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SUMÁRIO 1. Introdução ..................................................................... 3 2. Identificação médico-legal ..................................... 4 3. Identificação judiciária ............................................15 Referências bibliográficas ........................................21 3ANTROPOLOGIA FORENSE 1. INTRODUÇÃO A Antropologia forense é a aplica- ção prática ao Direito de um conjun- to de conhecimentos da Antropolo- gia Geral visando principalmente às questões relativas à identidade mé- dico-legal e à identidade judiciária ou policial. É o ramo da Medicina Legal que estuda a identidade e identifi- cação do ser humano através de um processo técnico-cientifico organiza- do de individualização da idade, do sexo, do padrão racial e da estatura. CONCEITO! Conceitua-se identidade como o conjunto de caracteres que in- dividualiza uma pessoa ou uma coisa, fazendo-a distinta das demais. É um elenco de atributos que torna alguém ou alguma coisa igual apenas a si próprio. Consiste na soma de sinais, marcas e caracteres positivos ou negativos que, no conjunto, individualizam o ser huma- no ou uma coisa. A identificação é a determinação da identidade, ou seja, da individualidade. É a demarcação da individualidade. E, para fazê-la, ela se serve de um conjunto de diligências, numa sucessão de atos so- bre o vivo, o morto, animais e coisas. Para um método de identificação ser considerado aceitável, deve-se prio- rizar a análise das características do indivíduo que possuam os seguintes fundamentos biológicos ou técnicos: • Unicidade: Também chamado de individualidade, ou seja, que determinados elementos sejam específicos daquele indivíduo e di- ferentes dos demais. • Imutabilidade: São as característi- cas que não mudam e não se alte- ram ao longo do tempo. • Perenidade: Consiste na capaci- dade de certos elementos resisti- rem à ação do tempo, e que per- manecem durante toda a vida, e até após a morte, como por exem- plo o esqueleto. • Praticabilidade: Um processo que não seja complexo, tanto na obtenção como no registro dos caracteres. • Classificabilidade: Este requisito é muito importante, pois é neces- sária certa metodologia no arqui- vamento, assim como rapidez e facilidade na busca dos registros. O material de estudo para o processo de identificação pode ser o vivo (de- saparecidos, pacientes mentais des- memoriados, menores de idade, recu- sa de identidade), o morto (desastres de massa, cadáveres sem identifica- ção, mutilados, estados avançados de putrefação e restos cadavéricos) ou os restos mortais (decomposição em fase de esqueletização, esquele- tos e ossos isolados). Utilizam-se comumente dois proces- sos na identificação: um médico (a identificação médico-legal) e outro policial (a identificação judiciária ou 4ANTROPOLOGIA FORENSE policial). O primeiro, evidentemente, requer conhecimentos de Medicina e demais ciências correlatas; o se- gundo, não sendo de natureza mé- dica, dispensa esses conhecimentos e diz respeito à Antropometria e à Dactiloscopia. SE LIGA! É necessário que se diferencie o reconhecimento da identificação. O primeiro significa apenas o ato de certi- ficar-se, conhecer de novo, admitir como certo ou afirmar conhecer. É, pois uma afirmação leiga, de um parente ou co- nhecido, sobre alguém que se diz co- nhecer ou de sua convivência. Já a identificação é um conjunto de meios científicos ou técnicas especí- ficas empregados para que se obtenha uma identidade. É um procedimento médico-legal cuja finalidade é afirmar efetivamente por meio de elementos antropológicos ou antropométricos que aquele indivíduo é ele mesmo e não outro. 