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A mulher delinquente A prostituta e a mulher normal Cesare Lombroso – Guglielmo Ferrero Título original: La donna delinquente: la prostituta e la donna normale. Turim, Roma (Itália): Editori L. Roux e C., 1893. © da tradução: Antonio Fontoura Jr. Proibida a reprodução total ou parcial deste texto, sem a devida autorização. antoniofontoura.com.br Imagem da capa: foto de Laura Bullion (1893). Disponível em https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Laura_Bullion_of_the_Wild_Bunch_gang,_Pinkerton%27s_mug_shot,_1893.jpg. Acesso em 1/9/2017. antoniofontoura Curitiba, 2017 Sumário PREFÁCIO PARTE I – A MULHER NORMAL CAPÍTULO I – A FÊMEA NO MUNDO ZOOLÓGICO CAPÍTULO II – ANATOMIA E BIOLOGIA DA MULHER CAPÍTULO III – OS SENTIDOS E A PSICOLOGIA DA MULHER CAPÍTULO IV – A CRUELDADE, A PIEDADE E A MATERNIDADE NA FÊMEA E NA MULHER I. A Crueldade II. A piedade III. Crueldade, maternidade e piedade CAPÍTULO V – O AMOR I. O amor nas espécies animais II. O amor na raça humana CAPÍTULO VI – O SENSO MORAL I. Mentiras II. Vaidade III. Sentimento de justiça IV. Ira, avareza, vícios V. Lealdade, honra, inveja, vingança CAPÍTULO VII – INTELIGÊNCIA I. Inteligência da fêmea no mundo zoológico II. Inteligência da mulher PARTE II – CRIMINOLOGIA FEMININA CAPÍTULO I – OS DELITOS NAS FÊMEAS DOS ANIMAIS CAPÍTULO II – OS DELITOS NA MULHER SELVAGEM E PRIMITIVA CAPÍTULO III – HISTÓRIA DA PROSTITUIÇÃO I. O pudor e a prostituição entre os selvagens II. A prostituição em nossa história PARTE III – ANATOMIA PATOLÓGICA E ANTROPOMETRIA DA MULHER CRIMINOSA E DA PROSTITUTA CAPÍTULO I – CRÂNIO CAPÍTULO II – ANOMALIAS PATOLÓGICAS CAPÍTULO III – O CÉREBRO NA CRIMINOSA E NA PROSTITUTA CAPÍTULO IV – ANTROPOMETRIA DAS CRIMINOSAS E DAS PROSTITUTAS CAPÍTULO V – ANOMALIAS FISIONÔMICAS E CEFÁLICAS DE CRIMINOSAS CAPÍTULO VI – OUTRAS ANOMALIAS CAPÍTULO VII – FOTOGRAFIAS DE CRIMINOSAS E PROSTITUTAS CAPÍTULO VIII – O TIPO CRIMINAL NA MULHER: RAZÕES ATÁVICAS DO TIPO CAPÍTULO IX – TATUAGENS PARTE IV – BIOLOGIA E PSICOLOGIA DA DELINQUENTE E DA PROSTITUTA CAPÍTULO I – MENSTRUAÇÃO, FECUNDIDADE, VITALIDADE, FORÇA, REFLEXOS CAPÍTULO II – SENSIBILIDADE E CAMPO DE VISÃO DE CRIMINOSAS E PROSTITUTAS CAPÍTULO III – SENSIBILIDADE SEXUAL: TRIBADISMO, PSICOPATIAS SEXUAIS CAPÍTULO IV – A CRIMINOSA NATA CAPÍTULO V – A CRIMINOSA OCASIONAL CAPÍTULO VI – CRIMINOSAS PASSIONAIS CAPÍTULO VII – SUICÍDIO CAPÍTULO VIII – A PROSTITUTA NATA CAPÍTULO IX – PROSTITUTAS OCASIONAIS CAPÍTULO X – A LOUCA CRIMINOSA CAPÍTULO XI – DELINQUÊNCIA EPILÉTICA E LOUCURA MORAL CAPÍTULO XII – DELINQUENTES HISTÉRICAS Índice das imagens FIGURA 1 – OBESIDADE NA ABISSÍNIA. ALMOFADA POSTERIOR EM AFRICANAS FIGURA 2 – ANOMALIAS VULVARES FIGURA 3 – MULHERES DE GÊNIO DA EUROPA E DA AMÉRICA FIGURA 4 – CRÂNIOS DE CRIMINOSAS ITALIANAS. FIGURA 5 – CRÂNIO DE CHARLOTTE CORDAY. FIGURA 6 – CRÂNIO DE CHARLOTTE CORDAY. FIGURA 7 – CRÂNIO DE CHARLOTTE CORDAY. FIGURA 8 – FISIONOMIA DE CRIMINOSAS RUSSAS. FIGURA 9 – A VELHA DE PALERMO. FIGURA 10 – FISIONOMIAS DE PROSTITUTAS RUSSAS. FIGURA 11 – FISIONOMIA DE CRIMINOSAS FRANCESAS, ALEMÃS E ITALIANAS. FIGURA 12 – OUTRAS FISIONOMIAS DE CRIMINOSAS FRANCESAS, ALEMÃS E ITALIANAS. FIGURA 13 – OUTRAS FISIONOMIAS DE CRIMINOSAS FRANCESAS, ALEMÃS E ITALIANAS. FIGURA 14 – OUTRAS FISIONOMIAS DE CRIMINOSAS FRANCESAS, ALEMÃS E ITALIANAS. FIGURA 15 – OUTRAS FISIONOMIAS DE CRIMINOSAS FRANCESAS, ALEMÃS E ITALIANAS. FIGURA 16 – GABRIELLE BOMPARD. FIGURA 17 – BERLAND. FIGURA 18 – THOMAS. FIGURA 19 – MESSALINA. FIGURA 20 – MARGHERITA E LOUISE. FIGURA 21 – MULHER NEGRA E MULHER PELE-VERMELHA. FIGURA 22 – CAMPOS DE VISÃO DE JOVEM CRIMINOSA FIGURA 23 – CAMPOS DE VISÃO DE DELINQUENTES. FIGURA 24 – MAIS CAMPOS DE VISÃO DE DELINQUENTES. FIGURA 25 – DUAS LÉSBICAS. Prefácio Entre as muitas e mais recentes pesquisas sobre a antropologia criminal, aquelas que abordam a mulher criminosa e a prostituta, mais do que qualquer outra, possuem a vantagem de possibilitar uma limitação rigorosa dos fatos, assegurando-nos, assim, o triunfo sobre nossos adversários apriorísticos, que se opõem a nós apenas a partir da lógica e de silogismos. Os primeiros resultados de nossos estudos, de fato, já indicavam os contrastes que existiam em relação aos pontos de vista mais difundidos; e mesmo certas pesquisas individuais e observações parciais pareciam se contradizer: de modo que uma abordagem que fosse puramente lógica não teria chegado a nenhum resultado conclusivo. Mas nós, fiéis à máxima que me guiou ao longo de toda minha vida, analisamos cegamente os fatos, mesmo quando pareciam contraditórios, e mesmo quando pareciam nos levar a caminhos equivocados. Mas não desistimos: pois, analisando o material, os fatos aparentemente contraditórios foram organizados em uma imagem orgânica e completa; se inicialmente sentíamos como se estivéssemos tateando no escuro, em determinado momento nos surgiu um objetivo lúcido e claro, e passamos a sentir o prazer do caçador que saboreia sua presa; um prazer que é redobrado pela fadiga da conquista. Em não poucos momentos durante nossa jornada, assim como ocorre com as ondas do mar, certos fatos nos arrastavam para além – e, o que é melhor, para mais alto – de nossas metas, auxiliando-nos a resolver as múltiplas contradições que surgiam à nossa frente. Assim, encontramos fêmeas das classes zoológicas mais baixas sendo superiores ao macho em volume, na complexidade de seus órgãos: verdadeiras rainhas das espécies; mas, aos poucos, transformavam-se em sua humilde escrava, superada em força, em variabilidade, etc. Da mesma forma como na raça humana: antes da puberdade, encontramos a mulher com força igual ou mesmo superior ao homem, o mesmo ocorrendo com o desenvolvimento físico, e por vezes inclusive em inteligência; mas pouco a pouco este predomínio se interrompe e é superado, deixando para trás, nessa momentânea superioridade, uma prova de que a precocidade é algo comum às raças inferiores. Mesmo a relativa escassez de sinais degenerativos, que à primeira vista parece ser uma evidente prova de superioridade, é consequência da menor variabilidade da mulher, o que, por sua vez, é um sinal de inferioridade. Mas as condições tornam-se idênticas, ou quase idênticas, quando se trata de monstruosidades; nova e estranha contradição, que apenas a seleção sexual humana pode explicar. A menor sensibilidade que observamos na mulher, razão de sua maior vitalidade, também contrastava com as tradições e lendas usualmente aceitas, como sua maior, ou pelo menos mais ruidosa, reação à dor, da qual parecem existir provas tão evidentes; porém, a contradição é eliminada se considerarmos sua maior excitabilidade e sua menor inibição. A menor frequência do tipo criminoso e da criminalidade inata entre as delinquentes, que parecem contradizer as afirmações fundamentais da teoria do homem delinquente, explicam-se, por outro lado, quando se constata a menor frequência da degeneração e da irritação cortical epiléptica, que estão na base dos crimes. A singularíssima contradição da coexistência, na mulher, da crueldade e da compaixão, é totalmente resolvida, em nossos estudos, quando consideramos a influência da maternidade: que, inserida dentro da crueldade primitiva, muitas vezes promove a doçura; da mesma forma que a ausência de gênios femininos, bem como a inferioridade da mulher em força e variabilidade, explicam por que, sendo congenitamente menos morais, a mulher é menos frequentemente delinquente. Esses fatos, unidos ao atavismo, e ao preponderante ardor masculino, permitem-nos compreender como o equivalente feminino do criminoso nato não está na delinquência, mas na prostituição; o que não deveria, contudo, existir logicamente em um ser em que as necessidadessexuais são tão menos sensíveis. Desejávamos apresentar essas contradições desde o início; pois há espíritos suficientemente desprovidos de originalidade ou incapazes de compreender as pesquisas dos outros que, ignorando que a natureza quase nunca é lógica, aproveitam para diminuir a confiança do público em novas teorias. Para aqueles que podem nos censurar por termos nos estendido demasiado no estudo da mulher honesta, devemos lembrar que nenhum dos fenômenos apresentados pela mulher criminosa poderia ser explicado se não tivéssemos de antemão o perfil da mulher normal. E, mais do que isso, quando fomos buscar pesquisas semelhantes, não encontramos nada ou quase nada; pois muitos antropólogos têm desperdiçado tempo e resmas de papel (desconsiderando-se exceções como Pagliani, Sergi, Tarnowsky) em medidas estéreis de tribos selvagens e bárbaras, sem que tenham especificado a estesiometria nas diferentes idades da mulher europeia, de modo que seria impossível afirmar quando seu estado normal findava, e quando se iniciava a patologia. Aqueles que, em obras sobre as mulheres, não estão satisfeitos com a lógica dos fatos, mas que, continuam, ou melhor, falsificam antigas tradições medievais, acreditarão que perdemos, em nossa obra, toda galanteria cavalheiresca que embeleza as nossas vidas. Mas não hesitamos aqui em sacrificar nossas concepções mais caras, como a ideia do tipo, e a do criminoso nato, porque tivemos coragem de evitar o medo da aparente contradição que, aos olhos vulgares, poderia ter sido prejudicial ao nosso trabalho; em sendo assim, como poderíamos propor uma mentira convencional, desprovida de fundamentos científicos e que seria imediatamente insustentável? Além disso, se concluirmos que a prostituição é o equivalente