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DIREITO PROCESSUAL CONTEUDOS 1

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Sociedade e tutela jurídica 
1. Introdução 
Inúmeras vezes fomos surpreendidos com a expressão “processar”, 
principalmente quando há, nessa relação, alguma desconformidade ou 
desacordo entre as pessoas envolvidas. A impressão que temos é que 
processar tornou-se um castigo, uma punição e, por essa razão, acaba sendo 
uma ameaça. 
A judicialização é um dos meios mais frequentemente utilizados quando 
existem conflitos. Por essa razão, o Poder Judiciário ocupa-se, em sua 
função precípua, de proporcionar soluções para esses conflitos. No entanto, 
tem sido comum, nos últimos tempos, uma diminuição da figura da 
judicialização, em face da popularização de outras ferramentas de solução 
de conflitos, como a mediação e a arbitragem, que veremos adiante. 
Neste primeiro momento, devemos conhecer alguns conceitos importantes 
e que nos acompanharão ao longo de toda o aprendizado jurídico, assim 
como a estrutura básica do Poder Judiciário, e, ao final, a compreensão 
panorâmica da dinâmica do processo e suas aplicações ao que chamamos 
de Direito Material e Direito Processual. 
2. Análise de conceitos básicos 
2.1. Sociedade, necessidade, bem e utilidade 
A sociedade é composta por um conjunto de indivíduos que possuem 
interesses distintos; no entanto, o homem não consegue viver naturalmente 
só. É de sua característica comum a necessidade da vida coletiva. Segundo 
nos afirma Alvim (2020, p. 1), “O ser humano possui uma vocação, que lhe 
é imanente, de viver em grupo, associado a outros seres da mesma 
espécie”, reiterando que essa vocação decorre da compreensão de 
Aristóteles quando afirma que o homem é um animal político e que nasce 
com a tendência de viver em sociedade. 
Dessa forma, esses homens, agrupados nessas coletividades, 
apresentam necessidades, e dessas necessidades decorrem os interesses. As 
necessidades surgem em virtude de o homem depender de alguns 
elementos para sua sobrevivência, não somente biológica, mas, também, 
social, política e cultural. É a evidência de que o homem é um ser 
dependente. Para solidificar esse entendimento, Alvim (2020) complementa 
afirmando que: 
Entre os entes existem relações de complementaridade e isto se deve a uma 
manifestação vital de que alguns são dotados, que os impulsiona a 
combinar-se com os entes complementares. A força vital consiste 
precisamente em que os que têm vida sintam estímulo para tal combinação. 
O estímulo age mediante uma sensação penosa, enquanto falta a 
combinação, e, mediante uma sensação agradável, quando a combinação 
se produz. Essa tendência para a combinação de um ente vivo (homem) 
com um ente complementar (bem) constitui uma necessidade. A 
necessidade se satisfaz com a combinação (ALVIM, 2020, p. 1). 
Além das necessidades, os homens passaram a nutrir a compreensão de que 
precisavam, para sua própria sobrevivência, amealhar pertences, isto é, 
objetos que guarneciam sua própria existência. É quando surge a ideia de 
bens, acompanhando a compreensão de que o bem satisfaz a 
uma necessidade. Ato contínuo, encontramos a noção de utilidade. 
Conforme expõe Alvim (2020, p. 2), a utilidade “nada mais é do que a 
aptidão de um bem para atender a uma necessidade”. Segundo o autor 
define, necessidade e utilidade fazem surgir o interesse do homem pelo 
usufruto e gozo dos bens da vida. No entanto, o autor defende que nem 
sempre haverá interesse nesse bem por parte do homem, o que não significa 
que, sempre que haja utilidade num bem, ocorrerá interesse relativamente a 
ele. 
Diante dessa constatação, surge a figura do interesse. A discussão sobre seu 
conceito é ampla; no entanto, nele reside especialmente o cerne da 
compreensão processual. Vamos conhecê-lo? 
2.2. Interesse 
2.2.1. Conceito geral de interesse 
Diversas são as compreensões a respeito do conceito etimológico 
de interesse; no ambiente das discussões jurídicas, o interesse pode ser uma 
posição como um juízo. Assim, Alvim (2020, p. 3) ao citar outros 
doutrinadores elucida que: 
Para Ugo Rocco, o interesse é um juízo, formulado por um sujeito acerca 
de uma necessidade, sobre a utilidade ou sobre o valor de um bem, 
enquanto meio para a satisfação dessa necessidade. Por conseguinte, o 
interesse é um ato da inteligência, que é dado pela tríplice representação 
de um bem, de uma necessidade e da aptidão do bem para satisfazer a essa 
necessidade. Para Carnelutti, porém, o interesse não é um juízo, mas uma 
posição do homem; ou mais precisamente a “posição favorável à 
satisfação de uma necessidade”, e, portanto, uma relação entre o homem 
que experimenta a necessidade e o bem apto a satisfazê-la. 
Podemos dividir a compreensão de “interesse” em duas espécies: interesse 
imediato; interesse mediato – e, ainda, interesse individual e interesse 
coletivo. Para compreendermos de forma mais ampla tais conceitos, 
vejamos o que expõe Alvim (2020, p. 2): 
Quando uma posição ou situação se presta diretamente à satisfação de 
uma necessidade, o interesse se diz imediato; como, por exemplo, a 
posição ou situação de quem possui o alimento, o qual se presta 
diretamente à satisfação da necessidade de alimentar-se. 
