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Direito Internacional Professor Moacir Junior Carnevalle EduFatecie E D I T O R A Reitor Prof Ms. Diretor de Ensino Prof Ms. Diretor Financeiro Prof Diretor Administrativo Secretário Acadêmico Prof Coordenação Adjunta de Ensino Prof a Coordenação Adjunta de Pesquisa Prof Coordenação Adjunta de Extensão Coordenador NEAD - Núcleo de Educação a Distância Web Designer Revisão Textual e Diagramação Thassiane Sillva Jacinto UNIFATECIE Unidade 1 UNIFATECIE Unidade 2 ( UNIFATECIE Unidade 3 UNIFATECIE Unidade 4 www.unifatecie.edu.br/site/ As imagens utilizadas neste livro foram obtidas a partir do site ShutterStock 20 by Editora EduFatecie Copyright do Texto © 20 Os autores Copyright © Edição 20 Editora EduFatecie o download da obra e o compartilhamento desde que sejam atribuídos créditos aos autores, mas sem a EQUIPE EXECUTIVA Editora-Chefe Prof Sbardeloto Tatiane Viturino de Oliveira Thassiane Silva Jacinto www.unifatecie.edu.br/ editora-edufatecie edufatecie@fatecie.edu.br Dados Internacionais de Catalogação na Publicação - CIP C289d Carnevalle, Moacir Junior Direito internacional / Moacir Junior Carnevalle. Paranavaí: EduFatecie, 2021. 104 p.: il. Color. ISBN 978-65-87911-71-7 1. Direito internacional público. 2. Direito internacional privado. 3. Arbitragem. I. Centro Universitário UniFatecie. II. Núcleo de Educação a Distância. III. Título. CDD : 23 ed. 342.3 Catalogação na publicação: Zineide Pereira dos Santos – CRB 9/1577 AUTOR Professor Moacir Junior Carnevalle http://lattes.cnpq.br/0284851310094308 • Especialista em Direito do Consumidor pelo IBMEC. • Especialista em Direito Civil pela Universidade Anhanguera - Uniderp. • Especialista em Docência do Ensino Superior pela Unopar. • Aperfeiçoamento jurídico pela Escola da Magistratura do Paraná – campus Curitiba. • Bacharel em Direito pela Cesumar – Centro de Ensino Superior de Maringá. • Professor do curso de Direito da Faculdade de Apucarana – FAP. • Professor do curso de Direito da Universidade Norte do Paraná - UNOPAR. • Advogado atuante com escritório profissional na cidade de Arapongas-PR. • Atuação como professor de Núcleo de Prática Jurídica por cerca de 15 anos. Professor de graduação do ensino superior e pós-graduação desde 2002, princi- palmente nas áreas de Direito Civil e de Direito Internacional. Advogado atuante na esfera cível, consumidor e internacional. APRESENTAÇÃO DO MATERIAL Seja muito bem-vindo(a)! Iniciaremos o nosso estudo acerca do Direito Internacional, ramo jurídico que passa por intenso desenvolvimento nas últimas décadas e continua em plena expansão. O Direito Internacional atravessa intenso progresso legislativo e se mostra com influência para os demais ramos do Direito. Certamente cada vez mais as relações com conexão internacional farão parte do nosso cotidiano. Embora pareça uma realidade distante, ao longo do curso será possível observar como o Direito Internacional influencia a vida de cada um de nós. O mundo passa por um verdadeiro fenômeno de internacionalização, sendo fruto de uma nova realidade global, e não de mero modismo. Ao longo do nosso estudo, iniciando com a Unidade I, abordaremos a evolução histórica deste ramo da ciência jurídica, além de analisarmos os conceitos gerais e funda- mentais aplicáveis do Direito Internacional. Ainda nesta unidade elencaremos quem são os sujeitos do Direito Internacional participantes e atuantes na sociedade internacional, bem como características gerais da disciplina, essenciais para a boa compreensão inicial da matéria. Na Unidade II será o momento de explorarmos os princípios e as fontes que norteiam o Direito Internacional, além de estabelecermos como se dá a aplicabilidade das normas no tempo e no espaço. Verificaremos também, de maneira separada, como se definem e quais são os aspectos gerais do Direito Internacional Público e Privado. A jurisdição do Estado e o domínio público internacional serão os dois primeiros temas tratados na Unidade III, que abordará ainda os meios de solução dos conflitos inter- nacionais, a guerra e a responsabilidade internacional dos Estados. Por fim, na Unidade IV será o momento para estudarmos acerca da aplicabilidade das sentenças estrangeiras no Brasil e sobre as organizações internacionais; daremos ênfase à ONU e aos mercados regionais. A ideia, portanto, é iniciarmos juntos essa caminhada em busca do conhecimento, que será enriquecedor na sua formação profissional e pessoal, e contribuirá sobremaneira para a busca de novos desafios. Sigamos em frente. Obrigado e bom estudo!!! SUMÁRIO UNIDADE I ...................................................................................................... 3 Do Direito Internacional: Aspectos Iniciais UNIDADE II ................................................................................................... 21 Do Direito Internacional Público e Privado UNIDADE III .................................................................................................. 46 Dos Conflitos Internacionais e da Solução de Controvérsias UNIDADE IV .................................................................................................. 67 Das Sentenças Estrangeiras e das Organizações Internacionais 3 UNIDADE I Do Direito Internacional: Aspectos Iniciais Professor Moacir Junior Carnevalle Plano de Estudo: • Do breve retrospecto histórico relacionado ao direito internacional; • Dos conceitos gerais e fundamentais relacionados ao direito internacional; • Dos sujeitos envolvidos no contexto do direito internacional; • Das características gerais. Objetivos de Aprendizagem: • Analisar como se deu a evolução histórica do Direito Internacional; • Compreender quais são os conceitos gerais e fundamentais do Direito Internacional; • Verificar quais são os sujeitos na seara do Direito Internacional; • Analisar as características gerais do Direito Internacional. 4UNIDADE I Do Direito Internacional: Aspectos Iniciais INTRODUÇÃO Bem-vindo(a), aluno(a), à primeira unidade de Direito Internacional. Iniciaremos nossos estudos por este ramo do Direito que, embora pareça distante do nosso dia a dia, se mostrará extremamente próximo de nós. O Direito Internacional ganha importância cada vez maior à medida em que a sociedade como um todo aumenta suas relações internacionais, seja através de viagens, negócios, compras, utilização da rede mundial de computadores dentre outras, fruto de um fenômeno chamado globalização. Nos dias atuais é muito mais comum, portanto, estabelecermos relações conecta- das com o exterior, por isso a importância cada vez maior de estudar Direito Internacional. Iniciaremos os nossos estudos analisando a evolução histórica do Direito Interna- cional, sendo possível verificarmos como se deu, ao longo do tempo, o amadurecimento desta ciência jurídica. Num segundo momento pontuaremos quais são os sujeitos de Direito Internacio- nal, ou seja, a quem o Direito Internacional é direcionado e quem possui legitimidade para exercer esse papel perante a comunidade internacional. Não menos importante, veremos em que consiste o Direito Internacional, ocasião em que falaremos a respeito da sua divisão mais importante. Por fim, abordaremos as características do Direito Internacional, veremos que pos- sui particularidades próprias suficientes para distinguir de outros ramos do direito. Bom estudo!!! 5UNIDADE I Do Direito Internacional: Aspectos Iniciais 1. DO BREVE RETROSPECTO HISTÓRICO RELACIONADO AO DIREITO INTERNACIONAL Caro(a) aluno(a), neste tópico abordaremos a evolução histórica do Direito Interna- cional. Os juristas, de maneira geral, reconhecem a existência de um Direito Internacional apenas após de 1648, quando foi celebrada a Paz de Vestfália, que é considerado omarco histórico do Estado-nação nos tempos modernos. Não obstante, os povos da Antiguidade também mantinham relações exteriores, seja através do comércio, do envio de embaixa- dores, da celebração de tratados ou de outras formas de obrigações (MAZZUOLI, 2020). Segundo Accioly (2019), até o Direito Internacional versava sobre a terra e o mar, razão pela qual era chamado de bidimensional. Posteriormente, passou a ser tridimensional, por também tratar do ar (invenção do avião por Alberto Santos Dumont). Após a Segunda Guerra Mundial (1939 - 1945) passou a se preocupar também com o espaço ultraterrestre e os fundos marinhos. Mazzuoli (2020) ensina que o tratado mais antigo de que se tem registro foi cele- brado entre duas cidades da Mesopotâmia, Lagash e Umma e se referia à fronteira comum entre ambas as cidades. Aponta ainda que o tratado mais famoso da Antiguidade remota é, possivelmente, o de Kadesh, concluído entre Ramsés II, do Egito, e Hatusil III dos hititas no século XIII a.C. 6UNIDADE I Do Direito Internacional: Aspectos Iniciais Inicialmente, o Direito Internacional Antigo, ocasião em que era chamada Direito das Gentes, restringia-se à realidade da época, notadamente era dotado de normas que re- gulavam as relações entre comunidades. Esse período compreenderia desde a Antiguidade até a Idade Moderna. Não era propriamente um Direito Internacional, pois não se concebia a existência de Estado nacional, como temos hoje. Após esse período inicial, temos o denominado Direito Internacional clássico. Foi um período marcado por dois acontecimentos que serviram como uma afirmação histórica do Direito Internacional. Um desses acontecimentos, que seria de cunho doutrinário, foi o livro escrito por Hugo Grócio, chamado “O Direito da Guerra e da Paz”, em 1625. O outro foi a chamada Paz da Vestfália, em que foram assinados dois tratados que marcaram o fim da Guerra dos 30 anos, em 1648. Percebe-se, com isso, o início do surgimento do Direito Internacional como uma ciência autônoma e sistematizada, cujo objetivo inicial era regular as