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Indaial – 2019 História da arte Prof.a Rosana Soares 2a Edição Copyright © UNIASSELVI 2019 Elaboração: Prof.ª Rosana Soares Revisão, Diagramação e Produção: Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri UNIASSELVI – Indaial. Impresso por: SO676h Soares, Rosana História da arte. / Rosana Soares. – Indaial: UNIASSELVI, 2019. 207 p.; il. ISBN 978-85-515-0384-3 1. Arte - História. - Brasil. II. Centro Universitário Leonardo Da Vinci. CDD 709 III apresentação Caro acadêmico! A arte faz parte da existência do mundo, passa por inúmeras transformações ao longo do desenvolvimento humano, mas o que permanece na arte é a sua característica de ser uma forma específica de testemunhar o mundo. Os homens e as mulheres, ao longo da história, registraram sua cosmovisão a partir de um olhar sensível e crítico sobre as coisas que nos rodeiam. A materialidade dessa compreensão que denominamos obra de arte também assume diferentes formatos: pinturas, esculturas, gravuras, desenhos, arquitetura, literatura, cinema, entre outras. As diversas formas de arte que homens e mulheres nos deixaram como legado parte de contextos socioculturais distintos, o que torna este legado artístico rico e indispensável à formação da nossa humanidade compartilhada. Este livro didático é um convite a conhecer obras e artistas em seus universos sócio-históricos, políticos, simbólicos e culturais objetivando a aprendizagem das especificidades das artes de cada civilização, a começar pela produção artística das culturas antigas até a contemporaneidade a partir de uma visão dinâmica das transformações ocorridas na arte, com destaque na arquitetura a partir dos movimentos da história. A partir do estudo da Unidade 1 do Livro Didático de História da Arte, você será capaz de identificar as especificidades das artes de cada civilização, a começar pela produção artística das culturas antigas, partindo da Pré-História até o Egito. Em seguida, conhecerá uma parte da complexidade do Oriente a partir de três grandes civilizações: sumérios, assírios e persas. Ainda nos estudos da Idade Média, conheceremos o importante legado da arte greco-romana. Também compreendem a Unidade 1 os estudos da Arte Bizantina, Românica e Gótica. Ao final desta unidade, você terá conhecido as transformações importantes ocorridas na Idade Média, com a arte do Renascimento e Barroco. A partir dos estudos da Unidade 2, você estará apto a reconhecer a arte de cada período estudado, iniciando pelo período conhecido como Neoclássico, que apresenta forte influência da Antiguidade Clássica. Já no Romantismo, o individualismo marca a produção artística com forte tendência ao nacionalismo. No Realismo, conheceremos a representação artística muito próxima do real e a pintura apresentará temas de crítica e denúncia social. O Impressionismo e a fotografia marcam o século XIX. Finalizamos a Unidade 2 com os estudos do Pós-Impressionismo, representado por um grupo de artistas que desenvolveram pesquisas pictóricas diversas. Na última unidade do nosso livro, com o conhecimento da história da arte, você reconhecerá aspectos da Arte Contemporânea marcada por expressões artísticas que privilegiam características como o conceito, a hibridização e a efemeridade da arte criada. IV Você já me conhece das outras disciplinas? Não? É calouro? Enfim, tanto para você que está chegando agora à UNIASSELVI quanto para você que já é veterano, há novidades em nosso material. Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é o material base da disciplina. A partir de 2017, nossos livros estão de visual novo, com um formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura. O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com nova diagramação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página, o que também contribui para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo. Assim, a UNIASSELVI, preocupando-se com o impacto de nossas ações sobre o ambiente, apresenta também este livro no formato digital. Assim, você, acadêmico, tem a possibilidade de estudá-lo com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador. Eu mesmo, UNI, ganhei um novo layout, você me verá frequentemente e surgirei para apresentar dicas de vídeos e outras fontes de conhecimento que complementam o assunto em questão. Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa continuar seus estudos com um material de qualidade. Aproveito o momento para convidá-lo para um bate-papo sobre o Exame Nacional de Desempenho de Estudantes – ENADE. Bons estudos! NOTA Este livro didático efetua comparações entre os conteúdos de forma crítica e relevante para reflexões e estudos da teoria sobre a arte como produção cultural. Bons estudos! Prof.ª Rosana Soares V VI VII UNIDADE 1 – A ARTE PRÉ-HISTÓRICA, A ARTE NA IDADE ANTIGA E A ARTE NA IDADE MÉDIA .................................................................................1 TÓPICO 1 – ARTE PRÉ-HISTÓRICA ................................................................................................3 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................3 2 PERÍODO PALEOLÍTICO ................................................................................................................4 3 CULTURAS RUPESTRES E O NEOLÍTICO .................................................................................8 4 COMUNIDADES PRIMITIVAS ......................................................................................................8 RESUMO DO TÓPICO 1......................................................................................................................12 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................13 TÓPICO 2 – ARTE NO EGITO ...........................................................................................................15 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................15 2 CULTURA URBANA E ARTE NO EGITO ....................................................................................15 2.1 ARQUITETURA .............................................................................................................................16 3 MONARQUIA ANTIGA E MONARQUIA MÉDIA ...................................................................18 3.1 PINTURA EGÍPCIA ......................................................................................................................18 4 MONARQUIA NOVA – DINASTIAS XVIII A XXI (1580-108) A.C. .........................................20 4.1 ARQUITETURA .............................................................................................................................20 4.2 ESCULTURA ..................................................................................................................................21 4.3 PINTURA ........................................................................................................................................22 RESUMO DO TÓPICO 2......................................................................................................................24 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................25 TÓPICO 3 – ARTE NO ORIENTE ......................................................................................................27 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................272 A ARTE DOS SUMÉRIOS ................................................................................................................27 3 A ARTE ASSÍRIA ................................................................................................................................29 4 A ARTE PERSA ...................................................................................................................................30 RESUMO DO TÓPICO 3......................................................................................................................33 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................34 TÓPICO 4 – ARTES GREGA E ROMANA .......................................................................................35 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................35 2 PERÍODO ARCAICO GREGO ........................................................................................................36 3 PERÍODO CLÁSSICO .......................................................................................................................38 4 PERÍODO HELENÍSTICO ................................................................................................................41 5 ARTE ROMANA .................................................................................................................................43 RESUMO DO TÓPICO 4......................................................................................................................46 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................47 TÓPICO 5 – ARTES BIZANTINA, ROMÂNICA E GÓTICA ......................................................49 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................49 2 IMPÉRIO BIZANTINO .....................................................................................................................49 sumário VIII 3 PERIODO ROMÂNICO ....................................................................................................................51 4 O GÓTICO E AS TRANSFORMAÇÕES NA ARQUITETURA ................................................54 RESUMO DO TÓPICO 