Se, no entanto, a posição ou situação do homem apenas indiretamente se 
presta à satisfação de uma necessidade, enquanto dela possa derivar outra 
situação (intermediária), que propicie essa satisfação, diz-se interesse 
mediato; como, por exemplo, a posição ou situação de quem possui o 
dinheiro para adquirir o alimento. 
A compreensão de interesse ainda pode ser observada conforme sua 
amplitude e alcance. Temos, então, a ideia de interesse individual e 
interesse coletivo, que nos permite identificar como cada um desses se 
manifesta no contexto social: 
a. Interesse individual: diz respeito à satisfação pessoal. O interesse 
pode ser assim considerado quando a posição ou situação favorável à 
satisfação de uma necessidade relaciona-se com o indivíduo, 
isoladamente. Nessa espécie de interesse, a razão encontra-se entre o 
bem e o homem conforme suas necessidades particulares. Exemplo: 
o uso de um imóvel, pois cada um pode ter um imóvel para si. 
b. Interesse coletivo: diz respeito à satisfação de vários indivíduos. O 
interesse é assim identificado quando a situação favorável à 
satisfação de uma necessidade aponta a vários indivíduos, em 
conjunto. Exemplo: uma grande ferrovia, pois essa é construída para 
a satisfação de muitos indivíduos. Nessa espécie, a razão está entre o 
bem e o homem, mas considerando as necessidades de forma 
coletiva. 
A existência de interesses coletivos é o que evidencia e explica a 
construção e a formação de grupos sociais, uma vez que nem todas as 
necessidades humanas podem ser satisfeitas de forma individual. Assim 
surgem as instituições de agrupamento humano, das mais simples às mais 
complexas, tais como a família, as associações e sindicatos, a corporação e 
o Estado, entre outras. 
2.2.2 – Conflitos de interesse 
A complexidade das relações humanas proporciona o surgimento de 
conflitos entre os interesses individuais e/ou coletivos. É natural das 
relações sociais que tais conflitos surjam, uma vez que os interesses 
humanos são ilimitados. Diante dessa constatação, Alvim (2020, p. 5) 
classifica o conflito de interesse em duas espécies: conflitos subjetivos de 
interesse; e conflitos intersubjetivos de interesse. Sobre conflito subjetivo 
de interesse, o autor pontua que: 
Delineia-se, então, um conflito entre dois interesses de um mesmo homem, 
a que se denomina conflito subjetivo de interesses. Essa modalidade de 
conflito ocorre quando alguém tem necessidade de alimentar-se e vestir-se, 
mas possui dinheiro para satisfazer apenas a uma delas; e, como se trata de 
dois interesses de uma mesma pessoa, o conflito se resolve com sacrifício 
do interesse menor em favor do interesse maior. Este conflito pode ser 
relevante para o grupo, na medida em que um desses interesses esteja, mais 
do queo outro, coligado a um interesse coletivo, mas não haverá aí um 
conflito entre dois interesses de uma mesma pessoa, mas entre um interesse 
individual e um interesse coletivo. Como o conflito subjetivo de interesses 
não se extravasa da pessoa do próprio sujeito nele envolvido, resolve-se 
quando este faz uma opção; pelo que, uma vez feita a escolha, cessa o 
conflito, que deixa de existir. 
Em se tratando de conflito objetivo de interesse, o conceito que o autor nos 
apresenta é este: 
Pode ocorrer, também, ante a limitação dos bens e as ilimitadas 
necessidades dos homens, a hipótese de um conflito entre interesses de 
duas pessoas, ao qual Carnelutti chamou de conflito intersubjetivo de 
interesses; conflito este que tem particular importância para o Estado, pelo 
perigo que representa de uma solução violenta, quando ambos os 
interessados recorrem à força, para fazer com que o seu interesse prevaleça 
sobre o interesse do outro. Quando o conflito se manifesta entre interesses 
de diversos homens, diz Carnelutti, adquire uma gravidade bem distinta do 
que quando se refere a interesses de um mesmo homem. Se dois homens 
têm fome e o alimento só basta para satisfazer à necessidade de um, o 
conflito se resolve sem dificuldade, quando se trata de pai e filho, porque a 
vida do filho é também um interesse do pai; mas, se esses dois homens são 
estranhos, e a satisfação da necessidade de um não interessa à do outro, 
ninguém sabe como possa terminar o conflito. Os conflitos podem ocorrer 
entre interesses individuais, como, por exemplo, se Tício e Caio têm 
necessidade de alimentar-se, mas não existe alimento senão para um deles; 
entre interesse individual e interesse coletivo, como o interesse de Tício à 
segurança pessoal e o interesse coletivo à defesa do território, que reclama 
a sua exposição aos perigos da guerra; entre dois interesses coletivos, como 
o conflito entre o interesse à instrução pública e o interesse à defesa 
pública, quando os meios à disposição do Estado forem suficientes para a 
satisfação de apenas um deles (ALVIM, 2020, p. 5). 
2.3.2 Causas dos conflitos de interesse 
Diante das inúmeras necessidades a serem supridas, invariavelmente o 
homem encontra obstáculos ao acesso aos recursos que favorecem à 
solução de suas demandas. Quer por escassez, quer por razões de garantias, 
nem sempre será possível ao homem dispor de tudo o que necessita para 
alcançar os objetivos pretendidos e/ou, como dito, suprir suas necessidades. 
É neste ambiente que surgem os conflitos de interesse. 
As causas principais dos conflitos de interesse decorrem da insuficiência de 
determinados bens à satisfação das necessidades, sendo, portanto, 
considerada uma causa quantitativa, e ainda quando certos bens encontram-
se indisponíveis para a satisfação de determinadas necessidades. É o que se 
chama de causa qualitativa. 