relações entre os Estados (MELO, 2017). A Igreja foi a grande influência no desenvolvimento do direito internacional durante a Idade Média. O Papa era considerado o árbitro, por excelência, das relações internacio- nais e tinha a autoridade para liberar um chefe de Estado do cumprimento de um tratado. A grande contribuição da Igreja durante o período medieval foi a humanização da guerra (MAZZUOLI, 2020). O fim da Primeira Guerra Mundial, com a assinatura do Tratado de Versalhes, em 1919, marcaria o início de uma terceira fase do Direito Internacional. Os Estados percebe- ram a necessidade de cooperarem para enfrentar problemas relacionados a fronteiras. É nessa época que surgem as primeiras Organizações Internacionais, tendo como destaque a Sociedade das Nações (1919), também conhecida por Liga das Nações. O Direito Internacional (Séc. XV a XVIII) nasceu, nos moldes que conhecemos hoje, a partir da Idade Moderna, o que se dá justamente pelo surgimento das noções de Estado nacional e de soberania estatal, conceitos consolidados pela Paz de Vestfália (1648). A partir de então, os Estados abandonariam o respeito a uma vaga de hierarquia internacional baseada na religião e não mais reconheceriam nenhum outro poder acima de si próprios (soberania). A Europa começou a adotar uma organização política centrada na ideia de que a cada nação corresponderia um Estado-nação (MAZZUOLI, 2020). A atual fase é denominada por alguns como o período de Humanização do Direito Internacional, conhecida também por Direito Internacional da Humanidade. É um traço sig- nificativo dessa fase a intensificação de um fenômeno denominado globalização. Através dele, os Estados perceberam a dificuldade que enfrentam caso resolvam viver isolados, 7UNIDADE I Do Direito Internacional: Aspectos Iniciais pois dificultaria o próprio desenvolvimento social e sobrevivência da humanidade. Inicia-se a percepção da necessidade dos Estados desenvolverem valores comuns, que interessariam não só à relação entre os próprios Estados, como também à proteção e o desenvolvimento dos indivíduos. Esses valores comuns são representados pelo jus cogens, que seriam obrigações internacionais aceitas mesmo sem terem a elas anuído expressamente. O jus cogens pode ser visto como o conjunto de normas imperativas de direito internacional público. Reflete padrões deontológicos sedimentados no âmbito da comu- nidade internacional, cuja existência e eficácia independem da aquiescência dos sujeitos de direito internacional. Deve ser observado nas relações internacionais e projeta-se, em alguns casos, na própria ordem jurídica interna (MAZZUOLI, 2020). Na Idade Contemporânea (Séc. XVIII até os dias atuais), inaugurada com a Revo- lução Francesa, é reforçado o conceito de nacionalidade, que viria, posteriormente, orientar as unificações italiana e alemã no século XIX. O Congresso de Viena (1815), que encerrou a era napoleônica, resultou em grande impulso para o direito internacional, na medida em que apontou na direção da internacionalização dos grandes rios europeus (Reno, Mosa etc.), declarou a neutralidade perpétua da Suíça e, pela primeira vez, adotou uma classifi- cação para os agentes diplomáticos. O século XIX é o período em que ocorreu o florescimento do direito internacional moderno, marcado, por exemplo, com a criação dos primeiros organismos internacionais com vistas a regular assuntos transnacionais, a proclamação da Doutrina Monroe e a pri- meira das Convenções de Genebra, dentre inúmeras outras iniciativas. Durante o século XX, o direito internacional moderno foi aprofundado e consolidado com a criação da Sociedade das Nações e, posteriormente, da Organização das Nações Unidas, o trabalho de codificação (por exemplo, a Convenção de Viena sobre Direito dos Tratados e a Convenção sobre Direito do Mar) e a proliferação de tratados nascida na ne- cessidade de acompanhar o intenso intercâmbio internacional do mundo contemporâneo. Pode-se destacar como características da evolução histórica da disciplina que as mudanças não são bruscas, o que significa que os rumos do Direito Internacional normal- mente ocorrem aos poucos e após período de tratativas entre os Estados na busca de um consenso. Além disso, nos últimos tempos é um ramo do direito que apresenta grande evolução, provocada pelas múltiplas relações que se estabelecem de maneira mais rápida entre Estados, Organizações Internacionais e, também, entre indivíduos. 8UNIDADE I Do Direito Internacional: Aspectos Iniciais 2. DOS CONCEITOS GERAIS E FUNDAMENTAIS RELACIONADOS AO DIREITO INTERNACIONAL Então, aluno(a), chegou a hora de esclarecermos afinal o que é Direito Internacional e qual ramo da ciência jurídica tutela. Este ramo jurídico é dividido entre Público e Privado. Cabe a cada uma destas ramificações tutelar uma seara das relações desenvolvidas no âmbito internacional. Figura 1 - Divisão do direito internacional Fonte: o autor. Direito Internacional Público Privado 9UNIDADE I Do Direito Internacional: Aspectos Iniciais O Direito Internacional Público pode ser definido como o conjunto de normas e princípios que regulam as relações entre Estados, organizações internacionais e outros entes no seio da comunidade internacional. Por sua vez, o Direito Internacional Privado também é um conjunto de princípios e regras, porém que visa tutelar as relações jurídico-privadas a nível internacional, resol- vendo, por exemplo, conflitos de jurisdição e objetivando definir qual o direito aplicável em situações que envolvam mais de um Estado, ou mais de um ordenamento. Diante disso, podemos concluir que o Direito Internacional é o conjunto de princí- pios e normas que regulam as relações a nível internacional entre os entes públicos, como, por exemplo, entre Estados; bem como relações entre privados, ou seja, indivíduosque transcendem as fronteiras nacionais e que definem as regras de aplicação do Direito no caso de conflito de jurisdição. O Direito Internacional destina-se, portanto, a regular a sociedade internacional e as relações estabelecidas em seu seio, ou que nela tenham algum impacto. 10UNIDADE I Do Direito Internacional: Aspectos Iniciais 3. DOS SUJEITOS ENVOLVIDOS NO CONTEXTO DO DIREITO INTERNACIONAL Então, aluno(a), chegou a hora de estudarmos quais são os sujeitos que fazem par- te da sociedade internacional, e como são os destinatários das normas desse importante ramo do direito. São vários os sujeitos de Direito Internacional admitidos atualmente. Pode se afirmar que os sujeitos do Direito Internacional, são todos aqueles que gozam de direitos e deveres previstos pelo direito Internacional Público e que possam atuar na esfera Internacional para exercê-los, direta ou indiretamente. O sujeito de Direito Internacional, para ser assim considerado, é preciso gozar de personalidade jurídico-internacional e de capacidade jurídico-internacional. A personalidade jurídico-internacional confere ao sujeito a capacidade de ser titular de direitos e obrigações internacionais, dependendo desses direitos e obrigações dos obje- tivos e funções atribuídos à organização, sejam eles enunciados ou implicados por seu ato constitutivo ou desenvolvidos na prática (MELO, 2017). Por sua vez, a capacidade jurídico-internacional diz respeito à capacidade do su- jeito ser titular de direitos na ordem internacional, bem como possuir reconhecimento pela comunidade internacional para o exercício desses direitos (MELO, 2017). Portanto, para ser sujeito de Direito Internacional é preciso gozar de direitos e deveres no plano internacional, bem como ter capacidade para exercê-los. 11UNIDADE I Do Direito Internacional: Aspectos Iniciais O primeiro desses sujeitos é o Estado, que é chamado de sujeito originário, justa- mente porque inicialmente somente ele era admitido como sujeito, e permaneceu sendo o único por um bom tempo. Um grande entrave que se relaciona em relação ao Estado como sujeito é a questão da soberania. A soberania já foi vista, em sua acepção clássica, como um poder absoluto do estado, que não admitia relativização (MELO, 2017). Não obstante, os Estados, ao se relacionarem com a sociedade internacional, pre- cisam fazer concessões, razão pela qual o conceito de soberania atualmente se apresenta bastante relativizado. Figura 2 - Soberania dos Estados versus Necessidade de Cooperação Fonte: o autor. Segundo Varella (2019), “o Estado é o principal sujeito do direito internacional”. Entre os sujeitos, é o único que possui plena capacidade jurídica. Os Estados soberanos são os principais sujeitos do Direito Internacional Público. São organizações de foco político e jurídico de uma sociedade (MELO, 2017). O exercício das prerrogativas estatais decorre da existência de três elementos constitutivos: população, território determinado, governo e a capacidade de manter relações com os outros Estados. No que tange a população, entende ser a coletividade dos indiví- duos que habitam o território, são eles nacionais e estrangeiros. No território determinado é a base onde a população se encontra. Por fim, e não menos importante, o governo e a Soberania dos Estados Necessidade de cooperação 12UNIDADE I Do Direito Internacional: Aspectos Iniciais capacidade de manter relações com outros Estados, em que se faz necessário um governo soberano que não seja subordinado a outra autoridade exterior. Hoje existem outros sujeitos de Direito Internacional, como as Organizações Inter- nacionais e os indivíduos, apesar de, em relação a estes últimos, haver discordância de uma parcela da doutrina. As Organizações Internacionais são uma criação relativamente recente do Direito Internacional Público. O seu surgimento teria se dado no fim da Primeira Guerra Mundial com a criação da Liga das Nações, também chamada de Sociedade das Nações (SDN). As organizações internacionais são uma associação