Buscar

QUESTÕES DE FILOSOFIA COMENTADAS - OAB

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 15 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 15 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 15 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

FILOSOFIA DO DIREITO
FGV/OAB – XXIX Exame Unificado
“Mas a justiça não é a perfeição dos homens?” (PLATÃO, A República. Lisboa: Calouste Gulbenkian, 1993). O conceito de justiça é o mais importante da Filosofia do Direito. Há uma antiga concepção segundo a qual justiça é dar a cada um o que lhe é devido. No entanto, Platão, em seu livro A República, faz uma crítica a tal concepção. Assinale a opção que, conforme o livro citado, melhor explica a razão pela qual Platão realiza essa crítica. 
A) Platão defende que justiça é apenas uma maneira de proteger o que é mais conveniente para o mais forte. 
B) A justiça não deve ser considerada algo que seja entendido como virtude e sabedoria, mas uma decorrência da obediência à lei. 
C) Essa ideia implicaria fazer bem ao amigo e mal ao inimigo, mas fazer o mal não produz perfeição, e a justiça é uma virtude que produz a perfeição humana. 
D) Esse é um conceito decorrente exclusivamente da ideia de troca entre particulares, e, para Platão, o conceito de justiça diz respeito à convivência na cidade. 
Comentário
Platão é um dos grandes autores do jusnaturalismo, e talvez o maior deles. No Livro I de A República, Polemarco, um dos personagens da cena, recupera o argumento que seu pai, Céfalo, acabara de desenvolver, e afirma que “é justo devolver a cada um o que lhe é devido” (331e). Na sequência, desenvolve sua posição e diz que “justiça é ajudar os amigos e prejudicar os inimigos” (334b).
Sócrates, porta-voz de Platão no diálogo, coloca-se contra tais posicionamentos e afirma que: “Se alguém afirma que é justo devolver a cada um o que lhe é devido, e se para ele isso significa que aos inimigos, da parte do homem justo, o devido é causar-lhes prejuízo, mas aos amigos prestar ajuda, não seria sábio quem o diz, pois sua afirmação não é verdadeira. Em momento algum ficou evidente que seja justo prejudicar alguém” (335e). 
Na parte final do primeiro livro, Sócrates aponta que “justiça é virtude” (353e), o que prepara a elaboração dos argumentos presentes nos livros seguintes, que apresentarão sua concepção de justiça (aliando-a, entre outros aspectos, com a noção de perfeição).
“Costuma-se dizer que o ordenamento jurídico regula a própria produção normativa. Existem normas de comportamento ao lado de normas de estrutura... elas não regulam um comportamento, mas o modo de regular um comportamento...”
(BOBBIO, Norberto. Teoria do Ordenamento Jurídico. Brasília: Ed. UnB, 1989). A atuação de um advogado deve se dar com base no ordenamento jurídico. Por isso, não basta conhecer as leis; é preciso compreender o conceito e o funcionamento do ordenamento. Bobbio, em seu livro Teoria do Ordenamento Jurídico, afirma que a unidade do ordenamento jurídico é assegurada por suas fontes. Assinale a opção que indica o fato que, para esse autor, interessa notar para uma teoria geral do ordenamento jurídico, em relação às fontes do Direito. 
A) No mesmo momento em que se reconhece existirem atos ou fatos dos quais se faz depender a produção de normas jurídicas, reconhece-se que o ordenamento jurídico, além de regular o comportamento das pessoas, regula também o modo pelo qual se devem produzir as regras. 
B) As fontes do Direito definem o ordenamento jurídico como um complexo de normas de comportamento referidas a uma dada sociedade e a um dado momento histórico, de forma que garante a vinculação entre interesse social e comportamento normatizado. 
C) Como forma de institucionalização do direito positivo, as fontes do Direito definem o ordenamento jurídico exclusivamente em relação ao processo formal de sua criação, sem levar em conta os elementos morais que poderiam definir uma norma como justa ou injusta. 