Os conflitos de interesse, portanto, alcançam toda a sociedade, diluindo-se 
entre ela, tornando-se elemento comum no convívio comunitário, 
encontrando-se soluções naturais para a satisfação das necessidades mais 
simples. Contudo, havendo maiores necessidades, os conflitos tendem a 
alcançar maiores extensões, surgindo-se daí o que chamamos de pretensão. 
a. Pretensão 
O conflito de interesse dá lugar à atitude do sujeito em exigir a 
satisfação da sua necessidade subordinando o interesse de alguém ao 
seu interesse próprio. Isso chamamos de pretensão, que nada mais é 
que a busca dá satisfação da necessidade diante de quem não a supre. 
É um modo de ser do direito que procura atender à demanda diante 
da oposição de terceiro. 
De acordo com Alvim (2020), a pretensão pode ser considerada um 
ato, isto é, algo que alguém faz. Ela não reconhece um direito, mas 
exige que este seja reconhecido, pois o autor supõe que tem esse 
direito. No entanto, a pretensão pode ser fundada ou infundada, 
quando aquele que se manifesta por ela possui os elementos 
necessários para o alcance da satisfação da sua necessidade ou não. 
Assim, nem sempre essa pretensão é reconhecida, mas sendo esse daí 
de forma opositora a figura da resistência, que é um dos elementos 
presentes de forma natural no conflito de interesses. 
b. Resistência 
Consiste em se opor a uma pretensão, ou seja, ao próprio interesse 
alheio. É como uma não adaptação à subordinação do interesse 
próprio ao interesse alheio, consistindo em uma oposição ou 
contestação daquele que se coloca como autor da pretensão. Ainda 
de acordo com Alvim (2020), é possível que a resistência possa lesar 
ou não a pretensão. Para isso, se dará lugar ao ambiente em que 
pretensão e resistência serão analisadas para o fim de uma declaração 
de direito (a lide). 
c. Lide 
Diante do conflito de interesse entre quem apresente sua pretensão e 
aquele que apresente resistência a essa pretensão, a lide surge de 
forma natural, buscando-se elementos de solução para as pretensões 
e a própria resistência. Podemos considerar ali também um espaço 
onde pretensão e resistência serão pacificadas, permitindo-se que as 
necessidades sejam supridas, assegurando-se a paz social e a própria 
estrutura do Estado. 
3. Reflexões 
Diante dos diversos dilemas da sociedade e das múltiplas necessidades a 
serem supridas na humanidade, os conflitos de interesses são cotidianos e 
quase sempre promovem desconforto e desarmonias social. Tem sido, 
portanto, um desafio do Estado assegurar a pacificação social, de modo que 
a cada um possa ser dado o que é seu de maneira justa sem ferir direitos e 
garantias de terceiros. Dessa forma, o Estado possui seu braço específico 
para a solução dos litígios, que é o Poder Judiciário, onde os processos 
terão seu regular julgamento. 
 
 
 
AULA: 2 
 
O processo e o Direito Processual 
1. O que é processo? 
Em nosso último capítulo, estudamos a respeito de necessidades, interesses 
e conflitos de interesse, assim como os elementos que compõem a figura do 
conflito de interesses. No entanto, para compreendermos o conceito de 
processo é necessário, antes de tudo, conhecermos as formas de resolução 
do conflito de interesse. 
Os interesses contrapostos diante de uma situação de conflito dependerão 
de uma solução para que haja pacificação social. Essa solução pode ser 
encontrada pelos próprios litigantes, encontrando-se uma solução parcial do 
conflito por obra de suas próprias convicções ou, então, mediante decisão 
imperativa de terceiro, imparcial e estranho aos interesses das partes, para 
que se encontre o equilíbrio nas relações sociais. 
Assim, como formas parciais de resolução de conflitos, nós temos 
a autodefesa e a autocomposição; e como forma imparcial, o processo. São 
essas três modalidades ferramentas de soluções de litígios e conflitos de 
interesses. 
a. A autodefesa 
É a defesa feita pelo próprio acusado. Ela é comum desde os 
primórdios da humanidade, sobretudo quando não existia, ainda, 
acima dos indivíduos uma autoridade capaz de impor a decisão 
diante de um conflito de interesse. Dessa forma, a autodefesa, muitas 
vezes, vem acompanhada do emprego da força bruta contra o 
adversário para vencer a resistência. No entanto, não é um elemento 
seguro para a solução dos conflitos, uma vez que não satisfaz os 
ideais de justiça e sempre acaba prevalecendo a vontade do mais 
forte. Alguns exemplos atuais de autodefesa podem ser a própria 
legítima defesa no âmbito penal ou o direito de greve no âmbito 
trabalhista. 
b. A autocomposição 
É uma forma mais moderna e justa de solução de conflitos oriunda 
da própria iniciativa das partes. Nesse sentido, para que a 
autocomposição ocorra, é necessário que haja a renúncia de alguns 
direitos das partes, para que haja solução pacífica do litígio em 
questão. Autocomposição, portanto, deve ser espontânea e pressupõe 
que o litigante esteja à disposição de abrir mão de alguns interesses 
para que se encontre uma solução pacífica do conflito em que seencontra envolvido. 
Alguns exemplos atuais de autocomposição são a transação no 
âmbito civil e o perdão do ofendido no âmbito penal, contudo só é 
possível a autocomposição quando se relacionam os direitos 
disponíveis, onde a lei permita essa modalidade de solução. 