formal e permanente de Esta- dos, que possui personalidade e capacidade jurídica internacional. Elas são constituídas de forma que tenham personalidade jurídica distinta da dos Estados membros que dela fazem parte. Possuem estatuto, sede e órgãos internos. As Organizações Internacionais, por serem uma criação do Estado, possuem uma personalidade jurídica decorrente. Podem ser criadas com uma finalidade específica, ou com fins gerais, podem ser duradouras ou temporárias, universais ou regionais (MELO, 2017). Exemplificativamente, podemos citar a Organização das Nações Unidas (ONU), o Mercosul, a Área de Livre Comércio das Américas (ALCA) dentre outras. Outro sujeito de Direito Internacional seria o indivíduo. Quanto a este, entretanto, existe uma divisão da doutrina no tocante a sua aceitação como integrante deste rol. Os opositores à presença do indivíduo como sujeito de Direito Internacional susten- tam a sua tese alegando que não possuem personalidade jurídica, sendo apenas protegidos como destinatários das normas internacionais. Não obstante opiniões contrárias, o Direito Internacional atual demonstra cada vez mais uma preocupação crescente com a proteção da pessoa humana. Ou seja, a pessoa humana hoje é portadora de direitos e obrigações internacionais, sendo dotada de capaci- dade, em alguns casos, de reclamar esses direitos perante organismos internacionais, da Corte Europeia de Direitos Humanos e da Comissão Americana de Direitos Humanos. Para Mello (2017), negar a personalidade jurídica do indivíduo no plano internacio- nal seria desumanizar o Direito Internacional, ou seja, não se pode falar na garantia dos Direitos Humanos pela Ordem Internacional se o homem não é reconhecido como sujeito de Direito Internacional. O Direito Internacional, principalmente pós Segunda Guerra Mundial, passou a demonstrar crescente preocupação com a proteção da pessoa humana, desenvolvendo 13UNIDADE I Do Direito Internacional: Aspectos Iniciais normativas internacionais voltadas para a salvaguarda dos Direitos Humanos, sendo este um dos seus principais objetivos (MELO, 2017). É possível destacar, ainda, algumas figuras outras, dotadas de características peculiares quando comparadas aos sujeitos vistos acima. Uma dessas figuras são os microestados, presentes em várias regiões do planeta, são Estados com pequena extensão territorial e, muitas vezes também, população reduzida. Esses microestados são dependentes de outros Estados para várias necessidades, como, por exemplo, a cunhagem e emissão de moeda, a segurança do seu território, a utilização de aeroportos etc. Embora possuam personalidade e capacidade jurídica-internacional, questiona-se a independência completa desses microestados em relação às suas decisões internacio- nais justamente por possuírem essa interdependência em relação a vários aspectos. São exemplos: Seychelles, Barbados, Mônaco, Andorra, San Marino dentre outros. Figura 3 - Superfície em km² de alguns microestados Fonte: o autor Outra figura anômala da sociedade internacional é a Santa Sé, que, embora não seja Estado, tampouco Organização Internacional, é dotada de personalidade e capacida- de jurídica de Direito Internacional de igual forma, razão pela qual pode celebrar tratados com diversos Estados, integrando muitas organizações internacionais. Alguns autores designam-na como uma coletividade não estadual. Está sediada no Estado da Cidade do Vaticano, em Roma, e possui um governo próprio, instituído pela Igreja Católica. A Santa Sé, ao contrário dos Estados, não possui um povo, e a sua finalidade é administrar a Igreja Católica no mundo, ou seja, é a cúpula da Igreja Católica no mundo (MELO, 2017). 14UNIDADE I Do Direito Internacional: Aspectos Iniciais Ainda merecem destaque as Organizações não-governamentais (ONGs). Embo- ra não possuam personalidade jurídica internacional,são importantes à medida em que “fiscalizam” a atuação dos demais sujeitos de Direito Internacional e “denunciam” práticas contrárias às normas internacionais relacionadas ao meio ambiente, desrespeito aos direi- tos humanos, crueldades praticadas a animais, além de muitas outras. Essas denúncias funcionam como forma de provocar uma reação da comunidade internacional contra o Estado que está praticando a irregularidade, o que tem proporcionado muitos resultados positivos. As ONGs internacionais acabam sendo verdadeiros representantes da sociedade para suprir as lacunas deixadas pela atuação estatal para a tentativa de solução de confli- tos sociais, ambientais, econômicos etc. Exercem forte influência sobre os entes estatais, auxiliando na tomada de decisões e até mesmo na celebração de tratados (MELO, 2017). Figura 4 - Organização Mundial da Saúde Em resumo: para ser sujeito de Direito Internacional é preciso ter personalidade jurídica internacional, o que somente é atribuído, de forma uníssona, aos Estados, microes- tados, Santa Sé e organizações internacionais. Os indivíduos, apesar de serem destinatá- rios das normas internacionais, ainda não são, unanimemente, considerados como sujeitos (MELO, 2017). 15UNIDADE I Do Direito Internacional: Aspectos Iniciais 4. DAS CARACTERÍSTICAS GERAIS É possível apontarmos várias características do Direito Internacional, muitas delas permitindo a diferenciação deste ramo do direito quando em comparação com o direito interno. Enquanto o direito interno caracteriza-se como sendo de subordinação, em que as normas são elaboradas e impostas pelo Estado e aplicadas de forma imperativa à popula- ção, o Direito internacional é um direito de coordenação. As normas do Direito internacional são elaboradas, em sua grande maioria, após período de negociação entre os Estados, que acordam sobre o tema sobre o qual negocia- vam. Além disso, a produção normativa não deriva necessariamente de um poder (legis- lativo como regra), como o direito interno. Apresenta a criação de normas a partir de acordos bilaterais, multilaterais, entre Estados, entre Organizações Internacionais, apresentando, portanto, descentralização. As normas internacionais também tratam dos mais variados temas, existindo acor- dos comerciais e normativos, apresentando uma considerável fragmentação de assuntos. Portanto, o Direito Internacional caracteriza-se como um direito de coordenação, devido à igualdade entre Estados. Não existe um governo central, como ocorre no direito interno, sendo as normas criadas a partir da negociação entre os Estados soberanos. O fato de inexistir um governo central faz com que o direito internacional se apresente 16UNIDADE I Do Direito Internacional: Aspectos Iniciais fragmentado, pois um acordo entre dois Estados não impede que outros acordos sejam realizados com outros Estados, sobre o mesmo tema ou não. Além disso, as normas são heterogêneas à medida em que os temas são os mais variados possíveis, muitas vezes envolvendo dois sujeitos de Direito Internacional ou vários. No que tange ao eventual descumprimento dessas normas, são vários os mecanis- mos que podem ser invocados, como comissões, comitês e Cortes internacionais, inclusive com a possibilidade de aplicação de sanções. Outra característica é o fato de que as normas surgem essencialmente após o consentimento dos sujeitos de Direito Internacional, muitas vezes precedido de um amplo período de negociações. O princípio do livre consentimento é consagrado pela Convenção de Viena sobre o direito dos tratados de 1969 e pela Corte Internacional de Justiça. Porém, a criação do Direito Internacional pode, em certos casos, prescindir do consentimento dos Estados, pois a mesma Convenção de Viena reconhece a noção de norma imperativa e de obrigações essenciais que se impõem ao conjunto dos estados. Trata-se de normas que não podem ser derrogadas de um tratado sob pena de nulidade (MELO, 2017). Em relação à hierarquia das normas internacionais, existe verdadeiro dissenso na doutrina. Aos que entendem pela existência de hierarquia, exemplificam os tratados regionais de direitos humanos, que precisam obedecer às diretrizes globais sobre o mesmo tema (Convenção de Direitos Humanos). Além disso, as normas internacionais não devem ser obedecidas apenas no âmbito interno, ainda que os países prevejam que as normas internacionais precisem passar por um processo de incorporação para terem validade no âmbito interno. Uma terceira justificativa para a suposta hierarquia seria a necessidade de respeito ao jus cogens, cuja explicação já foi abordada anteriormente. Já outra parte da doutrina entende que as normas de Direito Internacional estão todas no mesmo patamar, sendo que um tratado não se sobrepõe hierarquicamente a ou- tro, ou seja, não estão em uma pirâmide. No entanto, admitem que, embora não haja uma hierarquização formal das normas jurídicas internacionais, pode-se dizer que, de acordo com sua natureza, existem normas taxativas e inderrogáveis, que se sobrepõem às demais. Importante destacar ainda a existência de uma verdadeira jurisdição internacio- nal e, consequentemente, de previsão de sanções. Como exemplo de algumas dessas jurisdições, podemos citar a Corte Interamericana de Direito Humanos, o Tribunal Penal 17UNIDADE I Do Direito Internacional: Aspectos Iniciais Internacional e a Corte Internacional de Justiça, sendo que a competência no que tange a atuação de cada uma delas consta nos respectivos estatutos. A jurisdição internacional é responsável pela preservação e defesa das normas internacionais, foram criadas por meio de tratados e vinculam, em geral, os países que a ela aderiu. Atualmente, não só os Estados e Organizações Internacionais se subordinam a esta jurisdição, sendo que hoje também é possível que o indivíduo tenha essa vinculação, como é o caso da Corte Europeia de Direitos Humanos, em que o indivíduo teria legitimidade para processar um Estado. O mesmo acontece