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Prof. Dr. Fernando Oliveira UNIDADE I Kant Para iniciar o estudo de Kant, é necessário tomar fôlego racional diante da grandiosidade da obra do filósofo prussiano. É bem provável que você já tenha lido ou ouvido que Kant é, na história dos filósofos, um dos mais complexos que se pode encontrar e que sua obra é hermética, cabendo apenas a iluminados o domínio de seus conceitos com clareza. Há certo exagero nessa rotulação. Encontramos, sim, dificuldades de natureza linguística e até discursiva nos seus textos, mas isso não justifica a fama imerecida de filósofo incompreensível. Temos que desconstruir esse tipo de lenda, para iniciarmos o estudo da disciplina sem nenhum preconceito. Introdução e Apresentação da Disciplina A leitura e o estudo vão permitir que você conheça um dos grandes sistematizadores da história da filosofia, considerado um renovador de paradigmas e o que mais influência exerceu em todos os pensadores do século XIX, ainda que estes pareçam alheios às suas ideias. Comparações como oceano e universo, para se referir ao seu sistema – o kantismo –, não são excessos quando se leva em conta a grandiosidade e a profundidade de suas obras, principalmente Crítica da razão pura, Crítica da razão prática e Crítica do juízo. Por esses títulos, sua doutrina também é designada criticismo. Introdução O que significa dizer que o conjunto de obras de Kant constitui um sistema? Primeiro, trata- se de reconhecer que a produção de seus livros segue um lineamento unitário que consolida uma doutrina filosófica. Segundo, significa reconhecer que todos os elementos teóricos – termos, categorias, conceitos e proposições – apresentam uma coesão e uma coerência estrutural quase matemática. Todos os princípios, categorias e conclusões conferem uma unidade ao caminho kantiano, que configura o percurso intelectual do filósofo por suas obras como um todo. Kant e o Pensamento Filosófico O sistema kantiano é tão bem estruturado que se assemelha, no modo de construção, ao trabalho de um relojoeiro, no qual todas as peças e mecanismos, na montagem final do relógio, se encaixam com coerência milimétrica. É claro que é possível identificar algumas fissuras no arcabouço teórico de Kant, isto é, lapsos de argumentação no ordenamento lógico de suas ideias. Contudo, a maioria dos analistas concorda que não há lacunas graves no sistema e que toda sua produção bibliográfica representou o esforço para preservar essa coerência. Toda a sistematização teórica é preenchida de conceitos que o filósofo vai descortinando e revelando, à exaustão, ao longo de seus escritos. Muitas vezes, em função desse rigor por minúcias, o corpo textual se torna redundante e até repetitivo. Kant e o Pensamento Filosófico Vamos fazer a contextualização do sistema kantiano junto às grandes correntes da história da filosofia e identificar o foco temático predominante no período denominado filosofia moderna (séculos XVII e XVIII). Antes de conhecermos os dados da vida de Immanuel Kant (1724-1804) e de nos aprofundarmos em suas obras, é importante situar sua presença filosófica no período moderno e conhecer as ideias vigentes e as influências que recebeu. A filosofia moderna corresponde ao terceiro período da divisão da história geral da filosofia. Trata-se do período intermediário, entre a filosofia medieval (séculos III a XIV), que a precedeu, e a filosofia contemporânea, que se inicia no século XIX e chega até os nossos dias. Por sua vez, a filosofia moderna é antecedida pelo renascimento (séculos XV e XVI). Capítulo 1 – Kant Assim, a filosofia moderna caracteriza-se, tematicamente, por ser antropocêntrica (anthropo = homem), ou seja, a atenção dos filósofos se volta para o próprio homem enquanto protagoniza o exercício da reflexão filosófica. Immanuel Kant é um ícone representativo desse contexto. No início de seu percurso como intelectual, inspirado pelos ideais do humanismo renascentista, Kant impõe a si mesmo três questões abrangentes, que tem intenção de sistematizar em uma doutrina filosófica. As questões básicas são: Que posso saber? Que devo fazer? Que posso esperar? Capítulo 1 – Kant Entretanto, Kant percebe que na raiz das três questões havia outra