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LIVRO JOSIANE

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO
JOSIANE SOARES SANTOS
PARTICULARIDADES DA
“QUESTÃO SOCIAL”
NO CAPITALISMO BRASILEIRO
RIO DE JANEIRO
 2008
Josiane Soares Santos
PARTICULARIDADES DA “QUESTÃO SOCIAL”
NO CAPITALISMO BRASILEIRO
Tese de Doutorado apresentada ao Programa de 
Pós-graduação em Serviço Social, Escola de 
Serviço Social, Universidade Federal do Rio de 
Janeiro, como exigência parcial para a obtenção do 
título de Doutora em Serviço Social.
Orientador: Prof. Dr. José Paulo Netto.
Rio de Janeiro, 2008
FICHA CATALOGRÁFICA
 
 
 S237 Santos, Josiane Soares.
 Particularidades da “questão social” no capitalismo brasileiro / 
Josiane Soares Santos. Rio de Janeiro: UFRJ, 2008.
 217f. 
 Tese (doutorado) – Universidade Federal do Rio de Janeiro, 
Escola de Serviço Social, 2008.
 Orientador: José Paulo Netto.
 1. Questão social. 2. Brasil - Condições Sociais. 3. Desemprego. 
I. Netto, José Paulo. II. Universidade Federal do Rio de Janeiro. 
Escola de Serviço Social.
CDD: 303.4
 
 
 
Josiane Soares Santos
PARTICULARIDADES DA “QUESTÃO 
SOCIAL” NO CAPITALISMO BRASILEIRO
Tese de Doutorado apresentada ao Programa de 
Pós-graduação em Serviço Social, Escola de 
Serviço Social, Universidade Federal do Rio de 
Janeiro, como exigência parcial para a obtenção do 
título de Doutora em Serviço Social.
Aprovada em 10 de Março de 2008
________________________________________
Prof. Dr. José Paulo Netto - UFRJ
________________________________________
Profª. Dra. Elaine Rossetti Behring - UERJ
________________________________________
Profª. Dra. Leila Escorssim Machado - UFRJ
________________________________________
Prof. Dr. Ronaldo Coutinho - UFF
________________________________________
Profª. Dra. Yolanda Demétrio Guerra - UFRJ
RESUMO
SANTOS, Josiane Soares. Particularidades da “questão social” no capitalismo 
brasileiro. Tese (Doutorado em Serviço Social) – Escola de Serviço Social, Universidade 
Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2008.
Estudo de natureza qualitativa, a partir de dados secundários, sobre as 
particularidades da “questão social” no capitalismo brasileiro. Parte-se de análise a respeito 
do debate sobre a “questão social” na produção bibliográfica do Serviço Social para uma 
investigação que detecta, como uma das lacunas no referido debate, a necessidade de uma 
aproximação mais mediatizada das particularidades desse fenômeno típico do capitalismo. 
Tratam-se, substantivamente de mediações referentes às particularidades da constituição e 
desenvolvimento do capitalismo na formação social brasileira, bem como mercado de 
trabalho e do regime de trabalho (incluindo-se, neste, o padrão de proteção social) que 
formatam historicamente as modalidades de exploração do trabalho pelo capital no país. 
Diante da diversidade de expressões da “questão social”, o estudo prioriza o desemprego e 
discute como a flexibilidade estrutural e precariedade das ocupações no mercado de 
trabalho brasileiro, especialmente após a fase “industrialização pesada” são determinantes 
de suas características históricas e contemporâneas.
 
Palavras-chave: “Questão social”. Formação social brasileira. Desemprego. 
SINTESI
SANTOS, Josiane Soares. Particularidades da “questão social” no capitalismo 
brasileiro. Tese (Doutorado em Serviço Social) – Escola de Serviço Social, Universidade 
Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2008.
Studio di indole qualitativo, a partire da dati secondario, sulle particolarità dal 
“questione sociale” in capitalismo brasiliano. Partisi di analisi intorno il discussione sulla 
“questione sociale” nella produzione bibliografico dal Sociale di Servizio per un esame che 
ho constatato, come una della lacune nel azidetto discussione, il bisogno verso un approccio 
più mediatizada di codesto fenomeno tipico dal capitalismo. Si tratta, sostantivamente sino 
a mediazione concernente al costituzione e svolgimento dal capitalismo nella formazione 
sociale brasiliana, come anche di mercato del lavoro e dal reggimento del lavoro (da 
includere in questo, il norma della protezione sociale) di imprimere storicamente il 
modalità sino a sfruttamento del lavoro dal capitale in questo paese. Davanti dal diversità 
delle espressione dal “questione sociale”, il studio elegge come priorità il disoccupazione e 
discute come la flessibilità organica e precariedade del occupazione nel mercato del lavoro 
brasiliano, specialmente dopo il fase della “industria pesante” sono determinante sino a tuo 
carattaristice storico e contemporaneo.
Parole-chiavi: “Questione Sociale”. Formazione Sociale Brasiliana. Disoccupazione.
“[...] Pois, transbordando de flores
A calma dos lábios zangou-se
A rosa dos ventos danou-se
O leito dos rios fartou-se
Inundou de água doce a amargura do mar
Numa enchente amazônica
Numa explosão atlântica
E a multidão vendo em pânico
E a multidão vendo atônita
Ainda que tarde o seu despertar” 
Trecho da canção “Rosa dos Ventos”
da autoria de Chico Buarque
Dedico este trabalho
aos meus pais, Josefa e João, 
que, desde que aprenderam a respeitar os meus projetos profissionais, 
não têm medido esforços para vê-los concretizados
AGRADECIMENTOS
...de novo a UFRJ?! ...de novo o Rio de Janeiro... 
Decorridos seis anos de seu início, não há como não fazer uma espécie de “retrospecto” do 
significado desse doutorado na minha vida, que mudou em diversos aspectos, numa 
velocidade por vezes estonteante, durante esse período. Claro que não pretendo escrevê-lo. 
Ele se faz na memória para que eu possa lembrar de todos os agradecimentos merecedores 
de registro nesse momento e que, tenho certeza, ainda não serão capazes de expressá-lo 
suficientemente. O “clima” dessa cidade tem algo que não consigo decifrar e que, mesmo 
sendo um ambiente já conhecido, sempre me reserva inimagináveis surpresas. À exceção 
dos reencontros acadêmicos, posto que esses já eram esperados, diria mesmo, planejados, 
todo o resto foram surpresas, nem sempre boas, é verdade...
Em relação às interlocuções acadêmicas, meus agradecimentos previsíveis ao quase sempre 
imprevisível José Paulo Netto, grande motivador desta “empreitada” que foi o doutorado e 
responsável, também, por boa parte do que aprendi nesses anos com a sua generosidade 
intelectual. Outra presença previsível entre esses agradecimentos é a da querida Yolanda 
Guerra, uma interlocutora que preservo com um carinho mais que especial, afinal, do 
mestrado até aqui, além do Zé Paulo e dela, poucas pessoas participaram tão ativa e 
decisivamente do meu processo intelectual. Agradeço também a Nobuco Kameyama, 
coordenadora da pós quando do meu ingresso no doutorado, a quem admiro pela ousadia 
acadêmica e política, mas também pela doçura, marcas de sua contribuição no interior do 
Serviço Social brasileiro. Ainda nesses agradecimentos, devo incluir Carlos Montaño e 
Alejandra Pastorini que participaram das bancas de qualificação e de defesa de projeto, 
pelas frutíferas contribuições; e, naturalmente, aos Professores Ronaldo Coutinho, Leila 
Escorssim e Elaine Behring que examinaram o texto ora apresentado como resultado final 
desse percurso.
Houve reencontros também devidos à universidade, mas que, nessa ocasião, já não eram 
mais restritos a esse espaço. Eram reencontros “pela vida afora”. Refiro-me a amigos de 
longa data, de longas conversas, de longas farras e sambas.Agradeço a todos entre esses, 
que são muitos, mas com um especial sentimento fraterno à Solange, Marcelo Braz, 
Larissa, Gabriela e Nay.
Bom, mas e as surpresas? Vou começar pelos novos amigos, que, passados seis anos, já não 
são mais tão novos assim. Agradeço a todos pelos momentos singulares que vivenciamos, 
sempre compartilhando a vida nos mais diversificados aspectos. Considero que isso foi 
fundamental para que o doutorado, afinal, fosse um aprendizado em sentido bastante 
amplo. Obrigada Flávio, Necilda, Andresa, Eliza, Kátia, Ramiro, Lia, Valtinho, Ray, 
Paula, Marcelo, Maíra, Marcelle, Verônica, Rafa, Mavi, Juan Joana, Mariella, Javier, e, 
mais recentemente, mas não menos carinhosamente, Gustavo e Elaine. 
Tudo bem: fazer novos amigos era de se esperar, mas ganhar uma nova família, eu 
realmente nunca poderia imaginar... a todos do Ilê It Babá Oxé, em especial, Pai Rildo, 
Mãe Lena, Dofono Sidney, Ekedi Leleu, Ekedi Lígia e Ogã Saulo, meu profundo 
agradecimento pelas energias (e tudo o mais) que compartilhamos de modo ancestral. Axé!
No meio do doutorado teve casamento, resultado de outro reencontro especial com o 
Júnior, por quem eu sentirei sempre, independente do que acontecer, um intenso afeto. A 
ele agradeço o aprendizado decorrente do exercício da tolerância mútua que foi capaz de 
preservar o respeito entre nós...
... teve concurso e o retorno ao convívio diário com alunos, funcionários (os queridos 
Bosco e Elisa) e ex-professoras, hoje colegas de trabalho no DSS/UFS, a quem agradeço a 
liberação de 06 meses, decisiva para que eu pudesse finalizar a tese. Entre essas, outro 
agradecimento previsível: a Lúcia Aranha pelo companheirismo, cada vez mais 
“cúmplice” e, no que se refere à tese, pelas interlocuções que me permitiram não só 
escolher esse objeto, mas, também travar contatos com o apaixonante e fecundo universo 
bibliográfico do Instituto de Economia da UNICAMP. Vou ficar te devendo essa...
...teve também uma espécie de reencontro com a minha família, cujo sentido não me é 
possível, hoje, expressar com palavras. Mãe, Pai e Irmão: vocês sempre foram importantes 
pilares de sustentação para os meus projetos e dizer que os amo, talvez não consiga ser 
suficiente para dimensionar a intensidade dos laços que nos unem. Obrigada, sempre!!!
Agradeço também às amigas Albany e Sônia não só pelo companheirismo constante, mas 
também pelo significado da presença de vocês na defesa da tese. Podem estar certas de que 
isso ficará guardado como uma lembrança bastante especial! 
Agradeço, por fim, a CAPES pelos três anos de bolsa, que me possibilitaram 
dedicação integral ao Doutorado.
9
SUMÁRIO
APRESENTAÇÃO______________________________________________________ 10
Capítulo 1: O debate da “questão social” e sua incorporação pelo Serviço Social 
brasileiro ______________________________________________________________ 22
1.1. O debate da “questão social”__________________________________________ 23
1.2. “Questão social” e Serviço Social ______________________________________ 28
1.2.1. A reflexão teórica sobre a “questão social” no Serviço Social__________________________ 31
1.2.2. As particularidades do capitalismo brasileiro e das expressões da “questão social” como 
desafios à pesquisa ________________________________________________________________ 49
Capítulo 2: Particularidades do capitalismo na formação social brasileira ________ 52
2.1. Modo de produção capitalista e formações sociais particulares _______________ 53
2.2. Algumas hipóteses sobre as particularidades do modo de produção capitalista na 
formação social brasileira________________________________________________ 57
2.2.1. O caráter conservador da modernização operada pelo capitalismo brasileiro _____________ 58
2.2.2. Os processos de “revolução passiva” _____________________________________________ 76
2.2.3. A centralidade da ação estatal para a constituição do capitalismo brasileiro ______________ 84
Capítulo 3: Particularidades da “questão social” no Brasil _____________________ 98
3.1. Mercado, regime de trabalho e características da proteção social no Brasil até a 
“industrialização pesada” _______________________________________________ 103
3.2. Mercado, regime de trabalho e o padrão de proteção social na segunda fase da 
“industrialização pesada” _______________________________________________ 117
3.2.1. Flexibilidade e precariedade do regime de trabalho no “fordismo à brasileira”___________ 126
3.3. Flexibilidade e precariedade no regime de trabalho brasileiro e suas conexões com o 
desemprego como expressão da “questão social” ____________________________ 138
Capítulo 4: Particularidades da “questão social” no Brasil contemporâneo ______ 146
4.1. Crise capitalista e crise do padrão de desenvolvimento do capitalismo brasileiro 151
4.2. Particularidades recentes do desemprego no Brasil _______________________ 160
4.2.1. O desemprego dos anos 1980 e a relação com a crise do desenvolvimentismo ____________ 169
4.2.2. O desemprego dos anos 1990 e a relação com as políticas de ajuste neoliberais___________ 180
CONSIDERAÇÕES FINAIS_____________________________________________ 200
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS _____________________________________ 208
10
APRESENTAÇÃO
11
Esta tese condensa uma série de preocupações que extrapolam a minha inquietação 
pessoal como pesquisadora da área de Serviço Social. Claro que a escolha do tema tem um 
percurso em muito imbricado à minha atípica trajetória durante o doutoramento. Refiro-me 
às oscilações quanto à definição do objeto que me ocuparam 03 dos 04 anos regulares de 
curso, em meio aos quais, me deparei com a “questão social”, por ocasião do concurso 
através do qual fui nomeada professora da Universidade Federal de Sergipe. 
O contato com a bibliografia indicada para o concurso, que incluía textos 
específicos sobre a “questão social”, mas, também, uma série de outras obras onde a 
preocupação era com a formação social brasileira, evidenciou-me, naquele momento, o 
cerne do que, cerca de um ano depois, tomei como objeto de tese: a necessidade de envidar 
esforços no sentido de uma particularização do debate sobre a “questão social”, levando-se 
em consideração as particularidades da formação e desenvolvimento do capitalismo 
brasileiro. Nesse sentido é que, muito embora a definição desse tema tenha inelimináveis 
aspectos singulares, é representativa de preocupações de um segmento do debate 
profissional do Serviço Social, posto que aparece como uma lacuna de pesquisa 
coletivamente sinalizada em vários dos textos sobre a “questão social”. É praticamente uma 
unanimidade, entre tantas polêmicas envoltas no referido debate, a indicação de que é 
preciso analisar as particularidades assumidas por este fenômeno típico da sociedade 
capitalista a partir das características de cada formação social. 
Essa premissa ganhou força, especialmente a partir de 2006, quando a ABEPSS 
(Associação Brasileira de Ensino e Pesquisa em Serviço Social), demarcando os dez anos 
da aprovação das Diretrizes Curriculares para a formação do Assistente Social, realizou um 
esforço coletivo no sentido de avaliar o processo de sua implementação nas unidades de 
ensino do país, a partir da problematização de alguns de seus aspectos centrais1, tais como 
as condições e relações de trabalho nas diferentes instituições de ensino superior, e dos 
eixos temáticos de “Fundamentos históricos e teórico-metodológicos do Serviço social”, 
 