com a Comissão Americana de Direitos Humanos, que permite a petição individual, e o Tribunal Penal Internacional, responsável por julgar pessoas pela prática de crimes contra a humanidade, crimes de genocídio e crimes de guerra. Importante diferenciação entre as competências dessas cortes internacionais (ou dessa jurisdição internacional) é o fato de que que não existe um corte de competência glo- bal e as sanções aplicáveis aos Estados, por exemplo, podem ser uma suspensão ou até a expulsão do Estado-membro que estiver em desacordo com as diretrizes da Organização das Nações Unidas. SAIBA MAIS Que tal aprofundarmos nossos estudos em torno do Direito Internacional? A seguir deixo uma recomendação de leitura que irá enriquecer o aprendizado e reforçar o que foi es- tudado até aqui. O texto pode ser acessado no seguinte endereço eletrônico: https://jus.com.br/artigos/59325/a-importancia-do-direito-internacional-na-atualidade REFLITA Embora estejamos iniciando o nosso estudo de Direito Internacional, você já parou pra pensar quantas relações exteriores desenvolvemos através da rede mundial de compu- tadores (internet)? Reflita sobre o assunto. Para lhe auxiliar deixo uma indicação de leitura: https://egov.ufsc.br/portal/sites/default/files/anexos/32792-40572-1-PB.pdf 18UNIDADE I Do Direito Internacional: Aspectos Iniciais CONSIDERAÇÕES FINAIS Chegamos ao final da nossa primeira unidade didática. Através desta unidade você pôde aprender conceitos fundamentais da disciplina em que estamos trabalhando. Vimos como se deu o desenvolvimento histórico do Direito Internacional, e pudemos perceber que somente após o surgimento dos Estados é que teria surgido efetivamente esse ramo do Direito. Percebemos que o Direito Internacional atualmente apresenta um ex- pressivo desenvolvimento, fruto do aumento cada vez mais significativo das relações inter- nacionais. Quanto mais as relaçõesinternacionais se desenvolvem é maior a necessidade de serem regulamentadas. Portanto, o Direito Internacional se ocupa de criar mecanismos e regulamentar as mais variadas situações que essas relações geram. Analisamos, ainda que brevemente, conceitos gerais e fundamentais do Direito Internacional, e a divisão que o tema apresenta entre público e privado. Foi possível determinarmos, também, quais são os sujeitos de Direito Interna- cional, iniciando com o estudo do Estado, considerado sujeito originário, e progredindo para a análise das Organizações Internacionais, e a importância que possuem no cenário Internacional. Analisou-se também a discussão doutrinária acerca da inclusão do indivíduo como sujeito internacional, sendo que atualmente há uma consistente inclinação para a sua aceitação como tal. Por fim, verificamos as características gerais do Direito Internacional, e concluímos que estamos diante de um direito baseado na coordenação entre os Estados. A produção normativa que regulamenta o Direito Internacional não deriva de um poder legislativo, inexiste um governo central em âmbito mundial e as relações entre os Estados estão anco- radas na igualdade. As normas são fruto do consentimento entre os Estados e não existe uma jurisdição internacional centralizada. 19UNIDADE I Do Direito Internacional: Aspectos Iniciais MATERIAL COMPLEMENTAR LIVRO Título: Manual de Direito Internacional Público. Autor: Hildebrando Accioly et. al. Editora: Saraiva. Sinopse: O Manual de Direito Internacional Público de Accioly e Nascimento e Silva, atualizado por Paulo Borba Casella, Titular da cadeira de Direito Internacional Público da USP, acompanha as profundas transformações conceituais e estruturais em curso no direito internacional pós-moderno. A obra tem a proposta de manter um “texto responsável” e atualizado de uma visão geral e didática da disciplina, mas sempre respeitando o legado dos autores. Incorporou análises e questionamentos contemporâneos sobre direito internacional, levando em consideração a tradição reflexiva deste manual que se mostram fundamentais para for- necer subsídios novos para o ensino do direito internacional em faculdades de direito ou de relações internacionais. FILME/VÍDEO Título: Casablanca. Ano: 1942. Sinopse: Durante a Segunda Guerra Mundial, muitos fugitivos tentavam escapar dos nazistas por uma rota que passava pela ci- dade de Casablanca. O exilado americano Rick Blaine (Humphrey Bogart) encontrou refúgio na cidade, dirigindo uma das principais casas noturnas da região. Clandestinamente, tentando despistar o Capitão Renault (Claude Rains), ele ajuda refugiados, possibilitan- do que eles fujam para os Estados Unidos. Quando um casal pede sua ajuda para deixar o país, ele reencontra uma grande paixão do passado, a bela Ilsa (Ingrid Bergman). Este amor vai encontrar uma nova vida e eles vão lutar para fugir juntos. 20 Plano de Estudo: • Dos princípios aplicáveis e das fontes; • Da aplicabilidade das normas internacionais no tempo e no espaço.; • Definição e aspectos gerais do direito internacional público; • Definição e aspectos gerais do direito internacional privado. Objetivos da Aprendizagem: • Analisar a divisão do Direito Internacional em público e privado; • Compreender os princípios aplicáveis e as fontes do Direito Internacional público e privado; • Entender como se dá a aplicação das normas internacionais no tempo e no espaço; • Verificar como pode ser definido e quais os aspectos gerais que norteiam o Direito Internacional Público; • Verificar como pode ser definido e quais os aspectos gerais que norteiam o Direito Internacional Privado. UNIDADE II Do Direito Internacional Público e Privado Professor Moacir Junior Carnevalle 21UNIDADE II Do Direito Internacional Público e Privado INTRODUÇÃO Seja bem-vindo(a) à segunda unidade do nosso material didático sobre Direito In- ternacional. No decorrer deste material aprofundaremos o nosso estudo sobre a disciplina. Inicialmente, veremos quais os princípios aplicáveis e as fontes do Direito Interna- cional Público e Privado. Analisaremos também como se dá a aplicação das normas internacionais no tempo e no espaço, o que permitirá vislumbrarmos qual o alcance do Direito Internacional perante a sociedade internacional. Por fim, em tópicos diferentes, trataremos de definir e verificar os principais aspec- tos gerais, tanto do Direito Internacional Público como do Direito Internacional Privado. Aproveite bem e bom estudo! 22UNIDADE II Do Direito Internacional Público e Privado 1. DOS PRINCÍPIOS APLICÁVEIS E DAS FONTES Os princípios de Direito Internacional variam conforme o contexto histórico que está sendo analisado. Os autores discorrem sobre os princípios basilares do Direito Internacional elen- cando alguns que os representam. Dentre eles, podemos citar o princípio da não agressão entre os povos e da não agressão entre os Estados, a busca pela solução pacífica dos litígios, a autodeterminação dos povos, o desarmamento e a proibição da propaganda de guerra etc. Alguns autores incluem a continuidade do Estado como outro Princípio que susten- ta o Direito Internacional, justamente pelo fato de ser o sujeito primário responsável pela formação da disciplina. A Constituição Federal de 1988 foi a primeira a estabelecer de maneira expressa os princípios aplicáveis ao Estado brasileiro nas relações internacionais, a saber: Art. 4º A República Federativa do Brasil rege-se nas suas relações internacionais pelos seguintes princípios: I - independência nacional; II - prevalência dos direitos humanos; III - autodeterminação dos povos; IV - não-intervenção; V - igualdade entre os Estados; 23UNIDADE II Do Direito Internacional Público e Privado VI - defesa da paz; VII - solução pacífica dos conflitos; VIII - repúdio ao terrorismo e ao racismo; IX - cooperação entre os povos para o progresso da humanidade; X - concessão de asilo político. Parágrafo único. A República Federativa do Brasil buscará a integração econômica, política, social e cultural dos povos da América Latina, visando à formação de uma comuni- dade latino-americana de nações (BRASIL, 1988). Essa previsão constitucional representou um avanço legislativo importante, por es- tar prevista na Constituição, demonstrando a relevância do Direito Internacional nos últimos tempos. Podemos citar também o Princípio do Consentimento, que lastreia, de forma fun- damental, as relações entre os sujeitos de Direito Internacional no estabelecimento dos Tratados e Convenções. É de se destacar ainda o Princípio do Pacta sunt servanda, que serve de base para que os Tratados e Convenções internacionais, uma vez assinados, devam ser cumpridos. Os sujeitos de Direito Internacional ainda podem ser responsabilizados pela prática de atos ilícitos, que será mais bem abordado em tópico próprio, além do jus cogens, que é entendido como uma norma aceita e reconhecida pela comunidade internacional dos Estados como um todo, como norma da qual nenhuma derrogação é permitida e que só pode ser modificada por norma ulterior de Direito Internacional geral da mesma natureza (TEIXEIRA, 2020). Já em relação às fontes do Direito Internacional é importante destacar que por fonte do direito se entende o modo pelo qual o direito se manifesta. As principais fontes do direito podem ser representadas na Figura 1, embora hoje outras são admitidas, como será observado adiante. Figura 1 - Fontes do Direito Internacional Público Fonte: Mello (2017). 