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E-BOOK de Jurisprudência do STJ para o concurso da PCERJ (2022) Prof. Renan Araujo 1 Sumário PRISÃO EM FLAGRANTE ...................................................................................................................... 3 PRISÃO PREVENTIVA ............................................................................................................................. 6 PRISÃO CAUTELAR – TÓPICOS DIVERSOS ..................................................................................... 15 PROVAS .................................................................................................................................................. 18 JUIZADOS ESPECIAIS CRIMINAIS ..................................................................................................... 28 OUTRAS TESES RELEVANTES ............................................................................................................ 31 OUTROS JULGADOS RELEVANTES .................................................................................................. 32 CRIMES CONTRA A PESSOA ............................................................................................................. 35 CRIMES CONTRA O PATRIMÔNIO ................................................................................................... 39 OUTROS TIPOS PENAIS ...................................................................................................................... 50 Olá, pessoal! Esse é nosso e-book de jurisprudência do STJ (compilada) voltado para a PCERJ. Busquei relacionar aqui os julgados do STJ que reputo mais importantes para a prova da PCERJ, em direito penal e, principalmente, direito processual penal. Além de compilar as teses e julgados, fiz algumas observações em alguns deles, apontando eventuais teses que foram posteriormente superadas por mudança de entendimento, etc. Bons estudos! E-BOOK de Jurisprudência do STJ para o concurso da PCERJ (2022) Prof. Renan Araujo 2 ✅12h de revisão ✅02 simulados de 30 questões cada, comentados por escrito ✅BÔNUS: 3h de aula apenas sobre jurisprudência do STJ Para saber mais sobre o curso de revisão, clique aqui: https://www.hotmart.com/product/revisao-final-pcerj/T65184100G Use o cupom EBOOK30 e garanta 30% de desconto! Somente para os 30 primeiros! E-BOOK de Jurisprudência do STJ para o concurso da PCERJ (2022) Prof. Renan Araujo 3 PRISÃO EM FLAGRANTE JURISPRUDÊNCIA EM TESES – EDIÇÃO 120 1) Não há crime, quando a preparação do flagrante pela polícia torna impossível a sua consumação. (Súmula n. 145/STF) 2) O tipo penal descrito no art. 33 da Lei n. 11.343/2006 é de ação múltipla e de natureza permanente, razão pela qual a prática criminosa se consuma, por exemplo, a depender do caso concreto, nas condutas de "ter em depósito", "guardar", "transportar" e "trazer consigo", antes mesmo da atuação provocadora da polícia, o que afasta a tese defensiva de flagrante preparado. – Essa tese foi posteriormente corroborada pelo art. 33, §1º, IV da Lei de Drogas, incluído pela Lei 13.964/19 (pacote anticrime). Ou seja, a venda de droga a policial disfarçado configura crime (não é crime impossível), caso haja elementos que indiquem a prática criminosa antecedente (trazer consigo, ter em depósito, etc.). 3) No flagrante esperado, a polícia tem notícias de que uma infração penal será cometida e passa a monitorar a atividade do agente de forma a aguardar o melhor momento para executar a prisão, não havendo que se falar em ilegalidade do flagrante. 4) No tocante ao flagrante retardado ou à ação controlada, a ausência de autorização judicial não tem o condão de tornar ilegal a prisão em flagrante postergado, vez que o instituto visa a proteger o trabalho investigativo, afastando a eventual responsabilidade criminal ou administrava por parte do agente policial. 5) Para a lavratura do auto de prisão em flagrante é despicienda a elaboração do laudo toxicológico definitivo, o que se depreende da leitura do art. 50, §1º, da Lei n. 11.343/2006, segundo o qual é suficiente para tanto a confecção do laudo de constatação da natureza e da quantidade da droga. 6) Eventual nulidade no auto de prisão em flagrante devido à ausência de assistência por advogado somente se verifica caso não seja oportunizado ao conduzido o direito de ser assistido por defensor técnico, sendo suficiente a lembrança, pela autoridade policial, dos direitos do preso previstos no art. 5º, LXIII, da Constituição Federal. 7) Uma vez decretada a prisão preventiva, fica superada a tese de excesso de prazo na comunicação do flagrante. E-BOOK de Jurisprudência do STJ para o concurso da PCERJ (2022) Prof. Renan Araujo 4 8) Realizada a conversão da prisão em flagrante em preventiva, fica superada a alegação de nulidade porventura existente em relação à ausência de audiência de custódia. - Tese corroborada várias vezes: (...) O entendimento desta Corte Superior de Justiça é de que "a não realização de audiência de custódia no prazo de 24 horas não acarreta a automática nulidade do processo criminal, assim como que a conversão do flagrante em prisão preventiva constitui novo título a justificar a privação da liberdade, ficando superada a alegação de nulidade decorrente da ausência de apresentação do preso ao Juízo de origem. Precedentes." (RHC n. 119.091/MG, Rel. Ministro Antonio Saldanha Palheiro, 6ª T., DJe 12/12/2019). (...) (RHC 154.274/MG, Rel. Ministro ROGERIO SCHIETTI CRUZ, SEXTA TURMA, julgado em 14/12/2021, DJe 17/12/2021) 9) Não há nulidade da audiência de custódia por suposta violação da Súmula Vinculante n. 11 do STF, quando devidamente justificada a necessidade do uso de algemas pelo segregado. 10) Não há nulidade na hipótese em que o magistrado, de ofício, sem prévia provocação da autoridade policial ou do órgão ministerial, converte a prisão em flagrante em preventiva, quando presentes os requisitos previstos no art. 312 do Código de Processo Penal - CPP. – Tese SUPERADA. O STJ modificou seu entendimento posteriormente, passando a entender que é vedado ao Juiz converter a prisão em flagrante em prisão preventiva de ofício, ou seja, sem provocação. Vejamos: (...) a Terceira Seção desta Corte firmou entendimento de que não é possível a decretação da prisão preventiva de ofício em face do que dispõe a Lei 13.964/2019, mesmo se decorrente de prisão em flagrante e se não tiver ocorrido audiência de custódia. Isso porque não existe diferença entre a conversão da prisão em flagrante em preventiva e a decretação da prisão preventiva como uma primeira prisão. Precedente. 3. Embargos de declaração rejeitados. (EDcl no AgRg no HC 653.425/MG, Rel. Ministro SEBASTIÃO REIS JÚNIOR, SEXTA TURMA, julgado em 16/11/2021, DJe 19/11/2021) 11) Com a superveniência de decretação da prisão preventiva ficam prejudicadas as alegações de ilegalidade da segregação em flagrante, tendo em vista a formação de novo título ensejador da custódia cautelar. DECISÕES IMPORTANTES E-BOOK de Jurisprudência do STJ para o concurso da PCERJ (2022) Prof. Renan Araujo 5 1) A violação do domicílio para fins de prisão em flagrante exige que haja FUNDADA suspeita de que, dentro da residência, esteja ocorrendo crime (ex.: ter droga em depósito). A mera existência de denúncia anônima informando a existência de droga na residência, sem outros elementos que a confirmem, não justifica o ingresso na residência, AINDA QUE os agentes policiais efetivamente encontrem a droga no local: 1. É pacífico nesta Corte o entendimento de que, nos crimes permanentes, tal como o tráfico de drogas, o estado de flagrância se protrai no tempo, o que, todavia, não é suficiente, por si só, para justificar busca domiciliar desprovida de mandado judicial, exigindo-se a demonstração de indícios mínimos de que, naquele momento, dentroda residência, está-se ante uma situação de flagrante delito. 2. Consoante o julgamento do RE 603.616/RO, não é necessária certeza quanto à ocorrência da prática delitiva para se admitir a entrada em domicílio, bastando que, em compasso com as provas produzidas, seja demonstrada a justa causa na adoção da medida, ante a existência de elementos concretos que apontem para o flagrante delito. 3. Hipótese em que os policiais, diante de denúncia anônima recebida, dirigiram-se à residência paciente e avistaram seu rosto numa janela, ocasião em que este correu para os fundos da casa, não obtendo êxito, naquele instante, os policiais em adentrar naquela para detê-lo, porquanto o muro da frente era alto, só o fazendo momentos após, encontrando no seu interior "meio tijolo de cocaína, seis porções grandes de crack e 27 porções pequenas de crack, além de uma balança de precisão e três facas com resquícios da droga. No banheiro próximo à cozinha, havia um fundo falso atrás da porta, no chão, onde foi encontrado mais um tijolo de cocaína", sem mais outras demonstrações e indícios mínimos de que, naquele momento, dentro da casa, estar-se-ia diante de uma situação de flagrante delito. 