1 A primeira etapa da mencionada avaliação foi concluída por ocasião do X ENPESS (Encontro Nacional de 
Pesquisadores em Serviço Social) entre os dias 05 e 08 de dezembro de 2006 e consistiu na sistematização de 
dados relativos a um extenso questionáriopreenchido pelas unidades de ensino (UE). O instrumento buscou 
captar especialmente as dificuldades encontradas pelas UE´s na materialização dos principais aspectos 
introduzidos pela nova lógica curricular. Apesar de considerar, por várias razões, talvez esse instrumento não 
possibilite a obtenção de um quadro fidedigno da realidade do ensino superior no país, há que reconhecer a 
importância desse processo no que diz respeito à análise coletiva dos resultados, através das “oficinas 
descentralizadas” ocorridas em todas as regiões ao longo de 2006.
12
“Processos de trabalho e Serviço social”, “Questão Social”, “Pesquisa” e “Ensino da 
Prática”. No tocante à “questão social”, uma primeira aproximação dos dados2 já vem 
indicando que uma das dificuldades centrais tem sido a ausência de bibliografia que 
possibilite uma discussão acerca das expressões da “questão social” no Brasil. Registra-se 
que os textos utilizados pelos docentes nos programas de disciplinas trabalham, no mais das 
vezes, a questão conceitual, ou seja, as diferentes concepções acerca do que seria a 
“questão social”. Ficam ausentes do ensino – nas diferentes disciplinas pelas quais perpassa 
o eixo da “questão social” – as suas expressões, fundamentalmente as relacionadas com a 
particularidade da sociedade brasileira e das regiões e estados onde estão inseridos os 
cursos de graduação. Assim é que a escassez bibliográfica a respeito dessa temática na 
direção supramencionada é hoje um indicativo de que é preciso adensar esse campo de 
investigações. 
Ademais é preciso sublinhar, ainda referindo-me à avaliação da ABEPSS, que no 
tocante ao tema da “pesquisa” levantou-se a existência de uma série de projetos sobre as 
políticas sociais setoriais, sem que, no entanto, fosse possível, através desse instrumento,
captar se a categoria “questão social” está sendo relacionada nesses projetos como fundante 
dos diversos objetos de pesquisa. Desse modo, ao mesmo tempo em que a existência de um 
grande número de projetos sobre as políticas sociais setoriais pode ser um indicador de que 
estamos pesquisando as expressões da “questão social”, pode também indicar a reiteração 
da fragmentação e da setorialidade na discussão das políticas sociais, e, conseqüentemente, 
da “questão social”. Nesse sentido, a escassez bibliográfica me parece ter consideráveis 
impactos na fecundidade conceitual da “questão social” em termos de seu potencial 
explicativo da realidade do trabalho profissional. 
Assim sendo é que pretendo, com as reflexões aqui sistematizadas, contribuir em 
algum nível para o enfrentamento dessa lacuna investigativa, o que não significa, 
obviamente, nenhuma pretensão exaustiva em relação ao tema que possui inúmeras 
possibilidades de pesquisa ainda inexploradas.
 