24UNIDADE II Do Direito Internacional Público e Privado As fontes de um determinado ramo jurídico podem ser materiais ou formais. As materiais são fontes de produção (elaboração) de certa norma jurídica, decorrendo normal- mente de necessidades sociais, econômicas, políticas, morais, culturais ou religiosas; já as fontes formais são os métodos ou processos de criação de uma norma jurídica, ou seja, as diversastécnicas que permitem considerar uma norma como pertencente ao universo jurídico (MAZZUOLI, 2018). Em relação ao Direito Internacional Público, inicialmente tomou-se como base o artigo 38 do Estatuto da Corte Internacional de Justiça, que faz parte do anexo da Carta das Nações Unidas (ONU) de 1945, que arrolou meios para serem aplicados nos seus julgamentos, que passaram a ser consideradas como fontes: Art. 38 – 1. A Corte, cuja função é decidir de acordo com o direito internacio- nal as controvérsias que lhe forem submetidas, aplicará: a) as convenções internacionais, quer gerais, quer especiais, que estabele- çam regras expressamente reconhecidas pelos Estados litigantes; b) o costume internacional, como prova de uma prática geral aceita como sendo o direito; c) os princípios gerais de direito, reconhecidos pelas nações civilizadas; d) sob ressalva da disposição do art. 59, as decisões judiciárias e a doutrina dos juristas mais qualificados das diferentes nações, como meio auxiliar para a determinação das regras de direito. 2. A presente disposição não prejudicará a faculdade da Corte de decidir uma questão ex aequo et bono, se as partes com isto concordarem (TEIXEIRA, 2020). Esse rol não é considerado taxativo pela doutrina, além de não apontar uma hierar- quia entre as fontes. As convenções internacionais, e também os tratados, são apontadas pela doutrina internacionalista como a principal fonte do Direito Internacional Público, sendo responsá- veis por regular as matérias mais importantes no âmbito internacional. Podem ser definidos como acordos internacionais resultantes da convergência de vontade de dois ou mais sujeitos internacionais (MELO, 2017). O costume internacional, não menos importante que as Convenções, também é considerado uma das mais importantes fontes do Direito Internacional, tendo em vista que a maioria das normas internacionais são de origem consuetudinária, ou seja, derivam do costume internacional já que não existe um órgão responsável pela produção de normas jurídicas, e são criadas pela manifestação de vontade dos Estados. O costume internacional, como prova de uma prática geral aceita como sendo direi- to, necessita da presença de dois elementos: a) Elemento material ou objetivo: que consiste na prática reiterada ao longo do tempo de uma ação ou mesmo omissão de uma pessoa de 25UNIDADE II Do Direito Internacional Público e Privado Direito Internacional Público; b) Elemento subjetivo: consiste na crença de que se trata de uma prática necessária e justa (TEIXEIRA, 2020). O artigo 38 da Corte Internacional de Justiça cita também os Princípios gerais de direito reconhecidos pelas nações civilizadas, que são entendidos como aqueles princípios aceitos pela maioria dos ordenamentos jurídicos, como: a) proibição do uso ou ameaça de força; b) solução pacífica das controvérsias; c) não intervenção nos assuntos internos dos Estados; d) dever de cooperação internacional; e) igualdade de direitos e autodeterminação dos povos; f) igualdade soberana dos Estados; g) boa-fé no cumprimento das obrigações internacionais (MELO, 2017; TEIXEIRA, 2020). A jurisprudência e doutrina, no âmbito do Direito Internacional, não são conside- radas como verdadeiras fontes do direito, mas apenas como meios ou fontes auxiliares para a determinação das normas. Ambas cumprem um papel muito importante no que toca à definição do conteúdo das normas, por essa razão são mencionadas no Estatuto da Corte Internacional de Justiça. Além disso, é preciso observamos um detalhe importante. Referido diploma legal, ao fazer menção à doutrina, refere-se à “doutrina dos publicistas mais qualificados das diferentes nações”. É importante esclarecer para você, aluno(a), que vêm sendo considerados neste nicho também doutrina criada não apenas por autores individuais, mas também os trabalhos de importante repercussão dos institutos especializados na pesquisa do Direito Internacio- nal, por exemplo, a Comissão de Direito Internacional das Nações Unidas, ou trabalhos preparatórios ou explicativos que acompanham os textos de convenções e que geralmente são elaborados por um grupo de especialistas na matéria (MAZZUOLI, 2020). Por fim, o item 2 do artigo 38 da Corte Internacional de Justiça estabelece que poderá ainda ser utilizado nos seus julgamentos a aplicação de ex aequo et bono, que pode ser entendido de acordo com “a equidade e o bem”, mas apenas havendo a concordância das partes. O art. 38 do Estatuto da Corte de Haia não menciona os atos unilaterais entre as possíveis fontes do Direito Internacional. Contudo, todo ato unilateral eventualmente pode ser revestido de caráter normativo, à medida em que demonstra a posição de determina- do Estado acerca de um assunto. Uma vez que o Estado se posiciona neste ou naquele sentido, um ato normativo unilateral pode ser invocado por outros Estados ou sujeitos de Direito Internacional como prova de alguma reivindicação ou demonstração de licitude de determinado procedimento (TEIXEIRA, 2020). Também fora do rol do artigo 38 citado, as decisões dos organismos internacionais, principalmente a partir da segunda metade do século XX, com a consolidação da presença 26UNIDADE II Do Direito Internacional Público e Privado e atuação das organizações internacionais na sociedade internacional, passou a gerar efeito jurídico. Normalmente essas decisões podem ser chamadas de resoluções, reco- mendações, declarações, diretrizes etc. As decisões dependem do organismo internacional que a profere, sendo que seus efeitos também estão vinculados ao ato constitutivo do mesmo organismo, ora obrigando a totalidade dos membros, ora vinculando apenas parte deles (TEIXEIRA, 2020). Em relação ao Direito Internacional Privado, as fontes, de maneira geral, se diferen- ciam quando comparadas ao Direito Internacional Público, principalmente no que se refere à importância. As fontes do Direito Internacional Privado podem ser internas (nacionais, brasi- leiras) ou internacionais, variando, em maior ou menor medida, relativamente ao assunto de que se trata; tanto as fontes internas como as internacionais podem, por sua vez, ser escritas (leis, tratados etc.) ou não escritas (como os costumes). Como se nota, o sistema das fontes atualmente reinante no Direito Internacional Privado é um sistema misto, eis que os Estados têm suas leis internas, seus regulamentos e seus costumes domésticos, mas também são partes em tratados internacionais, tanto multilaterais como bilaterais, relativos à matéria, além de se subordinarem aos costumes internacionais. São fontes internas do Direito Internacional Privado aquelas provindas de uma dada ordem estatal. Tais fontes, historicamente, têm sido as mais importantes dessa disciplina na maioria dos países, suplantando as de índole internacional. Tanto a Constituição, como as leis e os costumes nacionais estabelecem, cada qual ao seu modo, regras aplicáveis aos conflitos de leis no espaço com conexão internacional, merecendo devida análise. O Direito Internacional Privado regula, com maior ênfase, através das normas inter- nas de cada Estado, os conflitos de leis no espaço com conexão internacional. Diferentemente do que ocorre com o Direito Internacional Público, as normas escritas de Direito interno – especialmente a Constituição e as leis – são as fontes mais importantes do Direito Internacional Privado em vários países, predominando sobre os costumes (internos e internacionais) e sobre os tratados. Entre a Constituição e as leis, porém, o certo é que tem cabido a estas últimas a tarefa prioritária de regular a maioria dos conflitos interespaciais existentes. A fonte interna mais importante para o Direito Internacional Privado brasileiro atual é a Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro (LINDB) (Decreto-Lei nº 4.657, de 4 de setembro de 1942, com redação dada pela Lei nº 12.376, de 30 de dezembrode 2010), que disciplina o assunto nos arts. 7º a 19. A LINDB, porém, tem sido objeto de reiteradas 27UNIDADE II Do Direito Internacional Público e Privado críticas por não ter acompanhado a evolução do Direito Internacional Privado no mundo contemporâneo, razão pela qual deixa de regular inúmeras questões que a atualidade coloca. Outras normas também são encontradas na legislação brasileira, como por exemplo o Código de Processo Civil, que traz normas relativas à competência internacional, à prova do direito estrangeiro e à homologação de sentenças estrangeiras. Todas essas normas devem respeitar a Constituição Federal. De fato, em muitos países, além das normas escritas há também costumes nacio- nais a reger as relações jurídicas de Direito Internacional Privado. No Brasil, em razão do disposto no art. 4º da LINDB, os costumes apenas serão utilizados em caso de omissão legislativa. Embora no Brasil haja um predomínio das normas escritas, a jurisprudência tam- bém pode ser incluída no rol das fontes formais do Direito Internacional Privado, embora, no nosso país, sejam bem tímidas. Porém, com exceção dos casos de homologação de sentenças estrangeiras e de concessão de cumprimento às cartas rogatórias, nunca houve, no Brasil, expressiva produção jurisprudencial envolvendo o Direito Internacional Privado, o que pode ser atestado através de uma pesquisa jurisprudencial. A doutrina, tal qual a jurisprudência, também não é propriamente fonte do Direito Internacional Privado, pois reserva-se na maioria dos casos a interpretar e sugerir a aplica- ção do direito. Entretanto, sua importância reside no fato de que os Tratados e a legislação interna não resolverem as inúmeras situações surgidas no âmbito internacional, cabendo à doutrina encontrar soluções para essas lacunas. A título exemplificativo, têm grande valor doutrinário para o Direito Internacional Privado os textos e documentos provindos das entidades científicas internacionais, a exem- plo do Institut de Droit International, da International Law Association, da Conferência da Haia de Direito Internacional Privado, do Unidroit, da Câmara de Comércio Internacional, do Comitê Jurídico Interamericano e da Conferência Especializada Interamericana sobre Direito Internacional Privado (MAZZUOLI, 2018). Por fim, e não menos importante, ante a inexistência de um Direito Uniforme para todos os Estados, os tratados internacionais têm sido uma ferramenta utilizada pelos países para regular os conflitos de leis estrangeiras no espaço. Mazzuoli (2018) afirma que os tra- tados têm se constituído como a fonte internacional mais importante do Direito Internacional Privado contemporâneo. 