feminino da criminalidade inata, devemos admitir que esse equivalente, embora tenha a mesma origem atávica e a mesma nota de infâmia na opinião pública, exerce, no entanto, influência menos perversa, danosa e temível; e ainda que não exista delito que não prejudique a sociedade, a prostituição pode se tornar uma válvula de garantia à moral pública; além disso, e acima de tudo, não teria sobrevivido tão longamente, se não tivesse sido alimentada pelo vício masculino – desejo útil e vergonhoso; de modo que se pode dizer que a mulher, mesmo quando é brutalizada, mesmo quando erra, ainda assim é útil. Se devemos provar que a mulher é intelectual e fisicamente tal qual um homem que teve seu desenvolvimento interrompido, o fato dela ser menos delinquente que ele pode compensar, de maneira bastante vantajosa, essa inferioridade intelectual. Da mesma forma que a harmonia musical, e ainda mais a beleza, conquistam todos os grupos e classes, o respeito inspirado pela intensidade de seus sentimentos, especialmente o materno, é muito mais universal e durável do que as conquistas da inteligência. Um estudioso terá centenas de admiradores, que logo desaparecerão; um santo terá milhares, por todos os tempos. Não há, assim, uma linha sequer desta obra que justifique as injustiças das quais a mulher tem sido a vítima. Seja o tabu que a proíbe que ela se alimente de carne, ou que toque nozes de coco, alcançando tabus atuais que as impedem de estudar e, pior ainda, de praticar a profissão que aprenderam: coerções ridículas e cruéis, sempre prepotentes, que certamente contribuímos para manter; e, o que é mais triste, visando ampliar sua inferioridade em nosso benefício, mesmo quando hipocritamente cobrimos nossa vítima de falsos elogios; e, mais do que uma lisonja, deveriam prepará-las para novos sacrifícios. O quanto as mulheres podem ser úteis e importantes é demonstrado pelo quanto elas colaboraram com a produção da presente obra: Sra. Caccia, Sra. Dr. Tarnowsky, Srta. Helene Zimmern, Sra. C. Royer, Sra. Rossi. Sra. Dr. Kulischoff que compreenderam minhas ideias de maneira precoce, e de forma mais detalhada que muitos de nossos pesquisadores; além de contribuírem por meio de seus estudos e através de documentos, notas e conselhos sobre os mais difíceis tópicos. E acima de tudo, você o prova para mim, minha amada Gina – o último e único vínculo que me liga à vida, a colaboradora e inspiradora mais frutífera, mais fecunda de todo meu trabalho. Não consigo finalizar sem uma honesta declaração. Em trabalhos colaborativos, aqueles mais antigos no mundo literário geralmente são considerados responsáveis pela maior parte do trabalho. Nesta obra ocorreu o contrário, pois a parte mais repleta de fatos e mais robusta, a psicologia e a história, são todas do colaborador mais novo, enquanto reivindico a mim apenas a parte psiquiátrica e antropológica, bem como o plano da obra. Turim, 1º de setembro de 1892. C. Lombroso. Parte I – A mulher normal Capítulo I – A fêmea no mundo zoológico 1. As ciências morais estão, atualmente, tão intimamente ligadas às ciências naturais, que nos é impossível realizar um estudo da mulher criminosa sem antes termos analisado a mulher normal, assim como a fêmea na ordem zoológica. Nas ordens inferiores da vida orgânica, a reprodução não precisa de sexo; ela se faz por fissão (divisão de uma célula, exageradamente aumentada, em duas), por gemação (aumento e fracionamento de uma parte da célula), por polisporogamia (aumento e fracionamento de um organismo pluricelular em um grupo de células), por monosporogamia (crescimento e divisão em um organismo celular de uma única célula, que se desenvolve por divisão espontânea). Em todos esses casos diferentes, a geração é assexuada; o fenômeno fundamental da reprodução – desde o primeiro vislumbre da vida – é sempre o mesmo: um fragmento se separa de um organismo, vive e se desenvolve a partir de então de maneira autônoma. A partir da geração assexuada, passamos por uma série de formas intermediárias (hermafroditismo, geração alternada) até alcançarmos a geração sexual: aqui a divisão e o abandono de uma parte do organismo não são provocados diretamente por uma necessidade orgânica interna (aumento de volume), mas indiretamente, por meio de uma influência externa: a fecundação do macho. Na reprodução sexuada, portanto, o fato principal, o desenvolvimento das partes do organismo que formarão o novo ser, é realizado quase que às custas da mulher. 2. A relação entre volume, força e estrutura entre os dois seres. Superioridade e inferioridade da fêmea. Em animais inferiores, de acordo com Milne Edwards, os indivíduos dos dois sexos são diferenciados entre si apenas a partir das características dos aparelhos reprodutores. Assim, acreditou-se que entre muitos zoófitos não existissem senão apenas fêmeas; em muitos moluscos, os machos são diferenciados das fêmeas apenas no momento da reprodução[1]. Mas, à medida que as diferenças entre os dois sexos se tornam mais evidentes, a fêmea tem superioridade de tamanho, força e número sobre o macho. “Eu acredito”, escreve o prof. Emery, quando questionado sobre esta questão – “que a superioridade feminina é primitiva, pois é mais importante para a geração. Esta frequente superioridade pode ser vista em casos de partenogênese encontrados entre os crustáceos e mesmo entre certos insetos (Rhodites rosae), nos quais, em certas ordens ou espécies, o sexo masculino não existe, ou está reduzido a uma mínima função; e também em casos de geração alternada”. Nos vermes do gênero Bonellia, a fêmea é um animal vistoso, enquanto o macho é pequeno, de organização simples e parasita da fêmea. Em um rotífero, Hydatina Senta, o macho não possui víscera abdominal, apenas os órgãos sexuais e aqueles ligados ao movimento; enquanto a fêmeatem todos os seus órgãos. E a respeito de muitos rotíferos discutiu-se – afirma Brehm – se seriam ou não hermafroditas, pois não se encontravam os órgãos masculinos de geração. Mas depois se descobriu que quase todos os indivíduos conhecidos eram fêmeas, e que os poucos machos encontrados são uma parte subordinada e apenas tolerados (id., p. 719). Entre os Caligus, as fêmeas são extraordinariamente mais numerosas que os machos (op. cit. p. 713). As fêmeas Dáfnia, bem maiores que os machos, produzem duas espécies de óvulos, que o naturalista passou a denominar de “verão” e “inverno”; sendo que os do verão crescem sem fertilização, enquanto os do inverno são fertilizados: existindo então mistura de partenogênese e de geração gâmica (Brehm, p. 706). A respeito dos branquiópodes, em geral, Brehm afirma: pode-se dizer que, em quase todos, as fêmeas excedem o número de machos, e que em alguns dos gêneros mais comuns, como o Apus, estes apenas recentemente foram descobertos; em outros gêneros, são encontrados por um curto período de ano; durante os meses seguintes, há um longo número de gerações nos quais os machos não estão envolvidos (Brehm, p. 702). Nos Branchiopoda, as fêmeas são muito maiores do que os machos (id., p. 698). Em alguns moluscos no grupo Phyllopoda – afirma Emery – o macho não existe e a geração é por partenogênese. Outro exemplo de superioridade feminina é dado pela Anilocra e em gêneros relacionados (crustáceos de peixes parasitas); enquanto são jovens, produzem esperma e possuem órgãos sexuais masculinos; atingindo a maturidade, os testículos e os pênis se atrofiam; desenvolvem ovários e vulva e se tornam fêmeas. Em muitos crustáceos parasitas – escreve Emery – a fêmea é bem maior que o pequeno macho, que quase parasita a fêmea. Mesmo subindo na escala zoológica, é frequente a superioridade no tamanho e força da fêmea em relação ao macho. Em aranhas, a fêmea é maior e mais robusta do que o macho, ainda que em algumas espécies, como a Argyroneta aquatica – segundo afirma Brehm –, contrariamente ao que se encontra em outras aranhas, o macho é mais robusto e mede 14 mm de comprimento, enquanto a fêmea mede apenas 11 mm (Vita degli animali, VI, p. 627, Turim, 1871); mas, em quase todas as demais espécies, a diferença é a favor da fêmea, como ocorre na Dolomedes em que a fêmea é um centímetro e meio maior que o macho (id., p. 635). A fêmea da Tegenaria domestica mede de 16 a 18mm de comprimento, enquanto o macho mede 10mm. Na cópula, é possível notar o quanto a força da fêmea lança medo no macho e enfraquece seu ardor. Quando o macho, segundo Brehm, deseja a cópula, aproxima-se com toda prudência e cuidado em direção à fêmea, para ver se essa recebe suas carícias ou se ela o vê como uma deliciosa iguaria. Se a fêmea mostra disposições favoráveis, o macho se aproxima rapidamente, toca alternadamente a base do ventre da fêmea com as duas pontas das patas, e depois foge rapidamente para não ser vítima de sua dama (id., p. 611). De Geer presenciou quando um macho, no meio de suas carícias preparativas, acabou capturado pela fêmea, preso por ela em suas teias, e devorado (Darwin, L’origine dell’uomo, p. 245). O menor tamanho poder ser, também, produto da seleção natural, porque os menores estão mais a salvo das armadilhas das fêmeas. Em quase todas as espécies de insetos – observa Darwin – o macho é menor do que a fêmea. Sabe-se que os machos de algumas espécies, mesmo das frágeis e delicadas, participam de muitos confrontos, e poucos estão equipados com armas especiais para combater seus rivais. Mas a lei da luta não prevalece tanto neles como nos animais superiores. Portanto, é provável que esta seja a razão pela qual os machos não se