2 Refiro-me aos dados apresentados e discutidos na “Oficina Nacional Descentralizada”, realizada no 
Nordeste entre os dias 12 e 14/06/2006 e contemplando dados de 09 das 15 unidades de ensino da Região. É 
preciso sublinhar que, muito embora socializados nacionalmente no X ENPESS ainda está por ser editada 
uma publicação que possibilite um acesso nacional mais significativo aos dados finais e respectivas análises 
resultantes da referida pesquisa.
13
Considerando-se a diversidade de expressões da “questão social” histórica e 
contemporaneamente falando, tal pretensão, aliás, seria mesmo inimaginável, fato que me 
colocou diante de outra escolha, para a qual contribuíram decisivamente as interlocuções 
efetivadas durante a banca de defesa do projeto de tese. Tarava-se de delimitar com 
centralidade, uma entre tais expressões, a fim de tornar factível a referida investigação. O 
desemprego foi então a opção ontologicamente evidente, por duas razões. 
Primeiramente dada sua magnitude e presença alarmante no atual estágio de 
desenvolvimento do capitalismo. Em se tratando do Brasil, Pochmann (In: ANTUNES, 
(org.), 2006), a partir de dados do IBGE, enfatiza o seu crescimento, cuja presença na 
década de 1980 correspondia a cerca de um quarto ou um quinto do que foi registrado na 
década de 1990. “Entre 1999 e 2002, [...], o desemprego passou de 6,7% para 9,3% do total 
da população economicamente ativa, o que significa um aumento relativo próximo a 40%, 
[sendo que, no mesmo período,] o número total de desempregados nas famílias de classe 
baixa cresceu 77%” (IDEM, p. 62). 
Em segundo lugar, o desemprego depreende-se como categoria central nesse estudo 
em função da concepção de “questão social” a ele subjacente, onde suas expressões 
correspondem às expressões da desigualdade fundamental produzida e reproduzida no 
âmbito do modo capitalista de produção e sua “lei geral de acumulação” (MARX, 2001). 
Nesse sentido, e tendo presente a centralidade do trabalho como elemento fundante da 
sociabilidade, é que o desemprego me pareceu a expressão da “questão social” que mais 
fecundamente poderia elucidar suas particularidades. Nele, e mais precisamente em suas 
causalidades, se mostram algumas mediações essenciais à apreensão de tais 
particularidades, entre as quais, destaco as modalidades de exploração da força de trabalho 
dominantes na constituição do capitalismo brasileiro. 
Vários estudiosos da formação social brasileira são enfáticos na afirmação de que o 
Brasil, no contexto do capitalismo mundial, destaca-se, entre outras características, pela 
existência de uma superexploração da força de trabalho que se “naturalizou” como 
condição para sua inserção subordinada nas engrenagens do capitalismo monopolista de 
corte imperialista. Reputo como importante, portanto, analisar a dinâmica desse mercado de 
trabalho (e seu correspondente padrão de proteção social), do ponto de vista histórico, a fim 
de delinear os contornos presentes como determinantes das contradições entre capital e 
14
trabalho no Brasil, eixo analítico fundante da “questão social”. Desses contornos emergem 
ontológica e reflexivamente as particularidades da “questão social” no Brasil aqui 
assinaladas, que remetem, não exclusivamente, mas de modo central, à flexibilidade 
estrutural do mercado de trabalho e à precariedade na estrutura de ocupações. Considero, 
tomando como referência especialmente as pesquisas do Instituto de Economia da 
UNICAMP, que essas características do mercado de trabalho brasileiro possuem estreita 
relação com a alta rotatividade no uso da mão-de-obra, facultada aos empregadores pela 
legislação brasileira historicamente, embora em graus diferenciados, a depender da 
correlação de forças determinada pelos diferentes momentos da luta de classes no país.
Esse percurso possibilitou-me uma compreensão diferenciada acerca de alguns 
debates que “cruzam” as diversas elaborações em torno da “questão social” e, 
especialmente, do desemprego, na atualidade. Refiro-me às freqüentes alusões à 
flexibilidade dos empregos como uma característica que aparece geneticamente associada 
ao novo modo de acumulação flexível, emergente com o conjunto de reestruturações 
capitalistas próprias da sua mais recente crise. Obviamente não se trata de descartar essa 
associação, embora discordando de seu vínculo genético, pois, sem dúvida, corresponde a 
um dado da realidade contemporânea e é responsável pelo aumento não só do desemprego, 
como também da informalidade e dos “sub-empregos”. Trata-se, sim de resgatar que 
o mercado de trabalho no Brasil já possuía uma “flexibilidade estrutural” nas 
relações de trabalho: um tipo de flexibilização adequado ao padrão tradicional de 
superexploração do trabalho, vigente desde os anos 60. A “flexibilidade 
estrutural” que caracteriza o mercado de trabalho no Brasil pode ser observada, 
por exemplo, pela relativa facilidade para a adequação numéricado contingente 
de ocupados e pelas flutuações no nível de rendimentos do trabalho. [...] A 
investida neoliberal no Brasil dos anos 90, voltada para a desregulamentação do 
direito do trabalho, cujo maior exemplo é a Lei do Contrato Temporário, 
aprovada em 1997, sob o governo Cardoso, imprimirá características disruptivas 
à flexibilidade estrutural do trabalho no Brasil, procurando criar novos patamares 
de flexibilidade estrutural adequados à época da terceira Revolução industrial e 
da mundialização do capital, o que implica reduzir custos sem prejudicar a 
qualidade (ALVES, 2005, p.155 e 157).
Sob essa ótica, a flexibilidade nas relações de trabalho do capitalismo brasileiro não 
é uma novidade contemporânea, muito embora seus determinantes tenham se modificado 
substantivamente dos anos 1990 em diante. Parafraseando Pastorini (2004), considero que,
em se tratando desse fenômeno (a flexibilidade), há uma tendência à “perda da 
15
processualidade” nas análises de vários dos autores que discutem a “questão social” no 
Serviço Social. Transpõem-se para a realidade brasileira, no mais das vezes, análises sobre 
a crise capitalista e sua reestruturação, válidas para os países cêntricos, sem algumas 
mediações essenciais, como a diferenciação entre o padrão de proteção social desses países 
e o brasileiro, caracterizado classicamente por Santos (1987) como próprio de uma 
“cidadania regulada”.
Essa e as demais “conclusões” a que cheguei a partir dessa pesquisa me foram 
possibilitadas por uma angulação que é, nas palavras de Tonet (1995), “onto-
metodológica”. Objeto de inúmeras controvérsias na atualidade, a opção metodológica 
possui uma dimensão que, no entendimento aqui presente, extrapola a discussão da 
operacionalização/instrumentalidade da pesquisa. Ela evidencia, além disso, o ponto de 
vista através do qual se analisa o objeto, pois sendo o mesmo “o pólo regente do 
conhecimento” (TONET,1995, p.51), este ponto de vista é, primeiramente, derivado da sua 
natureza, já que a verdade está nele contida: é uma propriedade histórico-ontológica do real 
e não mera atribuição do sujeito cognoscente.
Não quero, com esta assertiva, dizer que o sujeito tem um papel passivo na 
produção do conhecimento – este, ao contrário, está ativamente em relação com o objeto, 
pois “a interpretação do mundo, quer natural quer social, é um momento fundamental na 
apropriação e direção da intervenção sobre o mundo” (IDEM, p.53). A questão do ponto de 
vista na produção do conhecimento é, portanto, decisiva para quem pretende capturar a 
lógica de determinado objeto, reproduzindo criticamente, e por aproximações sucessivas, o 
seu movimento historicamente situado. Ele deve permitir uma tal angulação que favoreça 
este movimento de apreensão e determinará o método de investigação. 
Quando me refiro ao método, estou também me posicionando diante de uma postura 
que vem se generalizando e propondo ser necessário “elaborar propostas metodológicas 
novas e criativas, testá-las, cruzar umas com as outras para aumentar o seu poder 
explicativo” (IDEM, p.35). Fazendo coro aos que, como afirma Netto (1996b), na 
atualidade são tratados como habitantes do Jurassic Park, entendo que a ortodoxia 
metodológica3 é a atitude cientificamente mais coerente enquanto postura que, evitando o 
 