28UNIDADE II Do Direito Internacional Público e Privado 2. DA APLICABILIDADE DAS NORMAS INTERNACIONAIS NO TEMPO E NO ES- PAÇO Antes de adentrarmos propriamente no assunto, é importante termos noção que as normas do Direito Internacional apresentam características que a diferencia das demais normas em geral. As normas de Direito Internacional Privado são sempre indicativas ou indiretas. Isto significa que as normas de Direito Internacional Privado não resolvem a questão submetida a juízo propriamente dito, tendo a função de indicar qual ordenamento (se o nacional ou o estrangeiro) deverá ser aplicado para a resolução do caso concreto. Esse ordenamento escolhido (nacional ou estrangeiro) é que resolverá a questão de fundo (mérito) conectada com leis divergentes e autônomas postas sob o exame do Poder Judiciário (TEIXEIRA, 2020). Assim, essas normas não atribuem direitos ou deveres às pessoas, apenas de- signam a ordem jurídica competente em que tais direitos e deveres estão regulados. Um exemplo interessante para ilustrar essa função é o art. 7º da LINDB, que não diz quais são as regras relativas ao início ou término da personalidade, ao nome, à capacidade e aos direitos de família, apenas indicando que será “a lei do país em que domiciliada a pessoa” a responsável por determiná-las. 29UNIDADE II Do Direito Internacional Público e Privado No Brasil, a principal norma de Direito Internacional Privado é a Lei de Introdução às normas do Direito brasileiro (Decreto-Lei nº 4.657, de 4 de setembro de 1942, dos artigos 7º a 17. Portanto, diferentemente do direito comum, que visa solucionar (materialmente) a questão jurídica concreta, no Direito Internacional Privado a norma respectiva apenas indica a ordem jurídica adequada à sua resolução (TEIXEIRA, 2020). Diante de uma norma de Direito Internacional Privado, o intérprete deve realizar a qualificação, que consiste na operação pela qual o juiz, antes de decidir a questão, verifica a qual instituto jurídico corresponde os fatos (jurídicos) realmente provados. É o processo de adequação dos fatos juridicamente relevantes à norma. Há necessidade de identificar, através do instituto da qualificação, qual é o objeto de conexão (instituto jurídico ou determinada matéria regulada pelo direito), para se conhecer o elemento de conexão (que vai justamente indicar qual a ordem jurídica competente para resolver o caso. O quadro a seguir ajuda a compreender o processo de qualificação e de aplicação da lei em conflitos de leis no espaço. Figura 2 - Processo de qualificação Fonte: o autor. Embora o princípio que vigora no Brasil, quando se trata de aplicação da lei nacio- nal, é o do iura novit curia, segundo o qual o juiz é obrigado a conhecer o direito, aplicando o ex-officio, no caso de ser invocada a aplicação de lei estrangeira, esse princípio sofre limitação, posto que o juiz poderá se socorrer das partes para exigir a prova da existência 30UNIDADE II Do Direito Internacional Público e Privado da norma, de sua vigência e de seu teor, conforme dispõe o artigo 376 do Código de Processo Civil. Portanto, no caso de ser invocada a aplicação de lei estrangeira, pode ocorrer do juiz conhecer o direito estrangeiro, podendo aplicá-lo ex-officio (Princípio iura novit curia), independentemente da vontade das partes, ou pode ocorrer de exigir a prova da existência da aludida norma, de sua vigência, bem como de seu texto legal. Para a prova do direito estrangeiro, são admitidos todos os meios permitidos no direito brasileiro. A norma estrangeira deve ser interpretada pelo juiz brasileiro segundo o enten- dimento do país de onde se origina a norma, ou seja, o magistrado deverá se orientar pelo sentido que é dado à legislação estrangeira em seu país de origem, respeitando a orientação doutrinária e jurisprudencial que é produzida no país de onde procede a lei. Entretanto, a aplicação da legislação estrangeira não pode ofender a soberania nacional, a ordem pública e os bons costumes brasileiros, conforme preconiza o artigo 17 da LINDB. A ideia de soberania nacional está ligada ao conceito de ordem pública, no sentido de que a norma estrangeira não pode ser utilizada para fraudar o nosso ordena- mento jurídico. Fraudar a lei seria como alterar o elemento de conexão para se aplicar outra legislação mais favorável à parte. 31UNIDADE II Do Direito Internacional Público e Privado 3. DEFINIÇÃO E ASPECTOS GERAIS DO DIREITO INTERNACIONAL PÚBLICO O conceito de Direito Internacional Público foi adotando diferentes conotações ao longo da história, dependendo da fase em que o desenvolvimento e entendimento da matéria se encontrava. Neste sentido, o quadro a seguir retrata essas modificações. Quadro 1 - Definições de Direito Internacional Público nos diversos períodos históricos 32UNIDADE II Do Direito Internacional Público e Privado Fonte: Teixeira (2020, p. 18). O Direito Internacional Público pode ser definido como sendo o conjunto de princí- pios, regras e teorias que abrangem os entes coletivos internacionalmente reconhecidos, ou seja, os Estados, organismos internacionais e o homem. Desta forma, o Direito Internacional Público é a disciplina jurídica da sociedade internacional. Estafórmula reconhece a existência de uma sociedade internacional (distinta da sociedade nacional, interna ou estatal) e delimita os campos de aplicação respectivos do Direito Internacional e do Direito interno. 33UNIDADE II Do Direito Internacional Público e Privado Em uma definição mais abrangente (e mais técnica), o Direito Internacional Públi- co pode ser conceituado como o conjunto de princípios e regras jurídicas (costumeiras e convencionais) que disciplinam e regem a atuação e a conduta da sociedade internacional (formada pelos Estados, pelas organizações internacionais intergovernamentais e também pelos indivíduos), visando alcançar as metas comuns da humanidade e, em última análise, a paz, a segurança e a estabilidade das relações internacionais. Agora, aluno(a), abordaremos alguns aspectos gerais do Direito Internacional Pú- blico. O Direito Internacional Público se apresenta com aspectos peculiares e caracte- rísticas próprias. A singularidade de suas características permite distinguir esse ramo do direito quando comparado com o direito interno. Ante a soberania do Estado que, embora mitigada, ainda existe, o Direito Interna- cional Público não possui uma autoridade superior, ou seja, sobre a atuação jurisdicional não existe espaço para uma imposição normativa. Os Estados são organizados horizontalmente, haja vista que são juridicamente iguais, atuando de forma paritária perante o cenário internacional, sendo consequência da inexistência da autoridade superior referida anteriormente. O surgimento de normas jurídicas no cenário internacional depende do consenti- mento entre os Estados, sendo a vontade a expressão personalíssima de cada Estado para que uma norma seja eficaz e válida. No sentido político predomina o Princípio da não-intervenção, não cabendo, geral- mente, um Estado influenciar nas questões atinentes a outro Estado, o que permite concluir o predomínio da democracia nas relações internacionais. Na relação Estado versus Estado há o predomínio do Princípio da horizontalidade, ante a ausência de uma autoridade superior, bem como o fato dos Estados estarem juridi- camente no mesmo patamar. O Direito Internacional Público prevê sanções, como já mencionado anteriormente, mas muitas vezes se mostram ineficientes, principalmente pela falta de autoridade central superior provida de força para forçar o seu cumprimento. 34UNIDADE II Do Direito Internacional Público e Privado 4. DEFINIÇÃO E ASPECTOS GERAIS DO DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO O Direito Internacional Privado, assim chamado, sofre críticas de boa parte da doutrina no que se refere ao nome dado a esta disciplina jurídica. Essas críticas residem no fato de que é formado por direito nacional, ou seja, a sua principal fonte é a legislação interna de cada país, embora com o objetivo de ser aplicado internacionalmente. Outro fato que embasa essas críticas é no tocante a cuidar de reger interesses de pessoas privadas (TEIXEIRA, 2020). Não obstante as críticas, essa expressão já está consagrada e os doutrinadores apresentam diversas definições. Para Rechsteiner (2012, p. 16), “O direito internacional privado resolve, essencial- mente, conflitos de leis no espaço referentes ao direito privado, ou seja, determina o direito aplicável a uma relação jurídica de direito privado com conexão internacional”. Para Mazzuoli (2018), o Direito Internacional Privado trata-se do conjunto de prin- cípios e regras de direito público destinados a reger os fatos que orbitam ao redor de leis estrangeiras contrárias, bem como os efeitos jurídicos que uma norma interna pode ter para além do domínio do Estado em que foi editada, quer as relações jurídicas subjacentes sejam de direito privado ou público. Desta forma, o Direito Internacional Privado compreende o conjunto de normas jurídicas criado por um Estado nacional, com o objetivo de resolver os conflitos de leis no espaço. Em outras palavras, é função do Direito