tornaram maiores e mais fortes do que as fêmeas; na verdade, geralmente são menores, porque podem se desenvolver em um período mais curto de tempo, além de numerosos, de forma a estarem prontos às necessidades das fêmeas (op. cit., p. 250 e 298). Na Hemiptera, as fêmeas são quase sempre maiores e mais fortes do que os machos (id., p. 288). A superioridade da fêmea é especialmente notável nos himenópteros. Em alguns (Rhodites rosæ) não há qualquer macho (Emery). A superioridade das fêmeas sobre os machos entre abelhas e vespas é tão grande que todos os seus complexos organismos sociais dependem disso. Entre as abelhas, as operárias (fêmeas incapazes para a reprodução) realizam toda a tarefa do trabalho social, enquanto os machos não possuem outro ofício senão o de fertilizar a rainha; são parasitas e, como tal, são mortos todos os anos pelas operárias. E note que, entre as abelhas, a cópula ocorre apenas uma vez, como acontece com quase todos os himenópteros; uma fertilização é válida ao longo da vida, que pode ser bastante longa (Lubbock demonstrou que uma fêmea pode viver mais de 12 anos); existe, ainda, a partenogênese; os machos nascem de ovos não fertilizados; esta é provavelmente a causa da superioridade da fêmea, que desepenha um papel muito mais relevante do que os machos na conservação da espécie. Mesmo em cupins, as fêmeas dominam: mas sociedades são constituídas por machos e fêmeas. Deve-se destacar que, aqui, a importância do macho é maior, pois a cópula ocorre repetidas vezes (Emery). E também o fato de que muitos machos sendo procriados pela partenogênese, e as fêmeas ordinariamente por geração assexuada, pode ser importante nesta questão. Nos besouros, segundo Camerano, os machos são geralmente menores do que as fêmeas, às vezes com uma diferença muito grande, como, por exemplo, na Lytta pallasii, em que o macho mede 0,009m e a fêmea 0,019m. Mesmo nos peixes é comum ocorrer a superioridade no tamanho da fêmea em comparação ao macho. Darwin diz: “No que diz respeito ao tamanho, o Sr. Carbonnier afirma que, na maioria dos peixes, a fêmea é maior do que o macho, e o Dr. Guenther não conhece um caso em que o macho seja maior do que a fêmea. Como em muitos tipos de peixe, os machos lutam uns contra os outros, é impressionante que não se tornem mais fortes e maiores que as fêmeas, a menos que se acredite que, como afirma Carbonnier, devam ser devorados pelas fêmeas de suas próprias espécies, quando são carnívoros e, talvez, a partir de outras espécies” (Darwin, op. cit. p. 307). Nos anfíbios, e em quase todos os Testudinata, os caracteres sexuais secundários não vão além das cores e dos órgãos vocais; não se encontram nelas as notáveis diferenças de tamanho e força em favor da fêmea; no entanto, existem várias exceções determinadas pela luta sexual. Entre os anfíbios urodelos: na salamandra maculata, os machos variam entre 0,180m e 0,192m, fêmeas entre 0,180 e 0,200m; no Triton cristatus, os machos variam de 0,120m a 0,135m, as fêmeas de 0,136m a 0,148m; no tritão alpino, o macho pode medir 0,090m, enquanto a fêmea 0,110m; na Pelonectes boscai, o macho alcança 0,075m, enquanto a fêmea varia de 0,084m a 0,094m, Não existe luta sexual (Camerano, Della scelta sessuale negli anfibi urodeli, Turim, 1881). Entre os anfíbios anuros: no Rana esculenta, o macho mede 0,068m, a fêmea 0,082m; no Rana rugosa, o macho tem 0,040m, a fêmea 0,047m; no Rana marmorata, o macho possui 0,053m, a fêmea 0,056m; Na Rana temporaria, o macho tem 0,068m, a fêmea 0,075m; no Bufo vulgaris, o macho apresenta 0,080m, a fêmea 0,110m; por outro lado, no Cystignatus ocellatus, o macho mede 0,114m, e a fêmea 0,96m. Não existe luta sexual (Camerano, Della scelta sessuale negli anfibi urodeli, Turim, 1881). No Testudo ibera Pall., no entanto, embora não se saiba se existe luta sexual, Camerano descobriu queos machos são maiores do que as fêmeas e, geralmente, são mais convexos e proporcionalmente mais estreitos, com escalas laterais ampliadas (a capacidade feminina é maior, obviamente, devido às necessidades para a reprodução), com cauda mais longa e grossa na base e com patas mais longas (Camerano, Sui caratteri sessuali secondari della Testudo ibera Pall., Turim, 1877). Também entre os ofídios (não se sabe se existe luta sexual), o macho é muitas vezes menor do que a fêmea. O lagarto, por sua vez, em que o macho é maior e mais forte que a fêmea, se envolve em intensos duelos para sua conquista (id., p. 320). Com os pássaros, por conta da luta sexual, começa a prevalência de força e do tamanho do macho sobre a fêmea. Porém, mesmo nas ordens zoológicas inferiores, por uma dessas contradições que frequentemente encontramos nesses estudos, os machos são quase sempre superiores pela diferenciação dos órgãos, além da variabilidade e motilidade que possuem, sendo inferiores em tudo o mais (formigas), demonstrando que são mais ativos em relação à função sexual. Entre os crustáceos, entre os quais há um único sexo que possui órgãos de sentido e locomoção, ou que os possui mais desenvolvidos, será sempre o macho que os possuirá, ou os terá mais desenvolvidos (Darwin, op. cit.). Mesmo no caso dos insetos, os machos, embora de tamanho menor, têm uma estrutura mais complexa e órgãos mais numerosos e específicos para a realização do ato sexual. Deve-se notar, além disso, que em um grande número de espécies, apenas os machos possuem asas, e quase nunca as fêmeas. Isto é explicado pelo fato de que os machos mais frequentemente devem se locomover em busca da fêmea: tal é o caso dos lampyris, das Mutillidae, dos Orgyia, dos Psychidae. Muitos outros possuem órgãos para reter a fêmea durante o coito, como os apêndices da extremidade da cauda em libélulas. Brooks afirma que, por conta da luta sexual, os insetos machos se tornaram brilhantes e variados. Por isso possuem mais cores, cantam, estão mais armados, pois entre muitos deles a seleção é feita por combates pela fêmea – algo que ocorre também nos mamíferos –, afetando o processo de seleção natural, algo que ocorre também entre as aves (Revue scientifique, n.13, 1891). Assim, de acordo com Camerano, os machos do besouro, que também são bem menores, possuem, no entanto, diferentes características sexuais, como antenas, olhos, palpos, órgãos do movimento, mandíbulas, cores especiais, fosforescência, armas, sons, enquanto nas fêmeas não se notam quaisquer odores, fosforescência ou sons e cores especiais (Camerano, La scelta sessuale e i caratteri sessuali secondari nei coleotteri, Turim, 1880). Os pássaros, por outro lado, também aproveitam a superioridade da força, do tamanho, e até mesmo em quantidade que, como já mencionado para alguns insetos (Lucanus elaphus), permanece como algo comum até as ordens zoológicas mais elevadas. Os machos de muitos pássaros são maiores do que as fêmeas: de fato, em certas espécies da Austrália, a superioridade é de tal monta, que os machos do Cicloramphus cruralis são quase duas vezes maiores que as fêmeas (Darwin, op. cit. p. 332). Deve-se notar, ao mesmo tempo, as ferozes lutas que envolvem os machos desses pássaros, em sua época de reprodução. O macho quase sempre possui características sexuais secundárias; a plumagem rica, o canto e, em muitas espécies, mais solidamente armados; sem mencionar todo esse arsenal de tufos, pelos, penas, cristas que tem o macho e que servem não apenas para decoração, mas também para aparentar ser um animal mais temível: assim, o macho Neomorpha da Nova Zelândia possui um bico bastante forte (Darwin, p. 330); o macho da pernice indiana possui esporas, que a fêmea não possui; algo que também ocorre no tetraz-grande. As asas do pato-ferrão possuem esporas mais longas que as da fêmea, e as utiliza na defesa dos filhotes. Mas há – escreve Darwin – diferentes espécies em que as fêmeas são maiores que os machos; e a explicação que usualmente se dá, ou seja, de que as fêmeas dispendem mais esforço para alimentar os filhotes, não é suficiente. Em alguns casos, as fêmeas aparentemente desenvolveram seu tamanho e força como consequência da luta contra outras fêmeas para ganhar a posse de machos (id., p. 333). “Em alguns casos, as fêmeas se tornaram mais agressivas no cortejar, enquanto os machos permanecem comparativamente passivos, e escolhem as mais belas fêmeas. As fêmeas de certas aves adquiriram assim cores brilhantes ou outros tipos de ornamentos, e tornaram-se mais fortes e belicosas que os machos”. Mas o predomínio do macho, incerto em todas as ordens zoológicas inferiores, estende-se e se instala permanentemente entre os mamíferos, nos quais o reinado masculino é incontestável. “Em todos os mamíferos”, diz Darwin, “os machos são sempre mais fortes e maiores que as fêmeas, sempre que há uma diferença de tamanho entre os dois sexos, como é frequentemente o caso”. Os quirópteros, insetívoros, e muitos dos roedores, no entanto, não apresentam diferenças significativas, de modo que é difícil descobrir o sexo de cada indivíduo: e, provavelmente, mesmo o vigor entre ambos será semelhante (Canestrini, Teoria dell’evoluzione, p. 64). Nos carnívoros, as diferenças são notáveis: o leão é maior e mais forte. O que também ocorre entre ruminantes e caprinos. O mesmo se pode dizer em relação à estrutura física. O leão possui juba, músculos, patas, dentes caninos mais poderosos; e possui, ainda, outra poderosa arma de intimidação, o rugido, que não existe na fêmea. O mesmo ocorre entre os ruminantes. Os machos são maiores e mais fortes, além de armados com complexos sistemas de chifres que, nas fêmeas, são bastante rudimentares. O cervo macho possui chifres, mas não as fêmeas; nas renas, ambos os sexos os possuem. Machos e fêmeas de certas espécies possuem chifres, mas que são maiores e mais fortes nos machos – como ocorre com o boi almiscarado e com o touro. O macho do búfalo indiano possui chifres mais curtos que os da fêmea, mas são mais sólidos: o mesmo caso do Rhinoceros simus. Nos cavircórneos, geralmente ambos os sexos apresentam chifres, mas são menores nas fêmeas e, em algumas espécies, estão totalmente ausentes (Antilocapra bezoartica, A. americana). Certos antílopes machos possuem os dentes caninos mais desenvolvidos; no cervo almiscarado (Moschidae), os machos possuem caninos que se sobressaem como garras. Entre os solípedes, o garanhão possui dentes caninos bem desenvolvidos, que na fêmea são rudimentares. Entre os paquidermes, o elefante e o javali são armados com defesas, que se apresentam como apenas rudimentares ou deficientes nas fêmeas (Brelim, op. cit. I, p. 163). As fêmeas dos rinocerontes têm chifres mais frágeis. Entre os cetáceos, o narval macho possui dois dentes caninos no maxilar superior, dos quais o da esquerda se estende horizontalmente para a frente com um comprimento de três metros e é retorcido, enquanto na fêmea os dois caninos são rudimentares. O macho da cachalote possui uma cabeça maior. 