D) As normas, uma vez definidas como jurídicas, são associadas num conjunto específico, chamado de direito positivo. Esse direito positivo é o que comumente chamamos de ordenamento jurídico. Portanto, a fonte do Direito que institui o Direito como ordenamento é a norma, anteriormente definida como jurídica. 
Comentário
Norberto Bobbio é um dos grandes filósofos e teóricos do direito do século XX, com marcada influência no Brasil. O autor apresenta o ordenamento jurídico, consoante consta na citação presente no enunciado da questão, a partir da combinação entre as normas de comportamento e as normas de estrutura.
As normas de comportamento são aquelas diretamente preocupadas mediar condutas, ou em regular comportamentos. As normas de estrutura, por seu turno, ensina Bobbio, dispõem sobre o modo de regular os comportamentos, ou seja, sobre “o modo pelo qual se devem produzir as regras. Costuma-se dizer que o ordenamento jurídico regula a própria produção normativa”. 
Em outras palavras, o que o pensador indica é que as normas de conduta criadas pelo sistema encontram meios próprios e oriundos desse mesmo sistema para sua alteração ou extinção. Tem-se, portanto, que o sistema se autorregula em sua gênese, manutenção e convivência interna das próprias normas. Nesses termos, pode-se afirmar que, em certo sentido, o direito é sua própria fonte, ou o direito (normas de estrutura) é a fonte do direito (normas de comportamento).
FGV/OAB – XXVIII Exame Unificado
“Isso pressupõe que a norma de justiça e a norma do direito positivo sejam consideradas como simultaneamente válidas. Tal, porém, não é possível, se as duas normas estão em contradição, quer dizer, entram em conflito uma com a outra. Nesse caso apenas uma pode ser considerada como válida” (Hans Kelsen). Sobre a relação entre validade e justiça da norma, o jusfilósofo Hans Kelsen, em seu livro O Problema da Justiça, sustenta o princípio do positivismo jurídico, para afirmar que: 
A) a validade de uma norma do direito positivo é independente da validade de uma norma de justiça. 
B) o direito possui uma textura aberta que confere, ao intérprete, a possibilidade de buscar um equilíbrio entre interesses conflitantes. 
C) o valor de justiça do ato normativo define a validade formal da norma; por isso valor moral e valor jurídico se confundem no direito positivo. 
D) a validade de uma norma jurídica se refere à sua dimensão normativa positiva, à sua dimensão axiológica, e também, à sua dimensão fática. 
Comentário
Hans Kelsen é um dos maiores nomes da teoria do direito do século XX. Seu positivismo jurídico pode ser designado de normativista, e com isso se pretende dizer, entre outras coisas, que o direito, nessa visão, pode ser definido como norma. Para o autor, o direito deve ser encarado como fato, e não como valor. Nesse sentido, o valor de justiça deixa de se relacionar, ao menos essencialmente, com o direito, e a validade de uma norma do direito positivo é apurada a partir de critérios formais constantes no próprio ordenamento.
De uma maneira mais ampla, a polêmica entre as teorias que defendem o direito natural e as teorias que consideram o direito positivo como único direito existente (ou ao menos o único direito válido) se funda no fato de que para os defensores do direito natural o propósito em jogo é o de se determinar uma ordem justa para as relações humanas. Já para os teóricos do positivismo, a tentativa é reduzir a ciência jurídica ao estudo do direito positivo e sua interpretação, mantendo a diferença – e mesmo o contraste – entre “justo” e “jurídico”.
O direito natural tem como pressuposto uma ordem natural emanada da natureza, de Deus ou da razão – trata-se, para Kelsen, de um direito cujo fundamento de validade é material. De outro lado, o fundamento de validade do direito positivo é formal, eis que esse direito é criado ou construído artificialmente por uma autoridade humana específica, derivando da vontade (algo que, na visão do autor, opõe-se à natureza, que é dada, involuntária, por assim dizer).
Uma das mais importantes questões para a Filosofia do Direito diz respeito ao procedimento que define uma norma jurídica como sendo válida. Para o jusfilósofo Herbert Hart, em O Conceito de Direito, o fundamento de validade do Direito baseia-se na existência de uma regra de reconhecimento,sem a qual não seria possível a existência de ordenamentos jurídicos. Segundo Hart, assinale a opção que define regra de reconhecimento.
