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AULA 5 GOVERNANÇA E REGULAÇÕES DA INTERNET NO BRASIL E NO MUNDO Prof. Armando Júnior 2 CONVERSA INICIAL Meios de regulação indireta Nesta aula, iniciaremos nossas conversas sobre os princípios do CGI.br para a Governança e uso da Internet no Brasil (Tema 1). Veremos os princípios do Conselho da Europa (CoE) (Tema 2), faremos uma análise da Comissão Europeia e o Internet Compact (Tema 3), trataremos de vislumbrar a estratégia Internacional para o Ciberespaço dos Estados Unidos (Tema 4) e, por fim, estudaremos os princípios no ambiente G8 (Tema 5). TEMA 1 – PRINCÍPIOS DO CGI.BR PARA A GOVERNANÇA E USO DA INTERNET NO BRASIL Antes de empreitarmos os princípios do CGI.br para governança e uso da Internet, buscamos o significado de governança da Internet. De acordo com Kurbalija (2016), a Cúpula Mundial sobre a Sociedade da Informação (CMSI)1 apresentou a seguinte definição prática sobre governança da Internet: Governança da Internet é o desenvolvimento e a aplicação pelos Governos, pelo setor privado e pela sociedade civil, em seus respectivos papéis, de princípios, normas, regras, procedimentos de tomadas de decisão e programas em comum que definem a evolução e o uso da Internet. Esta definição prática, um tanto ampla, não responde à questão das diferentes interpretações de dois termos-chave: ‘Internet’ e ‘governança’. (Kurbalija, 2016, p. 2) Contextos técnicos, culturais, sociais, econômicos e políticos da governança e uso da Internet no Brasil fazem parte dos Princípios do Comitê Gestor. Alguns dos princípios contidos nesta declaração tocam em pontos sensíveis, como é o caso da questão de acesso à Internet, que segundo o documento, deve ser universal e representar uma via de desenvolvimento social e humano, colaborando em benefício da comunidade e construindo uma sociedade inclusiva e não discriminatória. Incide que deve haver estabilidade na segurança e funcionalidade globais da rede, mantendo-as ativamente preservadas por meio de medidas técnicas que sejam compatíveis com os padrões internacionais, estimulando o uso das boas práticas. 1 A Resolução 56/183 (21 de dezembro de 2001) da Assembleia Geral da ONU aprovou a realização da Cúpula Mundial sobre a Sociedade da Informação (CMSI) em duas fases (Kurbalija, 2016, p. 2). 3 Tanto as ações como as decisões do CGI.br estão embasadas nos “Princípios para a Governança e Uso da Internet no Brasil”, que foram aprovados por consenso pelos membros do Comitê no ano de 2009 (Resolução CGI.br/Res/2009/03/P2), onde foram aprovados os seguintes Princípios para a Internet no Brasil: 1. “Liberdade, privacidade e direitos humanos O uso da Internet deve guiar-se pelos princípios de liberdade de expressão, de privacidade do indivíduo e de respeito aos direitos humanos, reconhecendo-os como fundamentais para a preservação de uma sociedade justa e democrática. 2. Governança democrática e colaborativa A governança da Internet deve ser exercida de forma transparente, multilateral e democrática, com a participação dos vários setores da sociedade, preservando e estimulando o seu caráter de criação coletiva. 3. Universalidade O acesso à Internet deve ser universal para que ela seja um meio para o desenvolvimento social e humano, contribuindo para a construção de uma sociedade inclusiva e não discriminatória em benefício de todos. 4. Diversidade A diversidade cultural deve ser respeitada e preservada e sua expressão deve ser estimulada, sem a imposição de crenças, costumes ou valores. 5. Inovação A governança da Internet deve promover a contínua evolução e ampla difusão de novas tecnologias e modelos de uso e acesso. 6. Neutralidade da rede Filtragem ou privilégios de tráfego devem respeitar apenas critérios técnicos e éticos, não sendo admissíveis motivos políticos, comerciais, religiosos, culturais, ou qualquer outra forma de discriminação ou favorecimento. 