3 A expressão é de Lukács. Ver o ensaio “O que é o marxismo ortodoxo?” IN: História e consciência de 
classe (1923).
16
ecletismo, adquire maiores possibilidades de aproximação fidedigna do objeto. Isso porque 
é em relação a ele (objeto) que cabe a atitude crítica da validade maior ou menor de 
determinado método: o critério é a obtenção de uma reprodução mais próxima da sua 
integralidade (TONET,1995).
Dito isso, a teoria social marxiana aparece como referência fundante desse processo 
de pesquisa. A escolha não foi fortuita decorrendo, em primeiro plano, da avaliação de que 
tal perspectiva é a que melhor responde às exigências descritas acima. Exemplo do que 
afirmo é a reconhecida fecundidade analítica e crítica verificável na produção teórica que, 
estando calcada nesta mesma perspectiva, é responsável por inegáveis avanços na 
compreensão do Serviço Social, do seu significado na divisão social do trabalho, como 
também da realidade histórica onde se insere.
Nesta acepção, o percurso metodológico permitiu-me a apreensão da particularidade 
do objeto através do movimento de elevação da singularidade à universalidade. Foi pela via 
da abstração, tendo como suporte estas categorias básicas constituídas e constituintes 
da/pela realidade, que penetrei na sua lógica negativo-tendencial, capturando as mediações 
necessárias ao mencionado processo de singularização/ universalização/particularização.
Estando o objeto em questão definido pelas particularidades da “questão social” no 
capitalismo brasileiro, a investigação possuiu caráter qualitativo, tendo em vista a natureza 
do objeto e o tipo de pesquisa que o mesmo demandou, inscrita no universo exploratório. 
Evidencio, ademais, o caráter eminentemente teórico-histórico dessa pesquisa, uma vez que 
os dados analisados foram provenientes de material bibliográfico, portanto, de fontes 
secundárias. 
Os procedimentos metodológicos que se fizeram necessários à sua consecução 
podem ser classificados em três momentos. O primeiro deles consistiu na realização de um 
amplo levantamento bibliográfico, tanto das fontes de onde se extraíram os dados para 
análise, quanto das que compuseram o aporte teórico da pesquisa. Nesse sentido, foi 
necessário, inicialmente, incursionar no universo de debates travados no interior do Serviço 
Social acerca da “questão social”, tendo sido selecionadas publicações de circulação 
nacional da área. É importante que seja ressaltado o caráter nacional desse material
posto que, não haveria como, por inúmeras razões, remeter às suas fontes, constituídas pelo 
extenso universo de teses e dissertações – inéditas em sua socialização para além das 
17
fronteiras dos programas em que foram produzidas – donde foram extraídos grande parte 
dos textos em questão. Claro que isso põe limites às afirmações derivadas dessa análise 
que, afinal, não é o epicentro do objeto e sim o seu ponto de partida devendo assim ser 
compreendida. De outro lado, também se fez necessário um levantamento bibliográfico 
referente às análises clássicas e contemporâneas em torno da formação social brasileira e 
suas particularidades, além, é claro, de artigos sobre o trabalho, mercado de trabalho 
emprego e desemprego no Brasil. A procedência autoral desses artigos é, 
predominantemente, do Instituto de Economia da UNICAMP, conforme já salientado.
No segundo momento, procedi à leitura e sistematização do levantamento realizado 
de acordo com categorias definidas, como “concepção de questão social”, “modo de 
produção”, “formação social”, “particularidades da ‘questão social’”, “lutas de classes”, 
mas também buscando apreender do material em questão, categorias que dele emergissem 
enquanto “modos de ser, determinações da existência” (MARX), e fossem, portanto, 
essenciais à compreensão do tema. Nesse sentido, destacam-se as categorias “mercado de 
trabalho” e “regime de trabalho” (o que inclui os mecanismos de proteção social e 
regulação do trabalho) no Brasil, conforme também afirmei há pouco.
Os textos, a partir da sistematização acima aludida, foram submetidos à análise 
crítico/analítica propriamente dita – referida aqui como terceiro procedimento 
metodológico – donde emergiu a lógica de exposição apresentada a seguir.
Cabe observar que tais momentos não ocorreram linearmente: entrecruzaram-se, 
abreviaram-se (afinal, havia que levar em consideração o prazo finalde conclusão 
estabelecido pelos rígidos critérios da CAPES), mas tiveram sempre em conta a dinâmica 
das categorias centrais do objeto e os objetivos norteadores do estudo. Assim sendo, a tese 
está dividida em quatro capítulos e considerações finais. 
No primeiro capítulo apresento uma síntese do ponto de partida da investigação: “o 
debate da ‘questão social’ e sua incorporação pelo Serviço Social brasileiro”. Nele, a 
partir dos principais artigos/livros de circulação nacional sobre o tema da “questão social” 
de autoria de pesquisadores da área de Serviço Social, identifiquei que houve uma espécie 
de “estagnação do debate” em sua premissa medular: a “questão social” é resultante dos 
mecanismos de exploração do trabalho pelo capital. Na gênese da referida estagnação 
encontra-se uma espécie de “inversão ontológica às avessas”, operada pelo foco do debate 
18
permanecer predominantemente na discussão acerca das concepções de “questão social”, 
ou seja, de permanecer prioritariamente no campo teórico, secundarizando, até o presente 
momento, suas dimensões históricas, ontologicamente determinantes do referido debate. 
Dito de outra forma: o que afirmo é que, embora presentes, as determinações sócio-
históricas da “questão social” não ocupam lugar de destaque na discussão, cujo 
protagonismo é dado pelo embate, principalmente com as concepções de Castel (1998, 
2000) e Rosanvallon (1998). Considero, então, como um campo de investigações a ser 
encarado de modo coletivo, uma aproximação mais “concreta” (nos termos marxianos, 
saturada de mediações) ao debate da “questão social”. Essa aproximação deve ter em conta
a insuficiência da categoria “modo de produção”, que precisa ser acompanhada da categoria 
“formação social”, a fim de alcançar as particularidades da “questão social”, ultrapassando 
a “generalidade” predominante no debate teórico travado até aqui no campo do Serviço 
Social sobre o tema.
Seguimento dessas primeiras conclusões, o segundo capítulo (“particularidades do 
capitalismo na formação social brasileira”) oferece uma rápida diferenciação entre as 
categorias “modo de produção” e “formação social”, objetivando identificá-las como 
diferentes instâncias da realidade que, embora ineliminavelmente indissociáveis, 
respondem por distintos níveis de apropriação da mesma, recuperando a tríade categorial da 
universalidade/singularidade/particularidade. Findo esse interregno, passo a apresentar uma 
sistematização das particularidades da formação social brasileira, a partir das hipóteses 
sugeridas por Netto (1996), em que se destaca o caráter conservador da modernização 
capitalista no Brasil, os processos de “revolução passiva” e a centralidade da ação estatal na 
constituição desse capitalismo. É imperioso lembrar, embora com certa obviedade, que essa 
síntese foi constituída a partir da interlocução com obras de estudiosos clássicos e 
contemporâneos sobre o Brasil e, assim sendo, nenhuma dessas premissas analíticas é 
inédita, estando formuladas de diferentes maneiras em vários textos dentro e fora do 
Serviço Social, a exemplo de Behring (2003) e Iamamoto (2007). O que importa, nesse 
momento, enfatizar é que esse percurso se fez absolutamente imprescindível para quem, 
como eu, estava em busca das mediações próprias do padrão de exploração da força de 
trabalho no Brasil, cuja configuração é dada pela conjunção dessas particularidades 
próprias a países de “capitalismo retardatário” (CARDOSO DE MELLO, 1994).
19
Iluminadas as particularidades do capitalismo brasileiro, a tarefa do terceiro 
capítulo consiste em apreender a “particularidades da ‘questão social’ no Brasil”. 
Oferece-se nesse espaço, um processo de particularização assentado em mediações 
essenciais à compreensão das formas de exploração do trabalho pelo capital: as categorias 
de “mercado de trabalho” e “regime de trabalho”, consideradas ao longo do processo de 
constituição do capitalismo brasileiro. Tendo seus marcos regulatórios fundamentalmente 
instituídos durante a “industrialização restringida” (a formação do mercado de trabalho 
assalariado, a estrutura sindical corporativa, a CLT e a resultante disso tudo, expressa no 
conceito de Wanderley Guilherme dos Santos (1987) de “cidadania regulada”), ambas as 
categorias são significativamente redimensionadas a partir da “industrialização pesada”, 
especialmente após 1964. Neste momento adquirem força as características que imputo 
como particularidades da “questão social” no país: a flexibilidade estrutural do mercado 
de trabalho e precariedade das ocupações. Essas particularidades são especialmente 
evidentes no contexto da ditadura militar, devido à intensa repressão às lutas de classe 
associada a uma legislação que, com a instituição do FGTS (Fundo de Garantia por Tempo 
de Serviço), possibilita a elevação da rotatividade na utilização da mão-de-obra pelos 
empregadores. Destaco ainda as conexões dessas particularidades com o desemprego como 
expressão da “questão social” e o fato de se constituírem num paradoxo “fordismo à 
brasileira”, onde, ao contrário do que ocorria nos países cêntricos – cujo padrão de proteção 
social reforçava a estabilidade dos empregos como condição para as excepcionais taxas de 
lucro do período – a flexibilidade/precariedade é erigida como princípio estruturante dos 
postos de trabalho, fato que só adquire sentido quando se leva em consideração as 
particularidades do capitalismo brasileiro assinaladas no capítulo precedente.
O quarto capítulo avança numa compreensão dessas “particularidades da ‘questão 
social’ no Brasil contemporâneo”, tendo em conta o momento atual de crise capitalista 
para pensar as particularidades recentes do desemprego no país (anos 1980 e 1990). A idéia 
é diferenciar as características e determinantes do desemprego nas duas décadas em questão 
e, ao mesmo tempo, realçar seus traços comuns, que são dados pela flexibilidade estrutural 
e precariedade das ocupações do mercado de trabalho brasileiro como características da 
“questão social”. Pretende-se desse modo, apreender “o novo e o que permanece”, 
novamente parafraseando Pastorini (2004). A preocupação aqui é mostrar que a 
20
flexibilidade do atual “modo de acumulação” não pode ser pensada, no caso brasileiro, sem 
levar em consideração a flexibilidade estrutural das ocupações preexistente, mediatizando 
análises que no Serviço Social (e não só) a colocam como uma “nova” determinação no 
mundo do trabalho. Defendo que se manifesta na atualidade uma extensão e 
aprofundamento da flexibilidade estrutural do mercado de trabalho, estendendo-a a 
outros aspectos além da flexibilidade quantitativa dos empregos, expressa na alta 
rotatividade da mão-de-obra. No caso dos anos 1980 a crise do “desenvolvimentismo”
aparece como principal determinante dos índices de desemprego. Trata-se da crise do
padrão de desenvolvimento adotado até a “industrialização pesada”, assentado no tripé 
setor produtivo estatal, capital nacional e capital internacional. Nesse contexto o 
desemprego vinculou-se, em grande medida, às oscilações da atividade produtiva, 
observada pela tendência à recuperação quantitativamente equivalente dos postos de 
trabalho perdidos nos momentos de crise. Houve uma expressiva queda das oportunidades 
ocupacionais no setor produtivo que, embora preservado, passa a não mais absorver em 
proporções satisfatórias o aumento da população ativa. Destaca-se nesse panorama a 
restauração da democracia e o protagonismo do movimento sindical (contrastando com o 
panorama do sindicalismo mundial) e o restabelecimento das negociações coletivas, 
inclusive com mecanismos de reajuste salarial regulados pelo Estado. No caso dos anos 
1990, tem-se um desemprego derivado daadoção das políticas de ajuste neoliberais. Além 
de suas proporções terem aumentado em relação aos anos 1980, o desemprego desse último 
período tem se caracterizado como um desemprego de longa duração. A partir dos anos 
1990, registra-se, ao contrário do ocorrido até a década de 1980, uma tendência à 
dissociação entre recuperação da economia brasileira (e, nela, dos índices de produção) e 
sua repercussão no emprego regular. Outra diferença importante entre esses períodos é a 
configuração do movimento sindical. Ao contrário da década de 1980, quando o 
sindicalismo brasileiro adquiriu condições políticas de instituir, mesmo que somente nas 
categorias mais bem organizadas, negociações coletivas onde a pauta tinha como eixo 
central as demandas salariais, a partir dos anos 1990, com as medidas de ajuste neoliberais, 
reduzem-se a capacidade de pressão e barganha dos sindicatos. Embora não tenham sido 
completamente abandonadas, essas negociações passaram, cada vez mais, a voltarem-se à 
questão do emprego, com uma tendência clara à pulverização e descentralização.
21
Nas considerações finais, pretendo “um retorno” ao Serviço Social pela mediação 
das políticas sociais. Nesse trecho, indico sumariamente preocupações que, embora 
presentes ao longo da tese, são melhor explicitadas ao longo dessas últimas páginas. Refiro-
me à crescente equalização entre desemprego, exclusão e pobreza que tem sido operada 
pela via de políticas sociais de cunho cada vez mais focalizado e assistencial, em 
detrimento de medidas no campo de políticas de emprego. Longe de negar a conexão 
evidente entre desemprego e pobreza como expressões da “questão social” trata-se de 
chamar a atenção para uma certa “assistencialização” da mesma (“questão social”), na 
medida em que fica reduzida à “exclusão”, conceito que “tudo abarca e nada explica”4, 
dando suporte à dissociação entre política econômica e política social, porquanto 
escamoteia as evidentes conexões entre desemprego e política econômica.
Ademais de apresentar os pilares estruturantes dessa tese, gostaria de explicitar que, 
independente da avaliação que dela se faça, considero-a como um marco na minha 
trajetória acadêmica. E o faço por um motivo que é evidente numa retrospectiva acerca dos 
meus interesses de pesquisa: o “giro” que seu percurso me possibilitou em termos de 
compreensão do Brasil. Esse acúmulo – na verdade, impulsionado nessa direção 
primeiramente pelos estudos para o concurso na UFS, já referidos – ainda prenhe de 
debilidades, certamente refletidas na elaboração da tese, é, desde já, o melhor saldo que o 
doutorado pôde me proporcionar. Foi, não só desafiante enfrentar um objeto com a 
densidade histórica proposta, mas, sobretudo, estimulante concluir a investigação, sabendo 
do potencial que ele ainda apresenta. Estimulante porque, além permanecer a desafiar-me, 
espero poder estimular a outros interlocutores a partir dos resultados aqui expostos. 
 
