Prévia do material em texto
LITURGIA E SACRAMENTOS Professor Dr. André Phillipe Pereira GRADUAÇÃO Unicesumar C397 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE MARINGÁ. Núcleo de Educação a Distância; PEREIRA, André Phillipe. Liturgia e Sacramentos. André Phillipe Pereira. Maringá-Pr.: UniCesumar, 2018. 176 p. “Graduação - EaD”. 1. Liturgia. 2. Sacramento. 3. Teologia EaD. I. Título. ISBN: 978-85-459-1250-7 CDD - 22 ed. 200 CIP - NBR 12899 - AACR/2 Ficha catalográfica elaborada pelo bibliotecário João Vivaldo de Souza - CRB-8 - 6828 Reitor Wilson de Matos Silva Vice-Reitor Wilson de Matos Silva Filho Pró-Reitor de Administração Wilson de Matos Silva Filho Pró-Reitor Executivo de EAD William Victor Kendrick de Matos Silva Pró-Reitor de Ensino de EAD Janes Fidélis Tomelin Presidente da Mantenedora Cláudio Ferdinandi NEAD - Núcleo de Educação a Distância Diretoria Executiva Chrystiano Minco� James Prestes Tiago Stachon Diretoria de Design Educacional Débora Leite Diretoria de Graduação e Pós-graduação Kátia Coelho Diretoria de Permanência Leonardo Spaine Head de Produção de Conteúdos Celso Luiz Braga de Souza Filho Gerência de Produção de Conteúdo Diogo Ribeiro Garcia Gerência de Projetos Especiais Daniel Fuverki Hey Supervisão do Núcleo de Produção de Materiais Nádila Toledo Supervisão Operacional de Ensino Luiz Arthur Sanglard Coordenador de Conteúdo Roney Carvalho Designer Educacional Amanda Peçanha Dos Santos Janaína de Souza Pontes Projeto Gráfico Jaime de Marchi Junior José Jhonny Coelho Arte Capa Arthur Cantareli Silva Ilustração Capa Bruno Pardinho Editoração José Jhonny Coelho Qualidade Textual Érica Fernanda Ortega Ilustração Bruno Pinhata Em um mundo global e dinâmico, nós trabalhamos com princípios éticos e profissionalismo, não so- mente para oferecer uma educação de qualidade, mas, acima de tudo, para gerar uma conversão in- tegral das pessoas ao conhecimento. Baseamo-nos em 4 pilares: intelectual, profissional, emocional e espiritual. Iniciamos a Unicesumar em 1990, com dois cursos de graduação e 180 alunos. Hoje, temos mais de 100 mil estudantes espalhados em todo o Brasil: nos quatro campi presenciais (Maringá, Curitiba, Ponta Grossa e Londrina) e em mais de 300 polos EAD no país, com dezenas de cursos de graduação e pós-graduação. Produzimos e revisamos 500 livros e distribuímos mais de 500 mil exemplares por ano. Somos reconhecidos pelo MEC como uma instituição de excelência, com IGC 4 em 7 anos consecutivos. Estamos entre os 10 maiores grupos educacionais do Brasil. A rapidez do mundo moderno exige dos educa- dores soluções inteligentes para as necessidades de todos. Para continuar relevante, a instituição de educação precisa ter pelo menos três virtudes: inovação, coragem e compromisso com a quali- dade. Por isso, desenvolvemos, para os cursos de Engenharia, metodologias ativas, as quais visam reunir o melhor do ensino presencial e a distância. Tudo isso para honrarmos a nossa missão que é promover a educação de qualidade nas diferentes áreas do conhecimento, formando profissionais cidadãos que contribuam para o desenvolvimento de uma sociedade justa e solidária. Vamos juntos! Pró-Reitor de Ensino de EAD Diretoria de Graduação e Pós-graduação Seja bem-vindo(a), caro(a) acadêmico(a)! Você está iniciando um processo de transformação, pois quando investimos em nossa formação, seja ela pessoal ou profissional, nos transformamos e, consequentemente, transformamos também a sociedade na qual estamos inseridos. De que forma o fazemos? Criando oportu- nidades e/ou estabelecendo mudanças capazes de alcançar um nível de desenvolvimento compatível com os desafios que surgem no mundo contemporâneo. O Centro Universitário Cesumar mediante o Núcleo de Educação a Distância, o(a) acompanhará durante todo este processo, pois conforme Freire (1996): “Os homens se educam juntos, na transformação do mundo”. Os materiais produzidos oferecem linguagem dialógica e encontram-se integrados à proposta pedagógica, con- tribuindo no processo educacional, complementando sua formação profissional, desenvolvendo competên- cias e habilidades, e aplicando conceitos teóricos em situação de realidade, de maneira a inseri-lo no mercado de trabalho. Ou seja, estes materiais têm como principal objetivo “provocar uma aproximação entre você e o conteúdo”, desta forma possibilita o desenvolvimento da autonomia em busca dos conhecimentos necessá- rios para a sua formação pessoal e profissional. Portanto, nossa distância nesse processo de cresci- mento e construção do conhecimento deve ser apenas geográfica. Utilize os diversos recursos pedagógicos que o Centro Universitário Cesumar lhe possibilita. Ou seja, acesse regularmente o Studeo, que é o seu Ambiente Virtual de Aprendizagem, interaja nos fóruns e enquetes, assista às aulas ao vivo e participe das dis- cussões. Além disso, lembre-se que existe uma equipe de professores e tutores que se encontra disponível para sanar suas dúvidas e auxiliá-lo(a) em seu processo de aprendizagem, possibilitando-lhe trilhar com tranqui- lidade e segurança sua trajetória acadêmica. CU RR ÍC U LO Professor Dr. André Phillipe Pereira Doutor em Teologia pela PUCRIO. Mestre em Teologia pela PUCPR, conclusão em 2013. Especialista em Educação de História e Geografia pelo CEUCLAR, conclusão em 2014. Especialista em Espiritualidade pela FAVI, conclusão em 2012. Graduação em Licenciatura em Filosofia pela Faculdade Padre João Bagozzi, conclusão em 2012. Graduação em Teologia pela PUCPR, conclusão em 2011. Para mais detalhes e informações, acesse: http://buscatextual.cnpq.br/ buscatextual/visualizacv.do?id=K4495979T3 SEJA BEM-VINDO(A)! Caro(a) aluno(a), vamos iniciar nosso estudo sobre liturgia e sacramento. Para bem co- meçarmos, partiremos nossa reflexão sobre o significado do termo liturgia, seu contexto bíblico, sem esquecer de sua íntima ligação com a história da salvação, uma vez que o termo significa no seu amplo contexto obra para o povo. A própria história da liturgia nos ajudará a compreender bem essa definição, uma vez que a liturgia é uma ação sal- vífica de Deus para seu povo. Neste sentido, vale a pena conhecer o sentido pleno de religião, ou seja, o termo religare, assim, a religião seria a tentativa de refazer algo que está desfeito, como podemos pensar no pecado de Adão que rompe os laços dos seres humanos com o Criador. No sentido judaico- -cristão, religião pode ser pensada como uma forma de Deus Se revelar, de tornar-Se conhe- cido por todas as pessoas, pois, se conhecemos a Deus, é porque Ele se revela e se apresenta. Assim, é indispensável refletirmos sobre Liturgia, sem nos deter na Sagrada Escritura no Antigo e no Novo Testamento, para compreendermos que a Liturgia para os cristãos — especificamente Católicos, Ortodoxos e Anglicanos — é a celebração dos mistérios de Cristo, ou seja, os mistérios da nossa salvação, desde sua encarnação no seio da Virgem Maria até sua Ascenção e o envio do Espírito Santo. No sentido de celebração dos mistérios de Cristo, nosso estudo apresentará que a litur- gia não se refere a uma simples lembrança, ou seja, os que celebram não estão apenas lembrando do que Cristo fez e falou, mas sim, ao celebrar, estão atualizando os mistérios da Salvação. Assim, agora Cristo Morre e agora Cristo Ressuscita, como a afirmação da comunidade católica na Missa do domingo de páscoa “O Senhor Ressuscitou dos mor- tos, como prometera; exultemos e alegremo-nos todos [...]” (Missal Romano, p. 297). Quando falamos em celebração litúrgica, não podemos deixar de lado os sacramentos e isto nosso material apresenta bem, pois os sacramentos são celebrados e a liturgia tem como principal finalidade realizar os sacramentos para o povo fiel. Na liturgia, celebramos os sacramentos que são sete, como veremos no decorrer do nosso estudo. São eles: batis- mo, Eucaristia, confirmação, confissão, Ordem, Matrimônio e unção dos enfermos. Pode- -se definir sacramentoscomo uma graça visível de uma realidade invisível, ou seja, vemos a água no batizado, e sabemos que a criança está batizada, mas não vimos a ação de Deus propriamente dita. Assim como o Verbo Eterno encarnado, a Palavra Eterna que se faz Ho- mem, os sacramentos são assim, também, a junção da palavra e da matéria, por exemplo: enquanto o Sacerdote diz: “Eu te batizo em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo”, ele derrama três vezes água sobre a cabeça da criança. Deus agiu nesse momento na junção da Palavra com a matéria, Deus agiu e tornou aquela criança sua filha, uma vez que ela agora pelo Batismo faz parte do corpo do Seu único Filho, Nosso Senhor Jesus Cristo. Os Sacramentos são divididos em três grupos, de acordo com seu objetivo, assim, temos os Sacramentos da iniciação à vida cristã: Batismo, Eucaristia e Confirmação; os Sacra- mentos do serviço: matrimônio e Ordem; e os Sacramentos da cura, sendo a confissão e a unção dos enfermos. Desejo que você tenha um bom estudo e um bom aprofundamento da liturgia e dos Sacramentos, como verdadeiras formas da ação de Deus para a comunidade. APRESENTAÇÃO LITURGIA E SACRAMENTOS SUMÁRIO 09 UNIDADE I O QUE É LITURGIA? 15 Introdução 16 Significado Extra Bíblico de Liturgia 19 “Leitourgia” na Sagrada Escritura 23 História da Salvação e Liturgia 26 Renovação Litúrgica 30 O Ano Litúrgico 35 Considerações Finais UNIDADE II O CULTO SAGRADO 45 Introdução 46 O Culto nas Diversas Religiões 48 O Culto no Antigo Testamento e no Novo Testamento 53 Os Santos Mistérios 57 Memória na Visão Bíblica 61 Considerações Finais SUMÁRIO 10 UNIDADE III ESPIRITUALIDADE LITÚRGICA E SACRAMENTOS 73 Introdução 74 Espiritualidade Litúrgica? 78 Os Sacramentos 83 Caráter Sacramental 88 Graça Sacramental 92 Considerações Finais UNIDADE IV OS SACRAMENTOS DA INICIAÇÃO CRISTà 105 Introdução 106 Como agem os Sacramentos? 110 Batismo 116 Confirmação 119 Eucaristia 124 Considerações Finais SUMÁRIO 11 UNIDADE V OS SACRAMENTOS DE CURA E SERVIÇO 135 Introdução 136 O Sacramento da Reconciliação 143 O Sacramento da Unção dos Enfermos 150 O Sacramento da Ordem 157 O Sacramento do Matrimônio 164 Considerações Finais 172 Conclusão U N ID A D E I Professor Dr. André Phillipe Pereira O QUE É LITURGIA? Objetivos de Aprendizagem ■ Compreender o significado do termo em um contexto extra bíblico. ■ Assimilar o significado de Liturgia na Bíblia. ■ Relacionar História da Salvação e Liturgia. ■ Conhecer a Renovação da Igreja no que tange à liturgia. ■ Entender a estrutura do Ano litúrgico. Plano de Estudo A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade: ■ Significado Extra Bíblico de Liturgia ■ “Leitourgia” na Sagrada Escritura ■ História da Salvação e Liturgia ■ Renovação Litúrgica ■ O Ano Litúrgico INTRODUÇÃO Caro(a) aluno(a), estamos começando nosso estudo sobre Liturgia e Sacramentos e nesta primeira unidade vamos refletir sobre liturgia, seu significado e seu con- texto bíblico, sempre relacionado com a história da salvação até a compreensão do ano litúrgico, no qual estão todas as celebrações da Igreja Católica. A pala- vra Liturgia pode ser caracterizada por uma compilação de ritos e cerimônias que se referem aos ofícios, serviços indispensáveis desenvolvidos pelas Igrejas Cristãs ou ainda pelas religiões monoteístas ao prestarem, de forma essencial, seu culto a Deus. Para eles, a liturgia torna-se essencial para realizar seu culto. O termo Liturgia vem dos vocábulos: gregos leiton, significando: do povo ou ainda para o povo e érgon que significa: obra. Assim, compreendemos litur- gia como uma obra para o povo, no entanto, sabemos que só a partir do século III, ainda antes de Cristo, que o termo assume um sentido religioso, sendo usado para designar o culto aos deuses prestado por pessoas que foram eleitas para tal, como os sacerdotes. Atualmente como Liturgia Católica compreendemos algo que Deus faz para Seu povo, enquanto este encontra-se reunido. Para compreendermos bem liturgia, conhecer a história da salvação se faz indispensável, pois ela nos ajuda a compreender de forma excelente o que é liturgia. A história tendo origem no plano eterno do Pai e revelada ao longo da história humana hoje é celebrada como uma liturgia, porém, toda a liturgia, assim como a revelação, é uma ação de Deus em favor da comunidade reunida. Na Igreja Católica, as celebrações litúrgicas são marcadas pelo ano litúrgico que é o ano da Igreja. É claro que ele está inserido dentro do calendário civil, que por sua vez é um calendário cristão. Neste ano, são realizadas todas as celebrações dos principais mistérios da vida de Cristo e, portanto, da nossa redenção. Introdução Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 15 SIGNIFICADO EXTRA BÍBLICO DE LITURGIA Estamos iniciando nosso estudo de liturgia e sacramentos e nesta unidade vere- mos o que é liturgia. Partiremos de um significado extra bíblico, percorrendo em seguida a tradição cristã, em que vamos compreender o ano litúrgico. Podemos caracterizar a palavra Liturgia como uma compilação de ritos e cerimônias que se referem aos ofícios, serviços indispensáveis ou reuniões de Igrejas Cristãs ou ainda das religiões monoteístas que prestam de forma essencial seu culto a Deus. Para eles, a liturgia torna-se essencial para realizar seu culto. A palavra LIT-URGIA tem sua origem do grego clássico e é composta de duas raízes: liet – leos – laos: povo, público – ação do povo, obra pública, ação feita para o povo, em favor do povo; ergomai (ergom): operar, produzir (obra), ação, trabalho, ofício, serviço... Traduzindo literalmente, leitourghía significa: “serviço prestado ao povo” ou “serviço diretamente prestado para o bem comum”, serviço público. Esse termo, Liturgia, vem dos vocábulos gregos leiton, significando “do povo” ou ainda “para o povo” e érgon que significa “obra”. Esses dois vocábulos signi- ficavam, no entanto, uma obra do povo ou para o povo, poderíamos ainda dizer O QUE É LITURGIA? Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IU N I D A D E16 também um obra pública. Na civilização grega antiga, as famílias mais abasta- das em patrimônio eram obrigados a custear serviços públicos como abertura de estradas, construção de pontes, jogos olímpicos, material para guerras e enfim, as obras que facilitariam a vida em sociedade. Nesse contexto, alguns assumiam de forma voluntária esse serviço, outras eram obrigadas a prestar Leitourgia para a comunidade. Feito esse trabalho, os gregos diziam: realizamos uma litur- gia. Seria, portanto, uma função exercida para interesse de todo o povo, seja de ordem política, técnica ou religiosa. QUAL O SIGNIFICADO DA PALAVRA LITURGIA? 1069. Originariamente, a palavra liturgia significa obra pública, serviço por parte dele em favor do povo. Na tradição cristã, quer dizer que o povo de Deus toma parte na obra de Deus. Pela liturgia, Cristo, nosso Redentor e Sumo-Sacerdote, continua na sua Igreja, com ela e por ela, a obra da nossa redenção. 1070. No Novo Testamento, a palavra liturgia é empregada para designar, não somente a celebração do culto divino, mas também o anúncio do Evan- gelho e a caridade em ato. Em todas estas situações, trata-se do serviço de Deus e dos homens. Na celebração litúrgica, a Igreja é serva, à imagem do seu Senhor, o único, participando no seu sacerdócio (culto) profético (anún- cio) e real (serviço da caridade): Qualquer celebração litúrgica, enquanto obra de Cristo Sacerdote e do seu corpo que é a Igreja, é ação sagrada por excelência e nenhuma outra ação da Igreja a iguala em eficácia com o mesmo título e no mesmo grau. Fonte: Catecismo da Igreja Católica (1983, par. 1069-1070). Aristóteles (±322 a.C.) em sua obra A Políticanotava que essas leitourgia eram causas de desperdício do patrimônio familiar e que esses trabalhos muitas vezes feitos de forma obrigatória eram causa de endividamento e perda do patrimô- nio familiar. Significado Extra Bíblico de Liturgia Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 17 Contudo, aos poucos e no passar do tempo, esse termo foi perdendo seu cará- ter de serviço público e passou a ter um significado mais amplo, sendo usado para designar serviços como o de um escravo ao seu proprietário ou ainda de médico para seu paciente. Com o passar do tempo, a mesma obra, ação, iniciativa, perdeu, quer por institucionalização quer por imposição, o seu caráter livre e, assim, passou a ser chamado de liturgia qualquer trabalho que importasse em serviço mais ou menos obrigatório prestado ao Estado ou à divindade (serviço religioso) ou a um particular (Dicionário de Liturgia, 2004, p. 639). Somente a partir do século III, ainda antes de Cristo, que o termo assume um sentido religioso, sendo usado para designar o culto aos deuses prestado por pessoas que foram eleitas para tal, como os sacer- dotes. Entendemos isso a partir do contexto helenístico grego que tinha a religião como um assunto de relevo na sociedade e de interesse público. O serviço era prestado aos deuses por meio de uma pes- soa — sacerdote — em nome da comunidade. Com o passar dos anos, porém, a palavra “liturgia” vai perdendo o sentido de ação para o público e vai tomando o sentido de culto devido a Deus. É nesse sentido que a palavra “liturgia” apa- rece na tradição grega do Antigo Testamento, até o cristianismo. A Liturgia não esgota toda a ação da Igreja (Catecismo da Igreja Católica, 1983, par. 1071) O QUE É LITURGIA? Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IU N I D A D E18 “LEITOURGIA” NA SAGRADA ESCRITURA No Antigo testamento, na tradução grega conhecida como a tradução dos LXX, pois foram setenta e dois rabinos, sendo seis de cada uma das doze tribos de Israel que teriam completado a tradução da bíblia hebraica para o grego em setenta e dois dias. O termo liturgia é utilizado geralmente ao referir-se aos ritos na lei de Moisés. Na chamada LXX, liturgia significa sempre, sem exceção, o serviço re- ligioso prestado pelos levitas a Javé, primeiro na tenda e depois no tem- plo de Jerusalém. Era, portanto, termo técnico que designava o culto público e oficial segundo as leis e culturas levíticas, diferente do culto privado, ao qual, na mesma tradução dos LXX, os autores se referem principalmente usando os temos latria ou dulia (Dicionário de Litur- gia, 2204, p. 639) Entretanto, no Novo Testamento (NT), liturgia aparece em três acepções dife- rentes. No significado profano como os gregos, significando o culto ou o rito e no terceiro como algo vivencial celebrativo, mas quando falamos de liturgia já no cristianismo precisamos levar em conta que “Leitourgia” na Sagrada Escritura Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 19 enquanto na igreja oriental de língua grega liturgia serve para indicar tanto o culto cristão em geral quanto, em particular, a celebração da eu- caristia, na igreja latina a palavra é praticamente desconhecida. De fato aconteceu o seguinte: enquanto muitos outros termos bíblicos neotesta- mentários, como anjo, profeta, apóstolo epíscopo, presbítero, diácono, etc. provenientes do texto grego passaram em peso para a sua tradução latina por simples transliteração, com liturgia isto jamais ocorreu, e assim permanecerá como termo estranho à linguagem litúrgica latina. Como foi dito acima, no NT teremos a liturgia em três vertentes, vejamos cada uma delas com alguns exemplos: O primeiro seria a liturgia com um significado profano. Vemos o termo sendo usado como um trabalho, como o sustento dos Apóstolos no qual Epafrodito leva a esmola dos Filipenses: “Recebei-o, pois, no Senhor com toda a alegria e tende em grande estima pessoas como ele, pois pela obra de Cristo ele quase morreu arriscando a vida para atender por vós às minhas necessidades” (BÍBLIA, Fl 2, 29-30). Ainda podemos ver em 2Cor 9, 12 que “o serviço desta coleta (Liturgia) não deve apenas satisfazer às necessidades dos santos, mas há de ser ocasião de efusivas ações de graças a Deus”. E em Romanos 13, 6 vemos ainda o serviço como algo que agrada a Deus. “É também por isso que pagais impostos, pois os que governam, são servidores de Deus, que se desincumbem com zelo do seu ofício (leitourgia)”. O segundo sentido que o NT confere à Liturgia é o de significado ritual ou cúltico, apresentamos três exemplos desse significado no NT: At 13,2: “Celebravam eles (os primeiros discípulos) a liturgia em honra do Senhor”. Lc 1, 23: “Completados os dias do seu ministério (liturgia)”, Zacarias voltou para casa” e, por fim, Hb 9, 21: “Moisés aspergiu com o sangue a Tenda e todos os utensílios do culto (liturgia)”. Também vimos que liturgia no NT possui um significado vivencial, e tal- vez esse seja o mais importante, pois toda a vida do cristão vem a ser um culto a Deus, de modo que nada existe, nesse sentido, de profano ou arreligioso, assim apresentamos alguns exemplos que o NT apresenta nesse sentido: Fl 2, 17: “Se o meu sangue, for derramado em libação, em sacrifício e serviço (liturgia) da vossa fé, alegro-me e regozijo-me com todos vós”. Rm 15, 16: “A graça me foi concedida por Deus de ser o ministro (litourgón) de Cristo Jesus para os gen- tios, a serviço do Evangelho de Deus” O QUE É LITURGIA? Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IU N I D A D E20 A ideia de que toda a vida do cristão é um culto ou uma liturgia sagrada, encontra-se repetidamente nos escritos de São Paulo, embora nem sempre o Apóstolo use o vocábulo liturgia. Assim, por exemplo: Rm 1, 9: “Deus, a quem sirvo (latreuo = presto culto) em meu espírito, anunciando o Evangelho do seu Filho, é minha testemunha”. Fl 3, 3: “Os circuncidados somos nós, que prestamos culto a Deus em espírito”. Fl 4, 18: “Agora tenho tudo em abundância; tenho de sobra, depois de haver recebido o que veio de vós, perfume de suave odor, sacri- fício aceito e agradável a Deus”. São Paulo tinha em vista as esmolas levadas por Epafrodito ao Apóstolo prisioneiro. POR QUÊ A LITURGIA? No Símbolo da Fé, a Igreja confessa o mistério da Santíssima Trindade e o seu desígnio admirável sobre toda a criação: o Pai realiza o mistério da sua von- tade, dando o seu Filho muito amado e o seu Espírito Santo para a salvação do mundo e para a glória do Seu nome. Tal é o mistério de Cristo, revelado e realizado na história segundo um plano, que São Paulo chama de economia do mistério e a que patrística chama de economia do Verbo encarnado. Esta obra da redenção humana e da glorificação perfeita de Deus, cujo prelú- dio foram as magníficas obras divinas operadas no povo do Antigo Testamen- to, realizou-se por Cristo Senhor, principalmente pelo mistério pascal da sua bem-aventurada paixão, ressurreição dos mortos e gloriosa ascensão, em que, morrendo, destruiu a morte e ressuscitando restaurou a vida. Efetivamente, foi do lado de Cristo adormecido na cruz que nasceu o sacramento admirável de toda a Igreja. É por isso que, na liturgia, a Igreja celebra principalmente o mistério pascal, pelo qual Cristo realizou a obra da nossa salvação. Fonte: Catecismo da Igreja Católica (1983, par. 1066-1067). Esse sentido de Liturgia também é encontrado em Rm 12, 1: “Exorto-vos, irmãos, pela misericórdia de Deus, a que ofereçais vossos corpos como hóstia viva, santa e agradável a Deus; este é o vosso culto espiritual” e em 1 Pd 2, 5: “Vós, como pedras vivas, constituí-vos em um edifício espiritual; dedicai-vos a um sacerdócio santo, a fim de oferecerdes sacrifíciosespirituais agradáveis a Deus por Jesus Cristo”. “Leitourgia” na Sagrada Escritura Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 21 É este mistério de Cristo que a Igreja anuncia e celebra em sua liturgia, a fim de que os fiéis vivam e dêem testemunho dele no mundo: com efeito, a liturgia, pela qual, principalmente no divino sacrifício da Eucaristia, se exerce a obra de nossa redenção, contribui do modo mais excelente para que os fiéis, em sua vida exprimam e manifestem aos outros o mistério de Cristo e a genuína natureza da verdadeira Igreja. (CATECISMO DA IGREJA CATÓLICA, 1983, par. 1068) Aliás, ao fazer de toda a sua vida uma oferta de culto a Deus, o cristão não faz senão reproduzir o gesto de Cristo, que desde a sua conceição no seio materno, se ofereceu ao Pai como Hóstia viva e consciente, em lugar das vítimas irracio- nais da Antiga Aliança; é o que diz o autor de Hebreus (BÍBLIA, Hb 10, 5-7.10): Ao entrar no mundo. Ele afirmou: Tu não quiseste sacrifício e oferenda. Tu, porém, me formaste um corpo. Holocaustos e sacrifícios pelo pecado não foram do teu agrado. Por isto digo: Eis-me aqui... eu vim, ó Deus, para fazer a tua vontade...’ Graças a esta vontade é que somos santificados pela oferenda do corpo de Jesus Cristo, realizada uma vez por todas. Este texto é um programa para toda a vida do Cristão. Toda a vida do cristão deve ser um contínuo imitar Cristo em suas palavras e atitudes, essa perícope apre- senta toda a vida de Jesus Cristo como culto de louvor e expiação a Deus Pai, ou seja, o cristão deve viver permanentemente em oblação a Deus com Cristo na uni- dade do Espírito Santo e tudo isso é refletido depois na celebração da liturgia nos templos e em comunidade, para que todos possamos dizer como São Paulo em Gálatas 2, 20: “Vivo eu, não eu; é Cristo que vive em mim. Minha vida presente na carne, eu a vivo pela fé no Filho de Deus, que me amou e se entregou por mim”. A missão do Espírito Santo na Liturgia da Igreja é preparar a assembléia para encontrar-se com Cristo; tornar presente e atualizar a obra salvífica de Cristo por seu poder transformador e fazer frutificar o dom da comunhão na Igreja. (Catecismo da Igreja Católica, 1983, par. 1112) O QUE É LITURGIA? Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IU N I D A D E22 HISTÓRIA DA SALVAÇÃO E LITURGIA A história da salvação nos ajuda a compreender bem o que é a liturgia, por- tanto, estudar a liturgia relacionada ao contexto histórico salvífico é importante uma vez que a salvação tem sua origem no plano eterno do Pai já antes da cria- ção do mundo, porém esse mistério foi sendo aos poucos revelado no tempo da promessa, em que Deus falou aos Patriarcas e profetas muitas vezes e de muitos modos, anunciando-lhes a plenitude da promessa em Cristo, conforme a carta aos Hebreus: “Muitas vezes e de modos diversos Deus falou, outrora, aos pais pelos profetas, agora, nestes dias que são os últimos, falou-nos por meio do Filho, a quem constituiu herdeiro de todas as coisas, e pelo qual fez os séculos” (1, 1-2). O tempo da promessa tem seu auge no evento Cristo. Este evento tem seu início de modo subjetivo na criação, mas de modo direto na encarnação, em que o Verbo de Deus se faz homem, anunciando pela vida, palavras e obras a Boa Nova da salvação: “E o Verbo se fez carne e habitou entre nós, e nós vimos sua glória, glória que ele tem junto ao Pai como Filho único cheio de graça e ver- dade” (Jo 1, 14). História da salvação e Liturgia Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 23 O Filho é o Novo Adão, e nEle tudo é recriado, uma vez que tudo foi feito por Ele, com Ele e nEle como nos ensina São Paulo, Ele reconcilia os homens com Deus com seu sangue que é a Nova Aliança. O tempo de Cristo é prolongado na Igreja, e a Igreja preparada na história do Povo de Israel é plenificada em Cristo, pois, é o verbo encarnado que realiza no mundo o plano salvífico. Assim, Cristo manifesta o Reino de Deus a todo ser humano, primeiro reúne uma pequena comunidade, a estes envia para continuar sua obra em todo o mundo. Contudo, a Cruz é o auge dos sacramentos que dão vida à Igreja. Quando Cristo crucificado é transpassado e do seu lado aberto jorra sangue e água, “che- gando a Jesus e vendo-o já morto, não lhe quebraram as pernas, mas um dos soldados transpassou-lhe o lado com a lança e imediatamente saiu sangue e água” (BÍBLIA, Jo 19, 33-34), esses elementos são figuras dos sacramentos que fazem a Igreja e que transmitem a vida eterna a nós, pois batismo e eucaristia nos comunicam a vida de Deus. A obra da Redenção humana e da perfeita glorificação de Deus, da qual foram prelúdio as maravilhas divinas operadas no povo do Antigo Testamento, completou-as Cristo Senhor, principalmente pelo misté- rio pascal de sua sagrada Paixão, Ressurreição dos mortos e gloriosa Ascensão. Por este mistério. Cristo, morrendo, destruiu a nossa morte e, ressuscitando, restaurou a nossa vida. Pois, do lado de Cristo ador- mecido na Cruz, nasceu o admirável sacramento de toda a Igreja (Sa- crosanctum Concilium, nº 5). A liturgia é o último tempo da história da salvação, pois ela torna presente a obra redentora de Cristo mediante sinais sagrados que são os sacramentos. Veremos sobre os sacramentos nas unidades seguintes. A história da liturgia pode dividir-se em duas partes bem distintas, deli- mitadas pelo Concílio de Trento (1545-1563). Antes do Concílio de Trento, a liturgia evolui muito paralelamente no Oriente e no Ocidente. Depois do Concílio de Trento, a liturgia latina, submetida diretamente à autoridade da Sé Apostólica, torna-se objeto de reformas que a sua unificação e centraliza- ção tornam não só possíveis, mas ainda necessárias; pelo contrário, as liturgias do Oriente são cuidadosamente preservadas na pureza e integridade do seu patrimônio espiritual. O QUE É LITURGIA? Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IU N I D A D E24 Os sacramentos nos inserem na obra redentora de Cristo, por meio deles a Igreja gera novos filhos de Deus (Batismo) e os alimenta fortalecendo na mis- são e na fidelidade a Deus (Eucaristia). Percebemos, portanto, que a liturgia não se configura como um espetáculo legislado por rubricas, mas é a própria his- tória da salvação acontecendo no agora dos cristãos. Toda a obra redentora de Deus — convocação de Abraão, Moisés, Profetas, Encarnação, Páscoa, Ascensão, Pentecostes — toma sentido na vida do cristão na vivência e na celebração da litur- gia, pois esta atualiza os mistérios da nossa redenção, conforme a Sacrosanctum Concilium no número 6: Assim como Cristo foi enviado pelo Pai, assim também Ele enviou os Apóstolos, cheios do Espírito Santo, não só para pregarem o Evange- lho a toda criatura e anunciarem que o Filho de Deus, pela sua morte e ressurreição, nos libertou do poder de Satanás e da morte, e nos transferiu para o Reino do Pai, mas também para levarem a efeito (para efetuarem) o que anunciavam: a obra da salvação através do sacrifício e dos sacramentos, acerca dos quais se desenvolve toda a vida litúrgica. 1110. Na liturgia da Igreja, Deus Pai é bendito e adorado como fonte de todas as bênçãos da criação e da salvação, com que nos abençoou no seu Filho, para nos dar o Espírito da adoção filial. 1111. A obra de Cristo na liturgia é sacramental, porque o seu mistério de salvação torna-se ali presente pelo poder do seu Espírito Santo; porque o seu corpo, que é a Igreja, é como que o sacramento (sinal e instrumento) no qual o Espírito Santo dispensa o mistério da salvação; e porque, através das suas ações litúrgicas, a Igreja peregrina participa já, por antecipação, na liturgia do céu. 1112. A missão do Espírito Santo na liturgia daIgreja é preparar a assem- bleia para o encontro com Cristo, lembrar e manifestar Cristo à fé da assem- bleia, tornar presente e atualizar a obra salvífica de Cristo pelo seu poder transformante e fazer frutificar o dom da comunhão na Igreja. Fonte: Catecismo da Igreja Católica (1983, par. 1110-1112). História da salvação e Liturgia Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 25 RENOVAÇÃO LITÚRGICA A prática litúrgica é a vida da Igreja, mas para entendê-la faz-se necessário conhe- cer a liturgia relacionada à história da salvação e foi isso que tentamos fazer no item anterior, mas também não podemos esquecer que as práticas devocionais também fizeram história na liturgia. Nesse item, vamos entender o caminho da liturgia a partir do século XVI, século que marca grande mudança no pensamento e na vida da sociedade em geral e, claro, na liturgia. Entender essas mudanças nos ajudarão a compreender a grande mudança litúrgica promulgada no Concílio Vaticano II. Logo no século XVI temos o evento que nós conhecemos chamado Reforma Protestante: Etimologicamente, a palavra reforma não tem um sentido bem claro e definido, na última fase da Idade Média, era comum o clamor pela reforma da Igreja; basta lembrarmo-nos de figuras como Francisco de Assis, João Hus e jerônimo de Savonarola, ou dos Concílio de Constan- ça e Basiléia. Por Reformatio entendia-se sempre uma purificação da Igreja, de sua doutrina e sua vida, livrando-a de abusos e sua renovação por uma volta ao antigo, à doutrina e à vida da Igreja nos seus primór- dios (ZINHOBLER, 2006, p. 205). O QUE É LITURGIA? Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IU N I D A D E26 Com a reforma, nasce um subjetivismo ou ainda um individualismo. Os refor- madores pregavam o princípio do livre exame da Sagrada Escritura, segundo o qual cada crente estaria habilitado a ler e interpretar as Escrituras. Isso originou uma multiplicação de comunidades eclesiais e denominações cristãs diferentes, cada qual dependendo do que foi instituído por seu fundador. Lembremos tam- bém que o latim era a língua oficial da Igreja e do Império; com a reforma, os seus pregadores começaram a incentivar as celebrações no vernáculo de cada região. Esse individualismo nascido da pregação protestante afeta também a pie- dade católica, muitos aderem a essa pregação, deixando de participar da vida da Igreja e da Eucaristia, praticando uma piedade particular. Neste contexto, temos ainda o movimento Galicano: Na França do século XVII, teólogos e canonistas procuraram conceder ao Estado uma influência muito grande sobre os assuntos da Igreja e limitar o mais possível o poder do papa. Desde 1662, o jovem rei Luiz XIV, criado num ambiente galicano, já entrou em conflito com o papa Alexandre VII por causa da imunidade diplomática do bairro da em- baixada francesa em Roma [...] o rei aprovou unanimemente os quatro artigos galicanos [...] o poder civil é independente em assuntos tempo- rais, o concílio está acima do papa, a autoridade dos papas é limitada pelos cânones eclesiásticos e as decisões em assuntos de fé dependem da aprovação da Igreja inteira. (ZINHOBLER, 2006. p. 263) Neste movimento, os reis — tidos como católicos e responsáveis pela evange- lização de novas terras — receberam amplos poderes sobre a vida da Igreja em seus territórios (nomeação de párocos, indicação de bispos, arrecadação de dinheiro...), que, de certo modo, subtraiam da jurisdição de Roma o clero e os fiéis católicos, pois os monarcas, com exceções, se deixaram levar por interesses políticos mais do que por preocupações eclesiais. Isto contribuía para empobre- cer a piedade católica, que era, sem dúvida, fervorosa, mas carecia do autêntico nutrimento espiritual. Isso tudo acontecia em meio a um nacionalismo crescente e um racionalismo que destronava a escolástica. Em uma linha contrária a todo esse movimento, temos os mosteiros, que colaboravam pela renovação da piedade e prezavam pela prática litúrgica autên- tica e comunitária, destacavam na sua prática e pregação uma vida cristã com o centro na oração da Igreja que nasce da relação entre Sagrada Escritura, Tradição e Magistério. Renovação Litúrgica Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 27 O Papa S. Pio X (1903-1914) fortaleceu essa corrente, inspirado por seu lema “Instaurar todas as coisas em Cristo”. Em 1910, publicou o decreto Quam singu- lari, que chamava as crianças à primeira Comunhão desde que tivessem o uso da razão e soubessem distinguir do pão comum o pão eucarístico; em oposição à mentalidade jansenista. ESPÍRITO SANTO E A IGREJA NA LITURGIA 1091. Na liturgia, o Espírito Santo é o pedagogo da fé do povo de Deus, o ar- tífice das «obras-primas de Deus» que são os sacramentos da Nova Aliança. O desejo e a obra do Espírito no coração da Igreja é que nós vivamos da vida de Cristo ressuscitado. Quando Ele encontra em nós a resposta da fé que suscitou, realiza-se uma verdadeira cooperação. E, por ela, a liturgia torna-se a obra comum do Espírito Santo e da Igreja. 