7. Inimputabilidade da rede O combate a ilícitos na rede deve atingir os responsáveis finais e não os meios de acesso e transporte, sempre preservando os princípios maiores de defesa da liberdade, da privacidade e do respeito aos direitos humanos. 8. Funcionalidade, segurança e estabilidade A estabilidade, a segurança e a funcionalidade globais da rede devem ser preservadas de forma ativa através de medidas técnicas compatíveis com os padrões internacionais e estímulo ao uso das boas práticas. 9. Padronização e interoperabilidade A Internet deve basear-se em padrões abertos que permitam a interoperabilidade e a participação de todos em seu desenvolvimento. 10. Ambiente legal e regulatório O ambiente legal e regulatório deve preservar a dinâmica da Internet como espaço de colaboração”. (CGI.BR, 2009) Este conjunto de princípios tem sido utilizado como guia para a atuação do CGI.br, além de ser ponto referencial para atores e atividades que estejam relacionados com a governança da Internet no Brasil e no mundo. No Brasil, estes 2 Disponível em: <https://www.cgi.br/resolucoes/documento/2009/003>. Acesso em 15 abr. 2020. 4 princípios foram base de inspiração e foram usados como base ao Marco Civil da Internet (Lei Federal n. 12.965 de 20143), o dispositivo legal mais importante relacionado à Internet no país. Saiba mais Veja a página dos princípios para governança e uso da Internet no Brasil, do CGI.br: <https://principios.cgi.br/#1-new>. Acesso em: 15 abr. 2020. TEMA 2 – PRINCÍPIOS DO CONSELHO DA EUROPA (COE) Esse tema tratará das atividades do Conselho da Europa (CoE), que é um dos principais influenciadores quando os assuntos são alusivos aos direitos humanos e à Internet. Entre as suas atribuições, o CoE é a instituição que se dedica aos direitos humanos no âmbito pan-europeu, tendo a “Convenção para a Proteção dos Direitos Humanos e Liberdades Fundamentais (COE, 2010)” como o instrumento principal. A partir de 2003, o CoE adota inúmeras declarações colocando em destaque a importância dos direitos humanos na Internet. Além disso, o CoE é depositário da Convenção sobre Crime Cibernético, destacando-se como o principal instrumento global nesta área, colocando-o como sendo uma das principais organizações que buscam o “equilíbrio justo entre os direitos humanos e considerações sobre cibersegurança no desenvolvimento futuro da Internet” (Kurbalija, 2016, p. 182-183). Nos últimos anos, um dos principais destaques na agenda diplomática tem sido a liberdade de expressão online, constando inclusive na agenda do Conselho de Direitos Humanos da ONU4. O assunto tem sido pauta em diversas conferências internacionais, sendo que estas discussões a respeito da liberdade de expressão online notoriamente tem sido uma área política deveras controversa. Não podemos deixar de lembrar que se trata de um dos direitos humanos fundamentais, tendo como destaque nessas discussões o controle de conteúdo e a censura. Na Declaração Universal dos Direitos Humanos da ONU, a liberdade de expressão (artigo 19) é contrabalançada pelo direito do Estado de limitar a liberdade de expressão para o bem da moralidade, da ordem pública e do bem estar geral (artigo 29). (Kurbalija, 2016, p. 19) 3 Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2014/lei/l12965.htm>. Acesso em 15 abr. 2020. 4 Nações Unidas (sem data) The Universal Declaration of Human Rights. Disponível em: <https://www.un.org/en/universal-declaration-human-rights/index.html>. Acesso em: 15 abr. 2020. 