4 Uma súmula das críticas formuladas por autores como Castel e Martins ao conceito de exclusão encontra-se 
em Iamamoto (2007).
Capítulo 1:
O debate da “questão social”
e sua incorporação pelo Serviço Social
brasileiro
23
1.1. O debate da “questão social”
A relação entre ciência e sociedade pode ser apreendida de diversos modos, a 
depender da forma como se institui metodologicamente o caminho da investigação. O 
caminho apresentado aqui tem como suposta uma relação ontológica entre esses pólos, 
quais sejam, sociedade e ciência, nessa ordem de primazia. Assim consideradas essas 
relações e o objeto central dessa tese – que pretende contribuir com o debate da “questão 
social” no interior do Serviço Social – é preciso situar minimamente o seu sentido no 
âmbito acadêmico e alguns dos principais propósitos a ele subjacentes. Isso implica em 
perquirir, nas relações sociais, os fundamentos do debate sobre a “questão social” tal qual 
ele tem se apresentado nas ciências sociais e humanas nos últimos anos. Falo da insistente e 
perplexa retórica de autores como Castel (1998 e 2000) e Rosanvallon (1998), para ficar 
nos mais conhecidos entre nós, do Serviço Social5, que recuperam o conceito de “questão 
social” nos marcos do capitalismo contemporâneo, atualizando-o em termos de uma “nova 
questão social” para dar conta de fenômenos típicos da atual crise desse modo de produção.
Sem pretender fazer uma exegese das obras de tais autores, tarefa já suficientemente 
realizada dentro e fora do Serviço Social, minha preocupação é tão somente recuperar 
alguns nexos importantes do debate a fim de introduzi-lo de acordo com o propósito 
anunciado há pouco. É nesse sentido que a crise capitalista dos últimos trinta anos aparece 
como seu componente ontológico central, embora nem sempre explicitamente. E isso não é 
um dado inédito, já que a “questão social” não é um propriamente uma novidade 
contemporânea.
Conforme o demonstra a literatura, esse conceito apareceu no século XIX para 
designar fenômenos associados ao pauperismo, tendo seu uso mais associado ao 
 
5 Cabe aqui indicar uma preocupação com o tratamento freqüentemente “indiferenciado” desses dois autores 
que aparece na literatura e nos debates do Serviço Social. Castel e Rosanvallon possuem diferentes filiações 
ideo-políticas e teóricas, visíveis, por exemplo, na influência durkheimiana do primeiro que delineia limites 
na sua concepção de “questão social”, mas não invalida o monumental volume de informações históricas 
presentes na séria pesquisa que empreende e sistematiza em seu livro “metamorfoses da questão social”. Já 
Rosanvallon é um liberal em cujo livro (“a nova questão social”), aliás, editado, no Brasil, pelo PSDB, 
aparecem visivelmente propósitos conservadores e, sobretudo, ideológicos, “afinados” com as necessidades 
da programática neoliberal, muito mais do que um esforço sério de pesquisa em torno da temática. Cabe ainda 
alertar que tal diferenciação não se esgota, obviamente nessas tópicas observações. Estas cumprem apenas o 
papel de exemplificar a sua necessidade, raramente encontrada nos debates do Serviço Social, conforme dito 
no início dessa nota.
24
vocabulário conservador após os eventos de 1848 e inspirando propostas para o seu 
enfrentamento.
Posta em primeiro lugar, com caráter de urgência, a manutenção e a defesa da 
ordem burguesa, a “questão social” perde paulatinamente sua estrutura histórica 
determinada e é crescentemente naturalizada, tanto no âmbito do pensamento 
conservador laico quanto no do confessional [...].
Entre os pensadores laicos, as manifestações imediatas da “questão social” (forte 
desigualdade, desemprego, fome, doenças, penúria, desamparo frente a 
conjunturas econômicas adversas, etc,) são vistas como desdobramento, na 
sociedade moderna (leia-se: burguesa), de características ineliminávies de toda e 
qualquer ordem social, que podem, no máximo, ser objeto de uma intervenção 
política limitada [...], capaz de amenizá-las e reduzi-las através de um ideário 
reformista [...]. No caso do pensamento conservador confessional, se reconhece a 
gravitação da “questão social” e se apela para medidas sócio-políticas para 
diminuir os seus gravames, insiste em que somente sua exacerbação contraria a 
vontade divina (é emblemática, aqui, a lição de Leão XIII, de 1891) (NETTO, 
2001, p.43-44).
Duas premissas, não por acaso coincidentes, merecem ser refletidas aqui. Uma é, 
conforme já dito acima, o fato do debate sobre a “questão social” estar novamente 
associado ao indiscutível aumento da pauperização absoluta e relativa da população 
mundial. Ou seja, o debate reemerge, agora adjetivado como “nova” questão social, 
buscando, predominantemente, entenderas “novas” formas de pobreza para uns, de 
“exclusão social” para outros, mas, em ambas as acepções, sem associá-las aos mecanismos 
nucleares de funcionamento do capitalismo. Exemplo típico dessa falta de associação é a 
conhecidíssima definição de Castel (2000), segundo a qual a “questão social [...] é tida 
como uma aporia fundamental, uma dificuldade central, a partir da qual uma sociedade se 
interroga sobre sua coesão e tenta conjurar o risco se sua fratura” (p. 238). Ao passo que o 
mecanismo de crises cíclicas do capital está ausente, aparece com uma centralidade 
indiscutível nesse debate a questão da “solidariedade”. Observe-se novamente Castel 
(IDEM, p. 257):
O capitalismo industrial chegou numa sociedade que tinha forte assento rural, 
solidariedades e proximidades, relações informais entre as pessoas, que não 
passavam pelo mercado. É o que chamamos de sociedade civil. Parece-me que 
nas sociedades salariais, com a industrialização e a urbanização massivas, essas 
formas de solidariedades foram se enfraquecendo progressivamente. É por isso 
que as proteções construídas pelo Estado, as proteções sociais, garantidas em lei, 
têm tanta importância, porque se o Estado se retira , há o risco do quase vazio, da 
anomia generalizada do mercado, pois este não comporta nenhum dos elementos 
necessários à coesão social, muito pelo contrário, funciona pela concorrência.
25
Não por acaso a segunda premissa referida como coincidente no reaparecimento do 
debate sobre a “questão social” é a preocupação com os mecanismos de seu enfrentamento. 
Disso nos fala Martinelli quando, recuperando Marx, situa que 
duas eram as grandes tendências produzidas pelos economistas da época [século 
XIX], sob influência dos economistas clássicos, especialmente Adam Smith e 
Ricardo, que podiam constituir referências básicas para orientar os 
posicionamentos da burguesia quanto às formas de enfrentamento da “questão 
social”: a Escola Humanitária e a Filantrópica (1995, p.63).
Assim sendo, a Encíclica Rerum Novarum (1891), por exemplo, traz no seu 
epicentro a preocupação com as relações entre capital e trabalho, procurando conferir 
aparência de naturalidade à desigualdade fundamental na apropriação da riqueza social. O 
liberalismo dominante àquela época, não obstante as reservas críticas da Igreja Católica, 
inspirou, de sua parte, mecanismos predominantemente pautados na caridade cristã para 
amenizar o sofrimento desses “pobres imprevidentes”. Nesse sentido, legalizar a assistência 
aos pobres “[tenderia] a destruir a harmonia e a beleza, a simetria e a ordem desse sistema 
que Deus e a natureza criaram no mundo” (TOWNSEND apud MARTINELLI, IDEM, p. 
82-83).
Assim como no século XIX, atualmente há uma conexão, também já 
suficientemente explicitada por vários autores de tradição crítica, entre o debate da 
“questão social” e o correspondente modo de regulação constituído para a nova fase de 
acumulação do capital6. Na atualidade,
[...] é o Estado de bem-estar aquele que o neoliberalismo pretende limitar. A 
proposta neoliberal aponta para o fim do “Estado Interventor”, para a redução do 
gasto destinado às políticas sociais, para a desregulação das condições de 
trabalho, para o controle cada vez maior do capital sobre o trabalho; reservando a 
participação do Estado para salvaguardar a propriedade e as “liberdades”, 
intervindo naqueles âmbitos nos quais o mercado não pode ou não quer (por não 
ser atrativo, do ponto de vista da lucratividade) dar resposta (MONTAÑO, 2003, 
p. 235).
A importância de recuperar esses “coincidentes” aspectos que perpassam o debate 
da “questão social” está no fato de diferenciá-lo do ponto de vista de seus fundamentos. 
 