1092. Nesta dispensação sacramental do mistério de Cristo, o Espírito Santo age do mesmo modo que nos outros tempos da economia da salvação: pre- para a Igreja para o encontro com o seu Senhor; lembra e manifesta Cristo à fé da assembleia; torna presente e actualiza o mistério de Cristo pelo seu poder transformante; e finalmente, enquanto Espírito de comunhão, une a Igreja à vida e à missão de Cristo. Fonte: Catecismo da Igreja Católica (1983, par. 1091-1092). Pio X via no sacramento o canal de uma vida nova e o antídoto do pecado, por isto também incitou os adultos à Comunhão Eucarística frequente ou mesmo cotidiana, exigindo para isto apenas o estado de graça e a reta intenção de se unir ao Senhor. O mesmo Pontífice publicou um documento (Motu Próprio) em 22/11/1903 a favor do canto gregoriano, que deveria substituir a polifonia nas Igrejas (polifonia que impedia a participação dos fiéis e assemelhava as fun- ções sagradas a uma exibição musical profana); afirmava Pio X: “Todos devem estar certos de que um Ofício religioso nada perde da sua solenidade se não é acompanhado por outra música que não o canto gregoriano”. Também mandou O QUE É LITURGIA? Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IU N I D A D E28 rever a Liturgia das Horas, que deveria exprimir melhor as grandes verdades da fé professada pela Igreja; foram suprimidas certas festas que sobrecarregavam o calendário, especialmente os domingos, impedindo que os fiéis pudessem acom- panhar o Senhor Jesus nos seus mistérios de Natal, Páscoa e Pentecostes. Em suma, são de S. Pio X as seguintes palavras, que tomaram significado decisivo para o posterior florescimento da Liturgia: É nosso vivíssimo desejo que o verdadeiro espírito refloresça de todos os modos... Por isso é necessário cuidarmos, antes do mais, da santidade e da dignidade dos templos, onde precisamente os fiéis se reúnem para haurir esse espírito da sua primeira e indispensável fonte, que é a participação ativa nos sacrossantos mistérios e na oração pública e solene da Igreja (Motu próprio Tra le sollecitudini, 1903, on-line)1. Esse movimento da sociedade e da Igreja preparam o Concílio Vaticano II e a construção do documento a constituição Sacrosanctum Concilium que declara: “Toda celebração litúrgica como obra de Cristo Sacerdote e de seu Corpo, que é a Igreja, é uma ação Sagrada por excelência, cuja eficácia, no mesmo título e grau, não é igualada por alguma outra ação da Igreja” (S. C. no 7). E continua: a Liturgia é o cume para o qual tende a ação da Igreja e, ao mesmo tempo, é a fonte donde emana toda a sua força. Pois os trabalhos apos- tólicos se ordenam a esta finalidade:todos, feitos pela fé e pelo Batismo filhos de Deus, juntos se reúnam, louvem a Deus na Igreja, participem do sacrifício e da Ceia do Senhor (S. C. no 10). Renovação Litúrgica Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 29 O ANO LITÚRGICO O Ano Litúrgico é o ano da Igreja, é claro que ele está inserido dentro do calendá- rio civil, que por sua vez é um calendário cristão. O Ano Litúrgico começa com o primeiro domingo do Advento (celebrado ou na última semana de novembro ou na primeira semana de dezembro, tendo, portanto, variação a cada ano) e encerra na semana que inicia com o Domingo de Cristo Rei (Celebrado em uma das duas últimas semanas de Novembro ou ainda na primeira semana de dezembro). A Constituição Sacrosanctum Concilium apresenta o que significa o ano litúrgico: Relembrando os mistérios da Redenção, a Igreja franqueia aos fiéis as riquezas do poder santificador e dos méritos de seu Senhor, de tal modo que, de alguma forma, os torna presentes em todos os tempos, para que os fiéis entrem em contato com eles e sejam repletos da graça da salvação (C. S. no 102). Ao apresentar o ano litúrgico, vamos dividi-lo em dois temas, como apresenta o Missal Romano (1992). O Missal Romano é o livro usado nas Missas, fica sobre o Altar e é usado apenas pelo sacerdote. Eles contêm todo o rito da Missa, de O QUE É LITURGIA? Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IU N I D A D E30 todas as celebrações possíveis e todas as orações que o sacerdote deve rezar em diversas Missas com motivos diferentes. O Missal Romano (1992) ao falar do Ano Litúrgico primeiramente faz uma breve introdução, como segue: 1. No decorrer do ano, a Santa Igreja comemora em dias determinados a obra salvífica de Cristo. Cada semana, no dia chamado domingo (dia do Senhor), ela recorda a ressurreição, que celebra também uma vez por ano, com a bem-aventurada Paixão na solenidade máxima da Páscoa. Durante o ciclo anual desenvolve-se todo o mistério de Cristo e comemo- ram-se os aniversários dos Santos. Nos vários tempos do ano litúrgico, segundo a disciplina tradicional, a Igreja aperfeiçoa a formação dos fiéis por meio de piedosos exercícios espirituais e corporais, pela instrução e oração, e pelas obras de penitência e de misericórdia. 2. Os princípios que seguem podem e devem ser aplicados tanto ao rito romano como a todos os outros; as normas práticas, porém, devem ser consideradas como visando apenas o rito romano, a não ser que se trate de coisas que, pela sua própria natureza, concerne também aos outros ritos. Depois apresenta o tema dos dias litúrgicos e em segundo bloco apresenta o tema do ciclo anual. Ao apresentar os dias, ressalta o domingo e as solenidades e depois dos dias feriais. O Missal (1992) afirma que todos os dias são santifi- cados pelas celebrações do Povo de Deus, as liturgias, durante todo o dia que a Igreja entende começar a meia noite e terminar também à meia noite. Para a Igreja todos os dias são santificados, porém, ao falar do domingo, afirma: 4.No primeiro dia de cada semana, que é chamado do dia do Senhor ou domingo, a Igreja, por uma tradição apostólica que tem origem no próprio dia da Ressurreição de Cristo, celebra o mistério pascal. Por isso, o domingo deve ser tido como principal festa. 5.Por causa de sua especial importância, o domingo só cede sua celebração às solenidades e às festas do Senhor; contudo os domingos do Advento, da Quares- ma e da Páscoa gozam de precedência sobre todas as festas do Senhor e todas as solenidades. As solenidades que ocorrem nestes domingos sejam antecipadas para o sábado. 6. O domingo exclui pela sua própria natureza a fixação definitiva de qualquer outra celebração. Contudo: a) no domingo dentro da oitava do Natal do Senhor, celebra-se a festa da Sagrada Família; b) no domingo depois do dia 6 de janeiro, celebra-se a festa do Batismo do Senhor; c) no domingo depois de Pentecostes, celebra-se a solenidade da Santíssima Trindade; d) no último domingo do Tempo Comum, celebra-se a solenidade de Cristo Rei do Universo. O Ano Litúrgico Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 31 7. Onde as solenidades da Epifania, Ascensão e Santíssimo Corpo e Sangue de Cristo não forem dias santos de guarda, sejam celebradas num domingo que se torna seu dia própria, a saber; a) a Epifania, no domingo que ocorre entre os dias 2 e 8 de janeiro; b) a Ascensão, no 7º domingo da Páscoa; c) a solenidade do Santíssimo Corpo e Sangue de Cristo, no domingo depois da Santíssima Trindade (p. 102-103). Contudo, além do domingo temos também solenidades que são celebrações com importância para a vida do cristão. Por exemplo, a celebração das duas maio- res solenidades cristãs a Páscoa e o Natal, são prolongadas por oito dias, sendo chamada de oitava de Páscoa e Oitava de Natal, ou seja, oito dias celebrando a mesma festa. Depois temos as solenidades menores que são celebradas ape- nas durante um dia como as festas de Nosso Senhor, Nossa Senhora e alguns Mártires e outros santos. No segundo bloco dentro do Ano litúrgico, o Missal (1992) apresenta o ciclo anual; neste a Igreja celebra todo o mistério de Cristo, da encarnação ao dia de Pentecostes e à espera da vinda do Senhor. A Igreja divide esse da seguinte maneira: O Tríduo Pascal, O tempo Pascal (os dois tempos mais importantes para a fé a vida cristã), O tempo da Quaresma, o Tempo do Natal, o Tempo do Advento e o tempo comum. Destacamos neste item os dois tempos mais impor- tantes, o tríduo Pascal e a Páscoa, porém as festas mais importante são a Páscoa e depois a festa do Natal. O TRÍDUO PASCAL - 18. Como o Cristo realizou a obra da reden- ção humana e da perfeita glorificação de Deus principalmente pelo seu mistério pascal, quando morrendo destruiu nossa morte e ressuscitan- do renovou a vida, o sagrado Tríduo Pascal da Paixão e Ressurreição do Senhor resplandece como o ápice de todo o ano litúrgico. Portando, a solenidade da Páscoa goza no ano litúrgico a mesma culminância do domingo em relação à semana. 19.O Tríduo pascal da Paixão e Ressur- reição do Senhor começa com a Missa vespertina da Ceia do Senhor, possui o seu centro na Vigília Pascal e encerra-se com as Vésperas do domingo da Ressurreição. 20. Na Sexta-feira da Paixão do Senhor, ob- serva-se o sagrado jejum pascal. E, onde for oportuno, também no Sá- bado Santo até a Vigília Pascal. 21. A Vigília pascal, na noite santa em que o Senhor ressuscitou, seja considerada a “mãe de todas as vigílias”, na qual a Igreja espera, velando a Ressurreição de Cristo, e a celebra os sacramentos. Portanto, toda a celebração desta sagrada Vigília deve realizar-se à noite, de tal modo que comece depois do anoitecer ou ter- mine antes da aurora do domingo. O QUE É LITURGIA? Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IU N I D A D E32 O TEMPO PASCAL - 22. Os cinquenta dias entre o domingo da Res- surreição e o domingo de Pentecostes sejam celebrados com alegria e exaltação, como se fossem um só dia de festa, ou melhor, “como um grande domingo”. É principalmente nesses dias que se canta o Aleluia. 23. Os domingos deste tempo sejam tidos como domingos de Páscoa e, depois do domingo da Ressurreição, sejam chamados de 2º, 3º, 4º, 5º, 6º, 7º domingos de Páscoa. O domingo de Pentecostes encerra este tempo sagrado de cinquenta dias. 24. Os oito primeiros dias do Tempo pascal formam a oitava da Páscoa e são celebrados como solenidades do Senhor. 25. No quadragésimo dia depois da Páscoa celebra-se a As- censão do Senhor, a não ser que seja transferida para o 7º domingo da Páscoa, nos lugares onde não for considerada dia santa de guarda. 26. Os dias da semana depois da Ascensão, até o sábado antes de Pente- costesinclusive, constituem uma preparação para a vinda do Espírito Santo Paráclito (Missal, 1992, p. 104). O tempo da Quaresma inicia na quarta-feira de cinzas e se estende por 5 sema- nas. Esse tempo é marcado pela Oração, Penitência e Caridade. Como sinal, os fiéis são marcados com as cinzas na cabeça, que significa penitência e mortifica- ção e também não dizem durante todos este tempo o Aleluia. Esse tempo marca também a preparação para Páscoa da Ressurreição, depois do tempo de peni- tência, vem o tempo da graça, o tempo da vida em Cristo. O tempo do Natal, a segunda festa mais importante para a Igreja, inicia na véspera do dia 25 de dezembro, ou seja, na noite do dia 24 de dezembro, essa festa se estende com uma oitava, ou seja, oito dias de celebração. Esse tempo se estende até o dia 6 de janeiro ou o domingo seguinte a esta data. Marca este tempo a memória do nascimento do Senhor e sua primeira manifestação. O tempo do Advento é anterior ao Natal, sendo uma preparação para esta festa que se estende por 4 semanas e visa uma preparação para celebrar a pri- meira vinda do Messias e um convite a uma preparação dos fiéis para a segunda vinda do salvador, sobre este tempo o Missal (1992, p. 108) afirma: o Tempo do Advento possui dupla característica: sendo um tempo de preparação para as solenidades do Natal, em que se comemora a pri- meira vinda do Filho de Deus entre os homens, é também um tempo em que, por meio desta lembrança, voltam-se os corações para a expec- tativa da segunda vinda do Cristo no fim dos tempos. Por este duplo motivo, o Tempo do Advento se apresenta como um tempo de piedosa e alegre expectativa. O Ano Litúrgico Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 33 O tempo comum inicia na segunda-feira após 6 de janeiro até terça-feira de carnaval, ou seja, antes da quarta-feira de cinzas, depois retorna na segunda- -feira de Pentecostes até as vésperas do primeiro domingo do Advento. Nele é celebrado a vida de Cristo refletindo sobre sua vida, palavras e obras, conforme lemos no Evangelho. Observe abaixo, na Figura 1, como se distribuem os períodos do Ano Litúrgico: SSM A T RIN DA DE AS CE NS ÃO D O M IN G O D E RA M O S TRÍDUO PASCAL QUARTA-FEIRA DE CINZAS JESUS DÁ INÍCIO ÀS SUAS PRIMEIRAS PREGAÇÕES SA G RA D A FA M ÍL IA NATAL DE NOSSO SENHOR JESUS CRISTO REVIVEMOS TUDO O QUE JESUS CRISTO DISSE E FEZ PARA NOSSA SALVAÇÃO SA NT A M ÃE D E DE US EP IFA NI A BA TIS MO DO SE NH OR SE XT A -F EI RA S A N TO Q U IN TA -F EI RA S A N TO 4ª 3ª 2ª 5 4 3 2 1 PE NT EC OS TE S 6 5 4 3 2 D O M . D E PÁ SC O A SÁ BA D O S A N TO CRISTO REI DO MIN GO S 4° 3° 2° 1º Figura 01 - Ano Litúrgico Fonte: ArqRio (2014, on-line)2. Caro(a) aluno(a), encerramos essa unidade em que refletimos sobre o conceito de liturgia e sua celebração na Igreja Católica e a importância que esta repre- senta na história da salvação. A Liturgia Católica não é apenas uma composição de ritos, mas a celebração de tudo o que a Igreja crê e prega. O QUE É LITURGIA? Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IU N I D A D E34 CONSIDERAÇÕES FINAIS Concluindo nosso estudo sobre o conceito de liturgia, conseguimos compreen- der que a prática Litúrgica é a vida da Igreja, e para compreendê-la é necessário conhecer a liturgia sempre relacionada à história da salvação e foi esse o cami- nho que fizemos nesta unidade que se encerra. Ao mesmo tempo que damos importância para a história da salvação revelada, também levamos em conside- ração as práticas devocionais que também fizeram história na liturgia. As duas concepções, a história da salvação e a prática devocional, contribuí- ram para o desenvolvimento da liturgia na Igreja. Destacamos portanto, o século XVI, século que marca grande mudança no pensamento e na vida da sociedade em geral e, claro, na liturgia. Entender essas mudanças nos ajudou a compreen- der a grande mudança litúrgica promulgada no Concílio Vaticano II. A Igreja Católica confere grande importância à Liturgia, pois esta celebra toda a sua fé, sendo configurada como o último tempo da história da salvação, uma vez que se torna presente a obra redentora de Cristo mediante sinais sagra- dos que são os sacramentos, que veremos nas unidades seguintes. A Instituição Católica na sua pregação, como São Paulo, prega a ressurreição de Cristo como o fundamento e a base da sua fé, mas não se cansa de apresen- tar a Cruz como um dos seus sacramentos, pois assim como a cruz nos salvou, os sacramentos dão vida à Igreja, quando Cristo crucificado é transpassado e do seu lado aberto jorra sangue e água: “Chegando a Jesus e vendo-o já morto, não lhe quebraram as pernas, mas um dos soldados transpassou-lhe o lado com a lança e imediatamente saiu sangue e água” (BÍBLIA, Jo 19, 33-34). Tudo isso celebrado de forma sistemática na estrutura do ano litúrgico, visto como a espi- nha dorsal das celebrações católicas. Considerações Finais Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 35 36 O MOVIMENTO LITÚRGICO - O RETORNO À LITURGIA Com D. Guéranger, abade de Solesme, sur- gem as primeiras manifestações do que mais tarde será chamado movimento litúrgico. Como bem afirma Bouyer, nada há nesse movimento cuja origem não esteja em Guéranger. O abade de Solesme restaurou a ordem beneditina em seu país, foi um infa- tigável e ardente opositor de toda forma de jansenismo, galicanismo e laicismo, tendo unido os católicos em torno do papado. Com ele tem início o retorno à liturgia romana, promovido pela descoberta das riquezas espirituais e teológicas desta. A mentali- dade de Guéranger pode ser condensada nas seguintes teses: a liturgia é por excelên- cia a oração do Espírito na Igreja, é a voz do corpo de Cristo, da esposa orante do Espí- rito; há na liturgia uma presença privilegiada da graça; nela se encontra a mais genuína expressão da Igreja e de sua tradição; a chave de inteligência da liturgia é a leitura cristã do antigo Testamento, bem como a do Novo apoiada no Antigo. A descoberta da liturgia foi para Guéranger descoberta do mistério da Igreja, por meio da experiência espiritual dessa mesma liturgia e da leitura assídua dos padres, artífices das primeiras formas da liturgia romana. A contemplação do mistério da Igreja anima a espiritualidade do abade. A Igreja como corpo e esposa de Cristo contrasta com a piedade individua- lista pós-tridentina que Guéranger crítica. A PASTORAL LITÚRGICA No congresso de Obras Católicas (Malines, 1909), foi lançado propriamente o movi- mento litúrgico. Seu promotor foi D. Lamberto Beauduin (1873-1960), que de sacerdote dedicado ao mundo operário pas- sara a monge beneditino de Monte César. Beauduin foi um homem de ação e atuou mais na pastoral litúrgica nas paróquias, tentando levar as pessoas a uma participa- ção na Missa paroquial, criando uma revista Questions Liturgiques (1910), realizando semanas litúrgicas destinadas à mentali- zação do clero. A expansão do movimento litúrgico ficou um tanto paralisada no decor- rer das duas guerras mundiais, voltando a propagar-se com mais vigor nos respectivos períodos pós-guerra. Contribuíram para essa difusão pastoral, na Bélgica, além da abadia de Monte César, a de Santo André; na França, o Centro de Pastoral Litúrgica de Paris; na área germânica, a abadia de Maria Laach, o Instituto de Liturgia de Tréveris, Pio Parsch e os cônegos regulares de Klosteneuburg; e, em toda a Igreja, os congressos Interna- cionais de Liturgia. Um ponto que chamou a atenção nesse movimento litúrgico foi o das relações entre liturgia e compromisso cristão. Nas sessões de estudo, organiza- das pelo Centro de Pastoral Litúrgica de Paris, depois da SegundaGuerra, reuniam- -se especialistas em liturgia e sacerdotes dedicados ao ministério em meios rurais e urbanos, bairros e centros das cidades, na Ação Católica em geral e nos movimentos especializados. Nessas reuniões, aparecia com freqüência o desejo de uma maior inserção dos valores mundanos na liturgia da Igreja, bem como de uma maior acomo- dação do culto às novas situações européias e dos países de missão. Em conseqüência, 37 foi vivamente discutido o problema da lín- gua litúrgica. Assim, o movimento passava do clima restauracionista de Guéranger para outro clima reformista. Contudo, os gran- des pioneiros litúrgicos, como Beauduin, foram reformadores, mas não reformistas, não tendo enveredado pelos caminhos da livre experimentação litúrgica, abertos por indivíduos e grupos entre o segundo perí- odo pós-guerra e os nossos dias. O MAGISTÉRIO DA IGREJA SOBRE A LITURGIA - Dois papas se sobressaem nesse magistério, Pio X e Pio XII Pio X se distinguiu pelo seu inte- resse litúrgico já antes de chegar ao supremo pontificado. Três meses depois da eleição como Papa, tornou público o Motu Próprio Tra li sollecitudini (1903, on-line)1, destinado a renovar a música religiosa e restaurar o gregoriano. Dois anos depois, promulgou o decreto Sacra tridentina synodus (1905), para fomentar a comunhão frequente e, cinco anos mais tarde, o decreto Quam singulari (1910), para promover a admissão das crian- ças à comunhão em tenra idade. Em 1911, publicava a constituição apostólica Divino aflanti, sobre a reforma do breviário e a reva- lorização da liturgia dominical. Três linhas claras aparecem no magistério litúrgico de Pio X: a renovação da música sagrada, porque “não devemos cantar e orar na Missa, mas cantar e orar a Missa”; a aproximação entre batizados e a comunhão eucarística que rom- peu um distanciamento de séculos entre os fiéis e o comungatório e aplainou o caminho para a participação sacramental da eucaris- tia, mesmo que a catequese oferecida acerca dessa comunhão devesse ser aperfeiçoada; a reforma do ano litúrgico e do breviário. A partir de Pio X e de Beauduin, a participação ativa será o objeto da pastoral litúrgica. No amplo magistério de Pio XII, dois documen- tos se destacaram: a encíclica Mediator Dei, considerada “a carta magna” do movimento litúrgico e o discurso aos participantes do Congresso Internacional de Pastoral Litúr- gica celebrado em Assis (1956). Alguns dados da renovação litúrgica efetuada por Pio XII: Instrução sobre a formação do clero no ofí- cio divino (1945); a extensão ao sacerdote, em alguns casos, da faculdade de confirmar (1946); a multiplicação dos rituais bilíngües, sobretudo a partir de 1947; a determinação da matéria e forma do diaconato, do presbi- terato e do episcopado (1948); a reforma da vigília pascal (1951) e do jejum eucarístico (1953 e 1957); nas mesmas datas, a intro- dução das Missas vespertinas; a reforma da Semana Santa (1955); lecionários bilíngües, a partir de 1958. A obra do papa Pacelli é coroada, em 1958, com a Instrução sobre a música sagrada e a liturgia, nos termos das encíclicas Musicae sacrae disciplinae e Mediator Dei. - Os conteúdos fundamentais da Mediator Dei: A teologia da liturgia como culto público integral do corpo místico de Cristo, da cabeça e dos membros, e como presença privilegiada da mediação sacer- dotal de Cristo-Cabeça. A espiritualidade da liturgia, a dimensão interior e profunda do culto da Igreja: “Estão inteiramente equivoca- dos aqueles que consideram a liturgia como mero lado exterior e sensível do culto divino ou como cerimonial decorativo; e não o estão menos aqueles que pensam ser a liturgia o conjunto de leis e preceitos com que a hierar- quia eclesiástica configura e ordena os ritos”. Fonte: Princípio (2016, on-line)3. 38 1. Vimos em nosso estudo da primeira unidade que, na civilização grega antiga, as famílias mais abastadas em patrimônio eram obrigadas a custear serviços públicos como abertura de estradas, construção de pontes, jogos olímpicos, material para guerras, enfim, as obras que facilitariam a vida em sociedade. Assinale a alternativa correta sobre o significado de Liturgia para os gregos: a) Rito do culto. b) Rito aos deuses. c) Serviço público. d) Reunião para os deuses. e) Serviço para os deuses. 2. Sobre as acepções do Novo Testamento: I. O Novo Testamento apresenta três acepções sobre a liturgia. II. Encontramos no Novo Testamento um significado profano de liturgia. III. Percebemos no Novo Testamento um significado de culto em relação à Li- turgia. IV. Apenas um significado de culto para a liturgia o Novo Testamento oferece. Assinale a alternativa correta: a) Apenas I e II estão corretas. b) Apenas II e III estão corretas. c) Apenas IV está correta. d) Apenas I, II e III estão corretas. e) Nenhuma das alternativas anteriores está correta. 3. Sobre a História da Salvação em relação a Liturgia, assinale Verdadeiro (V) ou Falso (F): ( ) A história da salvação nos ajuda a compreender bem o que é a liturgia. ( ) Estudar a liturgia relacionada ao contexto histórico salvífico é importante uma vez que a salvação tem sua origem no plano eterno do Pai já antes da criação do mundo. ( ) A Liturgia não se relaciona à história da Salvação, apenas a celebra. 39 Assinale a alternativa correta: a) V; V; F. b) F; F; V. c) V; F; V. d) F; F; F. e) V; V; V. 4. Assinale a alternativa correta sobre a participação do Papa Pio X nas reformas litúrgicas: a) O Papa Pio X apenas conserva a Liturgia. b) O Papa Pio X pede que a Igreja cuide de seus templos, pois eles são o mais importante da Liturgia. c) Em seu Motu próprio de 1903, o papa ajuda em um reflorescimento da Li- turgia. d) O Papa Pio X não se importa com os templos e a relação da Liturgia. e) A Liturgia para ele é apenas rito. 5. O Ano Litúrgico é o período no qual a Igreja celebra os mistérios da nossa sal- vação na liturgia e pelos sacramentos. Assim, assinale a alternativa correta em relação ao Ano Litúrgico. a) O Centro do ano Litúrgico é o Natal, pois marca o início da salvação. b) O Ano Litúrgico é apenas um movimento Litúrgico. c) O Ano Litúrgico tem seu centro em Pentecostes, pois, neste, é revelada a missão da Igreja. d) O Tríduo Pascal e o tempo da Páscoa são as celebrações mais importantes do Ano Litúrgico. e) O tempo comum não tem importância no Ano Litúrgico. Missal Romano Comissão da doutrina da Fé Editora: Paulus Sinopse: o Missal, entre os costumados preliminares, apresenta as Normas Universais do Ano Litúrgico e do Calendário, com o Calendário Romano Geral com o próprio dos países a que se destina. É a partir destes documentos que se elabora, anualmente, o Diretório Litúrgico, espécie de agenda que existe em qualquer sacristia, pois a ela temos de recorrer para os preparativos da celebração da Missa. Comentário: seria bom que o estudante fizesse a leitura da Introdução do Missal Romano, ele continua sendo a melhor introdução sobre o estudo da Liturgia Católica. MATERIAL COMPLEMENTAR REFERÊNCIAS 41 ARISTÓTELES. A política. Traduzido por Roberto Leal Ferreira. São Paulo: Martins Fontes, 2002. CATECISMO da Igreja Católica. São Paulo: Loyola, 1983. BÍBLIA de Jerusalém. São Paulo: Paulus, 2002 MISSAL ROMANO. São Paulo: Paulinas, 1992. ZINNHOBLER, Rudolf. A Idade Média. In LENZENWEGER, Josef et al. História da Igreja Católica. São Paulo: Loyola, 2006. Referências On-Line 1 Em: <http://w2.vatican.va/content/pius-x/pt/motu_proprio/documents/hf_p-x_ motu-proprio_19031122_sollecitudini.html>. Acesso em: 07 jun. 2018. 2 Em: <http://arqrio.org/formacao/detalhes/615/ano-liturgico>. Acesso em: 07 jun. 2018. 3 Em: <http://principo.org/curso-de-liturgia.html?page=>. Acesso em: 07 jun. 2018. 1. Opção correta é A. 2. Opção correta é D. 3. Opção correta é A. 4. Opção correta é C. 5. Opção correta é D. GABARITO U N ID A D E II Professor Dr. André Phillipe Pereira O CULTO SAGRADO Objetivosde Aprendizagem ■ Identificar a forma de culto nas diversas religiões. ■ Compreender o Culto no Antigo Testamento e no Novo Testamento. ■ Assimilar os Santos Mistérios na visão da Igreja. ■ Entender o sentido Bíblico de Memória e Memorial. Plano de Estudo A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade: ■ O culto nas diversas religiões ■ O culto no Antigo Testamento e no Novo Testamento ■ Os Santos Mistérios ■ Memória na Visão Bíblica Introdução Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 45 INTRODUÇÃO Caro(a) aluno(a), estamos iniciando a segunda unidade e essa apresenta a ques- tão própria da liturgia Cristã. Por motivo histórico e para conseguirmos entender claramente as diferenças, a unidade inicia com o item sobre o culto nas diver- sas religiões, buscando apresentar o sentido e a intenção do culto nas religiões. Lembramos sempre que a palavra religião vem do latim religare, ou seja, seria uma tentativa de refazer algo que fora outrora desfeito. Lembramos também que no sentido judaico-cristão a religião é também uma forma de Deus se revelar ao ser humano, e Ele assim faz porque é de Sua vontade ser conhecido por todos. O segundo item desta unidade, por sua vez, apresenta o conceito de culto no Antigo Testamento e Novo Testamento. O culto na Sagrada Escritura é um serviço a Deus por meio do serviço ao outro. O Novo Testamento dentro dessa concepção apresenta a ideia de culto ligada ao mandamento de Jesus, Ele mesmo manda que os apóstolos celebrem quando diz: “Fazei isto em Memória de Mim”. No terceiro item, entendemos como os cristãos de tradição Católica, Ortodoxa e Anglicana, mas também outros, entendem a liturgia como celebração dos santos mistérios de Cristo. O evento Cristo é cercado de mistérios, desde a sua encarnação, nascimento, entres os doutores da lei, tentações, paixão, morte e res- surreição e também Ascenção ao céu e todos esses mistérios são celebrados na Liturgia ou ao que foi chamado de Santa Missa. Encerramos no quarto item, refletindo sobre a questão da memória, no qual, com muita insistência nossa, apresentamos o significado muito diferente de uma simples lembrança de algo que aconteceu no passado, pouco mais de 2000 anos atrás. Celebrar a Liturgia é fazer Memória dos santos mistérios de Cristo, ou seja, atualizar, trazer para hoje, como se o próprio Cristo falasse na pessoa do sacer- dote e executasse sua obra salvadora no agora. O agora é o que existe em Deus, pois Ele está fora do tempo, portanto, o agora é o que temos. Deus age agora na liturgia nos salvando no evento Cristo, memorial na liturgia. O CULTO SAGRADO Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IIU N I D A D E46 O CULTO NAS DIVERSAS RELIGIÕES Caro(a) aluno(a), seguindo com nosso estudo de liturgia, vamos nesse item estudar o culto nas diversas religiões e tentar compreender e dife- renciar a intenção do culto em diversos sentidos e formas. Claro, depois de uma breve introdução vamos nos fixar no culto cristão desde o Antigo Testamento passando pelo Novo Testamento e o conceito de Culto no cristianismo e catolicismo. O termo religião deriva da palavra latina religio que significa prestar culto a uma divindade, religar, fazendo uma série de referências de religar o homem ao ser humano em uma visão criacionista, ou seja, Deus nos criou, nos sepa- ramos dEle e agora buscamos essa religação que poderá ser feita a partir do próprio Deus que se revela e da busca incessante do ser humano de apro- ximar-se a Ele. A religião também pode ser definida como um conjunto de crenças relacionadas com aquilo que a humanidade considera como sobre- natural, divino, sagrado e transcendental, bem como o conjunto de rituais e códigos morais que derivam dessas crenças. O culto nas diversas religiões Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 47 Como religião podemos entender vários sentidos diferentes de crenças e filosofias que variam muito. As religiões podem ser muito diferentes entre si e ao mesmo tempo muito parecidas, porém o que mostra a fé de determinada religião é sua celebração ou seu culto, pois, na religião, celebra-se o que se crê. A cele- bração é fruto de sua fé, de sua doutrina, de sua filosofia e de seu texto sagrado. Pode-se afirmar com muita clareza que toda religião possui um sistema de crenças no sobrenatural, geralmente envolvendo divindades ou deuses, ou ainda um único e verdadeiro Deus como é o caso das religiões Monoteístas, a saber: o Judaísmo, o Cristianismo e Islamismo. As religiões costumam também possuir mitos criacionais que podem também serem muito diferentes ou muito próximos uns dos outros, mas que, ao final, tudo é apresentado no modo da religião celebrar. “Mas esta relação íntima e vital que une o homem a Deus pode ser esqueci- da, desconhecida e até explicitamente rejeitada pelo homem. Tais atitudes podem ter origens diversas a revolta contra o mal existente no mundo, a ignorância ou a indiferença religiosas, as preocupações do mundo e das ri- quezas, o mau exemplo dos crentes, as correntes de pensamento hostis à religião e, finalmente, a atitude do homem pecador que, por medo, se es- conde de Deus e foge quando Ele o chama. Exulte o coração dos que procuram o Senhor (Sl 105, 3). Se o homem pode esquecer ou rejeitar Deus, Deus é que nunca deixa de chamar todo o ho- mem a que O procure, para que encontre a vida e a felicidade. Mas esta busca exige do homem todo o esforço da sua inteligência, a retidão da sua vontade, um coração reto, e também o testemunho de outros que o ensi- nam a procurar Deus.” Fonte: Catecismo da Igreja Católica (par. 29 e 30) Entendemos também que religião não é apenas um fenômeno individual, mas também um fenômeno social, ou seja, será muito difícil encontrarmos uma religião institucionalizada que possa ser vivida individualmente, no mais comum o modo da religião apresentar as relações é a seguinte: Eu e Deus – Eu O CULTO SAGRADO Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IIU N I D A D E48 O CULTO NO ANTIGO TESTAMENTO E NO NOVO TESTAMENTO A Bíblia, o livro dos Cristãos e dos Judeus, ao se referir ao que denominamos de culto, não usou termos similares aos que se referiam ao culto em outras religi- ões. Quer no Antigo Testamento, quer no Novo Testamento, essencialmente, o culto é descrito como serviço. Em qualquer língua, etimologicamente, liturgia significa o trabalho que pessoas realizam, e não pessoas se divertindo, alegran- do-se, fazendo o que acham ser bom. No Antigo Testamento, a adoração era prescrita e controlada, era litúrgica. Ao falarmos de culto nas Sagradas Escrituras, percebemos que desde os pri- mórdios da criação e tendo em vista a recusa do homem em obedecer a Deus e a sua Verdade revelada conforme Gn 3, 1-6. e a comunidade – Nós (comunidade reunida) e Deus. A partir do conceito de religião e de relações nas religiões, entendemos que culto Sagrado é um con- junto de ritos que se prendem à adoração ou homenagem a divindades em qualquer de suas formas e em qualquer religião, como também a antepassa- dos ou outros seres sobrenaturais. Criado à imagem de Deus, chamado a conhecer e a amar a Deus, o homem que procura Deus descobre certos caminhos de acesso ao conhecimento de Deus. Também se lhes chama não no sentido das provas. O Culto no Antigo Testamento e no Novo Testamento Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 49 Ora, a serpente era mais astuta que todas as alimárias do campo que o SENHOR Deus tinha feito. E esta disse à mulher: É assim que Deus disse: Não comereis de toda a árvore do jardim? E disse a mulher à serpente:Do fruto das árvores do jardim comeremos, Mas do fruto da árvore que está no meio do jardim, disse Deus: Não comereis dele, nem nele tocareis para que não morrais. Então a serpente disse à mu- lher: Certamente não morrereis. Porque Deus sabe que no dia em que dele comerdes se abrirão os vossos olhos, e sereis como Deus, sabendo o bem e o mal. E viu a mulher que aquela árvore era boa para se co- mer, e agradável aos olhos, e árvore desejável para dar entendimento; tomou do seu fruto, e comeu, e deu também a seu marido, e ele comeu com ela. Entendemos que o culto ao Senhor era familiar, centralizado no altar. Ali, Deus e a família se encontravam e havia o culto. Foi a fé que possibilitou a Abel ter sua oferta aceita pelo Senhor (BÍBLIA, Hb 11, 4). Partindo para o período da monarquia, já percebemos a presença do taber- náculo, a habitação de Deus. O cuidado com o tabernáculo com os utensílios e com o lugar onde estava, era claramente para o povo de Israel a presença de Deus e tudo era indispensável para o culto a Ele. No período da Monarquia, destacam-se grandes mudanças na centra- lidade do culto, o povo se reunia para a adoração ao Senhor. A pessoa do Sacerdote ganha mais destaque e as prescrições para a realização do culto foram transmitidas pelo próprio Deus a Davi. Tornou-se um culto com muita participação que marcavam os dias de festas, as procissões e os sacrifícios. Lendo o salmo 67, observamos que o culto era um serviço duplo no qual o Senhor era adorado no serviço ao próximo em uma perfeita celebração da vida e não puro ritual. Quando o povo estava exilado, porém, não tinha também mais o Templo nem sacrifícios e nem o sacerdote. Em meio à desesperança do seu povo, o Senhor envia profetas para encorajar, guiar e ensinar seu povo, pois Deus sempre foi fiel à aliança e todos precisavam responder a isso. No exílio, o lugar de reunião ficou conhecido como sinagoga. Após o exílio, acontece o retorno à lei de Deus à Torah, que começa a ser lida para o povo reunido. O Templo, ou seja, o lugar de Deus é restaurado e os sacerdotes voltaram às suas atividades; também voltam à prática os sacrifícios e as ofertas começam a serem feitas. O CULTO SAGRADO Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IIU N I D A D E50 O Culto no Novo Testamento aparece como o culto que Jesus mandou celebrar na sua Última Ceia. Quando São Paulo escreveu aos coríntios, para corrigir abusos na maneira que estavam celebrando a Eucaristia, recordou a noite em que Jesus foi entregue conforme a primeira carta de São Paulo aos Coríntios 11, 23-25. Porque eu recebi do Senhor o que também vos ensinei: que o Senhor Jesus, na noite em que foi traído, tomou o pão; E, tendo dado graças, o partiu e disse: Tomai, comei; isto é o meu corpo que é partido por vós; fazei isto em memória de mim. Semelhantemente também, depois de cear, tomou o cálice, dizendo: Este cálice é o novo testamento no meu sangue; fazei isto, todas as vezes que beberdes, em memória de mim. Veja, São Paulo conta que Jesus ‘tomou o pão, dando graças, partiu-o e disse: Isto é o meu corpo e da mesma maneira ‘tomou o cálice … dizendo ‘Este cálice é a Nova Aliança no meu sangue’. Recordou ainda as palavras de Jesus aos Apóstolos, quando disse: fazei isto em memória de mim. “Na Antiga Aliança, o pão e o vinho são oferecidos em sacrifício entre as primí- cias da terra, em sinal de reconhecimento ao