4. Nesse contexto, configura-se a nulidade da prisão em flagrante em virtude das provas obtidas ilegalmente, por meio da entrada dos policiais em domicílio alheio desprovida de mandado judicial, sendo necessária, de acordo com a jurisprudência deste Tribunal, "a prévia realização de diligências policiais para verificar a veracidade das informações recebidas (ex: 'campana que ateste movimentação atípica na residência')" (AgRg no HC 665.373/SP, Rel. Ministro REYNALDO SOARES DA FONSECA, QUINTA TURMA, julgado em 03/08/2021, DJe 10/08/2021). (...) (HC 696.084/SP, Rel. Ministro OLINDO MENEZES (DESEMBARGADOR CONVOCADO DO TRF 1ª REGIÃO), SEXTA TURMA, julgado em 07/12/2021, DJe 13/12/2021) E-BOOK de Jurisprudência do STJ para o concurso da PCERJ (2022) Prof. Renan Araujo 6 2) Prisão em flagrante (sem violação de domicílio) em razão denúncia anônima – É possível. O STJ entende que, recebendo denúncia anônima sobre situação de flagrante delito, a polícia pode se posicionar e realizar o chamado “flagrante esperado”: (...) Em relação à afirmada denúncia anônima que noticiava flagrante, diferentemente do que ocorre para a instauração do Inquérito ou para a adoção de providências cautelares de outra ordem, a formalização dos informes advindos de fonte humana é desnecessária e não se coaduna com a sistemática vigente, de informações recebidas pelo "disque-denúncia" ou por outros meios de coleta de elementos informais. O propósito que imbuiu eventual delator não é fator relevante e não há ato normativo que exija que informações que desencadeiem averiguações prévias sejam formalizadas. Isso porque a maneira como a informação chega à Autoridade Policial é desinfluente. Tomando ela conhecimento da existência de um crime - quanto mais em situação de flagrância -, é seu dever proceder ao exame da veracidade da notícia, inclusive para evitar a perda da oportunidade. (...) (APn 843/DF, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN, CORTE ESPECIAL, julgado em 06/12/2017, DJe 01/02/2018) 3) Prisão em flagrante por guardas municipais – O STJ entende ser possível, na medida em que qualquer pessoa do povo poderia realizar a prisão em flagrante, de forma que nada impede a realização da prisão em flagrante por guardas municipais: (...) Com efeito, assente na jurisprudência deste Tribunal Superior que, "Nos termos do artigo 301 do Código de Processo Penal, qualquer pessoa pode prender quem esteja em flagrante delito, de modo que inexiste óbice à realização do referido procedimento por guardas municipais, não havendo, portanto, que se falar em prova ilícita no caso em tela. Precedentes" (HC n. 421.954/SP, Quinta Turma, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, DJe de 2/4/2018). (...) (HC 681.625/SP, Rel. Ministro JESUÍNO RISSATO (DESEMBARGADOR CONVOCADO DO TJDFT), QUINTA TURMA, julgado em 07/12/2021, DJe 15/12/2021) PRISÃO PREVENTIVA JURISPRUDÊNCIA EM TESES – EDIÇÃO 32 E-BOOK de Jurisprudência do STJ para o concurso da PCERJ (2022) Prof. Renan Araujo 7 1) A fuga do distrito da culpa é fundamentação idônea a justificar o decreto da custódia preventiva para a conveniência da instrução criminal e como garantia da aplicação da lei penal. – Trata-se da fuga logo após o crime, para se furtar à aplicação da lei penal. 2) As condições pessoais favoráveis não garantem a revogação da prisão preventiva quando há nos autos elementos hábeis a recomendar a manutenção da custódia. 3) A substituição da prisão preventiva pela domiciliar exige comprovação de doença grave, que acarrete extrema debilidade, e a impossibilidade de se prestar a devida assistência médica no estabelecimento penal. – Trata-se de tese que já foi corroborada várias vezes: (...) A negativa de concessão de prisão domiciliar está amparada no entendimento desta Corte Superior, no sentido de que, à luz do disposto no art. 318, inciso II, do Código de Processo Penal, o Acusado deve comprovar que se encontra extremamente debilitado por motivo de grave estado de saúde e a impossibilidade de receber tratamento no estabelecimento prisional, o que não ocorreu no caso. 7. Agravo regimental desprovido. (AgRg no HC 702.485/GO, Rel. Ministra LAURITA VAZ, SEXTA TURMA, julgado em 23/11/2021, DJe 01/12/2021) 4) A prisão preventiva poderá ser substituída pela domiciliar quando o agente for comprovadamente imprescindível aos cuidados especiais de pessoa menor de 06 (seis) anos de idade ou com deficiência. 5) As medidas cautelares diversas da prisão, ainda que mais benéficas, implicam em restrições de direitos individuais, sendo necessária fundamentação para sua imposição. 6) A citação por edital do acusado não constitui fundamento idôneo para a decretação da prisão preventiva, uma vez que a sua não localização não gera presunção de fuga. – Não se deve confundir “revelia” (no sentindo de não ter sido encontrado o réu) com “fuga”. A fuga denota a intenção de se furtar à aplicação da lei penal. O fato de o réu não ter sido encontrado não pode ser compreendido como presunção de que ele tenha fugido. 7) A prisão preventiva não é legítima nos casos em que a sanção abstratamente prevista ou imposta na sentença condenatória recorrível não resulte em constrição pessoal, por força do princípio da homogeneidade. – Tal princípio estabelece que a medida cautelar (e a prisão preventiva é uma medida cautelar de caráter pessoal) não pode ser mais gravosa que a eventual penal cominada ou imposta ao agente. Logo, se a pena cominada ao crime ou imposta na sentença não resultaria em constrição pessoal, não seria admissível a prisão E-BOOK de Jurisprudência do STJ para o concurso da PCERJ (2022) Prof. Renan Araujo 8 preventiva como medida cautelar, eis que seria imposição de medida cautelar mais grave que a própria e eventual futura pena. 8) Os fatos que justificam a prisão preventiva devem ser contemporâneos à decisão que a decreta. – Trata-se do princípio da contemporaneidade. Para se decretar uma prisão preventiva, é necessário demonstrar o risco que a liberdade do imputado representa (periculum libertatis). Essa demonstração deve estar baseada em fatos novos ou contemporâneos, de forma que, a princípio, não é lícita a decretação de prisão preventiva tendo como fundamento fatos ocorridos em lapso temporal muito extenso em relação à decisão. 9) A alusão genérica sobre a gravidade do delito, o clamor público ou a comoção social não constituem fundamentação idônea a autorizar a prisão preventiva. 10) A prisão preventiva pode ser decretada em crimes que envolvam violência doméstica e familiar contra a mulher, criança, adolescente, idoso, enfermo ou pessoa com deficiência, para o fim de garantir a execução das medidas protetivas de urgência. 11) A prisão cautelar deveser fundamentada em elementos concretos que justifiquem, efetivamente, sua necessidade. 12) A prisão cautelar pode ser decretada para garantia da ordem pública potencialmente ofendida, especialmente nos casos de: reiteração delitiva, participação em organizações criminosas, gravidade em concreto da conduta, periculosidade social do agente, ou pelas circunstâncias em que praticado o delito (modus operandi). 13) Não pode o tribunal de segundo grau, em sede de habeas corpus, inovar ou suprir a falta de fundamentação da decisão de prisão preventiva do juízo singular. 14) Inquéritos policiais e processos em andamento, embora não tenham o condão de exasperar a pena-base no momento da dosimetria da pena, são elementos aptos a demonstrar eventual reiteração delitiva, fundamento suficiente para a decretação da prisão preventiva. 15) A segregação cautelar é medida excepcional, mesmo no tocante aos crimes de tráfico de entorpecente e associação para o tráfico, e o decreto de prisão processual exige a especificação de que a custódia atende a pelo menos um dos requisitos do art. 312 do Código de Processo Penal. E-BOOK de Jurisprudência do STJ para o concurso da PCERJ (2022) Prof. Renan Araujo 9 DECISÕES IMPORTANTES 1) Condições pessoais favoráveis do agente (primariedade, bons antecedentes, etc.) não impedem, por si sós, a decretação da prisão preventiva, caso presentes os motivos para tanto: (...) 7. As condições subjetivas favoráveis do paciente, tais como primariedade, bons antecedentes, ocupação lícita e residência fixa, por si sós, não obstam a segregação cautelar, quando presentes os requisitos legais para a decretação da prisão preventiva. (...) (AgRg no HC 707.483/PR, Rel. Ministro REYNALDO SOARES DA FONSECA, QUINTA TURMA, julgado em 07/12/2021, DJe 13/12/2021) 2) Apesar do princípio da contemporaneidade (o motivo que enseja a decretação da prisão preventiva deve ser “recente”), o STJ entende que há possibilidade de mitigação a tal princípio, principalmente em duas situações: § Quando, ainda que mantido período de aparente conformidade com o Direito, a natureza do delito indicar a alta possibilidade de reincidência (ex.: infrator não praticou outros crimes recentemente, mas o crime em tese por ele praticado agora indica alta probabilidade de reiteração futura); § Quando existam indícios de que ainda persistem atos de desdobramento da cadeia delitiva inicial (ou repetição de atos habituais), como no caso de pertencimento a organização criminosa; (...) A regra da contemporaneidade comporta mitigação quando, ainda que mantido período de aparente conformidade com o Direito, a natureza do delito indicar a alta possibilidade de recidiva ou "ante indícios de que ainda persistem atos de desdobramento da cadeia delitiva inicial (ou repetição de atos habituais)", como no caso de pertencimento a organização criminosa (HC n. 496.533/DF, relator Ministro Rogerio Schietti Cruz, Sexta Turma DJe 18/6/2019). 5. Além disso,[a] necessidade de se interromper ou diminuir a atuação de integrantes de organização criminosa enquadra-se no conceito de garantia da ordem pública, constituindo fundamentação cautelar idônea e suficiente para a prisão preventiva (HC n. 371.769/BA, Ministro Reynaldo Soares da Fonseca, Quinta Turma, DJe 15/5/2017). 