questão básica e precedente: Que é o homem? A resposta a essa protopergunta deveria servir de fundamento para o estudo das três questões iniciais. Mas, sendo difícil e quase impossível responder, de pronto, à questão antropológica – Que é o homem? – pela complexidade do que é o ser humano, Kant reorienta seus estudos de filosofia para tentar encaminhar, ao mesmo tempo, as respostas às questões iniciais e a construção das disciplinas delas decorrentes. Capítulo 1 – Kant Ainda no contexto da filosofia moderna, vamos relacionar a obra de Kant às correntes filosóficas e aos filósofos que o antecederam ou transcorreram no mesmo período, para visualizar, de maneira concisa e esquemática, as ideias reinantes no período e a mentalidade ideológica que constituiu a moldura do cenário intelectual da época. Essa iniciativa, do ponto de vista didático, ao se escrever sobre a história da filosofia, objetiva sondar possíveis contatos de filósofos contemporâneos de Kant e levantar as relações de estudo e leitura desses predecessores a ele que, de modo direto, exerceram influências na sua formação intelectual. Filosofia Moderna e o Kantismo Assinale a alternativa que descreve a teoria/doutrina que Kant defende em suas obras e pensamento: a) Evolucionismo. b) Criticismo. c) Humanismo. d) Antropocentrismo. e) Iluminismo. Interatividade Assinale a alternativa que descreve a teoria/doutrina que Kant defende em suas obras e pensamento: a) Evolucionismo. b) Criticismo. c) Humanismo. d) Antropocentrismo. e) Iluminismo. Resposta As ideias do humanismo renascentista impregnaram toda a Europa, ampliando as expectativas de mudanças culturais e de transformação material da sociedade. A filosofia sai dos mosteiros e centros escolásticos e abre-se para o mundo, ao trocar o latim oficial da igreja pela língua vernácula do dia a dia. Vive-se um ambiente generalizado de renovação espiritual e intelectual. Os efeitos da reforma protestante e as descobertas no campo das ciências físicas e experimentais estimulavam novas abordagens de temas filosóficos. A filosofia despe-se dos paramentos dos clérigos e passa a vestir os jalecos dos professores profanos nas universidades não confessionais. Kant e o Humanismo Renascentista Vamos retroceder um pouco na história para entendermos a mudança de paradigma que ocorre com o fim da filosofia pré-moderna e o início da filosofia moderna. Na filosofia pré- moderna, antes de Descartes (1596-1649), os filósofos não tinham dificuldade em reconhecer a evidência real daquilo que, no período moderno, se convencionará chamar de mundo exterior, isto o é, a existência de uma realidade externa em contraposição ao conteúdo ideal no interior da mente. Para os filósofos anteriores a Descartes, era patente que existia um mundo fora do sujeito, objeto para todo o conhecimento. Isso não precisava ser demonstrado, porque não havia se tornado um problema. Na concepção dos filósofos pré-modernos, a realidade externa contém (ou é composta de) coisas que podem ser apreendidas pela razão, sem muito esforço. Paradigma Pré-moderno Essas coisas, consideradas objetos para um sujeito cognoscente, são estados objetivos do ser. Elas existem, indubitavelmente, na realidade e são descobertas como dados evidentes para a recepção passiva da razão. O registro dessas coisas percebidas forma um arquivo de ideias que representam as coisas do mundo. As ideias não são constituídas pela razão. Outra característica da filosofia pré-moderna é o fato de o mundo exterior ser objetivamente ordenado. A realidade não é composta meramente ou caoticamente de objetose fatos isolados uns dos outros. Objetos e fatos se vinculam uns aos outros por meio de relações, entre as quais o princípio da causalidade e o associacionismo. Kant e a Filosofia O princípio da causalidade, em um sentido geral, é a conexão entre dois eventos, em virtude da qual o segundo é diretamente previsível a partir do primeiro. Do ponto de vista empírico, é a relação causal necessária e infalível de um corpo sobre outro. Do ponto de vista lógico, é o princípio que relaciona causa, razão e efeito: a causa é o que dá razão ao efeito. Para os filósofos pré-modernos, isso significava que o mundo possuía uma ordem e que essa ordem existia