A) Regra que exige que os seres humanos pratiquem ou se abstenham de praticar certos atos, quer queiram quer não.
B) Regra que estabelece critérios segundo os quais uma sociedade considera válida a existência de suas próprias normas jurídicas.
C) Regra que impõe deveres a todos aqueles que são reconhecidos como cidadãos sob a tutela do Estado.
D) Regra que reconhece grupos excluídos e minorias sociais como detentores de direitos fundamentais.
Comentário
Segundo Hart, o direito é a união de regras primárias e secundárias. As regras primárias são as que regulam diretamente os comportamentos dos homens (como, por exemplo, a regra que obriga os cidadãos com determinada renda declararem os impostos devidos).
Regras secundárias, por seu turno, podem ser de três espécies: regra de reconhecimento (que define o que é e o que não é direito), regra de modificação (que dita como alterar o direito existente) e regra de aplicação (que dispõe sobre os atores autorizados a decidir).
A regra de reconhecimento define os critérios a partir dos quais uma norma é identificada, ou seja, a partir dos quais algo pode ser chamado de direito. Ora, a regra de reconhecimento fica relacionada diretamente à validade das demais regras do sistema, já que ela estabelece os critérios de validade de tais normas. Em um certo sentido, pois, a regra de reconhecimento é a regra última do ordenamento ou sistema.
FGV/OAB – XXVII Exame Unificado
“Algo mais fundamental do que a liberdade e a justiça, que são os direitos dos cidadãos, está em jogo quando deixa de ser natural que um homem pertença à comunidade em que nasceu...” (ARENDT, Hannah. As Origens do Totalitarismo. São Paulo: Cia. das Letras, 2012). A situação atual dos refugiados no mundo provoca uma reflexão jusfilosófica no sentido do que já havia pensado Hannah Arendt, logo após a II Guerra Mundial, em sua obra As Origens do Totalitarismo. Nela, a autora sustenta que o mais fundamental de todos os direitos humanos é o direito a ter direitos, o que não ocorre com os apátridas. Segundo a obra em referência, assinale a opção que apresenta a razão pela qual o homem perde sua qualidade essencial de homem e sua própria dignidade. 
A)  Ser privado de direitos subjetivos específicos previstos no ordenamento jurídico pátrio. 
B)  Viver sob um regime de tirania que viola a liberdade de crença e limita a liberdade de expressão.
C)  Cumprir pena de privação da liberdade, quando executada em penitenciárias sob condições desumanas.
D)  Deixar de pertencer a uma comunidade organizada, disposta e capaz de garantir quaisquer direitos.
Comentário
Hannah Arendt faz uma famosa crítica aos direitos humanos que tem como objeto a questão do seu universalismo. É interessante notar que a autora escreveu sobre o tema quando ela própria estava em situação de apátrida – uma judia alemã que havia perdido a sua cidadania em 1935. 
O trabalho de Arendt passa pelo apontamento da fragilidade de argumento daqueles que entendem que os direitos humanos seriam universais, e isso é feito exatamente mediante o recurso ao caso dos apátridas e refugiados, ou seja, daqueles que são os grupos de indivíduos mais vulneráveis a sofrer violações. A filósofa aponta, como dito, que o fundamental para se acessar os direitos humanos é ter a posse de uma cidadania, sem a qual se perde o “direito a ter direitos” e, portanto, a possibilidade de lutar pela concretização dos direitos humanos. 
“Concebo, na espécie humana, dois tipos de desigualdade: uma que chamo de natural ou física, por ser estabelecida pela natureza e que consiste na diferença das idades, da saúde, das forças do corpo e das qualidades do espírito e da alma; a outra, que se pode chamar de desigualdade moral ou política, porque depende de uma espécie de convenção e que é estabelecida ou, pelo menos, autorizada pelo consentimento dos homens” (ROUSSEAU, Jean-Jacques. Discurso sobre a Origem e os Fundamentos da Desigualdade entre os Homens. Coleção “Os Pensadores”. São Paulo: Abril Cultural, 1978). Levando em consideração o trecho acima, assinale a afirmativa que apresenta a perspectiva de Rousseau sobre como se coloca o problema da desigualdade. 