2. IDENTIFICAÇÃO MÉDICO-LEGAL Poderá ser feita no vivo, no cadáver inteiro ou esquartejado, ou ainda re- duzido a fragmentos ou a simples ossos. Examina-se, sumariamente, a espécie, a etnia, o sexo, a estatura, a idade, a identificação pelos dentes, o peso e conformação, as malfor- mações, os sinais profissionais e os sinais individuais (como as cicatri- zes, os tipos sanguíneos, as tatua- gens, os pertences, como no caso de próteses, etc.). Os sinais e dados a serem utilizados na identificação devem ser elemen- tos sinaléticos, que em conjunto são capazes de identificar um indivíduo. O conjunto de elementos sinaléticos deve preencher aos cinco quesitos técnicos: Unicidade, Imutabilida- de, Perenidade, Praticabilidade e Classificabilidade. Espécie Quando se encontra um animal, vivo ou morto, com configuração normal, a identificação se apresenta como tarefa fácil. Às vezes, no entanto, podem-se surpreender fragmentos ou partes de seu corpo, inspirando maiores cuidados na sua distinção com restos humanos. Este estudo pode ser realizado a par- tir da análise do esqueleto encon- trado. A distinção entre os ossos de animais e do homem é feita de início, morfologicamente, pelo exame de suas dimensões e caracteres que os tornam diferentes. Microscopicamen- te, a diferença é dada pela análise da disposição do tamanho dos canais de Havers, que são em menor núme- ro e mais largos no homem, com até 8 por mm2. Nos animais, são mais es- treitos, redondos e mais numerosos, chegando a 40 por mm2 (Tabela 1). Pode ser feita a distinção também pe- las reações biológicas, usando-se as provas de anafilaxia, fixação do com- plemento e soroprecipitação, análise sanguínea, etc. 5ANTROPOLOGIA FORENSE CARACTERÍSTICAS HUMANO ANIMAL Forma Elíptica ou irregular Circular Diâmetro 30 a 150 micras 20 a 25 (< 100 micras) Número 8 a 10 por mm2 Muito superior ao homem, chegando a 40 por mm2 Tabela 1. Características dos canais de Havers no humano e no animal. Fonte: Adaptado de França (2015) Perfil facial prognata; fronte alta, saliente, arqueada. Íris castanha. Nariz pequeno, de perfil côncavo e narinas curtas e afastadas. Zigo- mas salientes. Prognatismo acen- tuado. Mento pequeno. • Tipo indiano: Pele amarela triguei- ra, tendendo para o avermelhado. Estatura alta. Cabelos lisos como crina de cavalo, pretos. Íris casta- nha. Crânio mesocéfalo. Supercí- lios espessos. Ausência de barba e bigode. Orelhas pequenas. Nariz saliente, longo e estreito. Fronte vertical. Zigomas salientes e lar- gos. Mandíbula desenvolvida. • Tipo australoide: Estatura alta. Pele trigueira. Cabelos pretos, on- dulados e longos. Fronte estreita. Zigomas proeminentes. Nariz curto com narinas afastadas. Prognatis- mo, maxilar e alveolar. Dentes for- tes. Maxilares desenvolvidos. Cin- tura escapular larga; bacia estreita. Etnia São muitas as classificações das et- nias. A classificação de Ottolen- ghi considera cinco tipos étnicos fundamentais: • Tipo caucásico: Pele branca ou trigueira. Cabelos crespos ou lisos, louros ou castanhos. Íris azul ou castanha. Contorno crânio-facial ovoide ou ovoide poligonal. Per- fil facial ortognata e ligeiramente prognata. • Tipo mongólico: Pele amarela. Cabelos lisos. Face achatada de diante para trás. Fronte larga e baixa. Arcadas superciliares pouco salientes. Espaço interorbital largo. Fenda palpebral pouco ampla, em amêndoa. Nariz curto, largo. Maxi- lares pequenos e mento saliente. • Tipo negroide: Pele negra. Cabe- los crespos, em tufos. Crânio ge- ralmente dolicocéfalo (Figura 1). 