6 Ver, entre outros autores, Montaño (2003) e Yazbek (2001).
26
Existem, na minha avaliação, diferenças substantivas entre o debate inaugurado no interior 
das ciências sociais européias, do qual Castel (1998 e 2000) e Rosanvallon (1998) 
tornaram-se expoentes conhecidos, e o que se instaura no interior do Serviço Social 
brasileiro na virada do século XX para o XXI. Tais diferenças residem mais que no adjetivo 
recusado por segmentos significativos do Serviço Social, de “nova” questão social, 
remetendo antes a uma concepção radicalmente diferente sobre a gênese desse fenômeno,
bem como ao estatuto que lhe é atribuído a partir dessa gênese. Explico-me: embora não 
seja homogênea a concepção de “questão social” entre os assistentes sociais, boa parte dos 
autores filiados à tradição marxista considera
a questão social enquanto parte constitutiva das relações sociais capitalistas, [...] 
apreendida como expressão ampliada das desigualdades sociais: o inverso do 
desenvolvimento das forças produtivas do trabalho social. [...] A expressão 
questão social é estranha ao universo marxiano. [...] Entretanto, os processos 
sociais que ela traduz encontram-se no centro da análise de Marx sobre a 
sociedade capitalista (IAMAMOTO, 2001, p. 11).
Compreender a “questão social” como expressão das desigualdades sociais oriundas 
do modo de produção capitalista é uma clara inflexão nos fundamentos do debate 
instaurado pelas ciências sociais. Este toma, como argumento central para a abordagem da 
“questão social”, as mudanças nas formas de “solidariedade” ou “coesão social”, donde 
desaparecem as conexões mais essenciais da constituição desses valores como complexos 
historicamente determinados da sociabilidade. Explicita-se, assim, a diferencialidade ideo-
política dada pelo conservadorismo imanente ao debate da “questão social” nas ciências 
sociais: o elenco de fenômenos denominado como “questão social” apresenta-se “des-
historicizado” e “des-economizado”, denotando as características próprias da “apologia 
indireta”7 (LUKÁCS,1959). A separação dos fenômenos sociais em relação aos seus 
fundamentos econômicos e históricos (NETTO (org.),1992b)8 obscurece as potencialidades 
da razão na direção da totalidade, o que acaba sendo funcional para a pretensa 
“naturalização” e aparente positividade do capitalismo.
 
7 Lukács (1959) denomina como “apologia indireta” do capitalismo a produção teórica cuja particularidade 
assenta-se no fato de assumir os lados negativos do modo de produção capitalista como algo inerente à 
existência humana em si, negando a sua origem historicamente determinada.
8 Sobre isso, consultar ainda Lukács (1959) e Coutinho, (1972).
27
Essa é, sem dúvida, a diferença mais evidente entre os dois debates. Existe, porém 
uma outra diferença, nem sempre suficientemente explícita, que diz respeito ao estatuto da 
“questão social”. No Serviço Social, freqüentemente, a expressão encontra-se entre aspas, 
denotando um certo cuidado na sua adoção que se explica não somente pela origem 
conservadora da expressão, conforme alertam Iamamoto (2001) e Netto (2001). As aspas 
também foram adotadas como “solução” para o fato da “questão social” não poder ser 
alçada ao estatuto de uma categoria no sentido marxiano como “forma de ser, determinação 
da existência”.
O que quero dizer com isso é que a “questão social” em si, a partir dessa acepção, 
não existe na realidade, e, assim sendo, deve ser entendida como um conceito – cuja 
natureza é reflexiva, intelectiva – e não como categoria. As categorias, para serem 
consideradas como tais, devem antes existir na realidade para que seja possível a sua 
abstração no âmbito do pensamento. Isto significa dizer que o que tem existência real não é 
a “questão social” e sim suas expressões, determinadas pela desigualdade fundamental do 
modo de produção capitalista. O conceito “questão social”, em face de seus propósitos 
conservadores, não traz necessariamente com ele as premissas subjacentesà análise da lei 
geral da acumulação capitalista: essa foi uma aporia ao conceito quando de sua 
incorporação por autores do Serviço Social brasileiro. Pode-se dizer, assim, que houve uma 
releitura do conceito que apresenta uma potencialidade totalizadora a ser explorada, 
especialmente por designar de modo articulado uma série de manifestações encaradas 
tradicionalmente de forma isolada, configurando os chamados “problemas sociais”. De 
acordo com Iamamoto (2001),
a pulverização da questão social, típica da ótica liberal, resulta numa 
autonomização e suas múltiplas expressões – as várias “questões sociais” – em 
detrimento da perspectiva de unidade. Impede assim de resgatar a origem da 
questão social imanente à organização social capitalista, o que não elide a 
necessidade de apreender as múltiplas expressões e formas concretas que assume 
(p.18).
Sua adoção como pilar explicativo das políticas sociais no estágio capitalista dos 
monopólios tornou-se, assim, um dos “patrimônios intelectuais” do Serviço Social 
brasileiro e passou a significar, entre nós, a superação de uma concepção tradicional acerca 
do objeto de ação dos Assistentes Sociais. Penso que não é demais enfatizar a conquista que 
28
isso representa numa profissão que nasce geralmente inspirada pelo conservadorismo 
cristão, na qual as tendências à moralização no trato da ação profissional são bastante 
afeitas às raízes conservadoras do debate da “questão social” tomado pelo ângulo da 
solidariedade e da coesão sociais.
Malgrado sua importância, essa incorporação não passou sem problemas no interior 
do Serviço Social. Considero fundamental nesse momento traçar uma espécie de 
“panorama” do debate sobre a “questão social” no Serviço Social, tendo em vista indicar a 
gênese das preocupações que estão no cerne dessa tese.
1.2. “Questão social” e Serviço Social
Já há algum tempo, mais precisamente cerca de vinte e cinco anos, a “questão 
social” deixou de ser estranha ao universo profissional do Serviço Social. A partir do 
diálogo inaugurado por Iamamoto com a obra marxiana em “Relações Sociais e Serviço 
Social no Brasil”, a discussão sobre os fundamentos dessa profissão passa a ter em conta a 
mediação da “questão social” como razão de ser das políticas sociais públicas e privadas no 
contexto do capitalismo monopolista. Estas, por sua vez, constituem parte significativa do 
que viria a ser o mercado de trabalho, não só de Assistente Sociais, mas também de outras 
especialidades do trabalho coletivo, demarcando claramente a fronteira entre práticas 
sociais de filantropia (as chamadas protoformas do Serviço Social) e a força de trabalho 
assalariada que se institucionaliza nos anos 1940.
O Serviço Social se gesta e se desenvolve como profissão reconhecida na divisão
social e técnica do trabalho, tendo por pano de fundo o desenvolvimento 
capitalista industrial e a expansão urbana, processos esses aqui apreendidos sob 
o ângulo das novas classes sociais emergentes – a constituição e expansão do 
proletariado e da burguesia industrial [...]. É nesse contexto, em que se afirma a 
hegemonia do capital industrial e financeiro, que emerge, sob novas formas, a 
chamada “questão social”, a qual se torna a base de justificação desse tipo de 
profissional especializado (IAMAMOTO e CARVALHO, 1995, p.77).
No que diz respeito à “questão social”, sua conhecida definição, da autoria de 
Cerqueira Filho (1982), é significativamente redimensionada, ganhando em densidade e 
determinações, posto que matizada pelas categorias centrais à análise marxiana –
especialmente as que comparecem na lei geral da acumulação – d´O Capital. Nesta 
29
concepção, a gênese da “questão social” é explicada pelo processo de acumulação ou 
reprodução ampliada do capital: a incorporação pelos capitalistas das inovações 
tecnológicas, tendo em vista o aumento da produtividade do trabalho social e diminuição do 
tempo de trabalho socialmente necessário à produção de mercadorias, produz um 
movimento simultâneo de aumento do capital constante e diminuição do capital variável, 
empregado na força de trabalho.
Com isso, o decréscimo relativo de capital variável aparece inversamente como 
crescimento absoluto da população trabalhadora, mais rápido que os meios de 
ocupação. Assim, o processo de acumulação produz uma população relativamente 
supérflua e subsidiária às [suas] necessidades. [...] [O aumento da extração da 
mais valia relativa e absoluta] faz com que o trabalho excedente dos segmentos 
ocupados condene à ociosidade socialmente forçada amplos contingentes de 
trabalhadores aptos ao trabalho e impedidos de trabalhar [...]. Cresce, pois uma 
superpopulação relativa para esse padrão de desenvolvimento: não são os “inúteis 
para o mundo”, a que se refere Castel, mas os supérfluos para o capital, acirrando 
a concorrência entre os trabalhadores – a oferta e a procura – com evidente 
interferência na regulação dos salários. [...] parcela da população trabalhadora 
cresce sempre mais rapidamente do que a necessidade de seu emprego para os 
fins de valorização do capital [...]. Gera, assim uma acumulação da miséria 
relativa à acumulação do capital, encontrando-se aí a raiz da produção/reprodução 
da questão social na sociedade capitalista (IAMAMOTO, 2001 p.14-15).
Uma vez colocadas no debate, essas premissas passam a ser incorporadas dos mais
diversos modos pela cultura profissional, fortalecendo o processo de ruptura com o Serviço 
Social Tradicional. Isso ocorre na medida em que respondem pela possibilidade de 
superação de análises endogenistas (MONTAÑO,1998), demarcando que a história da 
profissão é um aspecto particular da história da sociedade brasileira, determinada pela
lógica do capitalismo mundial.
Entretanto, nesse primeiro momento de incorporação da concepção de profissão em 
tela, que cobre os anos 1980 até meados dos anos 1990, penso terem sido poucos os 
pesquisadores além de Iamamoto, a exemplo de Netto9 e Martinelli (1995), que deram o 
devido destaque à “questão social” no conjunto das premissas supracitadas.
No debate acerca da história da profissão, típico dos anos 1980, visivelmente 
laterais são as menções à “questão social” para entender a legitimação desta profissão pelo 
 