6. Concretamente demonstrada pelas instâncias ordinárias a necessidade da custódia, não se afigura suficiente a fixação de medidas cautelares alternativas 7. Ordem denegada. E-BOOK de Jurisprudência do STJ para o concurso da PCERJ (2022) Prof. Renan Araujo 10 (HC 668.202/CE, Rel. Ministro SEBASTIÃO REIS JÚNIOR, SEXTA TURMA, julgado em 23/11/2021, DJe 25/11/2021) 3) Atos infracionais pretéritos podem ser valorados como fundamento para decretação da prisão preventiva para a garantia da ordem pública? Sim. O fundamento da garantia da ordem pública reside na necessidade de evitar a reiteração delitiva, e prognose sobre a maior ou menor probabilidade de reiteração passa pela análise do passado do agente. Posto isso, o STJ entende que maus antecedentes, reincidência, atos infracionais pretéritos ou até mesmo outras ações penais ou inquéritos podem ser valorados para fins de justificar a decretação da prisão preventiva para a garantia da ordem pública: (...) Como sedimentado em farta jurisprudência desta Corte, maus antecedentes, reincidência, atos infracionais pretéritos ou até mesmo outras ações penais ou inquéritos em curso justificam a imposição de segregação cautelar como forma de evitar a reiteração delitiva e, assim, garantir a ordem pública. (...) (HC 696.693/MG, Rel. Ministro ANTONIO SALDANHA PALHEIRO, SEXTA TURMA, julgado em 07/12/2021, DJe 13/12/2021) 4) O descumprimento de medida cautelar pode ser utilizado, por si só, como fundamento para a decretação da prisão preventiva? Sim. Entende o STJ que o descumprimento de medida cautelar imposta como condição para a liberdade provisória (ex.: monitoração eletrônica, proibição de frequentar certos lugares, etc.) demonstra, por si só, a adequação da prisão preventiva (embora nem sempre o Juiz vá decretar a prisão preventiva, podendo optar por substituir a medida cautelar diversa da prisão por outra, por exemplo): (...) Ainda que a Lei 13.964/2019 não leve sempre a essa solução (art. 282, § 4º- CPP), a jurisprudência desta Corte Superior firmou-se no sentido de que "o descumprimento de medida cautelar imposta como condição para a liberdade provisória, demonstra, por si só, a adequação da prisão preventiva para conveniência da instrução criminal" (AgRg no HC 550.382/RO, Rel. Ministro RIBEIRO DANTAS, QUINTA TURMA, DJe 13/3/2020). 2. Havendo a indicação de fundamentos concretos para justificar a custódia cautelar, não se revela cabível a aplicação de medidas cautelares alternativas à prisão, visto que insuficientes para resguardar a ordem pública: HC 325.754/RS - 5ª T. - unânime - Rel. Min. LEOPOLDO DE ARRUDA RAPOSO (Desembargador convocado do TJ/PE) - DJe 11/09/2015 e HC n. 313.977/AL - 6ª T. - unânime - Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura - DJe 16/03/2015. 3. Agravo regimental improvido. E-BOOK de Jurisprudência do STJ para o concurso da PCERJ (2022) Prof. Renan Araujo 11 (AgRg no HC 666.368/SP, Rel. Ministro OLINDO MENEZES (DESEMBARGADOR CONVOCADO DO TRF 1ª REGIÃO), SEXTA TURMA, julgado em 24/08/2021, DJe 30/08/2021) 5) O Sistema Prisional Brasileiro se encontra em um estado de coisas inconstitucional, reconhecido pelo Supremo Tribunal Federal no julgamento da ADPF n. 347. A vaga numa unidade carcerária é um bem escasso, que deve ser reservado para casos de extrema necessidade – O STJ vem proferindo diversos julgados no sentido de que a prisão preventiva, até mesmo em respeito ao art. 282, §6º do CPP, é medida cautelar pessoal de natureza extrema, somente devendo ser decretada pelo julgador quando as medidas cautelares diversas da prisão se mostrarem insuficientes, até pela necessidade de se evitar o encarceramento desnecessário, que contribuiria para o agravamento da crise carcerária do país: (...) As medidas cautelares previstas no art. 319 do Código de Processo Penal são espécie do gênero "medidas cautelares pessoais", dentre as quais se inclui também prisão (preventiva), medida cautelar extrema, conforme o art. 282, § 6º, do Código de Processo Penal. A imposição de qualquer restrição cautelar, nos termos do art. 282, I e II, do Código de Processo Penal, demanda a demonstração da presença do fumus comissi delicti e do periculum libertatis, devendo ser aplicada observando-se a necessidade e a adequação da medida. Ou seja, diante da necessidade de acautelamento do processo, cumpre ao juiz modular a restrição adequada, nos limites da necessidade do caso concreto. 3. A Lei n. 12.403/2011 ampliou as possibilidades de acautelamento do processo, não sendo mais possível a imposição automática da prisão preventiva para o jurisdicionado com anotaçõesanteriores. A reincidência, os maus antecedentes e o risco de reiteração, representados por ações penais em curso, inquéritos, registros de prática de atos infracionais, por exemplo, devem ser lidos em contexto com os fatos. 4. O Sistema Prisional Brasileiro se encontra em um estado de coisas inconstitucional, reconhecido pelo Supremo Tribunal Federal no julgamento da ADPF n. 347. A vaga numa unidade carcerária é um bem escasso, que deve ser reservado para casos de extrema necessidade. 5. O histórico da paciente acena para a necessidade de se impor medida de restrição. Entretanto, ao analisar a medida adequada, é preciso cotejar os fatos com as medidas à disposição do juízo e verificar a mais adequada para o caso. A paciente foi presa em flagrante com 0,893 g de maconha. Embora todo o contexto narrado indique sua recalcitrância na comercialização de entorpecentes, sendo desproporcional o seu encarceramento. 6. Ordem concedida, confirmando-se a liminar, para substituir a prisão preventiva imposta à paciente por medidas cautelares a serem implementadas E-BOOK de Jurisprudência do STJ para o concurso da PCERJ (2022) Prof. Renan Araujo 12 pelo Juízo de origem, consistentes em: a) comparecimento mensal em Juízo para informar e justificar suas atividades e b) proibição de ausentar-se da comarca sem autorização judicial, sem prejuízo da aplicação de outras cautelas pelo Juiz do processo ou de decretação da prisão preventiva, em caso de descumprimento de qualquer das obrigações impostas por força das cautelares ou de superveniência de motivos concretos para tanto. (HC 542.113/GO, Rel. Ministro SEBASTIÃO REIS JÚNIOR, SEXTA TURMA, julgado em 05/03/2020, DJe 12/03/2020) 6) O desrespeito ao prazo de 90 dias para reavaliação da necessidade de manutenção da prisão preventiva gera reconhecimento automático da ilegalidade da prisão? Não. O STJ vem decidindo no sentido de que tal prazo não é peremptório, e que eventual atraso na análise não implica reconhecimento automático da ilegalidade da prisão, tampouco liberação automática do preso: (...) Ora, é certo que em respeito ao princípio da dignidade humana, bem como ao da presunção de não culpabilidade, o reexame da presença dos requisitos autorizadores da prisão preventiva deve ser realizado a cada 90 dias, nos termos da novel norma processual. Contudo, não se trata de termo peremptório, isto é, eventual atraso na execução deste ato não implica automático reconhecimento da ilegalidade da prisão, tampouco a imediata colocação do custodiado cautelar em liberdade. (...) (AgRg no RHC 148.120/SP, Rel. Ministro REYNALDO SOARES DA FONSECA, QUINTA TURMA, julgado em 15/06/2021, DJe 21/06/2021) 7) Prisão preventiva e necessidade de reavaliação a cada 90 dias – competência do órgão julgador que proferiu a decisão (Juiz ou Tribunal que decretou inicialmente a preventiva) – O STJ vem reiteradamente decidindo que a revisão de ofício da necessidade de manutenção da prisão preventiva a cada 90 dias cabe APENAS ao órgão emissor da decisão, ou seja, ao juiz ou tribunal que decretou a custódia preventiva: (...) Nos termos do parágrafo único do art. 316 do CPP, a revisão de ofício da necessidade de manutenção da prisão cautelar a cada 90 dias cabe tão somente ao órgão emissor da decisão, ou seja, ao juiz ou tribunal que decretou a custódia preventiva. (...) (AgRg no HC 692.009/MG, Rel. Ministro JOÃO OTÁVIO DE NORONHA, QUINTA TURMA, julgado em 19/10/2021, DJe 25/10/2021) E-BOOK de Jurisprudência do STJ para o concurso da PCERJ (2022) Prof. Renan Araujo 13 8) Prisão preventiva e necessidade de reavaliação a cada 90 dias – processo com sentença condenatória já proferida – O STJ vem reiteradamente decidindo no sentido de que a obrigatoriedade de revisão da necessidade da prisão preventiva a cada 90 dias (art. 316, § único do CPP) somente se aplica até a prolação de sentença condenatória. Uma vez emitido Juízo de culpabilidade em desfavor do acusado (com a prolação da sentença condenatória recorrível), cessa a necessidade de reavaliação periódica da prisão cautelar: (...) Esta eg. Corte Superior, quanto ao art. 316, parágrafo único, do CPP, entende pela obrigatoriedade de revisão do decreto prisional, a cada 90 dias, seja pelo juízo ou pelo Tribunal que decretar a prisão preventiva, dever que se estende até o proferimento de juízo de culpabilidade em desfavor do constrito. (...) (AgRg no RHC 150.457/SP, Rel. Ministro JESUÍNO RISSATO (DESEMBARGADOR CONVOCADO DO TJDFT), QUINTA TURMA, julgado em 26/10/2021, DJe 04/11/2021) No mesmo sentido: (...) A obrigação de revisar, a cada 90 (noventa) dias, a necessidade de se manter a custódia cautelar (art. 316, parágrafo único, do Código de Processo Penal) é imposta apenas ao Juiz ou Tribunal que decretar a prisão preventiva. Com efeito, a Lei nova atribui ao "órgão emissor da decisão" - em referência expressa à decisão que decreta a prisão preventiva - o dever de reavaliá-la. 7. Desse modo, encerrada a instrução criminal e prolatada a sentença condenatória, como ocorreu no caso em apreço, é inaplicável o disposto no art. 316, parágrafo único, do Código de Processo Penal, sem prejuízo de que a impugnação à custódia cautelar - decorrente, a partir daí, da sentença condenatória - continue sendo feita pelas vias ordinárias recursais ou pelo manejo da ação constitucional de habeas corpus. 