Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
ANO LETIVO 2021/2022 FACULDADE DE LETRAS DA UNIVERSIDADE DO PORTO CURSO DE 1º CICLO: Licenciatura em Sociologia 1º ANO | 2º SEMESTRE UNIDADE CURRICULAR: Sociologia Geral II DOCENTE: Carlos Gonçalves RELATÓRIO ESCRITO INDIVIDUAL Beatriz Costa Matos | Nº 202106177 Porto, 6 de abril de 2022 1 ANO LETIVO 2021/2022 FACULDADE DE LETRAS DA UNIVERSIDADE DO PORTO CURSO DE 1º CICLO: Licenciatura em Sociologia 1º ANO | 2º SEMESTRE UNIDADE CURRICULAR: Sociologia Geral II DOCENTE: Carlos Gonçalves GLOBALIZAÇÃO: SIGNIFICADOS, IMPLICAÇÕES E CONSEQUÊNCIAS Beatriz Costa Matos | Nº 202106177 Porto, 6 de abril de 2022 2 “A globalização é um totalitarismo. Totalitarismo que não precisa nem de camisas verdes, nem castanhas, nem suásticas. São os ricos que governam e os pobres vivem como podem.” - José Saramago 3 ÍNDICE Introdução .................................................................................................................................. 4 Parte 1 ......................................................................................................................................... 4 1. O que é a globalização? ................................................................................................ 4 2. Dimensões da globalização .......................................................................................... 6 3. Posicionamentos teórico políticos ............................................................................. 10 4. Causas da globalização ............................................................................................... 12 5. Consequências para a vida social ............................................................................... 13 Conclusão ................................................................................................................................. 17 Parte 2 ...................................................................................................................................... 18 1. Primeiro artigo: El impacto de la globalización en la educación superior del siglo XXI. Cambios en el imaginario social de las comunidades educativas de Ignacio Acosta Ballestero ........................................................................................................ 18 2. Segundo artigo: Bartolomé Yun Casalilla (2021), Os impérios ibéricos e a globalização da Europa (séculos XV a XVII) de Jesús Bohorquez ............................ 19 3. Terceiro artigo: Learning the Word and the World ou Aprendendo a Palavra e o Mundo. Abordagens históricas da alfabetização, educação, globalização e emancipação de Luís Grosso Correia ......................................................................... 20 4. Quarto artigo: Case study: The importance of interdisciplinarity and intercultural practices de Maria de Fátima Marinho ....................................................................... 21 Anexos ...................................................................................................................................... 22 Referências bibliográficas ........................................................................................................ 24 4 INTRODUÇÃO No âmbito da unidade curricular de Sociologia Geral II, lecionada pelo docente Carlos Gonçalves, foi-nos proposto a elaboração individual de um relatório escrito com o tema principal acerca da Globalização. O relatório encontra-se dividido em duas partes – a primeira tem como objetivo aprofundar o que é a globalização, as suas causas e consequências e a segunda ocupa-se de quatro artigos e os seus respetivos resumos sobre o tema anteriormente trabalhado. Na primeira parte começo por dar uma explicação introdutória sobre o que é a globalização e abordo o debate em torno da dificuldade de concetualizar a globalização; de seguida trato as dimensões da globalização – política, social, cultural e económica – bem como o que implicam; em terceiro, abordo as três principais perspetivas sobre a globalização – a hiperglobalista, a cética e a transformacionista; em quinto, aponto algumas das causas que foram fenómenos-chave para a consolidação da globalização; irei, por fim, mencionar e problematizar as mais controversas consequências da globalização. Na segunda parte irei resumir quatro artigos retirados do Serviço de Documentação e Informação da Faculdade de Letras da Universidade do Porto e do B-On. O primeiro é referente aos impactos da globalização no ensino superior, o segundo é um resumo crítico duma obra sobre os impérios ibéricos e a sua globalização, o terceiro fala da alfabetização e relaciona-a com a globalização e o quarto aborda o papel atual das