independentemente do ser humano. Não é o sujeito racional que impõe ordem à realidade. Esta já é ordenada, cumprindo ao ser humano apenas descobrir, desvelar e obedecer à ordem natural que existe desde os primórdios. É esse processo que possibilita o conhecimento na concepção dos filósofos pré-modernos. Kant e o Pensamento Filosófico A realidade, segundo a filosofia pré-moderna, contém fatos singulares e complexos. Esses fatos são estados de coisas que existem na realidade e podem ser descobertos e não constituídos. Conquanto possam existir estados de coisas imaginadas, eles não devem ser descritos como fatos imaginários, pois os fatos são sempre reais. No contexto pré-moderno, a verdade é uma relação de correspondência ou adequação entre os juízos de um sujeito e os fatos que são objeto desses juízos. Se o juízo emitido por um sujeito corresponde aos fatos, dizemos que é verdadeiro; se não existe essa correspondência entre o juízo, que é um reflexo na razão, e o fato supostamente real, dizemos que ele é falso. Assim, a realidade não é nem verdadeira nem falsa: ela simplesmente é. Os julgamentos acerca da realidade, isto é, os juízos, é que podem ser verdadeiros ou falsos. Kant e o Pensamento Filosófico A filosofia começa a perder seu traço escolástico e se converte em atividade de livre pensar. Os maiores representantes são Descartes, Leibniz, Bacon, Locke, Hume e, principalmente, Kant. A nova filosofia busca suas fontes não mais nas doutrinas ou tratados dos clássicos, mas em toda amplitude da realidade, com foco e interesse em toda espécie de tema da vida cotidiana. É um período de intensa fermentação de ideias em grande parte do território europeu, deslocando o foco de atenção do poder de Roma. Nessa marcha de acentuação da mentalidade moderna, novos livros são publicados e novos debates instigados, mesmo sob o risco de censura ou condenação, por serem considerados heréticos. Capítulo 1 – Kant Do ponto de vista metodológico, a filosofia moderna vai se distanciar dos dois métodos clássicos: o indutivo e o dedutivo axiomático, e tentar encontrar uma terceira via. A filosofia moderna vai recusar o procedimento indutivo, porque este não garante o conhecimento certo, como diria Popper, porque, por mais observações que um sujeito possa ter feito, ele nunca vai ter plena certeza de que cumpriu com o protocolo científico vigente de fazer todas as observações. O exemplo clássico é a afirmação: “todos os cisnes são brancos”. Não há garantia na afirmação generalizada de que todos os indivíduos da espécie cisne são brancos, pois pode existir um cisne negro. Capítulo 1 – Kant Nos dois métodos, há condicionantes e, sobretudo, condicionais, isto é, componentes a priori denominados transcendentais por Kant, descobertos em sua investigação sobre as atribuições metafísicas da razão. Elementos condicionantes e transcendentais que são intrinsecamente dependentes das situações da investigação e que, se não forem devidamente compreendidos, corre-se o risco de encaminhar a razão para uma postura cética crescente que, talvez, culmine em um irracionalismo. O desafio de Kant será o de encontrar um método que oriente a análise e ajude a razão a pesquisar o objeto, ou melhor, fazer o objeto se adaptar à razão investigativa. O filósofo desenvolverá o método transcendental. Capítulo 1 – Kant A filosofia moderna representa o período que vai de 1598 (nascimento de René Descartes) até 1781 (publicação da Crítica da razão pura, de Immanuel Kant). Pode ser dividida em duas grandes vertentes filosóficas: o empirismo de Bacon, Berkeley, Locke e Hume, e o racionalismo de Descartes, Leibniz e Baumgarten. Vários desses autores tiveram influência direta no kantismo. Vários filósofos tiveram suas ideias revistas e rejeitadas nos textos das três Críticas. Outros tiveram seus conceitos incorporados no texto, depois de passarem por uma reinterpretação teórica de Kant. Todos os autores, sem exceção, foram estudados e revisados teoricamente, demonstrando, da parte de Kant, um conhecimento atualizado das correntes filosóficas da época e um revisionismo crítico de quase toda filosofia moderna. Filosofia Moderna e o Kantismo A sistematização da filosofia, encontrada nas páginas da ___________________, comprova