3. Primatas. Entre os primatas, as diferenças se acentuam em perfeita analogia com a raça humana. Enquanto o macho gorila tem até 2 metros de altura, a fêmea nunca ultrapassa 1,50m. Na fêmea, o crânio é menor e arredondado; é menos prógnato e mais leve, carece de cristas ósseas, por isso toma a forma trapezoidal, enquanto no macho é piramidal; o nariz é menor e inclinado, com uma parte traseira mais curta. Corpo, mãos, pés são mais finos, e os músculos menos musculosos; os ombros, os braços, as pernas são mais delicados; o topodo úmero é mais achatado, a tíbia é menor e menos prismática, os ossos da bacia são maiores e planos e menos ocos em seu interior; e o ísquio é mais divergente na fêmea. A fêmea é muito mais fraca (Hartmann, Scimmie antropomorfe, Milão, 1881). Seus dentes caninos são menos acuminados, menos comprimidos, de forma triangular e menos salientes: o molar tem cinco cúspides, duas exteriores, duas interiores, e uma posterior, similar ao que ocorre com os humanos (Hartmann). A fêmea do chimpanzé também é menor e mais fraca, com músculos menos angulosos e o corpo com formas mais arredondadas. Ela tem a cabeça menor, face oval e nariz mais achatado; possui músculos dos membros inferiores menos angulosos, mãos e pés menores e mais graciosos; possui dentes mais finos. No crânio, os ossos parietais descem muito obliquamente da sutura sagital, em que há uma protrusão óssea, e as arcadas supraciliares são menos desenvolvidas. É menos pronunciada do que no macho, que tem o rosto oval (id.). O clitóris e os pequenos lábios, muito volumosos, sobressaem dos grandes lábios quase atrofiados, de modo que a rima pudendi não é constituída pelos pequenos lábios (Blanchard, Sur la Steathopigie des Hottentots, 1883). A fêmea do orangotango também é menor; em seu crânio não existem cristas ósseas: o maxilar superior é mais baixo, o inferior é menor; a face, apesar de saliente, é mais plana na frente (Hartmann). Entre os gibões, o macho é o indivíduo predominante das espécies em relação ao desenvolvimento completo de algumas peculiaridades de sua forma, encontradas apenas de maneira rudimentar no indivíduo feminino, e que no jovem ou imaturo, ou não existem ou se apresentam em estágios primitivos (Hartmann). Um dos gibões, o macaco Sciamang, vive em hordas comandadas por um macho (id.). Nos machos, o conjunto de pelos é mais desenvolvido do que nas fêmeas: também parece que, como na raça humana, a fêmea dos macacos se desenvolve mais rapidamente; certamente, este é o caso do Cebus azarae (Rengger, Säugethiere von Paraguay, 1830). 4. Síntese. Entre os animais inferiores, portanto, é bastante difundido o predomínio do tamanho e da força da fêmea: superioridade que é mantida no mundo zoológico, e alcança algumas espécies de aves. De toda forma, quanto mais se sobe na escala zoológica, mais o macho se aproxima da fêmea; de tal forma que, entre os mamíferos, possui, sem margem a dúvidas, o protagonismo da espécie. E, além disso, mesmo em espécies nas quais o macho seja inferior em relação à força e ao tamanho, será sempre superior em relação à variabilidade e perfeição da estrutura física. E se deve salientar ainda – como escreve Milne Edwards – que, usualmente, as diferenças específicas que existem entre diferentes membros, são menores entre as fêmeas do que entre os machos. E, de acordo com Darwin, a força primitiva e a tendência hereditária são maiores nas fêmeas, enquanto nos machos são mais variáveis, como expresso no axioma de criadores e horticultores: o macho dá variedade, a fêmea a espécie (Darwin, L’origine des espèces). E entre os insetos, é sempre o macho que possui asas: símbolo e ferramentas de sua maior mobilidade. Isso ocorre por conta de sua necessidade de buscar, capturar, e imobilizar a fêmea, o que acabou por gerar o desenvolvimento de novos órgãos. Segundo Darwin, esses caracteres secundários são sempre mais numerosos, em todo o reino animal, entre os machos do que entre as fêmeas; e sendo extraordinariamente variáveis, produzem a grande variabilidade dos machos; enquanto as fêmeas preservam as características essenciais da espécie, sendo assim mais fixas, produzindo uma maior monotonia orgânica, definida por Milne Edwards como “uma tendência para representar o tipo médio da espécie”; algo que retornará na psicologia da mulher normal e da delinquente. Estes fatos estão relacionados ao papel essencial que a fêmea desempenha na reprodução das espécies, bem como na luta pela posse da fêmea. Já observamos que a função básica da reprodução é exercida pela fêmea, enquanto o macho possui apenas uma função auxiliar. A maior importância da fêmea é demonstrada pela partenogênese e pelo fato de que, entre alguns himenópteros, em que gerações se alternam, é suficiente uma simples fertilização para o trabalho de reprodução de toda uma vida. Considerando-se as diferentes funções do macho e da fêmea na reprodução, a fêmea deve ser, em espécies primitivas, maior, de forma que consiga nutrir a parte destinada a formar o novo ser. Ao macho, cuja função seria apenas produzir o líquido fertilizante, bastaria um menor consumo de energia orgânica e, portanto, um tamanho menor. Mas a luta entre machos – luta esta que se originou de outro fator, o maior ardor dos desejos sexuais, e talvez também pelo número maior de indivíduos – em ordens superiores, desenvolveu entre eles seu tamanho e força, de modo a torná-los maiores e mais fortes, aumentando a superioridade primitiva em sua estrutura física, por conta do uso de seus órgãos e da seleção, combinada com a lei biológica, destacada por Spencer, de antagonismo, entre reprodução, crescimento e estrutura. O macho tem, em suma, um potencial de desenvolvimento superior ao da fêmea, devido à menor importância que sua participação desempenha na reprodução. Considerando a existência, de acordo com Spencer (Principes de biologie, voi. II, p. 505 e 515), de um antagonismo entre reprodução, crescimento e estrutura, conclui-se que, entre os animais, a fertilidade está inversamente relacionada ao desenvolvimento de seu tamanho e estrutura física. Assim, nesta relação entre evolução do indivíduo e evolução das espécies, os limites de desenvolvimento e diferenciação feminina ficam restritos pelo maior consumo orgânico que as funções reprodutivas, de maior importância, exigem; enquanto que, por motivos inversos, os limites de desenvolvimento masculino são mais amplos. Assim, entende-se que, sob a influência das condições da vida do macho, embora este tenha sido inicialmente menor, acabaria se desenvolvendo mais do que a fêmea. O macho, então, é uma fêmea aperfeiçoada e mais variável, como consequência do grande desenvolvimento de caracteres sexuais secundários, como demonstra o fato, destacado por Milne Edwards e Darwin, de que as fêmeas adultas de todo o reino animal se assemelham aos membros do sexo masculino quando jovens, isto é, quando ainda não ocorreu o desenvolvimento de seus caracteres sexuais secundários. Ainda de acordo com Brooks, o macho é mais complexo e mais progressivo, a fêmea mais simples e mais conservadora. Quando existem condições favoráveis, a fêmea predomina; quando são desfavoráveis, os machos, devido à sua maior tendência à variação, determinam uma maior plasticidade nas espécies. Mas os cuidados próprios à maternidade também determinam as modificações no sexo feminino, como ocorre, por exemplo, com o ferrão entre os himenópteros (Revue scientifique, n. 13, 1891). O predomínio do macho, em relação à sua estrutura, é primitivo, enquanto que em relação à sua força e tamanho é recente, originado por específicas condições que, se ausentes, fariam o macho retornar a seu estado original, com a predominância da fêmea. É claro – escreve Emery –, a regressão pode ser produzida por certas condições da vida (parasitismo, vida sedentária, ou outras condições que exijam uma rápida multiplicação de forma a se aproveitar a alimentação abundante, antes que se torne precária), e reconduzir à condição primitiva, ou seja, à predominância do sexo feminino; e, nolimite, ao próprio desaparecimento do macho. Capítulo II – Anatomia e biologia da mulher 1. Peso e estatura. Nas raças