A) As desigualdades naturais são a causa das desigualdades morais, uma vez que as diferenças naturais se projetam na vida política. 
B) As desigualdades naturais são inaceitáveis; por isso, o homem funda a sociedade civil por meio do contrato social. 
C) As desigualdades naturais são aceitáveis, mas as desigualdades morais não o são, pois consistem em privilégios de uns sobre os outros. 
D) Todas as formas de desigualdade consistem num fato objetivo, devendo ser compreendidas e toleradas, pois elas geram o progresso humano e produzem mais bens do que males. 
Comentário
O que interessa a Rousseau no Discurso sobre a Origem e os Fundamentos da Desigualdade entre os Homens é, de fato, a desigualdade moral. Sobre as desigualdades naturais, nada há que se fazer, pois independem dos homens, evidentemente. Já sobre a desigualdade moral é possível discutir. Com efeito, diz Rousseau, em famosa passagem do texto, que: “O primeiro que, ao cercar um terreno, teve a audácia de dizer isto é meu e encontrou gente bastante simples para acreditar nele foi o verdadeiro fundador da sociedade civil [...] Não escutem esse impostor! Estarão perdidos se esquecerem que os frutos são de todos e a terra é de ninguém!”. 
Rousseau enfrenta o problema da desigualdade moral pois, para ele, é esse tipo de desigualdade que faz com que um homem submeta outro. Seu propósito no livro é o de registrar o progresso das coisas no exato momento em que, sucedendo o direito à violência, o homem passou a submeter-se à lei. No entanto, para o autor os fortes terminaram por ter êxito em servir-se dos fracos, que acreditavam ao ingressar no estado civil que estariam ingressando em um tipo de vida melhor. O motivo real de isso não ter ocorrido, no fundo e fundamentalmente, foi o do estabelecimento da propriedade privada.
FGV/OAB – XXVI Exame Unificado
Em tempos de mudanças e reformas, é comum assistirmos a diferentes tipos de lutas sociais, especialmente visando à garantia de direitos e à conquista de novos direitos. Em A Luta pelo Direito, o jurista alemão Rudolf Von Ihering afirma que o fim do Direito é a paz, mas o meio de atingi-lo é a luta. Considerando essa afirmação e de acordo com o livro citado, assinale a opção que melhor caracteriza o pensamento jusfilosófico de Ihering. 
A)  O Direito é sempre o produto do espírito do povo, que é passado de geração em geração. Por isso, quando se fala em Direito é preciso sempre olhar para a história. O Direito romano é a melhor expressão desse processo social-histórico. 
B)  O Direito de uma sociedade é a expressão dos conflitos sociais dela e resulta de uma luta de pessoas e grupos pelos seus próprios direitos subjetivos. Por isso, o Direito é uma força viva, e não uma ideia. 
C)  O Direito resulta exclusivamente da ação institucional do Estado. É no parlamento que são travadas as lutas políticas que definem os direitos subjetivos presentes no Direito Positivo de uma dada sociedade. 
D)  O Direito é parte da infraestrutura da sociedade e resulta de um processo de luta de classes, no qual a classe dominante usa o Direito para manter o controle sobre os dominados. 
Comentário
Diz Ihering, em A Luta pelo Direito, que: “A vida do direito é uma luta – uma luta dos povos, do poder estatal, das classes e dos indivíduos. De facto, o direito só tem significado como expressão de conflitos, representando os esforços da humanidade para se domesticar. Infelizmente, porém, o direito tem tentado combater a violência e a injustiça com meios que, num mundo racional, seriam tidos por estranhos e desgraçados. É que o direito nunca tentou verdadeiramente resolver os conflitos da sociedade, mas apenas aliviá-los, pois promulga regras segundo as quais esses conflitosdevem ser travados até ao fim”.