que Kant foi um grande leitor dos filósofos clássicos, antigos e medievais, e dos seus contemporâneos, principalmente Rousseau e Hume. a) Crítica da razão pura. b) A paz perpétua. c) Crítica da razão prática. d) Metafísica dos costumes. e) Nenhuma das alternativas. Interatividade A sistematização da filosofia, encontrada nas páginas da ___________________, comprova que Kant foi um grande leitor dos filósofos clássicos, antigos e medievais, e dos seus contemporâneos, principalmente Rousseau e Hume. a) Crítica da razão pura. b) A paz perpétua. c) Crítica da razão prática. d) Metafísica dos costumes. e) Nenhuma das alternativas. Resposta Descartes desenvolve um método intuitivo com base no apriorismo, que, por meio da identificação de ideias claras e distintas, procede dedutivamente, como uma série de teoremas matemáticos, até atingir verdades lógicas e indubitáveis que adota como pilares para a construção do edifício do conhecimento. O método cartesiano (Descartes é cartesius, em latim) comprova que a constatação da existência do conhecimento e do mundo decorre da existência primeira do próprio pensamento: “se duvido, penso, e se penso, existo” (cogito, ergo sum). Com a proposta da dúvida metódica, embora insuficiente para explicar toda a realidade das coisas, Descartes acentua a necessidade de maior rigor e maior disciplina no tratamento metodológico da filosofia. Kant X Descartes Certamente, a criteriologia do método cartesiano auxiliou Kant a iniciar sua reflexão crítica, a saber: A colocação do problema inicial de maneira metódica, com clareza e distinção. A análise dos inúmeros aspectos (significados) do problema na ordem ideal e na ordem real em que se apresentam logicamente. A busca de evidências apodíticas, isto é, imediatamente certas, que sintetizem e justifiquem os juízos de verdade. Kant e Descartes Apesar de o filósofo francês desvalorizar totalmente o conhecimento sensível por ser uma fonte de enganos, tese que vai ser rebatida por Kant, junto com os empiristas, Descartes eleva a consciência (o cogito), como intuição primeira, à condição de tribunal capaz de decidir sobre a verdade. Kant vai se apropriar desse cenário para realizar o julgamento da razão por ela mesma. Kant e a Filosofia Gottfried Wilhelm Leibniz (1646-1716), tal qual Immanuel Kant, é um dos grandes filósofos alemães do século XVII, por ser considerado o fundador da filosofia alemã e grande inspirador do movimento iluminista na Alemanha. Filho de pai jurista e professor de universidade, Leibniz viveu em ambiente intelectual desde cedo, tornando-se autodidata em história da filosofia, matemática e jurisprudência. Formou-se em direito, aos 20 anos, e serviu como diplomata visitando vários estados europeus. Nas viagens, teve a oportunidade de travar conhecimento com muitos cientistas e filósofos, entre eles Newton, Malebranche e Spinoza. Escreveu no campoda epistemologia e ontologia: Discurso de metafísica (1686) e Novos ensaios sobre o entendimento humano (1710). Kant e Leibniz Contingente é aquilo que pode acontecer ou ser de um jeito ou de outro; sinônimos: livre, indeterminado, imprevisível, contrapõe-se a “necessário”, que é aquilo que tem que ser ou acontecer, inevitavelmente. Essa classificação ajudou Kant a distinguir os juízos analíticos dos juízos sintéticos. Mas, avançando na teoria em relação a Leibniz, aprendeu a diferenciá-los em juízos a posteriori e juízos a priori. Juízos a posteriori são aqueles dependentes e provenientes da experiência do sujeito que conhece. Os juízos a priori são aqueles dependentes indiretamente da experiência, mas não derivados dela. A partir dessas ideias, Kant descobre, enfim, nos juízos sintéticos a priori, a pista, a brecha, o argumento que precisava para fundamentar o conhecimento científico em bases metafísicas. Kant e o Pensamento Filosófico O filosofo inglês Francis Bacon (1561-1626) viveu dois séculos antes de Kant. Foi o primeiro empirista a enaltecer a experiência e o método lógico-dedutivo, de tal modo que a razão e suas faculdades de transcendência chegavam a desaparecer do processo do conhecimento. Bacon escreveu somente dois capítulos de uma obra que planejara inicialmente para seis capítulos. Redigiu o primeiro capítulo