humanas, a mulher é quase sempre inferior ao homem em relação à sua estatura e peso; inferioridade que se amplia, nos indivíduos, em relação à idade e à civilização. Já o embrião masculino é um pouco mais volumoso, para uma mesma idade, que o feminino. Segundo Ploss (Das Weib in der Natur und Volkerkunde, 1887) no nascimento, os bebês masculinos são maiores que os femininos em cerca de um centímetro (0,499 m., 0,489 f.); mas na puberdade, elas se igualam aos homens, e têm até certa superioridade sobre eles (uma jovem, escreve Ploss, de 16 a 17 anos já é tão alta quanto um jovem de 18 a 19 anos). Este fenômeno, que se relaciona à precocidade característica dos seres inferiores – ou seja, quando mais superiores forem os animais, mais tarde será seu desenvolvimento – nos é confirmado, não apenas por Ploss, mas também pelos estudos de Pagliani, Quetelet, Bowditch, Axel-Key, resumidos na tabela seguinte[2]. Vê-se que o crescimento da mulher, mais precoce entre os 11 e 12 anos, diminui em torno dos 14 anos, enquanto que o homem continua até os 16, como acontece também com seu peso, capacidade vital e força muscular. Comparando, em relação a 100 homens, os valores de peso, altura, etc. para cada idade, com relação aos valores para o sexo feminino, teríamos o seguinte: Idade PelaEstatura Pelo Peso Pela capacidade vital Pela força muscular 3 - 90 - - 4 99 97 - 50 5 99 97 - 75 6 98 98 - 70 7 96 90 -83 74 8 97 91 -95 69 9 92 47 92 62 10 =100 99 89 68 11 +101 +101 92 63 12 +102 +101 89 65 13 +102 +106 89 67 14 +103 +105 93 68 15 +101 +104 80 67 16 -97 -95 95 62 17 -96 -95 74 59 18 -96 -90 72 57 Resumindo, a idade de maior desenvolvimento, em relação ao sexo, é: Na mulher No homem Pelo peso Dos 12 aos 14 anos Dos 14 aos 17 anos Pela estatura Dos 12 aos 13 anos Dos 12 aos 15 anos Pela capacidade muscular Dos 12 aos 15 anos Dos 15 aos 17 anos Pela força muscular Dos 12 aos 14 anos Dos 14 aos 15 anos Esta precocidade no desenvolvimento das mulheres é uma constante em qualquer raça e sob qualquer clima, além de ser algo estável, com exceção de pequenos atrasos devidos ao clima e à classe social, como revelam os dados de Pagliani, Axel-Key, Bowditch etc. De fato, o maior desenvolvimento em estatura e peso, entre os meninos das classes pobres, verifica-se aos 15, 16, 17 anos, e entre os ricos, pela altura, na mesma idade, e pelo peso, com pouca diferença, aos 16 e 17 anos. As meninas pobres atingem um maior desenvolvimento (peso e altura) nas idades de 13, 14 e 15 anos; as ricas atingem o mesmo peso à mesma idade, e a estatura aos 12, 13 e l4 anos. Contudo, tanto para homens como para mulheres, uma vez desenvolvidos, o peso e a altura permanecem, nas classes ricas, pouco superiores ao dos pobres. Foi constatado que, nas mulheres, o momento de maior desenvolvimento ocorre antes do início da puberdade: de modo que, por exemplo, meninas com 12 anos que já menstruam têm seu crescimento mais significativo aos 11 anos, enquanto que aquelas que menstruam mais tarde, retardam em um ano seu período de crescimento (Pagliani. op. cit.). Na idade adulta, a mulher é sempre inferior ao homem em estatura, peso, capacidade vital, e circunferência do tórax. A relação entre os dois sexos é: Segundo Tenon: de 88,5 a 100. Segundo Krause: de 81. Segundo vários autores[3]: de 84,9 O homem atinge seu peso máximo aos 40 anos e começa a perdê-lo de modo sensível aos 60; a mulher atinge seu peso máximo mais tarde que o homem, em torno dos 50 anos (Quetelet). Foi constatado que o selvagem da Oceania, em relação a sua altura e peso, possui uma maior variabilidade entre os sexos masculino e feminino (Novara Reise). 2. Diferenças anatômicas[4] Pelos. Sabe-se que, na mulher adulta, a região mais rica em pelos se circunscreve, como uma coroa, em torno da montanha de Vênus, enquanto no homem se aproxima ao umbigo. No entanto, deve-se destacar que são encontradas exceções: Schulze observou cerca de 100 mulheres, sendo que em cinco delas os pelos se prolongavam até o umbigo, e 104 homens, sendo que 34 não possuíam tal prolongamento (Jenai Zeitung, 1874). Eu e Gallia encontramos seis em 100 mulheres normais, das quais três eram canhotas. Pelos em grande quantidade foram encontrados, por Roncoroni, em 16% e em 18% de 50 mulheres normais (v. Arch. di psich, XIII, p. 107), e por Carle em 23%. Na mulher, o pelo é mais longo, fino, e mais resistente ao potássio; durante o envelhecimento, seus pelos se alongam proporcionalmente mais do que no homem idoso, tomando inclusive a face, tornando-se, assim, notavelmente similar ao tipo viril. 3. Esqueleto. O tronco é proporcionalmente mais longo, em forma de pirâmide, com a base nos quadris, com extremidade mais achatada no peito. A coluna vertebral, de acordo com Ploss, seria 69,70 no homem, e 66,69 em mulheres; medula espinal 44,8 dos homens, 41,7 nas mulheres, nas quais predominam a porção lombar e cervical, enquanto seria menor a porção dorsal e sacral: o peito no homem tem um comprimento de 25-26, e em mulheres 23-24. Riccardi descobriu que, nas mulheres, a relação entre tronco e altura é de 52% e em homens 53%; que nas mulheres, como também ocorre nos macacos e nas crianças, o tronco é mais longo em relação aos membros inferiores, em comparação com os homens (Di alcune correlazioni di sviluppo, etc., Modena, 1891). As escápulas são menos alongadas no tronco; as clavículas mais baixas e menos curvas; o esterno é mais curto, mas com o manúbrio e os apêndices cartilaginosos proporcionalmente mais longos. As costelas são mais finas e curtas, mas mais arqueadas, e afundadas em torno da coluna vertebral, de modo que os músculos das costas se aprofundam. A sexta costela é móvel, enquanto é imóvel no homem. O eixo das vértebras é mais curto, com maior distância entre elas; o fêmur é mais curvado, e mais oblíquo em direção ao interior do corpo. A traqueia é relativamente estreita e mais comprida, para um diâmetro menor e um maior número de anéis de traqueia, que se dividem na abertura pulmonar no homem, afunilando-se, então, de maneira a formar um cone; nas mulheres permanece mais redonda e cilíndrica. A laringe é menor, alta, estreita; possuir menos cartilagem e é oca, de maneira que suas duas partes não se unem em um ângulo que forma o pomo de Adão dos homens, mas em um arco. Os ligamentos são menos fortes e elásticos; cordas vocais mais curtas (15-20 mm.; em homens, 20-25 mm.); glote menos extensa; assim, a voz feminina é mais aguda e é uma oitava mais alta que a do homem. A cavidade abdominal é maior em dois ou três centímetros, resultado do comprimento da coluna vertebral lombar. O espaço superior, no entanto, é mais estreito, enquanto é mais longo, baixo e largo do que nos homens. O epigástrio é mais elevado, porque o esterno, mais curto, desce apenas ao nível da 7ª vértebra lombar (9ª nos homens), e o hipocôndrio mais estreito: daí o corpo mais magro. O estômago é um pouco menor, e o intestino um pouco mais longo. A uretra possui apenas 2cm de comprimento, e 1/2cm de largura. A bacia é a parte mais característica da mulher porque, nela, essas partes ósseas são mais moles. É mais ampla, menos profunda, menos inclinada; as cavidades cotiloides estão mais distantes e são mais oblíquas e elevadas que no homem; o osso sacro é menos curvado, em forma de cunha, maior, mais fino, mais móvel e saliente. Todas as dimensões da fossa ilíaca interna são menores; a fossa ilíaca é menos profunda. A parte dorsal, que é a tuberosidade ilíaca, é muito menos desenvolvidado que no homem. As espinhas do púbis estão mais distantes. Os diâmetros transversais da zona superior da bacia são maiores nos homens do que nas mulheres, enquanto que o diâmetro transversal da zona inferior (o aro da bacia) é mais elevado nas mulheres. Sergi encontrou um índice sexual em raças humanas, resultante da relação entre o diâmetro transversal entre as cristas ilíacas e a zona transversal inferior da bacia, sendo o índice mais elevado em mulheres[5]. O grande sulco isquiático é menos aberto e mais profundo; a parte superior das espinhas isquiáticas está à frente das espinhas ilíacas póstero-inferiores. A arcada púbica da mulher é mais ampla (75°; no sexo masculino é de 58°); além disso, é arredondada à extremidade desse ângulo, e o tubérculo ísquio-púbico é côncavo em direção à sua parte média; o sacro e o cóccix são menos elevados e mais achatados; a cavidade cotiloide é menor, mais direcionada para trás e para dentro. A abertura sub-púbica é relativamente mais larga e mais oblíqua, mais em direção ao exterior e para baixo, do que no homem. Os ossos ílio estão localizados mais para trás, com uma margem superior mais ampla e em uma posição quase horizontal, contribuindo para tornar mais cômoda a abertura pélvica e apresentar uma especial conformação aos quadris femininos e imprimir certa caraterística ao caminhar, que é própria da mulher. As extremidades superiores e inferiores são mais graciosas e com saliências menos pronunciadas. O pé é mais curto e delicado; o colo do fêmur forma um ângulo reto em relação ao corpo, de tal modo que torna os trocânteres mais salientes, fazendo com que o fêmur se coloque obliquamente para dentro, e os joelhos mais próximos em relação a um plano mediano. Mesmo as mãos são ususalmente menores que a dos homens; o braço é mais curto e redondo. 