5......................................................................................................................57 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................58 TÓPICO 6 – AS TRANSFORMAÇÕES DA IDADE MÉDIA: ARTE NO RENASCIMENTO E BARROCO .............................................................59 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................59 2 RENASCIMENTO ..............................................................................................................................59 3 O BARROCO .......................................................................................................................................65 3.1 ARQUITETURA .............................................................................................................................69 3.2 ESCULTURA ..................................................................................................................................70 LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................................73 RESUMO DO TÓPICO 6......................................................................................................................75 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................76 UNIDADE 2 – CONHECENDO A ARTE DO MUNDO MODERNO AO CONTEMPORÂNEO..........................................................................................77 TÓPICO 1 – ARTE NEOCLÁSSICA ..................................................................................................79 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................79 2 NEOCLÁSSICO ..................................................................................................................................79 RESUMO DO TÓPICO 1......................................................................................................................89 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................90 TÓPICO 2 – ARTE NO ROMANTISMO ..........................................................................................91 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................91 2 ROMANTISMO ..................................................................................................................................91 RESUMO DO TÓPICO 2......................................................................................................................100 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................101 TÓPICO 3 – ARTE NO REALISMO ...................................................................................................103 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................103 2 REALISMO ..........................................................................................................................................103 RESUMO DO TÓPICO 3......................................................................................................................110 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................111 TÓPICO 4 – ARTE NO IMPRESSIONISMO ...................................................................................113 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................113 2 A ARTE IMPRESSIONISTA .............................................................................................................114 RESUMO DO TÓPICO 4......................................................................................................................119 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................120 TÓPICO 5 – ARTE PÓS-IMPRESSIONISTA ...................................................................................121 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................121 2 PÓS-IMPRESSIONISMO .................................................................................................................121 LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................................126 RESUMO DO TÓPICO 5......................................................................................................................131 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................132 IX UNIDADE 3 – DESDOBRAMENTOS DA ARTE NO MUNDO CONTEMPORÂNEO .........133 TÓPICO 1 – REVERBERAÇÕES DOS MOVIMENTOS ARTÍSTICOS MODERNOS ...........135 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................1352 EXPRESSIONISMO ...........................................................................................................................136 3 FAUVISMO ..........................................................................................................................................139 4 CUBISMO .............................................................................................................................................141 5 ABSTRACIONISMO .........................................................................................................................146 6 CONSTRUTIVISMO .........................................................................................................................149 7 SUPREMATISMO ..............................................................................................................................150 8 DADAÍSMO ........................................................................................................................................151 9 SURREALISMO ..................................................................................................................................152 RESUMO DO TÓPICO 1......................................................................................................................154 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................155 TÓPICO 2 – CULTURA VISUAL: ARTE E EXPRESSÃO ..............................................................157 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................157 2 POP ART ...............................................................................................................................................157 3 OP ART .................................................................................................................................................159 4 MINIMALISMO .................................................................................................................................160 5 EXPRESSIONISMO ABSTRATO ....................................................................................................162 6 TACHISMO .........................................................................................................................................163 RESUMO DO TÓPICO 2......................................................................................................................166 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................167 TÓPICO 3 – REFLEXÕES SOBRE A ARTE CONTEMPORÂNEA ..............................................169 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................169 2 REFLETINDO SOBRE A ARTE CONTEMPORÂNEA ...............................................................170 3 ARTE CONCEITUAL .........................................................................................................................171 4 MOVIMENTO FLUXUS ....................................................................................................................174 5 ARTE POVERA ...................................................................................................................................175 6 NEOEXPRESSIONISMO ..................................................................................................................176 RESUMO DO TÓPICO 3......................................................................................................................179 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................180 TÓPICO 4 – EXPRESSÕES ARTÍSTICAS CONTEMPORÂNEAS ..............................................181 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................181 2 HAPPENING .......................................................................................................................................181 3 PERFORMANCE .................................................................................................................................182 4 VIDEOARTE ........................................................................................................................................183 5 BODY ART ...........................................................................................................................................184 6 FOTORREALISMO ............................................................................................................................185 7 INTERNET ART ..................................................................................................................................187 8 STREET ART ........................................................................................................................................187 9 GRAFITE ..............................................................................................................................................189 10 LAND ART .........................................................................................................................................191 LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................................195 RESUMO DO TÓPICO 4......................................................................................................................199 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................200 REFERÊNCIAS .......................................................................................................................................203 X 1 UNIDADE 1 A ARTE PRÉ-HISTÓRICA, A ARTE NA IDADE ANTIGA E A ARTE NA IDADE MÉDIA OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM PLANO DE ESTUDOS A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de: • identificar manifestações artísticas de cada civilização, iniciando com as culturas antigas, da Pré-História até o Egito; • reconhecer aspectos da arte do Oriente, a partir de três grandes civilizações: sumérios, assírios e persas; • compreender os movimentos artísticos ao longo da história a partir das particularidades da Arte Bizantina, Românica e Gótica; • refletir sobre as transformações ocorridas na arte e na arquitetura no período da Idade Média reconhecendo os movimentos da história e os contextos socioculturais. Esta unidade está dividida em seis tópicos. No decorrer da unidade você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado. TÓPICO 1 – ARTE PRÉ-HISTÓRICA TÓPICO 2 – ARTE NO EGITO TÓPICO 3 – ARTE NO ORIENTE TÓPICO 4 – ARTES GREGA E ROMANA TÓPICO 5 – ARTES BIZANTINA, ROMÂNICA E GÓTICA TÓPICO 6 – AS TRANSFORMAÇÕES DA IDADE MÉDIA: ARTE NO RENASCIMENTO E BARROCO 2 3 TÓPICO 1 UNIDADE 1 ARTE PRÉ-HISTÓRICA 1 INTRODUÇÃO A História da Arte é a história dos seres humanos e suas obras. Erwin Panofsky (1892-1968) defende que a história da arte pode ser compreendida com a análise histórica e interpretativa dos objetos feitos pelo homem. Herbert Read (1893- 1968) entende que a história da arte é a história das maneiras e percepção visual – das várias maneiras como o homem viu o mundo. Para Arnold Hauser (1998) no livro História Social da Arte e da Literatura, perguntar quem é esse homem é fundamental para compreender as transformações artísticas ocorridas ao longo da história. O autor nos lembra de que no período em que o homem era nômade, ou seja, vivia em busca constante de alimentos oferecido pela natureza, ele eraUno, físico- material (corpo). Ao deixar de ser nômade e se fixar em lugares para cultivo de seu alimento e lutar pela sobrevivência, passou a desenvolver uma relação de dualidade com a natureza. Passou assim a nomear os fenômenos não compreendidos, por exemplo, como o excesso de chuva ou a ausência dela. Surgiram os deuses e seus diferentes nomes. Nesse momento o homem se tornou Duo, físico-metafísico (corpo e alma) e abriu caminho para o que hoje denominamos fé, crença, religiões. Arte, religião, filosofia e ciência desenvolveram uma relação complexa de múltiplas influências que têm reflexos nas obras de arte até hoje. George Lukacs (1885-1971) nos ensina que a Arte é uma forma única de conhecer o mundo – o homem testemunha a vida e a simboliza na obra de arte; Georg Wilhelm Friedrich Hegel (1770-1831) aponta que a arte é intrínseca ao homem. Em que momento da História nasce a Arte? A artista Dulce Osinski (2001) aponta que ela nasce com o homem. Isso significa dizer que obras de artes são fruto do material humano de um sujeito social e histórico. É considerada ARTE PRÉ-HISTÓRICA as manifestações pictóricas desenvolvidas antes do desenvolvimento da escrita e os historiadores dividiram-na em três períodos. Neste tópico, estudaremos cada um deles. Sabemos que os mais remotos antepassados – os primeiros homens – começaram a se aprimorar do meio em que viviam, com galhos, pedras, ossos para fazerem seus utensílios e com a pele dos bisões se aqueciam nos períodos frios, além de viverem sob a proteção das cavernas. Depois de dominarem suas criações foram se aprimorando, e com a evolução humana foi desenvolvida uma cultura muito importante – a vida dos homens pré-históricos. Devido a sua longa duração, os historiadores a dividiram nos seguintes períodos: UNIDADE 1 | A ARTE PRÉ-HISTÓRICA, 4 • Paleolítico ou Idade da Pedra Lascada. • Neolítico ou Idade da Pedra Polida. • Primitivo ou Idade dos Metais. 2 PERÍODO PALEOLÍTICO Vamos começar falando do homem pré-histórico a partir da Era Glaciária, que durou dezenas de milênios. Em todo esse tempo que se presenciou o início da história humana e da arte é que se dá o nome de Paleolítico. Este período foi dividido em três períodos. Pesquisadores apontam que o Período Paleolítico compreende as origens do homem até 8000 a.C. Dentro desse período ainda existem subdivisões, uma delas é o Paleolítico Inferior (5000.000 – 30.000 a.C.). Tem esse nome devido às criações de instrumentos e armas produzidos em pedra, além de serem lascados para adquirir as pontas e bordas cortantes. Com ajuda dessas ferramentas, os homens iam em busca da sobrevivência. Eram denominados caçadores e coletores. As mais antigas ferramentas foram encontradas na África, trabalhada pelo Homo habilis. Há um milhão e meio de anos, o Homo erectus tomou seu lugar, ocupando outras regiões, como da Ásia e da Europa. O Paleolítico Médio, período que compreende 200.000 a 35.000 a.C., é caracterizado pelo Homem Neandertal. Homens que se adaptaram ao período frio da Europa. No contexto social e cultural desse período, podemos destacar o uso de ferramentas como machadinhas, facas e lanças para uso alimentício. Mas como defesa, usavam o corpo para as lutas. Outra característica cultural desse período são as primeiras sepulturas: o homem, ao perceber que não veria mais seu companheiro, cavou uma fossa onde o sepultou e colocou próximo ao morto nacos de carne a fim de que ele pudesse se alimentar em algum momento da sua viagem. Com o seu desaparecimento, surge outro tipo humano, semelhante ao homem atual. Nesse período, o homem já demonstra uma estrutura de organização social e comunitária. O Paleolítico Superior é o período que compreende 35.000 a 8000 a.C. É nesse período que surgem as primeiras manifestações artísticas feitas pelo Homo sapiens. Muitas gravações foram encontradas nas paredes das cavernas, como em Altamira (Espanha). Foi o primeiro conjunto pictórico com grande extensão já encontrado. Ainda assim, foram descobertas outras pinturas em Lascaux e Chauvet, na França. As expressões artísticas encontradas consistiam em traços nas paredes das cavernas. Esse traço é chamado de rupestre, do latim rupes, quer dizer “rocha”. A arte desse período pode ser considerada naturalista – uma forma viva de tradução da realidade. Caçador exímio, de sentidos apurados, a arte do homem nas cavernas é elaborada e detalhista, impressionam pela representação do real. TÓPICO 1 | ARTE PRÉ-HISTÓRICA 5 FIGURA 1 – CAVALOS DO SALÃO NEGRO DA GRUTA DE NIAUX, PIRENÉUS, FRANÇA FONTE: <http://www.scielo.br/pdf/aob/v10n3/14336.pdf>. Acesso em: 12 jun. 2019. Na imagem, os cavalos são representados de forma detalhista, incluindo o movimento do grupo representado. A posição das cabeças e a variação de tamanho conferem à imagem a impressão de deslocamento. Ao olhar essas imagens, chamadas rupestres, é inevitável nos questionarmos o que levou o homem a fazer tal representação pictórica e, muitas vezes, em lugares de difícil acesso. Uma das possíveis explicações seria de que estas pinturas seriam de homens caçadores, como ritual de magia. Mas que magia seria essa? Uma hipótese é a de que eles faziam pinturas de animais transpassados por flechas e lanças, como modo de aprisionar o animal na imagem, tendo assim poder sobre ele, conseguindo de forma mais fácil aprisioná-lo. Nesse momento histórico, é interessante observar que o homem se vê entre o real e o místico, e os fenômenos da natureza. FIGURA 2 – BISÃO 15000-10000 A.C., ALTAMIRA, ESPANHA FONTE: Gombrich (1999, p. 41) As pinturas realizadas, como os bisões, veados e cavalos impressiona a capacidade de usarem traços fortes, possivelmente expressando ideia de vigor. UNIDADE 1 | A ARTE PRÉ-HISTÓRICA, 6 FIGURA 3 – VÊNUS DE WILLENDORF, C. 24000-20000 A.C., PEDRA, ALT. C. 0,12 M. MUSEU DA HISTÓRIA NATURAL, VIENA FONTE: Janson (2001, p. 44) Entre as pequenas esculturas temos a representação do corpo feminino, que está ligada à fertilidade. Flores (2013) lembra que a capacidade do corpo feminino de gerar vida era visto como um poder, por isso sua representação em esculturas pode ser entendida como um ato de veneração do sagrado feminino. DICAS Assista às transformações na representação das mulheres através da história da Arte: https://www.youtube.com/watch?v=m1o6niEReWg. O surgimento da arquitetura começou quando o homem pré-histórico começou a sair de sua caverna e passou a fazer, também, a primeira escultura monumental. Surgiu uma colossal arquitetura de enormes pedras erguidas em três formas básicas: o dólmen, que consiste em enormes pedras verticais cobertas por uma laje, parecendo uma mesa gigante. Alguns desses dólmens eram túmulos ou casas de mortos e cromeleques (designação dada a um agrupamento de menires organizado em círculo, com a ideia de recinto sagrado ou lugar de culto – alguns podem estar relacionados à astronomia e ao estudo de fenômenos celestes). Guedes e Vialou (1981) destacam que a linguagem visual das representações rupestres oportuniza a compreensão sobre os traços estilísticos e formais dos registros e também o acesso a conceitos imateriais, como sistemas de crenças, marcas sociais, organização territorial. Nesse período, a forma de esculpir e talhar eram atividades efetuadas para exercer suas atividades cotidianas. Em seu