9 Remeto aqui às duas mais expressivas obras do autor sobre a profissão, que originalmente compuseram sua 
tese de doutoramento: “Capitalismo Monopolista e Serviço Social” e “Ditadura e Serviço Social no Brasil”.
30
Estado capitalista. Muito embora já passando por revisões críticas desde o Movimento de 
Reconceituação, a discussão acerca da história da profissão aparecia nesse cenário 
dominada pelo “endogenismo”. Disso nos fala Montaño (1998), analisando a produção 
bibliográfica sobre o tema e indicando que apesar de já reivindicarem uma perspectiva de 
totalidade, alguns autores “caem na armadilha” da endogenia, conferindo centralidade a 
aspectos como as “personalidades inovadoras” e os processos de “tecnificação da 
filantropia”. Martinelli, por exemplo, apesar de realizar toda uma contextualização da 
gênese profissional a partir da “questão social” no capitalismo dos monopólios, apresenta o 
surgimento da profissão na Europa articulado à 
tarefa de racionalizar a assistência [...]. Da aliança da alta burguesia inglesa com a 
Igreja e o Estado nascera, sob iniciativa da primeira, a Sociedade de Organização 
da Caridade. Em seus esforços para racionalizar a assistência, ela criara a 
primeira proposta de prática para o Serviço Social no terço final do século XIX 
(1995, p. 99).
Não sendo meu objetivo analisar o debate em torno da história da profissão, 
tangenciá-lo é inevitável, dado que a “questão social” aparece a ele vinculado. Aparece, 
entretanto, de um modo coadjuvante,uma vez que nessa época parece não receber o devido 
destaque, tendo em vista a sua ausência no rol da produção bibliográfica em relação a 
outros debates, como o das “políticas sociais” e o da “metodologia”, cuja expressão 
bibliográfica é bem mais saliente do ponto de vista quantitativo no período em questão.
Percebo, dessa forma, que o status em torno do debate da “questão social” se 
alterará substantivamente com o desencadeamento da última revisão curricular, em 
1993/94. Nesse sentido (e apesar das demais publicações acima referidas), considero que 
somente quando aprovadas as atuais “Diretrizes Curriculares” que reafirmam a centralidade 
do trabalho e da “questão social” como transversais e fundantes da profissionalidade do 
Serviço Social tem-se seu potencial explicativo valorizado10.
É esse o marco que coloca ambos os temas no seu auge em termos de produção 
bibliográfica no interior do Serviço Social brasileiro nos primeiros anos do século XXI, 
curiosamente quando parecem estar sendo abandonados pelas ciências sociais de um modo 
geral. De um lado a “mal” chamada “crise de paradigmas” e as correntes pós-modernas 
 
10 Com esta análise, embora em ouros termos, também parece concordar Iamamoto (2007, p. 181-186).
31
afirmavam que a sociedade contemporânea prescindia da categoria “trabalho” para ser 
compreendida; de outro, a crise do capitalismo e seus impactos no mundo do trabalho 
levam à produção bibliográfica de autores europeus “descobrindo” a existência de uma 
“nova questão social”11.
O conjunto de pesquisadores ligados à tradição marxista no Serviço Social enfrenta 
ambos os debates, não sem a existência de polêmicas internas, até os dias atuais. Trata-se 
de um esforço coletivo na direção de consolidar o projeto ético-político formulado como 
conseqüência da ruptura com o tradicionalismo, reafirmando a centralidade dessas
mediações (trabalho e “questão social”) tanto no âmbito da formação quanto do exercício 
profissional.
Interessando-me mais particularmente pelo debate travado em torno da “questão 
social”, pretendo problematizar algumas de suas ausências a partir de um balanço que 
obviamente não se pretende exaustivo. Mais precisamente, interessa-me problematizar a 
parcela mais significativa dessa produção bibliográfica12 observando até que ponto ela 
ajuda, a partir de seus diversificados desdobramentos, a entender o Serviço Social. Nesse 
sentido, a questão que se coloca é: será que o potencial explicativo da “questão social” tem 
sido explorado suficientemente na produção bibliográfica recente do Serviço social 
brasileiro? Essa discussão está sendo suficientemente articulada a outras mediações 
essenciais para entender o Serviço Social, a exemplo do debate sobre o trabalho, as 
políticas sociais e a particularidade do capitalismo brasileiro? Sem mais delongas, vamos a 
elas.
1.2.1. A reflexão teórica sobre a “questão social” no Serviço Social
As ponderações que tenho a levantar sobre o observado nas leituras do material que 
debate a “questão social” no interior do Serviço Social dizem respeito, conforme já 
anunciado, mais às suas ausências que às suas polêmicas13. Sem dúvida, embora este não 
 
11 Obviamente que se trata nesse momento de uma rápida alusão ao contexto que demarca os principais 
debates da teoria social contemporânea, que será devidamente retomado de modo mais cuidadoso ao longo da
tese.
12 Refiro-me às produções de circulação nacional, uma vez que sua acessibilidade ao público profissional é 
maior. Essa opção exclui, conseqüentemente, do universo de pesquisa vários trabalhos de pós-graduação e 
eventuais artigos publicados em periódicos de circulação restrita, conforme salientado na apresentação dessa 
tese.
13 Polêmicas expressas, por exemplo, na posição defendida por Pereira (2001) pontuando que “não tem 
certeza da existência atual do fenômeno que este conceito composto quer representar, seja com o adjetivo 
32
seja o meu objetivo, tais publicações estão a merecer uma análise mais acurada, que 
evidencie não só as suas polêmicas, mas também as diferentes (in) compreensões presentes 
que, na minha avaliação, apresentam como uma das tendências o permanente 
revigoramento do sincretismo (NETTO, 1992) no interior do Serviço Social14.
Retomo, uma vez mais, o ponto de partida da introdução a esse debate no Serviço 
Social que se dá quando Iamamoto (IAMAMOTO e CARVALHO,1995) afirma que
o surgimento e desenvolvimento [do serviço social] são vistos a partir do prisma 
da “questão social” [...] [entendida como] as expressões do processo de formação 
e desenvolvimento da classe operária e seu ingresso no cenário político da 
sociedade, exigindo seu reconhecimento como classe por parte do Estado. É a 
manifestação, no cotidiano da vida social, da contradição entre o proletariado e a 
burguesia, a qual passa a exigir outros tipos de intervenção, mais além da 
caridade e repressão (p.19 &77). 
Com essa reflexão, considero que o marco conceitual do debate sob o prisma do 
marxismo estava consideravelmente estabelecido. 
É fato reconhecido que a análise marxiana do capitalismo, em especial, da lei geral da 
acumulação, apesar de não tratar diretamente da “questão social”, “revela a [sua] anatomia 
[...], sua complexidade, seu caráter de corolário (necessário) do desenvolvimento capitalista 
em todos os seus estágios” (NETTO, 2001, p. 45) e isso já aparecia articulado nas análises 
de Iamamoto (1995 e 2001). Obviamente que essa introdução bem sucedida não exime a 
necessidade de maiores desdobramentos teórico-conceituais, até porque o ponto de vista do 
marxismo não é o único que se coloca no debate profissional contemporâneo.
 