4. Coração e Pulmões. O coração da mulher apresenta, em proporção ao tamanho do corpo, um volume um pouco menor, resultado do menor esforço. De acordo com Orth, o peso do coração é, na mulher, de 250g, e de 300g nos homens. No entanto, em comparação com o peso corporal é 1:162 e 1:169. Mesmo o diâmetro e peso dos pulmões foram demonstrado como sendo menores nas mulheres. Segundo os dados de Hasche: Homem Mulher Peso pulmonar (Krause) 1424 g. 1126 g. Relativo ao corpo 1:37 1:43 O sistema circulatório é, segundo alguns, meno denso e mais estreito, razões da clorose; no entanto, as ramificações arteriais na bacia são mais numerosas. 5. Gordura. Nos homens predominam o sistema ósseo e muscular; em mulheres, no entanto, é a gordura, tecido conjuntivo, causa de suas formas mais arredondadas, e que as raças negra e asiática aumentam por seleção sexual ou artificial (imobilidade, nutrição especial de cerveja, leite, pressão). Nestas raças, a gordura aparece em uma idade mais jovem do que para nós; de fato, em alguns povos (Hotentotes, Cafres, Bosquímanos) acumula-se nos pequenos lábios e nas nádegas, de modo a formar uma sustentação às crianças e que surge, em parte, por conta da seleção sexual e, como veremos, em parte pelo exercício quase exclusivo da maternidade. 6. Sangue. Mesmo no sangue a inferioridade feminina é clara. Na verdade, o número de células vermelhas do sangue nas mulheres é inferior ao dos homens. Hayem (Legons sur les modifications du sang, Masson, Paris, 1882) dá uma média de 4.900.000 células vermelhas do sangue para as mulheres, e 5.500.000, para os homens. Entre glóbulos brancos não se notou diferenças entre homens e mulheres. São encontrados ainda, nos homens, 0,05824 por 100 de ferro, enquanto que nas mulheres encontra-se 0,0499. O peso das células vermelhas contidas no sangue varia de acordo com o sexo; na verdade Lebmann encontrou, em homens robustos, 136 por 1000, nos frágeis 116 por 1000 – nas mulheres robustas 126, e nas frágeis 117. Apesar de seu peso específico ser, de acordo Landois e Peiper, menor em mulheres e crianças. Figura 1 – Obesidade na Abissínia. Almofada posterior em Africanas. a) Bailarina ou prostituta Abissínia (Ploss) (tipo de obesidade africana). b) Hotentote com almofada posterior (Ploss). c-1) Mulher Bongo (Schweifurth). c-2) Mulher Korana com almofada posterior e hipertrofia das nádegas e coxas (Ploss); d) Mulher selvagem carrega uma criança em suas costas, como fazem todos os povos primitivos (Ploss). Sobre esta questão, Peiper apresenta os seguintes índices: Homem 1,0450 a 1,0665 Mulher 1,0535 Menino 1,0522 Menina 0,0501 Em relação ao peso específico, Hammerschlag apresenta os seguintes índices: Homem 1061 Mulher 1054-1058 Schneider[6] descobriu, recentemente, em relação às mulheres: inferior peso específico do sangue = 1055,7 (para os homens[7] é 1060,7), maior peso específico do soro superior, 1029,6 (1028,5 em homens); resíduo dessecado dos glóbulos vermelhos do sangue em 100g de sangue, 13,7, enquanto em homens é de 16,9; teor de hemoglobina no espectrofotômetro apresenta um coeficiente de 0,81 (0,93 para os homens);o peso dos glóbulos vermelhos em 100g de sangue 34,9 (homens 47,8); peso de soro de 100g de sangue 65,04 (52,12 no homem); resíduo dessecado de 100 células de glóbulos vermelhos 39,7 (homem, 35,4): cifras que confirmam que o sangue da mulher tem um peso específico menor que o do homem, soro com peso específico mais elevado, quantidades menores de hemoglobina e glóbulos vermelhos, cujo resíduo seco, porém, possui um peso absoluto maior que no homem. A hemoglobina em mulheres, segundo Mikulicz e Bierfreund, seria de 78%. Becquerel e Rodier apresentaram as seguintes médias de componentes do sangue em relação ao sexo: Homem Mulher Água 779 791,10 Fibrina 2,20 2,20 Gorduras neutras 1,62 1,64 Gorduras saponificadas 1,00 1,04 Gorduras fosfóricas 0,49 0,46 Colesterina 0,09 0,09 Soro 69,40 70,50 Células de sangue seco 141,10 127,20 Materiais de extração 0,87 - Sais 5,93 7,15 Ferro 0,0565 0,01 7. Crânio. Dada a menor estatura da mulher, e o peso mais leve de seus ossos, seria natural que seu crânio e cérebro fossem significativamente menores: e isso é, de fato, demonstrado por todas as estatísticas. De acordo com Morselli, o crânio masculino das raças italianas pesa mais do que o crânio feminino (o peso do crânio masculino seria 602, feminino 516)[8]. (Archivio di Antropologia, v. V, 1875.); no entanto, ele encontrou mais diferenças individuais no peso dos crânios femininos: na verdade, os homens apresentaram um máximo de 910 (em um chinês) e um mínimo de 440, com uma diferença de 470g; nas mulheres, um mínimo de 313 e um máximo de 850g, com uma diferença de 550g; dados que contradizem a menor variabilidade constantemente encontrada na fêmea e nas mulheres. Mas Morselli não advertiu que este último crânio feminino fora de uma mulher hidrocefálica da Toscana, e que o crânio masculino mais pesado era de um chinês; dados pouco comparáveis com a massa dos outros dados derivados a partir de crânios da Lombardia e da Toscana. O peso absoluto da mandíbula varia no homem de 130g a 47, com uma diferença de 83g, e nas mulheres de 95 a 43, com uma diferença de 52g. Assim, ocorre o inverso do que foi demonstrado em Morselli, com o peso da mandíbula feminina com uma variação menor do que a do sexo masculino. A mandíbula deste pesa tipicamente muito mais do que a feminina (homem 80, 66 mulher). A razão entre o peso do crânio para o maxilar inferior, enquanto que em homens é de 12-17%, para as mulheres é de 10-15%. A inferioridade da mandíbula feminina também é encontrada em raças selvagens e entre os primatas. Assim, a mandíbula do orangotango adulto macho pesa 303, da fêmea, 74; em chimpanzés, m. 73, f. 56; no Inuus caudatus m. 55, f. 52 ou 50: todos esses números, no entanto, devem ser considerados com reserva,pois devem estar relacionados ao tamanho ou peso do corpo. De toda forma, medindo-se o peso do crânio em relação ao peso da mandíbula, em 47 crânios de diferentes raças, sempre se confirmou a inferioridade do sexo feminino, em média. Homens Mulheres Relação Peso da mandíbula 95,3 65,9 m. 684,2 h. 1000 Peso do crânio 651,6 541,7 m. 831,0; h. 1000 Relação entre ambos os pesos 13,98 12,28 m. 883, 2; h. 1000 O Dr. Ardu também destaca que o diâmetro biangular da mandíbula é superior nos homens (94.1, m. 89.8, Arch. di psich., XIII) tanto em adultos como em jovens, o que também ocorre na comparação com os loucos, os criminosos, os selvagens e os antropoides. Segundo um estudo especial de Mantegazza (Archivio di Antropologia, 1872), a principal diferença entre os crânios masculino e feminino seria a menor capacidade destes últimos (1338 das mulheres, a 1452 nos homens). Segundo Davis, a capacidade do crânio masculino em comparação com o feminino é: Masculino Feminino Na raça europeia 1367 1206 Na raça oceânica 1319 1219 Na raça americana 1308 1187 Na raça asiática 1304 1194 Na raça africana 1293 1211 Na raça australiana 1214 1111 Segundo Vierordt (op. cit.): Masculino Feminino Europa média 1500 1300 Europa meridional 1200 1100 Europa setentrional 1750 1550 Segundo Ranke (Beiträge zur Biologie, etc., 1882): Masculino Feminino Munique 1525 1361 Pode-se ver nestas diferenças o efeito da altura e peso[9] do corpo, mas as interessantes pesquisas de Amadei demonstram que, tendo uma mesma estatura, a capacidade craniana feminina é inferior à masculina. De 1,65 a 1,70, a capacidade craniana masculina é de 1553, e a feminina de 1409. De 1,60 a 1,55, a capacidade craniana masculina é de 1527, e a feminina de 1359. Partindo do centro, há uma variação da média de 1560c.c. para os homens e de 1375c.c. para as mulheres, em europeus. Afastando-se do centro das variações ou da média (de 1560 c. c. para homens e 1375 c. c. para mulheres, em europeus), as variações extremas se encontram, no homem, em 334 no máximo, 260 no mínimo, ou seja, 66c.c.; e na mulher, de 332 no máximo, e de 275 no mínimo, ou seja, de 57c.c. Os dois sexos são, então, quase iguais. Um fato notável é que, tanto na capacidade, como no peso, as raças inferiores apresentam pequenas diferenças, como se perecebe consultando os números a seguir, que representam a capacidade craniana em mulheres em comparação com a dos homens = 1000 (Morselli, Sul peso del cranio e della mandibola in rapporto col sesso. Arch. di antr., v. V). Capacidade craniana feminina em relação à masculina = 1000 Negro 984 Davis Australiano 967 Davis Hindu 944 Davis Malaio 923 Tiedemann Holandês 917 Tiedemann Irlandês 912 Davis Neo-caledônio 911 Broca Italiano 921 Mantegazza Auvernês 904 Broca Eslavo 903 Weisbach Holandês 883 Davis Guanches 869 Davis Bascos 855 Davis Boêmios 875 Kopernicki Baixo-bretões 873 Kopernicki Chineses 870 Davis Alemães 897 Welcker 978 Weisbach 838 Huscke 864 Tiedemann Parisienses 858 Broca Anglo-saxões 862 Broca Negros-ocidentais 874 Broca Topinard afirma, no entanto, que a mulher selvagem, muitas vezes com uma altura que é relativamente menor à masculina, comparando-se com o europeu, justifica, até certo ponto, sua menor capacidade craniana. A estatura, porém, não teria nenhuma influência sobre essa outra característica feminina, encontrada por Arnold e Weisbach, e confirmada por Mantegazza, que seria a braquicefalia mais exagerada, considerando-se a mesma raça e idade. Mantegazza (Arch. di antr., 1875, p. 209) encontrou, em 97 meninos (de perto de Bolonha), um índice 79,10, e para meninas (de perto de Bolonha), um índice de 83,35. Raças nas quais a mulher é mais braquicéfala que o homem. Índice cefálico Mulher Homem Helvético (His) 703 714 Negro (Huschke e Davis) 715 730 736 740 Irlandês (Davis) 746 760 Francês (Sappey) 768 791 Dinamarqueses (Davis) 780 785 Neo-caledônios (Broca) 716 720 Guanches (Broca) 746 769 Negros ocidentais (Broca) 728 714 Chineses (Davis) 774 766 Tamanianos (Davis) 737 768 Alemães (Krause) 793 807 Kanakas (Davis) 800 805 Todavia, esta característica, especialmente presente nos crânios suíços, franceses, negros, capuanos, chineses, papuanos, não é constante, pois não há indícios de que ocorra entre os antigos e modernos Ingleses, entre os Indianos, e entre os Esquimós. Raças nas quais a mulher é mais dolicocefálica que o homem. Índice cefálico Mulher Homem Parisienses (Broca) 794 777 Holandeses (Davis) 802 785 Bretões antigos (Davis) 794 772 Crânios medievais (Hölder) 773 771 Baixa-Bretanha (Broca) 817 806 Ingleses (Davis) 773 760 Antigos Komanos (Davis) 770 757 Hindu (Davis) 768 753 Bascos (Broca) 868 702 Antigos Bolonheses (Calori) 802 800 Groenlandeses (Davis) 725 704 Esquimós americanos (Davis) 755 741 De acordo com Mantegazza, o crânio feminino europeu possui arcadas supraciliares menos desenvolvidas, e isso seria uma característica constante; menor cavidade orbital; maior índice céfalo-orbital; o forame magno menor (691,7:733,9); menor índice cérebro-espinal; junções musculares menos desenvolvidas; altura inferior; apófise mastoide menos desenvolvida; testa menos vertical; base menor; parte anterior mais baixa e mais estreita, a metade posterior mais alta e larga; o rosto, em relação ao crânio, menor, mais baixo e mais estreito[10]; sendo mais comum que o crânio feminino se aproxime do masculino, e não o contrário. A pequenez, a menor estatura, o pequeno desenvolvimento dos músculos occipitais são quase constantes na fêmea humana; se também forem pequenas as arcadas supraciliares, o diagnóstico sexual é quase certo (Mantegazza). De fato, muitas dessas diferenças Mantegazza encontrou posteriormente nos crânios de selvagens como os papuas. Há entre os papuanos: Masculino Feminino Capacidade média 1425 1285 Índice cefálico médio 69,84 71,91 Índice vertical médio 71,95 73,01 Índice facial 65,65 66,94 Índice orbital médio 85,00 86,84 Índice nasal médio 52,94 55,32 Ângulo facial médio 70º 71º Ângulo alveolar médio 60,5º 62º Mesmo aqui, no entanto, a mulher é menos dolicocefálica que o homem. No índice facial, os homens possuem um pequeno índice orbital, e as mulheres um médio índice orbital; no índice nasal, os homens apresentam narizes grandes, e as mulheres, médios. Deve-se adicionar a estas características sexuais aquelas da menor frequência inferior da fossa occipital mediana, que encontrei em mulheres normais na proporção de 3,4%, enquanto nos homens seria de 4,5 a 5,6%. Outras diferenças sexuais cranianas, segundo Krause (Anatomie) e Benedikt, seriam: Homem Mulher Diâmetro longitudinal menor, média 20 cm. 18,0 cm. Diâmetro transversal, média 16,0 cm. 14,0 cm. Altura do crânio, menor, média 13,5 cm. 12,9-12,5 cm. Altura da órbita maior, média 3,3 cm. 3,4 cm. Circunf. horizontal do crânio (Benedikt), média 52,1 cm. 49,8 cm. Curva transversal menor, (Benedikt), média 31,0 cm. 30,0 cm. Curva longitud. osso-front. (Benedikt), média 12,5 cm. 12,0 cm. Curva longitud. osso-pariet. (Benedikt), média 12.5 cm. 11,9 cm. Curva longitud. osso-occip. (Benedikt), média 11,5 cm. 11,1 cm. Mas, o mais importante, talvez, sejam as diferenças encontradas por Ecker (Arch. Fur Anthrop., V, 1872): a) O crânio feminino é semelhante ao infantil nos ossos frontal e parietal, mais desenvolvidos do que no masculino: b) Pelas dimensões, o crânio feminino difere do masculino: 1. Pela pequenez do rosto em comparação com o crânio, sendo de característica infantil; 2. Pela preponderância da calota craniana em comparação com a base; 3. Pela altura mais baixa (já afirmada por Korner); 4. Maior achatamento do crânio, acima de tudo no vértice (idem); 5. Pela direção perpendicularda testa, de puro caráter infantil; é o fato da testa ser mais proeminente no alto do que em baixo, que dá ao fronte feminino certa nobreza; 6. Pela passagem abrupta, angulada, em vez de em arco, da superfície do crânio na linha frontal e também occipital, especialmente nos braquicefálicos. Segundo Weissbach (Arch. fur Anthrop., 1878), o crânio feminino alemão: 1. É menor e mais leve, mais largo, mas não tão alto; da mesma forma, tem uma base relativamente estreita; as têmporas são mais achatadas na direção longitudinal, enquanto que na transversal é mais arqueada; 2. A parte frontal da cabeça é menor, mais curta e estreita; mais curvada na direção sagital, mas menos na horizontal e na transversal; a protuberância frontal, quando considerada em relação com o comprimento do crânio, está mais afastada, mas quando se leva em consideração a maior largura do crânio feminino, está de fato mais próxima. Todos os diâmetros da parte anterior da fronte são menores; 3. A parte mediana da cabeça, no sentido sagital, é mais achatada; por outro lado, na direção transversal é mais larga e arqueada, com partes mais rebaixadas e distorcidas. A superfície temporal assemelha-se à masculina, mas o intervalo temporal é inferior e as paredes laterais são mais longas e curvadas no sentido horizontal; 4. A parte occipital difere da masculina por sua maior altura e comprimento, enquanto que são iguais na largura. 5. A base do crânio em mulheres é mais estreita e mais curta; a parte basal é mais longa, mas a occipital é menor e mais estreita. Os forames estilomastóideos estão mais próximos; os ovais, mais distantes. 6. A face feminina é, em proporção ao crânio, menor do que a dos homens em todos os tamanhos, ortógnata, mais longa, baixa, estreita, exceto na parte superior; a base do nariz é mais ampla; as órbitas estão mais afastadas, são maiores e mais altas. O maxilar superior é mais largo, com arcadas mais baixas e curtas, com palato mais largo; a mandíbula inferior é menor, mais achatada, com o queixo mais largo e curto, ramificações menores e mais curtas. O índice vertical é mais baixo entre as mulheres; apenas entre os Boêmios é mais alto (Koper): homem 75, e mulher 77, com diferença de 0,02. Entre as mulheres Islandesas é um pouco mais alto, 0,02; Entre as mulheres de Musch é um pouco mais alto, 0,01; Entre as mulheres Khor é um pouco mais alto, 0,03; Entre as mulheres Chinesas é um pouco mais alto, 0,04; Entre as mulheres Dayak é um pouco mais alto, 0,04. As variações individuais que podem ser observadas nas medições cranianas de mulheres selvagens são menores do que a dos homens. De acordo com Schaffhausen e Albrecht, os dentes incisivos médios são mais largos, 8,8, do que nos homens, e a mulher teria mais prognatismo. Em geral, de acordo com todos os autores, e em todas as raças, embora com mais destaque nas civilizadas, o crânio feminino é mais infantil, tanto em sua capacidade quanto em sua forma, do que o masculino, e sempre inferior, especialmente na parte frontal, nos ângulos, e na capacidade facial; e apresenta menor variabilidade que no homem. 8. Cérebro. O cérebro da mulher pesa menos do que o do homem. Segundo Manouvrier, o peso do cérebro feminino estaria para o masculino na proporção 89 por 100. Peso médio do cérebro em indivíduos entre 20 e 80 anos. Homem Mulher Hannover (Krause, Anatom.) 1461 1341 Inglaterra (Sims, Med. Chir. Trans., 1885) 1412 1292 França (Sappey, Traité di Anat. descr.) 1358 1256 Suíça (Hoffmann, Anatomie) 1350 1250 Rússia (Blosfeld, Henke’s Zeitsch. f. Staatsartzneilkunde) 1346 1195 Áustria (Meynert, Vierteljahrssch. f. Psych., 1867) 1296 1170 Média geral 1358 1235 Diferença 123 Topinard e Manouvrier observam que, na espécie, estas variações, tais como as do crânio, podem ser apenas dependentes, proporcionalmente inferiores, à altura e peso corporal (88,5%). Mas ainda que seja feita esta comparação, o peso do cérebro da mulher permanece inferior, mas com diferenças menos significativas. Isso pode ser visto no trabalho de Bischoff em relação ao peso dos cérebros dos dois sexos, em relação ao peso do corpo. Peso do corpo Peso do cérebro Quilogramas Homem Mulher 20 - 4,47% 30 3,7% 3,37% 40 2,98% 2,70% 50 2,5% 2,29% 60 2,16% 1,99% 70 1,99% - 80 1,59% - É evidente que as diferenças, desta forma, são menos pronunciadas. Mas a inferioridade permanece; e de fato, de acordo com Calori (Memorie dell’Accademia delle Scienze di Bologna, 1871), o peso do cérebro está para o peso do corpo na relação 1: 46-50 no homem, e 1: 44-48 na mulher. Segundo Reid (London and Edimb. moni. Journ. of med., 48), em indivíduos com idade de 25 a 55 anos, a proporção é de 1: 37,5 no homem; 1: 35 em mulheres. Considerando-se em relação à idade, vemos com Bischoff (Hirngewicht): Idade Homem Mulher 14-20 1376 1246 20-30 1358 1239 30-40 1366 1222 40-50 1348 1214 50-60 1345 1228 60-70 1315 1210 70-80 1290 1170 80-90 1284 1127 Pode-se ver que o cérebro da mulher jovem apresenta a maior semelhança com o cérebro do homem; as menores semelhanças ocorrem idade adulta e avançada[11]. Hammond realizou pesquisas comparativas sobre o peso específico das matérias cinza e branca do cérebro. Após o exame de 20 cérebros de ambos os sexos, obteve os seguintes resultados: Homens, substância cinza máxima, 1,0372, mínima 1,0314, média 1,0350; Mulheres, substância cinza máxima, 1,0325, mínima 1,0291, média 1,0317; Homens, substância branca máxima, 1,0427, mínima, 1,0341, média 1,0384; Mulheres, substância branca máxima, 1,0386, mínima, 1,0311, média, 1,0379. As precisas observações de Rüdinger (Vorlaufige Mittheilungen über die Unterschieden der Grosshirnivindungen nach Geschlechtbeim Fetus und Neugeborenen, Munique, 1877) e Magazzini (Intorno ai solchi e le circonvoluzioni