desenvolvimento, o homem pré-histórico apropriou-se de outros materiais, como a pedra, e realizou pequenas esculturas. https://www.youtube.com/watch?v=m1o6niEReWg TÓPICO 1 | ARTE PRÉ-HISTÓRICA 7 Apesar de rudimentares, os monumentos são considerados a primeira forma de arquitetura monumental realizada pelo homem. Assim, segundo Silveira (2010), o uso de materiais encontrados na natureza era pensado para a elaboração de ferramentas e armas para sobrevivência e também para a construção de moradias com pedras, madeira, argila e folhas. Ainda, segundo o autor, o uso de materiais é um dado importante para a compreensão dosaspectos históricos da arquitetura, pois as mudanças ocorridas têm também uma ligação direta com a descoberta de novos materiais, além, é claro, das novas organizações sociais que geram necessidades arquitetônicas. Para Strickland e Boswell (2014), um exemplo arquitetônico é o Cromeleque, conhecido como “Stonehenge”, localizado na Inglaterra. Algumas pedras pesam 50 toneladas e têm 4 metros de altura. Estudiosos acreditam que a construção esteja ligada ao culto do Sol. FIGURA 4 – STONEHENGE FONTE: <https://www.megacurioso.com.br/lugares-surpreendentes/85342-7-fatos-mitos-e- curiosidades-que-voce-talvez-desconheca-sobre-stonehenge.htm>. Acesso em: 10 jun. 2019. O monumento é um círculo de pedras e está localizado no condado de Wiltshire, sudeste da Inglaterra. Construído há cerca de cinco mil anos, a estrutura desperta a curiosidade ainda nos dias atuais. Entre as inúmeras teorias existentes que rondam a estrutura arquitetônica de Stonehenge, temos a informação de que serviu de cemitério (pela descoberta de covas no local); também que o monumento serviu de templo e de espécie de calendário astronômico para prever eventos solares e eclipses. A vida nômade do homem do período Paleolítico estava terminando trazendo inúmeros desafios, dentre eles lidar com a natureza pouco conhecida. Ao se fixar em determinado local e retirar seu sustento da terra, o homem inicia outro ciclo de sobrevivência e conquistas: surge o período Neolítico. De uma maneira geral é possível afirmar que os períodos estudados pela História da Arquitetura correm paralelos aos da História da Arte, com diferenças que se acentuam em alguns momentos e semelhanças que se encontram em tempos distintos. UNIDADE 1 | A ARTE PRÉ-HISTÓRICA, 8 3 CULTURAS RUPESTRES E O NEOLÍTICO “Neolítico vem do grego e significa pedra nova. O homem aprendeu a polir a pedra e a partir daí conseguiu produzir instrumentos mais eficientes e resistentes. Como alternativa da caça, o homem descobriu a agricultura” (VIEIRA, 2009, p. 3). Também neste período passou a construir as primeiras moradias e começou a domesticar os animais. Assim surgiram as primeiras famílias e logo a divisão do trabalho. A descoberta de como produzir fogo através do atrito das pedras modifica todo um sistema de vida e, sobretudo, o trabalho com metais. Descobriu que o calor do fogo endurecia o barro e surgiu a cerâmica. Nesse período foi deixado para trás o estilo naturalista do homem do Paleolítico; começaram a aparecer pinturas com temas da vida coletiva e dança, mostrando movimento nos braços e nas pernas, o que, aliás, demonstra que a dança, o movimento, além de caminhar e correr, está no homem da Pré-História. DICAS Assista ao filme: A Guerra do Fogo Data de lançamento: 1981 Direção: Jean-Jacques Annaud Sinopse: O filme se passa nos tempos pré-históricos, em torno da descoberta do fogo. A tribo Ulam vive em torno de uma fonte natural de fogo. Quando este fogo se extingue, três membros saem em busca de uma nova chama. Depois de vários dias andando e enfrentando animais pré-históricos, eles encontram a tribo Ivakas, que descobriu como fazer fogo. Para que o segredo seja revelado, eles sequestram uma mulher Ivaka. A crueldade e o rude conhecimento de ambas as tribos vão sendo revelados. O filme foi elogiado por criar ambiente e personagens convincentes, por meio da maquiagem (premiada com Oscar) e da linguagem primitiva (criada por Desmond Morrise Anthony Burgess). Acesse: https://www.youtube.com/watch?v=x-e2B6ywHik. 4 COMUNIDADES PRIMITIVAS A partir do filme A guerra do fogo, temos noção de uma das grandes viradas na história da humanidade. A descoberta de como produzir e controlar o fogo dá outra dimensão à existência do homem, que vai refletir na Arte Primitiva. A partir disso, o modo de vida que passa o período Neolítico, onde primitivos africanos viviam em seu local, sem expansões territoriais, suas criações provêm de seus costumes e criações meramente de seu grupo. Aqui vamos ter uma evolução social e cultural importante. O homem não é mais parasitário, agora é caçador e produtor de seu alimento. https://www.youtube.com/watch?v=x-e2B6ywHik TÓPICO 1 | ARTE PRÉ-HISTÓRICA 9 Dentro desse contexto sociocultural, muitas tribos passaram a desenvolver uma arte elaborada em cestaria, máscaras, talhas ou mesmo no trabalho com metais, que de certa forma serviam para protegê-los. “É cada vez maior o número de provas de que, sob certas condições, os artistas tribais podem produzir obras tão corretas na representação, na interpretação da natureza quanto o mais hábil trabalho de um mestre ocidental” (GOMBRICH, 1999, p. 44). Para Santana (2018), as máscaras tiveram uso para as mais diversas finalidades, dependendo da cultura e da religiosidade. Também os contadores de histórias utilizavam a máscara para dar mais ênfase às narrativas. As máscaras eram feitas de uma diversidade de formas (humanas, animais, formas híbridas) que causam assombro e espanto. Eram criadas, provavelmente, para afastar o inimigo. Hoje, as máscaras – no senso comum – ficaram associadas às festas burlescas, mas podemos ver que elas surgem como elementos ritualísticos e depois na Grécia Antiga serviram para levar a mulher ao palco para encenar a comédia e a tragédia (veremos isso mais adiante). No que se refere às máscaras africanas, elas trazem em sua representatividade, o mundo espiritual e material e são usadas em rituais variados, onde a dança, a música e o teatro compõem a cena dos rituais. FIGURA 5 – MÁSCARA DE DANÇA INUIT, DO ALASCA, C. 1880 (MADEIRA PINTADA, 37 X 25,5 CM) FONTE: Gombrich (1999, p. 50) A máscara Inuit, apesar de pertencer ao período Moderno (século XIX), apresenta características ritualísticas comuns ao período Pré-Histórico. O mesmo serve para as máscaras africanas étnicas modernas. Nesse sentido, passado e presente são resinificados pelas máscaras e carregam de forma simbólica as culturas que representam. UNIDADE 1 | A ARTE PRÉ-HISTÓRICA, 10 Os povos primitivos também faziam culto aos antepassados. Na Ilha de Páscoa, encontram-se gigantescas figuras alinhadas, talhadas em rocha vulcânica, chamadas de Moais. Veiga (2018) acentua que para a compreensão do contexto que propiciou a criação dos gigantes de pedra, como são chamados os Moais, é preciso recuar no tempo. Os moais – são cerca de 900 – com 4 a 6 metros de altura, e seu peso médio é de 14 toneladas. Foram construídos na Ilha de Páscoa, um dos lugares habitados mais remotos do mundo, a 3,7 mil quilômetros da costa do Chile, no Oceano Pacífico. Para o cientista, segundo o autor, e que por se tratar de uma sociedade complexa, as esculturas grandiosas podem ter sido feitas para homenagear líderes mortos. FIGURA 6 – IMAGENS DE MOAIS TALHADOS EM PEDRA – SÉCULO XVII FONTE: <https://www.megacurioso.com.br/historia-e-geografia/48155-8-fatos-e-teorias- fascinantes-sobre-a-ilha-de-pascoa.htm>. Acesso em: 10 jun. 2019. Os Moais expressaram suas crenças e valores nas esculturas, mas dependendo da cultura outras formas de representatividade são encontradas. Um exemplo é a técnica da pintura na areia. “A técnica, que exige considerável perícia, consiste em lançar pó de pedra ou de terra de várias cores sobre um leito plano de areia” (JANSON, 2001, p. 70). FIGURA 7 – IMAGEM PINTURA EM AREIA – UMA RITUALÍSTICA DE CURA FONTE: <https://ecitydoc.com/download/pictogramas-em-areia-dos-indios-navajo_pdf>. Acesso em: 10 jun. 2019. TÓPICO 1 | ARTE PRÉ-HISTÓRICA 11 Essa pintura em areia era um ritual de grande intensidade emocional, tanto para o médico como para o paciente, que estava adoecido. Os exemplos de representação de crenças, valores, ideais e organização político-social do homem deste período podem ser compreendidos ao conhecermos os múltiplos elementos que hoje pertencem ao que chamamos de arte. A pintura, a escultura e a gravura se revestem do cotidiano desses homens que deixaram as marcas de sua passagem no mundo. Assim como o desenvolvimentodo homem, a arte também passa por constantes mudanças, e conhecer a história desse desenvolvimento a partir dos vestígios artísticos encontrados é uma das formas de compreender o homem na sua essência criadora. 12 Neste tópico, você aprendeu que: • A Pré-História é dividida em três períodos: Paleolítico ou Idade da Pedra Lascada; Neolítico ou Idade da Pedra Polida; e Arte Primitiva. • Homem do Paleolítico eram povos nômades (andarilhos) em busca da própria subsistência e sua arte está nas primeiras impressões nas paredes das cavernas, como também pequenas esculturas com formas desproporcionais. • Na arte primitiva, o povo procurava fazer cestarias, máscaras com intencionalidade de afastar seus inimigos, como também usavam para danças e espanto de espíritos. Cultuavam esculturas que foram talhadas em rochas vulcânicas. • A arquitetura nasce com a necessidade do homem em marcar seu território e buscar abrigo; se transforma ao longo do desenvolvimento dos grupos sociais. RESUMO DO TÓPICO 1 13 1 A Pré-História apresenta períodos distintos, como o Paleolítico e o Neolítico. Em relação a esses períodos, assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) O Neolítico e o Paleolítico tiveram o mesmo desenvolvimento artístico destacando os traços geométricos do desenho e da pintura. b) ( ) O desenvolvimento do cultivo do solo, de técnicas de caça e a domesticação de animais se deu no período Paleolítico. c) ( ) No período do Neolítico, os homens praticavam uma economia coletora de alimentos. d) ( ) O Paleolítico foi o período de grande desenvolvimento artístico com desenhos naturalistas. 