8. "[...] em uma interpretação sistemática, buscando manter a harmonia entre as duas regras do CPP - parágrafo único do art. 316 e §1º do art. 387 - o dever de reavaliar periodicamente, a cada 90 dias, a necessidade da prisão preventiva cessa com a formação de um juízo de certeza da culpabilidade do réu, declarado na sentença, e ingresso do processo na fase recursal. A partir de então, eventuais inconformismos com a manutenção da prisão preventiva deverão ser arguidos pela defesa nos autos do recurso ou por outra via processual adequada prevista no ordenamento jurídico." (AgRg no HC 601.151/PB, Rel. Ministro REYNALDO SOARES DA FONSECA, QUINTA TURMA, julgado em 17/11/2020, DJe 23/11/2020). (...) (HC 661.055/PE, Rel. Ministra LAURITA VAZ, SEXTA TURMA, julgado em 22/06/2021, DJe 30/06/2021) E-BOOK de Jurisprudência do STJ para o concurso da PCERJ (2022) Prof. Renan Araujo 14 9) Reavaliação periódica da necessidade de manutenção da prisão preventiva: desnecessidade de fundamentação complexa – O STJ vem reiteradamente decidindo no sentido de que, não havendo alterações fáticas, a fundamentação da revisão da prisão preventiva não exige a invocação de elementos novos, razão pela qual, é suficiente que as decisões que mantêm as prisões preventivas contenham fundamentação mais simplificada do que aquela empregada nas decisões que as decretaram: (...) É assente nesta Corte Superior o entendimento no sentido de que, "Mantidas as circunstâncias fáticas, a fundamentação da revisão da prisão preventiva não exige a invocação de elementos novos, razão pela qual, para o cumprimento do disposto no art. 316, parágrafo único, do CPP, é suficiente que as decisões que mantêm as prisões preventivas contenham fundamentação mais simplificada do que aquela empregada nos atos jurisdicionais que as decretaram" (QO no PePrPr n. 4/DF, Corte Especial, Relª. Minª. Nancy Andrighi, DJe de 22/06/2021). (...) (AgRg no RHC 150.457/SP, Rel. Ministro JESUÍNO RISSATO (DESEMBARGADOR CONVOCADO DO TJDFT), QUINTA TURMA, julgado em 26/10/2021, DJe 04/11/2021) 10) Prisão preventiva e condenação pelo Tribunal do Júri – O simples fato de o acusado ter sido condenado pelo Tribunal do Júri a pena igual ou superior a 15 anos autoriza a execução provisória de pena ou imposição de prisão preventiva? Não. Para o STJ, é ilegal a prisão preventiva, ou a execução provisória da pena, como decorrência automática da condenação proferida pelo Tribunal do Júri: 1. Após o julgamento do STF, nas Ações Declaratórias de Constitucionalidade 43, 44 e 54,houve alteração legal no art. 492, I, alínea "e", do CPP, em 24/12/2019 (Lei 13.964, de 24/12/2019), no sentido de que Presidente do Tribunal de Júri, em caso de condenação, "mandará o acusado recolher-se ou recomendá-lo-á à prisão em que se encontra, se presentes os requisitos da prisão preventiva, ou, no caso de condenação a uma pena igual ou superior a 15 (quinze) anos de reclusão, determinará a execução provisória das penas, com expedição do mandado de prisão, se for o caso, sem prejuízo do conhecimento de recursos que vierem a ser interpostos". 2. Sobre esse tema, entretanto, vem decidindo esta Corte que é ilegal a prisão preventiva, ou a execução provisória da pena, como decorrência automática da condenação proferida pelo Tribunal do Júri (HC 538.491/PE, Rel. Ministro SEBASTIÃO REIS JÚNIOR, SEXTA TURMA, julgado em 04/08/2020, DJe 12/08/2020). A letra da Constituição, que não faz acepção de situações jurídicas (art.5º, LVII), deve estender-se às decisões do Júri. E-BOOK de Jurisprudência do STJ para o concurso da PCERJ (2022) Prof. Renan Araujo 15 3. Agravo regimental improvido. (AgRg no TP 2.998/RS, Rel. Ministro OLINDO MENEZES (DESEMBARGADOR CONVOCADO DO TRF 1ª REGIÃO), SEXTA TURMA, julgado em 21/09/2021, DJe 27/09/2021) PRISÃO CAUTELAR – TÓPICOS DIVERSOS 1) A eventual nulidade da prisão temporária fica superada com a decretação da prisão preventiva – Entende o STJ que eventual nulidade relativa à prisão temporária não conduz à colocação em liberdade do imputado se já foi decretada a prisão preventiva posteriormente (pois o imputado, agora, estará preso por outro “título”, de forma que eventual nulidade da prisão anterior não mancha a nova prisão cautelar decretada): (...)O Superior Tribunal de Justiça é firme em assinalar que "a superveniente decretação da prisão preventiva torna superada a alegação de nulidade da prisão temporária" (RHC 54.876/SP, Rel. Ministro Gurgel de Faria, 5ª T., DJe 1º/9/2015). (...) (AgRg no HC 629.879/SP, Rel. Ministro ROGERIO SCHIETTI CRUZ, SEXTA TURMA, julgado em 22/06/2021, DJe 28/06/2021) 2) Prisão domiciliar para gestantes, puérperas ou mulheres que são mães ou responsáveis por crianças ou pessoas com deficiência – Presunção de necessidade da substituição da prisão preventiva pela prisão domiciliar – A negativa de prisão domiciliar nesses casos somente poderia se dar em caso de crimes praticados por elas mediante violência ou grave ameaça, contra seus descendentes ou, ainda, em situações excepcionalíssimas, devidamente indicadas pelos juízes que denegarem o beneficio. O STJ, seguindo precedente do STF, entendeu possível ainda flexibilização da própria prisão domiciliar, de forma a permitir que se dê apenas no período noturno (assemelhando-se ao recolhimento domiciliar noturno), para permitir o trabalho no período diurno e evitar a reiteração delitiva: (...) 2. O regime jurídico da prisão domiciliar, especialmente no que pertine à proteção da integridade física e emocional da gestante e dos filhos menores de 12 anos, e as inovações trazidas pela Lei n. 13.769/2018 decorrem, indiscutivelmente, do resgate constitucional do princípio da fraternidade (Constituição Federal: preâmbulo e art.3º). 3. Os artigos 318, 318-A e B do Código de Processo Penal (que permitem a prisão domiciliar da mulher gestante ou mãe de filhos com até 12 anos incompletos, dentre outras hipóteses) foram instituídos para adequar a legislação brasileira a um compromisso assumido internacionalmente pelo Brasil nas Regras de Bangkok. "Todas essas circunstâncias devem constituir E-BOOK de Jurisprudência do STJ para o concurso da PCERJ (2022) Prof. Renan Araujo 16 objeto de adequada ponderação, em ordem a que a adoção da medida excepcional da prisão domiciliar efetivamente satisfaça o princípio da proporcionalidade e respeite o interesse maior da criança. Esses vetores, por isso mesmo, hão de orientar o magistrado na concessão da prisão domiciliar" (STF, HC n. 134.734/SP, relator Ministro CELSO DE MELO). 4. Aliás, em uma guinada jurisprudencial, o Supremo Tribunal Federal passou a admitir até mesmo o Habeas Corpus coletivo (Lei n. 13.300/2016) e concedeu comando geral para fins de cumprimento do art. 318, V, do Código de Processo Penal, em sua redação atual. No ponto, a orientação da Suprema Corte, no Habeas Corpus n. 143.641/SP, da relatoria do Ministro RICARDO LEWANDOWSKI, julgado em 20/2/2018, é no sentido de substituição da prisão preventiva pela domiciliar de todas as mulheres presas, gestantes, puérperas ou mães de crianças e deficientes, nos termos do art. 2º do ECA e da Convenção sobre Direitos das Pessoas com Deficiências (Decreto Legislativo 186/2008 e Lei 13.146/2015), salvo as seguintes situações: crimes praticados por elas mediante violência ou grave ameaça, contra seus descendentes ou, ainda, em situações excepcionalíssimas, as quais deverão ser devidamente fundamentadas pelos juízes que denegarem o beneficio. (...) 7. Flexibilização das regras da prisão domiciliar. Possibilidade e necessidade. Invoca-se, ainda, precedente do Ministro Ricardo Lewandowiski (HC n. 170.825, julgado em 9/9/2019), para dar interpretação conforme ao regime da prisão domiciliar e estabelecer a possibilidade de flexibilização dos seus termos, a fim de permitir que a mulher beneficiada, única responsável pelas crianças menores de 12 (doze) anos, tenha condições de cuidar da casa, dos filhos e de trabalhar, ainda que informalmente, para o sustento da prole, evitando, assim, a reiteração delitiva no ambiente doméstico. 8. Ponderando-se os interesses envolvidos no caso concreto, uma vez preenchidos os requisitos objetivos insculpidos nos art. 318, V, 318-A e B do Código de Processo Penal, é legítima a concessão da prisão domiciliar, que deve ser flexível, e compreenderá: (i) recolhimento domiciliar de 22 horas às 6 horas do dia seguinte; (ii) comparecimento em juízo, quando solicitado; e (iii) não alteração do seu endereço sem prévia comunicação ao juízo; sem prejuízo da fixação de outras cautelares, a critério e sob acompanhamento do Juízo de primeiro grau. 9. Adequação legal, reforçada pela necessidade de preservação da integridade física e emocional dos infantes. Precedentes do STF e do STJ. 10. Agravo regimental conhecido e não provido. (AgRg no HC 669.834/SP, Rel. Ministro REYNALDO SOARES DA FONSECA, QUINTA TURMA, julgado em 07/12/2021, DJe 13/12/2021) E-BOOK de Jurisprudência do STJ para o concurso da PCERJ (2022) Prof. Renan Araujo 17 3) Prisão cautelar: possibilidade de utilização de fundamentação “per relationem” – A decisão que decreta prisão cautelar deve ser devidamente fundamentada, como toda e qualquer decisão judicial. Porém, isso não impede que o magistrado se valha da chamada “fundamentação per relationem”, quando utiliza trechos de decisões pretéritas ou parecer ministerial como razões para sua decisão, desde que a matéria tenha sido abordada pelo próprio julgador, com menção a argumentos próprios. Ou seja, não pode o julgador se limitar a utilizar a fundamentação per relationem, embora possa utilizá-la para endossar os argumentos que ele próprio utilizou: (...) É entendimento deste Tribunal a validade da "utilização da técnica da fundamentação per relationem, em que o magistrado se utiliza de trechos de decisão anterior ou de parecer ministerial como razão de decidir, desde que a matéria haja sido abordada pelo órgão julgador, com a menção a argumentos próprios" (RHC n. 94.488/PA, relator Ministro ROGERIO SCHIETTI CRUZ, SEXTA TURMA, julgado em 19/4/2018, DJe 2/5/2018), exatamente como na espécie, não havendo que falar em nulidade da decisão agravada. (...) (AgRg no RHC 149.020/MG, Rel. Ministro OLINDO MENEZES (DESEMBARGADOR CONVOCADO DO TRF 1ª REGIÃO), SEXTA TURMA, julgado em 23/11/2021, DJe 29/11/2021) 4) A pandemia de COVID-19 ou o fato de o acusado fazer parte do grupo de risco relativo à