2. Conceito de processo 
É a última etapa na busca da paz, justiça e equilíbrio da ordem jurídica – e 
a mais satisfatória para preservar e restabelecer os direitos e garantias das 
partes litigantes. É um meio que oferece maiores probabilidades de solução 
justa dos litígios, uma vez que é resolvida por um terceiro, de maneira 
imparcial, que se sujeita a determinadas regras para o alcance da solução da 
lide. 
Segundo Rodrigues e Lamy (2019, p. 188), o processo se compõe de um 
conjunto de atos que se destinam à formação ou à atuação de ordens 
jurídicas consistentes na colaboração entre pessoas interessadas e uma ou 
mais pessoas desinteressadas mediante o qual se obtém a composição da 
lide. 
Os atos processuais, em regra, são praticados por indivíduos interessados e 
desinteressados no objeto do conflito, isto é, o juiz, os auxiliares e 
colaboradores da justiça, as testemunhas e as próprias partes, contribuindo 
para dirimir de maneira imparcial em conflito com relevância jurídica. 
3. Modalidades e natureza jurídica 
3.1. Modalidades históricas 
Historicamente o processo pode ser dividido em inquisitivo, acusatório ou 
misto. Conheceremos cada uma dessas modalidades: 
a. Inquisitivo 
É caracterizado pela concentração de todas as funções do processo 
numa só pessoa ou instituição, isto é, as funções de acusar defender e 
julgar. Nessa modalidade, o processo torna-se mais uma forma de 
administração da solução dos conflitos e da aplicação da lei que 
necessariamente uma busca da verdade e da operação da justiça. 
Historicamente, o exemplo do processo inquisitivo se dá nos 
aplicados pela Igreja Católica, na Idade Média, durante o período da 
Santa Inquisição. Modernamente, temos como exemplo de 
procedimento inquisitivo o inquérito policial. 
b. Acusatório 
É caracterizado pela existência de igualdade entre as partes do 
processo, ou seja, autor e réu encontram-se no mesmo patamar, e o 
órgão encarregado de decidir será imparcial, no caso o juiz. Vale 
ressaltar que, no sistema acusatório, serão garantidos às partes o 
direito ao contraditório, ampla defesa e isonomia, dentre outras 
garantias processuais. Nesse sistema, as funções de acusar, defender 
e julgar são atribuídas a pessoas distintas. 
c. Misto 
É caracterizado pela existência das formas de apuração, ou seja, a 
inquisitiva e acusatória, combinando-se para a busca da verdade real 
e das decisões mais justas. 
3.2. Natureza jurídica 
Existem duas correntes doutrinárias que procuram explicar a natureza 
jurídica do processo: teoria privatista; teoria publicista. 
a. Teoria privatista 
Essa teoria entende que o processo é ou se assemelha a um contrato 
que une autor e réu numa relação semelhante a que liga contratante a 
contratado, uma vez que existe um titular de um interesse que 
pretende subordinar o outro titular de interesse. Essa teoria ainda 
entende que o processo se assemelha a um “quase contrato”, pois, 
com base na lei e na presumível vontade das partes, serão 
determinadas as obrigações. 
b. Teoria publicista 
Entende que o processo pode ser uma situação jurídica, instituição, 
relação processual e procedimento em contraditório, podendo-se, 
assim, conceituar: 
1. Relação jurídica: entende-se que o processo é uma relação jurídica, 
pois vincula, necessariamente, as partes ao Estado, uma vez que as 
decisões estarão pautadas diretamente do ordenamento jurídico. 
2. Situação jurídica: considera o processo uma situação em que a parte 
se encontra à espera da decisão judicial, onde a partir dela será 
possível a prática de atos ou o reconhecimento de direitos. 
3. Instituição: o processo é uma instituição estável onde as partes 
buscam a realização de um objetivo, que é a solução de um conflito 
de interesses. 
4. Procedimento em contraditório: todos os atos do processo devem ser 
realizados de acordo com as normas processuais a fim de que não se 
pratiquem desequilíbrio ou arbitrariedades. 
4 - Sujeitos do processo 
O processo é necessariamente composto por sujeitos que desempenharão 
partes essenciais ao desenvolvimento de seu objetivo principal. Para 
melhor compreendermos, Rodrigues e Lamy (2019, p. 188) nos mostram 
quem são e de que forma atuam esses sujeitos: 
a) o Estado-juiz, que é representado no processo pelos juízes como agentes 
do Estado; 
b) as partes, nos processos de jurisdição contenciosa e os interessados nos 
processos de jurisdição voluntária; segundo o direito brasileiro, podem ser 
partes as pessoas físicas (os seres humanos), as pessoas jurídicas e alguns 
entes despersonalizados, desde que sejam sujeitos de direitos que 
necessitem ser tutelados (nascituro, massa falida, espólio, herança 
jacente); 
c) os terceiros intervenientes, na forma definida na legislação processual; 
e 
d) os sujeitos especiais, que a constituição caracterizou como funções 
essenciais à Justiça: representantes do Ministério Público, Defensores 
Públicos e advogados (públicos ou privados). 
Vale ressaltar que nem sempre as partes, no processo, possuem capacidade 
plena para atuar, devendo-se, assim, serem assistidas ou representadas, 
conforme a lei determina. Exemplo disso são as pessoas físicas 
absolutamente incapazes, que deverão ser representadas pelas pessoas 
indicadas pela legislação ou, no caso de pessoas jurídicas, por quem o 
contrato social determina. 
 
 
AULA: 3 
 
Direito Material e Direito Processual 
1. Conceitos gerais 
Em nosso último módulo, conhecemos algumas características essenciais 
das relações processuais e, dentre elas, descobrimos a existência de duas 
espécies, digamos, de direitos na órbita processual. É o que chamamos de 
direito material, direito objetivo, ordenamento jurídico ou direito 
processual. 