2 Sobre a arte primitiva, analise as sentenças a seguir. I- O homem não é mais parasitário, agora é caçador e produtor de seu alimento. II- Desenvolveram apenas a visão monista (visão mágica, sensualista, atendo- se ao concreto, vida desse mundo). III- As sociedades primitivas são de natureza predominantemente rural, bastam-se a si próprias. IV- Os povos primitivos não faziam culto aos antepassados. Assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) Apenas as sentenças I e III estão corretas. b) ( ) As sentenças II e III estão corretas. c) ( ) As sentenças I, III e IV estão corretas. d) ( ) Somente a sentença IV está correta. AUTOATIVIDADE 14 15 TÓPICO 2 ARTE NO EGITO UNIDADE 1 1 INTRODUÇÃO Quando estudamos a evolução histórica da humanidade, é importante ressaltar que o Egito se forma socialmente por sua diversidade étnica. Nesse sentido, é fundamental reconhecer que a civilização egípcia é um marco na história social, cultural, política e econômica da humanidade, principalmente pelo olhar acadêmico e epistemológico ocidental. O país se desenvolveu às margens do Rio Nilo, e a história egípcia antiga – a primeira das grandes civilizações – está dividida em dinastias, com transformações na pintura, na escultura e na arquitetura. O trabalho do artista não tinha a diferenciação que temos hoje na contemporaneidade. O pintor e o escultor eram vistos com o mesmo peso do ferreiro ou qualquer outro que tivesse a atividade a partir do uso das mãos na construção de artefatos. Somente mais tarde, a partir do renascimento, inicia-se o debate sobre o trabalho intelectual e o trabalho manual. No que se refere à aquisição da técnica para a representação dos objetos pelos artistas egípcios, Hauser (1998) situa o desenvolvimento do artista essencialmente como aprendiz – todo artista era iniciado por um mestre; a regra era representar as partes importantes dos objetos sem necessariamente ter relação com o naturalismo. Esculpiam-se e pintavam-se elementos como deveriam ser vistos e não como eram na realidade. A arquitetura, principalmente a dos templos, era preparada para receber o corpo mumificado do faraó e seus respectivos acessórios, pois acreditavam em uma vida após a morte. Mas muitos mistérios rondam o interior de suas construções. O Egito teve uma das mais rígidas civilizações. Com uma organização social complexa, os egípcios desenvolveram a escrita, além de se destacarem na matemática, ciência e medicina. 2 CULTURA URBANA E ARTE NO EGITO Falar da organização social dos povos é falar também da organização do poder e da hierarquia, o que mais tarde (no século XIX) seriam as classes sociais. Por muito tempo, a civilização egípcia foi tida como a mais rígida e conservadora, UNIDADE 1 | A ARTE PRÉ-HISTÓRICA, 16 marcada pelas monarquias, divididas em antiga, média e nova, além das divisões em dinastias. A mais antiga, segundo a velha tradição, teve início por volta de 3000 anos a.C. e terminou por volta de 2155 a.C., com a queda da Sexta Dinastia. Depois da queda do poder faraônico centralizado no fim da Sexta Dinastia, Janson (2001) lembra que o Egito entrou num período de perturbações políticas que durou cerca de 700 anos e, nesse tempo, sucederam-se várias dinastias de curta duração. Pouco depois de extinta a Décima Segunda Dinastia, o país enfraquecido sucumbiu à invasão dos Hicsos, um povo da Ásia Ocidental, que governou durante 150 anos até que foi expulso pelos príncipes de Tebas (1570 a.C.). Os 500 anos posteriores correspondentes às décimas oitava, nona e vigésima dinastias, representam a Terceira Idade do Ouro do Egito. O país, mais uma vez unido sob reis fortes, alargou as fronteiras para o Leste até a Palestina e a Síria (por isso se chama também o período do Império). Este foi o período da Monarquia Nova, última fase monárquica egípcia. Durante o longo período de declínio, a partir de 1000 a.C., os sacerdotes alcançaram um poder cada vez maior no Estado, mas sob os domínios gregos e romanos, a civilização egípcia terminou numa imensa pluralidade de doutrinas religiosas esotéricas. 2.1 ARQUITETURA O grande marco na arquitetura egípcia foram as pirâmides, as quais ainda representam mistério para os engenheiros, devido à forma de construção. As pirâmides foram cenário de grandes celebrações religiosas, tanto na vida como após a morte do faraó. Doberstein (2010) chama a atenção para as múltiplas representações sociais da arquitetura da pirâmide, destacando as funções religiosa, política, ideológica e administrativa. As pirâmides que apresentam maior destaque foram: Quéops, Quéfren e Miquerinos. Os seus nomes provêm de seus faraós. A pirâmide Queops é a maior de todas, com 146,5 m de altura e 230 m de lado, sendo que não há material entre os blocos que formam as paredes de pedra. Já a pirâmide de Quéfren, construída décadas mais tarde, tem 143,5 m de altura e é a segunda maior pirâmide do Egito, apresenta revestimento original de calcário fino e polido. E completando o conjunto das pirâmides, tem-se Miquerinos. Esse conjunto de pirâmides servia para abrigar os restos mortais dos faraós (SEIDEL; SCHULZ, 2006). SecMod Highlight TÓPICO 2 | ARTE NO EGITO 17 FIGURA 8 – PIRÂMIDES DE MIQUERINOS, QUÉFREN E QUÉOPS, EM GIZÉ FONTE: <https://pt.wikipedia.org/wiki/Necr%C3%B3pole_de_Giz%C3%A9#/media/Ficheiro:All_ Gizah_Pyramids.jpg>. Acesso em: 10 jun. 2019. Gizé está localizada próxima ao Cairo, capital do Egito, e abriga as três pirâmides, sendo hoje patrimônio Mundial da UNESCO. Junto a estas pirâmides se encontra a Esfinge, a maior escultura do Antigo Egito. Esta obra foi esculpida a partir de uma rocha e apresenta feições miscigenadas. FIGURA 9 – ESFINGE – IV DINASTIA, C. 2530 A.C. FONTE: <https://www.bluffton.edu/homepages/facstaff/sullivanm/egypt/giza/sphinx/distant2.jpg>. Acesso em: 10 jun. 2019. Vários pesquisadores afirmam que a cabeça da escultura provém de uma unificação entre parte humana e parte animal, em que o corpo apresenta ser de um leão e a cabeça de um faraó. DICAS Ao acessar o link a seguir e assistir ao vídeo, você conhecerá algumas teorias sobre as Pirâmides do Egito e como elas foram construídas. Acesse: https://www.youtube.com/watch?v=4oDAc0nubAQ. https://www.youtube.com/watch?v=4oDAc0nubAQ UNIDADE 1 | A ARTE PRÉ-HISTÓRICA, 18 3 MONARQUIA ANTIGA E MONARQUIA MÉDIA Além de legados arquitetônicos,a Monarquia Antiga teve incríveis estátuas-retratos, provenientes de sepulcros e templos funerários. As esculturas apresentam um conjunto de regras (cânones) referente à figura humana. As posições escultóricas são representadas de acordo com a “posição hierárquica” dos deuses, faraós e legados. Destacando que muitas esculturas estavam ligadas à arquitetura, como o caso da figura a seguir, a estátua colocada no templo funerário faria com que o Faraó pudesse ter relações com o mundo e garantir uma vida tranquila, mesmo o túmulo sendo violado. FIGURA 10 – ESTÁTUA EM FRENTE AO TEMPLO FONTE: <http://museuegipcioerosacruz.org.br/ramses-ii-o-grande/>. Acesso em: 10 jun. 2019. O faraó Mikerinos foi representado entre a deusa Hathor e a divindade de uma província, para demonstrar o poder que ele exercia. Figuras em pé ou sentadas mostravam o poder das estatuárias, mas denota-se a rigidez, a simetria com que eram feitas. O resultado é uma imagem rígida e sólida. No que se refere à Monarquia Média, as esculturas eram “menores, em madeira pintada (figuras de animais e humanas), que apresentavam cenas do cotidiano (barcos de pescadores, artesãos, tecelões e até pelotões de escravos). Algumas esculturas eram colocadas próximas ao túmulo que servia para acompanhar o faraó na vida após a morte. Como foram feitas em madeira, poucas sobras restaram” (LISE, 1992, p. 154). 