COVID-19 não autoriza, por si só, aconcessão de liberdade ou deferimento de prisão domiciliar, devendo ser analisadas as peculiaridades do caso: (...) O fato de o Acusado constar em grupo de risco não autoriza, por si só e automaticamente, a concessão da liberdade ou o deferimento de prisão domiciliar, porquanto a Recomendação n. 62/2020 do Conselho Nacional de Justiça não serve como salvo conduto indiscriminado, devendo ser analisada a situação dos reclusos no sistema carcerário caso a caso, conforme foi realizado na espécie. (...) (AgRg no HC 637.287/MS, Rel. Ministra LAURITA VAZ, SEXTA TURMA, julgado em 14/12/2021, DJe 17/12/2021) 5) Prisão domiciliar e pessoa debilitada por motivo de doença grave – O STJ vem decidindo que é lícito ao Juiz indeferir a substituição da prisão preventiva pela prisão domiciliar de acusado que esteja extremamente debilitado por motivo de doença grave, quando for possível o tratamento no próprio estabelecimento prisional, o que denotaria a desnecessidade da medida humanitária (substituição pela prisão domiciliar): (...) A negativa de concessão de prisão domiciliar está amparada no entendimento desta Corte Superior, no sentido de que, à luz do disposto no art. E-BOOK de Jurisprudência do STJ para o concurso da PCERJ (2022) Prof. Renan Araujo 18 318, inciso II, do Código de Processo Penal, o Acusado deve comprovar que se encontra extremamente debilitado por motivo de grave estado de saúde e a impossibilidade de receber tratamento no estabelecimento prisional, o que não ocorreu no caso, porquanto os documentos juntados aos autos, em que pese demonstrarem que o Paciente possui enfermidades, evidenciam que ele está recebendo o devido acompanhamento e tratamento médico na unidade prisional. 4. Agravo regimental desprovido. (AgRg no HC 700.022/RJ, Rel. Ministra LAURITA VAZ, SEXTA TURMA, julgado em 26/10/2021, DJe 04/11/2021) PROVAS JURISPRUDÊNCIA EM TESES – EDIÇÃO 105 1) As provas inicialmente produzidas na esfera inquisitorial e reexaminadas na instrução criminal, com observância do contraditório e da ampla defesa, não violam o art. 155 do Código de Processo Penal - CPP visto que eventuais irregularidades ocorridas no inquérito policial não contaminam a ação penal dele decorrente. 2) Perícias e documentos produzidos na fase inquisitorial são revestidos de eficácia probatória sem a necessidade de serem repetidos no curso da ação penal por se sujeitarem ao contraditório diferido. 3) A decisão que determina a produção antecipada de provas com base no art. 366 do CPP deve ser concretamente fundamentada, não a justificando unicamente o mero decurso do tempo. (Súmula n. 455/STJ) – No caso de suspensão do processo em razão de o réu ter sido citado por edital e não ter se defendido, o Juiz está autorizado a determinar a produção antecipada de provas, desde que de maneira fundamentada (ex.: alguma testemunha importante está debilitada e há risco de óbito), de forma que a mera alegação de que o decurso do tempo traria prejuízos à instrução não é fundamento idôneo (ex.: o Juiz não pode alegar que irá realizar a oitiva antecipada de todas as testemunhas só porque o passar dos anos pode prejudicar as lembranças do ocorrido). 4) A propositura da ação penal exige tão somente a presença de indícios mínimos de materialidade e de autoria, de modo que a certeza deverá ser comprovada durante a instrução probatória, prevalecendo o princípio do in dubio pro societate na fase de oferecimento da denúncia. E-BOOK de Jurisprudência do STJ para o concurso da PCERJ (2022) Prof. Renan Araujo 19 5) A incidência da qualificadora rompimento de obstáculo, prevista no art. 155, § 4º, I, do Código Penal, está condicionada à comprovação por laudo pericial, salvo em caso de desaparecimento dos vestígios, quando a prova testemunhal, a confissão do acusado ou o exame indireto poderão lhe suprir a falta. 6) É válido e revestido de eficácia probatória o testemunho prestado por policiais envolvidos em ação investigativa ou responsáveis por prisão em flagrante, quando estiver em harmonia com as demais provas dos autos e for colhido sob o crivo do contraditório e da ampla defesa. 7) O reconhecimento fotográfico do réu, quando ratificado em juízo, sob a garantia do contraditório e ampla defesa, pode servir como meio idôneo de prova para fundamentar a condenação. – Tese superada. O STJ, posteriormente, proferiu diversas decisões entendendo que o reconhecimento fotográfico não pode servir de base à condenação, devendo ser compreendido como medida meramente preliminar. 8) A folha de antecedentes criminais é documento hábil e suficiente a comprovar os maus antecedentes e a reincidência, não sendo necessária a apresentação de certidão cartorária. 9) Para efeitos penais, o reconhecimento da menoridade do réu requer prova por documento hábil. (Súmula n. 74/STJ) 10) O registro audiovisual de depoimentos colhidos no âmbito do processo penal dispensa sua degravação ou transcrição, em prol dos princípios da razoável duração do processo e da celeridade processual, salvo comprovada demonstração de necessidade. JURISPRUDÊNCIA EM TESES – EDIÇÃO 111 1) É possível o arrolamento de testemunhas pelo assistente de acusação (art. 271 do Código de Processo Penal), desde que respeitado o limite de 5 (cinco) pessoas previsto no art. 422 do CPP. 2) O réu não tem direito subjetivo de acompanhar, por sistema de videoconferência, audiência de inquirição de testemunhas realizada, presencialmente, perante o Juízo natural da causa, por ausência de previsão legal, regulamentar e principiológica. 3) Em delitos sexuais, comumente praticados às ocultas, a palavra da vítima possui especial relevância, desde que esteja em consonância com as demais provas acostadas aos autos. E-BOOK de Jurisprudência do STJ para o concurso da PCERJ (2022) Prof. Renan Araujo 20 4) Nos delitos praticados em ambiente doméstico e familiar, geralmente praticados à clandestinidade, sem a presença de testemunhas, a palavra da vítima possui especial relevância, notadamente quando corroborada por outros elementos probatórios acostados aos autos. 5) É possível a antecipação da colheita da prova testemunhal, com base no art. 366 do CPP, nas hipóteses em que as testemunhas são policiais, tendo em vista a relevante probabilidade de esvaziamento da prova pela natureza da atuação profissional, marcada pelo contato diário com fatos criminosos. – De forma complementar à tese nº 03 da edição 105 da jurisprudência em teses, o STJ firmou entendimento no sentido de que a natureza da profissão da testemunha (policial) é fundamento idôneo para a determinação da produção antecipada de provas, eis que os policiais mais facilmente se esquecem dos casos, eis que lidam diariamente com fatos criminosos. 6) Não há cerceamento de defesa quando a decisão que indefere oitiva de testemunhas residentes em outro país for devidamente fundamentada. – Tese que deriva da interpretação do art. 222-A do CPP, que estabelece que “as cartas rogatórias só serão expedidas se demonstrada previamente a sua imprescindibilidade, arcando a parte requerente com os custos de envio”. Obviamente esta tese é inaplicável ao interrogatório do réu, vez que é direito subjetivo do acusado, como materialização da autodefesa. 7) É ilícita a prova colhida mediante acesso aos dados armazenados no aparelho celular, relativos a mensagens de texto, SMS, conversas por meio de aplicativos (WhatsApp), e obtida diretamente pela polícia, sem prévia autorização judicial. – Frise-se que se a apreensão do aparelho decorreu do cumprimento de mandado de busca e apreensão, o acesso ao conteúdo das mensagens pela autoridade policial será válido. 8) É desnecessária a realização de perícia para a identificação de voz captada nas interceptações telefônicas, salvo quando houver dúvida plausível que justifique a medida. 9) É necessária a realização do exame de corpode delito para comprovação da materialidade do crime quando a conduta deixar vestígios, entretanto, o laudo pericial será substituído por outros elementos de prova na hipótese em que as evidências tenham desaparecido ou que o lugar se tenha tornado impróprio ou, ainda, quando as circunstâncias do crime não permitirem a análise técnica. 10) O laudo toxicológico definitivo é imprescindível para a configuração do crime de tráfico ilícito de entorpecentes, sob pena de se ter por incerta a materialidade do delito e, por E-BOOK de Jurisprudência do STJ para o concurso da PCERJ (2022) Prof. Renan Araujo 21 conseguinte, ensejar a absolvição do acusado. – Esta tese pode ser compreendida como parcialmente superada. Embora o STJ entenda pela, a princípio, necessária realização do laudo toxicológico definitivo, há decisões mitigando tal indispensabilidade (inclusive a própria tese nº 11, que veremos adiante), sustentando que em casos excepcionalíssimos, é possível a condenação por crime de tráfico de drogas mesmo sem a juntada do laudo toxicológico definitivo aos autos, quando houver meios robustos de prova que evidenciem a materialidade do delito de tráfico de drogas (AgRg no AREsp 1900493/MG, Rel. Ministro ROGERIO SCHIETTI CRUZ, SEXTA TURMA, julgado em 16/11/2021, DJe 22/11/2021). 11) É possível, em situações excepcionais, a comprovação da materialidade do crime de tráfico de drogas pelo laudo de constatação provisório, desde que esteja dotado de certeza idêntica à do laudo definitivo e que tenha sido elaborado por perito oficial, em procedimento e com conclusões equivalentes. 