5 Os direitos das pessoas com deficiência também faz parte das questões inerentes à Internet. Por conta das estimativas das Nações Unidas, há um bilhão de pessoas com algum tipo de deficiência no mundo. Entre os diversos fatores que colaboram para o aumento deste número, encontramos a guerra e a destruição, causadas naturalmente ou com interferência humana. Além disso, colaboram alguns fatores como a pobreza e condições de vidainsalubres, ladeados pela “falta de conhecimento sobre a deficiência, as suas causas, prevenção e tratamento” (Kurbalija, 2016, p. 183). Algumas novas possibilidades para a inserção social das pessoas com deficiência são ofertadas pela Internet. Para que seja possível maximizar as possibilidades tecnológicas para essas pessoas, surge a necessidade de desenvolver a governança da Internet e o respectivo quadro de políticas. Nesse campo, o principal instrumento internacional é a Convenção sobre os Direitos de Pessoas com Deficiências, defendida pela ONU no ano de 2006 e firmada por 159 países em abril de 2014, designando os direitos que na atualidade estão incluídos na legislação nacional, tornando-os aplicáveis. Quando atuamos no campo da governança da Internet, deve-se focar no conteúdo da Web, por estar em constante desenvolvimento e constituir uma infraestrutura. Entretanto, diversos aplicativos Web não chegam a atender as normas de acessibilidade, principalmente por não haver conscientização ou percepção da complexidade, além dos custos muito altos empregados nesse processo. Encontramos as necessárias normas de acessibilidade Web no W3C5. Em termos de liberdade de expressão e direito de se comunicar, a política de conteúdos tem sido uma das principais questões socioculturais. Para o governo, a preocupação é o controle de conteúdo. No caso da tecnologia, temos as ferramentas para controle de conteúdo. Três grupos de conteúdos são o centro dessas discussões: • “Conteúdo com consenso global para o seu controle. Incluem-se aqui a pornografia infantil, justificativa de genocídio e incitamento ou organização de atos terroristas. • Conteúdo sensível para países, regiões ou grupos étnicos específicos devido aos seus valores religiosos e culturais particulares. • Censura política na Internet. Os Repórteres sem Fronteiras emi- tem relatórios anuais sobre a liberdade de informação na Internet”. (Kurbalija, 2016, p. 186) 5 Disponível em: <https://www.w3.org/>. Acesso em 15 abr. 2020. 6 Na educação, a Internet proporcionou possibilidades inovadoras. Diversas iniciativas foram implementadas: ciberaprendizagem, educação online e ensino a distância. A utilização da Internet como uma maneira de realizar cursos tem sido o principal objetivo destas iniciativas e a educação transnacional requer o desenvolvimento de novos sistemas de governança. Os aspectos relacionados às crianças demonstram a sua vulnerabilidade à vitimização. Grande parte de questionamentos relativos à segurança na Internet são referentes aos jovens, infelizmente centrada nos menores de idade. No entanto, as questões indefinidas costumam ganhar nitidez quando tratamos da segurança das crianças. Questões como Ciberbullying, abuso e exploração sexual e jogos violentos são listados entre os inúmeros desafios enfrentados por educadores e pais para proteger as crianças no mundo virtual. Uma das variáveis nesse processo é o fato de que os “nativos digitais” detêm muito mais conhecimento sobre a utilização das TIC do que seus pais. No intuito de ampliar a conscientização entre as partes interessadas, a CoE lançou o projeto InSafe6 como uma rede europeia de pontos para fomentar a conscientização da segurança na Internet. Desde o princípio, a Internet tem como língua predominante o inglês. Algumas estatísticas de 2014 apontam que aproximadamente 56% do conteúdo da Web está em inglês, ao passo que 75% da população mundial não fala este idioma. Este cenário fez com que muitos países adotassem algumas medidas para promover o multilinguismo, mantendo a proteção da diversidade cultural. Quando pretendemos promover o multilinguismo, não podemos nos ater unicamente a questões culturais, uma vez que este processo está imediatamente relacionado à necessidade de aperfeiçoamento e desenvolvimento da Internet. Se pretendemos que a Internet seja utilizada por diversas partes da sociedade e não unicamente pelas elites, o conteúdo deve ser acessível em mais idiomas (Kurbalija, 2016, p. 197). Estruturas de governança adequadas são necessárias para a promoção do multilinguismo. O primeiro componente dos regimes de governança foi disponibilizado por instituições como a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO). 