denominado Novum Organum, para substituir a obra homônima de Aristóteles, diante da nova realidade das ciências empíricas que o mundo estava vivendo. A obra visava lançar as bases lógicas de uma nova filosofia que daria o domínio da realidade ao homem. Kant X Francis Bacon Mas não foi o conteúdo epistemológico desse trabalho que interessou diretamente a Kant. Foram os alertas do filósofo contra o dogmatismo que transbordava das autoridades da época, baseados em discursos ideológicos, que despertaram Kant. As ideias de Bacon ajudaram Kant a purificar a razão, libertando-a das imposições, representadas pelos ídolos, espécie de preconceitos cultivados pelas autoridades. A recomendação do filósofo inglês para ter coragem (sapere aude) diante das diversas manifestações dos ídolos é simpática a Kant, que vai incorporá-la, mais tarde, como grito de alerta, em seu texto-manifesto “O que é o iluminismo” (ROUANET, 1987). Kant e Francis Bacon O cientista inglês Isaac Newton (1642-1727) não é considerado propriamente um filósofo no sentido estrito do termo. Suas reflexões são, acima de tudo, de ordem científica, relacionadas às pesquisas que desenvolvia no campo da matemática, da física e da astronomia, sobretudo na área de ótica e gravitação universal. Suas descobertas baseadas em experimentos de laboratório e, de modo mais específico, a nova atitude metodológica que empregou influenciaram os filósofos ingleses empiristas, o francês Descartes e, por extensão, Immanuel Kant. O método de Newton era diametralmente oposto ao método cartesiano. Descartes partia de hipóteses imaginadas, arbitrariamente, que deveriam, em uma sequência dedutiva, ser conferidas e confirmadas na realidade objetiva. Se não houvesse correspondência, buscava-se outra via teórica para levantar novas hipóteses. Kant X Isaac Newton Newton tinha clareza do domínio das ciências físico-matemáticas em relação às teorias do domínio da filosofia. As ciências pesquisam, nas causas mecânicas, as leis que regulam essas causas e que podem ser formuladas em equações. Essas equações, com o auxílio de deduções matemáticas, comparando e interagindo com outras equações, possibilitam novas hipóteses que devem e podem ser conferidas na prática experimental. Enquanto isso, a filosofia procurava as causas eficientes, isto é, a explicação dessas leis e fenômenos por via especulativa, caindo em redundâncias, quando não, em contradições. Kant vai assumir a postura de pesquisador hipotético de Newton e tentar construir uma epistemologia, cujas ferramentas conceituais tenham clareza próxima da matemática. Kant e Newton Assinale a alternativa que designa o pensador que com seu pensamento hipotético contribuiu para a formação de Kant em sua teoria e obra filosófica: a) Rene Descartes. b) Francis Bacon. c) Isaac Newton. d) Leibniz. e) Copérnico. Interatividade Assinale a alternativa que designa o pensador que com seu pensamento hipotético contribuiu para a formação de Kant em sua teoria e obra filosófica: a) Rene Descartes. b) Francis Bacon. c) Isaac Newton. d) Leibniz. e) Copérnico. Resposta Jean-Jacques Rousseau (1712-1778) nasceu em Genebra, cantão da Suíça, e teve uma vida conturbada, socialmente, e perturbada, individualmente, com mania de perseguição. Faleceu aos 66 anos, três anos antes da publicação da Crítica da razão pura (1781). Não houve encontro entre os dois filósofos, mas Kant conhecia muito bem todas as obras do suíço. Rousseau foi uma figura de grande destaque no iluminismo europeu. Contudo, enquanto o movimento mantinha um caráter racionalista e desprezava a vida sentimental, Rousseau era a favor de uma filosofia romântica e do sentimento, postura que causava a admiração de Kant. Kant e Rousseau Kant concorda com as ideias de Rousseau quanto ao papel da educação ser o principal instrumento para superar as diferenças sociais. Para ambos, o problema político-social depende, em última instância, da orientação pedagógica desde a infância. Essa tese é defendida por Kant, em sua última obra A pedagogia (1803), publicada um ano antes de falecer. Os empiristas têm concepções que se contrapõem às dos racionalistas. Kant também tem discordâncias contra teses de uma e de outra corrente filosófica. Contudo, a distância, solitário