Criador. Mas também recebem uma nova significação no contexto do Êxodo: os pães ázimos que Israel come todos os anos na Páscoa, comemoram a pressa da partida libertadora do Egip- to; a lembrança do maná do deserto recordará sempre a Israel que é do pão da Palavra de Deus que ele vive (166). Finalmente, o pão de cada dia é o fruto da terra prometida, penhor da fidelidade de Deus às suas promessas. O «cálice de bênção» (1 Cor 10, 16), no fim da ceia pascal dos judeus, acrescenta à alegria festiva do vinho uma dimensão escatológica – a da expectativa messiânica do restabelecimento de Jerusalém. Jesus instituiu a sua Eucaristia dando um sentido novo e definitivo à bênção do pão e do cálice”. Fonte: Catecismo da Igreja Católica (par. 1335). O Culto no Antigo Testamento e no Novo Testamento Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 51 As primeiras descrições da Igreja no Novo Testamento são marcadamente euca- rísticas. Mostram-nos a Igreja realizando o mandamento de Jesus na Última Ceia, conforme os textos de At 2, 42 = “perseverantes na doutrina (ensinamento) dos apóstolos” e “na fração do pão”; At 20, 7-11 = sermão – fração do pão e Lc 24, 25-32.35 = Proclamação da Palavra – fração do pão. Jesus ensinou que a Eucaristia foi prenunciada no maná dado por Deus durante o êxodo do povo de Israel do Egito (cf. Jo 6, 49-51). Na verdade, muito antes da Última Ceia, Jesus já havia prefigurado a Eucaristia ao multiplicar os pães para ali- mentar seu povo; ao mencionar cenas de banquetes em sua pregação e optando por nascer em uma cidade chamada Belém (em hebraico “a casa do pão”). E em uma prefiguração explícita e prolongada, detalhou a teologia de Sua presença Eucarística no famoso discurso do “Pão da Vida” (BÍBLIA, Jo 6, 26-58). “Eu sou o pão vivo que desceu do céu. Quem come deste pão viverá para sempre. E o pão que eu vou dar é a minha própria carne, para que o mundo tenha a vida” (BÍBLIA, Jo 6, 51). Sua carne é pão; Seu sangue é bebida. Isso corresponde diretamente às Suas pala- vras sobre o pão e o vinho na Última Ceia: “Isto é o Meu corpo… Este é o cálice do Meu sangue” – a própria ação que Ele ordenou a seus Apóstolos para repetirem. As primeiras celebrações eucarísticas respeitaram a seguinte estrutura em duas partes: leitura do ‘ensino dos apóstolos’ seguida pela fração do pão. Então, na descrição mais antiga da vida da Igreja, vemos Palavra e Sacramento, Bíblia e Liturgia unidos. São Lucas nos diz que, ao ressuscitar, Jesus se encontrou com dois discípulos no cami- nho de Emaús (cf. Lc 24, 13-35). Primeiro Jesus ‘proclama’ as Escrituras, ensinando como o Antigo Testamento se cumpre no Novo Testamento realizado no Seu san- gue. Depois Jesus oferece ação de graças por esta aliança no partir do pão. Desde aquela noite, os cristãos se reúnem a cada domingo, o dia da ressurreição que nós conhecemos como o Dia do Senhor (At 20, 7; Ap 1, 10). Nessa assembleia, abri- mos as Escrituras e partimos o pão. O CULTO SAGRADO Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IIU N I D A D E52 A Eucaristia, sacramento da nossa salvação realizada por Cristo na cruz, é também um sacrifício de louvor em ação de graças pela obra da criação. No sacrifício eucarístico, toda a criação, amada por Deus, é apresentada ao Pai, através da morte e ressurreição de Cristo. Por Cristo, a Igreja pode oferecer o sacrifício de louvor em ação de graças por tudo o que Deus fez de bom, belo e justo, na criação e na humanidade. A Eucaristia é um sacrifício de ação de graças ao Pai, uma bênção pela qual a Igreja exprime o seu reconhecimento a Deus por todos os seus benefícios, por tudo o que Ele fez mediante a criação, a redenção e a santificação. Eucaristia significa, antes de mais, ação de graças. A Eucaristia é também o sacrifício de louvor, pelo qual a Igreja canta a glória de Deus em nome de toda a criação. Este sacrifício de louvor só é possível através de Cristo: Ele une os fiéis à sua pessoa, ao seu louvor e à sua interces- são, de maneira que o sacrifício de louvor ao Pai ë oferecido por Cristo e com Cristo, para ser aceite em Cristo. Fonte: Catecismo da Igreja Católica (par. 1359 – 1361). Se os cristãos celebram a Eucaristia desde as origens e sob uma forma que, na sua substância, não mudou através da grande diversidade dos tempos e das liturgias, é porque sabem que estão ligados pela ordem do Senhor, dada na véspera da suapaixão: “Fazei isto em memória de Mim!” (1 Cor 11, 24-25). (Catecismo da Igreja Católica, par. 1356) Os Santos Mistérios Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 53 OS SANTOS MISTÉRIOS No Catecismo da Igreja Católica no número 1066, a Igreja nos afirma que, pro- fessando sua fé, a Igreja confessa o mistério da Santíssima Trindade e o seu desígnio admirável (Ef 1, 9) sobre toda a criação conforme Efésios 1, 9. Em “a criação” entende-se que o Pai realiza o mistério da Sua vontade, dando o Seu Filho muito amado e o Seu Espírito Santo para a salvação do mundo e para a glória do Seu nome. Isso é o mistério de Cristo revelado, que se realiza e revela na história segundo um plano, uma disposição sabiamente ordenada, a que São Paulo chama economia do mistério a que a tradição patrística chamará a eco- nomia do Verbo encarnado ou economia da salvação. Esta obra da redenção humana e da glorificação perfeita de Deus, cujo prelú- dio foram as magníficas obras divinas operadas no povo do Antigo Testamento, realizou-a Cristo Senhor, principalmente pelo mistério pascal da Sua bem-aven- turada Paixão, Ressurreição dos mortos e gloriosa Ascensão, em que, morrendo, destruiu a morte e, ressuscitando, restaurou a vida. Efetivamente, foi do lado de Cristo adormecido na cruz que nasceu o sacramento admirável de toda a Igreja. O CULTO SAGRADO Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IIU N I D A D E54 É por isso que, na liturgia, a Igreja celebra principalmente o mistério pascal, pelo qual Cristo realizou a obra da nossa salvação. É este mistério de Cristo que a Igreja proclama e celebra na sua liturgia, para que os fiéis dele vivam e dele deem testemunho no mundo. A palavra grega mysterion procede de myeo= iniciar, myo = fechar e mystes que significa iniciador ou ainda guia. Esses termos surgem no âmbito das religi- ões mistéricas por volta do século VI a.C. O Manual de liturgia do Conselho Episcopal Latino-Americano, CELAM, nos apresenta de forma resumida, as etapas do desenvolvimento desse conceito, bem como os novos sentidos que foi assumindo ao longo da história. O primeiro sentido nós temos no Helenismo religioso, dá-se o nome de Mistérios aos cultos iniciáticos; constituíam na experiência da salvação de uma divindade mediante um rito secreto reservado a iniciados. Seguiram no desen- volvimento do termo os filósofos que o designam como mistérios as doutrinas, esotéricas que constituem o fundamento transcendente do mundo. Também o judaísmo contribuiu para o desenvolvimento do sentido, ele aparece nas versões gregas do Antigo Testamento como sentido de rito pagão, mas também de anúncio de acontecimentos futuros, ou plano divino secreto que depois será revelado, conforme os textos bíblicos: Tb 12, 7; Jud 2, 2; Dn 2, 18-19.27-30; Sb 3, 5. O mistério da ressurreição de Cristo é um acontecimento real, com manifes- tações historicamente verificadas, como atesta o Novo Testamento. Já São Paulo, por volta do ano 56, pôde escrever aos Coríntios: Transmiti-vos, em primeiro lugar, o mesmo que havia recebido: Cristo morreu pelos nossos pecados, segundo as Escrituras, e foi sepultado e ressuscitou ao terceiro dia, segundo as Escrituras: a seguir, apareceu a Pedro, depois aos Doze (1 Cor 15, 3-4). O Apóstolo fala aqui da tradição viva da ressurreição, de que tinha tomado conhecimento após a sua conversão, às portas de Damasco. Fonte: Catecismo da Igreja Católica (par. 639) Os Santos Mistérios Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 55 O cristianismo evoca o termo no Novo Testamento, com os Evangelhos Sinóticos para designar Mistério como o Reino de Deus, oculto às massas, mas revelado aos eleitos, conforme podemos ler nos textos: Mc 4,11; Mt 13,11; Lc 8, 10. Além dos sinóticos, São Paulo o apresenta como o desígnio oculto que tinha Deus de salvar-nos, desde toda a eternidade, e que manifestou e realizou em Cristo, na plenitude dos tempos; e é confiado aos apóstolos e à Igreja para que o anunciem e o tornem realidade para os fiéis, conforme os textos: Ef 3, 3-9; Cl 1, 26-27; 2, 2-3; 1 Tm 3, 16; 1 Cor 2, 7; Rm 16, 24. Entender essa trajetória é importante no estudo de liturgia, pois, desde o século II, adquire entre os cristãos um significado múltiplo. Os padres apologistas denominam mistérios as ações salvíficas; também designam assim pessoas e acon- tecimentos que aludem tipologicamente a Cristo e à sua obra redentora. É nesse sentido que a celebração litúrgica é celebração dos mistérios de Cristo, entendidos como sua Encarnação, Virgindade de Maria, Vida, Paixão, Morte e Ressurreição. Orígenes designa como Mistério toda a História da Salvação: nos mistérios do AT, Deus revelou e ocultou, ao mesmo tempo, o Mistério de Cristo, pelo Mistério da Torá e dos sacrifícios; o Mistério da Igreja é o Mistério de Cristo em nós. Toda a vida de Cristo é revelação do Pai: as suas palavras e atos, os seus silêncios e sofrimentos, a maneira de ser e de falar. Jesus pode dizer: Quem Me vê, vê o Pai (BÍBLIA, Jo 14, 9); e o Pai: Este é o meu Filho predileto: escu- tai-O (BÍBLIA, Lc 9, 35). Tendo-Se nosso Senhor feito homem para cumprir a vontade do Pai (191), os mais pequenos pormenores dos seus mistérios manifestam o amor de Deus para conosco. Toda a vida de Cristo é mistério de redenção. A redenção vem-nos, antes de mais, pelo sangue da cruz. Contudo, este mistério está atuante em toda a vida de Cristo: já na sua Encarnação, pela qual, fazendo-Se pobre, nos enriquece com a sua pobreza; na vida oculta que, pela sua obediência, repara a nossa insubmissão; na palavra que purifica os seus ouvintes; nas curas e expulsões dos demônios, pelas quais «toma sobre Si as nossas enfermidades e carrega com as nossas doenças» (Mt 8, 17); na ressurreição, pela qual nos justifica. Fonte: Catecismo da Igreja Católica, (par. 516-517). O CULTO SAGRADO Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IIU N I D A D E56 A liturgia, com efeito, pela qual sobretudo no sacrifício eucarístico se atualiza a obra da nossa redenção, contribui em sumo grau para que os fiéis exprimam na vida e manifestem aos outros o mistério de Cristo e a autêntica natureza da verdadeira Igreja. Obra de Cristo, a Liturgia é também uma ação da sua Igreja. Ela realiza e manifesta a Igreja como sinal visível da comunhão de Deus e dos homens por Cristo; empenha os fiéis na vida nova da comunidade, e implica uma participa- ção consciente, ativa e frutuosa de todos. Cristo é o ator principal do Mistério da Liturgia. A especificidade es- sencial de Cristo é o fato de ser Sumo e eterno sacerdote: desde sua encarnação, é Mediador; pela oferenda da Cruz é santificador do único Sacrifício que nos salva; por sua glorificação à direita do Pai, é interces- sor. Ele realizou o Mistério Pascal e, glorificado atua na igreja, sobretu- do está presente na liturgia terrena, intercede e antecipa a vitória final. Se na liturgia é a atualização da obra de nossa salvação, Cristo realizou essa obra. O mistério que celebramos na liturgia é o Mistério de Cristo (CELAM, 2003, p. 31) Logo começaram a designar também como mistérios os ritos cristãos, sobre- tudo o Batismo e Eucaristia, porque a história da salvação torna-se presente na celebração. Lembrando o que afirmamos anteriormente, celebramos o que cre- mos. No entanto, para que a liturgia não seja comparada às religiões mistéricas antigas, começou-se a unificar os termos: Mysterium e Sacramentum, sendo o primeiro para designar a realidade salvadora de Deus, que é invisível, mas está presente no rito e o segundo designa a realidade visível dessa mesma celebração. A Liturgia é o ato no qual cremos que Deus entra na nossa realidade e nós podemos encontrá-lo e tocá-lo.É o ato no qual entramos em contato com Deus: Ele vem a nós, e nós somos iluminados por Ele. (Bento XVI) Memória na Visão Bíblica Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 57 Entenderemos na próxima unidade o que se entende pelo termo sacramento atualmente, uma vez que na história da Igreja ele substituiu por completo os ter- mos Mysterium e Sacramentum por medo de confusão; conheceremos também quais são os sacramentos realizados pela Igreja atualmente e seu processo histórico. A última fase do desenvolvimento do sentido empregado ao termo Mysterium foi no Concílio Vaticano II encerrado em 1964. Este fala de Mistério Pascal em vários lugares e com vários significados: a obra de Cristo, sobretudo sua Morte e Ressurreição; nossa participação na obra de Cristo; os sacramentos pascais; a Eucaristia, memorial — e este termo entenderemos no próximo item. MEMÓRIA NA VISÃO BÍBLICA O termo memória na Liturgia não nos remete de forma alguma a uma lembrança ou um recordar. Por exemplo, o crucifixo não é memória, mas lembrança do cruci- ficado. Por outro lado, o vinho consagrado e bebido e o pão consagrado e comido é memória. Usando a palavra “memória”, Jesus destaca o significado que ela tem na sua origem hebraica: pelo ritual da celebração litúrgica, os símbolos fazem o pas- sado reviver, porque conferem um sentido atual no presente (cf. Dt 4, 9; 6, 7.20-25). O sacrifício não acontece mais no corpo físico de Cristo, pois este já aconte- ceu uma vez por todas. O sacrifício acontece agora nos sinais do pão que é, pelo poder e ação de Deus, transformado no Corpo do Senhor e também no sinal do vinho que é transformado pelo poder de Deus no sangue de Cristo que nos é dado. Neste sentido do tempo, o culto também adquire outro sentido. As grandes festas anuais do Antigo Testamento, que em sua origem são festas da natureza anteriores à tradição Javista e à monarquia, de caráter tipicamente cíclico, são historizadas. Seu conteúdo é constituído agora pelas ações salvíficas de Iahweh na história. As festas memoriais, nas quais se recordam os fatos salvíficos do pas- sado, mediante palavras e ações rituais, voltam a atualizar a salvação de Iahweh e promete-se a salvação definitiva para o futuro. O CULTO SAGRADO Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IIU N I D A D E58 O rito aqui não é manipulação do tempo, mas um sinal memorial do ocorrido uma vez, uma expressão de fidelidade diante dos preceitos de Iahweh e um sinal de esperança no cumprimento futuro da pro- messa, é a fidelidade de Iahweh, que atualiza no presente, e em cada situação, a salvação que operou antes e que promete para o futuro (CELAM, 2205, p. 393) As palavras pronunciadas na consagração são uma obediência a Cristo, e são as mesmas palavras, assim, confirmam: “Tomai todos e comei. Isto é o Meu corpo que será entregue por vós”. Comer o alimento se torna nosso corpo e a eucaristia vai nos tornando mais Cristos no mundo. Entregue, o Senhor se entrega por nós, nos alimentando para que sejamos fiéis, assim como o peli- cano dá de seu corpo a seus filhotes, assim o Senhor dá de sua carne aqueles que o aceitam e o seguem. Por vós, pois, uma só goto do sangue do Senhor basta para libertar toda a humanidade do pecado e do mal. Isto é o meu corpo, completando assim toda a entrega do Verbo Eterno para continuar a obra da Salvação. Memória na Visão Bíblica Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 59 “Fazei isto em memória de mim” significa para os cristãos o mesmo que para os judeus: “o sinal perpétuo da Aliança” (cf. BÍBLIA, Ex 12,14). Isto é, celebrar sempre a Eucaristia como sinal da nova e eterna Aliança. É a continuidade da celebração da ceia pascal judaica na maneira cristã, ou seja, é atualização, tra- zer para hoje o mistério da paixão, morte e ressurreição do Senhor auge da nossa salvação. Termina a consagração, o sacerdote diz: Eis o mistério da fé, e o povo aclama: anunciamos, Senhor, a vossa Morte e proclamamos a vossa Ressurreição. Vide, Senhor Jesus! Mistério da fé: com essa exclamação, pronunciada logo a seguir às palavras da consagração, o sacerdote pro- clama o mistério celebrado e manifesta o seu enlevo diante da conver- são substancial do pão e do vinho no Corpo e Sangue do Senhor Jesus, realidade esta que ultrapassa toda a compreensão humana. Com efeito, a eucaristia é por excelência mistério de Fé: é o resumo e a súmula da nossa fé (ASSUNÇÃO, 2016, p. 238). É o que a Teologia chama de sinal sacramental. Por quê? Porque, na Liturgia, o sinal não apenas simboliza. O sinal é eficaz, isto é, faz acontecer aquilo que sim- boliza. Por isso a celebração da Eucaristia é também sacramento (cf. CIC 2655). Assim como a palavra “dabar” é criadora de tudo o que existe no mundo (cf. BÍBLIA, Gn cap. 1). A morte de Cristo é, ao mesmo tempo, o sacrifício pascal que realiza a re- denção definitiva dos homens por meio do “Cordeiro que tira o pecado do mundo”, e o sacrifício da Nova Aliança que restabelece a comunhão entre o homem e Deus, reconciliando-o com Ele pelo “sangue derramado pela mul- tidão, para a remissão dos pecados. Este sacrifício de Cristo é único, leva à perfeição e ultrapassa todos os sacri- fícios. Antes de mais, é um dom do próprio Deus Pai: é o Pai que entrega o seu Filho para nos reconciliar consigo. Ao mesmo tempo, é oblação do Filho de Deus feito homem, que livremente e por amor oferece a sua vida ao Pai pelo Espírito Santo para reparar a nossa desobediência. Fonte: Catecismo da Igreja Católica (par. 613-614). O CULTO SAGRADO Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IIU N I D A D E60 Caro(a) aluno(a), encerramos essa unidade no qual refletimos sobre o culto sagrado. Evidentemente que de forma muito breve fizemos um passeio sobre a história do culto e sua concepção sobretudo no cristianismo. Vale ressaltar que toda religião celebra aquilo que ela crê, não seria diferente no cristianismo e, por sua vez, no catolicismo. A memória nos faz pensar que, se a Missa já é tão significativa aqui na terra, deverá haver alguma refeição semelhante no céu (cf. BRASIL, Ap 19, 9; Lc 12, 36-38). A Eucaristia é o memorial da Páscoa de Cristo, a atualização e a oferenda sacramental do seu único sacrifício, na liturgia da Igreja que é o seu corpo. Em todas as orações eucarísticas encontramos, depois das palavras da insti- tuição, uma oração chamada anamnese ou memorial. No sentido que lhe dá a Sagrada Escritura, o memorial não é somente a lem- brança dos acontecimentos do passado, mas a proclamação das maravilhas que Deus fez pelos homens. Na celebração litúrgica desses acontecimentos, eles tomam-se de certo modo presentes e atuais. É assim que Israel entende a sua libertação do Egito: sempre que se celebrar a Páscoa, os acontecimen- tos do Êxodo tornam-se presentes à memória dos crentes, para que confor- mem com eles a sua vida. Fonte: Catecismo da Igreja Católica (parágrafos 1362-1363) Temos de considerar a Eucaristia como: • ação de graças e louvor ao Pai, • memorial sacrificial de Cristo e do Seu corpo, • presença de Cristo pelo poder da sua Palavra e do seu Espírito. (Catecismo da Igreja Católica, par. 1358) Considerações Finais Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 61 CONSIDERAÇÕES FINAIS Chegamos ao fim dessa unidade no qual buscamos compreender o sentido de culto sagrado. Toda religião celebra sua doutrina, buscando uma aproximação com seu Deus ou com os deuses; ao celebrar, toda religião busca aprofundar seu conhecimento sobre a doutrina ou, ainda, aprofundar seu contato com o trans- cendente. Esse contato se dá por meditação, oração,jejum ou mesmo lendo partes do seu livro sagrado ou de escritos de membros que foram importantes para determinada religião. Como vimos, o conceito de culto sagrado no Antigo Testamento e no Novo Testamento na Bíblia Sagrada está intimamente ligado à liturgia e fazem uma rápida menção ao serviço a Deus por meio dos irmãos de comunidades, os quais entendemos como todos os que são batizados. O serviço se torna também um meio de contato com Deus que se revelou e que se fez simples e exerceu sua humildade inclusive lavando os pés dos Apóstolos no caso da última quinta feira antes de morrer. Os batizados fazem parte do Corpo Místico de Cristo, ou seja, a Igreja que é o Corpo de Cristo e Ele é a cabeça. Além da concepção de serviço a Deus e ao outro, liturgia também faz men- ção a ação de Deus, que é sempre uma ação salvadora. Na liturgia, é Deus quem realiza sua obra por meio das palavras e do rito. Sendo a Liturgia um modo de encontrar a salvação, necessariamente ela tem que ser plenamente a ação de Deus na comunidade, pois Deus é o único que pode nos dar a salvação. A grande novidade que se apresenta na liturgia Católica é a questão da Memória, a atualização da obra salvadora de Deus para sua comunidade. Na liturgia, é Deus que age na comunidade reunida nos tornando mais semelhantes a Ele, a ponto de nós um dia afirmarmos como São Paulo: “já não sou eu quem vive, mas Cristo vive em mim” (BÍBLIA, Gl 2, 20). 62 A LITURGIA, OBRA DA TRINDADE/1: DEUS PAI (CIC 1077-1083) Sem a mediação do Filho não teríamos conhecido o Pai e não teríamos recebido o Espírito que nos permite reconhecer o Filho como Senhor e adorar nele o Pai. O Pai quis fazer-nos capazes de tudo isso, ou seja, de adotar-nos como filhos, antes da criação do mundo (cf. CIC1077). A capacidade de obrar como indivíduos e como membros de um povo escolhido e consagrado cha- ma-se “liturgia”: com razão definida obra do mistério das três Pessoas. A ação trini- tária, então, é o protótipo da ação sagrada ou litúrgica. Mas, tendo em conta o ati- vismo eclesiástico e litúrgico que levou a adotar termos como “ator” e “operador” até mesmo na sagrada liturgia, devemos definir, para que não restem dúvidas, a natureza dessa ação. A ação Sagrada da liturgia é essencialmente uma “bênção”, termo conhecido por todos, mas não no seu verdadeiro significado. Temos a expli- cação nesse seguinte artigo do Catecismo que convém citar integralmente: “Aben- çoar é uma ação divina que dá a vida e da qual o Pai é a fonte. A sua bênção é, ao mesmo tempo, palavra e dom («bene-dic- tio», «eu-logia»). Aplicada ao homem, tal palavra significará a adoração e a entrega ao seu Criador, em ação de graças.»(CIC, 1078). Portanto, a liturgia é bênção de Deus, pala- vra e dom, e adoração humana, ou seja, ação de graças (eucaristia) e oferecimento. Não está toda a Santa Missa nesta definição? Nin- guém pode deixar de definir assim a sagrada liturgia, ou seja, sacramento. A adoração não é outra coisa que a mesma liturgia. Qualquer tentativa de separar as duas coisas vai con- tra a fé e a verdade católica. Não se sustenta hoje que o homem adora a Deus com todo o seu ser? Quer dizer com a alma e com o corpo. Por isso, na Bíblia toda “obra de Deus é bênção” (cf. CIC, 1079- 1081) é a dimensão cósmica que inerva a Sagrada Escritura, do Gênesis ao Apo- calipse, e também a liturgia. Se abençoar quer dizer adorar, a bênção ou adoração na Escritura está documentada pela pros- tração e pelo dobrar os joelhos fisicamente e metafisicamente o coração. Só o diabo não se ajoelha, porque - dizem os Padres do deserto – não tem os joelhos. Assim, São Paulo vê diante de Jesus a consonân- cia entre história sagrada e o cosmos: todo joelho se dobre, no céu, na terra e debaixo da terra. Conseqüência concreta: o gesto do ajoelhar-se deve voltar a ter a primariedade no rito da Missa, no desenvolvimento, inspi- ração e sabor da música sacra, nos objetos sagrados: uma igreja sem genuflexórios não é uma igreja católica. Por que prostrar- -se? Porque a bênção divina se manifesta especialmente com “a presença de Deus no templo” (CIC, 1081): diante da Sua pre- sença, o primeiro e fundamental gesto é a adoração. Não se diga que o templo foi abolido, enquanto que Jesus o purificou substituindo-o com o seu corpo no qual habita corporalmente a divindade: dessa forma, a presença divina é então aquela do Corpo de Cristo e coincide maximamente com o Santíssimo Sacramento. Note-se que, até agora, temos falado sobre coisas reveladas pelo próprio Senhor na Sagrada Escritura. No livro Introdução ao Espírito da Liturgia, Joseph Ratzinger mostrou o quanto prejudicou a reforma litúrgica ter cortado a ligação entre templo judaico e igreja cristã: o vemos hoje nas novas igrejas, 63 justo enquanto a nível ecumênico se dia- loga com os judeus. Se o corpo de Cristo é constituído pelo edifício espiritual dos seus membros (cf. 1 Pd 2,5), deve-se que onde a Igreja se reúne para os Mistérios nasce um “espaço santo”. Então, pode-se entender o que o Cate- cismo diz claramente: “Na liturgia da Igreja, a bênção divina é plenamente revelada e comunicada: o Pai é reconhecido e adorado como a Fonte e o Fim de todas as bênçãos da criação e da salvação; no seu Verbo – encarnado, morto e ressuscitado por nós –, Ele nos cumula das suas bênçãos e, por Ele, derrama nos nossos corações o Dom que encerra todos os dons: o Espírito Santo” (CIC, 1082). Dessa forma define-se a dupla dimensão da Liturgia da Igreja: por um lado é bênção do Pai com a adoração, o louvor e a ação de graças; por outro, oferecimento de si mesmo e dos próprios dons ao Pai e imploração do Espírito para que abunde em todo o mundo. Mas tudo passa pela mediação sacerdotal, ou seja, pela oferta e “ pela comunhão na morte e ressurreição de Cristo-Sacerdote e pelo poder do Espí- rito “ (CIC, 1083). Se a ressurreição de Cristo não tivesse acontecido historicamente e não tivesse originalmente “enchido” a história dando- -lhe a direção final, os sacramentos não teriam nenhuma eficácia e se prejudicaria a finalidade pela qual eles são administra- dos: a nossa ressurreição no fim da vida e da história da humanidade. A uma abordagem exegética demitizante segue normalmente uma teologia reduzida a simbolismo; mas o pensamento católico, com o Apóstolo, fala do “poder da sua ressurreição”: às aparições do ressuscitado, não só seguiu o querigma e a fé dos discípulos, mas a emanação do poder da ressurreição nos sacramentos. Assim, a verdade da ressurreição corporal de Cristo é determinante para a eficácia dos sacramentos, o seu impacto real sobre a transformação do ser humano. O mistério pascal, justo porque tem visto passar o Filho da morte para a vida, assim vê passar os filhos de Deus. Por isso chama- -se pascal, por essa passagem acontecida graças ao sacrifício do Filho de Deus. Eis porque o Sacrifício eucarístico é o centro de gravidade de todos os sacramentos (cf. CIC, 1113), como a Páscoa é o centro do ano litúrgico. O plano divino da salvação é um só: tra- zer os homens e as coisas, as do céu e as da terra sob o senhorio de Cristo. A obra prima das três Pessoas tem como objetivo reconduzir o ser humano à sua natureza ori- ginária para que seja restaurada nele aquela imagem que foi desfigurada pelo pecado. Fonte: Vatican ([2018], on-line)1. 64 1. A religião também pode ser definida como um conjunto de crenças relaciona- das com aquilo que a humanidade considera como sobrenatural, divino, sa- grado e transcendental, bem como o conjunto de rituais e códigos morais que derivam dessas crenças. Com base no texto acima, assinale a afirmativa correta: a) Que celebração e doutrina estão totalmente separadas. b) Celebração e matéria de fé das religiões se relacionam muito pouco. c) O que mostra a fé de determinada religião é sua celebração ou seu culto. d) Da celebração nasce a doutrina. e) A doutrina é apenas matéria a ser proferida e vivida forada celebração 2. O Culto no Novo Testamento aparece como o culto que Jesus mandou celebrar na sua Última Ceia. São Paulo escreveu aos coríntios para corrigir abusos na ma- neira que estavam celebrando a Eucaristia. De acordo com o tema culto no Anti- go e no Novo Testamento assinale com (V) para verdadeiro e com (F) para falso: ( ) São Paulo conta que Jesus tomou o pão, dando graças, partiu-o e disse: Isto parece o meu corpo. ( ) As primeiras descrições da Igreja no Novo Testamento são marcadamente eucarísticas. ( ) Conforme o evangelho de São João 6, 49-51, Jesus ensinou que a Eucaristia foi prenunciada no maná dado por Deus durante o êxodo do povo de Israel do Egito. ( ) As primeiras celebrações eucarísticas não reportavam em nada a estrutura da perícope de Emaús. ( ) Primeiro Jesus ‘proclama’ as Escrituras, ensinando como o Antigo Testa- mento se cumpre no Novo Testamento realizado no seu sangue. ( ) Desde aquela noite, os cristãos se reúnem a cada domingo, o dia da ressur- reição que nós conhecemos como o Dia do Senhor. Assinale a alternativa com a sequência correta: a) F, V, V, F, V, V. b) V, V, F, V, V, F. c) V, F, F, V, V, F. d) V, V, F, V, F, F. e) V, V, V, V, F, F. 65 3. A palavra grega mysterion procede de myeo= iniciar, myo = fechar e mystes que significa iniciador ou ainda guia. Esses termos surgem no âmbito das religiões mistéricas por volta do século VI a.C. Com base no termo Mysterion, assinale a alternativa correta: a) O termo Mysterion nunca evoluiu em significado. b) O judaísmo não contribuiu para o desenvolvimento do sentido desse termo, pois era um termo das religiões politeístas. c) São Paulo prefere não usar o termo em suas cartas. d) O cristianismo evoca o termo no Novo Testamento, com os Evangelhos Sinó- ticos, para designar Mistério como o Reino de Deus. e) A liturgia não contribui para que os fiéis exprimam em sua vida os mistérios de Cristo. 4. Usando a palavra “memória”, Jesus destaca o significado que ela tem na sua ori- gem hebraica: pelo ritual da celebração litúrgica, os símbolos fazem o passado reviver, porque conferem um sentido atual no presente (cf. Dt 4, 9; 6, 7.20-25). Com base no texto e na leitura prévia, assinale as alternativas corretas. I. O termo Memória na liturgia se refere a uma lembrança de um fato aconte- cido a muitos anos, sobretudo da vida de Jesus. II. Jesus destaca o significado que memória tem na sua origem hebraica: pelo ritual da celebração litúrgica, os símbolos fazem o passado reviver. III. O sacrifício acontece agora nos sinais do pão que é, pelo poder e ação de Deus, transformado no Corpo do Senhor e também no sinal do vinho que é transformado pelo poder de Deus no Sangue de Cristo que nos é dado. IV. Na Liturgia, o sinal apenas simboliza. V. “Fazei isto em memória de mim” significa para os cristãos o mesmo que para os judeus: “o sinal perpétuo da Aliança” (BÍBLIA, cf. Ex 12, 14). Podemos afirmar que: a) Apenas I e II estão corretas. b) Apenas II e III estão corretas. c) Apenas I está correta. d) Apenas II, III e V estão corretas. e) Nenhuma das alternativas anteriores está correta. 66 5. A Eucaristia é o memorial da Páscoa de Cristo, a atualização e a oferenda sa- cramental do seu único sacrifício, na liturgia da Igreja, que é o seu corpo. Com base nessa afirmação, assinale a alternativa correta: a) A Igreja é o corpo Místico de Cristo. b) Cristo não atua na liturgia. c) A Liturgia é apenas lembrança dos atos de Cristo. d) A Eucaristia é apenas memorial da Paixão e Morte de Cristo. e) Liturgia e Doutrina não se relacionam. Material Complementar MATERIAL COMPLEMENTAR Manual de Liturgia III. A celebração do Mistério pascal - os sacramentos: sinais do mistério pascal Conselho episcopal latino-Americano - CELAM Editora: Paulus Sinopse: os sacramento são os sinais sensíveis produtores da graça, instituídos por Jesus Cristo como auxiliares indispensáveis para a pessoa conseguir a salvação eterna. Por isso é de fundamental importância a todo cristão e aos candidatos ao ministério presbiteral especialmente penetrar no verdadeiro valor e significado de cada um dos sacramentos. O volume III da série Manual de Liturgia, fruto do trabalho de renomados liturgistas latino-americanos, aborda os sete sacramentos cristãos, analisando-os a partir da perspectiva da iniciação cristã (batismo - começo da vida nova; confirmação - sua consolidação; eucaristia - alimento do discípulo de Cristo), do mistério eucarístico (eucaristia - comunhão de vida com Deus e unidade do povo de Deus), dos sacramentos de cura (penitência e unção dos enfermos - continuação da obra de cura e salvação de Cristo) e do serviço (ordem e matrimônio - destinam-se à salvação dos outros, por meio do serviço à comunidade). Site do Vaticano O site do Vaticano de tempos em tempos posta pequenos textos sobre liturgia com todos os pontos da nossa disciplina. Vale a pena acessar o link e aos poucos fazer as leituras para aprofundamento dos temas. Web: <http://www.vatican.va/news_services/liturgy/details/ns_liturgy_index-studi_po.html> REFERÊNCIAS ASSUNÇÃO, R. A. O Sacramento da Palavra. A Liturgia da Missa segundo Bento XVI. Eclesiae: Campinas, 2016. BÍBLIA de Jerusalém. Paulus: São Paulo, 2002. CATECISMO da Igreja Católica. Loyola: São Paulo, 2000. CELAM - Conselho Episcopal Latino-Americano. Manual de Liturgia III. A celebra- ção do mistério pascal. Os sacramentos: sinais do mistério pascal. Paulus: São Paulo, 2005. RATZINGER, J. Introdução ao espírito da Liturgia. São Paulo: Paulinas, 2010. Referências On-Line 1 Em: <http://www.vatican.va/news_services/liturgy/details/ns_lit_doc_20120208_ opera-trinita_po.html>. Acesso em: 08 jun. 2018. GABARITO 69 1. C. 2. A. 3. D. 4. D. 5. A. U N ID A D E III Professor Dr. André Phillipe Pereira ESPIRITUALIDADE LITÚRGICA E SACRAMENTOS Objetivos de Aprendizagem ■ Relacionar Espiritualidade e liturgia. ■ Conhecer a teologia dos sacramentos. ■ Entender o que é Caráter Sacramental. ■ Entender o que é Graça Sacramental. Plano de Estudo A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade: ■ Espiritualidade litúrgica? ■ Os sacramentos ■ Caráter sacramental ■ Graça sacramental Introdução Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 73 INTRODUÇÃO O desenvolvimento desta unidade está inserido na área da Teologia Dogmática. Esta tem por finalidade estudar e apresentar, de forma sistemática, os elementos que constituem a verdade da fé. Dentre muitos aspectos e temáticas que versam sobre a dogmática, como a Trindade, a Cristologia, a pneumatologia e a mario- logia, está a teologia dos sacramentos, à qual se restringe o assunto abordado. No contexto da sacramentária, identificam-se com grande evidência aspectos Trinitários, ou seja, é Deus Pai, Filho e Espírito Santo que agem nos atos sacra- mentais. No entanto, dá-se maior destaque na cristologia, quando se refere à sua instituição e causalidade. Os sacramentos têm grande contribuição na salvação das almas, contêm em si a instrumentalidade de causar a graça de Cristo. Sendo assim, mostra-se con- veniente que seja destacada a concepção de que Cristo é o sacramento do Pai, a Igreja é o Sacramento de Cristo, e os atos da Igreja em seus membros são conti- nuidade dos atos de Cristo. Na Sagrada Escritura, mais especificamente no Antigo Testamento, já se encontravam alusões, ainda que de forma indireta, aos sacramentos, como no caso do termo grego “mystérion” que designava uma mensagem divina. O Novo Testamento, por sua vez, relacionou o termo com qualquer manifestação ou reve- lação de Deus e de seu Reino, na pessoa de Cristo. Enfim, é Deus, na pessoa do Cristo quem causa a graça na alma do fiel por meio dos sacramentos. Enfim, os atos sacramentais da fé são atos materiais e cor- póreos que, utilizados como instrumentos por Deus,causam a graça nas almas. E é na Paixão de Cristo, que tem o objetivo de redimir o pecado do mundo, que se encontra a força da sacramentária. A humanidade e a divindade de Cristo, no evento da Paixão, dão fundamento à causalidade da graça nos sacramentos. ESPIRITUALIDADE LITÚRGICA E SACRAMENTOS Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IIIU N I D A D E74 ESPIRITUALIDADE LITÚRGICA? Caros estudantes, vamos refletir nesse item sobre espiritualidade litúrgica: como podemos falar de uma espiritualidade ligada à liturgia? E a celebração da Liturgia como a fonte da vivência Cristã e o termo que os fiéis devem alcançar em sua vida? Pois veremos que a liturgia é memorial da salvação, oferecida a todos as pessoas, por Nosso Senhor. A Igreja entende que, por meio da celebração litúrgica cristã, falam Deus e o ser humano, estabelecendo uma comunicação, portanto, comunicação entre Deus e o ser humano enquanto reunidos. No celebrar, a Igreja entende que está atualizando o mistério de salvação seguindo o mandamento do próprio Cristo “fazei isto em minha memória” (Lc 22, 19). Sabemos que, ao encontrarmos a palavra memória na Sagrada Escritura, devemos ter em mente o significado e seu conceito para compreendermos real- mente o mandamento do Senhor. Espiritualidade Litúrgica? Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 75 No Ocidente, o termo memória nos leva a pensar em meramente uma lembrança de algo que aconteceu no passado. Eu lembro um acontecimento feliz ou triste, mas isso não muda minha vida, continuo vivendo da mesma maneira. Depois de lembrar, continuo minha vida normalmente. Por outro lado, no sentido bíblico e também podemos dizer no sentido oriental, memó- ria quer dizer muito mais que isso. Ao fazer memória de algo, eu lembro realmente do fato inteiro, mas lembro de como eu estava nesse dia, feliz ou contente, por exemplo, um casal que lembra o dia do matrimônio, ao fazer memória eles lembram também todos os sentimentos deste dia, tudo o que motivou os dois a estarem diante do altar e fazer seus votos e, então, eles tra- zem para agora toda sua motivação no dia do casamento para animar sua vida conjugal no agora, isso é atualizar. Ao celebrar a liturgia, a Igreja faz memória da salvação conferida ao ser humano pelo Senhor, nesse sentido, a Igreja atualiza, traz para agora a salvação que Cristo nos deu na hora de sua morte e ressurreição. Assim, durante a celebração litúrgica, a alma que foi feita para Deus, que se encontra reunida em assembleia, se encontre com os irmãos e se aproxime um pouco mais de Deus que a criou e a salvou. A liturgia, portanto, é fonte de toda a espiritualidade cristã. A espiritualidade litúrgica é o exercício perfeito da vida cristã com o qual o homem, regenerado no batismo, cheio do Espírito Santo na con- firmação, participando na celebração eucarística, marca toda a sua vida com esses três sacramentos, para crescer, no quadro das celebrações repetidas do ano litúrgico, de uma oração contínua, concretamente, a oração ou liturgia das horas, e das atividades da vida cotidiana, na san- tificação mediante a conformação com Cristo crucificado e ressuscita- do, na esperança da última consumação escatológica para a louvação da glória de Deus (SÁNCHES, 2007, p. 421). Temos portanto, que toda a vida cristã deve fundar-se na liturgia, pois esta atua- liza o mistério salvífico de Cristo e dá força ao cristão para que este consiga fazer a vontade de Deus em sua vida em seu dia a dia. ESPIRITUALIDADE LITÚRGICA E SACRAMENTOS Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IIIU N I D A D E76 A espiritualidade litúrgica é a atuação do mistério de Cristo na Igreja e na vida dos fiéis, como afirma o Concílio Vaticano II na Constituição Sacrosanctum Concilium no número 10: “a Liturgia é o cume a que tende toda a atividade da Igreja e, ao mesmo tempo, a fonte de onde emana toda a força”. A sociedade fundada pelo Divino Redentor não tem outro fim, que crescer e ampliar-se cada vez mais: isso acontece quando Cristo é edi- ficado e ampliado na alma dos mortais, e quando inversamente a alma dos mortais é edificada e ampliada em Cristo. De maneira que nesse desterro terreno prospere o tempo no qual a Divina Majestade receba o legítimo culto de gratidão. Em toda ação litúrgica, portanto, jun- tamente com a Igreja está presente seu Divino Fundador. Cristo está presente nele, sacramento, na pessoa de seu ministro, principalmente sob as espécies eucarísticas, está presente nos sacramentos com a vir- tude que neles transfunde, está presente, finalmente, nas louvações e súplicas. A sagrada liturgia é, portanto, o culto público, integral do corpo místico de Jesus Cristo, isto é, da cabeça e de seus membros (CELAM, 2007, p. 426). LUGAR DA LITURGIA NA VIDA DA IGREJA 10. Contudo, a Liturgia é simultaneamente a meta para a qual se enca- minha a ação da Igreja e a fonte de onde promana toda a sua força. Na verdade, o trabalho apostólico ordena-se a conseguir que todos os que se tornaram filhos de Deus pela fé e pelo Batismo se reunam em assembleia para louvar a Deus no meio da Igreja, participem no Sacrifício e comam a Ceia do Senhor. A Liturgia, por sua vez, impele os fiéis, saciados pelos «mistérios pascais», a viverem unidos no amor; pede que sejam fiéis na vida a quanto rece- beram pela fé; e pela renovação da aliança do Senhor com os homens na Eucaristia, e aquece os fiéis na caridade urgente de Cristo. Da Liturgia, pois, em especial da Eucaristia, corre sobre nós, como de sua fonte, a graça, e por meio dela conseguem os homens com total eficácia a santificação em Cristo e a glorificação de Deus, a que se ordenam, como a seu fim, todas as outras obras da Igreja. Fonte: Sacrosanctum Concilium (1963, nº 10). Espiritualidade Litúrgica? Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 77 Assim, espiritualidade Litúrgica ajuda os fiéis a compreenderem que tudo o que é cele- brado é atualização do mistério da salvação, que são oferecidos somente por Cristo, portanto, ele mesmo realiza em nós a salvação durante a celebração litúrgica. Decorre também a concepção de que espiritualidade litúrgica não é própria de alguma corrente particular, mas é fundamental e comum a todos os fiéis, porque todos são chamados a viver a Eucaristia, que tem por preliminar o Batismo e que leva a constituir o corpo eclesial de Cristo. A espiritualidade litúrgica não exclui as respostas pessoais do cris- tão à graça de Deus ou as devoções particulares; ao contrário, deve suscitá-las, de tal modo, porém, que estejam sempre em conformidade com o culto oficial da Igreja. O ESPÍRITO SANTO ATUALIZA O MISTÉRIO DE CRISTO 1104. A liturgia cristã não se limita a recordar os acontecimentos que nos salvaram: atualiza-os, torna-os presentes. O mistério pascal de Cristo cele- bra-se, não se repete; as celebrações é que se repetem. Mas em cada uma delas sobrevém a efusão do Espírito Santo, que atualiza o único mistério. 1105. A invocação sobre é a intercessão mediante a qual o sacerdote suplica ao Pai que envie o Espírito santificador para que as oferendas se tornem o corpo e o sangue de Cristo e para que, recebendo-as, os fiéis se tornem eles próprios uma oferenda viva para Deus. Tu perguntas como é que o pão se torna corpo de Cristo, e o vinho sangue de Cristo? Por mim, digo-te: o Espírito Santo irrompe e realiza isso que ultra- passa toda a palavra e todo o pensamento. Baste-te ouvir que é pelo Espírito Santo, do mesmo modo que é da Santíssima Virgem e pelo Espírito Santo que o Senhor, por Si mesmo e em Si mesmo, assumiu a carne. Fonte: Catecismo da Igreja Católica (1999, par. 1104-1105). O poder transformante do Espírito Santo na liturgia apressa a vinda do Reinoe a consumação do mistério da salvação. Na expectativa e na esperança, Ele faz-nos realmente antecipar a comunhão plena da Santíssima Trindade. ESPIRITUALIDADE LITÚRGICA E SACRAMENTOS Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IIIU N I D A D E78 OS SACRAMENTOS Todo sacramento tem sua eficácia advinda do Verbo Encarnado. Em uma con- cepção geral de Sacramento, diz-se que sacramento significa sinal, portanto o Batismo, a confirmação, a Reconciliação, a Eucaristia, a Unção dos Enfermos, a Ordem e o Matrimônio são sacramentos, ou seja, sinais. São sinais do amor de Deus para com a humanidade. Sendo sinais, eles dão visibilidade a algo que acontece de forma invisível. Logo, diga-se que os Sacramentos são atos ou sinais visíveis do amor e ação de Deus em favor de toda a humanidade. Agostinho afirma que o verdadeiro Sacramento é Jesus Cristo: “não há outro sacramento de Deus senão Cristo” (AGOSTINHO apud ALDAZÁBAL, 2013, p. 331). Entende-se também que Cristo é o Sacramento do Pai. Cristo é o Sinal vivente que nos exprime a salvação de Deus, contém-na em Si mesmo e no-lo comunica eficazmente, agora, por meio da sua Igreja. Cristo não só instituiu os sacramentos, como ele próprio é o sacramento primordial e definitivo do encon- tro de Deus com a humanidade. Tomás de Aquino ainda faz um aprofundamento maior da realidade signifi- cativa dos sacramentos, falando das suas categorias, sem negar o que fora citado Os Sacramentos Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 79 acima no período da patrística com o pensamento de Agostinho. O Aquinate menciona também que os sacramentos são sinais e dessa forma significam uma realidade que nem sempre se vê na realidade física ou material; então relata: O sacramento em sentido próprio se ordena a significar nossa santifica- ção. Podemos considerar três aspectos de nossa santificação: sua causa que é a paixão de Cristo; sua forma que consiste na graça e nas virtudes; seu fim último que é a vida eterna. Os sacramentos significam esses três aspectos. O sacramento é, pois, sinal rememorativo do que o precedeu, a paixão de Cristo; demonstrativo do efeito da paixão de Cristo em nós, a vida da graça; prognóstico ou prenunciador da glória futura (AQUI- NO, 2002, p. 20). OS SACRAMENTOS DA FÉ 1122. Cristo enviou os Apóstolos para que, «em seu nome, pregassem a to- das as nações a conversão para o perdão dos pecados (Lc 24, 47). “Fazei dis- cípulos de todas as nações, batizai-os em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo” (Mt 28, 19). A missão de batizar, portanto a missão sacramental, está implicada na missão de evangelizar; porque o sacramento é preparado pela Palavra de Deus e pela fé, que é assentimento à dita Palavra: O povo de Deus é reunido, antes de mais, pela Palavra de Deus vivo. A pregação da Palavra é necessária para o próprio ministério dos sacramentos, enquanto são sacra- mentos da fé, que nasce e se alimenta da Palavra. 1123. Os sacramentos estão ordenados à santificação dos homens, à edifi- cação do corpo de Cristo e, por fim, a prestar culto a Deus; como sinais, têm também a função de instruir. Não só supõem a fé, mas também a alimen- tam, fortificam e exprimem por meio de palavras e coisas, razão pela qual se chamam sacramentos da fé. Fonte: Catecismo da Igreja Católica (1999, par. 1122 e 1123). Como se pode perceber, Tomás revela que essa realidade do sinal sacramental é de grande ajuda para o homem que não consegue conhecer de forma plena a profundidade dos mistérios que trazem os atos sacramentais. Logo, por meio do sensível e visual, consegue-se chegar ao conhecimento do inteligível, e isso parece co-natural ao homem. Pois o sinal é um meio de chegar ao conhecimento ESPIRITUALIDADE LITÚRGICA E SACRAMENTOS Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IIIU N I D A D E80 de outra coisa, por isso que as realidades sagradas significadas pelos sacramentos são dons e bens da esfera espiritual e inteligível por meio dos quais a humani- dade é santificada e o que significa essa santificação é por excelência a realidade sensível e palpável que são os sacramentos. Quanto ao que se chama atualmente de matéria e forma, ou seja, matéria e fór- mula, ou oração, ou vocalização por meio das palavras no ato sacramental, Tomás de Aquino explica sobre a necessidade de atribuir ao gesto do sacramento palavras ditas, para que esteja ainda mais significado e evidente. O doutor angélico afirma ser importante e até fundamental que a palavra esteja unida ao sinal como parte desse mesmo sinal. Pois assim diz: os sacramentos empregam determinados sinais para significar a santificação do homem. A partir daí, podem-se fazer três considerações mostrando, cada vez, a conveniência de acrescentar palavras às realidades sensíveis. O Aquinate cita três quesitos importantes que são a realidade da encarnação e, por isso também, realidade dos sacramentos. Primeiramente Tomás entende que o sacramento é santificante e está intimamente ligado à encarnação do Verbo, evento este que tem em si a junção da palavra e da realidade sensível. Deus se fez carne, o que era antes profecia e anúncio, mas fundamentalmente “Palavra” agora, com a encar- nação divina, já é realidade sensível visual e palpável. Posteriormente Tomás afirma: em segundo lugar, sob o ponto de vista do homem que é santificado pe- los sacramentos. O remédio sacramental é adequado ao homem com- posto de alma e corpo: pela realidade visível atinge o corpo, pela pala- vra é crido pela alma. Por isso a respeito daquele texto do Evangelho de João “vós já estais purificados pela palavra...”, Agostinho escreve: “De onde vem tanto poder para a água a ponto de, tocando o corpo, purifi- car o coração? A Não ser pela palavra que age não por ser pronunciada, mas porque nela se crê? (AQUINO, 2002, p. 20). E em continuidade ao raciocínio dos três aspectos, evidenciando o terceiro, Tomás afirma, utilizando argumentos de Agostinho que para os homens as pala- vras têm a primazia entre todos os sinais. Nas palavras, o homem pode verbalizar ou expressar, ainda que não plenamente, os pensamentos, sentimentos e con- cepções que lhe passam na mente. Sendo assim, o gesto é mais completo com a Palavra; a água por ser líquida pode significar lavar, por ser fresca pode signifi- car a refrescar, mas quando se diz: “Eu te batizo” fica evidente que se usa a água no batismo para significar purificação espiritual. Os Sacramentos Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 81 Ademais nos sacramentos são necessárias palavras certas que sejam verda- deiros sinais do rito sacramental. Para que isso se evidencie na execução válida e eficaz do sacramento, Tomás ensina que, nos sacramentos, as palavras assumem um papel semelhante ao da forma, enquanto as realidades sensíveis exercem a função da matéria. Sendo assim, para que algo exista de forma correta, o princi- pal requisito é uma forma determinada e não uma matéria determinada; esta se requer por sua vez, para que seja proporcionada à forma determinada. Logo se requer uma forma específica para que o ato sacramental aconteça. A esse respeito, a Igreja, na sua teologia, afirma que o Salvador pronuncia as palavras consecra- tórias sobre o pão e o vinho, e, a partir de então, tais palavras, repetidas por um sacerdote em qualquer lugar e tempo da história com a devida intenção con- sagram o pão e o vinho como se o próprio Cristo as pronunciasse novamente. Tendo clareza sobre a constituição dos sacramentos, e que estes necessitam de matéria e forma, é conveniente, agora, estudar sobre o número dos sacramen- tos. No período anterior a Tomás de Aquino, falava-se muito em sacramentos diversos, quase tudo que se ligava à esfera do sagrado era interpretadocomo sacramento. No entanto, falava-se de um único sacramento ou de um número pequeno de atos sacramentais, sugerindo apenas dois ou três. A partir de Pedro Lombardo em suas sentenças, Tomás de Aquino em seus estudos e o Concílio de Trento em seu depósito entende-se que os sacramentos são limitados e específi- cos. Segundo os escritos de Paulo Apóstolo, na carta aos Hebreus, manifesta-se ser necessário somente um sacramento. Pois “por uma única oblação levou para sempre à perfeição os que santificou. Logo, não deve haver senão um único sacra- mento” (AQUIINO, 2002, p. 86). ESPIRITUALIDADE LITÚRGICA E SACRAMENTOS Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IIIU N I D A D E82 Os sacramentos da Igreja têm duas finalidades. O primeiro consiste em aper- feiçoar o homem no que concerne ao culto divino, de acordo com a religião da vida cristã. O segundo, por sua vez, quer apresentar um remédio contra a rebe- lião do pecado. Tendo em vista essa realidade se explica a razão do número dos sacramentos serem sete, como vê-se na citação: o batismo se dirige contra a falta de vida espiritual; a confirmação con- tra a fraqueza de alma que se encontra nos recém-nascidos; a eucaris- tia contra a fragilidade da alma diante do pecado; a penitência contra o pecado atual cometido depois do batismo; a extrema unção contra as seqüelas do pecado não suficientemente tiradas pela penitência ou provenientes de negligência ou ignorância; a ordem contra a desorga- nização da multidão; o matrimônio contra a concupiscência pessoal e contra o desaparecimento da humanidade que acontece pela morte (AQUINO, 2002, p. 88). 1131. Os sacramentos são sinais eficazes da graça, instituídos por Cristo e confiados à Igreja, pelos quais nos é dispensada a vida divina. Os ritos visí- veis, com os quais são celebrados os sacramentos, significam e realizam as graças próprias de cada sacramento. Eles dão fruto naqueles que os rece- bem com as disposições requeridas. 1132. A Igreja celebra os sacramentos enquanto comunidade sacerdotal es- truturada pelo sacerdócio baptismal e pelo dos ministros ordenados. 1133. O Espírito Santo prepara para os sacramentos pela Palavra de Deus e pela fé, que acolhe a Palavra nos corações bem dispostos. Então, os sacra- mentos fortificam e exprimem a fé. 1134. O fruto da vida sacramental é, ao mesmo tempo, pessoal e eclesial. Por um lado, este fruto é, para todo o fiel, viver para Deus em Cristo Jesus; por outro, é para a Igreja crescimento na caridade e na sua missão de testemunho. Fonte: Catecismo da Igreja Católica, números (1999, par. 1131-1134). Caráter Sacramental Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 83 CARÁTER SACRAMENTAL Ao estudarmos sacramentos precisamos entender: o que realmente significa imprimir caráter? Tal reflexão se faz importante para que se evidencie quais são as características da impressão de caráter na alma dos fiéis que recebem os sacramentos. Sendo assim, São Tomás concebe que o caráter consiste em confi- gurar algo a outrem. É dar uma capacidade a alguém que antes não o possuía e agora por comunicação e graça lhe foi concedido. Dessa forma, compreende-se que, por exemplo, alguém fora levado às águas do batismo e nesse sacramento tenha sido iniciado na fé. Os sacramentos, além da sua essência simbólica também carregam em si uma grande significância no que diz respeito ao efeito de si mesmo, ou seja, além do dever de sinalizarem algo positivo que vem do sagrado, eles também têm de conferir algo valioso; no caso dos sacramentos, como já visto anteriormente, a graça de Cristo. E seguindo esse pensamento, Tomás de Aquino reflete sobre os sacramentos que imprimem caráter na alma daqueles que os recebem, mas isso veremos no próximo item. A palavra grega mysterion foi traduzida em latim por dois termos: mysterium e sacramentum. Na segunda interpretação, o termo sacramentum exprime prevalentemente o sinal visível da realidade oculta da salvação, indicada pelo termo mysterium. Neste sentido, o próprio Cristo é o mistério da salvação. ESPIRITUALIDADE LITÚRGICA E SACRAMENTOS Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IIIU N I D A D E84 O batismo conferiu-lhe um caráter, ou seja, uma configura- ção a Cristo, ou a identidade de cristão; a partir de agora, exige que o faça aos demais que ainda não receberam tal sacramento; levar os outros a conhecerem a Cristo, princi- palmente pelos sacramentos da fé. Essa tarefa comporta o caráter impresso no ato sacramental, que convida o receptor a desenvolver uma atividade com o múnus de graça que lhe foi conferido. Tomás ainda define um modo específico dos sacra- mentos imprimirem caráter ou potência espiritual a serviço da vida do homem e da Igreja; a esse respeito explica: os sacramentos da Nova Lei imprimem caráter enquanto nos incum- bem do culto a Deus segundo o rito da religião cristã. Por isso Dio- nísio, depois de dizer que Deus, por um sinal, confere ao batizado participação em sua natureza, acrescenta: “fazendo-o divino e comu- nicador de realidades divinas”. Ora, o culto divino consiste em receber o que é divino ou em transmitir aos outros. Para ambas as ações re- quer-se uma potência: para transmitir aos outros, uma potência ativa; para receber, uma potência passiva. Portanto, o caráter comporta certa potência espiritual que visa a tudo quanto diz respeito ao culto divino (AQUINO, 2002, p. 56). Ademais, é certo afirmar que os sacramentos marcam de alguma forma aqueles que foram seus receptores como gesto de identificação com Cristo e sua Igreja. Quem é encarregado de alguma tarefa, costuma ser marcado por um sinal apro- priado, como nos tempos antigos, os soldados pertencentes a uma milícia eram marcados com tatuagens no corpo uma vez que eram incumbidos de uma tarefa corporal. Para tanto, nos sacramentos, os homens também são incumbidos de um serviço espiritual no culto a Deus, logo, os sacramentos marcam os fiéis com um certo caráter espiritual e completando a argumentação sobre a profundidade do caráter impresso no receptor dos sacramentos. O caráter sacramental para Tomás de Aquino, além de se dar de forma pro- funda, na alma dos fiéis, também tem a característica de permanecer indelével Caráter Sacramental Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 85 Todavia Tomás compreende que não são todos os sacramentos que imprimem caráter. Sendo o caráter uma função exercida como potência espiritual em favor do culto, entende-se, dessa maneira, na teologia do Aquinate, que são apenas três os sacramentos que imprimem caráter na alma do fiel, sendo eles: batismo, con- firmação e ordem. Outro detalhe que se apresenta de grande importância nesse tratado sobre o conceito de sacramento é o da autoria dele. Quanto a essa ques- tão, Tomás de Aquino manifesta ser todo sacramento autoria própria de Deus, pois Ele é o único doador espiritual de toda e qualquer graça ao homem, todo sacramento vem de Deus, pois assim ensina: os sacramentos atuam instrumentalmente na realização de efeitos espiri- tuais. Ora, um instrumento obtém sua força do agente principal. No caso dos sacramentos há dois agentes: por um lado, quem institui o sacra- mento; por outro, quem usa o sacramento instituído, aplicando-o para produzir o efeito. A força do sacramento não pode vir de quem usa o sacramento, pois atua meramente como ministro. Resta, pois, que venha de quem o institui. Provindo a força do sacramento somente de Deus, segue-se que só Deus institui sacramentos (AQUINO, 2002, p. 65). como um sinal de que há no receptor um resultado positivo de bem e de graça como participação no sacerdócio de Cristo. Pois assim afirma: O caráter sacramental é uma certa participação no sacerdócio de Cristoem seus fiéis. Significa que, como Cristo tem pleno poder do sacerdó- cio espiritual, assim seus fiéis são configurados a ele pela participação em certo poder espiritual no que diz respeito aos sacramentos e ao que pertence ao culto divino (AQUINO, 2002, p. 62). 698. O selo é um símbolo próximo do da unção. Com efeito, foi a Cristo que “Deus marcou com o seu selo” (Jo 6, 27) e é nEle que o Pai nos marca também com o seu selo. Porque indica o efeito indelével da unção do Espírito Santo nos sacramentos do Baptismo, da Confirmação e da Ordem, a imagem do selo (sphragis) foi utilizada em certas tradições teológicas para exprimir o carácter indelével, impresso por estes três sacramentos, que não podem ser repetidos. Fonte: Catecismo da Igreja Católica (1999, par. 698). ESPIRITUALIDADE LITÚRGICA E SACRAMENTOS Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IIIU N I D A D E86 Sendo assim, fica evidente que o Cristo, sendo Deus e homem, prefigura o sacra- mento da salvação, fazendo nascer de seu lado aberto a graça sacramental que também gera a Igreja, seu corpo místico e atuante na doação dos sacramentos, que são de sua vontade serem dispensados às almas dos fiéis. Quanto ao ministro dos sacramentos, o mesmo São Tomás demonstra não ser obrigatório o estado de perfeição moral, espiritual ou corporal para que o ato sacramental seja validamente conferido, pois os ministros da Igreja atuam nos sacramentos como instrumento. O instrumento, por sua vez, não atua segundo sua própria força ou forma, mas segundo a força e a forma daquele que o move. Sendo assim, é indiferente ao instrumento, nesse caso, o ministro ter essa ou Ademais, na teologia sacramental, compreende-se Cristo como figura sacramental. Sendo Deus, faz-se autor dos sacramentos e, sendo homem, ou seja, encarnado, torna-se a imagem mais própria de todo e qualquer sacramento, pois como já tratado é o Sacramento do Pai. Além disso, o próprio Tomás faz questão de res- saltar a figura cristológica presente na característica do sacramento, quando diz que “os elementos necessários aos sacramentos foram instituídos pelo próprio Cristo que é Deus e homem” (AQUINO, 2002, p. 56). E, em conformidade com os elementos sacramentais que dão visão à existência da Igreja como sacramento de Cristo, completa: “pelos sacramentos que fluíram do lado de Cristo pendente da cruz se afirma ter sido criada a Igreja de Cristo” (AQUINO, 2002, p. 70). 1121. Os três sacramentos do Baptismo, Confirmação e Ordem conferem, além da graça, um carácter sacramental ou selo, pelo qual o cristão partici- pa no sacerdócio de Cristo e faz parte da Igreja segundo estados e funções diversas. Esta configuração a Cristo e à Igreja, realizada pelo Espírito, é in- delével, fica para sempre no cristão como disposição positiva para a graça, como promessa e garantia da proteção divina e como vocação para o culto divino e para o serviço da Igreja. Por isso, estes sacramentos nunca podem ser repetidos. Fonte: Catecismo da Igreja Católica (1999, par. 1121). Caráter Sacramental Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 87 aquela forma ou força (AQUINO, 2002, p. 75). Porque assim como não importa que o corpo do médico esteja enfermo ou não para conferir com qualidade a cura, ou que os canos que levam a água sejam de prata ou chumbo para que eles de fato cheguem ao seu destino com eficácia, “assim os ministros da Igreja podem conferir os sacramentos, embora sejam maus”. (AQUINO, 2002, p. 75). Na discussão sobre a eficácia dos sacramentos, cabe a pergunta: no estado de inocência do homem, ou seja, antes do pecado, existia necessidade dos sacramen- tos? Para dar fundamentação à doutrina dos sacramentos que vem se construindo até então, é preciso evidenciar a resposta de Tomás que ensina sobretudo a per- feição que se dava no paraíso. Logo, se não faltava nada ao homem, não era necessário qualquer sacramento. Isso se compreende quando o aquinate lembra que “no estado de inocência os sacramentos não eram necessários, dada a reta ordem vigente naquela situação” (AQUINO, 2002, p. 35), pois segundo o estado de perfeição da criação até então conservado, não se fazia necessária nenhuma reparação a nenhum defeito, pois este não encontrava lugar na obra de Deus. Tomás ressalta que assim procedia no estado anterior ao pecado: o superior dominava sobre o inferior e não dependia dele de forma alguma. Como a alma racional era submissa a Deus, as potencias in- feriores da alma eram submissas à alma racional, e o corpo à alma. Seria contra essa ordem se a alma fosse aperfeiçoada, quanto ao co- nhecimento ou quanto à graça, por algo corporal, como acontece nos sacramentos. Por isso, no estado de inocência o homem não precisava de sacramentos, não só enquanto destinados a ser remédio do pe- cado, mas também enquanto visam à perfeição da alma (AQUINO, 2002, p. 35). Formando com Cristo-Cabeça como que uma única pessoa mística, a Igreja age nos sacramentos como comunidade sacerdotal: pelo Baptismo e pela Confirmação, o povo sacerdotal torna-se apto a celebrar a liturgia. ESPIRITUALIDADE LITÚRGICA E SACRAMENTOS Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IIIU N I D A D E88 E ainda cabe uma reflexão no que diz respeito ao sacramento do matrimônio, uma vez que Paulo Apóstolo afirma que tal sacramento fora instituído antes mesmo do pecado. Argumentando a respeito de tal paradoxo, refletido na área sacra- mental, Tomás afirma que: “deve-se dizer que o matrimônio foi instituído no estado de inocência, não enquanto é sacramento, mas enquanto é obrigação da natureza. Contudo significava um mistério em relação a Cristo e à Igreja, como todas as figuras que precederam a Cristo” (AQUINO, 2002, p. 35). Tendo percorrido tal itinerário reflexivo sobre a sacramentária, faz-se neces- sário, agora, adentrar na temática sobre a causalidade da graça nos sacramentos e isto veremos no próximo item nessa unidade. GRAÇA SACRAMENTAL Neste último item da terceira unidade, será abordado em continuidade à reflexão sobre a causalidade da graça nos sacramentos a temática própria da graça. Até agora fora argumentado sobre os sacramentos, suas característi- cas, elementos e causa. Ao adentrar na temática da graça, serão evidenciados quais são os seus elementos constituin- tes, para que seja compreensível sua causalidade na sacramentária. Ao se estudar a graça, abordaremos o assunto como um auxílio trazido por Deus ao homem, para fazê-lo que- rer o que é bom e agir bem. Ou ainda, consideraremos que a graça é na alma um dom concedido por Deus, ela penetra nas faculdades da alma e a faz agir. Tomás de Aquino afirma ainda, como terceiro elemento, que por meio da graça, a cria- tura se eleva até Deus; ao conceder a graça, Deus dá o Espírito Santo, ou seja, Graça Sacramental Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 89 dá a si mesmo. Pois bem, como visto, a graça é um dom de Deus, e é Cristo que, possuindo a graça, doa-a às criaturas, pois o aquinate afirma: é peculiar a Cristo ter a graça infinita, porque, conforme o testemunho de João Batista, “Deus não lhe dá o Espírito por medida”. Aos outros porém, é dado com medida, como se lê na Carta aos Efésios: “A cada um de nós é dada a graça de acordo com a medida da doação feita por Cristo” (AQUINO, 1977, p. 237). Tal graça que Cristo possui pode ser dita infinita por três razões. Primeiramente considerando quem a recebe. Toda natureza criada é limitada e finita, porque mesmo que um dom seja infinito, ele não é recebido infinitamente. Há, por- tanto, um limite de capacidade para cada criatura de acordo com sua espécie e natureza, embora não exista limite ou medida da parte de quem dá, mas ape- nas da parte de quemrecebe, porque quem dá está pronto a sempre dar-Se todo. Exemplo de tal limitação é quando alguém vai com um vaso a um rio e encontra água disponível sem medida, embora a receba com medida, devido ao tamanho e capacidade limitada do vaso. 1966. A Lei nova é a graça do Espírito Santo, dada aos fiéis pela fé em Cristo. Opera pela caridade e serve-se do sermão do Senhor para nos ensinar o que se deve fazer, e dos sacramentos para nos comunicar a graça de o fazer: Aquele que quiser meditar com piedade e perspicácia o sermão que nosso Senhor pronunciou na montanha, tal como o lemos no Evangelho de São Ma- teus, nele encontrará, sem dúvida alguma, a carta perfeita da vida cristã [...]. Esse sermão encerra todos os preceitos próprios para guiar a vida cristã» (20). 1967. A Lei evangélica «cumpre» (21), apura, ultrapassa e leva à perfeição a Lei antiga. Nas «bem-aventuranças», ela cumpre as promessas divinas, ele- vando-as e ordenando-as para o «Reino dos céus». Dirige-se àqueles que es- tão dispostos a acolher com fé esta esperança nova: os pobres, os humildes, os aflitos, os corações puros, os perseguidos por causa de Cristo, traçando assim os surpreendentes caminhos do Reino. Fonte: Catecismo da Igreja Católica (1999, par. 1966 e 1967). ESPIRITUALIDADE LITÚRGICA E SACRAMENTOS Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IIIU N I D A D E90 Em segundo lugar, afirma-se que a graça que Cristo possui é infinita, porque Ele “recebeu totalmente tudo o que pode pertencer à natureza da graça, mas uns, de um modo; outros, de outro” (AQUINO, 1977, p. 238). Sendo assim, em Cristo, habita a graça de forma plena, uma vez que recebeu em grau máximo e supremo, conforme sua natureza divina. Por essência infinita, entende-se somente aquilo que possui toda a plenitude do ser, o que convém só a Deus, porque Deus é o próprio Ser. O terceiro lugar, por sua vez, na afirmação da graça de Cristo ser infinita, se considera a causa. É Cristo que causa a graça nas almas, desse modo, é evidente que é dEle que emana o dom da graça. Se ele é o princípio dessa emanação, não pode ser finita a graça que possui. Pois Tomás afirma: a alma de Cristo possui a graça infinita e sem medidas, porque Cristo tem o Verbo unido a Si, o Verbo que é o princípio ineficiente e infinito de toda a emanação das criaturas. Também a graça singular da alma de Cristo é infinita; enquanto cabeça da Igreja é também infinita: do que tem, Ele transmite aos outros. [...] Assim sendo, a sua graça não é apenas suficiente para a salvação de alguns homens, mas, também, de todo o mundo, como está escrito: “Ele é a propiciação pelos nossos pecados, e não só pelos nossos, mas pelos de todo o mundo”. Pode-se até acrescentar: de muitos mundos, se é que existem outros (AQUINO, 1977. p. 239). A graça de Cristo, como visto aqui, manifesta-se como dom que tem o obje- tivo de auxiliar na salvação das almas. Sendo Cristo o doador da graça, os fiéis que a recebem são beneficiados como participantes no processo de salvação. Pois, conforme foi dito, a graça de Cristo é suficiente para salvar a todos; por- que é graça infinita e é transmitida aos que dela necessitam. Na questão do efeito da graça na alma do fiel, Tomás de Aquino (2002) afirma que a graça é como uma luz da alma. A luz acrescenta algo ao que é iluminado, sendo assim parece que a graça acrescenta algo à alma. Ademais o aquinate diz que de fato, a graça acrescenta algo àquele que a recebe: “primeiro, o dom gratuito; depois, o reconhecimento deste dom” (AQUINO, 2002. p. 886). Graça Sacramental Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 91 Sobre o assunto graça, o Concílio de Trento afirmou que “por meio dos sacramen- tos ou se inicia ou se aumenta ou se restabelece toda vida de graça” (BARTMANN, 1962, p. 21). Categoricamente, como fruto da corrente teológica que aborda os sacramentos como causadores da graça, Trento define: se alguém disser que os sacramentos não contêm a graça que signifi- cam, ou que não conferem a graça a quem os recebe sem lhes impor obstáculo seja excomungado. [...] Se alguém disser que por meio dos sacramentos não se dá a graça sempre a todos, no tocante a parte de Deus, mesmo se os recebem dignamente, mas somente às vezes e a al- guns seja excomungado (BARTMANN, 1962. p. 21). Tomás lembra que “os sacramentos não são causa da graça por efetuarem algo, mas porque Deus, quando usamos os sacramentos, produz a graça na alma” (AQUINO, 2002, p. 41). A essa afirmação, a teologia tomista considera válida, uma vez que de fato é Deus quem age nos sacramentos. Ademais, argumenta o aquinate: a causa principal da graça só pode ser Deus, porque a graça é uma se- melhança participada da natureza divina, como diz a Carta de Pedro: “Foram-nos concedidos os bens do mais alto valor que nos tinham sido prometidos, para que, graças a eles, entrásseis em comunhão com a natureza divina”. [...] É deste modo que os sacramentos da Nova Lei causam a graça: por ordem de Deus são utilizados para causar a graça nos homens. Por isso Agostinho afirma: Tudo isso, a saber, o gesto sa- cramental, realiza-se e passa, mas a força que atua por eles, por ser de Deus, permanece perenemente (AQUINO, 2002, p. 41). 2022. Na obra da graça, a iniciativa divina previne, prepara e suscita a livre resposta do homem. A graça corresponde às aspirações profundas da liber- dade humana; chama-a a cooperar consigo e aperfeiçoa-a. 2023. A graça santificante é o dom gratuito que Deus nos faz da sua vida, infundida pelo Espírito Santo na alma para a curar do pecado e a santificar. 