3.1 PINTURA EGÍPCIA Na Monarquia Antiga, as regras pictóricas eram bem definidas. Neste período, “o corpo feminino era sempre representado em amarelo claro ou rosa, e o masculino castanho avermelhado e branco para o fundo. A pintura era realizada em superfícies planas ou em relevo” (SEIDEL; SCHULZ, 2006, p. 128). Primeiramente, eram traçadas as inscrições nas paredes e havia todo um cuidado com a perfeição dos traços, e em seguida a cor completava a imagem. De onde provinham as cores? Usavam as cores do meio natural, como os homens pré- SecMod Underline TÓPICO 2 | ARTE NO EGITO 19 históricos. O amarelo e o castanho eram obtidos de terra natural, o branco do gesso, azul e verde com cobalto e cobre como pigmentos, o negro do fumo. E muitas das cenas provinham do cotidiano deles. FIGURA 11 – TAWY E NAKHT REALIZANDO OFERENDAS – PINTURA DA TUMBA DE NAKHT, EGITO FONTE: <http://seguindopassoshistoria.blogspot.com/2015/11/egito-negro.html>. Acesso em: 1 out. 2019. A diferenciação marcante da figura feminina e da figura masculina na pintura egípcia obedecia às regras de divisão social, distinguindo além do gênero, a divisão do trabalho. Algumas mudanças acontecem na pintura da Monarquia Média, que apresenta temas tradicionais, as figuras apresentam novas posições, além de alturas diferentes. A cor é mais livre, quando surge a pintura sobre o sarcófago de madeira. Eles ainda desenhavam sobre a pedra e depois faziam sulcos contornando as imagens, e quanto mais profundo, mais a imagem se destacava, dando a impressão de volume nos corpos. FIGURA 12 – SARCÓFAGO DE MADJA, NO MUSEU DO LOUVRE FONTE: <http://www.historia.uff.br/revistaplethos/nova/downloads/4,1,2014/7fabio.pdf>. Acesso em: 10 jun. 2019. A pintura no sarcófago de madeira apresenta cenas da vida social egípcia. Traz também símbolos representativos da cultura, como o olho do deus Hórus. UNIDADE 1 | A ARTE PRÉ-HISTÓRICA, 20 4 MONARQUIA NOVA – DINASTIAS XVIII A XXI (1580-108) A.C. Para Vieira (2009), o chamado Novo Império é marcado pelo intercâmbio cultural no Egito. A Décima Oitava Dinastia começa com a expulsão dos hicsos em direção a Kadesh pelo rei Ahmosis, que havia mantido seu poder em Tebas, que passa a ser capital do Egito. Os faraós mais importantes do período foram Tutmósis III (o Napoleão do Oriente), Amenhotep III e Ramsés II. Aliás, durante o reinado de Ramsés II, o Egito conquistou a Núbia e construiu templos de Abu Simbel (um complexo de dois templos escavados na rocha, um dedicado a Ramsés II e o outro a Nefertari, sua primeira esposa). Uma curiosidade! Ramsés II viveu quase 100 anos e teve mais de 180 filhos. Com sua morte, sucessivos Ramsés foram deteriorando o Egito e perdendo a grandeza anteriormente conquistada. Foi um período em que reis fortes comandaram. Com isso foram feitos arrojados projetos arquitetônicos. A arte foi de muita qualidade e rica em detalhes. NOTA 4.1 ARQUITETURA Para Seidel e Schulz (2006), são destaques arquitetônicos os templos de Luxor e Carnac, ambos dedicados ao deus Amon. Para construções destes templos na Monarquia foram empregados adobes (tijolo composto por terra crua, água, palha e fibras naturais, como esterco de gado) cozidos ao sol, material que foi mais econômico. FIGURA 13 – TEMPLO DE LUXOR FONTE: <https://sites.google.com/site/nahistoriageral/idade-antiga/egito-antigo/templo-de- luxor/templodeluxor>. Acesso em: 10 jun. 2019. TÓPICO 2 | ARTE NO EGITO 21 O templo mostrado na figura anterior foi construído na cidade de Luxor e representa as figuras de pai, mãe e filho de uma família egípcia considerada sagrada, conhecida como a tríade de Tebas: Amon, Mut e Khonso. 4.2 ESCULTURA A escultura apesar de apresentar rigidez, começou a revelar informações sociais, étnicas e profissionais. Um dos túmulos com maior destaque é do Tutankhamon. Encontravam-se vasos, trono, carruagens e muitas peças escultóricas, dentre elas duas peças representando o Faraó, feitas em ouro, além da múmia com a máscara sobre seu rosto, mostrando o seu poder. Falecido aos dezoito anos, Tutancâmon deve a fama ao fato acidental de ter sido o único faraó cujo túmulo foi descoberto intacto nos nossos dias, com quase todo o conteúdo. As enormes riquezas das sepulturas (só o caixão de ouro deste soberano pesa mais de 113 quilos) atraíram saqueadores desde a Primeira Monarquia. Os sarcófagos, objetos com forma retangular feitos para depositar o corpo morto (na contemporaneidade temos o caixão que possui a mesma finalidade, mudando apenas a ritualística), no Egito eram destinados para armazenar o corpo do Faraó e por isso eram transformados em esculturas incríveis, com entalhes, pinturas e detalhes que exaltavam o poder que o faraó exercia sobre o seu povo. A escultura da rainha Nefertite foi talhada sobre pedra, apresentando maior suavidade e delicadeza nos traços, como também na pintura. FIGURA 14 – TAMPO DE ATAÚDE DE TUTANKHAMON. MUSEU EGÍPCIO – CAIRO FONTE: Janson (2001, p. 63) Além da riqueza externa do sarcófago de Tutankhamon, também foram encontrados no túmulo muitos tesouros. Parte da riqueza do faraó foi depositada no túmulo junto a seu corpo mumificado. UNIDADE 1 | A ARTE PRÉ-HISTÓRICA, 22 4.3 PINTURA Se a escultura apresentou uma elegância e leveza esculpida, na pintura foi apresentada a lei da frontalidade da figura humana, em que o tronco estava sempre de frente, enquanto a cabeça, as pernas e os pés estavam de perfil. A pintura era feita para decorar murais dos túmulos, em que além da figura humana retratada também começaram a aparecer objetos, vasos e hieróglifos como elemento estético. Para Seidel e Schulz (2006), nesse período era colocado junto ao morto o papiro, para confortá-lo durante a sua passagem. FIGURA 15 – A LEI DA FRONTALIDADE FONTE: <http://arqueologiaegipcia.com.br/2017/01/22/a-lei-da-frontalidade-entendendo-as- pinturas-egipcias/>. Acesso em: 10 jun. 2019. A pintura revela aspectos da estrutura social egípcia, em que a cor pode variar conforme o gênero, e também o tamanho das figuras representadas obedecem à hierarquia da estratificação social. Obedecendo à Lei da Frontalidade, as figuras se mostram de forma múltipla em uma visão lateral e frontal ao mesmo tempo. O papiro (papel fino, feito de uma planta da família das ciperáceas, cujo nome científico é Cyperuspapyrus) também foi instituído em rolo. Era ilustrado com cenas muito vivas, que eram acompanhadas de textos. Podemos destacar o Livro dos Mortos, que era posto no sarcófago e que podia ajudar na sua viagem eterna. TÓPICO 2 | ARTE NO EGITO 23 FIGURA 16 – PAPIROEGÍPCIO CARREGAVA FEITIÇO AMOROSO FONTE: <https://revistagalileu.globo.com/Ciencia/noticia/2018/09/papiro-egipcio-e-decifrado- e-revela-feitico-amoroso.html>. Acesso em: 10 jun. 2019. Até hoje, muitos mistérios rondam o Egito, principalmente com a organização e estrutura para construírem as pirâmides e seus labirintos. Estudos semióticos sobre as pinturas, objetos encontrados e estudos aprofundados através da alta tecnologia ajudam a escrever constantemente essa civilização. 24 RESUMO DO TÓPICO 2 Neste tópico, você aprendeu que: • O Egito foi dividido em monarquias: Antiga, Média e Nova. • Na Monarquia Antiga, destacam-se as pirâmides do Egito. As esculturas eram acopladas principalmente às portas dos templos e apresentavam uma pintura, com cenas do seu cotidiano. • Na Monarquia Média, as esculturas tiveram maior destaque, pois acompanhavam o faraó após a sua morte. Nesse período surgiu a pintura sobre o sarcófago. • Na Monarquia Nova, os sarcófagos eram esculturas que apresentavam uma verdadeira obra de arte, pois era usado ouro para mostrar o poder que o faraó exercia sobre seu povo. As pinturas ficaram mais ricas, com outros elementos, como vasos, objetos e também com hieróglifos. • A arquitetura egípcia concentrou-se nos templos funerários e nos templos dedicados aos deuses. 25 1 Os povos da Idade Antiga criaram diversos tipos de escrita, dentre elas o hieróglifo, no Egito. Escreva uma mensagem com símbolos e entregue para alguém da sala com a respectiva legenda para que ela possa realizar a leitura. Exemplo: @ > / # &. Resposta:_____________ Legenda: # T & O > G @ E / I 2 Sobre a construção das pirâmides, analise as asserções e a relação proposta entre elas: I- Cientistas conseguiram explicar como as pirâmides do Egito foram construídas e derrubaram alguns mitos que perduraram ao longo de dezenas de anos. Porque II- Muitos disseram que alienígenas construíram as pirâmides, mas que, na realidade, os antigos egípcios moveram os blocos numa espécie de trenó sob a areia molhada. A respeito dessas asserções, assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) A asserção I está correta, mas não complementa a asserção II, que está parcialmente correta. b) ( ) A asserção II é um complemento da asserção I e ambas estão corretas sobre a construção das pirâmides. c) ( ) Ambas as asserções estão incorretas, porque muito se falou sobre a construção das pirâmides e até agora não se tem uma comprovação de sua construção. d) ( ) A asserção II está correta, enquanto a asserção I não procede a sua afirmação. AUTOATIVIDADE 26 27 TÓPICO 3 ARTE NO ORIENTE UNIDADE 1 1 INTRODUÇÃO Mesopotâmia – a “terra entre dois rios” (Eufrates e Tigre) – tinha como capital a Babilônia, hoje situada no atual Iraque. A história política da Antiga Mesopotâmia é marcada pelas rivalidades locais, incursões estrangeiras. Sobre um fundo tão agitado é ainda mais notável a continuidade das tradições culturais e artísticas. Essa herança comum se deve aos primeiros povos – os sumérios. Nesta geografia vamos olhar o legado da arte dos sumérios, assírios e persas. Segundo Baumgart (1999), em meio a esta diversidade, as formas artísticas conservam certa hegemonia devido à herança dos sumérios. 2 A ARTE DOS SUMÉRIOS O povo sumério se desenvolveu ao sul da Mesopotâmia, atualmente sul do Iraque. O foco de seu registro está centrado nas construções arquitetônicas, sendo que as imagens concretizadas em estátuas presentes nas construções atuavam de forma significativa na produção artística desse povo. Representavam seus deuses, às vezes, em fusão com figuras de animais, com destaque para os olhos. Um dos grandes legados dos sumérios foi a escrita cuneiforme, representada com símbolos específicos que conseguiam transmitir suas ideias e representavam objetos variados, sempre ligados aos fenômenos de seu cotidiano, contemplando assuntos administrativos, políticos e econômicos. Registrados em placas de argila, é através dessas inscrições que foi possível conhecer um pouco da vida dos sumérios. FIGURA 17 – ESCRITA CUNEIFORME FONTE: <https://www.estudopratico.com.br/escrita-cuneiforme/>. Acesso em: 8 maio 2019. 