e concentrado nas leituras e estudos, na cidade de Königsberg, consegue selecionar as melhores ideias e argumentos de cada filósofo para confeccionar sua síntese crítica. Kant e Rousseau Kant acordou assustado do seu sono dogmático, pois seu caminho estava impregnado de conteúdo metafísico, desde a época de graduação, com as lições de Leibniz e Wolff. A inclinação de Kant era para a especulação. Continuava a ler filosofia amplamente. No campo da razão e de suas discussões a partir de Descartes, era influenciado pelo pensamento de Newton e Leibniz. Kant estudou Newton com profundidade suficiente para propor uma nova teoria do movimento e da inércia que se opunha à visão do físico. O fato de que o tenha mal interpretado não é relevante: estava sendo levado a especular sobre sistemas que abrangiam todo o universo e tencionava questionar o maior intelecto da época em seu próprio terreno. Kant e a Filosofia Da influência de Leibniz, Kant herdou o olhar para a humanidade não apenas como participante da natureza, mas além e acima disso, como participante da finalidade última do universo. De Hume, Kant ficou impressionado com sua insistência na experiência como base de todo o conhecimento, o que se ajustava ao enfoque científico. Para Hume, tudo que o sujeito experimenta no mundo é uma sequência de percepções – e isso significa que noções, tais como causa e efeito, os corpos e coisas, mesmo a mão controladora do Deus criador, são meras suposições ou crenças. Nenhuma delas é jamais de fato experimentada. De Rousseau, Kant deixou-se tocar também pelo apelo emocional, até porque Rousseau foi o menos acadêmico de todos os filósofos, acreditando mais na expressão pessoal por meio da emoção do que no pensamento racional. Kant e o Pensamento Filosófico Kant reconhecia, também, na própria metafísica, todo o esforço de tentar transcender os limites da experiência e buscar novas formas de saber fora das fronteiras da experiência. O problema talvez, cogitava Kant, não estivesse na metafísica em si, enquanto disciplina confiável de conhecimento, que inevitavelmente derivava para as fontes autoritárias do intelectualismo e dogmatismo. Talvez, pensava Kant,o problema estivesse no tipo de abordagem (approach) da metafísica, isto é, na questão do método, na forma de investigar o objeto. A partir dessas considerações de ordem metodológica, Kant resolve investigar a possibilidade ou impossibilidade de a metafísica servir de método, e não de fonte, para obter um conhecimento seguro e verdadeiro. Kant e o Pensamento Filosófico Retomando o contexto do kantismo na perspectiva histórica, podemos considerar que Kant é o grande divisor de paradigmas na história da filosofia. Kant contribui para renovar o panorama da filosofia europeia, para a qual sua obra torna-se uma referência inescapável, além de lançar uma luz instigante sobre a filosofia em geral, o que inclui, evidentemente, uma compreensão original do passado da filosofia. Nessa perspectiva, o pensamento moderno, após o renascimento, pode ser comparado a uma grande encruzilhada, na forma de X, em cujo centro estaria precisamente Immanuel Kant e seu sistema crítico, o kantismo. Os dois segmentos anteriores, que convergem para o kantismo, representam as correntes empiristas e racionalistas. Os dois segmentos posteriores, que saem de Kant, representam o idealismo e o positivismo, correntes teóricas decorrentes do kantismo. Kant: Divisor de Paradigmas O iluminismo foi o movimento filosófico, político e social ocorrido na Europa, no século XVII, denominado o século das luzes. Historicamente, o movimento está situado no intervalo entre duas revoluções: a Revolução Gloriosa, na Inglaterra, de 1688, e a Revolução Francesa, de 1789. De acordo com a denominação, o iluminismo tem como projeto cultural “iluminar” os homens, na consciência, ante o obscurantismo derivado da tradição religiosa e do passado. Segundo os mentores do movimento, as ideias enraizadas no passado atrasavam a chegada dos tempos modernos para a ascensão da humanidade a um status de civilização. Kant e o Iluminismo A acolhida geral pelo movimento das luzes trouxe grande contribuição para o pensamento filosófico, possibilitando as seguintes transformações: Mudanças na forma