Ihering propõe, portanto, que só na batalha, na luta, os cidadãos conhecerão e encontrarão o direito, pois o direito não é apenas uma teoria pura, e sim uma força viva. É nesses termos, importa notar, que a justiça sustenta numa das mãos a balança, em que o direito é medido, pesado, e na outra mão a espada, que serve para o defender, para lutar com e por ele. Sem a balança, frise-se, a espada é a violência bruta. De outra feita, sem a espada a balança pode ser anulada, indicando fraqueza do (e no) direito.
Em seu livro Levando os Direitos a Sério, Ronald Dworkin cita o caso “Riggs contra Palmer”, em que um jovem matou o próprio avô para ficar com a herança. O Tribunal de Nova Iorque (em 1889), ao julgar o caso, deparou-se com o fato de que a legislação local de então não previa o homicídio como causa de exclusão da sucessão. Para solucionar o caso, o Tribunal aplicou o princípio do direito, não legislado, que diz que ninguém pode se beneficiar de sua própria iniquidade ou ilicitude. Assim, o assassino não recebeu sua herança. Com base na obra citada, assinale a opção que melhor expressa uma das pretensões fundamentais da jusfilosofia de Ronald Dworkin. 
A)  Revelar que a responsabilidade sobre o maior ou menor grau de justiça de um ordenamento jurídico é exclusiva do legislador, que deve sempre se esforçar por produzir leis justas. 
B)  Mostrar como as Cortes podem ser ativistas quando decidem com base em princípios, não com base na lei, e que decidir assim fere o estado de Direito. 
C)  Defender que regras e princípios são normas jurídicas que possuem as mesmas características, de forma que se equivalem; por isso, ambos podem ser aplicados livremente pelos Tribunais. 
D)  Argumentar que regras e princípios são normas com características distintas, mas igualmente vinculantes e, em certos casos, os princípios poderão justificar, de forma mais razoável, a decisão judicial. 
Comentário
Para Dworkin, um dos grandes jusfilósofos contemporâneos, o direito não é formado apenas por regras, mas por princípios e regras. Essas são padrões que obedecem à lógica do tudo ou nada e cujos conflitos podem ser resolvidos apenas por exclusão (uma das regras exclui a outra) ou exceção (uma das regras se torna a regra geral, e a outra, sua exceção). 
Princípios, por sua vez, são padrões que obedecem a uma lógica de peso ou ponderação e cujos conflitos se resolvem por precedência ou prioridade. Ademais, os princípios, diferentemente das regras, não apresentam consequências jurídicas que se seguem automaticamente quando as condições são dadas.
Ora, aos princípios não se aplica o exame de validade cabível para as regras, e isso porque não são eles válidos por serem aprovados em um teste formal prévio: pelo contrário, os princípios tornam-se obrigatórios em razão de seu conteúdo e das exigências de justiça que representam. Segundo o autor, os princípios estão implícitos no material jurídico e nas decisões do passado, não podendo, como as regras, ser exaustivamente listados (eles são seguidamente descobertos ou construídos em processos interpretativos de aplicação do direito). Por fim, importa notar que os princípios consubstanciam razões jurídico-morais que justificam uma determinada decisão. Dito de outro modo, o recurso aos princípios no direito é valorativo, o que afasta a posição do positivismo jurídico segundo a qual a tarefa da teoria do direito é descrever o direito independentemente de qualquer tipo de consideração valorativa ou moral.
FGV/OAB – XXV Exame Unificado
A ideia da existência de lacuna é um desafio ao conceito de completude do ordenamento jurídico. Segundo o jusfilósofo italiano Norberto Bobbio, no livro Teoria do Ordenamento Jurídico, pode-se completar ou integrar as lacunas existentes no Direito por intermédio de dois métodos, a saber: heterointegração e autointegração. Assinale a opção que explica como o jusfilósofo define tais conceitos na obra em referência. 