6 Atualmente Better Internet for Kids, disponível em: <https://www.betterinternetforkids.eu/>. Acesso em 15 abr. 2020. 7 Atualmente, a governança da Internet abraça uma grande variedade de partes interessadas. Entre essas partes, temos os governos nacionais, instituições internacionais, as organizações privadas, a sociedade civil e a comunidade técnica. “Enquanto o multissetorialismo é adotado como princípio, o debate principal é sobre o papel específico de cada ator, focando principalmente a relação entre atores estatais e não estatais”. (Kurbalija, 2016, p. 203) Saiba mais Para saber mais sobre as Diretrizes do Comité de Ministros do Conselho da Europa sobre a justiça adaptada às crianças, acesse: <https://rm.coe.int/16806a45f2>. Acesso em: 15 abr. 2020. TEMA 3 – COMISSÃO EUROPEIA E O “INTERNET COMPACT” A Comissária Europeia Neelie Kroes apresentou sete princípios quando propôs o ‘Internet Compact’ no final de julho de 2011. Essa Comissão desenvolve políticas em temas que se relacionam à Internet via atuação da Diretoria Geral sobre Sociedade da Informação e Mídia. São diversos temas abrangidos, como infraestrutura e telecomunicações, governo eletrônico, educação online, conteúdo em formato digital, dentre outros. Dentro dos temas por nós estudados no contexto da governança da Internet, a Comissão tem sido fundamental, participando ativamente nos debates que envolvem arranjos institucionais. No ano de 2011, no encontro da OCDE sobre economia da Internet, a então vice-presidente da Comissão Europeia, Neelie Kroes, ponderou que “A academia, o setor privado e a sociedade civil têm contribuído enormemente para o sucesso da Internet. Os políticos devem atentar para isso. Mas as autoridades públicas não podem nem devem permanecer em segundo plano. A Internet tem relevância e traz benefícios para os cidadãos, para a economia e para a sociedade. Por essa razão, é de interesse dos formuladores de políticas públicas. Um dos desafios é corresponder esse interesse legítimo sem prejudicar as características da Internet”. (Magrani e colab., 2011, p. 74) A comissária advertiu que a Internet deveria permanecer, quando possível, livre de qualquer intervenção. A questões que envolvem a regulação deveriam ser vistas como última alternativa e o papel dos princípios seria apontar aquilo que a Internet tem de essencial, que deve ser promovido ou preservado. 8 Foi formulado pela Comissão Europeia um esboço contendo alguns princípios, conhecidos como Digital Compact for the Internet (em inglês, a primeira letra de cada um dos princípios forma a palavra “compact”). Foi formalizada no Fórum de Governança da Internet de 2011, em Nairóbi. De modo resumido, os princípios seriam os seguintes: • “Responsabilidade cívica. Assim como no ambiente off-line, as pessoas assumem responsabilidades umas com as outras na Internet, que vão além das puramente legais. • Uma Internet. É preciso evitar a fragmentação. • Governança multissetorial da Internet. A participação de todos os interessados na formulação de políticas é positiva. Pró-democracia. Com as ferramentas certas, a Internet pode se tornar um instrumento de apoio à vida democrática. Questões de arquitetura. • A arquitetura da Internet é fundamental para a sua dinâmica. A arquitetura vai mudar no futuro, com o surgimento de novos desafios, mas é preciso estar ciente das implicações que diferentes modelos possam ter. • A confiança dos usuários é um pré-requisito. Barreiras