6ANTROPOLOGIA FORENSE Figura 1. Classificação do crânio de acordo com a relação entre a sua largura e o seu comprimento. Fonte: Croce (2012) no entanto, no pseudo-hermafroditis- mo, no vivo ou no cadáver putrefei- to, ou no carbonizado, ou reduzido a esqueleto. O crânio e o tórax propiciam elementos de presunção. O crânio feminino tem a fronte mais vertical, a articulação frontonasal curva, saliências ósseas e as apófises mastoides e estiloides menos desenvolvidas que o crânio masculino (Figura 2). De modo geral, aceita-se a capacidade do crânio femi- nino correspondendo a nove décimos da capacidade do masculino. Dolicocéfalo Mesaticéfalo Braquicéfalo SE LIGA! Na prática, por conta da mis- cigenação, principalmenteaqui no Bra- sil, não se costuma utilizar os parâme- tros do esqueleto para a identificação da etnia no processo de identificação médico-legal. Sexo Determinar o sexo no vivo e no ca- dáver recente e sem mutilações do aparelho reprodutor e dos caracteres sexuais secundários, habitualmente, não oferece dificuldade. Não é assim, SAIBA MAIS! Para a determinação da capacidade do crânio, obtura-se os seus orifícios e o mesmo é pre- enchido com chumbo miúdo. Após isto, as microesferas necessárias para o seu enchimento são postas em vaso graduado em centímetros cúbicos, determinando-se, desta forma, o vo- lume em capacidade do crânio em questão. 7ANTROPOLOGIA FORENSE O tórax na mulher tende à forma ovoide, mais achatado no sentido an- teroposterior, e no homem, à forma conoide. Na mulher, a capacidade torácica é menor e as apófises trans- versas das vértebras dorsais mos- tram-se mais dirigidas para trás. O útero persiste, algumas vezes, nos grandes incêndios, sendo possível a demonstração histológica no útero carbonizado. Esse órgão pode, tam- bém, resistir à putrefação adiantada. É a pelve, contudo, que fornece os caracteres diferenciais mais impor- tantes (Figura 3). A pelve feminina tem constituição mais frágil que a do homem e maiores os diâmetros trans- versais; a grande e a pequena bacia, mais largas, o sacro mais baixo e côn- cavo somente na sua metade inferior, o ângulo sacrovertebral mais fechado (107º), o forame obturador maior e triangular e o ângulo subpubiano am- plo, com cerca de 110º. A inclinação da sínfise vertical é menos pronuncia- da na mulher. As dimensões verticais da bacia masculina sobrepujam as correspondentes da bacia feminina. A partir da puberdade, o ângulo for- mado pela diáfise femoral e o plano dos côndilos é de 80º para o homem e de 76º para a mulher. Feminino Masculino Figura 2. Diferenças entre os crânios feminino e masculino 8ANTROPOLOGIA FORENSE Figura 3. Diferenças entre as pelves feminina e masculina. Fonte: Disponível em <https://br.pinterest.com/ pin/337840409538451893/> Acesso em 17/06/20 intra-articulares, e, no esqueleto em posição normal, deve-se aumentar, nessa medida total, 6 cm correspon- dentes às partes moles destruídas. É obviamente um cálculo empírico. Porém, quando se dispõem apenas dos ossos longos dos membros, po- de-se alcançar a estatura baseada na tábua osteométrica de Broca (Tabe- la 2). Basta multiplicarmos o compri- mento de um dos ossos longos pelos seus índices, para nos aproximarmos da sua altura quando vivo. Para este mesmo fim, pode-se lançar mão tam- bém das tabelas de Étienne-Rollet, de Trotter e Gleser, de Mendonça ou de Lacassagne e Martin. Estatura É a altura total do indivíduo. Varia com a raça, idade, sexo, desenvolvimento do indivíduo, influências hormonais etc. Há certa correlação entre a esta- tura e a idade. As mulheres, em geral, são de menor estatura que os homens. A estatura é medida no vivo, de pé, pelo antropômetro; no cadáver e nas crianças as medidas são tomadas em decúbito dorsal por dois planos ver- ticais que passam pelo vértice e pela planta dos pés. Detalhe técnico impor- tante: no cadáver, deve-se subtrair 16 mm da medida total, correspondente ao achatamento natural dos discos intervertebrais sobre as cartilagens FÊMUR TÍBIA FÍBULA ÚMERO RÁDIO ULNA HOMENS 3,66 4,53 4,58 