deiprimati, Roma, 1888) revelam algumas diferenças entre os cérebros masculino e feminino, que começam a se estabelecer no oitavo mês, especialmente no exterior dos lobos frontal e parietal, menos claramente sobre alguns lóbulos da face mediana. Da mesma forma, em macacos, pelo menos em algumas espécies de antropoides, Rohon (Zur Anatomie der Hirnwindungen, Munique, 1888) observou que existem características diferenciais entre os cérebros masculino e feminino, semelhantes às observadas no feto humano. Comparando um cérebro de chimpanzé macho com o de uma fêmea, ele observou que, no lóbulo frontal, as interrupções das circunvoluções, nas ranhuras secundárias, são mais numerosas no macho; de forma correspondente, ao maior desenvolvimento do r. anterior fiss. Sylvi, no chimpanzé macho, apresenta-se um maior desenvolvimento do g. frontalis tertius; a partir das observações de Rüdinger sabemos que, no cérebro da mulher, este giro é mais simples do que no homem. No lobo parietal do chimpanzé macho, Rohon observou que a primeira dobra da passagem e a circunferência parietal mediana eram mais robustas, que as s. interparietalis eram compostas por três segmentos agrupados, enquanto na fêmea o sulco era reto e mais próximo da linha mediana. Além disso, o cérebro da fêmea pesava entre 15 a 20 gramas a menos, o que, de acordo com os cálculos de Rohon, era consequência da diminuição da massa no lobo parietal. Podemos, aqui, relembrar como Turner (Proceeding of the E. S. of Fdimburgh, 1865-1866) encontrou à direita do cérebro de um chimpanzé macho, a primeira superfície de dobra de passagem, e à esquerda, a segunda; por outro lado, um cérebro de fêmea apresenta a fiss. perpendic. externa contínua, com um operculum bastante limitado, e no outro, à direita, repetia-se o mesmo fato, ao passo que à esquerda da primeira dobra, a passagem era apenas superficial. Também no chimpanzé macho, o s. Rolandi possuía uma posiçãomais oblíqua e tortuosa que na fêmea; uma diferença bem explicada pelo maior desenvolvimento do cérebro frontal no chimpanzé macho. 9. Fisionomia. É desnecessário destacar como a fisionomia da mulher, sua falta de barba, seu tamanho menor e mais arredondado, especialmente no maxilar inferior, revela-a mais infantil e delicada que o homem. No entanto, na primeira infância e na extrema velhice, nos primeiros e últimos anos, especialmente entre as classes mais baixas, e em várias raças selvagens (Hotentotes, Cafres, Bosquímanos), a semelhança com o homem é muito grande; o rosto da mulher torna-se viril. 10. Caracteres degenerativos. A mulher difere do homem não só pelo crânio, desenvolvimento da mama, cabelos, e em todos os aspectos que Darwin denominou de caracteres sexuais secundários; mas também pela quantidade e intensidade dos traços degenerativos. Anomalias encontradas entre 50 homens e 50 mulheres de Turim, sem qualquer precedente criminal ou psicopático. Homens Mulheres Orelhas de abano 9 3 Lóbulo séssil 8 14 Mandíbula inferior pronunciada 8 7 Desvio nasal, ou nariz achatado, ou volumoso 8 3 Apêndice lemuriano 7 2 Anomalias dentárias 6 4 Maçãs do rosto salientes 6 7 Prognatismo 5 2 Sínus frontais salientes 4 2 Saliências frontais 3 1 Diastema dos incisos superiores 3 1 Diminuição do diâmetro transversal do crânio na região da têmpora 3 4 Rugas precoces 3 1 Assimetria facial 2 - Depressões sob o crânio 2 - Queixo afundado 2 2 Occipital recuado 2 - Occipital projetado 2 - Estrabismo 2 3 Depressões sob a testa 1 - Lábio superior fino ou vertical 2 - Platicefalia 1 - Estatura excessivamente baixa 1 2 Trococefalia 1 - Fronte alta - 2 A mulher quase nunca exibe certas características degenerativas bastante próprias do homem: orelhas curvadas, saliências da testa pronunciadas, grandes anomalias cranianas, assimetria facial: por outro lado, nela se encontram, em grande proporção, outras características, como novas pilosidades, orelha séssil, precocidade da barba, penugem; características frequentemente encontradas de maneira isolada em mulheres normais. Em 560 mulheres normais, ao longo de uma avenida, encontrei 37 jovens com penugem e buço pronunciado (7%), 34 com mandíbulas proeminentes (6,8%), e nove com o tipo degenerado completo (1,8%). Roncoroni, que examinou cinquenta homens e cinquenta mulheres de Turim, encontrou uma média de 1,88 caracteres degenerativos em homens e apenas 1,20 em mulheres. Anomalias mais graves foram predominantemente encontradas em homens. Conclui-se, portanto, que o homem apresenta com maior frequência as seguintes anomalias: desvio nasal, nariz achatado ou volumoso; maçãs do rosto salientes, e especialmente orelhas de abano, apêndice lemuriano (os dois apêndices lemurianos encontrados em mulheres não eram muito desenvolvidos), assimetria facial, anormalidades da abóbada craniana – isto é, anomalias mais graves; enquanto nas mulheres mais frequentemente encontramos o lóbulo séssil e a diminuição do diâmetro transversal do crânio na região da têmpora. Realizando pesquisas de caracteres degenerativos em loucos, encontrei resultados bastante similares. Esta é a ordem da frequência dos caracteres degenerativos por sexo: Homens Mulheres Com 0 caracteres degenerativos 11 18 Com 1 caractere degenerativo 13 17 Com 2 caracteres degenerativos 12 11 Com 3 caracteres degenerativos 8 3 Com 4 caracteres degenerativos 4 1 Com 5 caracteres degenerativos 1 - Com 6 caracteres degenerativos 1 - 50 50 Mesmo o pavilhão auricular – atualmente, uma parte inútil do corpo – que possui extensas variações na raça humana e nas degenerações, oferece um mínimo de anormalidades nas mulheres. De 25 mil sujeitos examinados, Gradenigo descobriu que orelhas de abano apareciam na proporção de 11% para homens e de 3% para mulheres; lóbulos aderentes, 21,5% nos homens e 12,1% nas mulheres. Normalmente, os pavilhões auriculares são regulares em 36% dos homens e 65% das mulheres. Nelas, apenas algumas anomalias, menos atávicas, são mais comuns. Por exemplo, o anti-hélice proeminente em 7,2% dos homens, e em 11,5% das mulheres; faltando a hélice: em 0,8% dos homens, em 7,3% das mulheres. É possível fixar com precisão a diferença para anormalidades cranianas; Ferraz di Macedo descobriu, em 1.000 crânios normais (500 mulheres e 500 homens): Homens Mulheres Fosseta occipital 4 a 5% 1,8 a 3,4% Osso epactal 1,0% 0,2% Osso interparietal 1,0% 0,4% Sutura metópica 11,8% 9,3% Incisura nasal 4,5% 1,0% Marimò e Gambara em 466 homens e 553 mulheres[12]: Homens Mulheres Osso preinterparietal 2,8% 0,9% Osso interparietal 1,3% 0,09% Prognatismo 0,9% 0,09% Osso wormiano inferior 38,8% 28,15% Reggi encontrou anomalias no osso clinoide em 13% das mulheres, e em 20% dos homens. Figura 2 – Anomalias vulvares em Hotentotes (a, b) e na Europa (c, d, e, f). a, b) Ampliação ou hipertrofia dos pequenos lábios de Hotentote (Blanchard); c) hímen em franja, de uma virgem (Hoffman); d) hímen cribriforme (Hoffmann); e) hímen septado (Miriewsky). O único órgão da mulher frequentemente sujeito a anormalidades é o hímen, que se encontra em franja, em coração, em fita, em bolsa, em crista, circular ou caudado, por conta de uma espécie de extensão de cordão, ou filiforme, com espessamento terminal, que quase toca a margem superior do hímen, segundo Mierzejemski (Hoffmann, Traité de médecine légale, Vol. I, p. 20); isso é explicado pela inexistente importância e utilidade deste órgão, e é, talvez, o vestígio de uma bolsa dos monotremados. Este órgão, que não tem mais nenhuma razão para existir, tendo perdido, como a orelha, sua função natural, é o único órgão da mulher sujeito à grande variabilidade. As mulheres apresentam anormalidades menos frequentes nos órgãos genitais: veja o caso Hotentote (figura 1), que consiste em um alargamento dos pequenos lábios – tal qual um avental[13] – e do prepúcio do clitóris; é variável e sempre diferente em cada indivíduo. Tal anormalidade surge na infância e é consequência do grande desenvolvimento da gordura conjuntiva e subcutânea que encontramos nas raças inferiores; enquanto que, ao contrário, os grandes lábios são atrofiados e o monte de Vênus deprime-se de tal forma que pode mal ser identificado. Esta anomalia é encontrada em várias outras raças. Plínio já destacava sua existência entre os negros, os Cafres, e os mouros. Vincent (Contribution à l’etimologie de la côte occidentale d’Afrique; Revue d’anthropologie, 1874) observou em muitas Negras da costa africana uma extensão dos pequenos lábios, de 5 a 8 centímetros, que é uma passagem ao verdadeiro avental que se forma nas mulheres. Lemser observou a mesma situação em algumas mulheres do rio Mellacorè, e no rio Nunez. Blanchard acredita que esta anatomia tenha origem atávica, pois esta hipertrofia é encontrada no gorila e no Troglodytis Aubryi (Blanchard, Sur la steatopigie des femmes Boschimanes, 1888; Lombroso, Sur le lipome des Portefaix, 1884). Da mesma forma, Gratiolet e Alix (Recherches sur l’anatomie des Troglodytes Aubryi, 1886) revelam também que no chimpanzé os lábios maiores estão atrofiados, enquanto os lábios menores são altamente desenvolvidos. Hoffman e Bischoff observaram que, nos macacos antropoides, os lábios maiores e o monte de Vênus estão quase inteiramente atrofiados, enquanto o clitóris apresenta-se sempre altamente desenvolvido e sulcado em sua face interna; os pequenos lábios são muito desenvolvidos, especialmente na fêmea chimpanzé, e um pouco menos nas outras três espécies de macacos. Agora, a maior parte desses caracteres é
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