O direito objetivo, ou ordenamento jurídico, pode ser considerado o 
conjunto dos mandamentos jurídicos ou preceitos legais que compõem o 
conglomerado de normas que orientaram o Direito Processual. Podemos, 
ainda, afirmar que o próprio Direito Processual decorre de um ordenamento 
jurídico, quando estabelece suas regras vigentes. Assim, podemos concluir 
que o direito objetivo é constituído pela formulação de preceitos e 
imposições de sanções observando-se mediante a conduta dos interessados 
e atuando mediante uma força que submete os interessados a sanções. 
Exemplo mais expressivo do direito material, ou direito objetivo, é a lei no 
seu sentido amplo, como a Constituição, o Código Civil e os decretos, 
dentre outras normas. 
Já o Direito Processual decorre não somente das normas objetivas, mas de 
um próprio método de complementação e aplicação de tais normas 
objetivas. Podemos afirmar que o direito objetivo, ou direito material, 
necessita do Direito Processual para sua aplicação. 
2. Relação entre o direito objetivo e o processo 
A doutrina jurídica reúne duas teorias a respeito do ordenamento jurídico 
que buscam explicar as ideias e compreensões de direito material e direito 
processual. São elas: a teoria dualista e a teoria unitária. 
a. Teoria dualista 
Segundo Rodrigues e Lamy (2019, p. 188), o ordenamento jurídico 
divide-se em direito material e direito processual. O direito material 
cria a regra abstrata, isto é, a lei, que é concretizada a partir do 
momento em que ocorre o fato por ela previsto, sem que haja a 
necessidade de qualquer intervenção judicial – direito e obrigação 
estão pré-existentes ao processo. 
b. Teoria unitária 
Essa teoria afirma que o direito objetivo, por sua natureza, não tem 
condições para disciplinar todas as vezes os conflitos de interesse 
que surgem na sociedade, necessitando, portanto, do processo para 
complementar os comandos da lei. De acordo comessa teoria, o 
comando contido na lei é incompleto: é a decisão judicial obtida 
através do processo que conclui ou completa o direito objetivo. 
3. Atuação do direito objetivo 
Como podemos observar, não é suficiente que haja um ordenamento 
jurídico que crie direitos, deveres e forma de preservar tais garantias. É 
necessário que exista um método adequado para solucionar os eventuais 
conflitos de interesse permitindo que a sociedade não sofra desarmonia o 
desequilíbrio e venha a comentar crises e controvérsias em seu seio. 
Assim consideramos que o direito objetivo se completa na sociedade à 
medida que os interesses tutelados pela norma jurídica são regularmente 
satisfeitos de forma natural pelos titulares dos interesses em conflito sem 
necessidade da intervenção judicial. 
No que diz respeito ao processo, este encontra-se como elemento 
complementar para aplicação do direito objetivo diante dos interesses em 
conflito. É a ferramenta utilizada para a solução da lide. Para compreensão 
mais ampla, Rodrigues e Lamy (2019, p. 189) assim expressam: 
O processo se realiza para que a lide seja resolvida com justiça, mediante 
a aplicação da lei, pelo que, onde não houver ordenação de conduta em 
sociedade, não haverá lugar para o processo, pois a resolução das lides, 
através do processo, se dá pela atuação do comando legal, extraído pelo 
juiz do ordenamento jurídico. 
4. Objetivo do processo 
Considerando o caráter subjetivo do conceito de processo, não há 
uniformidade de entendimento sobre qual o verdadeiro objetivo do 
processo, isto é, qual sua verdadeira função. Para alguns doutrinadores, o 
processo tem a tendência de tutelar os direitos subjetivos; outros afirmam 
que o processo tem o papel de simples atuação do direito objetivo; uma 
terceira corrente afirma que tanto a tutela quanto a atuação do direito 
objetivo são as funções principais do processo. 
Existem, ainda, correntes que negam que haja um objetivo do processo, 
pois o processo como um conjunto de atividades sobre uma determinação 
legal e diretamente ligadas a termos e condições não tem em si mesmo o 
objetivo, mas, sim, refere-se a uma ferramenta que permite que o sujeito 
que dela se utilize procure alcançar os objetivos pretendidos. Dessa forma, 
afirma-se que não existe escopo do processo, mas escopo dos sujeitos 
processuais. 
4.1 A corrente objetivista do processo 
Ainda nessa discussão, segundo a doutrina, o processo poderia funcionar 
como instrumento de defesa do direito subjetivo violado ou ameaçado de 
violação. Daí a compreensão de que o objetivo do processo seria a tutela 
dos direitos subjetivos. É o que a doutrina chama de corrente subjetivista e 
que pode ser compreendida conforme a elucidação proposta por Rodrigues 
e Lamy (2019, p. 188): 
[...] a atividade jurisdicional, como toda atividade estatal, é desenvolvida 
no interesse comum de todos os cidadãos, sendo esse interesse comum que 
os objetivos garantidos pelo direito sejam efetivamente alcançados. A 
satisfação dos interesses privados é, na verdade, o resultado e não o 
escopo dessa atividade. A fórmula tutela dos direitos subjetivos confunde, 
pois, o escopo da ação com o escopo do processo. 
