis nos ritos entre regi-
ões confinantes. 
Bíblia e liturgia 
24. É muito grande a importância da Sagrada Escritura na celebração litúr-
gica. Dela se extraem os textos para a leitura e explicação na homilia e os 
 
 
30 
salmos para cantar; do seu espírito e da sua inspiração nasceram orações, 
preces e hinos litúrgicos; dela tiram o seu significado os sinais e ações. Portan-
to, para promover a reforma, o progresso e a adaptação da sagrada Liturgia, é 
necessáriodesenvolver aquele suave e vivo amor pela Sagrada Escritura de 
que dá testemunho a venerável tradição dos ritos, quer orientais quer ociden-
tais. 
Revisão dos livros litúrgicos 
25. Os livros litúrgicos sejam quanto antes revistos por pessoas competen-
tes e consultando bispos de diversos países do mundo. 
B) NORMAS QUE DERIVAM DA NATUREZA HIERÁRQUICA E 
COMUNITÁRIA DA LITURGIA 
26. As ações litúrgicas não são ações privadas, mas celebrações da Igreja, 
que é “sacramento de unidade”32, povo santo reunido e ordenado sob a direção 
dos bispos.33 
Por isso, estas celebrações pertencem a todo o corpo da Igreja, manifestam-
no e implicam-no; mas atingem a cada um dos membros de modo diferente, 
conforme a diversidade de ordens, dos ofícios e da atual participação. 
Deve-se preferir a celebração comunitária 
27. Sempre que os ritos implicam, segundo a natureza particular de cada 
um, uma celebração comunitária, com a presença e ativa participação dos fiéis, 
inculque-se que esta deve preferir-se, à medida do possível, à celebração 
individual e quase particular. 
Isto vale principalmente para a celebração da missa, salvaguardando sem-
pre a natureza pública e social de qualquer missa, e para a administração dos 
sacramentos. 
Decoro da celebração litúrgica 
28. Nas celebrações litúrgicas, seja quem for, ministro ou fiel, exercendo o 
seu ofício, faça tudo e só aquilo que pela natureza da coisa ou pelas normas 
litúrgicas lhe compete. 
 
32 Missal romano, Secreta da segunda-feira na oitava de Pentecostes. 
33 S. Cipriano, De cath. eccl. unitate, 7; cf. Ep. 66, n. 8,3. 
 
 
31 
29. Os que servem ao altar, leitores, comentaristas e componentes do grupo 
coral exercem também um verdadeiro ministério litúrgico. Desempenhem, 
portanto, sua função com a piedade sincera e a ordem que convêm a tão grande 
ministério e que, com razão, o povo de Deus exige deles. 
Por isso, é necessário que, de acordo com as condições de cada qual, sejam 
cuidadosamente imbuídos do espírito litúrgico e preparados para executar as 
suas partes, perfeita e ordenadamente. 
Participação ativa dos fiéis 
30. Para promover a participação ativa, cuide-se de incentivar as aclama-
ções dos fiéis, as respostas, a salmodia, as antífonas, os cânticos, bem como as 
ações, gestos e atitudes. Seja também observado, a seu tempo, o silêncio 
sagrado. 
31. Na revisão dos livros litúrgicos, procure-se que as rubricas prevejam 
também as partes dos fiéis. 
Liturgia e classes sociais 
32. Na liturgia, exceto a distinção que deriva da função litúrgica e das sa-
gradas ordens e das honras devidas às autoridades civis conforme as normas 
das leis litúrgicas, não haja nenhuma acepção de pessoas particulares ou de 
condições, quer nas cerimônias, quer nas solenidades externas. 
C) NORMAS QUE DECORREM DA NATUREZA DIDÁTICA E 
PASTORAL DA LITURGIA 
33. Embora a sagrada liturgia seja principalmente culto da majestade divi-
na, é também grande fonte de instrução para o povo fiel.34 Efetivamente, na 
liturgia Deus fala ao seu povo, e Cristo continua a anunciar o Evangelho. Por 
seu lado, o povo responde a Deus com o canto e a oração. 
Mais, as orações dirigidas a Deus pelo sacerdote que preside à comunidade 
na pessoa de Cristo, são rezadas em nome de todo o povo santo e de todos os 
que estão presentes. Os próprios sinais sensíveis que a liturgia usa para simbo-
lizar as realidades divinas invisíveis foram escolhidos por Cristo ou pela 
Igreja. Por isso, não é só quando se faz a leitura “do que foi escrito para nosso 
 