‘nova’, seja com o substantivo ‘questão’. Portanto o [seu] ceticismo em relação ao conceito vai um pouco 
além do daqueles que questionam apenas a pertinência do adjetivo. [Questiona] também a justeza do termo 
‘questão’ para designar problemas e necessidades atuais, que, apesar de dramáticos e globais, e de produzirem 
efeitos nefastos sobre a humanidade, se impõem sem problematizações de peso e, portanto, sem 
enfrentamentos à altura por parte de forças sociais estratégicas” (p.51).
14 Exemplo ilustrativo desse reforço ao sincretismo teórico na profissão é a comum equalização entre 
exclusão social e “questão social”. O n° 06 da “Revista Ser Social” (publicação da Pós-graduação em Política 
Social da UnB) foi temático sobre “questão social” e Serviço Social. Nela Schwartz e Nogueira (2000) 
pasteurizam as diferenças existentes entre as concepções do debate fazendo afirmações como a que segue 
registrada na nota de rodapé n° 4 (p.97): “Entre os autores que discutem a temática da 
igualdade/desigualdade nos dias de hoje isto é, da exclusão social como uma das faces da questão social, estão 
Robert Castel, Vera Telles, José de Souza Martins, Luís Eduardo Wanderley e Elimar Nascimento ”. Outros 
exemplos podem ser encontrados nessa mesma publicação nos artigos de Serra (2000) e Demo (2000).
33
O que pretendo salientar com a afirmação de que esse marco inicial é já 
suficientemente denso do ponto de vista teórico-conceitual15 é que, após o longo intervalo 
existente entre essa reflexão e as demais, que datam dos primeiros anos do séc. XXI
(conforme hipótese já apresentada), registram-se poucas inovações nas publicações. 
Percebo assim que, de um modo geral, a análise da produção bibliográfica nacional sobre a 
“questão social” no Serviço Social apresenta poucos aprofundamentos em relação ao 
marco inicial do debate supracitado. Isto significa dizer do tanto de tintajá gasto para 
afirmar mais do mesmo: a “questão social” é expressão das relações de exploração do 
trabalho pelo capital. Nesse ínterim será inevitável uma certa repetitividade tendo em vista 
a necessidade de demonstrar os fundamentos dessa assertiva.
Começarei transcrevendo um trecho do livro de Pastorini (2004), que sistematiza 
um “balanço” do debate com autores como Castel, Rosanvallon, Heller e Féhér, com 
autores do Serviço Social (notadamente os publicados na Revista “Temporalis” (2001) 
sobre o tema), mas também com Wanderley (2000). Note-se que tal “balanço” é 
contextualizado, especialmente no primeiro capítulo, pelas mudanças na sociedade 
contemporânea, onde comparecem os elementos da crise capitalista recente e suas 
conseqüências no âmbito das relações e processos de trabalho, bem como dos padrões de 
proteção social. Ao delimitar “o novo e o que permanece”, essas são as suas conclusões 
mais significativas:
Sintetizando, poderíamos dizer que a problemática da “questão social”, 
reformulada e redefinida nos diferentes estágios capitalistas, persiste 
substantivamente sendo a mesma. Sua estrutura tem três pilares centrais: em 
primeiro lugar, poderíamos afirmar que a “questão social” propriamente dita 
remete à relação capital/trabalho (exploração), seja vinculada diretamente com 
o trabalho assalariado ou com o “não-trabalho”; em segundo, que o atendimento 
da “questão social” vincula-se diretamente àqueles problemas e grupos sociais 
que podem colocar em xeque a ordem socialmente estabelecida (preocupação 
com a coesão social); e, finalmente, que ela é expressão das manifestações das 
desigualdades e antagonismos ancorados nas contradições da sociedade 
capitalista (PASTORINI, 2004, p. 110-111 – grifos em negrito meus).
 
15 Por “teórico-conceitual” o leitor deve entender o conjunto de observações e análises atinentes aos aspectos 
“reflexivos” do debate em torno da “questão social”. Trata-se de uma designação para nomear os 
apontamentos que, tendo evidentes conexões com a realidade, dirigem-se à constituição conceitual da 
“questão social”, diferente, por exemplo, de esforços de pesquisa que possam rumar na direção de suas 
expressões, estas sim categorialmente existentes (ontológica e reflexivamente).
34
Santos (2004), por sua vez também confrontando a concepção marxista com a de 
Castel e Rosanvallon sobre a “questão social”, pretende “refletir sobre a temática da 
questão social na atualidade, debruçando [-se] em aspectos decisivos relacionados ao 
debate contemporâneo” (p.65). Expõe, para tanto, traços relativos à gênese da “questão 
social” e aos mecanismos instituídos como respostas a ela, enfatizando, nesse particular, o 
papel que a regulação pactuada do trabalho e as conquistas do período fordista tiveram no 
sentido de um reforço ao reformismo no interior das organizações da classe trabalhadora. 
Sumaria ainda aspectos da crise contemporânea que incidem tanto sobre as manifestações 
da “questão social” quanto sobre suas respostas. Deve-se ressaltar, entretanto, que essa 
exposição se faz no nível de universalidade, ou seja, do ponto de vista do capitalismo em 
geral, cabendo, mais propriamente, à realidade dos países cêntricos. Só então ela inicia o 
debate com as concepções Castel e Rosanvallon, expondo-lhes os principais argumentos. 
Suas conclusões após esse trajeto encontram-se citadas a seguir:
Portanto, as proposições de Castel e Rosanvallon com relação à reinvenção do 
Estado com vistas a manter a coesão social não encontram sustentação em termos 
de resolutividade para o problema do pauperismo, enquanto expressão da 
denominada “nova questão social”. Na verdade, observa-se que o essencial da 
questão social na atualidade permanece, ou seja, a contradição existente 
entre capital e trabalho. Assim, o que se denomina hoje “nova questão social” 
se constitui numa nova forma de enfrentar um velho problema.
A atualização histórica da questão social se expressa, de fato, na recente 
configuração econômico-mundial no contexto do desemprego, gerador de 
pobreza, no refluxo da luta dos trabalhadores pela subordinação ao capital, na 
retração dos direitos e garantias sociais ou na sua reformulação para adaptar-se à 
nova conjuntura. A tendência de redução das funções do Estado na reprodução da 
força de trabalho desloca parte de suas atribuições anteriores para setores da 
sociedade civil, convocando à parceria, à solidariedade e ao trabalho voluntário 
no combate aos efeitos do pauperismo (SANTOS, 2004, p. 81-82 – grifos meus).
Nascimento (2004), outra autora que intervém no debate sobre o tema, no que pese 
apresentar em seu texto uma nota de rodapé (n° 4) com elementos essenciais a um processo 
de particularização histórica do debate sobre a “questão social” no Brasil, e, especialmente 
na Amazônia – onde introduz os nexos entre a realidade nacional e o contexto do 
imperialismo –, não os toma como epicentro do referido artigo. Neste, sua preocupação é a 
de pensar a “questão social” a partir do desenvolvimento capitalista e, nesse sentido, volta-
se, como Santos (2004), também para aspectos universais do debate. Retoma a gênese da 
35
“questão social” associada aos processos de expropriação e acumulação primitiva do capital 
e assinala em suas conclusões que 
[...] a importância das questões postas neste texto funda-se, assim, na necessidade 
de uma apreensão mais consistente dos processos históricos que, ao constituírem 
o sistema capitalista, constituíram a própria emergência da “questão social”. A 
formação daquela massa humana, a partir da expropriação do homem de seus 
meios de produção é elemento central para a compreensão dos processos 
históricos que constituíram o capitalismo. O que esteve em jogo naquela 
expropriação foi a propriedade privada, elemento constitutivo do modo de 
produção capitalista, e é por isso que o aporte marxiano nos faz compreender que 
a pobreza gerada na transição do feudalismo para o capitalismo não se deveu, 
como o queriam os historiadores burgueses, ao fim da servidão, mas à derrota 
completa da propriedade coletiva dos meios de produção. Aquela massa de 
trabalhadores expulsa do campo e compelida coercitivamente ao mercado de 
trabalho capitalista é agora, quase dois séculos depois, expulsa novamente, desta 
vez daquele mercado. Aos clássicos miseráveis produzidos pela modernidade 
incompleta, juntaram-se os miseráveis do capitalismo da idade dos 
monopólios, mantidos todos pelo mesmo fundamento ontológico: a 
exploração do trabalho pelo capital (NASCIMENTO, 2004, p. 61).
Sem pretender negar a importância de demarcar conclusões como essas no debate 
teórico contemporâneo, marcado pela negação de categorias como trabalho e classes 
sociais, há que se reconhecer que as mesmas não constituem propriamente uma novidade. 
São, antes, reafirmações de supostos que balizam historicamente o nosso debate sobre os 
fundamentos da “questão social” no Serviço Social. Partindo de uma concepção marxista 
do debate, os aspectos enfatizados quase sempre dizem respeito aos seus determinantes 
universais, próprios ao “modo de produção”, repetindo exaustivamente a premissa de que a 
gênese e o desenvolvimento da “questão social” devem ser tributados à exploração do 
trabalho pelo capital.
Entre tais reflexões penso que uma delas merece menção por introduzir, do ponto de 
vista conceitual, uma determinação até então inexplorada. Trata-se do artigo de Netto 
(2001), onde, retomando a definição de que a exploração do trabalho pelo capital é o traço 
fundante da “questão social”, o mesmo clarifica que essa é apenas sua “determinação 
molecular” e acrescenta, falando da emergência da “questão social” no capitalismo 
industrial, que
se não era inédita a desigualdade entre as várias camadas

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