Internacional Privado regular através de 35UNIDADE II Do Direito Internacional Público e Privado um conjunto de regras de direito interno qual a lei, se a nacional (do foro) ou a estrangeira, deve o juiz local aplicar no julgamento de determinado caso que tenha relação com mais de um país. Em relação aos aspectos gerais, o Direito Internacional Privado trata de regulamen- tar, dentre outros assuntos, os conflitos de leis no espaço; a situação jurídica do estrangeiro, regras atinentes ao comércio internacional entre empresas privadas com sede em Estados diferentes, a validade de sentenças estrangeiras, entre outros. Os conflitos de leis, para serem solucionados, exigem do intérprete do direito rea- lizar um procedimento chamado qualificação, que consiste em classificar ordenadamente os fatos da vida relativamente às instituições criadas pela lei ou pelo costume, a fim de bem enquadrar as primeiras nas segundas. Assim encontra-se a solução mais adequada e apropriada para os diversos conflitos que ocorrem nas relações humanas. Temos o fato e dispomos da norma jurídica (MELO, 2017). Para enquadrar o fato na norma, há que se ter esse claramente delineado, e bem entendido está. O fato e a norma, a vida e a lei. Ambos exigem classificação ou caracteri- zação, enfim, qualificação (DOLINGER; TIBURCIO, 2020). Portanto, para aplicar a norma indicada pelo Direito Internacional Privado correta- mente, é preciso, antes de tudo, qualificar a situação da qual decorre o conflito, pode ser uma situação de natureza contratual, obrigacional, pessoal etc. A depender desta classifi- cação, a regra imposta pelo Direito sofrerá variações. É por isso que a qualificação prévia é especialmente importante quando se fala em Direito Internacional Privado (MELO, 2017). Para entendermos em que consiste a qualificação, alguns conceitos básicos preci- sam ser compreendidos. Como visto, o Direito Internacional Privado é composto de normas indiretas (ou indicativas). que são as que apontam o Direito aplicável a um caso concreto, sem solu- cioná-lo. Cumpre descerrar que trata de relação jurídica de Direito Privado com conexão internacional. Dividem-se em unilaterais e bilaterais. As unilaterais indicam uma única regra a ser aplicada, geralmente, o Direito interno (ex.: art. 10, par. 1, do Decreto-Lei nº 4.657, de 4 de setembro de 1942). As bilaterais conjugam a aplicação do Direito interno com o Direito internacional (ex.: art. 10, caput, do Decreto-Lei nº 4.657, de 4 de setembro de 1942). Objeto de conexão e elemento de conexão compõem a estrutura da norma indica- tiva. 36UNIDADE II Do Direito Internacional Público e Privado O objeto da conexão retrata a matéria de uma norma indicativa do Direito Interna- cional Privado (ex.: capacidade jurídica, forma de testamento, direitos reais sobre imóveis, direitos do nome de pessoas físicas, responsabilidade decorrentes de um acidente de trân- sito etc.). Trata sempre de questões jurídicas vinculadas a fatos ou elementos de fatores sociais. Já o elemento de conexão viabiliza a resolução do Direito a ser empregado no caso concreto. Critério utilizado para definir o direito a ser aplicado. A doutrina se divide em três modalidades: a) pessoais (nacionalidade, domicílio e residência); b) reais (localização de um bem imóvel); e c) conductistas (celebração e execução de contrato, autonomia das partes). Ex.: Art. 7, caput, da LINDB: A lei do país em que for domiciliada a pessoa (elemen- to de conexão) determina as regras sobre o começo e o fim da personalidade, o nome, a capacidade e os direitos de família (objeto de conexão). Os principais elementos de conexão encontrados no direito brasileiro, mais especi- ficamente na LINDB (Lei de Introdução ao Direito Brasileiro), são: 37UNIDADE II Do Direito Internacional Público e Privado Quadro 2 - Principais elementos de conexão NOME DO ELEMENTO RAMO CRITÉRIO (utilizado no Brasil) Lex Patriae Estatudo Pessoal (direito de família epersonalida- de) Lei da nacionalidade da pessoa Lex Loci Domicili Estatuto pessoal Lei do domicílio (LINDB, art. 7°) Lex Loci Celebrationis Formalidades do casa-mento Lei do local da celebração (LINDB, art. 7°, §2°) Lex Loci Obligacionis Obrigações Lei do local da constituição da obrigação (LINDB, art. 9°) Lex Loci Contractus Contratos Lei do local da constituição do contrato (LINDB, art. 9°) Lex Rei Sitae Direito reais: bens imó-veis Lei da situação do bem Mobília Sequntum Perso- na Bem móveis Lei do domicílio do proprie- tário Lex Sucessionis Sucessões Lei do domicílio do falecido (LINDB, art. 10°) Fonte: o autor. Desta forma, o juiz pratica a qualificação, ao conhecer a norma indicativa ou indireta aplicável ao caso, a norma, por si mesma, mediante o seu elemento de conexão, indicará o direito aplicável: o direito interno ou determinado direito estrangeiro. Nacionalidade e domicílio da pessoa física são os elementos de conexão mais ado- tados. À pessoa apátrida ou ao refugiado resta o critério do domicílio, na impossibilidade, o da residência. Não há uma uniformidade entre os elementos de conexão de Direito Internacional Privado entre os países, cabendo a cada legislação definir os seus. No que se refere às relações entre o Direito Internacional Público e o direito interno, existem duas correntes que tratam do assunto. 38UNIDADE II Do Direito Internacional Público e Privado Figura 3 - Relações do Direito Internacional com o direito interno Fonte: o autor. A primeira é chamada de monismo, e os seus defensores entendem que o Direito Internacional e o direito interno dos Estados são dois sistemas interligados, que derivam um do outro. Na teoria monista há os que defendem a prioridade do direito interno sobre o di- reito internacional, e os que defendem o contrário. A primeira é chamada de monismo com primazia do direito interno, enquanto a segunda é chamada de monismo com primazia do direito internacional. O monismo com primazia do Direito Internacional defende que um ato internacional sempre prevalece sobre uma disposição normativa interna que lhe contradiz, ou seja, a ordem interna deve ceder, em caso de conflito em favor da ordem internacional, que traça e regula os limites de competência da jurisdição doméstica. O monismo com primazia do direito interno entende que o Estado, enquanto dotado de soberania absoluta, não está sujeito a nenhum sistema jurídico que não tenha emanado de sua própria vontade. o direito internacional e o direito interno fazem parte do mesmo sistema jurídico pois o direito é um só. Monis mo o direito internacional e o direito interno são sistemas jurídicos distintos, não se comunicam. Dualis mo 39UNIDADE II Do Direito Internacional Público e Privado Figura 4 - Divisões do Monismo Fonte: o autor. Já a segunda corrente é chamada de dualista, e entende que o Direito Internacional e direito interno são duas ordens jurídicas distintas, ou seja, o direito interno e o internacional são dois sistemas independentes e distintos. Na concepção dualista o direito internacional regularia as relações entre os Estados, enquanto caberia ao direito interno a regulação da conduta do Estado com os indivíduos. Desta forma, por regularem sistemas diferentes, entre eles não há que se falar em conflito. Figura 5 - Dualismo Fonte: o autor. 40UNIDADE II Do Direito Internacional Público e Privado É importante entendermos como as normas internacionais nos Tratados e Con- venções dos quais o Brasil se torna signatário são incorporadas no nosso ordenamento jurídico. De acordo com o direito brasileiro, um tratado ou convenção internacional, para serem obrigatórios, passam pelas seguintes fases: negociação, assinatura, aprovação, ratificação, promulgação e publicação. Na primeira fase (negociação) cabe ao Chefe do Poder Executivo negociar os ter- mos do tratado com os membros dos outros países. A assinatura compete privativamente ao Presidente da República, ou aos Ministros de Estado que possuam carta de plenos poderes conferidos pelo Presidente, conforme determina o artigo 84, inciso VII da Cons- tituição Federal. Posteriormente, cabe ao Congresso Nacional aprovar ou não o Tratado assinado, mediante a edição de um Decreto Legislativo. Uma vez aprovado, este decreto retorna para o Presidente da República para ser ratificado, para, posteriormente, ocorrer a promulgação e publicado, ocasião em que entrará em vigor. Esquematicamente, portanto, as fases podem ser resumidas no Quadro 3. Quadro 3 - Fases de incorporação de um Tratado Internacional no ordenamento jurídico brasileiro Fonte: o autor. Um tratado tem natureza de lei ordinária federal e, portanto, está abaixo da CF de 1988. Essa é a regra geral. Desta forma, o direito brasileiro adotaria a teoria dualista, justamente ante o fato de que os tratados assinados pelo Brasil devem passar pelo crivo do Congresso Nacional para serem ratificados. 