5,06 6,86 6,41 MULHERES 3,71 4,61 4,66 5,22 7,16 6,66 Tabela 2. Tábua osteométrica de Broca. Fonte: Adaptado de França (2015) 9ANTROPOLOGIA FORENSE Idade São as seguintes as fases etárias da vida humana: • Vida intrauterina: Embrião (até o 3º mês) e feto (até o parto); • Infante nascido: O nascido que ainda não recebeu cuidados higiênicos; • Recém-nascido: O nascido que recebeu cuidados higiênicos; • 1ª infância: Até os 7 anos; • 2ª infância: Dos 8 aos 11 anos; • Adolescência: Dos 12 aos 18 anos; • Mocidade: Dos 19 aos 21 anos; • Idade adulta: Dos 22 aos 60 anos; • Velhice: Dos 61 aos 80 anos; • Senilidade: Depois dos 80 anos. SE LIGA! Lactente é o nome dado em pediatria à criança de 0 a 1 ano. Para a Medicina Legal, lactente é a criança que mama, sendo um estado fisiológico que não diz respeito à idade cronológica. A determinação da idade é imprescin- dível tanto para o foro civil como para o foro criminal, quando faltar a certi- dão de nascimento. O aspecto exterior possibilita no vivo e no cadáver íntegro uma avaliação aproximada da idade. Deste modo, não é difícil distinguir-se uma criança de um adulto ou de um velho. É no período de transição das fases etárias da vida humana que sur- gem as dificuldades, pois a aparência do indivíduo modifica-se paulatina- mente com o passar dos anos. Na infância, em geral, o corpo é cober- to de tênue penugem; no homem pú- bere, aparecem pelos no púbis e nas axilas dos 13 aos 15 anos e no ros- to aos 16 anos, abundando na idade adulta, notadamente na linha mediana abdominal e ao redor das aréolas ma- márias. Na mulher, os pelos pubianos costumam surgir dos 12 aos 13 anos e os axilares dos 14 aos 15 anos. A calvície e os cabelos brancos sur- gem com certa irregularidade crono- lógica. As rugas, a flacidez, a secura e a pigmentação da pele e nos olhos (arco senil, que não é sempre cons- tante e senil) são sinais de velhice. 10ANTROPOLOGIA FORENSE SAIBA MAIS! O arco senil, semitranslúcido e acinzentado, consiste numa faixa circular na periferia da íris (Figura 4). É composto de colesterol, triglicérides e fosfolípides, sendo mais constantes nos diabéticos e hipertensos. Pode ou não aparecer acima dos 45 anos (20%), mostrando-se presente em 100% dos octogenários; é de maior frequência na raça negra, no sexo masculino e nos brasileiros. Dificilmente diagnosticável no cadáver sem os recursos de coloração específica, se presente, é mais acentuado no morto do que no vivo; se posto ao lado de outros meios de prova, tem valor relativo para a determinação da idade. Figura 4. Arco senil. Fonte: Disponível em <https://maiscru.pt/store/content/55-newsletter201> Acesso em 17/06/20 No cadáver colaboram na determina- ção da idade observações relativas ao desenvolvimento e lesões dos órgãos. Indicam senilidade a diminuição do peso dos órgãos em geral e o au- mento da próstata. Cicatrizes no colo do útero e a presença de corpo amare- lo no ovário oferecem subsídios valio- sos sobre a vida sexual da mulher. Esqueleto: O estudo dos ossos do crânio tem relativa importância. O crâ- nio infantil tem seis fontanelas. Destas Para a avaliação da idade no indivíduo vivo, pode-se considerar as alterações inerentes ao envelhecimento. A dimi- nuição da acuidade visual pela pres- biopia e também pela opacificação dos cristalinos ocorre a partir dos 40 anos. Observam-se ainda a diminuição da audição, natural e gradativa, a partir dos 50 anos, e a dos órgãos genitais e dos caracteres sexuais secundários coincidindo em etapas e períodos re- lacionados com a idade. 