2024. A graça santificante torna-nos «agradáveis a Deus». Os carismas, gra- ças especiais do Espírito Santo, estão ordenados à graça santificante e têm por finalidade o bem comum da Igreja. Deus também actua por meio de múltiplas graças actuais, distintas da graça habitual, permanente em nós. Fonte: Catecismo da Igreja Católica (1999, par. 2022-2024). ESPIRITUALIDADE LITÚRGICA E SACRAMENTOS Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IIIU N I D A D E92 Chegamos ao final de mais uma unidade de estudos e é bom lembrar ainda que todo sacramento é Deus quem realiza na vida dos fiéis. Bons estudos e atividades. CONSIDERAÇÕES FINAIS Nesta unidade, abordou-se a espiritualidade litúrgica, sua relação, os sacramen- tos, caráter e a causalidade da graça nos sacramentos. Para empreender essa reflexão, apresentou-se a relação da vida dos fiéis com a liturgia e de que forma a celebração da liturgia se transforma em espiritualidade. Ao falarmos de litur- gia e vida, partimos para a reflexão dos sacramentos, ou seja, de que forma a liturgia sacramental muda a vida dos fiéis, pois, através dos sacramentos, Deus infunde no coração de todos uma graça santificante capaz de mudar a nossa vida. Os sacramentos foram aqui apresentados como instrumentos que Deus utiliza para conceder a graça às almas. Sendo assim, mesmo na condição instrumental, os atos sacramentais comunicam, transmitem, enfim, causam a graça. É da von- tade de Deus que os sacramentos sirvam para esse fim, a saber, causar a graça naqueles que os recebem, para que, configurados a Cristo, tenham também, atra- vés de sua vida de fé, a salvação que esperam. Não há para nós mérito diante de Deus, senão como consequência do Livre desígnio divino de associar o homem à obra da sua graça. O mérito perten- ce, em primeiro lugar, à graça de Deus; em segundo lugar, à cooperação do homem. O mérito do homem reverte para Deus. Considerações Finais Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 93 A apresentação da teologia sacramentária nos seus diversos contextos his- tóricos, como o Antigo Testamento e Novo Testamento, proporcionaram o conhecimento de quedesde a antiguidade testamentária existia um elemento de comunicação entre Deus e os homens. Destacamos, ainda, o próprio Cristo como elemento frontal dos sacramentos. Cristo é o sacramento do Pai, é a comu- nicação por excelência do Pai, é a manifestação maior do amor do Pai. Sendo assim, Cristo é o sujeito da salvação, que, nos sacramentos, se dá a conhecer e experienciar. É de Cristo que nascem os sacramentos e é nEle que subsistem. Tomás manifesta a necessidade da encarnação de Cristo, o Verbo do Pai, para que a salvação acontecesse. Fora a forma mais bonita e eficaz que Deus encon- trara para redimir o mundo do pecado original. A encarnação é o sacramento primordial que Deus concedeu à humanidade. A Paixão, por sua vez, é o ato de complementação da encarnação, seguida da res- surreição que plenifica a obra salvífica de Deus. Todos esses momentos da vida de Cristo compreendem em si um magnífico sacramento que dá origem a todos os outros. Em Cristo, habita a graça de forma plena; a graça é dada nos sacra- mentos da fé pelo próprio Cristo que se ofereceu uma vez como comunicação e sacrifício, e continua se dando aos fiéis por meio da recepção dos sacramentos como instrumentos que causam sua graça. 94 1. Ao celebrar a liturgia, a Igreja faz memória da salvação conferida ao ser huma- no pelo Senhor. Com base nessa afirmação, assinale a alternativa correta: a) Quando falamos em memória bíblica, referimo-nos a apenas uma lembrança. b) Quando a Igreja celebra a Liturgia, ela atualiza a salvação conferida por Nos- so Senhor. c) A liturgia é apenas um rito. d) A Igreja não celebra os mistérios de Cristo. e) Liturgia e Memória não estão relacionados. 2. A Liturgia é o cume a que tende toda a atividade da Igreja e, ao mesmo tempo, a fonte de onde emana toda a força. Com base nos estudos sobre a ação litúr- gica na Igreja, assinale a alternativa correta: a) A Igreja celebra apenas um rito sem comprometimento com a vida. b) A Liturgia é apenas o início da vida cristã. c) A Liturgia é fim da vida da Cristã. d) A liturgia está presente em toda a vida cristã de modo a iniciá-la e experien- ciá-la, e o objetivo a ser alcançado pelos fiéis, pois é Cristo quem a realiza. e) Nenhuma alternativa anterior está correta. 3. Com base nos estudos sobre sacramento estudados sobretudo no segundo item desta unidade, assinale a alternativa correta: a) Os Sacramentos são sete (Batismo, Eucaristia, Confirmação, Penitência, Or- dem, Matrimônio e Unção dos enfermos). b) Os Sacramento são apenas dois (Batismo e Eucaristia). c) Os Sacramento são cinco (Batismo, Eucaristia, Confirmação, Penitência e Ordem). d) Apenas existe um sacramento, pois Cristo é o Sacramento. e) Nenhuma alternativa anterior correta. 4. Agostinho afirma que o verdadeiro Sacramento é Jesus Cristo: “não há outro sacramento de Deus senão Cristo” (AGOSTINHO apud ALDAZÁBAL, 2013, p. 331). Com base na frase acima, analise as afirmações a seguir: I. Sacramentos são atos ou sinais visíveis do amor e ação de Deus em favor de toda a humanidade. II. Os Sacramentos são puramente visíveis estabelecendo-se como ritos na Igreja. 95 III. Todo sacramento tem sua eficácia advinda do Verbo Encarnado. IV. Os Sacramentos São sinais do amor de Deus para com a humanidade. V. Somente a Igreja realiza o Sacramento. Assinale a alternativa correta: a) Apenas I e II estão corretas. b) Apenas II e III estão corretas. c) Apenas I está correta. d) Apenas I, III e IV estão corretas. e) Nenhuma alternativa anterior está correta. 5. O caráter sacramental para Tomás de Aquino, além de se dar de forma profun- da, na alma dos fiéis, também tem a característica de permanecer indelével como um sinal de que há no receptor um resultado positivo de bem e de graça como participação no sacerdócio de Cristo. Com base no texto acima, assinale V para Verdadeiro e F para falso. ( ) Depois de receber um sacramento, nós podemos tirar ele de nosso ser. ( ) Uma vez que eu recebi um sacramento, eu o terei para sempre, e isto é caráter indelével. ( ) O Sacramento, imprimindo caráter, imprimi um sinal na minha vida, sinal do amor de Deus. ( ) Posso repetir o mesmo sacramento quantas vezes eu quiser. ( ) Apenas posso participar do sacerdócio de Cristo pelo sacramento. É correto: a) F, V, V, F, V. b) F, V, F, F, F. c) V, F, V, V, F. d) V, V, F, F, V. e) F, F, V, F, V. 96 6. É Cristo que causa a graça nas almas, desse modo, é evidente que é dEle é que emana o dom da graça. Se Ele é o princípio dessa emanação, não pode ser fini- ta a graça que possui. De acordo com o texto, assinale a alternativa incorreta: a) A graça de Cristo, como visto aqui, manifesta-se como dom que tem o obje- tivo de auxiliar na salvação das almas. b) Sendo Cristo o doador da graça, os fiéis que a recebem são beneficiados como participantes no processo de salvação. c) A graça de Cristo é incapaz de salvar alguém, pois necessitamos dEle mes- mo e não apenas sua graça. d) A luz acrescenta algo ao que é iluminado, sendo assim parece que a graça acrescenta algo à alma. e) Nenhuma alternativa anterior está incorreta. 97 DEPARTAMENTO DAS CELEBRAÇÕES LITÚRGICAS DO SUMO PONTÍFICE Quem celebra? (CIC n. 1136-1144) O Catecismo da Igreja Católica (CIC), invocando a Constituição conciliar Sacro- sanctum Concilium (cf. n. 8), ensina que “na Liturgia da terra participamos, sabo- reando-a já, na Liturgia celeste celebrada na cidade santa de Jerusalém” (n. 1090). Retomando esta consciência puramente teológica, confirma depois que “os que agora a celebram para além dos sinais, estão já integrados na liturgia celeste, onde a cele- bração é totalmente comunhão e festa” (n. 1136). E acrescenta: “É nesta liturgia eterna que o Espírito e a Igreja nos fazem participar, quando celebramos o mistério da salvação nos sacramentos” (n. 1139). A ação litúrgica então não termina na sua dimensão meramente histórica. Ela é, pelo contrário, uma degustação (cf. João Paulo II, Audiência Geral, 28.06.2000), um pálido reflexo da realidade (cf. Bento XVI, Homilia na celebração das Vésperas na Catedral de Notre-Dame em Paris, 12.09.2008), daquela que incessantemente se celebra no alto dos céus. A Liturgia eclesial, portanto, não constitui simplesmente uma imita- ção mais ou menos fiel da Liturgia celeste, nem sequer uma celebração paralela ou alternativa. Pelo contrário, ela significa e representa uma concreta epifania sacra- mental da Liturgia eterna. Uma das imagens bíblicas que está na base de tudo isso é proposta pelo Livro do Apo- calipse, que descreve um luminoso ícone de Liturgia celeste (cf. Ap 4-5; 6,9; 7,1-9; 12; 14,1; 21; 22,1; e também CIC, nn. de 1137- 1138). É toda a criação que eleva a Deus um lou- vor incessante. E é nessa Liturgia contínua do céu que a comunidade constituída pelo povo santo de Deus, reunida em fraternal alegria na assembléias litúrgica, mistica- mente se associa nas celebrações eclesiais. Céu e terra se reunem numa sublime communio sanctorum. Não é então difícil de entender a verdade de fé exposta pelo Catecismo quando ensina que a Liturgia é ação do “Cristo todo inteiro” (CIC n. 1136), ou seja da Cabeça inseparavel- mente unida ao Seu Corpo Místico, que é a Igreja no seu conjunto: celeste, purgante, peregrinante. A ação litúrgica que é realizada, além disso, não representa somente uma celebração dos membros de uma comunidade eclesial. É sempre a Igreja toda, aquela universal, que se envolve realmente. De fato, é na Liturgia que a descrição escultural da Igreja como “sacramento da unidade” se concre- tiza no seu apogeu. Nela, de fato, a íntima unidade que vigora entre os fiéis se torna expressão viva, real e concreta. Neste contexto, o CIC, no n. 1140, também fala da preferência que, no culto litúrgico, deve ser dada à celebração comunitária com relação àquela individual e quase privada. Isto se explica principalmente devido ao valor “epifânico” da liturgia: o rito comunitário, ou seja,não é um rito que “vale” mais, mas certamente é um rito que expressa melhor o caráter eclesial de toda celebração litúrgica. 98 No mesmo número do Catecismo se espe- cifica também que nem todos os ritos litúrgicos envolvem uma celebração comu- nitária: isso vale particularmente para o Sacramento da Reconciliação (cuja cele- bração – com exceção de casos muito excepcionais – tem que ser individual!), para a Unção dos enfermos, e para muitos Sacramentais. O Sacrifício eucarístico repre- senta ao invés o máximo grau que pode expressar a celebração comunitária: é ofe- recido de fato em nome de toda a Igreja, é o principal sinal da unidade, o maior vín- culo da caridade. Devemos ainda dizer que, também quando a ação litúrgica é realizada de acordo com a modalidade individual, nunca perde o seu caráter essencialmente eclesial, comunitá- rio e público. É necessário, então, que a participação na Ação Litúrgica seja “ativa”, ou seja, que o fiel individual não garanta somente uma presença exterior, mas também um envol- vimento interior por meio de uma atenção consciente da mente e de uma predisposi- ção do coração, que são, seja resposta do homem suscitada pela graça, seja frutuosa cooperação com ela. A dimensão essencialmente comunitária, da ação litúrgica não exclui, porém, que coexista a dimensão hierárquica (ao con- trário, o conceito mesmo de “Comunidade eclesial” requer e inclui aquele de “Hierar- quia eclesial”). O Culto litúrgico, de fato, refletindo a natureza teândrica da Igreja, é ação de todo o povo santo de Deus, que é ordenado e age sob a orientação dos ministros sagrados. A menção explícita dos Bispos (cf. CIC, n. 1140) é um lembrete da centralidade constitutiva da figura episco- pal, em torno da qual gira a vida litúrgica da Igreja local. Em palavras mais simples, embora a celebração seja de toda a Igreja, ela não pode acontecer sem os ministros sagrados. Particularmente vale para a Euca- ristia, cuja celebração está reservada aos sacerdotes por direito divino. Dentro da ação litúrgica, entendida como uma clara manifestação da unidade do Corpo da Igreja, em virtude do próprio Batismo, cada fiél faz a própria tarefa, de acordo com o seu estado de vida e da função que desenvolve dentro da comu- nidade (cf. CIC, nn. 1142; 1144). Além dos ministros consagrados (bispos, presbíteros e diáconos), há também uma variedade de ministérios litúrgicos (sacristão, coroi- nha, leitor, salmista, acólito, comentaristas, músicos, cantores, etc.) cuja tarefa está normatizada pela Igreja, ou determi- nada e especificada pelo bispo diocesano segundo as tradições litúrgicas ou as neces- sidades pastorais da Igreja particular à qual é preposto. Fonte: Vatican ([2018], on-line)1. Material Complementar MATERIAL COMPLEMENTAR Manual de Liturgia IV. A celebração do mistério pascal. Outras expressões celebrativas do mistério pascal e a liturgia da Igreja. Conselho episcopal latino-americano CELAM Editora: Paulus Sinopse: a publicação deste Manual de Liturgia é uma resposta, amadurecida ao longo de alguns anos, a um desejo repetidamente expresso pelo CELAM. É fruto do trabalho de um grupo de liturgistas latino-americanos que se dispôs a elaborar um guia de estudos litúrgicos com profundo espírito de fidelidade ao Magistério da Igreja, rigoroso sentido científico e sensibilidade pedagógica. Os diversos autores procuraram apresentar os temas de maneira a refletir nossa realidade eclesial e resgatar especialmente os ensinamentos expressos nas Conferências Gerais do Episcopado Latino-Americano e Caribenho, buscando, dessa forma, exprimir as características e a índole das igrejas de nosso continente. O Manual em sua íntegra mostra-se construído a partir da dimensão celebrativa do Mistério Pascal, que se atualiza na vida do povo de Deus. O Mistério Pascal de Cristo é o centro da história da salvação e, por essa razão, é o objetivo principal da liturgia. Envolve toda a vida de Cristo, assim como a vida de todos os cristãos. Site do Vaticano Este site do Vaticano está fazendo um favor de refletir e aumentar nosso entendimento sobre liturgia. São reflexões a partir do Catecismo da Igreja do Departamento de celebrações litúrgicas do Summo Pontifice e estão muito bem feitas, vale a pena parar e ler alguns dos vários artigos que estão disponíveis. Web: <http://www.vatican.va/news_services/liturgy/details/ns_liturgy_index-studi_po.html> REFERÊNCIAS ALDAZÁBAL, J. Vocabulário Básico de Liturgia. São Paulo: Paulinas, 2013. AQUINO, T. Compêndio de Teologia. Trad. Odilão Moura. Rio de Janeiro: Presença, 1977. _______. Suma Teológica. v. 9. Trad. Aldo Vannucchi. São Paulo: Loyola, 2002. BARTMANN, B. Teologia Dogmática. Tradução: Vicente Pedroso. São Paulo: Pauli- nas, 1962. CATECISMO da Igreja Católica. São Paulo: Loyola, 1999 CELAM - Conselho episcopal latino-americano. Manual de Liturgia IV. São Paulo: Paulus, 2007. DOCUMENTOS DA IGREJA. Documentos do Concílio Ecumênico Vaticano II. São Paulo: Paulus, 1997. SÁNCHES, V. A Liturgia como fonte da espiritualidade cristã. In: Conselho episcopal latino-americano CELAM. Manual de Liturgia IV. São Paulo: Paulus, 2007. SACROSSANCTUM Concilium. In: DOCUMENTOS DA IGREJA. Documentos do Concílio Ecumênico Vaticano II. São Paulo: Paulus, 1997. Disponível em: <http:// www.vatican.va/archive/hist_councils/ii_vatican_council/documents/vat-ii_ const_19631204_sacrosanctum-concilium_po.html>. Acesso: 11 jun. 2018. Referência On-Line 1 Em: <http://www.vatican.va/news_services/liturgy/details/ns_lit_doc_20120321_ chi-celebra_po.html>. Acesso: 12 jun. 2018. GABARITO 101 1. B. 2. D. 3. A. 4. D. 5. A. 6. C. U N ID A D E IV Professor Dr. André Phillipe Pereira OS SACRAMENTOS DA INICIAÇÃO CRISTà Objetivos de Aprendizagem ■ Compreender como agem os sacramentos. ■ Conhecer a teologia do Batismo. ■ Entender a teologia da Confirmação. ■ Compreender a teologia da Eucaristia. Plano de Estudo A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade: ■ Como agem os sacramentos? ■ Batismo ■ Confirmação ■ Eucaristia INTRODUÇÃO O termo iniciação cristã significa, etimologicamente, introdução, do latim initia, que deriva de in-ter sendo compreendido como ingresso no caminho exprimindo portanto um fenômeno humano geral que obedece ao processo de adaptação que todo ser humano se vê obrigado a viver em relação com o ambiente no seu contexto. O termo iniciação, no entanto, designa as celebrações ou ritos por meio dos quais se integra um grupo ou mesmo religião, como é o nosso caso. A iniciação cristã tem como finalidade a entrada em um mistério, que propria- mente dito é o mistério pascal de Cristo. Por meio da iniciação cristã, portanto, o cristão está integrado ao mistério de Cristo, que é no entanto a nossa salvação. Na prática a iniciação cristã quer formar verdadeiros discípulos de Cristo, pois foi assim mesmo que o próprio Senhor agiu. Primeiramente Jesus formou, de forma lenta e gradual, seus discípulos. Houve um chamado, um aprendizado e um convívio. Houve etapas na missão, envio, aprofundamento. O caminho da iniciação ficou evidente, a partir do século II, com a estrutu- ração do catecumenato para promover a introdução dos novos convertidos na vida da Igreja. O objetivo era o aprofundamento da fé, como adesão pessoal a Jesus Cristo e a tudo que ele revela. Assim temos que a iniciação cristã não é apenas uma doutrina, um ensino, um catecismo; é um verdadeiro encontro, uma experiência de vida que encanta, empolga, apaixona o ser humano, no amor a Deus e aos irmãos. Constitui-se, assim como o início de uma caminhada, um itinerário, com diversas etapas, atra- vés das quais a pessoa adquiria maturidade, profundidade, transformação de sua vida, tornando-se um cristão adulto, um verdadeiro discípulo missionário. É, portanto, o início de um caminho fecundo e processual que proporciona o encontro com Cristo e uma transformação pessoal, social e comunitária,aju- dando a pessoa a ser um membro ativo da comunidade colaborando no anúncio do evangelho e na construção do Reino de Deus Introdução Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 105 COMO AGEM OS SACRAMENTOS? Caros alunos, tivemos na terceira unidade uma introdução geral aos sacramen- tos e assim já podemos afirmar que todo sacramento é um sinal, mas um sinal que não apenas assinala como, por exemplo, podemos citar uma placa à beira da estrada que sinaliza a direção que o condutor está seguindo, mas os sacramen- tos são sinais que efetuam ou realizam exatamente tudo e em plenitude aquilo que ele assinala. Assim, a água do Batismo assinala purificação e a realiza; o pão da Eucaristia assinala alimentação e a efetua. Desta forma, os sacramentos estão em continuidade com a santíssima humanidade de Cristo, que assinalava e rea- lizava a salvação dos homens e, por isto, é chamada o Sacramento Primordial. A Igreja, que cremos ser o Corpo prolongado de Cristo, e os sete sacramentos são o grande canal pelo qual a vida eterna do Pai flui até cada indivíduo em particular. O Significado básico do radical latino Sacr designa a esfera do sagrado, religioso, sacrare significa: destinar algo ou alguém à esfera do sagrado, consagrar; sacramentum é tanto o ato de consagração como também o meio consagrador. No uso linguístico concreto da antiguidade latina, vocábulo tem colorido acentuadamente jurídico: são denominados sa- OS SACRAMENTOS DA INICIAÇÃO CRISTà Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IVU N I D A D E106 cramentum o juramento no processo civil, o juramento à bandeira no exército e a quantia de dinheiro que os partidos em litígio tinham que depositar como caução no processo. Em todos os três casos, o aspecto jurídico tem conotação religiosa: juramento e juramento à bandeira en- tregam a pessoa ao juízo da divindade, a caução processual é destinada a um santuário no caso de uma derrota (SCHNEIDER, 2002, p. 178). Pelo Espírito que a conduz «para a verdade total (Jo 16, 13), a Igreja reconheceu, a pouco e pouco, este tesouro recebido de Cristo e foi-lhe precisando a dispen- sação, tal como o fez relativamente ao cânon das Sagradas Escrituras e à doutri- na da fé, enquanto fiel despenseira dos mistérios de Deus. Assim, a Igreja discer- niu, no decorrer dos séculos, que, entre as suas celebrações litúrgicas, há sete que são, no sentido próprio da palavra, sacramentos instituídos pelo Senhor. Os sacramentos são da Igreja, no duplo sentido de que são por ela e para ela. São pela Igreja, porque ela é o sacramento da ação de Cristo que nela opera, graças à missão do Espírito Santo. E são para a Igreja, são estes sacramentos que fazem a Igreja, porque manifestam e comunicam aos homens, sobretudo na Eucaristia, o mistério da comunhão do Deus-Amor, um em três pessoas. Fonte: Catecismo da Igreja Católica (1983, par. 1117-1119). Como agem os Sacramentos? Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 107 Todos os sacramentos são formados por matéria e forma, assim como Jesus Cristo, o Verbo Encarnado, Fórmula é o Verbo de Deus e a matéria o corpo material de Jesus, nos sacramentos as matérias são: água, pão, Vinho, óleo, ges- tos... e a forma são as palavras ditas na hora da realização dos sacramentos, que são proferidas sobre a matéria, explicitando o seu significado: “Isto é o meu corpo... meu sangue... Eu te batizo... “São sete os sacramentos: Batismo, Crisma, ou Confirmação, Eucaristia, Reconciliação, ou penitência, Unção dos Enfermos, Ordem e Matrimônio. Os sete sacramentos recobrem toda a vida terrestre de um ser humano, dando a cada uma das suas principais fases um sentido novo ou trans- cendental: assim ao nascimento físico corresponde a regeneração sacramental ou Batismo; ao crescimento físico a Confirmação ou Crisma; à alimentação corpo- ral, a Eucaristia; à medicina, a Penitência sacramental; à escolha de um estado de vida, a ordem e o Matrimônio; à consumação terrestre, a Unção dos Enfermos. O ser humano foi criado para a comunhão com Deus. Em última análi- se, toda a história de Deus com os humanos serve ao encontro que leva para dentro dessa comunhão, ou melhor, esta é concedida por meio dele. Em consonância, a teologia toda, não por último a teologia dos sacramentos, gira em torno deste único tema: porventura acontecerá o encontro entre Deus e ser humano? Não se deve apequenar o caráter abissal da pergunta, porque ela deve ser mais precisamente enunciada um ao outro? Como, afinal o ser humano se apercebe do Deus invisí- vel? E por que o ser humano não perece quando esta diante do Deus infinito e infinitamente santo? Como, pois, é mediado o relacionamen- to entre deus e ser humano? (FABER, 2008, p. 27). Os sacramentos agem ex opere operato, isto é, em virtude do próprio rito. Em última análise, Cristo quem ministra todo e qualquer sacramento, pois é o único sacerdote do Novo Testamento; todos os sacerdotes ordenados participam do único sacerdócio de Cristo e são apenas a mão estendida do Senhor, desde que hajam sido validamente ordenados e, ao administrar os sacramentos, tenham a intenção de fazer o que Cristo fez. Por conseguinte, desde que o sacerdote genui- namente habilitado diga “Eu te absolvo dos teus pecados”, “Isto é meu corpo”, é Cristo quem o diz; a ação é eficaz e a graça é oferecida aos homens, independen- temente da santidade do ministro humano assumido por Cristo. A convicção de que a eficiência do sacramento não depende da fé pes- soal do ministrante ou do recebedor, mas se fundamenta no agir de Deus, é expressa na escolástica com a fórmula que diz que os sacra- mentos são eficiente ex opere operato, por força daquele que executa o sacramento (SCHNEIDER, 2002, p. 183). Todo sacramento produz duplo efeito: o caráter e a graça santificante. O cará- ter (do grego charaktér, marca, selo) é o sinal espiritual impresso na alma do cristão pelos três sacramentos que não podem ser repetidos: Batismo, Crisma e Ordem. Significa a pertença a Cristo e é independente das disposições morais de quem recebe o sacramento. Sto. Agostinho o compara à marca impressa nas ovelhas ou nos soldados para designar a sua incorporação a tal rebanho ou a tal exército; esse sinal era indelével. Permanecendo no sujeito mesmo quando perdesse a fidelidade ou desertasse; assim também o cristão é marcado intima- mente pelo Cristo de modo inapagável. Os demais sacramentos imprimem um quase-caráter, isto é, um efeito objetivo independente da fidelidade do sujeito a OS SACRAMENTOS DA INICIAÇÃO CRISTà Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IVU N I D A D E108 Cristo. Assim, por exemplo, duas pessoas que se casam. Canonicamente habili- tadas, mas em pecado mortal, não recebem a graça santificante, mas contraem o vínculo conjugal (= quase -caráter). O caráter sacramental faz o cristão participar do sacerdócio de Cristo e tor- na-o apto a celebrar o Culto divino; por isto se diz que, mediante o Batismo e a Crisma, os fiéis recebem o sacerdócio comum a todos os cristãos. A doutrina de caráter tem seus fundamentos bíblicos em 2Cor 1, 21s; Ef 1, 13; 4, 30. Os sacramentos da nova Lei foram instituídos por Cristo e são em núme- ro de sete, a saber: o Baptismo, a Confirmação, a Eucaristia, a Penitência, a Unção dos Enfermos, a Ordem e o Matrimónio. Os sete sacramentos tocam todas as etapas e momentos importantes da vida do cristão: outorgam nas- cimento e crescimento, cura e missão à vida de fé dos cristãos. Há aqui uma certa semelhança entre as etapas da vida natural e as da vida espiritual. Seguindo esta analogia, exporemos primeiro os três sacramentos da inicia- ção cristã, depois os sacramentos de cura e finalmente os que estão ao ser- viço dacomunhão e da missão dos fiéis. Esta ordem não é, certamente, a única possível, mas permite ver que os sacramentos formam um organismo, no qual cada sacramento particular tem o seu lugar vital. Neste organismo, a Eucaristia ocupa um lugar único, como sacramento dos sacramentos: todos os outros sacramentos estão ordenados para este, como para o seu fim. Fonte: Catecismo da Igreja Católica (1983, par. 1210-1211). A graça santificante comunicada pelos sacramentos é sempre “participação da natureza divina” (2Pd 1, 4), que pode não ser outorgada se o sujeito lhe põe óblice (se alguém comunga em pecado mortal, por exemplo, recebe o verdadeiro corpo de Cristo, mas não a graça santificante) ou é outorgada em grau exíguo se o sujeito recebe o sacramento com tibieza. Por isto, a plena frutuosidade dos sacramentos requer também o opus operantis ou o esforço de conversão do sujeito. Há sacramentos que não supõem o estado de graça no sujeito que os recebe, porque comunicam o que se chama “graça primeira” ou a justificação; tais são o Como agem os Sacramentos? Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 109 Batismo e a penitência (exigem, o desejo de conversão na medida em que este seja possível ao sujeito); são os sacramentos dos mortos” (espirituais). Os outros sacramentos supõem o estado de graça (exceto, em casos de inconsciência psico- lógica, a Unção dos Enfermos). E por isto são chamados “sacramentos dos vivos”. função do sacramento é tornar possível que haja um contato entre os fiéis e Jesus uma vez que Ele não pode retornar sob a sua forma humana.” (Pe. Fábio de Melo) OS SACRAMENTOS DA INICIAÇÃO CRISTà Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IVU N I D A D E110 BATISMO Adentramos nesse momento nos três sacramentos da iniciação cristã que são objetivamente o batismo, a Eucaristia e a Confirmação. O Batismo é o sacramento de entrada no plano da graça. Foi instituído por Cristo quando Ele mesmo quis ser batizado no Jordão (Mc 1,9s), dando vigor sobrenatural à água, e promulgado pelo mesmo Senhor quando enviou seus dis- cípulos a pregar e batizar (cf. Mt 28, 18-20; Mc 16, 5). O nome Batismo vem do grego baptizein, mergulhar. Antigamente era admi- nistrado por imersão dentro de um rio ou piscina, significando a participação na morte e ressurreição de Cristo. É o que São Paulo explica enfaticamente em Rm 6, 2-10; Cl 2, 11-13. O cristão morre sacramentalmente para o pecado; o “velho homem” é imerso ou sepultado com Cristo, e recebe um princípio de vida nova ou de filho de Deus. De modo nenhum. Nós, que estamos mortos para o pecado, como vi- veremos ainda nele? Ou não sabeis que todos quantos fomos batizados em Jesus Cristo fomos batizados na sua morte? De sorte que fomos sepultados com ele pelo batismo na morte; para que, como Cristo foi ressuscitado dentre os mortos, pela glória do Pai, assim andemos nós também em novidade de vida. Porque, se fomos plantados juntamente com ele na semelhança da sua morte, também o seremos na da sua ressurreição; Sabendo isto, que o nosso homem velho foi com ele crucificado, para que o corpo do pecado seja desfeito, para que não sirvamos mais ao pecado. Porque aquele que está morto está justificado do pecado. Ora, se já morremos com Cristo, cremos que também com ele vivere- mos; Sabendo que, tendo sido Cristo ressuscitado dentre os mortos, já não morre; a morte não mais tem domínio sobre ele. Pois, quanto a ter morrido, de uma vez morreu para o pecado; mas, quanto a viver, vive para Deus (BÍBLIA, Rm 6, 2-10). Este gesto ritual deve ser reafirmado pelo cristão durante toda a sua existência mediante uma conduta de vida isenta de pecado e totalmente pautada pela lei de Deus. Por isto se diz o cristão vive o seu Batismo em todo o decurso de sua peregrinação terrestre; o Batismo só estará consumado quando o gérmen de vida nova transfigurar o próprio corpo do cristão, configurando-o plenamente ao corpo de Cristo ressuscitado. Diariamente cada renúncia ao pecado é um passo adiante na morte ao velho homem, e cada ato de virtude é um fortalecimento da nova criatura iniciada no rito batismal. Batismo Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 111 Evidentemente os primeiros discípulos não eram batizados no nome de Jesus. Segundo o testemunho de Atos (At 2, 38-41), porém, eles as- sociam, desde o início, isto é, desde o envio do Espírito no Pentecostes, o anúncio do Jesus ressurgido ao batismo em seu nome. Esse testemu- nho é confirmado pelas primeiras epístolas paulinas: já na Epístola aos gálatas (3, 27) e na Primeira Epístola aos Coríntios, Paulo parte natu- ralmente da prática batismal. ‘Em um só Espírito todos nós fomos ba- tizados em um só corpo’, escreve Paulo, incluindo a si mesmo, em Cor 12, 13, e com isso confirma igualmente o relato de At 9, 18. Formação de comunidade e batismo são inseparáveis; sobre isso não se discute. Como chegaram os discípulos a essa prática? A ponte histórica não é simplesmente uma missão recebida do Jesus Terreno, e, sim, o exemplo de sua vida missionária, iniciada com o batismo por João (SCHNEI- DER, 2002, p. 209). Atualmente, por razões práticas, o Batismo é administrado mais frequentemente por infusão (ou derramamento) da água do que por imersão. Tal prática não afeta a validade do rito, pois não é a quantidade de água que importa. Pode-se crer que já os Apóstolos praticaram a infusão: assim no dia de Pentecostes em favor de três mil convertidos (At 2, 41); na prisão de Filipos (At 16, 33); na casa do centurião Cornélio (At 10, 47). Chama-se Batismo, por causa do rito central com que se realiza: batizar (bap- tizeis, em grego) significa mergulhar, imergir. A imersão na água simboliza a sepultura do catecúmeno na morte de Cristo, de onde sai pela ressurreição com Ele como nova criatura (2 Cor 5, 17; Gl 6, 15). Este sacramento é também chamado banho da regeneração e da renovação no Espírito Santo (Tt 3, 5), porque significa e realiza aquele nascimento da água e do Espírito, sem o qual ninguém pode entrar no Reino de Deus (Jo 3, 5). Este banho é chamado iluminação, porque aqueles que recebem este en- sinamento catequético ficam com o espírito iluminado. Tendo recebido no Baptismo o Verbo, luz verdadeira que ilumina todo o homem (Jo 1, 9), o ba- tizado, depois de ter sido iluminado, tornou-se filho da luz e ele próprio luz. Fonte: Catecismo da Igreja Católica (1983, par. 1214-1216). OS SACRAMENTOS DA INICIAÇÃO CRISTà Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IVU N I D A D E112 No fim do século I, ritual intitulado “Didaquê” atesta que, em caso de necessi- dade, o batismo podia ser validamente administrado também por infusão (c. 7). Os doentes ou “clínicos” só podiam ser batizados por infusão ou aspersão, rito estes que S. Cipriano, bispo de Cartago (+258), declarava válidos. Todavia alguém poderia obter que o verbo baptizein, significa mergu- lhar. A propósitos notamos que na linguagem grega posterior, principalmente na do Novo Testamento (assim como na tradução do Antigo Testamento dita “dos LXX”), baptizein tem o sentido de lavar, purificar, às vezes mesmo em sen- tido figurado. Assim é que Jesus designa a infusão do Espírito Santo sobre os Apóstolos como um batismo (cf. At 1, 5); também apresenta sua Paixão como um batismo (cf. Lc 12, 50). Donde se vê que a etimologia de baptizein não obriga a praticar a imersão. O Batismo é sacramento necessário à salvação, como ensina o Senhor em Jo 3, 5 e Mc 16, 16, pois a Igreja recebeu dos Apóstolos a tradição de dar o Batismo mesmo às crianças. No século II, Santo Irineu (+202) atestava o Batismo das crianças como prática da Igreja. A própria Escritura insinua o Batismo das crian- ças, quando diz queuma família inteira foi batizada: Lídia com todos os seus (At 16, 15); o carcereiro de Filipos e de toda a sua casa (At 13, 33); Crispo e toda a sua família (At 18, 8): Estéfanas e todos os seus (1Cor 1, 16). Cabe notar que a nova vida escatólogica não está vinculada ao ba- tismo pelo simples fato de que Deus não pretendia conceder a todas as pessoas a salvação já no aqui e agora e condicionasse arbitraria- mente a uma ação concreta. Pelo contrário, deve-se levar a sério que ele franqueia aos humanos a salvação pela comunhão consigo mes- mo. Contudo, a comunhão vive de relacionamentos que brotam de um encontro dialogal, o batismo é evento de salvação porque nele pessoas crentes se abrem para a atuação de Deus. Entretanto, Deus não permanece passivo diante dessa prontidão para a resposta de fé, mas pode conceder em vista dela o que desde sempre planejava conceder. Por isso abre-se para os batizados o caminho para ter já aqui e agora a comunhão com aquele no qual somos representados com vida em abundância: Jesus Cristo. Na verdade, nenhuma vida humana é sem Deus, e para a vida de cada ser humano vale o ‘por nós’ da auto-entrega de Jesus Cristo. Seu objetivo, porém, é ‘estar em Cristo’ e ‘estar com Cristo’, ou seja, concretizar a comunhão. O batismo constitui o evento concreto corpóreo dessa concretização (FABER, 2008, p. 127). Batismo Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 113 A razão deste uso é que o Batismo não é simplesmente a matrícula da criança em determinada associação humana, mas é regeneração ou comunicação da vida divina, que não depende do grau de consciência da criancinha. Ora, assim como os pais têm a obrigação de dar aos filhos alimentação, higiene, educação..., têm também o dever de levar os filhos a renascer da água e do Espírito; este dom ainda é mais importante do que os anteriores. Os pais não podem consultar as crianças a respeito do tipo de educação que lhes devem dar, mas escolhem o melhor que possam dar, e assumem a responsabilidade do que fazem. Se um dia o cristão batizado quiser rejeitar a educação recebida ou o seu Batismo, ele o fará, mas isto não isenta os pais de zelar pelo bem de suas crianças enquanto são dependentes. Desde o dia de Pentecostes que a Igreja vem celebrando e administrando o santo Batismo. Com efeito, São Pedro declara à multidão, abalada pela sua pregação: convertei-vos e peça cada um de vós o Batismo em nome de Je- sus Cristo, para vos serem perdoados os pecados. Recebereis então o dom do Espírito Santo (At 2, 38). Os Apóstolos e os seus colaboradores oferecem o Baptismo a quem quer que acredite em Jesus: judeus, pessoas tementes a Deus, pagãos. O Baptismo aparece sempre ligado à fé: acredita no Senhor Jesus e serás salvo juntamente com a tua família, declara São Paulo ao seu carcereiro em Filipos. E a narrativa continua: o carcereiro logo recebeu o Baptismo, juntamente com todos os seus (At 16, 31-33). Segundo o apóstolo São Paulo, pelo Batismo o crente comunga na morte de Cristo; é sepultado e ressuscita com Ele: Todos nós, que fomos batizados em Cristo Jesus, fomos batizados na sua morte. Fomos sepultados com Ele pelo baptismo na morte, para que, assim como Cristo ressuscitou dos mortos, pela glória do Pai, também nós vivamos uma vida nova» (Rm 6, 3-4) (26). Fonte: Catecismo da Igreja Católica (1983, par. 1226-1227). OS SACRAMENTOS DA INICIAÇÃO CRISTà Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IVU N I D A D E114 O Batismo é o sacramento da fé (cf. Mc 16, 15; At 8, 37; 16, 30-33; Cl 2, 2...,); mas as crianças inocentes não podem ter fé. Entretanto, a fé, no caso, é mera disposi- ção, cuja ausência não impede a ação purificadora e santificante do sacramento; este, portanto, pode ser conferido a sujeitos incapazes de conceber a fé. Contudo, nesse sentido temos as afirmações de Sto. Agostinho (+ 430) e S. Tomás (+ 1274) que lembram que a fé da Igreja, no caso, supre a fé dos pequeninos; estes são batizados por extensão da fé da Igreja. Quando a criança atinge a idade da razão, dá-se-lhe a instrução religiosa a fim de que professe devidamente o Credo; a Igreja insiste fortemente na catequese dos adolescentes batizados, a fim de que o rito do Batismo possa ser realmente vivido pelos cristãos. Na discussão mais recente sobre a legitimidade do batismo de crianças levantou-se a pergunta se o NT