A)  O primeiro método consiste na integração operada por meio de recursos a ordenamentos diversos e a fontes diversas daquela que é dominante; o segundo método consiste na integração cumprida por meio do mesmo ordenamento, no âmbito da mesma fonte dominante, sem recorrência a outros ordenamentos. 
B)  A heterointegração consiste em preencher as lacunas recorrendo-se aos princípios gerais do Direito, uma vez que estes não estão necessariamente incutidos nas normas do Direito positivo; já a autointegração consiste em solucionar as lacunas por meio das convicções pessoais do intérprete. 
C)  O primeiro método diz respeito à necessidade de utilização da jurisprudência como meio adequado de solucionar as lacunas sem gerar controvérsias; por outro lado, o segundo método implica buscar a solução da lacuna por meio de interpretação extensiva. 
D)  A heterointegração exige que o intérprete busque a solução das lacunas nos tratados e nas convenções internacionais de que o país seja signatário; por seu turno, a autointegração está relacionada à busca da solução na jurisprudência pátria. 
Comentário
O problema das lacunas, ou seja, da falta de norma(s) para a solução de um problema, abala o próprio conceito de ordenamento jurídico e a lógica da cientificidade almejada pelo direito. Por isso, Norberto Bobbio, notável jusfilósofo do século XX, procurou solucionar tal questão a partir dos recursos à heterointegração e à autointegração.
A heterointegração tem a ver com a integração – ou seja, com a possibilidade de completar o ordenamento – operada por meio de recursos a ordenamentos diversos e a fontes diversas daquela que é dominante (a lei), como, por exemplo, mediante o uso de ordenamentos anteriores, ou do direito natural, ou mesmo de outros ordenamentos vigentes no momento em outros locais. Está contemplado na heterointegração, ainda, o uso de costumes.
A autointegração, por sua vez, consubstancia-se na integração que é cumprida através dos elementos do mesmo ordenamento, no âmbito da mesma fonte do direito dominante, sem recurso a outros sistemas. Esse método apoia-se, basicamente, no procedimento da analogia.
“Uma punição só pode ser admitida na medida em que abre chances no sentido de evitar um mal maior” (Jeremy Bentham). Jeremy Bentham, em seu livro Princípios da Moral e da Legislação, afirma que há quatro casos em que não se deve infligir uma punição. Assinale a opção que corresponde a um desses casos citados pelo autor na obra em referência.
 
A)  Quando a lei não é suficientemente clara na punição que estabelece. 
B)  Quando o prejuízo produzido pela punição for maior do que o prejuízo que se quer evitar. 
C)  Quando o juiz da causa entende ser inoportuna a aplicação da punição. 
D)  Quando o agressor já sofreu o suficiente em função das vicissitudes do processo penal. 
Comentário
Jeremy Bentham, além do caso citado na resposta certa, entende que há outros três casos em que não se deve impor qualquer tipo de punição: (i) se não houver motivo para tanto, porque o ato não foi prejudicial; (ii) se for ineficaz a punição, pois ela não evita o prejuízo que já foi cometido; e (iii) se for desnecessária a punição, pois o prejuízo cessa por si mesmo.
Ora, a lógica que explica essas quatro situações fica clara quando lembramos que o autor é um dos principais nomes do chamado utilitarismo. Pois bem, segundo o princípio da utilidade, o ser humano age buscando o prazer e fugindo da dor; são esses os mecanismos que controlam a conduta humana e, portanto, explicam, entre outras coisas, a necessidade ou não de imputação de penalidades.
FGV/OAB – XXIV Exame Unificado
“O povo maltratado em geral, e contrariamente ao que é justo, estará disposto em qualquer ocasião a livrar-se do peso que o esmaga” (John Locke). O Art. 1º, parágrafo único, da Constituição Federal de 1988 afirma que “todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente”. Muitos autores associam tal disposição ao conceito de direito de resistência, um dos mais importantes da Filosofiado Direito, de John Locke. Assinale a opção que melhor expressa tal conceito, conforme desenvolvido por Locke na sua obra Segundo Tratado sobre o Governo Civil. 