universidades perante as consequências da globalização. Neste trabalho pretendo acima de tudo desmistificar o termo “globalização” uma vez que é bastante comum ouvirmos e usarmos tal conceito no nosso quotidiano. No entanto, o conhecimento com que o usamos é baseado no senso-comum e por isso é usado de forma leve e pouco pensada, mas a verdade é que a globalização é muito mais complexa que isso, como irei explicar no presente relatório. PARTE 1 1. O que é a globalização? Ao longo das últimas décadas, a globalização tem sido um conceito cada vez mais abordado e discutido; no entanto, ainda não há consenso sobre aquilo que realmente define a globalização. Começou a ser usado nos anos 70 do século XX e desde aí o conceito de globalização tem sido 5 reconhecido como um processo de aproximação entre as mais diversas sociedades, nações e países e, pelo seu caráter multidimensional e de interligação, tem vertentes inseparáveis, sendo elas económicas, culturais, sociais e políticas. No entanto, esta definição depende de vários fatores tanto dentro da academia – uma vez que cada uma tem uma visão diferente sobre a globalização, dependendo do respetivo paradigma clássico – como na opinião pública – a ideologia individual, situação económica, etc. Para Giddens (2013), a globalização entende-se pelo “facto de vivermos cada vez mais num único mundo, pois os indivíduos, os grupos e as nações tornaram-se mais interdependentes” (Giddens, 2013). Com isto é possível afirmar que existe, no meio académico principalmente, uma grande dificuldade em delinear as características, o conceito (ou significado), as causas e as consequências da globalização devido a ser um complexo processo. Mesmo sendo um conceito relativamente recente, a globalização tem uma dimensão histórica, sendo que a intensificação das relações entre países remete-nos para o século XV. Assim, conseguimos distinguir três vagas (ou fases) da globalização: a primeira fase – começou nas descobertas marítimas em África e na Índia levadas a cabo pelos portugueses no século XV; a segunda fase – teve início com a Revolução Industrial e permitiu um grande avanço nas tecnologias com, por exemplo, a máquina a vapor; e a terceira fase – é a que ainda vivemos hoje, mas que já perdura desde os anos 80 do século XX e incorpora inovações como a internet e o e-mail. No cenário atual, podemos distinguir a nossa fase de globalização das anteriores pela relevância que dá ao capital financeiro em detrimento do económico e pela hegemonia das potências mundiais que passaram a ser também norte-americanas e asiáticas, em vez de serem unicamente europeias. Em Held et al. (1999), a globalização só ocorre quando os fenómenos que acontecem em certo local, se propagam pelo resto do mundo. Essa propagação é possível devido, principalmente, às redes de transportes e de comunicação uma vez que possibilitam a aproximação do mundo e a difusão de ideais e capital. Em Giddens (1990), é dada grande relevância à globalização como um fenómeno do nosso quotidianoe próximo a nós, que nos afeta diretamente e não como um fenómeno distante e indireto. Por isso, o autor afirma que a globalização é definida por ser um grande fator que 6 influencia a vida pessoal dos indivíduos – “globalization can … be defined as the intensification of word-wire social relations which link distante localities in such way that local happenings are shaped by events occurring many miles away and may move in obverse direction from the very distanciated relations that shape them” (Giddens, 1990). Já para Robert Holton (2005, citado por Martell, 2010), a globalização assenta em três conceitos fundamentais, a conscientização de todo o mundo como um local só, a interconexão cultural, política, económica e social e a interdependência nos mercados mundialmente. Outro autor, Roland Robertson (1992), afirma que a globalização é um conceito que se refere à aproximação do mundo – “globalization as a concept refers both to the compression of the world as a whole… both contrete global interdependendence and consciouness of the global whole.” (Robertson, 1992). Concluindo, podemos dizer que a globalização não é um conceito totalmente definido e que a sua conceptualização depende de autor para autor, de academia para academia e de pessoa para pessoa. Isso deve-se à sua complexidade enquanto fenómeno social, que dificulta a existência duma opinião unânime. 