para a confiança são barreiras ao acesso. Se não forem solucionados, problemas como a proteçãoaos dados pessoais, à privacidade e à segurança podem afastar as pessoas da rede. • Governança transparente. Essa seria a base de sustentação do multissetorialismo. Em particular, é preciso transparência sobre o papel do governo ao representar seus cidadãos, e garantir que opiniões não sejam ignoradas”. (Magrani e colab., 2011, p. 75) Simultaneamente às diversas discussões sobre os princípios, o Comitê de Ministros do CoE preveniu os Estados membros sobre as possíveis ameaças à liberdade de expressão e de associação na Internet. Estas ameaças podem ser resultado da pressão política exercida sobre aqueles que prestam serviços de Internet e sobre as plataformas online para que ajam como coparticipes no processo de aplicação das leis. Esse Comitê demonstrou preocupações relacionadas ao cerceamento à liberdade de expressão, ocasionados por ataques e invasões a websites, a sites de vazamentos de informações, como o Wikileaks, entre outros. Aprovaram uma declaração em conjunto, onde destacou-se a importância de cada um desses atores como “facilitadores do exercício dos direitos à liberdade de expressão e à liberdade de associação” (Magrani e colab., 2011, p. 74). 9 Saiba mais Veja mais sobre a febre dos princípios da internet e sobre como o direito indicativo é utilizado para regular a internet: <https://politics.org.br/edicoes/febre- dos-princ%C3%ADpios-da-internet-como-o-direito-indicativo-%C3%A9-utilizado- para-regular-internet>. Acesso em: 15 abr. 2020. TEMA 4 – ESTRATÉGIA INTERNACIONAL PARA O CIBERESPAÇO DOS ESTADOS UNIDOS O presidente Barack Obama, então presidente dos Estados Unidos da América, anunciou em maio de 2011 um plano estratégico para utilizar no ciberespaço, envolvendo princípios que devem dirigir o desenvolvimento transversal de políticas associadas à Internet no domínio do governo americano. O foco da inciativa é na segurança: o documento reconhece o papel que a Internet desempenha no desenvolvimento econômico e social, mas também as novas ameaças que se perpetuam por meio da rede. Dentre elas, figuram “os desastres naturais, sabotagens, o roubo da propriedade intelectual e a possibilidade de ameaças à paz e à segurança internacional”. (Magrani e colab., 2011, p. 77) No documento consta a intenção do governo na busca de equilíbrio entre liberdade e segurança em todas as políticas governamentais. Na esfera internacional, o governo americano estabeleceu como meta ampliar a adesão dos países à Convenção de Budapeste sobre cibercrimes, documento que destaca o papel de softwares proprietários e abertos para a economia e atendimento das necessidades dos usuários. Chama atenção para a notabilidade da interoperabilidade e da preservação da arquitetura end to end7, buscando coibir a fragmentação da rede. O documento elenca as políticas que serão prioridade para o governo dos Estados Unidos: “Economia: promoção de normas internacionais e mercados abertos e inovadores • Manter um ambiente de livre comércio que estimule a inovação tecnológica em redes acessíveis, globalmente interligadas; • Proteger a propriedade intelectual, incluindo os segredos comerciais, do roubo; 7 “Como o nome diz, ‘de ponta a ponta’. Estamos falando de ‘aplicações’ que possuem dados, lógica e interface, portanto, testes ‘end-to-end’ devem englobar os três. São focados na interface como caminho para testar automaticamente comportamentos, interações e fluxos, que contenham ou não, dados e lógica” (Vaccaro, 2017). 