A) A natureza humana é capaz de resistir às mais poderosas investidas morais e humilhações, desde que os homens se apoiem mutuamente. 
B) Sempre que os governantes agirem de forma a tentar tirar e destruir a propriedade do povo ou deixando-o miserável e exposto aos seus maus tratos, ele poderá resistir.
C) Apenas o contrato social, que tira o homem do estado de natureza e o coloca na sociedade política, é capaz de resistir às ameaças externas e às ameaças internas, de tal forma que institui o direito de os governantes resistirem a toda forma de guerra e rebelião. 
D) O direito positivo deve estar isento de toda forma de influência da moral e da política. Uma vez que o povo soberano produza as leis, diretamente ou por meio de seus representantes, elas devem resistir a qualquer forma de interpretação ou aplicação de caráter moral e político. 
Comentário
John Locke é um dos autores clássicos do contratualismo moderno, tendo produzido sua obra na Inglaterra do século XVII. É, ainda, um jusnaturalista, entendendo a vida, a liberdade e a propriedade como direitos naturais. Quanto ao Estado, sua função deve ser a de proteger e estimular ainda mais a concretização dos direitos citados, que em sua visão já existem no estado de natureza.
Nesse contexto, pensando nas relações entre governo e sociedade, é preciso considerar que entende Locke que se um governante não atende o direito natural, ou seja, não protege a vida, a liberdade e a propriedade, torna-se automaticamente um ilegal tirano, uma vez perdida a dimensão de busca da proteção do bem comum que justifica o poder político. Com isso, dá-se a dissolução do estado civil e o subsequente retorno ao estado de natureza. Para Locke, portanto, o direito de resistência pode ser legítimo.
“É verdade que nas democracias o povo parece fazer o que quer, mas a liberdade política não consiste nisso” (Montesquieu). No preâmbulo da Constituição da República, os constituintes afirmaram instituir um Estado Democrático destinado a assegurar, dentre outras coisas, a liberdade. Esse é um conceito de fundamental importância para a Filosofia do Direito, muito debatido por inúmeros autores. Uma importante definição utilizada no mundo jurídico é a que foi dada por Montesquieu em seu Do Espírito das Leis. Assinale a opção que apresenta a definição desse autor na obra citada. 
A)  A liberdade consiste na forma de governo dos homens, e não no governo das leis. 
B)  A disposição de espírito pela qual a alma humana nunca pode ser aprisionada é o que chamamos de liberdade. 
C)  Liberdade é o direito de fazer tudo o que as leis permitem. 
D)  O direito de resistência aos governos injustos é a expressão maior da liberdade. 
Comentário
Montesquieu foi um filósofos dos mais destacados do período iluminista. Sua obra apresenta uma descrição de viés naturalista das diversas formas de governo e das causas que os geraram (bem como das que os fazem avançar ou restringir em termos de desenvolvimento). Ele usou essa conta para explicar como os governos poderiam ser preservados da corrupção. Montesquieu entendia o despotismo como um perigo permanente para qualquer forma de governo, de modo que propôs que, no sentido de evitar a marcha de tal perigo, seria melhor estabelecer-se um sistema no qual corpos diferentes exerçam os poderes legislativo, executivo e judiciário (e no qual todos diferentes órgãos estivessem obrigados pela lógica do estado de direito). A teoria de Montesquieu teve amplo impacto na teoria política liberal e nos autores da constituição dos Estados Unidos da América, entre outras.
Na visão do filósofo, liberdade não significa simplesmente fazer o que se quer: se cada um tiver liberdade para, por exemplo, prejudicar os outros, logicamente tem-se que os outros também têm liberdade de se nos prejudicar. Em tal quadrante, fica claro que não há confiança em nossa própria segurança. 
A liberdade tem a ver com viver sob leis que protegem as pessoas de danos, deixando-as livres para fazer o máximo possível dentro de tais parâmetros, e isso permite que as pessoas sintam a maior confiança possível de que, obedecida a legislação, o Estado não direcionará seu poder contra elas.

Outros materiais