28 UNIDADE 1 | A ARTE PRÉ-HISTÓRICA, A escrita cuneiforme é um sistema que provavelmente teve origem na Suméria. Consta de 600 caracteres, cada um dos quais representa palavras ou sílabas escritas em tábuas de argila ou de pedra. Espalhados em cidades- estados, a arquitetura suméria foi desenvolvida em prol da religião, realizando a construção de grandes templos dedicados a seus deuses e também como espaço de armazenamentos dos grãos necessários a sua alimentação. Nessas construções destacam-se os zigurates, torres em degraus que completavam as construções gigantescas assemelhando-se à construção das pirâmides egípcias. Pode-se afirmar que a arte dos sumérios era fundamentada em suas crenças religiosas, por isso a construção de grandes templos destinados ao louvor de seus deuses. FIGURA 18 – ZIGURATE DO REI URNAMMU, UR, C. 2500 A.C. FONTE: <https://pt.wikipedia.org/wiki/Zigurate_de_Ur>. Acesso em: 8 maio 2019. Zigurates eram grandes escadarias que completavam as construções em formato de pirâmides e serviam como locais de armazenagem de produtos agrícolas e também como templos religiosos. Um famoso zigurate é a Torre de Babel, referenciada na Bíblia Sagrada. Infelizmente, o tempo não poupou as construções dos sumérios, construídas com tijolos, elas foram destruídas e o que restou foram ruínas ou partes das construções. Na escultura dos sumérios, o material utilizado era a pedra e madeira, associando alguns elementos como o ouro, o cobre e a prata. Os olhos e as sobrancelhas eram inicialmente de materiais coloridos incrustados, e a cabeça coberta por uma “cabeleira” de ouro ou cobre. Assim, o legado dos sumérios se revelou nas descobertas arqueológicas das placas de argila gravadas em sua escrita cuneiforme, em que seu cotidiano, suas crenças e realizações foram registradas. As esculturas representavam seus deuses e a arquitetura grandiosa era dedicada a eles. Essas manifestações artísticas vão influenciar também os demais povos que reconheceram na arte suméria importante fonte de inspiração, dentre eles os assírios. TÓPICO 3 | ARTE NO ORIENTE 29 DICAS Saiba mais sobre os Sumérios assistindo ao vídeo no link a seguir: https://www.youtube.com/watch?v=KYVHYAQHHwM. 3 A ARTE ASSÍRIA Em comum com os sumérios, o povo assírio também tinha como pano de fundo de sua sobrevivência e de sua arte a região geográfica da Mesopotâmia, bem como os rios Tigre e Eufrates. No entanto, o povo assírio é conhecido pela sua ativa participação em guerras, voltado à conquista de territórios de outros povos. Fernandes (2018) frisa que os guerreiros assírios eram chamados de “máquina de guerra” pela formação do provável primeiro exército organizado da História. Arqueiros, lanceiros, carros de combate e cavalaria formavam sua força de combate, foi assim que conseguiram submeter várias das civilizações da Mesopotâmia ao seu jugo. No que se refere à representação escultórica, os deuses eram fonte de inspiração para os artistas que os esculpiam em miniaturas. Na arquitetura, os assírios apresentaram clara influência dos sumérios, diz-se que os assírios foram em relação aos sumérios o mesmo que os romanos em relação aos gregos. FIGURA 19 – CIDADE DE SARGÃO II, EM DUR FONTE: <http://m.redeangola.info/palacio-do-rei-sargao-ii-destruido-pelo-estado-islamico/>. Acesso em: 25 fev. 2019. Essas construções em reverência aos seus reis e suas batalhas estão exemplificadas em gigantescos painéis que em baixo-relevo representavam cenas de caça e cenas militares e que ornamentavam suas construções arquitetônicas. Esses painéis assumiam a função de narração das atividades desenvolvidas pelos assírios, atuando também de forma didática. 30 UNIDADE 1 | A ARTE PRÉ-HISTÓRICA, Santos (2013) destaca que os relevos assírios eram esculpidos emenormes painéis de pedra calcária e alocados nas paredes dos palácios reais e formavam uma narrativa visual, geralmente exaltando as conquistas do império, já que a arte era patrocinada pelo Estado. O legado dos assírios através de sua arte confere importante registro de um povo que teve a sobrevivência e a conquista de territórios como fonte principal de sua atuação. A influência da arte suméria é visível, no entanto, os assírios conferem sua identidade na apropriação das formas de representação artística, como a escultura e, principalmente, a arquitetura. Sua herança será assumida pelo Império dos Persas. 4 A ARTE PERSA A Pérsia recebeu o nome do povo que ocupou a Babilônia em 539 a.C. e se tornou herdeira do antigo império assírio. Hoje tem o nome de Irã, nome mais antigo e mais adequado. Janson (2001) observa que o Irã parece ter sido uma via de acesso das tribos migratórias das estepes asiáticas, ao Norte, e da Índia, a Leste. Os recém-chegados estabeleciam-se por algum tempo, dominando a população local ou fundindo-se com ela até que se vissem, por sua vez, forçados a sair – para a Mesopotâmia, para a Ásia Menor, para a Rússia Meridional – pela onda seguinte de imigrantes. A arte persa foi concentrada também na arquitetura e na escultura, e a pintura também foi representada de forma significativa. No entanto, a arquitetura vai sofrer modificações representadas em pequenas construções de tijolos e argamassa. Já os palácios vão conservar a estrutura monumental. FIGURA 20 – PERSÉPOLIS – ARQUITETURA IMPONENTE, TRABALHADA EM PRATA E OURO ESCULTURAS EM RELEVO SIMBOLIZAM OFERENDAS AO REI FONTE: <https://brasilescola.uol.com.br/historiag/arte-persa.htm>. Acesso em: 8 maio 2019. Importante frisar que de todas as manifestações artísticas do povo persa, a arquitetura foi a de maior representação. Os palácios eram edifícios impressionantes e um dos mais ambiciosos estava em Persépolis. O seu traçado geral, com imenso TÓPICO 3 | ARTE NO ORIENTE 31 número de câmaras, salas e pátios reunidos sobre uma plataforma alteada, lembrava as residências reais da Assíria, cujas tradições se mostravam dominantes. A escultura e a pintura complementam a arquitetura persa. Na escultura, a representação de animais e homens em seres mitológicos ordenavam a crença em sua força guerreira de conquistas territoriais. Utilizavam argila e mármore para esculpir suas figuras. Foi na civilização persa que surgiram as famosas tapeçarias persas, que cobriam as paredes dos palácios, tendo como tema animais, vegetais e cenas de caça. Surgiu também o uso das sedas. Essa arte tem como suporte o tecido e ditou a arte da tapeçaria por várias regiões próximas. Atualmente, a tapeçaria é valorizada como representativa da arte persa. FIGURA 21 – TAPEÇARIA PERSA FONTE: <https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Jean-L%C3%A9on_G%C3%A9r%C3%B4me_-_ The_Carpet_Merchant_-_Google_Art_Project.jpg>. Acesso em: 1 out. 2019. Na tentativa de conhecer as particularidades da arte persa, podemos citar que, segundo Gonçalves (2016): • Os principais trabalhos artísticos da Pré-História foram as peças de cerâmica e as pequenas figuras de argila. • No primeiro grande período da arte persa, durante o reinado dos aquemênidas, a escultura ganhou uma característica monumental. • Entre os primeiros exemplos da arquitetura persa, destacam-se pequenas casas feitas à base de argamassa e tijolos de barro cru e secos ao sol, descobertas em várias obras neolíticas do Ocidente do Irã. • O primeiro momento de grande desenvolvimento da arquitetura persa tem lugar com a dinastia dos aquemênidas (550 a 331 a.C.). 32 UNIDADE 1 | A ARTE PRÉ-HISTÓRICA, • Durante o período Aquemênida, as artes decorativas passaram a ser empregadas nos artigos de luxo, como ornamentos e vasilhas de ouro e prata, jarros de pedra e joias trabalhadas. • Depois da conquista da Pérsia pelos árabes no ano 641, o Irã passou a fazer parte do mundo islâmico. Seus artistas tiveram que se adaptar à cultura islâmica, a qual, por sua vez, foi influenciada pela tradição iraniana. A arquitetura continuou sendo a principal forma artística. DICAS Assista ao vídeo sobre detalhes da arquitetura persa em: https://www.youtube. com/watch?v=cb6QPIGe2S0&t=31s. https://www.youtube.com/watch?v=cb6QPIGe2S0&t=31s https://www.youtube.com/watch?v=cb6QPIGe2S0&t=31s 33 RESUMO DO TÓPICO 3 Neste tópico, você aprendeu que: • A arte do Oriente foi representada pelos sumérios, assírios e persas. Em suas particularidades, cada civilização nos deixou sua marca através também de sua arte. • Os sumérios se destacaram na arquitetura e as esculturas eram inspiradas em seus deuses. Outro legado importante dos sumérios foi a escrita cuneiforme. • Os assírios eram a civilização mais guerreira, conquistando vasto território. Suas esculturas eram em miniaturas representando seus deuses, utilizavam também esculturas em baixo-relevo. Na arquitetura dos assírios, houve a presença dos zigurates. • A civilização persa foi marcada também pelas requintadas tapeçarias. Na arquitetura e na escultura, ocorreu o uso de argila e mármore. 34 1 Um dos grandes legados dos sumérios foi a escrita, enquanto a arte assíria tem os deuses como inspiração. Na arquitetura, os assírios têm a influência dos sumérios. Diante disso, assinale a alternativa CORRETA sobre a relação desses dois povos na arte arquitetônica: a) ( ) Os arquitetos assírios construíram grandes igrejas para agradar aos deuses de suas crenças. b) ( ) A arquitetura dos assírios seguia uma inspiração egípcia e a figura das pessoas já aparece retratada nas parede. c) ( ) A arquitetura ainda não havia surgido nem entre os povos sumérios e nem entre os povos assírios. d) ( ) As construções, como os templos e os zigurates, levantadas pelos assírios, tinham inspiração dos sumérios e os palácios atingiram dimensões sem precedentes. 