41UNIDADE II Do Direito Internacional Público e Privado Embora a regra geral tenha sido a apresentada anteriormente, a Emenda Constitu- cional nº 45/2004, trouxe importante modificações no antigo texto. Vejamos: Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, ga- rantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabili- dade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: § 1º - As normas definidoras dos direitos e garantias fundamentais têm apli- cação imediata. § 2º - Os direitos e garantias expressos nesta Constituição não excluem ou- tros decorrentes do regime e dos princípios por ela adotados, ou dos tratados internacionais em que a República Federativa do Brasil seja parte. § 3º Os tratados e convenções internacionais sobre direitos humanos que forem aprovados, em cada Casa do Congresso Nacional, em dois turnos, por três quintos dos votos dos respectivos membros, serão equivalentes às emendas constitucionais. § 4º O Brasil se submete à jurisdição de Tribunal Penal Internacional a cuja criação tenha manifestado adesão (BRASIL, 1988). A inovação introduzida pela Emenda Constitucional nº 45/2004 permite que um tratado que regule questões sobre direitos humanos, e desde que seja aprovado pelo rito das emendas constitucionais, quando for incorporado no nosso ordenamento jurídico passe a ter status de emenda constitucional, ocasião em que será considerado hierarquicamente superior às leis ordinárias. Não obstante, dúvidas persistem em posicionar os tratados sobre direitos huma- nos incorporados no direito brasileiro anteriores à Emenda Constitucional n. 45/2004. No mesmo sentido, questiona-se eventuais tratados sobre direitos humanos que venham a ser aprovados sem obedecer ao rito especial previsto para as emendas constitucionais. Atualmente, o entendimento do STF, a partir do julgamento do Recurso Especial nº 466.343/SP, é no sentido de que os tratados internacionais de direitos humanos, anteriores ou posteriores a EC/45, não recepcionados pelo rito especial (art. 5º, ¶3º da CF/88), têm ca- ráter supralegal, ou seja, posicionam-se abaixo das normas constitucionais, mas acima das demais leis ordinárias. Esse tratamento diferenciado aos tratados de direitos humanos faz com que tenhamos, hoje, no Brasil, a denominada Teoria do Duplo Estatuto dos Tratados de Direitos Humanos, pois é atribuído caráter supralegal àqueles que forem recepcionados no ordenamento interno mediante o rito comum, e status constitucional àqueles recepcionados pelo rito especial (MELO, 2017). Hierarquia das normas internacionais no ordenamento jurídico brasileiro: 42UNIDADE II Do Direito Internacional Público e Privado Figura 6 - Posição hierárquica das normas internacionais Fonte: Melo (2017). SAIBA MAIS Que tal aprofundarmos nossos estudos em torno do direito internacional? A seguir deixo uma recomendação de leitura que irá enriquecer o aprendizado e reforçaro que foi es- tudado até aqui. O texto pode ser acessado no seguinte endereço eletrônico: https://www.oas.org/dil/esp/407-490%20cancado%20trindade%20oea%20cji%20%20. def.pdf REFLITA Então, aluno(a), o atual momento de pandemia global tem levado a intensos debates na sociedade internacional acerca do enfrentamento da Covid-19. Você deve ter percebido que o problema é mundial e atingiu, em maior ou menor intensidade, todos os conti- nentes. Você já parou pra pensar o papel do Direito Internacional diante deste cenário? Reflita sobre o assunto. Para lhe auxiliar deixo uma indicação de leitura: https://www.conjur.com.br/2020-abr-20/direito-internacional-pandemia-reflexoes-criti- cas-porvir Tratados Internacionais não aprovados pelo rito especial possuem status de legislação ordinária. Tratados Internacionais aprovados pelo rito do art. 5, par. 3 da CF/88 possuem status de norma constitucional. Tratados Internacionais de Direito Humanos não aprovados pelo rido especial possuem status supralegal, acima das leis ordinárias e abaixo das normas constitucionais. 43UNIDADE II Do Direito Internacional Público e Privado CONSIDERAÇÕES FINAIS Nesta unidade começamos a nos aprofundarmos no estudo do Direito Internacional Público e Privado. Vimos que os princípios que regem a sociedade internacional como a não agressão entre os povos e os Estados, a solução pacífica de conflitos, a autodeterminação dos po- vos, a proibição da propaganda de guerra, entre outros, visam uma sociedade mais justa, igualitária e fundamentada na paz internacional. Além disso, analisamos as fontes do Direito Internacional e verificamos que, em- bora o Direito Internacional, Público e Privado, tenha as mesmas fontes, os tratados e convenções internacionais são a principal fonte do primeiro, enquanto a legislação interna de cada país é do segundo. Em relação à aplicabilidade das normas no tempo e no espaço, vimos que a Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro (LINDB) é o principal instrumento normativo sobre Direito Internacional Privado, embora outras legislações também se ocupem do tema, como o Código de Processo Civil. Por fim, compreendemos que não deve ser confundido o Direito Internacional Público, que possui regras que disciplinam as relações entre os sujeitos da sociedade internacional, com o Direito Internacional Privado, que se ocupa da criação de regras por cada Estado para resolver, dentre outros assuntos, eventuais conflitos de leis no espaço. 44UNIDADE II Do Direito Internacional Público e Privado MATERIAL COMPLEMENTAR LIVRO Título: Direito Internacional Público e Privado. Autor: Paulo Henrique Gonçalves Portela. Editora: Juspodivm. Sinopse: São muitos os desafios a enfrentar num mundo ainda tão marcado por certa instabilidade, mas também pela interdepen- dência. Com isso entendemos que é premente a necessidade de conhecermos bem os parâmetros jurídicos que visam a regular a complexa teia das relações internacionais e de todos os laços humanos e institucionais que efetivamente perpassem as frontei- ras nacionais. É nesse ponto que entram o Direito Internacional Público e o Direito Internacional Privado em todos os seus ramos, inclusive aquele dedicado à proteção dos direitos humanos, como referências de como deve funcionar a ordem internacional de modo a permitir a convivência na sociedade internacional dentro do marco de valores aos quais a humanidade, no decorrer de um longo processo histórico, vem decidindo atribuir maior importância. FILME/VÍDEO Título: Cafarnaum. Ano: 2019. Sinopse: Depois de fugir de seus pais negligentes e abusivos e cometer um crime violento, um esperto garoto libanês de 12 anos é condenado a cinco anos de prisão. Como protesto contra a vida que lhe foi imposta, ele processa o casal que o criou. 45 Plano de Estudo: • Da jurisdição do Estado e Domínio Internacional Público; • Da solução pacífica dos conflitos internacionais; • Da guerra e suas nuances; • Da Responsabilidade Internacional do Estado e suas implicações. Objetivos da Aprendizagem • Estabelecer até onde vai a jurisdição do Estado; • Verificar qual é a área de domínio público internacional; • Compreender quais são as várias formas pacíficas para a solução de conflitos internacionais; • Analisar a guerra frente ao direito internacional; • Abordar quando se dá a responsabilidade internacional do Estado e quais as suas consequências. UNIDADE III Dos Conflitos Internacionais e da Solução de Controvérsias Professor Moacir Junior Carnevalle 46UNIDADE III Dos Conflitos Internacionais e da Solução de Controvérsias INTRODUÇÃO Olá, aluno(a)!!! Daremos início aos estudos referentes à terceira unidade do nosso curso de Direito Internacional. Ao longo desta unidade de aprendizagem abordaremos até onde vai a jurisdição do Estado e como o Direito Internacional regula várias áreas espalhadas pelo mundo, como o alto mar, espaço ultraterrestre, rios internacionais dentre outros. Veremos quão importante é delimitar exatamente o alcance do domínio público internacional. Abordaremos também algumas das principais formas de solução de conflitos internacionais de forma pacífica, bem como a importância que desempenham para o esta- belecimento de relações harmônicas entre os Estados e as Organizações Internacionais. Ainda, veremos os principais aspectos relacionados à guerra e o esforço da comu- nidade internacional para evitar conflitos armados entre os sujeitos de Direito Internacional. Por fim, analisaremos como pode se dar a responsabilidade internacional dos Es- tados e quais consequências ela traz para os envolvidos. Portanto, aproveitem bem o material e bons estudos!! 47UNIDADE III Dos Conflitos Internacionais e da Solução de Controvérsias 1. DA JURISDIÇÃO DO ESTADO E DOMÍNIO INTERNACIONAL PÚBLICO A jurisdição é uma função privativa do Estado, de aplicar o direito aos casos ou concretos, ou seja, é por meio da jurisdição que o Estado resolve os conflitos submetidos pelas pessoas perante a justiça. Cabe ao Estado, portanto, definir como o Poder Judiciário estará organizado e qual função cada órgão exercerá, inclusive distribuindo a competência desses órgãos para realizar os julgamentos dos mais diversos assuntos. Não há que se confundir, entretanto, jurisdição com competência. A competência é a forma como serão distribuídos os órgãos jurisdicionais divididos de acordo com a jurisdi- ção estatal. A competência é distribuída a partir de normas constitucionais, que levam em consideração vários aspectos, como a soberania nacional, hierarquia dos órgãos, espaço territorial etc. A competência pode ser dividida em internacional e interna. A partir das normas de competência internacional são definidas as causas que a justiça brasileira deverá conhecer e decidir; por sua vez, as normas de competência interna indicam os órgãos locais que desempenharão cada uma das tarefas de acordo com os casos concretos (TEIXEIRA, 2020). Desta forma, entende-se por limite da jurisdição até onde o Estado poderá exercer sua soberania, o que é representado pelo Princípio da efetividade. 48UNIDADE III Dos Conflitos Internacionais e da Solução de Controvérsias Segundo Varella (2019), eventualmente pode ocorrer o exercício da jurisdição de um Estado no território de outro. Isto ocorreria nos casos de consentimento do outro Estado, tolerância e convite (representação diplomática, por exemplo) ou ainda em determinadas situações específicas (concessão de nacionalidade a estrangeiros). São situações pon- tuais, sendo que a regra é que a jurisdição estatal está limitada aos seus limites territoriais. O atual Código de Processo Civil (Lei n. 13.105, de 16 de março de 2015) prevê a competência da autoridade judiciária brasileira para ações com conexão internacional, apontando os objetos de conexão, como: alimentos, divórcio, sucessão, direitos reais, dentre outras hipóteses, como se depreende da leitura
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