11ANTROPOLOGIA FORENSE fontanelas as duas mais importantes são a grande fontanela ou breg- mática e a pequena fontanela ou lambdoide. A primeira é formada pela confluência da sutura interparietal ou sagital, posteriormente, das suturas interparietais, lateralmente, e da sutu- ra metópica ou mediofrontal, anterior- mente. Tem forma triangular. A fonta- nela lambdoide é também triangular e formada pela união da sutura sagital e das duas suturas parietoccipitais. Existem também no crânio, lateralmente, as fontanelas ptéricas, união do temporal, esfenoides, parietal e fron- tal, e as fontanelas astéri- cas (duas de cada lado), na união dos parietais com os temporais. Essas seis fonta- nelas ou “moleiras” desapa- recem entre 1 ano e 1 ano e meio por interpenetração dos ossos, dando lugar às suturas. As suturas se tor- nam completas a partir dos 45 anos, e se fundem e se integram aos ossos no crâ- nio senil. O estudo radiológico do sis- tema ósseo (punho, cotovelo, úmero, fêmur, joelho, bacia, crânio) tem grandeimportân- cia na determinação da idade (Figura 5). Este estudo per- mite uma razoável avaliação cronológica do indivíduo, prin- cipalmente até os 21 anos, período esse em que o exame pericial radiográfico é mais solicitado. O estudo radiológico se debruça sobre o apareci- mento cronológico dos pontos de ossi- ficação, o completo desenvolvimento e soldadura dos ossos, seu achatamento e rarefação, as fontanelas nas crian- ças, o período osteossutural no adulto e perturbações tróficas, como adelga- çamento da díploe e atrofia da tábua externa, na senilidade. Figura 5. Determinação da idade óssea por meio do estudo radiológico do punho. Fonte: Disponível em <http://www.rajeun.net/boneage.html> Acesso em 17/06/20 12ANTROPOLOGIA FORENSE Deste modo, a posição e as caracte- rísticas de cada dente, seja ele tempo- rário ou permanente; as cáries em sua precisa localização; a ausência recen- te ou antiga de uma ou várias peças; os restos radiculares; a colocação de uma prótese ou de um aparelho orto- dôntico; os detalhes de cada restau- ração; a condição dos dentes no que diz respeito a cor, erosão, limpeza e malformações: tudo é importante no processo de uma identificação. Identificação pelos dentes A identificação pela arcada dentá- ria é algo relevante, principalmente em se tratando de carbonizados ou esqueletizados. Para tanto, é preciso dispor de uma ficha dentária ante- rior fornecida pelo dentista da vítima (Figura 6). Essa ficha é o instrumento mais importante para a identificação de desconhecidos ou vítimas de ca- tástrofes de qualquer espécie. Figura 6. Exemplo de ficha odontológica. Fonte: Disponível em <https:// www.odontoimpress. com.br/loja/produto- -238252-1290-ficha_cli- nica_pequena_ref_3260> Acesso em 17/06/20 13ANTROPOLOGIA FORENSE o pé torto, a consolidação viciosa de uma fratura, uma mama supranume- rária, um desvio de coluna, a polidac- tilia, a sindactilia, entre outros, são usados como meios acessórios de uma identificação. As cicatrizes são caracteres valiosos para ajudar numa identificação indi- vidual. Devem ser estudadas quanto à forma, região, dimensões, colorido, resistência e mobilidade. Têm inte- resse não apenas quanto à identifica- ção, mas também no que se refere a fatos ocorridos anteriormente. Essas cicatrizes podem ser traumáticas, por ação de agentes mecânicos, por queimaduras ou por ação de cáusti- cos; patológicas, como as da vacina ou da varíola; e, finalmente, cirúrgicas. Os sinais profissionais são estigmas deixados pela constância de um tipo de trabalho, por exemplo, a calosida- de dos sapateiros e alfaiates, o calo dos lábios dos trompetistas, os calos nos dedos dos violonistas, etc. Outros elementos para a identificação médico-legal Há certos sinais particulares que, mesmo não identificando uma pes- soa, servem para excluí-la. Desta for- ma, todo e qualquer sinal apresenta- do por alguém é útil para ajudar na busca de sua identificação. O nevo, as manchas, as