também conhece o batismo de crianças que ainda não respondem por si mesmas. Depois de uma longa con- trovérsia sobre o assunto, evidenciou-se que não é possível dar uma resposta garantida historicamente [...] argumentos bíblicos a favor ou contra o batismo de crianças não podem ser conseguidos a partir da questão de facticidade histórica, mas antes a partir de pontos de vista sistemáticos, como, por exemplo, as definições bíblicas da relação de fé e batismo (SCHNEIDER, 2002, p. 211). O Batismo de crianças cujos pais não vivem de acordo com as leis da Igreja, não deve ser recusado sem mais. A criança não há de ser punida por causa do tipo de vida de seus genitores. O que importa à Igreja para batizar a criança não é a conduta moral do casal, mas a probabilidade de instrução religiosa da criança, assegurada pelos padrinhos (cujas responsabilidades são enormes) ou pela comu- nidade eclesial, não há porque rejeitar o Batismo de tal criança. Sou o filho de Deus, sou a herança do Senhor, sou o presente mais valioso que a meus pais Deus enviou. Batismo Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 115 CONFIRMAÇÃO A confirmação ou Crisma está intimamente associada ao Batismo como o segundo sacramento da iniciação cristã. O seu rito consiste em imposição das mãos e unção com óleo (Crisma) na fronte, enquanto se pronunciam as palavras: “recebe, por este sinal, o dom do Espírito Santo”. Na Sagrada Escritura, lê-se que os Apóstolos impunham as mãos aos fiéis batizados e estes recebiam o Espírito Santo; cf. At 8, 14-17; At 8, 14-17; At 19, 1-6; a Epístola aos Hebreus parece aludir a este costume (6, 1s). São Paulo, refe- rindo-se à iniciação cristã, fala do selo do Espírito: cf., 2Cor 1, 21s; Ef 1, 13; 4, 30. Na Igreja dos três primeiros séculos, a unção com imposição das mãos e invo- cação do Espírito Santo era praticada logo após o Batismo, de modo que não se distingue propriamente do rito Batismal. Somente nos escritos de doutores do séc. IV: São Cirilo de Jerusalém, + 387, e Santo Ambrósio, + 397, nestes aparece nítida a diferença entre a Crisma e o Batismo. No decorrer da história, foi acentuada ora a unção, ora a imposição das mãos como elemento característico deste sacramento. Nos primeiros séculos, a Confirmação constitui geralmente uma única cele- bração com o Batismo, formando com ele, segundo a expressão de São Ci- priano, um sacramento duplo. Entre outras razões, a multiplicação dos bap- tismos de crianças, e isto em qualquer tempo do ano, e a multiplicação das paróquias (rurais), ampliando as dioceses, deixaram de permitir a presença do bispo em todas as celebrações batismais. No Ocidente, porque se dese- java reservar ao bispo o completar do Batismo, instaurou-se a separação, no tempo, dos dois sacramentos. O Oriente conservou unidos os dois sacra- mentos, de tal modo que a Confirmação é dada pelo sacerdote que batiza. Este, no entanto, só o pode fazer com o myron consagrado por um bispo. Um costume da Igreja de Roma facilitou a expansão da prática ocidental, gra- ças a uma dupla unção com o santo crisma, depois do batismo: a unção já feita pelo sacerdote ao neófito ao sair do banho baptismal é completada por uma segunda unção, feita pelo bispo na fronte de cada um dos novos batizados. Fonte: Catecismo da Igreja Católica (1983, par. 1290-1291). OS SACRAMENTOS DA INICIAÇÃO CRISTà Reprodução proibida. A rt.184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IVU N I D A D E116 O sentido da Crisma há de ser depreendido da sua matéria típica, que é o óleo. Antigamente, antes das com- petições esportivas, os atletas eram ungidos, afim de obter mais agilidade física e êxito na luta. Ora o cristão também é ungido para que possa assumir, com fortaleza de ânimo, a peleja do testemunho (martyrion, em grego) da fé dentro de um mundo que tenta seduzi-lo para o mal. A Crisma é, pois, uma confirmação do Batismo; supõe o cristão chegando à idade da maturidade e devidamente instruído a respeito dos deveres que lhe incumbem como seguidor de Cristo; em consequência, a Igreja exige hoje uma preparação adequada para tal sacramento, de modo que marque realmente a vida do cristão. Este, conforme S. Paulo, é um atleta de Cristo (1Cor 9, 24-27; Gl 5, 7; Fl 2, 16; 3, 12-14; 2Tm 2, 5; 4, 7; Hb 12, 1) e um soldado do Senhor (2Tm 2, 3s: 1Tm 1, 18). A figura do ‘selo’, posta em vigor novamente na fórmula renova em 1971, pode servir de chave para uma compreensão hodierna da crisma, que mais corresponde aos fatos históricos. Pois a crisma se desenvolveu a partir da imposição das mãos e da unção pelo bispo como último ato da liturgia batismal da igreja antiga. Esse ato era, como o selo impresso num documento, a ‘selagem’, a confirmação do evento batismal. Exatamente isso poderia valer também a partir da compreensão hodierna de batismo e crisma como elementos de iniciação: a crisma é a selagem, ratificação, aperfeiçoamento do batismo, o que é preciso aperfeiçoar no batismo de- pende da situação concreta: no caso daqueles que foram batizados como adultos, a crisma sublinha especialmente o aspecto de pertença à igreja no sentido pleno, com todos o testemunho; no caso daqueles que foram batizados como crianças menores, a crisma realizada na idade adulta se torna, adicionalmente, um sinal da decisão de fé pessoal. Em todos esses aspectos, acontece o dom do Espírito, que, por sua vez, é o conteúdo central do evento batismal (SCHNEIDER, 2002, p. 239). Verdade é que os cristãos já receberam o Espírito Santo no Batismo, “renascendo pela água e pelo Espírito” (Jo 3, 5); na Confirmação recebem-no em vista de novo efeito, ou seja, para exercer a militância cristã com fidelidade. Jesus mesmo, ao prometer o Espírito Santo, realçava os efeitos de coragem e decisão que o dom Confirmação Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 117 de Deus suscitaria nos discípulos: “Quando vos conduzirem... perante os prin- cipados..., não vos preocupeis: o Espírito Santo vos ensinará naquele momento o que havereis de dizer” (Lc 12, 12). Ou ainda: “Recebereis a força do Espírito Santo e sereis minhas testemunhas... até os confins da terra” (At 1, 8). Assim, o sacramento da Crisma deve ser proporcionalmente, para cada cristão, o que Pentecostes foi para os Apóstolos: aprofundamento da fé, nova compreensão do plano de Deus, e compromisso mais coerente com o Senhor Jesus. A Confirmação completa a graça batismal; ela é o sacramento que dá o Es- pírito Santo, para nos enraizar mais profundamente na filiação divina, in- corporar-nos mais solidamente em Cristo, tornar mais firme o laço que nos prende à Igreja, associar-nos mais à sua missão e ajudar-nos a dar testemu- nho da fé cristã pela palavra, acompanhada de obras. A Confirmação, tal como o Batismo, imprime na alma do cristão um sinal espiritual ou carácter indelével; é por isso que só se pode receber este sacra- mento uma vez na vida. No Oriente, este sacramento é administrado imediatamente a seguir ao Ba- tismo e é seguido da participação na Eucaristia; esta tradição põe em rele- vo a unidade dos três sacramentos da iniciação cristã. Na Igreja latina, este sacramento é administrado quando se atinge a idade da razão e ordinaria- mente a sua celebração é reservada ao bispo, significando assim que este sacramento vem robustecer o vínculo eclesial. Fonte: Catecismo da Igreja Católica (1983, par. 1316-1318) Você recebeu o Espírito Santo no Batismo, e na Crisma irá receber a plenitu- de dos seus dons. (Monsenhor José Carlos) OS SACRAMENTOS DA INICIAÇÃO CRISTà Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IVU N I D A D E118 EUCARISTIA Abordaremos o centro da linha sacramental, a Eucaristia, na qual distinguimos dois aspectos: o do Sacrifício e o do Sacramento. A Eucaristia só é sacramento porque é a perpetuação do sacrifício do calvário sobre os nossos altares. A Eucaristia é a celebração central da Igreja. Na verdade, a Igreja não celebra a si mesma, e, sim, a história a que ela se deve, a esperança que a anima, a vinda do Senhor, por meio da qual ela se deixa transformar; no entanto, nessa celebração ela representa, ao mesmo tempo, o que ela é ou o que ela deveria ser: uma comunidade que dá testemunho de Jesus Cristo e do reino de Deus por ele anunciado, que tenta viver esse testemunho no serviço ao próximo e que representa simbolicamente, na celebração da liturgia, ambas as coisas, o testemunho da palavra e o tes- temunho da ação. Da liturgia faz parte tanto o anúncio da Palavra quan- to o partir do pão. Assim a Eucaristia também é imagem para a Igreja, embora aponte para muito além disso (SCHNEIDER, 2002, p. 270). A ceia eucarística, como ceia sacrificial, implica a comunhão com a vítima ofe- recida; por conseguinte, ela nos oferece o sacramento do Cristo Eucarístico. O pão e o vinho consagrados são consumidos pelos fiéis em estado de graça (não Eucaristia Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 119 A Eucaristia é fonte e cume de toda a vida cristã. Os restantes sacramentos, assim como todos os ministérios eclesiásticos e obras de apostolado, estão vinculados com a sagrada Eucaristia e a ela se ordenam. Com efeito, na san- tíssima Eucaristia está contido todo o tesouro espiritual da Igreja, isto é, o próprio Cristo, nossa Páscoa. A comunhão de vida com Deus e a unidade do povo de Deus, pelas quais a Igreja é o que é, são significados e realizados pela Eucaristia. Nela se encontra o cume, ao mesmo tempo, da ação pela qual Deus, em Cristo, santifica o mundo, e do culto que no Espírito Santo os homens prestam a Cristo e, por Ele, ao Pai. Enfim, pela celebração eucarística, unimo-nos desde já à Liturgia do céu e antecipamos a vida eterna, quando Deus for tudo em todos (1 Cor 15, 18). Em síntese, a Eucaristia é o resumo e a súmula da nossa fé: a nossa maneira de pensar está de acordo com a Eucaristia: e, por sua vez, a Eucaristia confir- ma a nossa maneira de pensar. Fonte: Catecismo da Igreja Católica (1983, par. 1324-1327). se deve comungar em pecado grave, sob pena de sacrilégio), a fim de que possam ser mais e mais configurados a Cristo; a Eucaristia é o penhor da ressurreição de nossos corpos mortais, pois coloca dentro deles o corpo de Cristo que ven- ceu a morte e nos é entregue glorioso (Cristo está presente na Eucaristia como Ele está no céu). Além de consumida na comunhão, a Eucaristia é guardada nos sacrários das igrejas para favorecer a adoração e piedade dos fiéis, que, muito louvavelmente, costumam visitar o SS. Sacramento. Os teólogos têm perguntado como pode Cristo estar presente sob as espé- cies (ou a figura) do pão e do vinho. E respondem recorrendo ao conceito de transubstanciação, que passamos a Expor. Portamos das noções de subtônica e acidentes tais como o bom senso no-las sugere. Em todo ser, podemos distinguir um conjunto de notas mutáveis, como o tamanho, a cor, o peso, o sabor... e um substrato permanente que, conservando- -se sempre o mesmo, dá unidade e coesão ao sujeito manifestado por suas notas variáveis, ou seja, por seus acidentes. Esse substrato é chamado substância (o que OS SACRAMENTOS DA INICIAÇÃO CRISTà Reproduçãoproibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IVU N I D A D E120 sub-está, o que suporta). Em qualquer pedaço de pão, por conseguinte, há um con- junto de notas acidentais, como a cor, as dimensões, a posição no espaço..., notas que podem sobrevir e desaparecer em uma substância que as sustenta; esta subs- tância, ninguém a vê como tal, pois só pode ser apreendida por meio das notas acidentais que dão a configuração eterna a tal pedaço de pão; a substância, porém, é uma realidade que se impõe ao raciocínio. Pois bem, quando as palavras da consagração são pronunciadas sobre o pão, a subs- tância deste se converte totalmente em substância do corpo humano de Jesus (donde o nome “transubstanciação”); ficam, porém, os acidentes ou as notas externas do pão; sendo assim, sem mudar de aparência, o pão já não é pão, mas é substancialmente o Corpo de Cristo. Análogo fenômeno se dá com o vinho ao serem pronunciadas sobre ele as palavras da consagração; sua substância se converte na do Sangue de Senhor. Não há dúvida, temos aqui uma extraordinária intervenção da Onipotência Divina. Na celebração litúrgica da Eucaristia, Jesus Cristo está presente de di- versas maneiras como aquele que convida para sua mesa, como aquele que concede participação em seu destino e, por fim, como aquele que para se comunicar pessoalmente escolhe uma forma concreta e corpó- rea: oferece pão e vinho, aos quais atribui um novo significado, a saber, de serem sinal dele próprio, de modo que aqueles que recebem as dádi- vas eucarísticas recebem-no em pessoa. Na história da teologia, a pergunta de como Jesus Cristo está presente nes- sas dádivas atraiu cada vez mais a atenção sobre si. Ponto de partida são as palavras de Jesus na Santa Ceia, ‘Isto é meu corpo’, palavras que não rece- bem uma interpretação direta no Novo Testamento (FABER, 2008, p. 156). Esta concepção explica como o corpo de Cristo possa simultaneamente estar pre- sente em diversas hóstias consagradas em muitas regiões. Com efeito, Jesus não está presente na Eucaristia segundo as suas notas acidentais (entre as quais se enumera a localização no espaço), mas segundo as notas acidentais do pão. Ora, já que os fragmentos de pão se multiplicam com a sua localização própria no espaço, vê-se que, onde quer que haja um pedaço de pão consagrado, aí pode estar, e de fato está, o Corpo Eucarístico de Cristo. Estas ideias explicam também que o Corpo de Cristo não se divida quando se divide a hóstia consagrada. O Corpo de Cristo sob os acidentes do pão não tem extensão nem quantidade próprias; por conseguinte, não se pode dizer que tal fragmento da hóstia corresponda a tal parte do corpo de Cristo; quando o pão é partido, só se parte a quantidade do pão, não o corpo mesmo de Jesus. Eucaristia Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 121 Jesus diz: Eu sou o pão vivo descido do céu. Quem comer deste pão viverá eternamente. Quem come a minha carne e bebe o meu sangue tem a vida eterna, permanece em Mim, e Eu nele (Jo 6, 51.54.56). A Eucaristia é o coração e o cume da vida da Igreja, porque nela Cristo asso- cia a sua Igreja e todos os seus membros ao seu sacrifício de louvor e de ação de graças, oferecido ao Pai uma vez por todas na cruz; por este sacrifício, Ele derrama as graças da salvação sobre o seu Corpo, que é a Igreja. A celebração eucarística inclui sempre: a proclamação da Palavra de Deus, a ação de graças a Deus Pai por todos os seus benefícios, sobretudo pelo dom do seu Filho, a consagração do pão e do vinho e a participação no banquete litúrgico pela recepção do Corpo e do Sangue do Senhor. Estes elementos constituem um só e mesmo ato de culto. A Eucaristia é o memorial da Páscoa de Cristo, isto é, da obra do salvação realizada pela vida, morte e ressurreição de Cristo, obra tornada presente pela ação litúrgica. Fonte: Catecismo da Igreja Católica (1983, par. 1406-1409). Assim muitas hóstias não constituem muitos Cristos, o que seria absurdo, mas muitas “presenças” de um só e mesmo Cristo. Analogicamente a multiplicação dos espelhos não multiplica o objeto original, mas multiplica a presença desse objeto; também a multiplicação dos ouvintes de uma sinfonia não multiplica essa sinfonia, mais apenas a presença dela. À luz de quanto acaba de ser dito, entende-se também que, quando se desgasta o pão eucarístico por efeito do tempo ou dos sucos digestivos, o que se estraga são apenas os acidentes do pão: quantidade, cor, figura, sabor (estes acidentes é que são atingidos pela deterioração); quanto ao corpo de Cristo, simplesmente deixa de estar presente sob os véus eucarísticos, desde que estes sofram altera- ções tais que, segundo o bom senso, não possam mais ser identificados como tais. A real presença de Cristo no pão consagrado exige que se recolham os frag- mentos deste decorrentes da celebração da Eucaristia ou da distribuição da Comunhão. Cristo neles está presente enquanto, segundo o bom senso, tais par- tículas podem ser identificadas como pão. OS SACRAMENTOS DA INICIAÇÃO CRISTà Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IVU N I D A D E122 O sinal básico desse sacramento é a comunhão de mesa: pão e vinho são repartidos, a palavra interpretativa fala da última ceia de Jesus e convida: ‘Tomais, comei, (...) bebei!’ (Mt 26, 26s). A Eucaristia cristã, a ‘Ceia do Senhor’ (1Cor 11, 20), tem sua origem no cear em Israel, que une os participantes entre si e com Deus; nas ceias de Jesus com os discípulos, que eram sinais realizadores de seu convite para o reino de Deus e de sua pró-existencia (sua existência a favor de outros); na últi- ma ceia de Jesus, na qual sua pró-existencia em face da morte iminente se condensou na entrega extrema e na experiência de seu ressuscita- mento e de sua nova vinda, que os discípulos fizeram ‘ao partir do pão’ (Lc 24,35). Desde a aliança do Sinai até a congregação da comunidade na experiência pascal a Ceia sempre é sinal da aliança: A aliança de Deus com os homens se realiza quando homens se aliam entre si. No comer e beber em comum se recebe a vida, celebra-se a aliança que possibilita vida (SCHNEIDER, 2002, p. 262). Sendo a Missa o ato central da vida cristã, compreende-se que cada fiel esteja obrigado a participar dela ao menos no sábado à tarde ou no domingo (além dos dias santos de preceito). Este dever não é meramente jurídico, mas é, antes do mais, uma exigência natural e vital para o cristão que compreendeu o que é a Eucaristia. Não é lícito substituir a Missa dominical pela de um dia da semana, pois o domingo é o dia do Senhor por excelência, em que o cristão procura dar glória a Deus, revigorar-se interiormente. Caros alunos, vimos nesta unidade como Deus age nos sacramentos e tam- bém conhecemos de forma mais aprofundada os três sacramentos que compõe a iniciação cristã: Batismo, Confirmação e Crisma. Esses sacramentos são essen- ciais para um cristão católico, tendo como centro de sua vida eclesial a Eucaristia. Santa Teresa D’Ávila (1515-1582), doutora da Igreja: “Devemos estar na presença de Jesus Sacramentado, como os Santos no céu, diante da Essência Divina”. Fonte: Aquino (2014, on-line)1. Eucaristia Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 123 CONSIDERAÇÕES FINAIS Nos primeiros séculos, a Fé ainda não se encontrava totalmente formulada em dogmas, e é bem provável que alguns elementos da instituição sinagogal foram reproduzidos pelas primeiras comunidades cristãs para efetivar a transmissão de ensinamentos e o aprofundamento da fé em Jesus Cristo. Aqueles que aderem a Jesus Cristo pela fé e se esforçam por consolidar essa fé na catequese, têm necessidade de viver em comunhão com outros que deram o mesmo passo. As comunidades apostólicas orientavampara o batismo, visto como o primeiro passo do indivíduo em direção a uma maior união com Jesus Cristo Salvador, e que pedia aos cristãos vida comunitária, e testemunho de fé. O centro da primeira pregação, o anúncio evangélico, foi o mistério pascal. Além da pregação inicial, a comunidade que se iniciava preocupava-se logo com a Educação para a fé; a mensagem da catequese primitiva é a mesma mensagem do NT, os quatro evangelhos e também os outros escritos cristãos mais antigos. Neste contexto, teve início a institucionalização do catecumenato uma fru- tuosa e eficaz forma de evangelização para firmar de maneira definitiva a fé, a ponto de testar sua permanência no cristianismo, pois vinham de um mundo pagão. Tal comunicação era tarefa da comunidade, o bispo instruía oficialmente sendo o catequista, e a função da comunidade era apoiar com o testemunho. Aqueles que desejavam tornarem-se cristãos eram levados por vários irmãos, introdutores que o acompanhavam para garantir perante a comunidade as boas intenções do candidato, estes que o acompanhavam eram chamados padrinhos. Guiavam e controlavam a mudança de vida dos candidatos até que o bispo os chamasse para que se preparassem para o batismo, passavam então a serem cha- mados catecúmenos. Entendia-se que esse tempo servia para a penetração progressiva da pala- vra de Deus na mente e na vida dos catecúmenos, transcorrido esse tempo os catecúmenos se apresentavam para os sacramentos do Batismo, Confirmação e Eucaristia. OS SACRAMENTOS DA INICIAÇÃO CRISTà Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IVU N I D A D E124 125 1. Todos os sacramentos são formados por matéria e forma, assim como Jesus Cristo, o Verbo Encarnado, Fórmula é o Verbo de Deus e a matéria o corpo ma- terial de Jesus, nos sacramentos as matérias são: água, pão, Vinho, óleo, ges- tos... e a forma são as palavras ditas na hora da realização dos sacramentos, que são proferidas sobre a matéria, explicitando o significado dela: “Isto é o meu corpo... meu sangue... Eu te batizo... “São sete os sacramentos: Batismo, Crisma, ou Confirmação, Eucaristia, Reconciliação, ou penitência, Unção dos Enfermos, Ordem e Matrimônio. Com base no estudo sobre sacramentos, assinale a alter- nativa correta: a) Todo Sacramento é apenas um rito de passagem instituído pela Igreja. b) Todo Sacramento é eficaz porque é realizado pelo próprio Cristo. c) Para realizar um sacramento, precisa apenas a fórmula, por exemplo, “eu te batizo!” d) Para realizar um sacramento, apenas é necessário a matéria como a água no batismo. e) Nenhuma alternativa anterior está correta. 2. O nome Batismo vem do grego baptizein, mergulhar. Antigamente era admi- nistrado por imersão dentro de um rio ou piscina, significando a participação na morte e ressurreição de Cristo. É o que S. Paulo explica enfaticamente em Rm 6, 2-10; Cl 2, 11-13. O cristão morre sacramentalmente para o pecado; o “velho homem” é imerso ou sepultado com Cristo, e recebe um princípio de vida nova ou de filho de Deus. Com base no estudo sobre Batismo, assinale a alternativa correta: a) Para acontecer o Batismo, é preciso fazer o mergulho. b) O Batismo é apenas ingresso na comunidade. c) O Batismo não me torna filho de Deus, uma vez que já fui criado por Ele! d) O Batismo é só em nome de Cristo e da Trindade. e) Nenhuma alternativa anterior está correta. 3. Atualmente, por razões práticas, o Batismo é administrado mais frequente- mente por infusão (ou derramamento) da água do que por imersão. Com base na compreensão do Sacramento do Batismo, analise as questões: 126 I. A Prática da infusão não é certa para o batismo, pois o que importa é imer- são total na água. II. A Prática da infusão não afeta a validade do rito, pois não é a quantidade de água que importa. III. Podemos batizar por imersão ou infusão sem nenhum problema. IV. A Prática da Imersão é tão correta como a prática da infusão. V. O batismo tem que ser em um rio de água corrente. Assinale a alternativa correta: a) Apenas I e II estão corretas. b) Apenas II e III estão corretas. c) Apenas I está correta. d) Apenas II, III e IV estão corretas. e) Nenhuma das alternativas anteriores está correta. 4. Nos primeiros séculos, a Confirmação constitui geralmente uma única celebra- ção com o Batismo, formando com ele, segundo a expressão de São Cipriano, um sacramento duplo. Entre outras razões, a multiplicação dos batismos de crianças, e isto em qualquer tempo do ano, e a multiplicação das paróquias (rurais), ampliando as dioceses, deixaram de permitir a presença do bispo em todas as celebrações batismais. Com base no Sacramento da Confirmação ou Crisma, assinale V para as questões Verdadeiras e F para as questões Falsas: ( ) No Ocidente, porque se desejava reservar ao bispo o completar do Baptis- mo, instaurou-se a separação, no tempo, dos dois sacramentos. ( ) A Prática da Crisma não deveria ser Sacramento, pois não temos base bíblicas. ( ) O Oriente conservou unidos os dois sacramentos, de tal modo que a Con- firmação é dada pelo sacerdote que batiza. Este, no entanto, só o pode fazer com o myron consagrado por um bispo. ( ) Crisma e Batismo não estão ligados. ( ) Atualmente para Crisma é usado o Óleo do Crisma e a imposição de mãos. 127 É correto: a) V, V, V, F, V. b) V, F, V, F, V. c) F, V, F, V, F. d) V, F, F, V, V. e) F, F, V, V, F. 5. A Eucaristia é fonte e cume de toda a vida cristã. Os restantes sacramentos, assim como todos os ministérios eclesiásticos e obras de apostolado, estão vinculados com a sagrada Eucaristia e a ela se ordenam. Com efeito, na santís- sima Eucaristia está contido todo o tesouro espiritual da Igreja, isto é, o próprio Cristo, nossa Páscoa. Com base nos estudos sobre o Sacramento da Eucaristia, assinale a alternativa correta: a) A Eucaristia é realmente o Corpo de Cristo, pois ele mesmo disse: “Isto é meu corpo” e ordenou “Fazei isto em minha memória”. b) A Eucaristia é apenas um símbolo do Corpo de Cristo. c) Jesus ao dizer: “Isso é meu corpo” apenas sinalizou para a partilha. d) A Eucaristia é apenas lembrança do Corpo de Cristo. e) Nenhuma alternativa anterior está correta. 128 A IMPORTÂNCIA DOS SACRAMENTOS DA “INICIAÇÃO CRISTÔ NA IGREJA A iniciação à vida cristã tem um dinamismo próprio, que nos vem da antiga tradição da Igreja e que tanto necessitamos hoje. A nossa Arquidiocese tem um trabalho já há um bom tempo sendo construído e aprofundado. No passado, tínhamos a preparação para os Sacramentos, agora a ênfase é a vida cristã, porém sempre é importante, nestes momentos de definição, aprofundarmos um pouco sobre os Sacramentos ligados à Iniciação Cristã. É bom recordar a importante definição teo- lógico-linguística do termo Sacramento de acordo com a explanação feita pela Igreja: “A palavra grega mysterion foi traduzida, no latim, por dois termos: mysterium e sacra- mentum. Na segunda interpretação, o termo sacramentum exprime prevalentemente o sinal visível da realidade oculta da salvação, indicada pelo termo mysterium. Neste sen- tido, o próprio Cristo é o mistério da salvação: ‘Nem há outro mistério senão Cristo’ (Santo Agostinho. Epistulale 187, 11, 34: Patrolo- gia Latina 33, 845). A obra salvífica da sua humanidade santa e santificadora é o sacra- mento da salvação, que se manifesta e atua nos sacramentos da Igreja (que as Igrejas do Oriente chamam também ‘os santos misté- rios’). Os sete sacramentos são os sinais e os instrumentos pelos quais o Espírito Santo derrama a graça de Cristo, que é a Cabeça, na Igreja, que é o seu Corpo. A Igreja pos- sui, pois, e comunica a graça invisível que significa: e é neste sentido analógico que é chamada ‘sacramento’” (CATECISMO DA IGREJA CATÓLICA, 1983, par. 774). Como se vê, podemos formular a seguinte interpretação do conteúdo sacramental na vida eclesial: ele é um sinal (semeion, em grego) eficiente que realiza aquilo que sig-nifica ou assinala. Desse modo, teríamos uma importante definição: a santíssima Humanidade de Cristo é o sinal eficiente ou transmissor da graça divina; a Igreja, Seu Corpo Místico prolongado na Histó- ria (cf. Cl 1,24) também o é. Ora, a Liturgia dessa mesma Igreja continua essa função com seus ritos sagrados, oferecendo aos fiéis sete canais da graça divina a nos levar à vida eterna, à qual todos somos chama- dos, dado sermos filhos no Filho (cf. Gl 4,5). Eis, porque podemos fazer um esquema de quanto foi dito: Vida Eterna → Jesus Cristo → Igreja → Sete Sacramentos → Graça San- tificante → Cristão. Importa, aliás, a propósito da eficácia – e não do mero simbolismo – sacramental, recordar Tertuliano (falecido em 220 aproximada- mente), ao escrever sobre o Batismo e a Eucaristia, em vista da ressurreição do corpo e da alma no último dia (cf. Jo 6, 40), que “A carne é o eixo da salvação... Lava-se o corpo a fim de que a alma seja purificada; unge-se o corpo a fim de que a alma seja consagrada... O corpo é nutrido pelo Corpo e Sangue de Cristo, a fim de que a alma se alimente de Deus... Não podem, pois, ser separados na recompensa, já que estão unidos nas obras de salvação”. (Sobre a Ressurreição da Carne 8, Patrologia Latina 2, 852) Os sacramentos não representam apenas, mas efetuam ou realizam aquilo que sig- 129 nificam, uma vez que a Palavra de Deus é viva e eficaz, de modo que, no plano sal- vífico, a palavra proclama o feito divino e o feito confirma essa palavra. Daí se poder afirmar que temos a Palavra → Feito e, em contrapartida complementadora, o Feito → Palavra. Daí se entender que o contato do cristão com Cristo, o Mestre, não se dá como em uma escola de Filosofia da Anti- guidade ou de qualquer outra época, de modo apenas psicológico ou afetivo. Ao contrário, é uma união ontológica (do ser): o cristão é tocado, diretamente, por Cristo por meio dos sete sacramentos da Igreja, trans- missores da graça divina a cada homem e mulher de todos os tempos e lugares. Isso é o que nos ensina a propósito da rela- ção Palavra e Feito, o Concílio Vaticano II: “Esta ‘economia’ da revelação realiza-se por meio de ações e palavras intimamente rela- cionadas entre si, de tal maneira que as obras, realizadas por Deus na história da salvação, manifestam e confirmam a dou- trina e as realidades significadas pelas palavras; e as palavras, por sua vez, decla- ram as obras e esclarecem o mistério nelas contido. Porém, a verdade profunda tanto a respeito de Deus como a respeito da sal- vação dos homens, manifesta-se-nos, por esta revelação, em Cristo, que é, simultane- amente, o mediador e a plenitude de toda a revelação” (Constituição Dei Verbum, n. 2). Isso posto, convém que digamos uma pala- vra a propósito da ação dos Sacramentos na Igreja. Ela ensina que todo sacramento age ex opere operato, ou seja, por efeito próprio ou do rito em si, de modo que independe da santidade do ministro humano aplica- dor do rito. Em outras palavras, cada um dos sete sacramentos age por força própria, porque é Cristo, o ministro principal, a agir garantindo a autenticidade do rito, desde que nesse rito sejam utilizadas a matéria e a forma própria (na Eucaristia, a matéria é o pão e o vinho e a forma a repetição das palavras do Senhor na última Ceia). Por aí vemos que Cristo age nos sacramen- tos não obstante a indignidade, maior ou menor, do ministro que O representa. O pecado ou a infidelidade do ministro não afetam a validade do sacramento. Por exem- plo, um sacerdote pouco digno que celebre a Eucaristia, sendo validamente ordenado, aplicando a matéria e a forma apropriadas e tendo a intenção de fazer o que fez o Senhor Jesus, celebra de modo válido para o bem do Povo de Deus. Certo é que se espera do ministro ordenado que aja como tal e não à moda de um mero funcionário do sagrado e sem fé. Deve ele ter os mesmos sentimentos de Cristo (cf. Fl 2, 5). Todavia, esse aspecto pessoal do ministro não invalida o sacra- mento, conforme já apontava São Tomás de Aquino na Suma Teológica III, q. 6, at. 4. Com os sacramentos – que não dependem de forças tão somente humanas, mas da ação divina – não há dispensa do receptor de ter boas disposições a fim de que a graça recebida dê frutos. Quem recebe um sacra- mento em estado objetivo de pecado, além de não alcançar a graça daquele sacramento, ainda comete mais um pecado, o do sacrilé- gio, como lembra o Apóstolo Paulo no que concerne à Eucaristia (cf. 1Cor 11,29). Diante desse quadro é que importa, e muito, a reflexão sobre a iniciação à vida cristã, que sejamos ajudados pela compreensão dos três sacramentos – canais da graça divina: o Batismo, a Crisma e a Eucaristia. Fonte: ArqRio (2017, on-line)2. MATERIAL COMPLEMENTAR Manual de Liturgia III. A celebração do mistério pascal. Os sacramentos: sinais do mistério pascal Conselho episcopal latino-americano Editora: Paulus Sinopse: os sacramentos são os sinais sensíveis produtores da graça, instituídos por Jesus Cristo como auxiliares indispensáveis para a pessoa conseguir a salvação eterna. Por isso é de fundamental importância a todo cristão e aos candidatos ao ministério presbiteral especialmente penetrar no verdadeiro valor e significado de cada um dos sacramentos. O volume III da série Manual de Liturgia, fruto do trabalho de renomados liturgistas latino- americanos, aborda os sete sacramentos cristãos, analisando-os a partir da perspectiva da iniciação cristã (Batismo - começo da vida nova; Confirmação - sua consolidação; Eucaristia - alimento do discípulo de Cristo), do mistério eucarístico (Eucaristia - comunhão de vida com Deus e unidade do povo de Deus), dos sacramentos de cura (Penitência e Unção dos enfermos - continuação da obra de cura e salvação de Cristo) e do serviço (Ordem e Matrimônio - destinam-se à salvação dos outros, por meio do serviço à comunidade). Site da Cléofas (Doutrina Católica) O Site da Cléofas é muito útil para formação cristã, rico em texto e documentário sobre a doutrina Católica e, por conseguinte, sobre os sacramentos. Vale a pena visitar e ler os textos. Web: <http://cleofas.com.br/que-papel-tem-os-sacramentos-na-vida-da-igreja/> REFERÊNCIAS 131 BÍBLIA de Jerusalém. Paulus: São Paulo, 2002. CATECISMO da Igreja Católica. São Paulo: Loyola, 1983. CELAM - Conselho Episcopal Latino-Americano. Manual de Liturgia III. A celebra- ção do mistério pascal. Os sacramentos: sinais do mistério pascal. São Paulo: Paulus, 2005. FABER, E-M. Doutrina Católica dos Sacramentos. São Paulo: Loyola, 2008. SCHNEIDER, T. Manual de Dogmática. Vl II. Petrópolis: Vozes, 2002. Referências On-Line 1 Em: <http://cleofas.com.br/o-que-os-santos-disseram-da-eucaristia-e-da-mis- sa/>. Acesso em: 12 jun. 2018. 2 Em: <http://arqrio.org/formacao/detalhes/1740/a-importancia-%20dos-sacra- mentos-da-iniciacao-crista-na-igreja>. Acesso em: 12 jun. 2018. GABARITO 1. B. 2. E. 3. D. 4. B. 5. A. GABARITO U N ID A D E V Professor Dr. André Phillipe Pereira OS SACRAMENTOS DE CURA E SERVIÇO Objetivos de Aprendizagem ■ Compreender e teologia do sacramento da reconciliação. ■ Conhecer o Sacramento da Unção dos Enfermos. ■ Analisar o Sacramento do Matrimônio. ■ Compreender a estrutura do Sacramento da Ordem. Plano de Estudo A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade: ■ O Sacramento da Reconciliação ■ O Sacramento da Unção dos Enfermos ■ O Sacramento da Ordem ■ O Sacramento do Matrimônio INTRODUÇÃO Nesta unidade, estudaremos os últimos quatro sacramentos. Apenas para relem- brarmos, a Igreja Católica crê na existência bíblica de sete sacramentos: Batismo, Eucaristia, Crisma, Confissão, Unção dos enfermos, Matrimônio e a Ordem. Os sacramentos, ações de Deus para a humanidade, acompanham o desenvolvimento e toda a vida do ser humano. Nesta unidade, portanto, refletiremos sobre os sacra- mentos da cura e do serviço, buscando compreender suas origens e objetivos.O perdão dos pecados é uma prática que existe desde Antigo Testamento, feita através de sacrifícios expiatórios. Nosso Senhor Jesus Cristo mostra que é Deus quem perdoa os pecados. Ele mesmo, para curar muitas pessoas enquanto estava em nosso meio, perdoou os pecados devolvendo a dignidade para as pes- soas. Assim, os primeiros cristãos entenderam o perdão dos pecados, sendo uma ação salvífica de Deus para nos deixar sempre em estado de graça. Na confissão, apesar de nos confessarmos a um sacerdote, cremos que é Cristo que, agindo no sacerdote, perdoa os pecados. O sacramento da unção dos enfermos faz memória de Cristo que comparti- lha o sofrimento físico e moral do ser humano, quando encarnado experimenta cansaço, fome, sede, agonia e a morte, e morrendo restitui a vida, ou seja, os laços com Deus que o pecado em Adão nos fizera perder. Jesus nos ensina que o sofrimento com fé e confiança em Deus tem uma ação salvífica, pois, se sofre- mos, Ele mesmo sofre conosco e nos dá o alento da salvação. Os dois últimos sacramentos, o Matrimônio e a Ordem, expressam o ser- viço ao reino de Deus. São ações salvíficas de Deus também, para nos ajudar a assumir nossa vocação e colaborarmos na construção do Reino de Deus e, assim, são sacramentos que nos ajudam com muita eficácia a fazer a vontade de Deus, uns como Diáconos, Sacerdotes e Bispos e outros como Casados, constituindo famílias que amam a Deus e testemunham, em meio à sociedade em suas ativi- dades, o amor de Deus por nós e as maravilhas da fé cristã no mundo. Introdução Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 135 O SACRAMENTO DA RECONCILIAÇÃO Caros alunos, iniciamos com essa unidade a refletir sobre os Sacramentos da Cura. Esta unidade, desta maneira, trabalhará na busca de uma aprofundamento sobre a reconciliação sendo o próximo ponto sobre a unção dos enfermos. O cristão, conforme o ensinamento de São Paulo, “porque a nossa leve e momentânea tribulação produz para nós um peso eterno de glória mui exce- lente” (BÍBLIA, 2 Cor 4, 17), é portador de um tesouro em vaso de argila, está sujeito a falhas durante a sua caminhada. Daí a necessidade dos dois sacra- mentos de cura: a Reconciliação, para qualquer situação de pecado, e a Unção dos Enfermos, para os momentos de grave moléstia ou debilidade física. Nesta unidade, iniciaremos com o estudo do sacramento da Reconciliação. O Evangelho, mediante a conhecida parábola do filho pródigo (BÍBLIA, Lc 15, 11-32), ensina que não há pecados que não possam ser per- doados. O jovem que voltou à casa paterna depois de haver esbanjado a sua porção de herança foi recebido de braços abertos pelo pai, logo que reconheceu suas faltas. Bastou-lhe dizer, sinceramente arrependido: “Pai, pequei contra o céu e con- tra ti” (15, 21s), para que o pai lhe calasse a boca, sem lhe perguntar onde estivera e o que fizera com a porção de sua herança; imediata- mente mandou colocá-lo no lugar que lhe competia antes que dei- xara a casa paterna; houve festa por ocasião do retorno do filho que se perdera e voltara vivo (cf. BÍBLIA, Lc 15, 24.32). OS SACRAMENTOS DE CURA E SERVIÇO Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. VU N I D A D E136 A parábola do filho pródigo é, antes de mais, a história inefável do grande amor de um Pai — Deus — que oferece ao filho, que a Ele retor- na, o dom da reconciliação plena. E ao evocar, na figura do irmão mais velho, o egoísmo que divide os irmãos entre si, ela torna-se também a história da família humana: mostra a nossa situação e indica o caminho a percorrer (João Paulo II, Exortação sobre Reconciliação e Penitência nº 6, 1984). São paralelas a esta parábola as da ovelha perdida e da moeda perdida (Lc 15, 1-10). O Evangelho acrescenta algo sobre a maneira como o Pai quer perdoar os pecados dos homens. Com efeito, vejamos o seguinte texto: na noite de Páscoa, Jesus apareceu aos Apóstolos reunidos e disse-lhes: ‘Assim como o Pai me enviou, eu também vos envio’. A seguir, soprou- -lhes na face e continuou: “Recebei o Espírito Santo. Àqueles a quem perdoardes os pecados, serão perdoados. A quem os retiverdes, serão retidos” (BÍBLIA, Jo 20, 22s). Estas palavras nos ajudam a compreender que os Apóstolos, não por efeito de sua santidade própria, mas em consequência de um dom de Deus — “Recebei o Espírito Santo” —, são habilitados a perdoar os pecados. A sentença proferida pelos Apóstolos é confirmada pelo próprio Deus. As formas passivas “Serão perdoadas” e “Serão retidos” são expressões que os judeus usavam para não proferir o santo nome de Javé nas expressões “Javé os perdoará” e “Javé não os perdoará ou os reterá”. O Sacramento da Reconciliação Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 137 I. Como se chama este sacramento? 