34 Cf. Conc. Trid. Sess. XXII, Doctr. De SS. Missæ sacrif., c. 8: Denz. 946. 
 
 
32 
ensinamento” (Rm 15,4), mas também quando a Igreja reza, canta ou age, que 
a fé dos presentes é alimentada e os espíritos se elevam a Deus, para lhe pres-
tar o obséquio racional e receberem com mais abundância a sua graça. 
Por isso, ao fazer a reforma da liturgia, devem ser observadas as seguintes 
normas gerais. 
Harmonia dos ritos 
34. As cerimônias resplandeçam de nobre simplicidade, sejam claras na 
brevidade e evitem as repetições inúteis; devem adaptar-se à capacidade de 
compreensão dos fiéis e não precisar, em geral, de muitas explicações. 
Bíblia, pregação e catequese litúrgica 
35. Para que apareça claramente que na liturgia as cerimônias e as palavras 
estão intimamente unidas: 
1) Nas celebrações litúrgicas seja mais abundante, variada e bem adaptada 
a leitura da Sagrada Escritura. 
2) Indiquem as rubricas o momento mais apto para a pregação, que é parte 
da ação litúrgica, quando o rito a comporta. O ministério da palavra deve ser 
exercido com muita fidelidade e no modo devido. Deve a pregação, em pri-
meiro lugar, haurir os seus temas da Sagrada Escritura e da liturgia, sendo 
como que o anúncio das maravilhas divinas na história da salvação, isto é, no 
mistério de Cristo, que está sempre presente em nós e opera, sobretudo nas 
celebrações litúrgicas. 
3) Procure-se também inculcar, por todos os modos, uma catequese mais 
diretamente litúrgica, e prevejam-se nas próprias cerimônias, quando necessá-
rio, breves esclarecimentos, feitos só nos momentos mais oportunos, pelo 
sacerdote ou ministro competente, com palavras prescritas ou semelhantes às 
prescritas. 
4) Promova-se a celebração da Palavra de Deus nas vigílias das festas mais 
solenes, em alguns dias feriais do Advento e da Quaresma e nos domingos e 
dias de festa, especialmente onde não houver sacerdote; neste caso será um 
diácono, ou outra pessoa delegada pelo bispo a dirigir a celebração. 
A língua litúrgica 
36.§1. Salvo o direito particular, seja conservado o uso da língua latina nos 
 
 
33 
ritos latinos. 
 §2. Dado, porém, que não raramente o uso da língua vernácula pode ser 
muito útil para o povo, seja na missa, seja na administração dos sacramentos, 
seja em outras partes da liturgia, dê-se-lhe um lugar mais amplo, especialmen-
te nas leituras e admoestações, em algumas orações e cânticos, segundo as 
normas estabelecidas para cada caso nos capítulos seguintes. 
 §3. Observando estas normas, pertence à competente autoridade eclesi-
ástica territorial a que se refere o artigo 22 § 2, consultados, se for o caso, os 
bispos das regiões limítrofes da mesma língua, decidir acerca do uso e exten-
são da língua vernácula. Tais decisões deverão ser aprovadas ou confirmadas 
pela Sé Apostólica. 
 §4. A tradução do texto latino para o vernáculo a ser usado na liturgia, 
deve ser aprovada pela competente autoridade eclesiástica territorial, acima 
mencionada. 
D) NORMAS PARA A ADAPTAÇÃO À ÍNDOLE E TRADIÇÕES DOS 
POVOS 
37. A Igreja não deseja impor na liturgia uma rígida uniformidade para a-
quelas coisas que não dizem respeito à fé ou ao bem de toda a comunidade; 
mas respeita e procura desenvolver as qualidades e dotes de espírito das várias 
raças e povos. A Igreja considera com benevolência tudo o que nos seus cos-
tumes não está indissoluvelmente ligado à superstição e ao erro, e, quando 
possível, o conserva inalterado, e por vezes até admite-o na própria liturgia, 
conquanto esteja de acordo com as normas do verdadeiro e autêntico espírito 
litúrgico. 
38. Salva a unidade substancial do rito romano, dê-se lugar às legítimas va-
riações e adaptações aos vários grupos étnicos, regiões e povos, sobretudo nas 
missões, também quando forem reformados os livros litúrgicos e tenha-se isto 
em conta na organização das rubricas e na estrutura dos ritos. 
39. Cabe à competente autoridade eclesiástica territorial de que fala o art. 
22 § 2 determinar as várias adaptações a fazer, especialmente no que se refere 
à administração dos sacramentos, aos sacramentais, às procissões, à língua 
litúrgica, à música sacra e às artes, dentro dos limitesfixados nas edições 
típicas dos livros litúrgicos e sempre segundo as normas fundamentais desta 
Constituição. 
 