verrugas, enfim, todo e qualquer sinal individual influi intensamente nas medidas iniciais para uma identificação. As tatuagens são feitas através de perfurações com agulhas, escarifica- ção ou incisão com o intuito de infil- trar, na derme, substâncias corantes e deixar gravado um desenho deseja- do. Elas podem ajudar no processo de identificação médico-legal. As malformações são características relevantes em um processo de iden- tificação quando não há outros ele- mentos de maior valia. O lábio lepo- rino, o genus valgus, o genus varus, 14ANTROPOLOGIA FORENSE MAPA MENTAL IDENTIFICAÇÃO MÉDICO-LEGAL Tenta-se identificar: IDENTIFICAÇÃO MÉDICO-LEGAL A espécie Requer conhecimentos de Medicina e demais ciências correlatas, podendo ser feita no vivo, no cadáver inteiro ou esquartejado, ou ainda reduzido a fragmentos ou a simples ossos A distinção entre os ossos de animais e do homem é feita pelo exame de suas dimensões e caracteres que os tornam diferentes. Microscopicamente, a diferença é dada pela análise dos canais de Havers Na prática, por conta da miscigenação, principalmente aqui no Brasil, não se costuma utilizar os parâmetros do esqueleto para a identificação da etnia no processo de identificação médico-legal Quando se dispõem apenas dos ossos longos dos membros, pode-se alcançar a estatura baseada na tábua osteométrica de Broca A identificação de malformações, de sinais profissionais e dos sinais individuais (como as cicatrizes, os tipos sanguíneos, as tatuagens, os pertences, como no caso de próteses, etc.) podem ajudar O crânio e o tórax propiciam elementos de presunção. É a pelve, contudo, que fornece os caracteres diferenciais de sexo mais importantes O estudo radiológico do sistema ósseo tem grande importância na determinação da idade, se debruçando sobre o aparecimento cronológico dos pontos de ossificação A etnia O sexo A estatura A idade Identificação pela arcada dentária 15ANTROPOLOGIA FORENSE 3. IDENTIFICAÇÃO JUDICIÁRIA O processo de identificação judiciá- ria (ou policial) se utiliza de dados an- tropométricos e antropológicos para a identidade civil e caracterização dos criminosos, quer primários, quer rein- cidentes. A metodologia utilizada na identificação judiciária dispensa os conhecimentos médicos, sendo, en- tretanto, aconselháveis os conheci- mentos médico-legais teóricos para o desempenho dos profissionais que atuam no processo. Esse processo é efetuado por peritos em identificação. Dentre os vários métodos de identi- ficação judiciária, destacaremos a fo- tografia simples, fotografia sinalé- tica, o retrato falado e o sistema dactiloscópico de Vucetich. Fotografia simples e fotografia sinalética A fotografia simples é utilizada na confecção das cédulas de identifica- ção (documentos com foto). Também costuma ser empregada como meio de reconhecimento. A fotografia sinalética foi preconi- zada por Bertillon e consiste numa técnica que se resume em fotografar de frente e de perfil o indivíduo, na re- dução fixa de 1/7. As fotografias obti- das dessa forma eram superpostas e comparadas em seus menores deta- lhes, como estatura da fronte, aspecto da fenda palpebral, diâmetros da boca e do nariz, altura do pavilhão auricu- lar, entre outros, para a realização da identificação judiciária. Apesar das contribuições que as fo- tografias dão ao trabalho policial nas questões do reconhecimento de pes- soas procuradas, elas apresentam vários inconvenientes, entre os quais: dificuldade de classificação, altera- ções dos traços fisionômicos com o decorrer dos anos e o problema dos sósias. Assim, como método de identificação, as fotografias ca- recem de unicidade, imutabilidade e classificabilidade. Retrato falado O retrato falado é obtido pela descri- ção analítica dos caracteres