de fazer política e de ensinar. Mudanças na regulação e autonomia do mercado econômico, convergindo em conquistas dos direitos fundamentais e humanos. Respeito aos indivíduos em sua liberdade de pensamento e de ir e vir. Maior tolerância às práticas religiosas, promoção e defesa da dignidade da pessoa junto a um Estado moderno e livre das amarras do absolutismo, dando lugar a um poder do povo para o povo, mediante a instauração gradativa e plena da democracia como forma mais equilibrada de governar. Capítulo 1 – Kant A razão iluminista é potencialmente analítica, no sentido de que é: Capaz de adquirir conhecimentos, principalmente a partir de dados da experiência, agora considerados legítimos e verdadeiros. Capaz de analisar a experiência para tentar compreender, por um processo de síntese entre o empírico e o racional, a lei que governa essas duas esferas, à primeira vista incompatíveis. Capaz de produzir novos conhecimentos, com autonomia da razão, que sai da sombra dos agentes heterônomos do passado e da tradição. Kant e o Iluminismo Kant foi um dos grandes mentores do iluminismo na Alemanha, junto com Leibniz e Wolff. Ao ser interrogado sobre o que é o iluminismo, redige uma resposta que, na época (e até hoje), se transformou em um marco histórico, uma espécie de manifesto oficial dos ideais do movimento. Além do tom didático da declaração, o manifesto promove, politicamente, o exercício de uma razão autônoma, ao mesmo tempo que defende a liberdade de pensamento em uma época, ainda, repleta de censuras morais, de restrições ideológicas e de intolerâncias religiosas que, normalmente, resultavam em perseguições, desaparecimentos e até mesmo guerras nacionais. Kant e o Iluminismo A intuição, para Kant é, precisamente, o produto da relação entre um sujeito cognoscente e um objeto cognoscível. Trata-se de uma relação epistemológica, isto é, que vai resultar na construção de um conhecimento (episteme). O sujeito cognoscente, ou conhecedor, é quem quer conhecer e se vê diante de um objeto cognoscível, isto é, que se mostra como fenômeno para ser conhecido. Kant faz um trabalho de cirurgião filosófico, ao dissecar não o sujeito nem o objeto, mas o processo cognitivo como um todo. Ele faz uma radiografia do sujeito cognoscente diante do mundo no processo de conhecimento. Faz uma análise minuciosa e metódica, passo a passo, do mecanismo de conhecimento, destacando os movimentos de percepção, impressão e intuição que ocorrem no e com o sujeito cognoscente, quando este se coloca diante de um objeto cognoscível. Kant e o Iluminismo Sobre o Iluminismo e a sua contribuição para o pensamento de Kant , podemos afirmar: a) Capaz de adquirir conhecimentos, principalmente a partir de dados da experiência, agora considerados legítimos e verdadeiros. b) Capaz de analisar a experiência para tentar compreender, por um processo de síntese entre o empírico e o racional, a lei que governa essas duas esferas, à primeira vista incompatíveis. c) Capaz de produzir novos conhecimentos, com autonomia da razão, que sai da sombra dos agentes heterônomos do passado e da tradição. d) Maior tolerância às práticas religiosas, promoção e defesa da dignidade da pessoa junto a um Estado moderno e livre das amarras do absolutismo. e) Todas as alternativas estão corretas. Interatividade Sobre o Iluminismo e a sua contribuição para o pensamento de Kant , podemos afirmar: a) Capaz de adquirir conhecimentos, principalmente a partir de dados da experiência, agora considerados legítimos e verdadeiros. b) Capaz de analisar a experiência para tentar compreender, por um processo de síntese entre o empírico e o racional, a lei que governa essas duas esferas, à primeira vista incompatíveis. c) Capaz de produzir novos conhecimentos, com autonomia da razão, que sai da sombra dos agentes heterônomos do passado e da tradição. d) Maior tolerância às práticas religiosas, promoção e defesa da dignidade da pessoa junto a um Estado moderno e livre das amarras do absolutismo. e) Todas as alternativas estão corretas. Resposta ROUANET, S. P. A razão cativa: as ilusões da consciência de Platão a Freud. 2. ed. São Paulo: Brasiliense, 1987. Referências ATÉ A PRÓXIMA!
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