4.2. A corrente subjetivista do processo 
Segundo essa doutrina, o processo possui, sim, um escopo, que seria o de 
fazer atuar a lei. Dessa forma, o direito objetivo não seria um fim em si 
mesmo, mas garantia de objetivos ou tutela de interesses, pelo que uma 
atuação pura e simples do direito objetivo nem seria concebível. Conforme 
afirmam Rodrigues e Lamy (2019, p. 188), há uma extensão ainda mais 
ampla dessa compreensão: 
O processo visa ao escopo objetivo de fazer atuar a lei, pelo que os 
escopos do autor e o do processo só coincidirão no caso de ser fundada a 
demanda. A sentença, porém, é sempre atuação da lei, seja a demanda 
fundada ou infundada, pois, acolhendo-a ou rejeitando-a, o juiz afirma 
uma vontade positiva ou negativa de lei concernente ao caso decidido. 
Destarte, não serve o processo a uma ou a outra das partes, mas àquela 
que, segundo o juiz, está com a razão. 
É verdade que o juiz só atua a pedido da parte, mas esse fato, observa 
Chiovenda, não conduz a diferente concepção do escopo do processo, pois 
uma coisa é a natureza de uma função, e outra, o interesse do seu exercício 
no caso concreto. Embora o primeiro interessado em pedir a atuação da 
lei seja a pessoa, isso não obsta a que aquilo que ela peça seja a atuação 
da lei; de tal modo que, em grosseira comparação, se alguém adquire 
alguma coisa no comércio, provê ao seu interesse, mas o ato do negociante 
em si não visa a satisfazer o interesse de quem compra, e, sim, aos 
objetivos gerais do seu comércio. 
 
AULA: 4 
 
A instrumentalidade do processo 
1. A dinâmica do processo 
O processo é instrumento que possui vida e desenvolvimento próprios, 
sendo essa uma de suas características mais marcantes. Na última semana, 
compreendemos mais a respeito das funções principais do processo, assim 
como os elementos que o integram. Neste capitulo, aprenderemos a 
respeito de sua dinâmica, tais como as fases ou momentos processuais, os 
impulsos processuais, os fatos, atos e negócios jurídicos processuais e a 
caracterização do ato processual. 
2. Fases, ou momentos, do processo 
Para conclusão de seus objetivos o processo atravessa fases lógicas que 
sempre resultam com a prestação jurisdicional, que é função do Estado-
juiz. Essas fases são chamadas de fase postulatória, fase probatória e fase 
decisória. 
A fase postulatória é compreendida pela atividade das partes que se destina 
à formulação da pretensão tanto pelo autor quanto pelo réu, além de 
eventuais intervenções externas abrangendo, ao longo do processo de 
conhecimento, a petição inicial, a contestação e a réplica. 
Já a fase probatória, também chamada de fase instrutória, tem o condão de 
permitir às partes o fornecimento ao juiz dos elementos necessários ao 
esclarecimento de todos os fatos em que se fundam as suas pretensões, pois 
é a partir dele que o juiz julgará baseado em fatos provados 
Por fim, a fase decisória compreende o momento em que o juiz atuará de 
acordo com a vontade concreta da lei, cumprindo a obrigação devida pelo 
Estado e resolvendo o conflito de interesse. 
3. Impulso processual 
Embora o processo tenha dinâmica própria, ele precisa ser impulsionado 
para que alcance os propósitos e escopos aos quais é vinculado. Nesse 
sentido, o impulso processual é atividade cujo objetivo é promover 
movimento progressivo na relação processual para um fim ou, então, pode 
ser considerado um fenômeno do qual se assegura a continuidade dos atos 
processuais conduzindo a sua definição. Esse impulso processual cabe às 
partes e, ainda, aos órgãos jurisdicionais. 
Quando o impulso está a cargo dos órgãos jurisdicionais, identificamos o 
que a doutrina chama de autodinâmica. Quando se encontra sob a 
responsabilidade das partes, termos a heterodinâmica. Dessa forma, o juiz 
age por autodinâmica quando designa uma audiência, e as partes agem por 
heterodinâmica quando arrolam testemunhas. 
4. Fatos, atos e negócios jurídicos processuais 
4.1. Fato jurídico 
Fato jurídico pode ser denominado todo aquele de que resulta um 
acontecimento natural ou de uma atividade humana que se mostra capaz de 
criar, conservar, modificar ou extinguir direitos. Dessa forma os fatos 
resultantes de qualquer acontecimento natural que tenham condições ou 
aptidão para produzir efeitos jurídicos são chamados de fatos 
jurídicos stricto sensu. Já aqueles resultantes da atuação humana e que 
também tenham aptidão para produzir efeitos jurídicos são chamados de 
atos jurídicos. 
Os fatos jurídicos possuem grau de relevância. Assim, um fato jurídico 
processual é aquele que apresenta alguma relevância para o processo e 
pode ser classificado em fato irrelevante e fato jurídico. Esse último pode 
ser classificado emfato jurídico stricto sensu e fato jurídico lato sensu, 
que, por sua vez, classificam-se em fatos jurídicos stricto sensu e negócios 
jurídicos. 
4.1.2. Fato juridicamente irrelevante 
É aquele que não manifesta nenhuma importância para o direito, por não 
produzir nenhuma consequência jurídica, assim como também não produz 
nenhuma consequência para o processo. Como exemplo, podemos citar a 
chegada do advogado com atraso a audiência logo após a tomada dos 
depoimentos. 
4.1.3. Fato jurídico lato sensu e ato jurídico 
Um fato jurídico lato sensu decorre de qualquer acontecimento de origem 
natural ou humana que possa proporcionar consequências jurídicas. 
Quando essas consequências são originárias de um fato natural, chamamos 
de fato jurídico stricto sensu, tais como o nascimento, a morte, a 
maioridade, dentre outros. Quando essas consequências surgem de uma 
atividade humana voluntária e consciente, recebem o nome de 
fatos jurídicos lato sensu. 