1423. Sac. da conversão, porque realiza sacramentalmente o apelo de Jesus à conversão e o esforço de regressar à casa do Pai da qual o pecador se afas- tou pelo pecado. Sac. da Penitência, porque consagra uma caminhada pessoal e eclesial de conversão, de arrependimento e de satisfação por parte do cristão pecador. 1424. Sac. da confissão, porque o reconhecimento, a confissão dos pecados perante o sacerdote é um elemento essencial deste sacramento. Num sen- tido profundo, este sacramento é também uma confissão, reconhecimento e louvor da santidade de Deus e da sua misericórdia para com o homem pecador. Sac. do perdão, porque, pela absolvição sacramental do sacerdote. Deus concede ao penitente o perdão e a paz. Sac. da Reconciliação, porque dá ao pecador o amor de Deus que reconci- lia: Deixai-vos reconciliar com Deus (2 Cor 5, 20). Aquele que vive do amor misericordioso de Deus está pronto para responder ao apelo do Senhor: Vai primeiro reconciliar-te com teu irmão (Mt 5, 24). Fonte: adaptado de Catecismo da Igreja Católica (1983, on-line)1. OS SACRAMENTOS DE CURA E SERVIÇO Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. VU N I D A D E138 Trata-se, no entanto, de perdoar pecados propriamente ditos, faculdade esta que os israelitas atribuíam a Deus só. “Sim; Jesus disse ao paralítico: ‘Os teus peca- dos te são perdoados’” (BÍBLIA, Lc 5, 20). Declarou também à pecadora anônima: “Perdoados te são os teus pecados” (BÍBLIA, Lc 7, 48). Ora em Jo 20, 23 diz o Senhor: “Àqueles a quem perdoardes os pecados, serão perdoados”. Nos três casos, a palavra perdoar traduz o verbo grego aphíemi; as palavras ‘os pecados’ traduzem o substantivo hamaníai (com o artigo definido hai ou tas). Vê-se que as mesmas palavras de Lc 5, 20 e 7, 48 vol- tam em Jo 20, 23. Ora, como naqueles casos se tratava de pecados propriamente ditos relacionados com a consciência da pessoa interpelada, assim, em Jo 20, 23 trata-se também de pecados no sentido estrito da palavra ou de culpas atinen- tes à consciência. Donde se deduz que um poder próprio de Deus (“Quem pode perdoar os pecados senão Deus?”, Lc 5, 21; “Quem é este que até perdoa peca- dos?”, Lc 7, 4) é concedido aos ministros do Senhor. Aquilo que Jesus fazia por si quando peregrino na terra, Ele havia de continuar a fazê-lo depois de glorifi- cado mediante o serviço dos seus ministros. Temos um provável testemunho de que este serviço era realmente executado já no século I, em Mt 9, 8. Com efeito, depois que Jesus perdoou os pecados do paralítico, “as multidões glorificaram a Deus, que deu tal poder aos homens”. O plural aos homens parece ser o sinal de que S. Mateus pensava nos ministros da Igreja, que haviam recebido de Jesus tal poder e o punham em prática. A regra disciplinar de Mateus 18,15-17 dá testemunho da prática do perdão dos pecados na Igreja. Prevê para o caso de transgressão de um membro da igreja contra as normas fundamentais, vigentes na igreja,um procedimento de três etapas: primeiramente um diálogo a sós com outro membro da igreja; depois, em caso de desacordo, um segundo diálogo mediante recurso a uma ou duas testemunhas. Se esse empenho em prol do pecador for infrutífera, a igreja toda deverá ser confrontada com o caso. Se a correção rejeitada também diante dessa fórum, acontecerá a excomunhão. (FABER, 2008, p. 176). O poder assim concedido por Jesus não é dado à Igreja inteira, mas apenas aos seus ministros. Com efeito, Jesus na noite da Páscoa soprou sobre a face dos Apóstolos apenas, e somente a estes, dirigiu as palavras subsequentes; aliás, a estes, tinha Ele dito pouco antes: “Assim como o Pai me enviou, assim também eu vos envio”. É a estes mesmos que Jesus ordena consagrar o pão e o vinho em memória dEle: “Fazei isto em memória de mim” (Lc 22, 19). Trata-se, pois, de pessoas especialmente chamadas por Jesus e, mais ainda, enriquecidas por um dom especial (“Recebei o Espírito...”), a fim de realizar um ministério singular dentro da Igreja. O Sacramento da Reconciliação Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 139 II. PORQUÊ, UM SACRAMENTO DE RECONCILIAÇÃO DEPOIS DO BAPTISMO? 1425. O apóstolo São João diz também: «Se dissermos que não temos peca- do, enganamo-nos a nós mesmos, e a verdade não está em nós» (1 Jo 1, 8). E o próprio Senhor nos ensinou a rezar: «Perdoai-nos as nossas ofensas» (Lc 11, 4), relacionando o perdão mútuo das nossas ofensas com o perdão que Deus concederá aos nossos pecados. 1426. A conversão a Cristo, o novo nascimento do Baptismo, o dom do Espí- rito Santo, o corpo e sangue de Cristo recebidos em alimento tornaram-nos «santos e imaculados na sua presença» (Ef 1, 4), tal como a própria Igreja, esposa de Cristo, é «santa e imaculada na sua presença» (Ef 5, 27). No en- tanto, a vida nova recebida na iniciação cristã não suprimiu a fragilidade e a fraqueza da natureza humana, nem a inclinação para o pecado, a que a tradição chama concupiscência, a qual persiste nos batizados, a fim de que prestem as suas provas no combate da vida cristã, ajudados pela graça de Cristo. Este combate é o da conversão, em vista da santidade e da vida eter- na, a que o Senhor não se cansa de nos chamar. Fonte: Catecismo da Igreja Católica (1983, on-line)1. A Igreja desde sempre estendeu o perdão dos pecados como um sacramento e, assim, como em todo sacramento, também no da Reconciliação distinguem-se matéria e forma. De modo geral, pode-se dizer que a matéria (ou quase maté- ria) são os atos do penitente que, arrependido, se volta para Deus. A forma é a ação de Deus que perdoa o pecador. Mais precisamente, os atos do penitente são três, como veremos abaixo, e a ação de Deus consiste na fórmula de absolvição. Até o século VI vigorava a prática da Igreja antiga da penitência de excomunhão única e pública. Por fim, porém, passou-se a adiar o pro- cesso penitencial até a idade avançada, respectivamente, até a hora da morte por causa da gravidade das penas impostas. Desse modo a disci- plina penitencial, originalmente muito exigente, originalmente muito exigente e rigorosa, passou a ser um processo comparativamente leve e se tornou prática geral. O extraordinário esforço de conversão, do qual toda a comunidade participava, se transformou em um sacramento da Extrema Unção normal, com isso, porém, surgiu um vácuo: a peni- tência desapareceu em grande parte da vida da comunidade, a prática penitencial já não oferecia mais nenhuma ajuda ao indivíduo para su- peração de sua culpa na vida (SCHNEIDER, 2002, p. 282). OS SACRAMENTOS DE CURA E SERVIÇO Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. VU N I D A D E140 O Concílio de Trento declara que a matéria ou quase matéria do sacramento da Reconciliação são os atos de contrição, confissão e satisfação. A contrição supõe um exame de consciência sincero. O penitente procura considerar sua conduta com toda a objetividade tal como Deus a considera. Não ceda, porém, a escrupulosidade. Deus não pede um esforço sobre-humano; geralmente o pecado grave salta aos olhos de quem o comete. Embora somente o pecado grave ou mortal seja matéria obrigatória da confissão, muito se reco- menda também o exame e a confissão de pecados leves ou veniais, pois sobre eles também pode recair a absolvição sacramental; esta é sempre acompanhada pela graça sacramental necessária para cortar a recaída no pecado. O exame de consciência deve suscitar a contrição perfeita ou o repúdio do pecado porque este ofende a Deus. Pode provocar também a contrição imper- feita ou atrição, que é o repúdio do pecado porque este maltrata o pecador ou o torna sujeito ao juízo de Deus. A parábola do filho pródigo ilustra bem a situa- ção: quando o jovem se vê humilhado pelo pecado (feito guardador de porcos), concebe a atrição ou resolve voltar para casa, a fim de se ver livre da humilha- ção (cf. BÍBLIA, Lc 15, 15-17); quando, porém, chega à casa do pai, diz-lhe: “Pai, pequei contra Deus e te ofendi” (cf. BÍBLIA, Lc 15, 21). Não é necessário que a dor de haver pecado seja sentida emocionalmente ou afetivamente; importa que ela seja efetiva ou atuante, acompanhada do pro- pósito sincero de evitar toda ocasião de pecado. Alguém pode chorar diante de um cadáver e não chorar por seus pecados; o que se requer é que os repudie pro- fundamente e prometa fazer tudo para os evitar. Notemos bem: prometer evitar não é profetizar que evitará a fragilidade humana está sempre sujeita a cair; cf. l Cor 10, 12). O arrependimento leva a confessar os pecados, ou seja, reconhecê-los diante de Deus representado por seu ministro. Por outro lado, no plano psicológico, confessar é uma katharsis ou purificação; implica pôr para fora os pecados e isentar-se deles. No plano da fé, a confissão, além do sentido psicológico, tem significado eclesial; sim, todo pecado ofende e prejudica a comunidade eclesial, na qual o pecador está inserido (ninguém se salva sozinho e ninguém se perde sozinho); por isto o perdão do pecado vem de Deus por meio da comunidade eclesial. O Sacramento da Reconciliação Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 141 É verdade que no sacramento da penitência está em primeiro plano o distanciamento da culpa; no entanto, também o aspecto curativo faz parte da teologia penitencial. Nesse contexto, é preciso lembrar o que a teologia tradicional chamava de anulação das penas do pecado. Pois a libertação da perversão provocada no ser humano pelo pecado foi um dos motivos principais da penitência na Igreja antiga (SCHNEIDER, 2002, p. 297). O fundamento bíblico da confissão está em Jo 20, 21.23. A forma do sacramento é a resposta de Deus aos atos do penitente. Consiste na absolvição sacramental, que atualmente consta dos seguintes dizeres: Deus, Pai de Misericórdia, que pela morte e ressurreição de seu Filho, reconciliou o mundo consigo, e enviou o Espírito Santo para a remissão dos pecados, te conceda pelo ministério da Igreja o perdão e a paz. E eu te absolvo dos teus pecados em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo (SACRAMENTÁRIO, 2008, p. 65). Como se vê, a fórmula põe em relevo o respectivo papel do Pai, do Filho e do Espírito Santo, que agem pela Igreja, na santificação do homem. Note-se também que a fórmula tem o caráter de uma sentença judicial. Não é simplesmente declaratória: o ministro não declara apenas que Deus já perdoou os pecados em vista da contrição do penitente, mas, pelas palavras do ministro que absolve, passa a graça do perdão de Deus. O Concílio de Trento (1545) definiu solenemente que os ministros da Reconciliação são os Bispos e os presbíteros. Estes, porém, só podem exercer seu ministério de reconciliação após ter recebido do seu Bispo a jurisdição para tanto. Isto querdizer que o poder das chaves é de competência própria dos Bispos, que a delegam aos presbíteros. A razão desta afirmação é que reconciliar significa reintegrar na Igreja alguém que dela se afastou por pecado grave; ora é o Bispo como pastor diocesano que deve, no caso, representar a Igreja. Qualquer sacer- dote, porém, pode absolver uma pessoa que esteja em perigo de morte. Confessar-se com um sacerdote é um modo de pôr a minha vida nas mãos e no coração de outro, que nesse momento atua em nome e por conta de Jesus. (Papa Francisco) OS SACRAMENTOS DE CURA E SERVIÇO Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. VU N I D A D E142 O Sacramento da unção dos enfermos Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 143 O SACRAMENTO DA UNÇÃO DOS ENFERMOS Jesus se apresentou como o Restaurador do homem e da natureza, feridos pelo pecado, de acordo com o anúncio dos Profetas. Assim, por exemplo, diz-nos Lc 4, 16.22 que Jesus entrou na Sinagoga de Nazaré e leu o seguinte trecho de Isaías 61, 10: o Espírito do Senhor está sobre mim, porque Ele me ungiu para evan- gelizar os pobres; enviou-me para proclamar a remissão aos presos e aos cegos a recuperação da vista, para restituir a liberdade aos oprimi- dos e para proclamar um ano de graça do Senhor. Após a leitura, Jesus comentou: “Hoje cumpriu-se aos vossos ouvidos essa passa- gem da Escritura”. Outros textos proféticos, como os de Is 35, 5s; Jr 33, 6, haviam anunciado a restauração do homem por parte do Messias. Assim, as curas mila- grosas realizadas por Jesus são sinais de que o Reino de Deus já chegou e a vitória sobre o pecado e suas consequências já foi iniciada (aliás, as curas efetuadas por Jesus aparecem não raro associadas ao perdão dos pecados; cf. BÍBLIA, Mc 2, 1-12). Embora pecado e morte estejam conjugados entre si na Escritura (cf. Gn 2, 17; 3, 19; Rm 5, 12), Jesus não aceita a tese segundo a qual toda doença é castigo de pecados pessoais. Com efeito, diante do cego de nascença, afirma: “nem ele nem seus pais pecaram, mas esta doença ocorre para que nele se manifestem as obras de Deus” (Jo 9, 3). 1506. Cristo convida os discípulos a seguirem-no, tomando a sua cruz. Se- guindo-O, eles adquirem uma nova visão da doença e dos doentes. Jesus as- socia-os à sua vida pobre e servidora. Fá-los participar no seu ministério de compaixão e de cura: E eles «partiram e pregaram que era preciso cada um arrepender-se. Expulsavam muitos demônios, ungiam com óleo numerosos doentes, e curavam-nos» (Mc 6, 12-13). 1507. O Senhor ressuscitado renova esta missão («em Meu nome... hão-de im- por as mãos aos doentes, e estes ficarão curados»: Mc 16, 17-18) e confirma-a por meio dos sinais que a Igreja realiza invocando o seu nome. Estes sinais ma- nifestam de modo especial, que Jesus é verdadeiramente «Deus que salva». 1508. O Espírito Santo confere a alguns o carisma especial de poderem curar para manifestar a força da graça do Ressuscitado. Todavia, nem as orações mais fervorosas obtêm sempre a cura de todas as doenças. Fonte: Catecismo da Igreja Católica (1983, on-line)1. Jesus mesmo quis compartilhar o sofrimento físico e moral dos homens, expe- rimentando cansaço, fome, sede, a agonia e a morte, a fim de transfigurar a dor humana (BÍBLIA, cf. Mt 8, 16s; Mc 14, 32.42; 15, 21-41; Jo 4, 6). Quis ensinar-nos que o sofrimento, aceito com fé e confiança em Deus, vem a ser salvífico; é parti- cipação da Cruz redentora de Cristo. Consciente desta grande verdade, o Santo Padre João Paulo II termina a sua Carta sobre a Dor Salvífica com o seguinte apelo: pedimos a todos vós que sofreis, que nos ajudeis. Precisamente a vós que sois fracos, pedimos que vos tomeis uma fonte de força para a Igre- ja e para a humanidade. Na terrível luta entre as forças do bem e do mal, de que o mundo contemporâneo nos oferece o espetáculo, que vença o vosso sofrimento em união com a Cruz de Cristo (n. 31). A Igreja continuou a se interessar pelos enfermos e sofredores. Em Cl 1, 24, São Paulo vê seus padecimentos como participação da Paixão de Cristo: «completo em minha carne o que falta à Paixão de Cristo em favor do seu Corpo, que é a Igreja”. Da mesma forma, o Apóstolo valoriza seus sofrimentos à luz dos de Cristo em 2Cor 1, 5: «assim como os sofrimentos de Cristo são copiosos para nós, assim também por Cristo é copiosa a nossa consolação. OS SACRAMENTOS DE CURA E SERVIÇO Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. VU N I D A D E144 Muitas vezes se lê nas narrativas de cura do Novo Testamento que Jesus tocava os enfermos fisicamente. Jesus toma a sogra de Simão pela mão e a ergue (Mc 1,31), estende a mão ao leproso e o toca (Mc 1,41), im- põem as mãos à mulher encurvada (Lc 13,13). Na cura do surdo, que não entende a linguagem das palavras, usa uma série de gesto: toma o homem em separado, põe os dedos nos dois ouvidos surdos e toca a língua com saliva (Mc 7,32-35); de modo semelhante procede na cura do cego, para o qual as pessoas tinha, solicitado expressamente que o tocasse (Mc 8,22-25; Jo 9,6). (SCHNEIDER, 2002, p. 303). O texto que mais revela a solicitude pastoral da Igreja com os enfermos, é o de Tg 5, 14-16. Leia-o. São Tiago representa a corrente tradicional do judeo-cris- tianismo. Por conseguinte, o que na sua carta ele refere a respeito da assistência religiosa aos doentes, não pode ser inovação, mas há de ser o eco de uma prá- tica anterior. São Tiago fala de doentes que não podem procurar os presbíteros na Igreja, mas chamam a estes. Isto supõe doença grave. EM CASO DE GRAVE ENFERMIDADE. 1514. A Unção dos Enfermos «não é sacramento só dos que estão prestes a morrer. Por isso, o tempo oportuno para a receber é certamente quando o fiel começa, por doença ou por velhice, a estar em perigo de morte». 1515. Se um doente que recebeu a Unção recupera a saúde, pode, em caso de nova enfermidade grave, receber outra vez este sacramento. No decurso da mesma doença, este sacramento pode ser repetido se o mal se agrava. «...CHAME OS PRESBÍTEROS DA IGREJA» 1516. Só os sacerdotes (bispos e presbíteros) são ministros da Unção dos Enfermos (126). É dever dos pastores instruir os fiéis acerca dos benefícios deste sacramento. Que os fiéis animem os enfermos chamarem o sacerdote para receberem este sacramento. E que os doentes se preparem para o re- ceber com boas disposições, com a ajuda do seu pastor e de toda a comuni- dade eclesial, convidada a rodear, de um modo muito especial, os doentes, com as suas orações e atenções fraternas. Fonte: Catecismo da Igreja Católica (1983, on-line)1. O Sacramento da unção dos enfermos Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 145 Neste período, os presbíteros não eram apenas “os mais anciãos”; a palavra já tinha sentido técnico, designando os pastores da comunidade (no sentido suge- rido por At 14, 23). Por conseguinte, a função que eles eram chamados a realizar, não era esporádica, mas algo de institucional; eram os presbíteros da Igreja, o que significa que agiam em nome da Igreja. A unção assim praticada não se compara a nenhuma daquelas que o Antigo Testamento já conhecia para significar alegria (cf. Is 61, 3; SI 44, 8), consagra- ção (I Sm 10, 1s; 1Rs 1, 39; Ex 29, 7.29; 30, 30...), cura (Is 1, 6; Lv 14, 10.32)... Com efeito; a unção, em Tg 5, pode não só aliviar o paciente, mas perdoar-lhe os pecados. Os efeitos do rito são três: ■ Salvar. Este verbo ocorre quatro vezes em Tg (1, 21; 2, 15; 4, 12; 5, 20), sempre com o sentido de benefício para o homem inteiro. ■ Erguer, no sentido físico e moral. ■ Perdoar os pecados, quando necessário. O Concílio de Trento declarou que o sacramento da Unção dos Enfermos (UE) é insinuado por Mc 6, 13 e promulgado por Tg 5, 14s(cf. DENZINGER; HUNERMANN, 2007). A história deste sacramento pode ser dividida em duas fases anteriores ao Concílio do Vaticano II (1962-1965). Na história anterior ao Concílio Vaticano II, os documentos não apresen- tam um ritual da Unção dos Enfermos, mas apenas as fórmulas de bênção do óleo, que era aplicado a doentes de todos os tipos (não apenas aos de moléstias graves) pelo ministério dos presbíteros ou até de leigos e do próprio paciente (quando a unção não era feita na Igreja, mas em casa de família). A fórmula mais antiga encontra-se na Tradição Apostólica de Hipólito Romano (215): assim como, santificando este óleo, com o qual ungiste reis, sacerdotes e profetas, concedes, ó Deus, a santidade aos que são com ele ungidos e aos que o recebem, assim proporcione a ele consolo aos que o provam; e saúde aos que dele se servem (n. 18). OS SACRAMENTOS DE CURA E SERVIÇO Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. VU N I D A D E146 Na história desse sacramento após o Concílio Vaticano II, certas modificações ocorrem na prática do sacramento: aparecem os primeiros Rituais da Unção dos Enfermos, com grande número de orações e gestos; o óleo era aplicado, pri- meiramente, às partes doloridas do corpo; depois, foi reservado aos órgãos dos sentidos, pois costumam ser os veículos do pecado. A administração do sacramento tornou-se tarefa exclusiva do clero, foram mais e mais postos em relevo os efeitos espirituais do sacramento, ou seja, a remissão dos pecados. O sacramento da Unção dos Enfermos foi aproximado do sacra- mento da Penitência; os fiéis foram sendo exortados a aproveitar a doença para se converter e reconciliar-se com Deus — o que exigia o ministério dos sacerdotes. O sacramento expressa de forma salutar que o favor prometido de Deus rompe os limites da ajuda humana e acolhe a situação da enfermida- de em uma dimensão diferente. Pelo fato de que a presença direta do Senhor tem caráter de sinal, o vínculo da celebração sacramental ao ministério ordenado continua sendo necessário e plausível, devendo ser diferenciado do aconselhamento pastoral, que a seu modo torna perceptível o favor de Jesus Cristo (FABER, 2008, p. 206), Assim, a Unção dos Enfermos foi sendo considerada como graça preparatória para a morte. Passou a fazer parte da tríade dos últimos sacramentos: Reconciliação, Comunhão Eucarística (às vezes sob forma de Viático), Extrema Unção (novo nome dado ao sacramento). Assim, a Unção foi postergada para os casos de doença muito grave. A Teologia desenvolveu considerações sobre a Unção como sendo o penhor de santa morte e da visão de Deus face-à-face. Todavia nos ritu- ais medievais ainda se fazia menção do alívio corporal e da eventual restauração da saúde física que a Extrema Unção podia obter de Deus. O Concílio do Vaticano II estipulou diretrizes significativas para a Teologia e o rito da UE. Assim se exprime a Constituição Sacrosantum Concilium: 73. A Extrema Unção, que também e melhor pode ser chamada Unção dos Enfermos, não é o sacramento apenas daqueles que estão no fim da vida. Por conseguinte, o tempo oportuno para recebê-la é certamente o momento em que o fiel começa a correr perigo de morte por motivo de doença ou de idade avançada. 74. Além dos ritos separados da Unção dos Enfermos e do Viático, fa- ça-se um rito conjunto pela qual se administre a unção ao enfermo depois da Confissão e antes da recepção do Viático. O Sacramento da unção dos enfermos Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 147 75. O número de unções seja adaptado às circunstâncias. As orações que acompanham a cerimônia da Unção dos Enfermos, sejam revistas a fim de corresponderem às várias condições dos enfermos que rece- bem este sacramento. Em atendimento aos anseios do Concílio, foi elaborado e, aos 07/12/1972, pro- mulgado novo Ritual do Sacramento da Unção dos Enfermos. Este é caracterizado por novas notas: 1. A matéria do sacramento é o óleo de oliveira, mas, caso seja difícil obtê- -lo, é licito recorrer a qualquer outro óleo vegetal. 2. Os destinatários do sacramento são os fiéis cujo estado de saúde esteja gravemente comprometido por doença ou por velhice (donde se vê que as pessoas idosas em gozo de boa saúde não são o sujeito adequado deste sacramento). Pode-se conferir a Unção antes de uma intervenção cirúrgica, se a causa da operação é uma doença perigosa. Às crianças seriamente enfermas, é licito ministrar a UE desde que tenham uso da razão e pos- sam compreender o valor do sacramento. A gravidade da moléstia há de ser avaliada segundo as categorias da prudência e da probabilidade. 3. O Ritual enfatiza a necessidade de catequese tanto para os enfermos quanto para os familiares. É preciso que o paciente tenha viva fé na sal- vação obtida pela morte e a ressurreição de Cristo, mediante as quais podemos entrar na vida eterna. 4. A UE pode ser reiterada durante a mesma doença, desde que se agrave o estado de saúde. 5. O Ritual prevê que o enfermo possa ir à Igreja para receber o sacramento, de preferência dentro do quadro da Santa Missa. 6. As partes do corpo a serem ungidas são a fronte, que lembra o cérebro e o pensamento, e as mãos, que são os instrumentos da ação; assim, a pessoa é atingida na totalidade do seu ser. Na impossibilidade de se atin- girem fronte e mãos, qualquer outra parte do corpo (ainda que uma só) pode ser ungida. OS SACRAMENTOS DE CURA E SERVIÇO Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. VU N I D A D E148 7. A fórmula sacramental é a seguinte: “Por esta santa unção e por sua piíssima misericórdia, o Senhor venha em teu auxílio com a graça do Espírito Santo, para que, liberto dos teus pecados, Ele te salve e, na sua bondade, alivie os teus sofrimentos”. Estas palavras significam que a UE deve proporcionar alívio ao paciente, antes do mais, no plano espiritual, mas também no corporal, caso isto seja para o bem do enfermo. O sacra- mento confere à paciente fortaleza especial para que possa enfrentar o agón (= luta, em grego) que toda doença grave impõe: no fim da vida, o cristão deve rematar o seu currículo com fé e amor, corrigindo e desdi- zendo faltas passadas, concluindo fielmente o testemunho de vida que deixa aos pósteros. 8. A UE pode ser ministrada aos doentes privados de sentidos, desde que se possa crer que a pediriam se estivessem no pleno gozo das suas faculda- des. Visto que entre a morte clínica e a morte real há um lapso de tempo, a UE pode ser conferida sob condição (“Se estás vivo, ...”) duas ou três horas após a morte clínica. Para um cristão, a doença e a morte podem e devem ser meios para se santi- ficar e redimir com Cristo. Para isto, contribui a Unção dos Enfermos. Fonte: Opus Dei ([2018], on-line)2. O Sacramento da unção dos enfermos Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 149 O SACRAMENTO DA ORDEM Iniciaremos agora a refletir sobre os sacramentos do serviço, ou seja, os sacra- mentos do Matrimônio e da Ordem. Os dois sacramentos não se destinam tanto, como os anteriores, à santificação do indivíduo, mas, sim, ao serviço da comu- nidade; daí serem chamados “sacramentos de estado”; fundam um estado de vida e serviço. Comecemos nosso estudo pela Ordem ou o sacramento dos bis- pos, presbíteros e diáconos. O Antigo Testamento conheceu o sacerdócio como função confiada à tribo de Levi; donde chamar-se “sacerdócio levítico”. Aarão, irmão de Moisés, é o pri- meiro grande sacerdote levítico. OS SACRAMENTOS AO SERVIÇO DA COMUNHÃO 1534. Dois outros sacramentos, a Ordem e o Matrimónio, são ordenados para a salvação de outrem. Se contribuem também para a salvação pessoal, é através do serviço aos outros que o fazem. Conferem uma missão particu- lar na Igreja,e servem a edificação do povo de Deus. 1535. Nestes sacramentos, aqueles que já foram consagrados pelo Batismo e pela Confirmação para o sacerdócio comum de todos os fiéis, podem re- ceber consagrações particulares. Os que recebem o sacramento da Ordem são consagrados para serem, em nome de Cristo, «com a palavra e a graça de Deus, os pastores da igreja». Por seu lado, «os esposos cristãos são forta- lecidos e como que consagrados por meio de um sacramento especial em ordem ao digno cumprimento dos deveres do seu estado». Fonte: Catecismo da Igreja Católica (1983, on-line)3. OS SACRAMENTOS DE CURA E SERVIÇO Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. VU N I D A D E150 O papel desse ministério sacerdotal era fazer a mediação entre Deus Santo e o povo pecador, oferecendo sacrifícios de víti- mas irracionais; estas representavam o homem desejoso de se oferecer a Deus, mas, por serem irracionais, ficavam abaixo do nível do homem e de Deus. Multiplicavam-se os sacrifícios, porque nenhum deles era cabal ou adequado para fazer a ponte entre o homem e Deus. Em suma, havia muitos sacerdotes e muitos sacrifícios, regidos por minuciosa legislação (cf. Nm 3, 11-39; Lv 1, 1.27, 34). Jesus Cristo aboliu o sacerdócio levítico e fez-se Ele o único Sacerdote da nova e definitiva aliança, de acordo com o modelo não de Levi, mas de Melquisedeque, que era rei e sacerdote (cf. Hb 7, 1.28; 10, 4-10). Cristo Sacerdote ofereceu um único sacrifício, que é o holocausto de Sua vontade e de Sua vida entregues ao Pai; como novo Adão, Ele disse um Sim ins- pirado por amor, apagando o Não dito pelo primeiro Adão em desamor ao Pai (cf. Rm 5, 12-21). Verdade é que no Novo Testamento somente a epístola aos Hebreus se refere explicitamente ao sacerdócio de Jesus Cristo. Os outros livros, ao falar de Cristo e dos Apóstolos, atribuem-lhes serviços ou ministérios, não, porém, sacerdócio. Pergunta-se: por que isto? A resposta é deduzida do fato de que hiereus (= sacerdote, em grego), para os primeiros cristãos, era designativo dos ministros do Antigo Testamento e das religiões pagãs; por isto aplicar tal vocábulo a Cristo levaria facilmente a equí- vocos, visto que Jesus e os Apóstolos não eram sacerdotes naquele sentido; para os judeus, Jesus era um leigo, pois não pertencia à tribo de Levi, mas à tribo de Judá, à qual era proibido usurpar funções sacerdotais. Jesus associa em si sacer- dócio e realeza, como Melquisedeque. O Sacramento da Ordem Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 151 1536. A Ordem é o sacramento graças ao qual a missão confiada por Cristo aos Apóstolos continua a ser exercida na Igreja, até ao fim dos tempos: é, portanto, o sacramento do ministério apostólico. E compreende três graus: o episcopado, o presbiterado e o diaconato. I. Porquê este nome de sacramento da Ordem? 