antropo- lógicos, morfológicos e cromáticos da face, de frente e de perfil direito, no que se refere à fronte, nariz e orelha, su- percílios, cabelos, barba, bigode, rugas, tatuagens, cicatrizes, nevos, verrugas, pálpebras, órbitas, olhos e sua cor, tudo codificado em expressões convencio- nais: pequeno, médio e grande. As testemunhas relatam uma série de pormenores até formar uma fisionomia que, em certas ocasiões, coincide qua- se precisamente com o real. Hoje, pro- gramas computacionais permitem que o perito, atendo-se a uma descrição ri- gorosa do indivíduo, confeccione o re- trato falado a distância, com um maior grau de fidedignidade (Figura 7). 16ANTROPOLOGIA FORENSE O retrato falado não é meio de prova; é tão somente um importante méto- do auxiliar nas investigações policiais. Importa saber que, por não haver dois olhos absolutamente iguais e as ore- lhas guardarem sempre as mesmas características do nascimento até a morte, ambos os órgãos constituem valiosos elementos sinaléticos. Figura 7. Retrato falado produzido por meio digital. Fonte: Disponível em <https://www.pcdf.df.gov.br/ noticias/8340> Acesso em 17/06/20Sistema dactiloscópico de Vucetich Este processo de identificação foi cria- do em 1891 e instituído oficialmente no Brasil em 1903, consistindo em um dos métodos mais eficientes da ciência da identidade. Juan Vucetich definiu Dactiloscopia como “a ciên- cia que se propõe a identificar as pes- soas, fisicamente consideradas, por meio das impressões ou reproduções físicas dos desenhos formados pelas cristas papilares das extremidades digitais”. Chama-se de desenho digital ao conjunto de cristas e sulcos existentes nas polpas dos dedos, apresentando muitas variedades; e de impressão digital ao reverso do desenho, exi- bindo-se como um ajuntamento de linhas brancas e pretas sobre deter- minado suporte (por exemplo, a im- pressão deixada no papel pelo pole- gar coberto com tinta preta). Um dos elementos mais importantes do desenho digital é o delta (Figura 8): pequeno ângulo ou triângulo for- mado pelo encontro dos três siste- mas de linhas. O delta é a caracterís- tica fundamental na classificação de uma impressão digital. Esta, todavia, põe à vista dois ou três sistemas li- neares: nuclear, basilar e marginal; a união destes que forma o delta. O sistema nuclear é representado por linhas colocadas entre as basila- res e as marginais. O sistema mar- ginal é constituído pelas linhas su- periores que sobrepõem o núcleo. E o sistema basilar é composto pelas linhas que ficam na base da impres- são digital, isto é, abaixo do núcleo. 17ANTROPOLOGIA FORENSE Figura 8. Impressão digital. Fonte: Disponível em <ht- tps://www.researchgate. net/figure/Figura-2-Im- pressao-digital-com- -Presilha-apresentando- -um-nucleo-e-um-del- ta_fig19_316997554> Acesso em 17/06/20 pela letra V, no caso do polegar, ou pelo algarismo 4, para os demais de- dos); Presilha externa (representado pela letra E ou pelo algarismo 3); Pre- silha interna (representado pela letra I ou pelo algarismo 2); e Arco (repre- sentado pela letra A ou pelo algaris- mo 1). Anotam-se com x os desenhos com defeito, por cicatrizes ou outra qualquer alteração, e, por 0 (zero), as amputações (Figura 9). A individual dactiloscópica é a su- cessão das letras e algarismos que configuram os tipos fundamentais de uma pessoa a partir do polegar direito até o mínimo esquerdo, representada através de uma fração que tem como numerador a mão direita, e denomi- nador a mão esquerda. A presença de um, ou dois, ou nenhum delta numa impressão digital estabe- lece os quatro tipos fundamentais do Sistema Dactiloscópico de Vuceuch: Verticilo: Presença de dois deltas e um núcleo central. • Presilha externa: Presença de um delta à esquerda