No entanto, quando o ato humano é materializado sem o desejo ou a 
vontade direta de produzir efeitos jurídicos, recebe a denominação de 
fato jurídico stricto sensu, tal como o reconhecimento do direito do autor 
pelo réu, dentre outros. 
4.2. Negócio jurídico processual 
É considerado o negócio jurídico processual qualquer ato oriundo da 
vontade humana praticado com a intenção de produzir determinado efeito, 
por exemplo, a convenção de suspensão do processo. Nesse sentido, 
podemos diferenciar fatos jurídicos stricto sensu do negócio jurídico pelos 
efeitos: no ato jurídico stricto sensu, os efeitos já se encontram 
estabelecidos previamente na lei e não podem ser modificados pela vontade 
das partes; no negócio jurídico, a vontade das partes prevalece, e por isso 
dessas vontades produzem-se os efeitos do negócio jurídico. 
4.3. Ato processual 
O conceito de ato processual é muito amplo, sendo discutido entre duas 
correntes doutrinárias que consideram ato processual aquele praticado 
dentro ou fora do processo gerando efeitos em seu resultado. 
A corrente doutrinária que afirma que o ato processual é tão somente 
aquele praticado no processo se opõe à corrente doutrinária, que sustenta 
que ato processual é todo e qualquer ato que possa ter eficácia no processo, 
ainda que praticado fora dele. 
No entanto, qualquer ato praticado dentro ou fora do processo recebe 
especial atenção, por se caracterizar como negócio jurídico processual e 
estar dentro de uma atuação voluntária e intencional das partes voltadas à 
produção de determinado efeito jurídico conforme seus interesses. 
5. Capacidade das partes 
Na dinâmica processual, devemos considerar o papel de cada uma das 
partes que compõem o mesmo e suas respectivas funções. No entanto, é 
importante compreender que, para atuar no processo, é necessário discernir 
entre a capacidade de estar em juízo e a capacidade de ser parte no 
processo. 
Podemos considerar capaz de ser parte no processo todo e qualquer sujeito 
de direito, uma vez que esse possui direitos e obrigações, 
independentemente da existência da personalidade ou capacidade civil. É o 
exemplo do nascituro, da massa falida, do Ministério Público, dentre 
outros. Contudo, possuir capacidade de estar em juízo é, em sentido estrito, 
a própria capacidade processual, ou seja, aquela que habilita a parte a 
executar os atos processuais, que consistem na capacidade condição de 
praticar e recepcionar por si de maneira válida e eficaz todos os atos do 
processo assegurando-lhe eficácia. 
As partes envolvidas no processo poderão estar representadas por quem 
possua habilitação especial para postular em juízo. É o que chamamos de 
capacidade postulatória, que é dada conforme a lei brasileira à advocacia 
ou a defensores públicos. 
Poderá acontecer em um processo a existência de duas ou mais partes 
formais em um mesmo polo da relação jurídica, o que se chama de 
litisconsórcio: para que exista, é necessário haver pontos comuns de fato ou 
de direito na relação processual, por exemplo, o litisconsórcio entre pessoas 
envolvidas em acidente causado pelo mesmo autor. 
 
 
AULA: 5 
 
Princípios gerais do Direito Processual 
1. Introdução 
O que são princípios? Esse questionamento deve, antes de tudo, ser 
respondido, para que possamos compreender de maneira dinâmica a razão e 
o sentido dos princípios de Direito Processual, que é o objeto de estudo 
deste módulo. 
Podemos considerar como “princípios” todos os elementos norteadores de 
uma ação ou prática. São, portanto, elementos constitutivos das coisas ou 
dos conhecimentos, ainda, pontos de partida do ser, do devir ou do 
conhecer. 
No estudo do Direito Processual, a doutrina costuma dividir os princípios 
em gerais e constitucionais. Neste capítulo, identificaremos os mais 
importantes e que possuem maior repercussão no estudo do Direito 
Processual brasileiro. 
2. Princípios constitucionais e princípios gerais 
Os princípios constitucionais decorrem da interpretação extraída a partir 
das normas inseridas na Constituição Federal e que conduzem todas as 
demais normas processuais em vigor no país. Elas atuam no Processo Civil, 
Processo Penal, Processo Trabalhista, dentre outras. Já os princípios gerais 
decorrem de interpretação ampla, extraída do próprio texto da lei e seus 
enunciados. Assim, eles encontram-se exclusivamente ligados ao que 
determina a legislação específica. 
2.1. Princípios constitucionais 
2.1.1. Princípio do acesso à justiça 
A Constituição da República indica, em seu art. 5º, incisos XXXIV e 
XXXV, garantias de acesso ao provimento judicial. No primeiro 
dispositivo, são assegurados os direitos de petição aos poderes públicos e 
de obtenção de certidões, sem ônus, para a defesa de direitos ou contra 
abusos ou ilegalidades. No segundo dispositivo, afigura-se que a lei não 
poderá excluir a apreciação do Poder Judiciário qualquer ameaça ou lesão à 
direito: 
XXXIV - são a todos assegurados, independentemente do pagamento de 
taxas: 
a) o direito de petição aos Poderes Públicos em defesa de direitos ou 
contra ilegalidade ou abuso de poder; 
b) a obtenção de certidões em repartições públicas, para defesa de direitos 
e esclarecimento de situações de interesse pessoal; 
Esse princípio é também denominado de “metaprincípio”, pois manifesta a 
condição básica do Estado Democrático de Direito, assegurando a todos o 
acesso aos elementos de efetividade de seus direitos e da própria cidadania. 