2 Acerca dos sumérios, assírios e persas, analise as afirmações a seguir: I- Os sumérios começam a trabalhar a escultura e utilizam como material a pedra e a madeira. II- Já na Assíria, os artistas estavam muito mais interessados na pintura e, portanto, pouco se interessaram pela escultura e pela arquitetura. III- Mas foi na Assíria que o sistema sexagesimal de contar o tempo foi desenvolvido. IV- A arte persa tem um significado importante tanto na tapeçaria, como na escultura, mas pouca representatividade na arquitetura. É CORRETO apenas o que se afirma em: a) ( ) I e III. b) ( ) I, II e IV. c) ( ) II, III e IV. d) ( ) I e IV. AUTOATIVIDADE 35 TÓPICO 4 ARTES GREGA E ROMANA UNIDADE 1 1 INTRODUÇÃO Segundo Funan (2002), os mais antigos antepassados dos gregos chegaram à região da Grécia no final do terceiro milênio a.C. e logo se dirigiram às ilhas do Mar Egeu. Os primeiros gregos que ocuparam a região foram os jônios, eles submeteram os antigos habitantes da Ásia Menor por meio da violência e os reduziram à servidão. Os gregos incorporaram elementos culturais de outros povos e os ressignificaram. O período de formação da civilização grega é de cerca de quatrocentos anos, de 1100 a 700 a.C. Dos três séculos iniciais sabe-se pouco, mas a partir de 800 a.C. os gregos emergem rapidamente à plena luz da história. São desse tempo as primeiras datas precisas que chegaram até a atualidade: 776 a.C., ano da instituição dos jogos olímpicos e ponto de partida da cronologia grega, assim como outras, um pouco anteriores da fundação de várias cidades. Este tópico abordará as artes grega e romana. A arte grega com destaque para o ideal de beleza. Os gregos tinham preocupação pela harmonia das formas, principalmente nas esculturas. As construções não tinham preocupação utilitária, enquanto na arte romana o enfoque era a praticidade e a utilidade. Nas figuras a seguir observamos que o ideal grego de beleza apresenta o predomínio do ritmo, do equilíbrio e da harmonia, valorizando as medidas proporcionais. Já a arte romana sofre a influênciagrega e apresenta uma arte naturalista, sem a beleza idealizada dos gregos. FIGURA 22 – ARTE GREGA FIGURA 23 – ARTE ROMANA FONTE: <https://www.bma.art.br/escultura- grega/>. Acesso em: 15 jan. 2019. FONTE: <https://www.slideshare.net/hgp5/a- escultura-romana>. Acesso em: 15 jan. 2019. 36 UNIDADE 1 | A ARTE PRÉ-HISTÓRICA, Observe na representação dos traços do rosto das duas esculturas. A Figura 22 é de Apolo Belvedere, que representa o Deus Grego bem conhecido, o Apolo. O rosto apresenta suavidade e simetria em uma junção de força e leveza. Para eles, a razão e a sensibilidade foram essenciais para construir arte com mera particularidade, pois exprimia valores como equilíbrio, harmonia, ordem e medida. Já o rosto da Figura 23 (retrato séc. I a.C. Metropolitan Museum of Art NY), de origem romana, traz a expressão humana em sua plenitude com os traços originais. A representação naturalista era importante para os romanos, cultivando a originalidade dos traços das figuras representadas. Do ponto de vista artístico, podemos destacar os seguintes períodos artísticos da Grécia Antiga: • Arcaico: do século VII até a 1ª metade do século V a.C. • Clássico: do século V até a metade do século IV a.C. • Helenístico: do final do século IV até a metade do século I a.C. 2 PERÍODO ARCAICO GREGO Durante o período Arcaico, temos a pintura de vasos e uma arquitetura monumental, com destaque para a escultura. Por muitos séculos, a arte só se expressava na cerâmica, apresentando alternância na decoração, às vezes eram feitas linhas geométricas retilíneas, contínuas ou quebradas. Mais tarde vieram os vasos de cerâmica que apresentavam figuras, bastante estilizadas, as figuras negras e figuras vermelhas. Inicialmente foi utilizada a técnica da figura negra sobre fundo vermelho. O artista riscava os detalhes com agulha ou algo que apresentava uma ponta fina. O maior pintor de figuras negras foi Exéquias. Depois o artista Eutímedes inverteu o esquema de cores, deixando as figuras na cor natural e pintando o fundo de negro, dando início às figuras vermelhas. A pintura de vasos orientalizantes e arcaicas apresentavam uma diferença de disciplina artística. Algumas figuras eram representadas como silhuetas maciças, quer como simples contornos ou como a combinação de ambas as maneiras de apresentá-las. Temos assim o surgimento do estilo “de figuras negras”, traçadas em silhueta sobre o barro avermelhado. TÓPICO 4 | ARTES GREGA E ROMANA 37 FIGURA 24 – OBRA DE EUTÍMEDES FONTE: <http://historiadaarte2ano.blogspot.com/>. Acesso em: 15 jan. 2019. Os vasos gregos também obedeciam ao rigor da harmonia no encontro da forma com as cores. Os desenhos aplicados nos vasos têm a intenção de retratar cenas inspiradas na mitologia grega e também pessoas em suas atividades diárias. Os vasos possuíam duas funções: utilitária (rituais religiosos, armazenar água, vinho) e decorativo. Medeiros (2018) frisa que no período, conhecido como Arcaico, a escultura é feita em pedra, em que rapazes (Kouros) e moças (Korés) são criados pelo escultor que representava superficialmente as feições e os músculos. As esculturas masculinas são nuas e eretas, revelando a influência de outras culturas, pois eram esculpidas numa pose de grande rigidez e frontalidade. FIGURA 25 – FIGURA FEMININA (KORE), C. 650 A.C. – FIGURA DE JOVEM (KOUROS), C. 600 A.C. FONTE: <https://pt.wikipedia.org/wiki/Escultura_da_Gr%C3%A9cia_arcaica#/media/File:Kouroi2.jpg>. Acesso em: 15 jan. 2019. Nesse período chamado Arcaico, a escultura apresenta rigidez e seriedade. Os corpos são talhados mais próximos da representação egípcia e mesopotâmia. No decorrer do desenvolvimento da escultura grega esta representação mudará drasticamente, incorporando o movimento e emoção. 38 UNIDADE 1 | A ARTE PRÉ-HISTÓRICA, Quando os gregos começaram a construir os templos, a escultura foi unificada a ela. Os gregos esculpiram, principalmente, na base triangular, grandes guardiões que destacavam e engrandeciam e embelezavam a arquitetura. Proveniente de tais feitos, a arte passou a evoluir principalmente o âmbito da arquitetura, surgindo em vez de esculturas na base triangular, colunas que vieram com propósitos sociais, isso no próximo período (PROENÇA, 2011). 3 PERÍODO CLÁSSICO Foi no período Clássico que a perfeição artística teve seu apogeu. É chamado de momento clássico, pois alcançou a clareza absoluta da visão. Tiveram domínio do movimento nas esculturas, a arquitetura teve caráter social com o surgimento do teatro, e as pinturas realizadas em vasos serviam como oferendas funerárias. A arquitetura grega é reconhecida pelo uso de colunas que são registradas em três ordens: dórica, jônica e coríntia. A ordem dórica era simples e maciça. Os fustes das colunas eram grossos e afirmavam-se diretamente no estilóbata. “Os capitéis, que ficavam no alto dos fustes, eram muito simples. A arquitrave era lisa e sobre ela ficava o friso que era dividido em tríglifos – retângulos com sulcos verticais – e métopas – retângulos que podiam ser lisos, pintados ou esculpidos em relevo” (PROENÇA, 2011, p. 34). A ordem dórica pode ser vista no Partenon, templo em homenagem à deusa Atena. O templo consistia essencialmente em arquitetura exterior. Conforme Robertson (1982), essa construção tinha um friso de 159 m de comprimento, e esculturas nos dois frontões e nas 92 métopas. Podemos destacar ainda o templo Hephaisteion, dedicado ao deus do fogo, que foi um dos mais preservados de Atenas. A ordem jônica parecia dar mais leveza e era mais ornamentada que a dórica. As colunas eram delgadas sobre uma base decorada. Os capitéis ornamentados eram divididos em três faixas horizontais. O friso dividido em partes ou decorado. Um exemplo de ordem jônica é o Templo de Atena Niké, construído em mármore. Com as mesmas colunas, o Erecteion em Atenas veio a ser construído para ser uma espécie de santuário. Frisando que algumas colunas jônicas deram espaço para figuras femininas, de forma delicada complementavam e ornamentavam o lugar. TÓPICO 4 | ARTES GREGA E ROMANA 39 FIGURA 26 – COLUNAS GREGAS FONTE: Janson (2001, p. 169) O templo coríntio é uma derivação do jônico, mais adornado e elevado de proporções. O seu capitel tem a forma de um sino invertido, coberto por folhas de acanto, tornando-se padrão em Roma. Uma construção que prevaleceu nesse período foi o “Teatro”, dividido em três partes: • Orquestra – local para danças, coro e representação de atores. • Arquibancada – local para o público. • Palco – lugar onde os atores se preparavam para entrar em cena. O teatro mais famoso é o “Epidauro, notável por sua acústica perfeita e podia acomodar até 14.000 pessoas” (PROENÇA, 2011, p. 35). ORDEM DÓRICA ORDEM JÔNICA EN TA BL A M EN TO EN TA BL A M EN TO C O LU N A C O LU N A Cornija Cornija Friso Friso Arquitrave ou Epistilo Arquitrave ou Epistilo Capitel Capitel Fuste Fuste Base Gotas Gotas Ábaco Equino Taenia Regula ESTILÓBATA ESTILÓBATA ESTEREÓBATA ESTEREÓBATA EUTINTÉRIA Ábaco Voluta Geison Geison Geison Inclin ado Geison InclinadoSima Inclin ado Sima Inclinado Mútulo MétopaTriglifo 40 UNIDADE 1 | A ARTE PRÉ-HISTÓRICA, FIGURA 27 – TEATRO DE EPIDAURO, C. 350 A.C. FONTE: <https://pt.wikipedia.org/wiki/Epidauro#/media/File:Epidauros-Theater-1.jpg>. Acesso em: 15 jan. 2019. A arquitetura grega influencia até hoje construções em todo o mundo. No Brasil temos o Teatro da Paz, em Belém/PA, que foi projetado por um engenheiro militar e as colunas no seu frontão são de inspiração grega. Na pintura, durante o período Clássico, perdura a pintura em vasos, além de pinturas em murais e mosaicos. As figuras com representações femininas eram temas que serviam para os monumentos funerários de mulheres jovens. FIGURA 28 – PINTURA EM VASO FONTE: <https://fr.wikipedia.org/wiki/Sir%C3%A8ne_(mythologie_grecque)#/media/ Fichier:Odysseus_Sirens_BM_E440_n2.jpg>. Acesso em: 1 out. 2019. O vaso
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