do observador e de núcleo voltado em sentido con- trário ao delta. • Presilha interna: Presença de um delta à direita do observador e de núcleo voltado à esquerda. • Arco: Ausência de deltas e apenas com sistema de linhas basilares e marginais. Não tem núcleo. Esses tipos essenciais são simboli- camente representados por letras maiúsculas para os polegares e por algarismos para o restante dos de- dos. Assim: Verticilo (representado 18ANTROPOLOGIA FORENSE SE LIGA! Se a individual dactiloscópica de um indivíduo é traduzida pela seguin- te fração: V-3334 / I-2221, teremos: Mão direita: V - Verticilo - polegar direito; 3 - Presilha externa - indicador direito; 3 - Presilha externa - médio direito; 3 - Presilha externa - anular direito; 4 - Verticilo - mínimo direito; Mão esquerda: I - Presilha interna - polegar esquerdo; 2 - Presilha interna - indicador esquerdo; 2 - Presilha interna - médio esquerdo; 2 - Presilha interna - anular esquerdo; 1 - Arco - mínimo esquerdo. Figura 9. Impressões digitais de um indivíduo. Fonte: Croce (2012) 19ANTROPOLOGIA FORENSE MAPA MENTAL IDENTIFICAÇÃO JUDICIÁRIA Se utiliza de dados antropométricos e antropológicos para a identidade civil e caracterização dos criminosos, quer primários, quer reincidentes Identificação judiciária Métodos de identificação judiciária Dispensa os conhecimentos médicos, sendo, entretanto, aconselháveis os conhecimentos médico-legais teóricos para o desempenho dos profissionais que atuam no processo A fotografia simples é utilizada na confecção das cédulas de identificação (documentos com foto). Também costuma ser empregada como meio de reconhecimento. A fotografia sinalética consiste em fotografar de frente e de perfil o indivíduo, na redução fixa de 1/7. As fotografias obtidas dessa forma eram superpostas e comparadas em seus menores detalhes para a realização da identificação judiciária O retrato falado é obtido pela descrição analítica dos caracteres antropológicos, morfológicos e cromáticos da face, de frente e de perfil direito A dactiloscopia é a ciência que se propõe a identificar as pessoas por meio das impressões ou reproduções físicas dos desenhos formados pelas cristas papilares das extremidades digitais 20ANTROPOLOGIA FORENSE MAPA MENTAL FINAL Reconhecimento significa apenas o ato de certificar-se, conhecer de novo, admitir como certo ou afirmar conhecer. É, pois uma afirmação leiga, de um parente ou conhecido, sobre alguém que se diz conhecer ou de sua convivência. Antropologia Forense A identificação é a determinação da identidade, ou seja, da individualidade. É a demarcação da individualidade. E, para fazê-la, ela se serve de um conjunto de diligências, numa sucessão de atos sobre o vivo, o morto, animais e coisas É o ramo da Medicina Legal que estuda a identidade e identificação do ser humano através de um processo técnico-cientifico organizado de individualização da idade, do sexo, do padrão racial e da estatura, etc. Conceitua-se identidade como o conjunto de caracteres que individualiza uma pessoa ou uma coisa, fazendo-a distinta das demais. É um elenco de atributos que torna alguém ou alguma coisa igual apenas a si próprio Para uma identificação eficiente, deve-se priorizar a análise das características do indivíduo que possuam certas propriedades Unicidade Imutabilidade Praticabilidade Classificabilidade Perenidade 21ANTROPOLOGIA FORENSE REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Croce D & Croce Jr D. Manual de medicina legal. 8. ed. — São Paulo: Saraiva, 2012. França GV. Medicina legal. 10. ed. - Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2015. Martins CL. Medicina legal. 4.ed. - Rio de Janeiro: Elsevier, 2010. 22ANTROPOLOGIA FORENSE
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