1537. A palavra Ordem, na antiguidade romana, designava corpos consti- tuídos no sentido civil, sobretudo o corpo dos que governavam, Ordinatio designa a integração num ordo. Na Igreja existem corpos constituídos, que a Tradição, não sem fundamento na Sagrada Escritura, designa, desde tem- pos antigos, com o nome de táxeis (em grego), ordines (em latim): a liturgia fala assim do ordo episcoporum – ordem dos bispos –, do ordo pres- byterorum - ordem dos presbíteros – e do ordo diaconorum –ordem dos diáconos. Há outros grupos que também recebem este nome de ordo: os catecúmenos, as virgens, os esposos, as viúvas... Fonte: Catecismo da Igreja Católica (1983, on-line)3. Todavia os livros do Novo Testamento apresentam Jesus como agente de um sacerdócio novo e mais perfeito do que o veterotestamentário. É esboçado pela figura do Servo de Javé descrita em Is 52, 13-53, 12: o Servo inocente assume sobre si os pecados alheios e presta satisfação por eles, merecendo o perdão aos pecadores. Com efeito, temos os seguintes textos: ■ 2Cor 5, 21: “Aquele que não conheceu o pecado, Deus o fez pecado por nós, para que nele nos tornássemos justiça de Deus”. ■ Gl 3, 13: “Cristo resgatou-nos da maldição da Lei, fazendo-se Ele mesmo maldição por nós”. A morte de Cristo é descrita em linguagem de rito de sacrifício e, indiretamente, em linguagem sacerdotal: ■ 1Cor 5, 7: “Nossa Páscoa, Cristo, foi imolado”. ■ Jo 1, 19: “Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo”. ■ Ap 5, 9s: “Tu foste imolado e resgataste para Deus pelo Teu sangue homens de toda raça, língua, povo e nação. Tu fizeste deles para nosso Deus um Reino de Sacerdotes, que reinam sobre a terra”. OS SACRAMENTOS DE CURA E SERVIÇO Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. VU N I D A D E152 ■ 1Pd 18: Fostes resgatados “pelo precioso sangue de Cristo, o cordeiro ima- culado e sem defeito algum”. Muitas vezes os autores sagrados referem que Cristo se entrega ou entrega Seu sangue em favor dos homens: Jo 6, 51; 10, 11.15; Lc 22, 19; Mc 10, 45. ■ Ef 5, 2: “Vivei no amor como Cristo também nos amou e se entregou a Deus por nós, como oferenda e sacrifício de suave odor”. ■ Ef 5, 25: “Cristo amou a Igreja e se entregou por ela para santificá-la”. ■ 1Jo 2, 2: “Jesus é a vítima de expiação pelos nossos pecados. E não somente pelos nossos, mas também pelos do mundo inteiro”. ■ Em suma, a afirmação de que Cristo se imolou pelos nossos pecados é constante no Novo Testamento; cf. Gl 1, 4; 2, 20; 1Tm 2, 6; Tt 2, 14... Estes textos evidenciam que, embora o título “sacerdote” não seja explicitamente atribuído a Cristo nos Evangelhos, Jesus é, no entanto, tido como o Sacerdote que se oferece ao Pai como vítima pelos pecados. Cristo quer continuar o seu sacerdócio aplicando os frutos da Redenção aos homens, mediante ministros que Ele escolhe. Estes não são sacerdotes ao lado de Jesus Sacerdote, mas são participantes do único sacerdócio de Cristo e ofe- recem o único sacrifício de Cristo na Cruz como se fossem a mão estendida do Senhor através dos séculos. O povo cristão não é povo amorfo, mas estruturado por uma hierarquia definida, que se encontra esboçada pelos textos mesmos do Novo Testamento. Com efeito; Jesus quis escolher os doze Apóstolos para serem seus íntimos cola- boradores; cf. Mc 3, 13-16: “Ele fez doze... para estarem com Jesus”. É posto em relevo o fazer ou o criar os doze - o que significa mudança interior dos mes- mos. Eles agiriam como se fossem o próprio Cristo: “Quem vos escuta, a Mim escuta” (Lc 10, 16). Segundo o Concílio de Trento, os Apóstolos foram consti- tuidos sacerdotes na última Ceia (cf. Denzinger-Schönmetzer, Enquirídio 1752, doravante citado como DS). Jesus confiou a 72 discípulos missão análoga à dos Apóstolos: cf. Lc 10, 1-16 e 9, 1-6. Ora os Apóstolos foram desdobrando o ministério que receberam. O Sacramento da Ordem Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 153 A Sagrada Escritura e, mais ainda, a Tradição oferecem os dados neces- sários para se reconstituir a evolução. Com efeito, as primeiras comunidades cristãs eram governadas pelos Apóstolos, que tinham jurisdição universal, mas eram itinerantes ou não residiam em sede fixa. Deixaram, pois, em cada Igreja um colegiado de presbýteroi ou epískopoi, que governavam de imediato a comu- nidade, tendo abaixo de si os diákonoi; ver Fl 1, 1: “Paulo e Timóteo, servos de Jesus Cristo, a todos os santos em Jesus Cristo que estão em Filipos, com os seus epíscopos e diáconos”. Em At 20, 17.28, São Paulo chama os presbýteroi pelo apelativo de epískopoi (as traduções brasileiras não usam essa terminologia, que é a mais fiel aos origi- nais). Tal tipo de governo só podia ser provisório; só duraria enquanto vivessem os Apóstolos. Ao aproximar-se o fim de vida destes, tiveram que promover a escolha de um membro do colegiado de presbýteroi-epískopoipara tornar-se o respon- sável supremo de cada comunidade. A este foi reservado o título de epískopos, que se traduz por bispo, ao passo que os demais membros do colegiado ficaram sendo presbýteroi. Um exemplo desta transição é bem perceptível na 3ª Epístola de S. João; a comunidade à qual o Apóstolo escreve, é dirigida por um certo Diotrefes, que não se quer subordinar ao autor da carta (cf. v. 9). A carta data de fim do século I. Pouco depois em Antioquia, aparece nitidamente o episcopado monárquico, exercido por S. Inácio († 107 aproximadamente). Os apóstolos também instituíram diáconos, que ocupavam lugar abaixo dos presbíteros: At 6, 1-6; Fl 1, 1; I Tm 3, 8-13. O sacramento da Ordem consta, pois, de três graus de ministério. Em cada um destes se confere mais do que uma função ou um título; há aí um dom de Deus na linha do ser e não apenas na linha do agir, que torna o ministro parti- cipante do sacerdócio de Cristo de modo essencialmente diverso do sacerdócio comum dos fiéis (cf. Lumen Gentium n. 10). Os sacerdotes agem In persona Christi ou como se fosse o próprio Cristo (cf. LG n. 10); é instrumento de Cristo (cf. Presbyterorum Ordinis n. 12). Este dom é também chamado “caráter (selo, marca) sacerdotal”. A plenitude do sacerdócio de Cristo é conferida pela ordenação episcopal: o bispo pode não somente consagrar a Eucaristia, mas também ordenar minis- tros da Eucaristia ou presbíteros, ao passo que estes não podem ordenar outros OS SACRAMENTOS DE CURA E SERVIÇO Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. VU N I D A D E154 presbíteros. Além dos três graus enunciados, existem ministérios inferiores na Igreja, que não são partes do sacramento da Ordem, mas são sacramentais: o leitorado e o acolitado. Nos primeiros séculos da Igreja, houve diaconisas, isto é, mulheres encarre- gadas da catequese, de auxiliar no Batismo de mulheres adultas, da comunhão de enfermos... Não recebiam o sacramento da Ordem (diaconato), mas um minis- tério (um sacramental). A palavra “ordem” era usada pelos antigos romanos para designar determi- nadas categorias sociais, como as dos Senadores e Cavaleiros. Fora de Roma, nas colônias, a palavra “ordem” designava o conjunto daqueles a quem era confiado o governo local; distinguiam-se da população governada. O vocábulo foi trans- ferido para a linguagem cristã, designando os ministros que tinham a função de apascentar o povo de Deus. A seguir, a palavra “ordem” passou a designar os diversos graus existentes dentro do próprio clero; daí falar-se de “ordem dos diá- conos, ordem dos presbíteros, ordem dos bispos”. Ainda no decorrer do tempo, especialmente na Idade Média, ordem perdeu o seu significado coletivo para designar o próprio sacramento que institui os ministros do Novo Testamento, ministros distribuídos por três graus. De modo semelhante, os vocábulos “ordenação” e “ordenar’, que antigamente designavam a nomeação de funcionários, passaram a indicar, na literatura cristã, o rito que constitui alguém participante do sacerdócio de Cristo dentro da hie- rarquia da Igreja. Pelo sacramento da Ordem, o ministério dos Bispos, presbíteros e diáconos torna-se uma participação especial no sacerdócio de Cristo. Diz o Catecismo da Igreja Católica: alguém validamente ordenado pode, é claro, por justos motivos ser destituído das obrigações e das funções ligadas à ordenação ou ser proibido de exercê-las, mas jamais poderá voltar a ser leigo no sentido estrito, porque o caráter impresso pela ordenação permanece para sem- pre. A vocação e a missão recebidas no dia de sua ordenação marcam a pessoa de modo permanente (par. 1583). Consta, pois, que o sacramento da Ordem, como o do Batismo e o da Crisma, confere caráter indelével, que configura a pessoa a Cristo Sacerdote, Profeta e Rei. O Sacramento da Ordem Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 155 Sobre a matéria, tem-se a definição do Papa Pio XII feita aos 30 de novem- bro de 1947: definiu o papa que a matéria da ordenação episcopal, presbiteral e diaconal é a imposição das mãos do celebrante sobre o(s) candidato(s), ao passo que a forma do sacramento é a oração consecratória que acompanha e interpreta a imposição das mãos. Esta decisão é conforme ao que se lê nas Escrituras do Novo Testamento, vejamos: “Não descuides o dom da graça que há em ti e que te foi conferido mediante profecia, junto com a imposição das mãos do presbi- tério” (1Tm 4, 14). Este texto menciona a profecia concomitante da ordenação: podia ser a ora- ção consecratória ou, segundo alguns comentadores, a indicação do candidato à Ordem sacra por parte de profetas da comunidade. Quanto à imposição das mãos, verifica-se que era efetuada também pelos presbíteros presentes e não só pelo celebrante do rito. A Ordem é o Sacramento que habilita ao exercício do ministério confiado por Jesus aos Apóstolos de apascentar com amor o seu rebanho, compreen- dendo três graus: episcopado, presbiterato e diaconato. (Papa Francisco) OS SACRAMENTOS DE CURA E SERVIÇO Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. VU N I D A D E156 O SACRAMENTO DO MATRIMÔNIO Estudaremos, a seguir, o segundo sacramento de estado, que é o do matrimônio, começando pela respectiva fundamentação bíblica. Um dos textos mais antigos que temos é o de Gn 2, 21.24 (século X a.C.). Mostra que o matrimônio é uma instituição natural, derivada da própria índole masculina e feminina do ser humano. O texto incute a monogamia em um mundo que adotava a poligamia. A sexualidade aí aparece como dom de Deus; por isto não é má, antes, é sagrada, porque oferece ao homem e à mulher a oportunidade de colaborar com Deus, transmitindo a vida. Eis os respectivos dizeres: o Senhor Deus fez cair um torpor sobre o homem, e ele dormiu. Tomou uma de suas costelas e fez crescer carne em seu lugar. Depois, da costela que tirara do homem o Senhor Deus modelou uma mulher e a trouxe ao homem. Então o homem exclamou: ‘Esta, sim, é osso de meus ossos e carne de minha carne. Ela será chamada ‘mulher (‘isha)’ porque foi tirada do homem (‘ish)’. Por isto o homem deixa seu pai e sua mãe, une-se à sua mulher e eles se tornam uma só carne. Em Gn 1, 27s (século VI a.C.), além da monogamia e da dignidade dos cônju- ges, é incutida a fecundidade. Esta tem sua origem em Deus e pode ser ocasião de uma vocação especial dada pelo Senhor ao homem: O Sacramento do Matrimônio Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 157 Deus criou o homem à sua imagem; à imagem de Deus Ele o criou; ho- mem e mulher Ele os criou. Deus os abençoou e lhes disse: ‘Sede fecun- dos, multiplicai-vos, enchei a terra e submetei-a; dominai sobre os pei- xes do mar as aves do céu e todos os animais que rastejam sobre a terra. Em Gn 3, 1.24, aparece o aspecto difícil da vida conjugal, que exigirá sem- pre a grandeza de alma da parte dos cônjuges, pois o matrimônio é missão ou tarefa. Com efeito, o orgulho se apodera do homem e da mulher, que que- rem ser como Deus, árbitros do bem e do mal, desobedecendo ao Senhor no estado paradisíaco. Em consequência, afastam-se do Senhor e desentendem- -se entre si: o homem lança a culpa do pecado sobre a mulher, e esta a lança sobre a serpente. Pode haver desunião entre marido e mulher em virtude da perda de fidelidade ao Senhor Deus. Com muita sabedoria, o autor bíblico descreve o episódio do pecado dos primeiros pais e suas consequências pre- judiciais para a vida do casal. O SACRAMENTO DO MATRIMÓNIO 1601. «O pacto matrimonial, pelo qual o homem e a mulher constituem en- tre si a comunhão íntima de toda a vida, ordenado por sua índole natural ao bem dos cônjuges e à procriação e educação da prole, entre os batizados foi elevado por Cristo Senhorà dignidade de sacramento». I. O matrimônio no desígnio de Deus 1602. A Sagrada Escritura começa pela criação do homem e da mulher, à imagem e semelhança de Deus, e termina com a visão das «núpcias do Cor- deiro» (Ap 19, 9). Do princípio ao fim, a Escritura fala do matrimónio e do seu «mistério», da sua instituição e do sentido que Deus lhe deu, da sua origem e da sua finalidade, das suas diversas realizações ao longo da história da salvação, das suas dificuldades nascidas do pecado e da sua renovação «no Senhor» (1 Cor 7, 39), na Nova Aliança de Cristo e da Igreja. Fonte: Catecismo da Igreja Católica (1983, on-line)3. OS SACRAMENTOS DE CURA E SERVIÇO Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. VU N I D A D E158 Nos livros dos Profetas, a união matrimonial é frequentemente evocada como imagem da Aliança de Deus com o seu povo. Esta vai além dos termos jurídi- cos, pois é doação gratuita que Deus faz de si à “Filha de Sion”, ciente de que esta é criatura oscilante — ver principalmente Os 1, 2-3.5; Ez 16, 1.34; Jr 31, 21s; Is 54, 1-10; 5, 1-7. Esta imagem persistirá nos escritos do Novo Testamento para designar a nova e definitiva Aliança de Deus com toda a humanidade, como se verá adiante. No livro do Profeta Malaquias, há uma passagem que recomenda a estabilidade da união conjugal: “Não traias a esposa de tua juventude! Porque odeio o repúdio, diz o Senhor dos exércitos” (Ml 2, 15s). Dois livros ainda merecem especial atenção. O Cântico dos Cânticos des- creve as fases do amor, desde o seu primeiro despertar até as núpcias, como figura do amor de Deus ao seu povo; são oito capítulos cheios de realismo, que deixam entrever a consumação escatológica do amor. O livro de Tobias apre- senta o matrimônio santificado pela oração e a bênção de Deus; é a vivência de um casto amor, que sabe sofrer e vencer sob a proteção do Criador. Seguimos a discussão com a fundamentação no Novo Testamento e obser- vamos em Mt 19, 1.9 e Mc 10, 1.12 que Jesus volta ao texto do Gênesis, citando explicitamente Gn 1,27; 2,24; diz que o Gênesis apresentou o matrimônio na sua forma ideal, que exclui a dissolubilidade; repudiar a mulher e casar com outra é adultério (Mt 5, 32). Os dizeres de Mateus hão de ser lidos no contexto das demais afirmações do Novo Testamento, que são contrárias à dissolução do matrimônio: Mc 10,11; Lc 16, 18; 1Cor 7, 10s. Aliás, Jesus observa que já um mau desejo, alimentado interiormente, é equiparável a um adultério (Mt 5, 28). O Sacramento do Matrimônio Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 159 O MATRIMÓNIO NO SENHOR 1612. A aliança nupcial entre Deus e o seu povo Israel tinha preparado a Aliança nova e eterna, pela qual o Filho de Deus, encarnando e dando a sua vida, uniu a Si, de certo modo, toda a humanidade por Ele salva, preparando assim as «núpcias do Cordeiro». 1613. No umbral da sua vida pública, Jesus realiza o seu primeiro sinal – a pedido da sua Mãe por ocasião duma festa de casamento. A Igreja atribui uma grande importância à presença de Jesus nas bodas de Caná. Ela vê nes- se facto a confirmação da bondade do matrimónio e o anúncio de que, do- ravante, o matrimónio seria um sinal eficaz da presença de Cristo. 1614. Na sua pregação, Jesus ensinou sem equívocos o sentido original da união do homem e da mulher, tal como o Criador a quis no princípio: a per- missão de repudiar a sua mulher, dada por Moisés, era uma concessão à du- reza do coração: a união matrimonial do homem e da mulher é indissolúvel: foi o próprio Deus que a estabeleceu: «Não separe, pois, o homem o que Deus uniu» (Mt 19, 6). Fonte: Catecismo da Igreja Católica (1983, on-line)3. OS SACRAMENTOS DE CURA E SERVIÇO Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. VU N I D A D E160 O contrato natural do matrimônio, apresentado por Gênesis, é por Jesus Cristo elevado à nova dignidade ou ao plano sacramental — o que quer dizer que, den- tro dos moldes da vida humana de um casal cristão, se processa uma realidade transcendental; esta passa através do cotidiano do esposo e da esposa e o ultra- passa, encarnando o amor fecundo de Cristo à Igreja e da Igreja a Cristo. É São Paulo quem o expõe em Ef 5, 25-27.31s: maridos, amai as vossas mulheres como Cristo amou a Igreja e se entre- gou por ela, a fim de purificá-la com o banho da água e santificá-la pela Palavra, para apresentar a si mesmo a Igreja gloriosa, sem mancha nem ruga ou coisa semelhante, mas santa e irrepreensível... Por isto deixará o homem o seu pai e a sua mãe e se ligará à sua mulher e serão ambos uma só carne. É grande este mistério: refiro-me à relação entre Cristo e a sua Igreja. Este texto há de ser entendido dentro das grandes linhas da teologia de São Paulo. O Apóstolo considera o primeiro Adão como tipo ou imagem do segundo Adão, Jesus Cristo, o Homem por excelência e o Pai de uma nova linhagem (cf. Rm 5, 14; Ef 1, 10.21s; 1Cor 15, 45.47). Este novo Adão tem como Esposa a comu- nidade cristã, que é a Igreja; a união de Cristo com a Igreja no amor torna-se assim o modelo do qual toda união matrimonial participa; esta participação não quer dizer apenas imitação, mas significa configuração pequena à Realidade grande, que se estende em cada casal. É isto que faz a grandeza do matrimônio: sacramento grande em relação a Cristo e à Igreja (Ef 5, 32). Isto também quer dizer que a união do matrimônio-sacramento é mais rica de conteúdo e signi- ficado do que a união de vínculo natural; esta participa do binômio Adão-Eva, ao passo que aquela é a configuração pequena do binômio Cristo-Igreja (novo Adão e nova Eva); em consequência, o lar cristão é, com razão, chamado «Igreja doméstica»; por ele a vida eterna, conquistada por Cristo na cruz para a huma- nidade, é transmitida a novas e novas gerações. Estas verdades ficaram gravadas na consciência dos antigos cristãos, de modo que, embora se casassem como todos se casam (sem ter um cerimonial próprio, mas adotando símbolos usuais da cultura greco-romana), sabiam que as suas núpcias tinham um conteúdo específico, muito denso e dignificante. Como dito, o sacramento do matrimônio eleva ao plano sobrenatural a ins- tituição natural do casamento: a obra da redenção, que se realiza por Cristo e pela Igreja, se efetua em miniatura na união e na vida dos cônjuges cristãos. Diz o Concílio de Florença em 1439: “o sacramento do matrimônio é sinal da união de Cristo e da Igreja como afirma o Apóstolo: “este sacramento é grande em vista da relação entre Cristo e a Igreja’ (Ef 5, 32)”. A seguir, o Concílio cita três bens do matrimônio, aliás já apregoados por S. Agostinho: ■ o bem da prole: o matrimônio é destinado à perpetuação do gêne- ro humano, de modo que a exclusão total e incondicional de prole torna inválido o casamento religioso. Também o torna inválido a impotência (incapacidade de relacionamento sexual incurável e an- terior ao casamento (Cânon 1084)); ■ o bem da fidelidade ou do apoio mútuo e complementar existente entre os cônjuges; ■ o bem do sacramento, entendendo-se “sacramento” no sentido da antiga linguagem latina, ou seja, como juramento sagrado inviolável ou indissolúvel. (cf. DS 1327). O Sacramento do Matrimônio Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 161 O Concílio do Vaticano II, na sua Constituição Lumen Gentium no II desen- volve tais noções nos seguintes termos: Os cônjuges cristãos, pela virtude do sacramento do matrimônio, pelo qual significam e participam do mistério de unidade e fecundo amor entre Cristo e a Igreja, ajudam-se a santificar-se um ao outro na vida conjugal bem como na aceitação e educação dos filhos; têm para isso, no seu estado e função, um dom especial dentro do povo de Deus (cf. I Cor 7,7). Desse consórcio procede a família, onde nascem os novos cidadãos da sociedade humana, que, pela graça do Espírito Santo, se tornam filhos de Deus no Batismo, para que o povo de Deus se per- petue no decurso dos tempos. É necessário que nesta espécie de igreja doméstica os pais sejam para os filhos, pela palavra e pelo exemplo, os primeiros mestres da fé. A Constituição Gaudium et Spes, do mesmo Concílio, em seu n. 48 volta ao assunto: A família cristã patenteará a todos a presença viva do Salvador no mun- do e a autêntica índole da Igreja pelo amor dos cônjuges, pela fecundi- dade generosa, pela unidade e fidelidade e, pela amável cooperação de todos os membros, porque se origina do matrimônio, que é imagem e participação do pacto de amor entre Cristo e a Igreja. Estes dizeres têm significado profundo. Implicam que a analogia entre a Igreja e o matrimônio não é meramente extrínseca, como se fossem duas entidades que, consideradas em si mesmas, não revelariam qualquer nexo ou relacionamento mútuo; na verdade, é uma analogia que se deriva da mesma matriz: o amor de Deus, que se doa à humanidade inteira mediante a Igreja e a cada célula da huma- nidade inteira dentro da família. A matéria do sacramento do matrimônio é a união do homem e da mulher assumida na vida da Igreja. Não se trata apenas da união sexual, mas de todo o contexto de amor e doação, do qual a união sexual é a expressão; esse contexto tem características morais e jurídicas. A sexualidade no ser humano, embora tenha traços comuns com a dos animais irracionais no plano biológico, difere da sexualidade dos infra-humanos; é parte integrante da pessoa, que tem um apelo para a Transcendência ou para o Absoluto; é para atingir essa finalidade maior que o homem e a mulher se casam; em consequência as funções biológicas dos esposos tomam traços de espiritualidade e nova dignidade. OS SACRAMENTOS DE CURA E SERVIÇO Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. VU N I D A D E162 A forma do sacramento é o consentimento mútuo dos nubentes, que se unem em comunhão com a Igreja. A partir da Idade Média, os teólogos falam de contrato matrimonial, enfa- tizando o aspecto jurídico da união conjugal. Esta posição não é falsa, mas não diz tudo o que é o casamento sacramental; na verdade, não se trata aí de bens meramente materiais, mas de duas pessoas que se doam mutuamente, e se doam, antes do mais, por amor espontâneo, não por obrigação; os nubentes se compro- metem por amor. O elemento jurídico é importante e deve ser conservado para fortalecer a perseverança na doação, quando há dificuldades; o contrato regis- trado na Igreja ou em cartório é sempre um espelho no qual os nubentes podem contemplar sua personalidade e evitar dizer que o casamento acaba quando o amor acaba ou quando faltam disposições subjetivas para sustentá-lo. Para dois católicos validamente batizados, o contrato civil de casamento não substitui o sacramento. A Igreja respeita o matrimônio civil; é necessário para garantir os efeitos civil do casamento, mas ela julga que, quando é dissolvido pelo divórcio, fica aos cônjuges civilmente divorciados a possibilidade de con- trair um matrimônio sacramental. As pessoas divorciadas que não se unem a outro(a) consorte, mas vivem castamente, são pessoas que edificam a comunidade por guardarem fidelidade ao vínculo conjugal; podem receber os sacramentos. O amor ao cônjuge não pode ser um disfarçado amor a si próprio. Muitos casamentos fracassam porque os esposos não estão unidos por um amor autêntico, mas por um egoísmo a dois. O verdadeiro amor mede-se pela capacidade de sacrifício e de entrega mútua. (São João Paulo II) Os sacramentos do serviço colaboram para fazermos com fervor e alegria a vontade Deus no mundo. O sacramento do Matrimônio une duas pessoas em uma só carne para que juntas busquem a santidade e a justiça e eduquem seus filhos no amor a Deus. O Sacramento do Matrimônio Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 163 CONSIDERAÇÕES FINAIS Caro(a) aluno(a), concluímos nossa última unidade sobre liturgia e sacramentos. Nesta unidade que encerramos, percebemos que a ação de Deus perpassa toda nossa vida pelos sacramentos. Desde que nascemos, nossa vida, nosso serviço e até na hora da dor e do sofrimento, Deus se faz presente, como o Bom Pastor que não abandona uma só ovelha no meio de uma centena. Assim Deus é conosco, somos centenas de milhares no mundo e todos nós temos nosso nome gravado no Coração de Jesus. Desse coração de um Pastor e Deus, nunca seremos esquecidos, Ele mesmo diz: “Pode uma mulher esquecer-se de seu filho de peito, de maneira que não se compadeça do filho do seu ventre? Mas ainda que esta se esquecesse, eu, todavia, não me esquecerei de ti. Eis que nas palmas das minhas mãos eu te gravei” (Isaías 49, 15-16). Os sacramentos, portanto, são ações de Deus que acompanham nossa vida, nos encorajando, para vivermos sempre em harmonia com nosso Criador e reden- tor e com coragem buscar sempre evitar o pecado — pois este ofende a Deus e nos afasta do próximo — e a buscarmos sempre a Sua vontade. Vimos nesta última unidade quatro sacramentos, denominados como sacramentos da cura e do serviço. Os sacramentos estabelecem em nós o per- dão salvífico de Deus e aumenta ainda mais nossa ligação com ele. Juntamente com a Eucaristia a confissão nos ajuda a um dia como São Paulo dizer: não sou eu quem vive, mas é Cristo que vive em mim. O Sacramento da Unção dos enfermos vem trazer o conforto do Bom Pastor para a pessoa que sofre a enfermidade e muitas vezes colabora para tranquili- zar o enfermo na hora da agonia, mostrando a ele que mesmo na hora da nossa morte, o Senhor está conosco, segurando nossas mãos e nos acolhendo para a vida eterna. Os dois últimos sacramentos nos mostram e nos dão a força de Deus para conseguirmos servi-lo com mais entusiasmo. Quando acertamos nossa voca- ção, conseguimos com alegria servir a Deus e amar o próximo, como o próprio Deus nos amou. OS SACRAMENTOS DE CURA E SERVIÇO Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. VU N I D A D E164 165 1. Em relação aos sacramentos pregados e praticados pela Igreja Católica Apostó- lica Romana, assinale a alternativa correta. a) A Igreja não faz diferença dos sacramentos. b) Apenas existe um sacramento administrado de formas diferentes. c) A Igreja divide os sacramentos em três grupos: Sacramentos da Iniciação Cristã, Sacramentos da Cura e Sacramentos do Serviço. d) Todos os Sacramentos são da Cura. e) Nenhuma das alternativas anteriores está correta. 2. Os Apóstolos, não por efeito de sua santidade própria, mas em consequência de um dom de Deus “Recebei o Espírito Santo”, são habilitados a perdoar os pe- cados. A sentença proferida pelos Apóstolos é confirmada pelo próprio Deus. As formas passivas “Serão perdoadas” e “Serão retidos” são expressões que os judeus usavam para não proferir o santo nome de Javé nas expressões “Javé os perdoará” e “Javé não os perdoará ou os reterá”. Com base nos estudos sobre o Sacramento da confissão, assinale a alternativa correta: a) O perdão dos pecados é feito somente por Deus, e durante a confissão com um sacerdote é Cristo mesmo que perdoa os penitentes por meio das pala- vras proferidas pelo Sacerdote. b) Só Deus perdoa pecados. c) A Igreja não pode pedir aos fiéis que confessem, pois somente Deus pode perdoar os pecados. d) Os padres é que perdoam os pecados. e) Nenhuma das alternativa anteriores está correta. 3. A Igreja continuou a se interessar pelos enfermos e sofredores. Em Cl 1, 24, São Paulo vê seus padecimentos como participação da Paixão de Cristo: «Completo em minha carne o que falta à Paixão de Cristo em favor do seu Corpo, que é a Igreja». Da mesma forma, o Apóstolo valoriza seus sofrimentos à luz dos de Cristoem 2Cor 1, 5: «Assim como os sofrimentos de Cristo são copiosos para nós, assim também por Cristo é copiosa a nossa consolação. Com base no tex- to, analise as afirmações: I. Os doentes não colaboram no mistério de Cristo. II. Cristo sofre com os enfermos, consolando-os. III. O Sacramento da Unção dos Enfermos é uma ação de Deus para salvar. IV. O Sacramento da Unção dos Enfermos é apenas para encomendar a alma da pessoa que está morrendo a Deus. 166 Podemos afirmar que: a) Apenas I e II estão corretas. b) Apenas II e III estão corretas. c) Apenas I está correta. d) Apenas II, III e V estão corretas. e) Nenhuma das alternativas anteriores está correta. 4. A Ordem é o sacramento graças ao qual a missão confiada por Cristo aos Após- tolos continua a ser exercida na Igreja, até ao fim dos tempos: é, portanto, o sa- cramento do ministério apostólico. Com base nos estudos sobre o Sacramento da Ordem, marque V para afirmações Verdadeiras e F para afirmações Falsas: ( ) O Sacramento da Ordem divide-se em graus. ( ) O Diaconato, Presbiterado e Episcopado são os três graus do sacramento da Ordem. ( ) Pode-se afirmar que o Sacramento da Ordem não foi instituído pelo pró- prio Cristo. ( ) Homens e Mulheres podem ser ordenados sacerdotes católicos. ( ) Durante a administração dos sacramentos, Cristo age por meio dos Sacerdotes. a) F, V, V, F, V. b) V, V, F, V, V. c) V, F, F, V, V. d) V, V, F, F, V. e) V, V, V, V, F. 5. O sacramento do matrimônio eleva ao plano sobrenatural a instituição natural do casamento: a obra da redenção que se realiza por Cristo e pela Igreja, se efetua em miniatura na união e na vida dos cônjuges cristãos. Diz o Concílio de Florença em 1439: “o sacramento do matrimônio é sinal da união de Cristo e da Igreja como afirma o Apóstolo: “Este sacramento é grande em vista da relação entre Cristo e a Igreja’ (Ef 5, 32)”. Conforme os estudos sobre o Sacramento do Matrimônio, assinale a alternativa correta. a) Cristo permite a separação dos casais. b) O Sacramento do Matrimônio não é indissolúvel. c) O Matrimônio não é sacramento. d) O Sacramento do Matrimônio é indissolúvel. e) Nenhuma das alternativas anteriores está correta. 167 QUE PAPEL TÊM OS SACRAMENTOS NA VIDA DA IGREJA? Há certas perguntas que nos espantam num primeiro momento por se apresen- tarem tão evidentes. Perguntar sobre a ligação entre os sacramentos e a Igreja nos parece mais ou menos pedir a razão pela qual alguém se queima ao colocar a mão no fogo. Entretanto, é justamente pelo fato de serem muitos os motivos desta relação, que convém organizar os argumentos, pois mui- tas razões evidentes postas em desordem não são de grande valia. Procuremos então analisar, através da história da salvação, o papel dos sacramentos na vida da Igreja. Rompimento com a graça Divina: Por um ato de misericórdia, Deus criou o uni- verso e tudo que nele contém, e como obra prima dentre as criaturas visíveis, criou o homem à sua imagem e semelhança, a fim de que este pudesse participar de sua pró- pria vida, através da graça. Tragicamente o homem quebrou a aliança estabelecida com Deus, e por meio do primeiro pecado, todo o gênero humano ficou privado de sua graça e estava condenado a não mais parti- cipar do fim para o qual Deus o havia criado. Que grave e duro castigo infligido pela Jus- tiça Divina ao pecado cometido! Entretanto, quão doce e suave solução encontrada pela Misericórdia Infinita do Criador, pois Ele enviou ao mundo o seu Filho Unigênito, a fim de redimir todo o gênero humano, e é por isso que a Igreja não hesita em cantar “O Felix Culpa, que há merecido a graça de um tão grande Redentor”. Redenção do gênero humano: Tendo o homem sido infiel, perdeu o maior dos tesouros que lhe fora confiado: a graça de Deus; não só as portas do paraíso terres- tre lhe foram fechadas, mas o céu já não podia receber o homem fora do estado de graça. Entretanto, em sua Infinita misericór- dia “Deus amou tanto o mundo que lhe deu seu filho unigênito” (Jo 3,16) e a todos que cressem no seu nome, deu o poder de se tornarem filhos de Deus (cf. Jo 1, 12). Com a vinda de Nosso Senhor Jesus Cristo à Terra, “a revelação de Deus entrou no tempo e na história, e [esta] torna-se, assim, o lugar onde podemos constatar a ação de Deus em favor da humanidade”. A Santa Igreja continua a missão de Cristo: Ao se entregar como vítima para a salvação dos homens, Nosso Senhor não só reparou a ofensa feita a Deus através do pecado, mas mereceu para todos os homens a graça e de “sua plenitude todos nós recebemos graça sobre graça” (Jo 1, 16). Deus poderia distribuir sua graça aos homens diretamente por Si mesmo; entre- tanto, quis dispensá-la por meio da “Igreja visível, formada por homens, a fim de que por meio dela todos fossem em certo modo, seus colaboradores na distribuição dos divinos frutos da Redenção” e a Igreja é desta forma a continuadora da obra come- çada pelo Salvador. Igreja fortalecida pelos Sacramentos: A vida e os ensinamentos de Cristo deitam luz sobre a existência do homem, e lhe é traçada uma meta que pareceria um exa- gero se não fosse proposta pelo próprio Filho de Deus: “Sede perfeitos como vosso Pai celeste é perfeito” (Mt 5, 48). Como atin- gir este alto objetivo sendo o homem tão frágil e volúvel? 168 Certamente seria difícil imaginar que os pais dissessem a um filho recém-nascido: “Nós demos a vida a você, mas não haverá alimento quando você tiver fome, nem remédios quando adoecer, nem apoio de um braço quando você se sentir fraco. Por- tanto arranje-se como puder”. Se os homens não são capazes de tratar assim a um filho, sobretudo Deus não o faria. (Cf. Lc 11, 13). Assim como o corpo humano necessita de energias especiais para que se mantenha vivo, cresça e se desenvolva, “o Salvador do gênero humano providenciou admiravel- mente ao seu corpo místico enriquecendo-o de sacramentos, que com uma série ininter- rupta de graças amparam o homem desde o berço até ao último suspiro”. Os Sacramentos na vida pessoal e social: Os sacramentos estão presentes em toda vida da Igreja, “existem por meio dela e para ela”, e segundo a afirmação de Santo Agostinho, “são esses sacramentos que fazem a Igreja”. Às necessidades espirituais, Cristo instituiu os sacramentos do batismo, crisma, Eucaris- tia, penitência e unção dos enfermos, afim de que o homem pudesse alcançar, recupe- rar, e aumentar a graça de Deus ao longo de sua vida. Assim, aos que nasceram para esta vida mortal, lhes é infundido a ver- dadeira vida da graça através do batismo, pelo qual são feitos membros da Igreja, e ao serem assinalados com o caráter batismal, passam a ter o direito de receber todos os outros dons sagrados. Com a crisma, o cris- tão passa a ser um verdadeiro soldado da Santa Igreja, recebendo as forças necessá- rias para proclamar e defender sua fé. Pelo sacramento da penitência, a Igreja oferece a seus filhos o perdão de suas faltas e um novo vigor em sua marcha rumo ao céu. Pela Sagrada Eucaristia, “fonte e ápice de toda a vida cristã”, os fiéis não somente são alimentados e fortificados, mas manifestam a unidade de todos entre si constituindo um só corpo unido a Cristo, sua Cabeça. Por fim, pela Unção dos enfermos, a Santa Igreja ampara e consola os doentes, concedendo às almas feridas o remédio sobrenatural, que lhes abrirá a porta do céu, onde pode- rão gozar da divina bem-aventurança por toda a eternidade. Às necessidades sociais: foi dado o matri- mônio, afim de prover o “aumento externo e bem ordenado da sociedade cristã” constituindo a família como uma igreja doméstica, afim de que pela palavra e pelo bom exemplo, os pais possam ser verda- deiros e dignos reflexos de Deus para os próprios filhos. Por fim, pelo sacramento da Ordem, Cristo provê a Igreja de pasto- res que cuidem do rebanho, sustentando-o com o Pão dos Anjos e com o alimento da doutrina, dirigindo-o com os conselhos, e fortalecendo-ode todas as formas com as graças celestes, especialmente através da distribuição dos sacramentos. Fonte: adaptado de Aquino (2014, on-line)4. Os Sinais da Salvação (Século XII - XX) Bernard Sesboué; Henri Bourgeois; Paul Tihon Editora: Loyola Sinopse: o terceiro período (séculos XII a XX) tem seu ponto de partida na Idade Média latina: é nessa época que vem à luz a consideração técnica dos sacramentos, de sua definição e de seu número. É claro que os Padres tinham falado do Batismo, da Eucaristia e dos demais ritos que mais tarde tomarão o nome genérico de sacramentos. No século XV, aparecem os primeiros tratados da Igreja. A consideração dos sacramentos está no primeiro plano da preocupação do concílio de Trento; a da Igreja se torna cada vez mais precisa até as constituições dogmáticas do Vaticano I e do Vaticano II. Site da Cléofas (os sacramentos) Como já demonstrei acima o site da Cléofas é muito rico em explicações sobre doutrina Católica. Claro que os sacramentos não ficaram de lado nas produções do Professor Felipe Aquino. O Site é muito bom, vale a pena visitar! Web: <http://cleofas.com.br/os-sete-sacramentos/> Material Complementar MATERIAL COMPLEMENTAR REFERÊNCIAS CATECISMO da Igreja Católica. São Paulo: Loyola, 1983. FABER, E-M. Doutrina Católica dos Sacramentos. São Paulo: Loyola, 2008. DENZINGER, H.; HUNERMANN, P. Compêndio dos símbolos, definições e declara- ções de fé e moral. São Paulo: Paulinas, 2007. HIPÓLITO DE ROMA. Tradição Apostólica. Disponível em: <https://www.ecclesia. com.br/biblioteca/pais_da_igreja/tradicao_apostolica_hipolito_roma.html>. Aces- so em 20 out 2017. PAPA JOÃO PAULO II. Exortação Apostólica Pós-sinodal Reconciliatio et Peni- tentia. 1984. Disponível em: <http://w2.vatican.va/content/john-paul-ii/pt/apost_ exhortations/documents/hf_jp-ii_exh_02121984_reconciliatio-et-paenitentia. html>. Acesso em: 20 out 2017. ______. Carta Apostólica Salvifici Doloris. Disponível em: <https://w2.vatican.va/ content/john-paul-ii/pt/apost_letters/1984/documents/hf_jp-ii_apl_11021984_ salvifici-doloris.html>. Acesso em: 20 out 2017. PAPA PAULO VI. Constituição Sacrosanctum Concilium. In: Documentos do Concílio Vaticano II. São Paulo: Paulus, 1997. SACRAMENTÁRIO. São Paulo: Paulus, 2008. SCHNEIDER, T. (org.). Manual de Dogmática. v. II. Petrópolis: Vozes, 2002. SESBOUÉ, B.; BOURGEOIS, H.; TIHON, P. Os Sinais de Salvação. (Séculos XII - XX). São Paulo: Loyola, 2006. Referências On-Line 1 Em: <http://www.vatican.va/archive/cathechism_po/index_new/p2s- 2cap1_1420-1532_po.html>. Acesso em: 13 jun. 2018. 2 Em: <http://opusdei.org.br/pt-br/article/tema-24-i-a-uncao-dos-enfermos>. Acesso em: 14 jun. 2018. 3 Em: <http://www.vatican.va/archive/cathechism_po/index_new/p2s- 2cap3_1533-1666_po.html>. Acesso em: 14 jun. 2018. 4 Em: <http://cleofas.com.br/que-papel-tem-os-sacramentos-na-vida-da-igreja/ Acesso em: 14 jun. 2018. 1. Alternativa C. 2. Alternativa A. 3. Alternativa B. 4. Alternativa D. 5. Alternativa E. GABARITO 171 CONCLUSÃO Concluindo nosso estudo sobre o conceito de liturgia, conseguimos compreender que a prática Litúrgica é a vida da Igreja, e para compreendê-la é necessário conhecê-la sempre relacionada à história da salvação, e foi esse o caminho fizemos nesta disciplina que se encerra. Ao mesmo tempo que damos importância para a história da salvação revelada, também levamos em consideração as práticas devocionais que também fizeram história na liturgia. A Liturgia é tida com grande apreço pela Igreja Católica, que a celebra à luz da fé, sendo configurada como o último tempo da história da salvação, uma vez que se torna presente a obra redentora de Cristo mediante sinais sagrados que são os sacramentos, que veremos nas unidades seguintes. Toda Religião tem alguma forma de celebrar aprofundando sua fé em relação ao seu fundador ou ao ser transcendente que se crê. No entanto, na Igreja Católica a Liturgia perpassa a dimensão de celebração à medida que compreende que Liturgia também é o serviço aos outros próximos membros de sua comunidade ou distantes. Sendo uma celebração e ao mesmo tempo um serviço, é a real ação de Deus na história e na vida das pessoas que dela participam, configurando-se como ação salvífica para a comunidade, estabelecendo-se como sacramentos. Deus mesmo através da união da palavra com a matéria realiza o sacramento. Assim, não é sacerdote que batiza ou ainda que absolve na confissão, mas é Deus que através do sacerdote, das palavras proferidas e da matéria utilizada que realiza o Batismo ou ainda que confere a absolvição sacramental. Pelos Sacramentos, Deus perpassa toda a nossa vida: já desde cedo pelo Batismo nos tornando seus filhos adotivos, nos alimentando com seu Corpo e seu Sangue na Euca- ristia, nos conferindo os seus sete dons na confirmação, nos unindo em matrimônio e ordenando outros presbíteros, diácono e bispos para melhor servirmos na sua messe, nos absolvendo de nossas faltas para que possamos viver em estado de graça e curando nosso corpo e nosso espírito, nos fortalecendo pela unção. Deus está conosco em todos os momentos de nossa vida e de nossa existência, esse é o verdadeiro e real significado da liturgia e dos sacramentos celebrados. CONCLUSÃO