 
34 
Como proceder à adaptação litúrgica na diocese e na paróquia 
40. Mas, como urge em alguns lugares e circunstâncias especiais fazer uma 
adaptação mais profunda da liturgia, é que se torna por isso mesmo mais 
difícil: 
1) A competente autoridade eclesiástica territorial, a que se refere o art. 22 
§ 2, considere, com muita prudência e atenção, o que, neste aspecto, poderá 
oportunamente ser aceito no culto divino das tradições e índole de cada povo. 
Proponham-se à Sé Apostólica as adaptações julgadas úteis ou necessárias, 
para serem introduzidas com seu consentimento. 
2) Para se fazer a adaptação com a devida cautela, a Sé Apostólica poderá 
dar, se for necessário, à mesma autoridade eclesiástica territorial a faculdade 
de permitir e dirigir as experiências prévias que forem precisas, com grupos 
aptos para isso e por tempo determinado. 
3) Como as leis litúrgicas, sobretudo nas missões, costumam trazer dificul-
dades especiais, quanto à adaptação, ao elaborá-las, recorra-se a pessoas 
competentes nesta matéria. 
IV. INCREMENTO DA VIDA LITÚRGICA NA DIOCESE E NA PA-
RÓQUIA 
41. O bispo deve ser considerado como o sumo sacerdote de seu rebanho, 
em quem tem origem e de quem depende, de algum modo, a vida dos fiéis em 
Cristo. 
Por isso, todos devem dar a maior importância à vida litúrgica da diocese 
que gravita em torno do bispo, sobretudo na igreja catedral: convencidos de 
que a principal manifestação da Igreja se faz numa participação perfeita e ativa 
de todo o povo santo de Deus na mesma celebração litúrgica, especialmente na 
mesma eucaristia, numa única oração, num só altar a que preside o bispo 
rodeado pelo seu presbitério e pelos seus ministros.35 
42. Visto que nem sempre e em todos os lugares o bispo, em sua Igreja, po-
de presidir pessoalmente a todo o seu rebanho, deve necessariamente constituir 
assembléias de fiéis, entre as quais sobressaem as paróquias, confiadas a um 
pastor local, que as governa, fazendo as vezes do bispo. As paróquias repre-
 
35 Cf. S. Inácio de Antioquia, Ad Magn. 7; Ad Phil. 4; Ad Smyrn. 8. 
 
 
35 
sentam, de algum modo, a Igreja visível espalhada por todo o mundo. 
Por isso a vida litúrgica da paróquia e sua relação com o bispo, devem ser 
cultivadas no espírito e no modo de agir dos fiéis e do clero, e é preciso fazer 
com que floresça o sentido da comunidade paroquial, especialmente na cele-
bração comunitária da missa dominical. 
V. INCREMENTO DA AÇÃO PASTORAL LITÚRGICA 
43. A preocupação pelo incremento e renovação da liturgia é justamente 
considerada como um sinal dos desígnios providenciais de Deus sobre o nosso 
tempo, como uma passagem do Espírito Santo pela sua Igreja; ele imprime 
uma nota distintiva à sua vida, e mais, a todo o modo religioso de sentir e de 
agir do nosso tempo. 
Pelo que, para desenvolver cada vez mais na Igreja essa ação pastoral litúr-
gica, o sagrado Concílio determina: 
Comissão litúrgica nacional 
44. Convém que a autoridade eclesiástica territorial competente, a que se 
refere o art. 22 § 2, institua uma Comissão Litúrgica, a ser assistida por especi-
alistas em liturgia, música, arte sacra e pastoral. A Comissão deverá contar, se 
possível, com o auxílio de um Instituto de Liturgia Pastoral, de cujos membros 
não se excluirão, se for necessário, leigos particularmente competentes. Per-
tencerá a essa Comissão, sob a autoridade eclesiástica territorial, acima men-
cionada, orientar, no território de sua competência, tanto a ação pastoral litúr-
gica, como promover os estudos e as experiências necessárias sempre que se 
trate de adaptações a serem propostas à Sé Apostólica. 
Comissão litúrgica diocesana 
45. Pela mesma razão, haja em cada diocese, a Comissão de liturgia sacra, 
para promover a ação litúrgica, sob a orientação do bispo. 
Poderá, às vezes, ser oportuno que várias dioceses formem uma só Comis-
são para promover em conjunto a ação litúrgica. 
Outras Comissões 
46. Além da Comissão de liturgia sacra, instituam-se em cada Diocese, se 
possível, também Comissões de música sacra e de arte sacra. 
 