12) É prescindível a apreensão e a perícia de arma de fogo para a caracterização de causa de aumento de pena prevista no art. 157, § 2º-A, I, do Código Penal, quando evidenciado o seu emprego por outros meios de prova. – Aqui há de se ter muito cuidado para não haver confusão. Para que seja reconhecida a majorante do emprego de arma de fogo é desnecessária a apreensão e perícia da arma. TODAVIA, se a defesa alega que a arma estava inapta para disparar, desmuniciada ou que era arma de brinquedo (simulacro de arma de fogo), cabe à defesa apresentar o material em Juízo para perícia. DECISÕES IMPORTANTES 1) O reconhecimento fotográfico, conquanto seja admitido, não pode ser utilizado como prova em processo penal, devendo ser visto como etapa antecedente a eventual reconhecimento pessoal e, portanto, não pode servir como prova em ação penal, ainda que confirmado em juízo: “(...) 1. A Sexta Turma desta Corte Superior de Justiça, por ocasião do julgamento do HC n. 598.886/SC (Rel. Ministro Rogerio Schietti Cruz), realizado em 27/10/2020, propôs nova interpretação do art. 226 do CPP, segundo a qual a inobservância do procedimento descrito no mencionado dispositivo legal torna inválido o reconhecimento da pessoa suspeita e não poderá servir de lastro a eventual condenação, mesmo se confirmado o reconhecimento em juízo. Confiram-se, a propósito, as conclusões apresentadas por ocasião do mencionado julgamento (HC n. 598.886/SC): (i) O reconhecimento de pessoas deve observar o procedimento previsto no art. 226 do Código de Processo Penal, cujas formalidades constituem garantia mínima para quem se encontra na condição de suspeito da prática de um crime; (ii) À vista dos efeitos e dos riscos de um E-BOOK de Jurisprudência do STJ para o concurso da PCERJ (2022) Prof. Renan Araujo 22 reconhecimento falho, a inobservância do procedimento descrito na referida norma processual torna inválido o reconhecimento da pessoa suspeita e não poderá servir de lastro a eventual condenação, mesmo se confirmado o reconhecimento em juízo; (ii) Pode o magistrado realizar, em juízo, o ato de reconhecimento formal, desde que observado o devido procedimento probatório, bem como pode ele se convencer da autoria delitiva a partir do exame de outras provas que não guardem relação de causa e efeito com o ato viciado de reconhecimento; (iv) O reconhecimento do suspeito por mera exibição de fotografia(s) ao reconhecedor, a par de dever seguir o mesmo procedimento do reconhecimento pessoal, há de ser visto como etapa antecedente a eventual reconhecimento pessoal e, portanto, não pode servir como prova em ação penal, ainda que confirmado em juízo. (...) (AgRg no REsp 1954785/RS, Rel. Ministro REYNALDO SOARES DA FONSECA, QUINTA TURMA, julgado em 28/09/2021, DJe 04/10/2021) 2) O STJ firmou entendimento no sentido de que o reconhecimento da menoridade do réu exige prova por documento hábil, o que não se restringe à certidão de nascimento, podendo ser utilizados outros documentos: (...) A jurisprudência desta Corte Superior consolidou-se na compreensão de que "para efeitos penais, o reconhecimento da menoridade do réu requer prova por documento hábil" (Súmula 74/STJ), que não se restringe à certidão de nascimento, sendo outros documentos dotados de fé pública igualmente hábeis para a comprovação da idade. Precedentes. 4. Agravo regimental não provido. (AgRg no HC 646.116/MG, Rel. Ministro OLINDO MENEZES (DESEMBARGADOR CONVOCADO DO TRF 1ª REGIÃO), SEXTA TURMA, julgado em 17/08/2021, DJe 20/08/2021) 3) O STJ decidiu que é válida a realização de audiência de instrução e julgamento por videoconferência em caso de réu solto, por conta da necessidade de distanciamento social decorrente da pandemia de COVID-19: (...) Embora o Réu esteja respondendo ao processo-crime em liberdade, a realização da audiência de instrução e julgamento por videoconferência está justificada pelo necessário distanciamento social como medida para o combate e a prevenção de infecção do novo coronavírus. Precedentes. (...) (AgRg no HC 687.222/SC, Rel. Ministra LAURITA VAZ, SEXTA TURMA, julgado em 05/10/2021, DJe 11/10/2021) E-BOOK de Jurisprudência do STJ para o concurso da PCERJ (2022) Prof. Renan Araujo 23 4) O STJ firmou entendimento no sentido de que a realização do interrogatório do réu por carta precatória não viola o princípio da identidade física do Juiz – O princípio da identidade física do Juiz estabelece que o Juiz que presidir a instrução deverá proferir sentença (salvo em casos excepcionais, como no caso de licença, aposentadoria, etc.). Assim, o STJ entende que mesmo que o réu seja interrogado pelo Juízo deprecado (que apenas cumpriu a carta) e sentenciado pelo Juízo deprecante (aquele perante o qual tramita o processo) isso não representa violação ao princípio da identidade física do Juiz: (...) A Terceira Seção deste Tribunal Superior firmou entendimento de que o interrogatório do réu por meio de carta precatória não viola o princípio da identidade física do juiz. (...) (…) (AgRg no AREsp 746.463/SP, Rel. Ministro RIBEIRO DANTAS, QUINTA TURMA, julgado em 22/06/2021, DJe 29/06/2021) No mesmo sentido: (...) O interrogatório do réu por meio de carta precatória não ofende o postulado da identidade física do juiz, sob pena de se criar entraves à jurisdição favorecendo aqueles que pretendem se furtar a aplicação da Lei (CC 99.023/PR, Rel. Ministro NAPOLEÃO NUNES MAIA FILHO, TERCEIRA SEÇÃO, DJe 28/8/2009). (...) (AgRg no HC 541.871/SP, Rel. Ministro ANTONIO SALDANHA PALHEIRO, SEXTA TURMA, julgado em 17/08/2021, DJe 24/08/2021) 5) O STJ entende que é válida a determinação da retirada do réu da sala de audiências, quando sua presença puder causar temor, humilhação ou constrangimento a qualquer declarante (vítima, testemunha, etc.), desde que seja justificada a impossibilidade de realização do ato por videoconferência: (...) 7. O art. 217 do Código de Processo Penal admite a retirada do réu da sala de audiência quando qualquer declarante se sentir atemorizado, humilhado ou constrangido com a sua presença, sem que se possa falar em nulidade do ato processual. O acórdão combatido alinha-se ao entendimento desta Corte Superior, porquanto as testemunhas "manifestaram receio em prestar depoimento na presença dos sentenciados"tendo constado ainda justificativa sobre a impossibilidade de realização por videoconferência. (…) (AgRg no AREsp 746.463/SP, Rel. Ministro RIBEIRO DANTAS, QUINTA TURMA, julgado em 22/06/2021, DJe 29/06/2021) E-BOOK de Jurisprudência do STJ para o concurso da PCERJ (2022) Prof. Renan Araujo 24 No mesmo sentido: (...) Inexiste cerceamento de defesa na hipótese em que, sendo inviável a oitiva do acusado por videoconferência, o Juiz, fundamentadamente, determina a retirada do réu da sala de audiência por verificar que sua presença causa temor e constrangimento à testemunha ou ao ofendido. (...) (AgRg no AgRg no AREsp 1665658/DF, Rel. Ministro JOEL ILAN PACIORNIK, QUINTA TURMA, julgado em 24/11/2020, DJe 27/11/2020) 6) O STJ firmou entendimento no sentido de que, embora possa haver inversão eventual da ordem de oitiva das testemunhas, em razão da expedição de carta precatória (ouvir as testemunhas de defesa antes que alguma testemunha de acusação tenha sido ouvida por carta precatória), isso não autoriza a realização do interrogatório antes da oitiva de qualquer testemunha, pois o interrogatório do réu sempre deve ser o último ato da instrução, de maneira que deve ser aguardado o retorno da carta para que seja realizado o interrogatório do acusado: (...) A Terceira Seção desta Corte Superior, no julgamento do HC-585.942, em 9/12/2020, decidiu que o interrogatório do imputado deve ser o último ato de instrução, em consonância com os princípios do contraditório e da ampla defesa, e com a jurisprudência consolidada na Suprema Corte. 2. Nessa perspectiva, deve prevalecer o entendimento de que ao dispor que a expedição da precatória não suspenderá a instrução criminal, § 1º do art. 222 do CPP não autoriza a realização de interrogatório do em momento diverso do disposto no art. 400 do CPP, é dizer, ao final da instrução. A defesa impugnou a inversão da ordem do interrogatório a tempo e modo, o que afasta a preclusão. (...) (AgRg no HC 686.418/SC, Rel. Ministro OLINDO MENEZES (DESEMBARGADOR CONVOCADO DO TRF 1ª REGIÃO), SEXTA TURMA, julgado em 07/12/2021, DJe 13/12/2021) 7) O STJ firmou entendimento no sentido de que, nos crimes sexuais e também naqueles praticados no contexto de violência doméstica e familiar, a palavra da vítima ganha especial relevância, na medida em que esses crimes geralmente são praticados às escondidas, sem testemunhas: 3. Nos crimes sexuais, a palavra da vítima possui especial relevo, tendo em vista sobretudo o modus operandi empregado na prática desses delitos, cometidos, via de regra, às escondidas. Precedentes. 4. Agravo improvido. E-BOOK de Jurisprudência do STJ para o concurso da PCERJ (2022) Prof. Renan Araujo 25 (AgRg no AREsp 1869638/MS, Rel. Ministro OLINDO MENEZES (DESEMBARGADOR CONVOCADO DO TRF 1ª REGIÃO), SEXTA TURMA, julgado em 19/10/2021, DJe 22/10/2021) 1. O STJ reconhece a relevância da palavra da vítima no tocante aos crimes decorrentes de violência doméstica, em vista da circunstância de essas condutas serem praticadas, na maioria das vezes, na clandestinidade. Precedente. Incidência da Súmula n. 83 do STJ. (...) (AgRg no AREsp 1925598/TO, Rel. Ministro ROGERIO SCHIETTI CRUZ, SEXTA TURMA, julgado em 26/10/2021, DJe 04/11/2021) 8) O STJ firmou entendimento no sentido de que é válida a determinação da produção antecipada de provas consistente na oitiva de policiais, eis que a natureza da profissão conduz a um esquecimento mais fácil dos eventos criminosos presenciados: (...) No caso, a produção antecipada de prova oral foi determinada nos termos da jurisprudência deste Superior Tribunal de Justiça, no sentido da "necessidade da oitiva antecipada das testemunhas, que são agentes policiais, tendo em vista a possibilidade de as provas se fragilizarem com o esquecimento dos fatos pela própria natureza do ofício de quem atua diariamente no combate à criminalidade." (RHC 97.893/RR, Rel. Ministro ANTONIO SALDANHA PALHEIRO, SEXTA TURMA, julgado em 17/12/2019, DJe 19/12/2019.) 