10 • Assegurar a primazia de padrões técnicos interoperáveis e seguros, determinados por especialistas técnicos. Proteger nossas redes: reforçar a segurança, a confiabilidade e a resiliência • Promover a cooperação no ciberespaço, em especial sobre normas de comportamento para os Estados e sobre segurança cibernética, bilateralmente e no âmbito de organizações multilaterais e parcerias multinacionais; • Reduzir intrusões e interrupções na rede dos Estados Unidos; • Assegurar um mecanismo robusto de administração de incidentes, a resiliência e a capacidade de recuperação da infraestrutura de informação; • Melhorar a segurança da cadeia de fornecimento de alta tecnologia. Impor a lei: estender a colaboração e o Estado de Direito • Participar plenamente das discussões internacionais sobre cibersegurança; • Harmonizar as leis internacionais de cibercrime, expandindo a adesão à Convenção de Budapeste; • Concentrar as leis de cibercrime na luta contra as atividades ilegais, sem restringir o acesso à Internet; • Negar aos terroristas e a outros criminosos a capacidade de explorar a Internet para operacionalização de planejamento, financiamento, ou ataques. Militar: preparar-se para os desafios de segurança do século 21 • Reconhecer e se adaptar à necessidade militar crescente de redes confiáveis e seguras; • Construir e reforçar alianças militares existentes para enfrentar potenciais ameaças no ciberespaço; • Expandir a cooperação com aliados e parceiros para aumentar a segurança coletiva Governança da Internet: promoção de estruturas eficazes e inclusivas • Priorizar a abertura e a inovação na Internet; • Preservar a segurança e a estabilidade mundiais da rede, incluindo o sistema de nome de domínio (DNS); • Promover e melhorar fóruns multissetoriais para a discussão da governança da Internet. Desenvolvimento internacional: capacitação, segurança e prosperidade • Fornecer conhecimento, treinamento e outros recursos para países que buscam desenvolver a capacidade técnica e de segurança cibernética; • Desenvolver continuamente e compartilhar regularmente melhores práticas de cibersegurança internacionais; • Aumentar a capacidade dos Estados para combater o cibercrime, incluindo treinamento para aplicação da lei, direcionado a especialistas forenses, juristas e legisladores; • Desenvolver relações com os formuladores de políticas para melhorar a capacitação técnica, estabelecendo contato permanente com especialistas parceiros em outros países. Liberdade na Internet: apoio às liberdades fundamentais e à privacidade • Apoiar os atores da sociedade civil para obter plataformas confiáveis e seguras para o exercício das liberdades de expressão e de associação; · Colaborar com a sociedade civil e organizações não governamentais para estabelecer salvaguardas que protejam suas atividades na Internet de invasões ilegais; • Incentivar a cooperação internacional para a efetiva proteção à privacidade de dados no comércio; • Garantir a interoperabilidade end to end em uma Internet acessível a todos”. (Magrani e colab., 2011, p. 78-79) 11 Saiba mais Leia uma matéria da revista Veja de 2011 onde se noticiava que os Estados Unidos se armavam contra ataques cibernéticos: <https://veja.abril.com.br/mundo/estados-unidos-se-armam-contra-ataques- ciberneticos/>. Acesso em: 15 abr. 2020. TEMA 5 – PRINCÍPIOS NO ÂMBITO DO G8 O G88, no ano de 2011, discutiu pela primeira vez a governança da Internet em sua reunião de cúpula. A declaração final da cúpula9 do G8 elegeu alguns princípios, articulados no e-G810, que contou com a colaboração de mandatários das principais empresas ligadas à Internet. Entretanto, não houve possibilidade de envolvimento da sociedade civil, fato que resultou em muitas críticas, algumas das quais afirmaram que o evento “descarta o princípio da participação multissetorial, que tem evoluído no plano mundial”. Além disso, destacou-se que “políticas definidas em conjunto pelas nações mais poderosas muito provavelmente se tornarão a norma padrão global (...). Assim, é conveniente que os países do G8 discutam essas e outras questões em fóruns globais mais democráticos, onde todos os países estejam presentes em pé de igualdade”11. Para