 
36 
É necessário que estas Comissões trabalhem em conjunto, e não raramente 
será oportuno que se unam numa só Comissão. 
Capítulo II 
O MISTÉRIO EUCARÍSTICO 
A missa e o Mistério pascal 
47. O nosso Salvador instituiu na última Ceia, na noite em que foi entregue, 
o sacrifício eucarístico do seu corpo e do seu sangue para perpetuar no decor-
rer dos séculos, até ele voltar, o sacrifício da cruz, e para confiar assim à 
Igreja, sua esposa amada, o memorial da sua morte e ressurreição: sacramento 
de piedade, sinal de unidade, vínculo de caridade,36 banquete pascal “em que 
se recebe Cristo, a alma se enche de graça e nos é dado o penhor da glória 
futura”.37 
Participação ativa dos fiéis na missa 
48. Por isso, a Igreja procura, solícita e cuidadosa, que os cristãos não assis-
tam a este mistério de fé como estranhos ou expectadores mudos, mas partici-
pem na ação sagrada, consciente, piedosa e ativamente, por meio de uma boa 
compreensão dos ritos e orações; sejam instruídos na palavra de Deus; alimen-
tem-se na mesa do corpo do Senhor; dêem graças a Deus; aprendam a ofere-
cer-se a si mesmos, ao oferecer juntamente com o sacerdote, não só pelas mãos 
dele, a hóstia imaculada; que dia após dia, por meio de Cristo mediador pro-
gridam na união com Deus e entre si,38 para que finalmente Deus seja tudo em 
todos. 
49. Portanto, a fim de que o sacrifício da missa alcance plena eficácia pas-
toral, mesmo quanto à forma dos ritos, o sagrado Concílio, tendo em atenção 
as missas que se celebram com a assistência do povo, sobretudo no domingo e 
nas festas de preceito, determina o seguinte. 
Revisão do Ritual da missa 
 
36 Cf. S. Agostinho, In Jo. Evangelium Tract. XXVI, cap. VI, n. 13. 
37 Breviário romano, festa do Corpo de Deus, 2as. vésperas, Ant. do Magnificat. 
38 Cf. S. Cirilo Alex., Commentarium in Joannis Evangelium, lib., XI, cap. XI-XII. 
 
 
37 
50. O Ritual da missa seja revisto, de modo que apareça mais claramente a 
natureza específica de cada uma de suas partes bem como a sua mútua cone-
xão, para facilitar uma participação piedosa e ativa dos fiéis. 
Por isso, os ritos, embora respeitada a sua estrutura essencial, sejam torna-
dos mais simples; sejam omitidos todos os elementos que, com o passar dos 
séculos, se duplicaram ou menos utilmente se acrescentaram; restaurem-se, 
porém, se parecer oportuno ou necessário e segundo a antiga tradição dos 
Padres, alguns ritos que injustamente se perderam. 
Maior riqueza bíblica na missa 
51. Para que a mesa da Palavra de Deus seja preparada, com a maior abun-
dância, para os fiéis, abram-se largamente os tesouros da Bíblia, de modo que, 
dentro de certo número de anos, sejam lidas ao povo as partes mais importan-
tes da Sagrada Escritura. 
A homilia 
52. Recomenda-se vivamente a homilia, como parte da própria liturgia; ne-
la, no decurso do ano litúrgico, são apresentados do texto sagrado, os mistérios 
da fé e as normas da vida cristã. Nas missas dominicais, porém, e nas festas de 
preceito, concorridas pelo povo, não se omita a homilia, a não ser por motivo 
grave. 
A “oração dos fiéis” 
53. Restaure-se, especialmente nos domingos e festas de preceito, a “oração 
comum” ou “oração dos fiéis”, recitada após o Evangelho e a homilia, para 
que, com a participação do povo, se façam preces pela santa Igreja, pelos que 
nos governam, por aqueles a quem a necessidade oprime, por todos os homens 
e pela salvação de todo o mundo.39 
Latim e língua vernácula na missa 
54. Nas missas celebradas com o

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