2. Dimensões da globalização Devido à sua complexidade, a globalização é composta por variadas dimensões que acabam por constituir e definir aquilo que é a globalização. Não se trata de um processo único, mas sim de um conjunto multidimensional de processos sociais simultâneos e não uniformes, que atuam a vários níveis e em várias dimensões, não podendo ser confinados a uma única moldura temática. Com isto, podemos falar das seguintes dimensões: económico-financeira, política, social e cultural. Económico-financeira Nos anos 70 do século XX, o aumento do preço do petróleo teve grande importância na crise do estado providência e do bem-estar social. A filosofia política keynesiana – que consiste numa ajuda por parte do Estado nos setores da educação, justiça, saúde e assistência – foi posta em causa devido à criação da OPEP, causando crises económicas nos países por consequência ao aumento dos preços do petróleo, especialmente os Estados Unidos da América, bem como a falência das políticas propostas por Keynes. 7 Assim sendo, os anos 80 foram marcados por alterações políticas e sistémicas a nível global, porém tendo também como protagonista a ascensão e solidificação do neoliberalismo enquanto ideologia política vigente na maioria dos países. O neoliberalismo é caracterizado pela aposta na abertura da economia para a entrada de multinacionais, pela leve intervenção do Estado e pela individualidade. Neste contexto observamos várias mudanças também a nível social e económico. Primeiro, podemos apontar a desregulação das offshores – movimentos de capitais – que deixam de ser nacionais e começam a ser também um investimento internacional, ou seja, antes víamos uma separação alfandegária entre os diferentes países, mas, atualmente, com o neoliberalismo, essa barreira foi destruída muito por causa das empresas transnacionais – são responsáveis por dois terços do comércio mundial e pela expansão tecnológica por todo o mundo. As mudanças no custo dos transportes, que se torna mais barato, e a revolução nas tecnologias e na informação permitem o transporte rápido da informação através da internet – aspeto fundamental da dimensão económico-financeira da globalização. A revolução das tecnologias (principalmente com a internet) foi um fator elementar para a consolidação da globalização pois permitiu a existência da economia eletrónica. Esta economia permite aos variados atores económicos, como os bancos, uma agilização nas suas transações. Porém, a nova agilidade com que fazem estas trocas também é causadora de graves crises económicas e financeiras. Assim, de acordo com o conceito de globalização explicitado no ponto 1 do relatório, podemos afirmar que, embora comece numa zona isolada do globo, estas crises se alastram muito facilmente, tornando-se uma crise de cariz mundial. Este fenómeno reforça a ideia de interdependência entre os diferentes países do mundo e das suas consequências negativas. Finalmente, é importante distinguir os diferentes países e os seus respetivos papéis na economia global. Existem três categorias: centrais, periféricos e semiperiféricos. Os centrais trata-se dos países pertencentes à Tríade – América do Norte, Europa e Ásia Pacífica – e que têm no seu poder uma dominação económica e política sobre os restantes países. Os periféricos são os países que possuem uma mão de obra extremamente barata, matéria-prima abundante e governos flexíveis e fracos e, por isso, são muito dependentes dos países do centro. Por último, temos os países semiperiféricos que, não se encontrando totalmente numa destas duas definições, têm características híbridas. 8 Política O grande acontecimento geopolítico que favoreceu o fenómeno da globalização foi a queda da União Soviética. Com o fim da Guerra Fria (1945 a 1986), o mundo bipolarizado – por um lado, o bloco de leste (socialista), por outro o bloco ocidental (capitalista) – caiu, tendo como consequência a queda do muro invisível que os dividia. Isto permitiu a expansão do capitalismo a nível global. Como podemos ver nos dois mapas do anexo nº 1, em 1990 o mundo era claramente dividido entre os dois blocos, porém em 2015 observamos o aumento exponencial dos países capitalistas na Europa e na Ásia Central. Países como a Polónia e a Ucrânia foram- se adaptando aos hábitos económicos e políticos ocidentais, tornando-se países totalmente capitalistas. Tal como aconteceu na Europa, a China comunista dos anos 80 perdeu o seu caráter protecionista e abriu portas a um sistema mais capitalista promovido pelas reformas económicas de Deng Xiaoping, também conhecido como “Arquiteto Chefe”. Xiaoping foi autor da reforma e abertura da economia chinesa que quebrou por completo o mundo bipolarizado e abriu caminho à solidificação do capitalismo em todos os cantos do mundo, promovendo a globalização. Com o fim da Segunda Guerra Mundial, o medo duma terceira guerra acontecer era enorme e por isso foram sendo criadas instituições e organizações que promovessem a paz e a resolução dos conflitos entres os diferentes países através da diplomacia. A título de exemplo temos