3. Tal fundamento é válido, apto a determinar a antecipação de provas, sem qualquer ofensa à Súmula n. 455 desta Corte, primeira parte ([a] decisão que determina a produção antecipada de provas com base no artigo 366 do CPP deve ser concretamente fundamentada [...]). 4. Recurso ordinário em habeas corpus desprovido. (RHC 128.325/SP, Rel. Ministra LAURITA VAZ, SEXTA TURMA, julgado em 08/09/2020, DJe 22/09/2020) 9) Em casos excepcionais, é possível a condenação do acusado pelo crime de tráfico de drogas sem o laudo toxicológico definitivo (somente com o laudo provisório), quando o laudo provisório for capaz de indicar com certeza a materialidade delitiva: (...) A Terceira Seção deste Superior Tribunal possui o entendimento de que, somente em casos excepcionalíssimos, é possível a condenação por crime de tráfico de drogas mesmo sem a juntada do laudo toxicológico definitivo aos autos (EREsp n. 1.544.057/RJ. Rel. Ministro Reynaldo Soares da Fonseca, 3ª S., DJe 9/11/2016). E-BOOK de Jurisprudência do STJ para o concurso da PCERJ (2022) Prof. Renan Araujo 26 2. Embora ainda não tenha havido a juntada aos autos do laudo toxicológico definitivo, há meios robustos de prova que evidenciam a materialidade do delito de tráfico de drogas. Isso porque, embora o laudo de constatação haja sido elaborado ainda na fase inquisitiva, conteve todas as informações necessárias à comprovação, com segurança, de que as substâncias apreendidas com o acusado se tratavam de cocaína e crack. (...) (AgRg no AREsp 1900493/MG, Rel. Ministro ROGERIO SCHIETTI CRUZ, SEXTA TURMA, julgado em 16/11/2021, DJe 22/11/2021) 10) O STJ possui entendimento no sentido de que se a defesa alega a ausência de potencial lesivo da arma, cabe a ela a juntada aos autos para a realização de perícia: (...) Pedido de exclusão da causa de aumento de pena prevista no inciso I do § 2°-A do Código Penal. A jurisprudência desta Corte é assente no sentido de que a utilização de arma desmuniciada, como forma de intimidar a vítima do delito de roubo, caracteriza o emprego de violência, porém não permite o reconhecimento da majorante de pena, uma vez que está vinculada ao potencial lesivo do instrumento, dada a sua ineficácia para a realização de disparos. Todavia, "se o acusado sustentar a ausência de potencial lesivo da arma empregada para intimidar a vítima, será dele o ônus de produzir tal prova, nos termos do art. 156 do Código de Processo Penal." (HC n. 96.099/RS, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, Tribunal Pleno, DJe de 05/06/2009). Na espécie, caberia ao paciente demonstrar que a arma era desprovida de potencial lesivo, o que não ocorreu na situação narrada na inicial (EREsp n. 961.863/RS, Terceira Seção, Rel. Min. Celso Limongi (Desembargador convocado do TJ/SP), Rel. p/ Acórdão Min. Gilson Dipp, DJe de 6/4/2011). (…) (AgRg no HC 665.770/GO, Rel. Ministro JESUÍNO RISSATO (DESEMBARGADOR CONVOCADO DO TJDFT), QUINTA TURMA, julgado em 14/09/2021, DJe 24/09/2021) 11) O STJ firmou entendimento no sentido de que a simples apreensão de aparelho celular por conta de prisão em flagrante não autoriza o acesso ao conteúdo das mensagens nele contidas, que dependerá de autorização judicial ou do consentimento do proprietário do aparelho: (...) Os dados constantes de aparelho celular obtidos por órgão investigativo ? mensagens e conversas por meio de programas ou aplicativos (WhatsApp) ? somente são admitidos como prova lícita no processo penal quando há precedente mandado de busca e apreensão E-BOOK de Jurisprudência do STJ para o concurso da PCERJ (2022) Prof. Renan Araujo 27 expedido por juiz competente ou quando há autorização voluntária de interlocutor da conversa. 4. Não há nulidade na prova da participação delitiva do agente que se dá por troca de mensagens com o corréu tendo o acesso sido autorizado tanto pela autoridade judicial quanto pelo proprietário do aparelho.5. A verificação da existência de indícios de autoria e materialidade delitiva demanda reexame de fatos e provas, procedimento incompatível com a estreita via do habeas corpus. 6. Agravo regimental desprovido. (AgRg no HC 646.771/PR, Rel. Ministro JOÃO OTÁVIO DE NORONHA, QUINTA TURMA, julgado em 10/08/2021, DJe 13/08/2021) 12) O STJ firmou entendimento no sentido de que a agenda telefônica, ou seja, o registro dos contatos do proprietário do aparelho celular não está abrangida pela garantia do sigilo de dados telefônicos, eis que é mera facilitação tecnológica (é uma simples caderneta de contatos, só que virtual), de forma que o acesso a estes dados não depende de autorização judicial: (...) No caso, como autorizado pelo Código de Processo Penal ? CPP foi apreendido o telefone celular de um acusado e analisados os dados constantes da sua agenda telefônica, a qual não tem a garantia de proteção do sigilo telefônico ou de dados telemáticos, pois a agenda é uma das facilidades oferecidas pelos modernos aparelhos de smartphones a seus usuários. 5. Assim, deve ser reconhecida como válida a prova produzida com o acesso à agenda telefônica do recorrido, com o restabelecimento da sentença condenatória, determinando-se que a Corte a quo continue a apreciar a apelação. 6. Recurso especial provido. (REsp 1782386/RJ, Rel. Ministro JOEL ILAN PACIORNIK, QUINTA TURMA, julgado em 15/12/2020, DJe 18/12/2020) 12) O STJ firmou entendimento no sentido de que, embora retratável a confissão, o Juiz poderá, cotejando-a com os demais elementos dos autos, considerá-la para fins de condenação, pelo princípio do livre convencimento motivado. Nesse caso, mesmo tendo havido retratação, caso utilizada pelo Juiz a confissão como elemento de convicção para a condenação, fará jus o réu à atenuante genérica do art. 65, III, “d” do CP: (...) A confissão do Agravante de que exercia a traficância, efetivada na fase policial, foi utilizada para fundamentar a condenação. Portanto, ainda que tenha sido retratada em juízo, faz ele jus à atenuante da confissão espontânea, a qual deve ser integralmente compensada com a E-BOOK de Jurisprudência do STJ para o concurso da PCERJ (2022) Prof. Renan Araujo 28 agravante da reincidência, nos termos da reiterada jurisprudência desta Corte Superior. (...) (AgRg no AREsp 1795241/SP, Rel. Ministra LAURITA VAZ, SEXTA TURMA, julgado em 06/04/2021, DJe 15/04/2021) JUIZADOS ESPECIAIS CRIMINAIS JURISPRUDÊNCIA EM TESES – EDIÇÃO 93 1) Compete aos Tribunais de Justiça ou aos Tribunais Regionais Federais o julgamento dos pedidos de habeas corpus quando a autoridade coatora for Turma Recursal dos Juizados Especiais. 2) A aceitação pelo paciente do benefício da suspensão condicional do processo, nos termos do art. 89 da Lei n. 9.099/95, não inviabiliza a impetração de habeas corpus nem prejudica seu exame, tendo em vista a possibilidade de se retomar o curso da ação penal caso as condições impostas sejam descumpridas. 3) No âmbito dos Juizados Especiais Criminais, não se exige a intimação pessoal do defensor público, admitindo-se a intimação na sessão de julgamento ou pela imprensa oficial. 4) Não há óbice a que se estabeleçam, no prudente uso da faculdade judicial disposta no art. 89, § 2º, da Lei n. 9.099/1995, obrigações equivalentes, do ponto de vista prático, a sanções penais (tais como a prestação de serviços comunitários ou a prestação pecuniária), mas que, para os fins do sursis processual, se apresentam tão somente como condições para sua incidência. (Tese julgada sob o rito do art. 543-C do CPC/73 TEMA 930) 5) A perda do valor da fiança constitui legítima condição do sursis processual, nos termos do art. 89, § 2º, da Lei n. 9.099/95. 6) A suspensão condicional do processo e a transação penal não se aplicam na hipótese de delitos sujeitos ao rito da Lei Maria da Penha. (Súmula n. 536/STJ) 7) A transação penal não tem natureza jurídica de condenação criminal, não gera efeitos para fins de reincidência e maus antecedentes e, por se tratar de submissão voluntária à sanção penal, não significa reconhecimento da culpabilidade penal nem da responsabilidade civil. E-BOOK de Jurisprudência do STJ para o concurso da PCERJ (2022) Prof. Renan Araujo 29 8) A homologação da transação penal prevista no artigo 76 da Lei n. 9.099/1995 não faz coisa julgada material e, descumpridas suas cláusulas, retoma-se a situação anterior, possibilitando-se ao Ministério Público a continuidade da persecução penal mediante oferecimento de denúncia ou requisição de inquérito policial. (Súmula Vinculante n. 35/STF) 9) O prazo de 5 (cinco) anos para a concessão de nova transação penal, previsto no art. 76, § 2º, inciso II, da Lei n. 9.099/95, aplica-se, por analogia, à suspensão condicional do processo. 