Nesse sentido, Lamy e Rodrigues (2020, p. 205) afirmam: 
A garantia de acesso à Justiça não significa apenas a garantia de acesso e 
apreciação pelo Poder Judiciário. Sua extensão é bem mais ampla e busca 
garantir os meios adequados de acesso, a celeridade dos procedimentos, a 
adequada resposta ao problema trazido a juízo, a efetividade do resultado, 
mediante instrumentos adequados de execução, e segurança jurídica para 
as partes, tornando definitivo o resultado final. 
2.1.2. Princípio da inafastabilidade do Poder Judiciário 
Decorre do art. 5º, inciso XXXV, da Constituição, que determina que “a lei 
não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito”. 
Isso significa que, em momento algum, o Poder Judiciário será impedido de 
atuar em circunstâncias em que se configurem ameaças ou lesões à direitos. 
2.1.3. Princípio do juiz natural 
A Constituição da República também afirma, em seu art. 5º, inciso 
XXXVII, que “não haverá juízo ou tribunal de exceção”. Isso significa que 
somente serão reconhecidos como entes legítimos e capazes de proferir a 
jurisdição, isto é, de decidir, os juízes e tribunais estabelecidos pela lei. 
Um juízo ou um tribunal já deve existir antes da ocorrência do fato a ser 
julgado. Nesse sentido, somente poderão proferir decisões os juízes e 
tribunais já criados pela lei. 
2.1.4. Princípio da assistência jurídica integral e gratuita aos 
necessitados 
Trata-se de uma das principais garantias constitucionais (previstano art. 5º, 
inciso LXXIV, da Carta Magna) e preconiza que “o Estado prestará 
assistência jurídica integral e gratuita aos que comprovarem insuficiência 
de recursos”. Qualquer pessoa poderá ter acesso aos serviços judiciais de 
forma gratuita, de acordo com a determinação constitucional. 
Na prática, a Defensoria Pública ocupa-se dessa função. No entanto, é 
permitido ao juízo nomear advogado não vinculado à defensoria pública 
para atuar na defesa de quem necessitar. 
2.1.5. Princípio da indispensabilidade e inviolabilidade do advogado 
O advogado é imprescindível para a atuação em prol da busca da justiça. A 
própria Constituição assim expõe, em seu art. 133: “o advogado é 
indispensável à administração da justiça, sendo inviolável por seus atos e 
manifestações no exercício da profissão, nos limites da lei”. 
Uma das características únicas da profissão é a capacidade postulatória, que 
se constitui na capacidade de peticionar ao Poder Judiciário, na defesa de 
direitos. Isto é, apenas o advogado (ou o defensor público) é capaz, na 
forma da lei, de representar a parte que o constitui ao longo do processo. 
A inviolabilidade do advogado é também prerrogativa do mesmo e 
ferramenta para o exercício livre e independente de sua profissão. Ela 
consiste em assegurar ao advogado condições para que possa exercer seu 
trabalho sem qualquer impedimento ou arbítrios, além de assegurar 
proteções, como a inviolabilidade de seu escritório e arquivos, ou, caso isso 
ocorra, a presença de um representante da OAB na ação. 
2.1.6. Princípio da duração razoável do processo 
Decorre da determinação constitucional inscrita no art. 5º, inciso LXXVIII, 
da Constituição, que determina que “a todos, no âmbito judicial e 
administrativo, são assegurados a razoável duração do processo e os meios 
que garantam a celeridade de sua tramitação”. Essa garantia visa assegurar 
a aplicação da justiça de forma contemporânea à demanda, uma vez que a 
demora na prestação jurisdicional pode, muitas vezes, provocar até a perda 
irreparável do bem ou direito postulado. 
2.1.7. Princípio da ampla defesa e contraditório 
Trata-se de uma das principais ferramentas processuais asseguradas pela 
Constituição Federal. Segundo tal garantia, qualquer acusado em qualquer 
instância, juízo ou tribunal terá assegurada a condição de se defender de 
todas as imputações que lhe são feitas, bem como contestá-las. Para a 
efetividade desse princípio é que a Constituição também assegura a 
gratuidade aos atos judiciais, uma vez que, sendo o indivíduo acusado, 
necessitará da assistência de advogado para realizar a sua defesa técnica. 
Ainda na análise da ampla defesa e contraditório, temos a figura da 
plenitude de defesa, que é uma ferramenta exclusiva do Tribunal do Júri. A 
plenitude de defesa se caracteriza pelo uso de elementos prescritos ou não 
na lei para efetivar o convencimento do jurado, uma vez que esse é leigo e 
não dispõe dos mesmos conhecimentos técnicos que o juiz togado possui. 
2.2. Princípios gerais 
Os princípios processuais gerais são aqueles comuns à disciplina – 
Rodrigues e Lamy (2020, p. 228) nos auxiliam ao enumerar os principais: 
 Devido processo legal: garante, em especial, que a demanda se 
desenvolva em cumprimento das garantias e procedimentos definidos 
em lei. 
 Isonomia: garante igualdade de tratamento às partes. 
 Publicidade dos atos processuais: funciona como garantia das 
partes de que terão acesso a todas as informações contidas no 
processo. 
 Licitude das provas: busca garantir a não utilização de provas 
obtidas por meios ilícitos. 
 Fundamentação das decisões: garante acesso às razões que levaram 
o juiz a tomar aquela decisão e não outra. 
 Duplo grau de jurisdição: impõe organização judiciária que inclua 
órgãos de primeiro e de segundo graus de jurisdição.

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