algumas instituições da sociedade civil que participaram do e-G8, a mensagem enviada pelo evento foi ambígua.Em alguns momentos, discutiu-se os princípios fundamentais, como a liberdade de expressão, o respeito à privacidade e à participação multissetorial, em outros, falou-se sobre a exaltação no combate ao cibercrime e a proteção à propriedade intelectual online, sem que houvesse um plano capaz de estabelecer os meios para alcançar os objetivos, deixando de computar como eles impactariam o acesso e o livre tráfego dos dados na rede. A instituição conhecida como Artigo 1912 alegou que a declaração não categorizou a proteção dos direitos humanos “como um princípio 8 USA, Japão, Inglaterra, França, Itália, Canadá e Alemanha – mais a Rússia. 9 CÚPULA DE DEAUVILLE. Declaração do G8. Renewed Commitment For Freedom And Democracy. Maio de 2011. Disponível em: <https://sg.ambafrance.org/G8-Declaration-Renewed- Commitment> . Acesso em: 15 abr. 2020. 10 Evento realizado antes da cúpula oficial. 11 INTERNET GOVERNANCE CAUCUS. Open letter to President Sarkozy on eG20 meeting plan. Disponível em: <https://itforchange.net/node/1338>. Acesso em: 15 abr. 2020. 12 Article 19. “G8: the Deauville Declaration on Internet Fails to Recognise Importance of Human Rights Including Freedom of Expression. Disponível em: 12 fundamental acima de todos os outros”, enfatizando a preocupações de cunho econômico, principalmente sobre a proteção à propriedade intelectual, na medida em que parece assegurar “novas restrições à liberdade de expressão na Internet, fortalecendo o enforcement13 da propriedade intelectual e indo ao encontro de propostas polêmicas, como o acordo anticontrafação (ACTA) e de leis nacionais que preveem a resposta graduada ou three strikes”. (Magrani e colab., 2011, p. 80) Nessa reunião, não foi diretamente referenciado o problema da notabilidade do princípio da neutralidade da rede, nem foi discutida a função que as grandes organizações – em sua maioria alocadas nos países desenvolvidos – exercem nas políticas de censura ou enforcement. A falta de abordagem para estes temas tornaram as discussões do G8 pouco inclinadas a causar uma impressão positiva e concreta sobre a promoção de direitos e da liberdade de expressão na Internet. Saiba mais Assista ao vídeo do art. 19 (2007), onde se expressa preocupação sobre a situação da liberdade de expressão, no link a seguir: <https://artigo19.org/blog/2007/07/29/brasil-article-19-expressa-preocupacao- sobre-a-situacao-da-liberdade-de-expressao/>. Acesso em: 15 abr. 2020. FINALIZANDO Nesta aula, discutimos os princípios do CGI.br para a governança e uso da Internet no Brasil e vimos também os princípios do Conselho da Europa (CoE) para a União Europeia. Em seguida, introduzimos o Internet Compact e estudamos as estratégias dos Estados Unidos para o Ciberespaço e os princípios no âmbito do G8. Boa parte do que vimos se relaciona aos direitos da liberdade de expressão e acesso à Internet – temas sensíveis e de discussões acirradas. Na próxima aula, veremos algumas questões pertinentes sobre a Regulação da Internet. <https://www.article19.org/data/files/pdfs/press/g8-the-deauville-declaration-on-internet-fails-to- recognise-importance-of-hu.pdf> Acesso em 15 abr. 2020. 13 Proteção. 13 REFERÊNCIAS BASTOS, Athena. Direito Digital: guia da Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais (LGPD). Disponível em: <https://blog.sajadv.com.br/direito-digital-lei- de-protecao-de-dados/>. Acesso em: 1 abr 2020. BRASIL. Lei n. 13.709, de 14 de agosto de 2018. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2018/lei/L13709.htm>. Acesso em: 31 mar 2020. DIREITO DIGITAL. LGPD: 11 conceitos de proteção de dados que você precisa conhecer. Disponível em: <https://assisemendes.com.br/blog/lgpd- conceitos/>. Acesso em: 31 mar 2020.
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