10) É cabível a suspensão condicional do processo na desclassificação do crime e na procedência parcial da pretensão punitiva. (Súmula n. 337/STJ) 11) Nos casos de aplicação da Súmula n. 337/STJ, os autos devem ser encaminhados ao Ministério Público para que se manifeste sobre a possibilidade de suspensão condicional do processo ou de transação penal. JURISPRUDÊNCIA EM TESES – EDIÇÃO 96 1) A Lei n. 10.259/01, ao considerar como infrações de menor potencial ofensivo as contravenções e os crimes a que a lei comine pena máxima não superior a 2 (dois) anos, não alterou o requisito objetivo exigido para a concessão da suspensão condicional do processo prevista no art. 89 da Lei n. 9.099/95, que continua sendo aplicado apenas aos crimes cuja pena mínima não seja superior a 1 (um) ano. 2) É cabível a suspensão condicional do processo e a transação penal aos delitos que preveem a pena de multa alternativamente à privativa de liberdade, ainda que o preceito secundário da norma legal ultrapasse os parâmetros mínimo e máximo exigidos em lei para a incidência dos institutos em comento. – Quanto à suspensão condicional do processo, se a pena mínima for superior a 01 ano, mas houver previsão de pena de multa ALTERNATIVA (ex.: reclusão de 02 a 05 anos OU multa), caberá o benefício do sursis processual. De igual forma, de acordo com a referida tese, caberá transação penal mesmo que se trate de crime com pena máxima superior a 02 anos, desde que haja previsão alternativa da pena de multa. Quanto a este último ponto (transação penal), trata-se de um entendimento polêmico, pois a previsão alternativa de multa não altera o “pior cenário” para o réu (que continua sendo a pena máxima cominada). Já quanto ao sursis processual, acertado o entendimento, já que o critério é a pena mínima, e ao cominar pena alternativa de multa, o legislador permite que o condenado não receba nenhuma pena privativa de liberdade, somente a multa, de forma que a multa se tornaria a “pena mínima” para o caso, ou seja, o “melhor cenário” em caso de condenação. E-BOOK de Jurisprudência do STJ para o concurso da PCERJ (2022) Prof. Renan Araujo 30 3) A suspensão condicional do processo não é direito subjetivo do acusado, mas sim um poder- dever do Ministério Público, titular da ação penal, a quem cabe, com exclusividade, analisar a possibilidade de aplicação do referido instituto, desde que o faça de forma fundamentada. 4) Se descumpridas as condições impostas durante o período de prova da suspensão condicional do processo, o benefício poderá ser revogado, mesmo se já ultrapassado o prazo legal, desde que referente a fato ocorrido durante sua vigência. (Tese julgada sob o rito do art. 543-C do CPC/73 - TEMA 920) 5) Opera-se a preclusão se o oferecimento da proposta de suspensão condicional do processo ou de transação penal se der após a prolação da sentença penal condenatória. 6) O benefício da suspensão do processo não é aplicável em relação às infrações penais cometidas em concurso material, concurso formal ou continuidade delitiva, quando a pena mínima cominada,seja pelo somatório, seja pela incidência da majorante, ultrapassar o limite de um (01) ano. (Súmula n. 243/STJ) 7) A existência de inquérito policial em curso não é circunstância idônea a obstar o oferecimento de proposta de suspensão condicional do processo – Tal entendimento se dá porque o art. 89 da Lei 9.099/95 estabelece como impeditivo para o oferecimento da proposta o fato de o agente ter sido condenado ou estar sendo PROCESSADO por outro crime (logo, estar sendo investigado em inquérito policial não impede a concessão do sursis processual). 8) A extinção da punibilidade do agente pelo cumprimento das condições do sursis processual, operada em processo anterior, não pode ser valorada em seu desfavor como maus antecedentes, personalidade do agente e conduta social. 9) É constitucional o art. 90-A da Lei n. 9.099/95, que veda a aplicação desta aos crimes militares. 10) Na hipótese de apuração de delitos de menor potencial ofensivo, deve-se considerar a soma das penas máximas em abstrato em concurso material, ou, ainda, a devida exasperação, no caso de crime continuado ou de concurso formal, e ao se verificar que o resultado da adição é superior a dois anos, afasta-se a competência do Juizado Especial Criminal. 11) O crime de uso de entorpecente para consumo próprio, previsto no art. 28 da Lei n. 11.343/06, é de menor potencial ofensivo, o que determina a competência do juizado especial E-BOOK de Jurisprudência do STJ para o concurso da PCERJ (2022) Prof. Renan Araujo 31 estadual, já que ele não está previsto em tratado internacional e o art. 70 da Lei n. 11.343/06 não o inclui dentre os que devem ser julgados pela justiça federal. 12) A conduta prevista no art. 28 da Lei n. 11.343/06 admite tanto a transação penal quanto a suspensão condicional do processo. OUTRAS TESES RELEVANTES EDIÇÃO 69 (NULIDADES) Tese 2) As nulidades surgidas no curso da investigação preliminar não atingem a ação penal dela decorrente. Tese 3) As irregularidades relativas ao reconhecimento pessoal do acusado não ensejam nulidade, uma vez que as formalidades previstas no art. 226 do CPP são meras recomendações legais – Tese superada. O STJ passou a entender que o descumprimento das formalidades previstas no art. 226 (relativas ao procedimento de reconhecimento fotográfico), gera nulidade do ato: 1. No julgamento do HC 598.886/SC, da relatoria do Min. Rogério Schietti Cruz, decidiu a Sexta Turma, revendo anterior interpretação, no sentido de que se "determine, doravante, a invalidade de qualquer reconhecimento formal - pessoal ou fotográfico - que não siga estritamente o que determina o art. 226 do CPP, sob pena de continuar-se a gerar uma instabilidade e insegurança de sentenças judiciais que, sob o pretexto de que outras provas produzidas em apoio a tal ato - todas, porém, derivadas de um reconhecimento desconforme ao modelo normativo - autorizariam a condenação, potencializando, assim, o concreto risco de graves erros judiciários". 2. Na hipótese, percebe-se que o reconhecimento pessoal do imputado, ora paciente, não obedeceu aos ditames do precedente mencionado (HC 598.886/SC) e, mais grave ainda, da própria norma processual em causa (art. 226 - CPP), porquanto a vítima o reconheceu por meio de fotografia veiculada na impressa e, em nível policial, o reconheceu sem a apresentação de pessoas semelhantes e sem a indicação de justificativa plausível acerca de impossibilidade de realização do ato nos termos estabelecidos na norma legal. (...) (HC 687.103/RN, Rel. Ministro OLINDO MENEZES (DESEMBARGADOR CONVOCADO DO TRF 1ª REGIÃO), SEXTA TURMA, julgado em 16/11/2021, DJe 19/11/2021) No mesmo sentido: E-BOOK de Jurisprudência do STJ para o concurso da PCERJ (2022) Prof. Renan Araujo 32 (...) Esta Corte Superior inicialmente entendia que "a validade do reconhecimento do autor de infração não está obrigatoriamente vinculada à regra contida no art. 226 do Código de Processo Penal, porquanto tal dispositivo veicula meras recomendações à realização do procedimento, mormente na hipótese em que a condenação se amparou em outras provas colhidas sob o crivo do contraditório 3. Em julgados recentes, ambas as Turmas que compõe a Terceira Seção deste Superior Tribunal de Justiça alinharam a compreensão de que "o reconhecimento de pessoa, presencialmente ou por fotografia, realizado na fase do inquérito policial, apenas é apto, para identificar o réu e fixar a autoria delitiva, quando observadas as formalidades previstas no art. 226 do Código de Processo Penal e quando corroborado por outras provas colhidas na fase judicial, sob o crivo do contraditório e da ampla defesa. (...) (AgRg no HC 631.240/SC, Rel. Ministro RIBEIRO DANTAS, QUINTA TURMA, julgado em 14/09/2021, DJe 20/09/2021) Tese 13) A falta de comunicação ao acusado sobre o direito de permanecer em silêncio é causa de nulidade relativa, cujo reconhecimento depende da comprovação do prejuízo. Tese 19) São nulas as provas obtidas por meio da extração de dados e de conversas privadas registradas em correio eletrônico e redes sociais (v.g. whatsapp e facebook) sem a prévia autorização judicial. Tese 20) O compartilhamento de dados obtidos pela Receita Federal com fundamento no art. 6º da Lei Complementar n. 105/2001, mediante requisição direta às instituições bancárias no âmbito de processo administrativo fiscal, é considerado nulo, para fins penais, se não decorrer de expressa determinação judicial. OUTROS JULGADOS RELEVANTES Þ Interrogatório em sede policial e ausência de defesa técnica - O STJ firmou entendimento no sentido de que a ausência de defesa técnica quando do interrogatório em sede POLICIAL não gera nulidade, conforme entendimento pacífico do STJ: “(...) 1. A jurisprudência deste STJ entende que não é necessária a presença de advogado durante o interrogatório policial do réu. (...) (AgRg no AREsp 1882836/SP, Rel. Ministro RIBEIRO DANTAS, QUINTA TURMA, julgado em 24/08/2021, DJe 30/08/2021) E-BOOK de Jurisprudência do STJ para o concurso da PCERJ (2022) Prof. Renan Araujo 33 Þ Uso de documento falso: competência – O STJ firmou entendimento (posteriormente sumulado, súmula 546) no sentido de que a competência para processar e julgar o crime de uso de documento falso é firmada em razão da entidade ou órgão ao qual foi apresentado o documento público, não importando a qualificação do órgão expedidor (ex.: se apresentado perante órgão federal, a competência será da Justiça Federal): Súmula 546 do STJ A competência para processar e julgar o crime de uso de documento falso é firmada em razão da entidade ou órgão ao qual foi apresentado o documento público, não importando a qualificação do órgão expedidor. Þ Prova emprestada: possibilidade de utilização no processo penal – O STJ firmou entendimento no sentido de que é possível a utilização, no processo penal, de prova emprestada de outro processo, desde que seja submetida ao contraditório: “(...) 3. Nos termos da jurisprudência do STJ, "independentemente de haver identidade de partes, o contraditório é o requisito primordial para o aproveitamento da prova emprestada, de maneira que, assegurado às partes o contraditório sobre a prova, isto é, o direito de se insurgir contra a prova e de refutá-la adequadamente, afigura-se válido o empréstimo" (EREsp 617.428/SP, Rel. Ministra Nancy Andrighi, Corte Especial, julgado em 4/6/2014, DJe de 17/6/2014). 4. Agravo interno improvido.” (AgInt no AREsp 1789309/MT, Rel. Ministro MARCO AURÉLIO BELLIZZE, TERCEIRA TURMA, julgado em 01/06/2021, DJe 10/06/2021) Þ Interrogatório judicial e inversão da ordem: nulidade relativa – Embora o interrogatório deva ser o último ato da instrução, sua realização em momento diverso configura nulidade relativa, devendo ser arguida a nulidade na própria audiência e demonstrado o prejuízo que adveio para a defesa: “(...) 2. Isso não obstante, esta Corte
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