a União Europeia onde, atualmente, 27 países cooperam e governam democraticamente com vista à resolução dos problemas que afetam a Europa. O método de diálogo contínuo e representativo dos estados-membros é, no entanto, polémico pois implica a perda da soberania nacional dos estados uma vez que os mesmos se têm de subjugar às decisões feitas no parlamento europeu. O Fundo Monetário Internacional é outro exemplo de instituições que, teoricamente, têm como objetivo desenvolver e ajudar países mais desfavorecidos e combater fraudes fiscais e desvios de dinheiro. Ainda neste contexto, temos a criação das organizações não governamentais (ONG) que estão afastadas do poder governamental e têm um papel fundamental na imposição de medidas que alertem os governos dos problemas que se passam pelo mundo fora. São organizações que, embora afastadas da política propriamente dita, têm um poder político enorme pois conseguem pressionar os governos a tomar decisões e a posicionar-se perante situações que, à partida, se 9 iriam distanciar. Como exemplo temos a Amnistia Internacional, uma organização não governamental fundada em 1961 e que defende os direitos humanos por todo o mundo. Social O processo de globalização é muito caracterizado pelas mudanças económicas, culturais e políticas (como vemos neste ponto do relatório). Não obstante, associada a essasmudanças, há uma vertente social que é bastante afetada. Como falarei no ponto 5 do relatório, a globalização apresenta inegavelmente uma grande culpa no que importa às desigualdades sociais. Esta desilgualdade social encontra-se em todas as vertentes. Tanto na dictomia norte e sul global, como entre os diferentes países do mesmo continente e etc. No Relatório do Desenvolvimento Humano de 2019, composto pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento, é notável a melhoria global de certos países a nível do bem-estar social e económico e da qualidade de vida em detrimento da degradação destas condições em outros países. Existe então uma concentração de riqueza e capital em certos países (norte global) que, por sua vez, são um indicador de concentração de poder, ou seja, os países mais ricos são simultaneamente os países mais poderosos, tornando mais difícil a implementação de políticas que visem a diminuição das desigualdades de rendimento, que observámos no parágrafo anterior, e a melhoria da qualidade de vida. No entanto, com medidas específicas, como o sistema de impostos e as políticas antimonopólio, poderá ser possível, num futuro longíncuo, atingirmos um cenário social de maior equidade, igualidade e dignidade, segundo o relatório do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento. Cultural A dimensão cultural está dividida em duas perspetivas diferentes sobre a cultura sob a globalização: a cultura global e a homogeneidade cultural. A cultural global (tratada com mais detalhe no ponto 5 do relatório) é a ideia de que, com a disseminação dos meios de comunicação e de transporte, as diferentes culturas do globo se vão aproximando através dum processo de troca e partilha de costumes e valores, criado uma grande cultura mundial que engloba uma pequena parte de várias culturas. Já a homogeneidade cultural defende que o ocidente impôs, de certa forma, a sua cultura (crenças, ideias, valores, etc) no resto do mundo. A ideia de homogeneidade cultural anda de mãos dadas com a ideia de “McGlobalização” que trata a 10 forma como o McDonalds, uma cadeia de restaurante de fast food, se espalhou pelo globo, mudado hábitos alimentares, tronando-os extremamente padronizados. Nesta homogeneidade é impossível não reconhecer uma clara hegemonia norte-americana, que também pode ser explicada, segundo Giddens, através dos fenómenos de Hollywood, como Titanic. Nesta dimensão também é importante mencionar o conceito de mudança social. Como exemplo temos a luta feminista e a figura da mulher na sociedade, que passou duma figura submissa para uma figura emancipada e que ao longo dos anos foi adquirindo cada vez mais direitos. Esta mudança na sociedade tem muito que ver com a globalização pois foi a partir deste fenómeno que as ideias da luta feminista se difundiram em todo o mundo. No entanto, ainda há muito a fazer no que toca ao papel da mulher na sociedade; não obstante, é necessário reconhecer que o caminho até aqui percorrido foi de extrema importância. 3. Posicionamentos teórico políticos Como qualquer conceito bastante debatido, a globalização divide muitos teóricos sobre a natureza e a explicação do que é a globalização. Este debate não se restringe ao debate académico mas também se alongou à opinião pública. Juntamente com os seus colaboradores, David Held dividiu as opiniões acerca da globalização em três escolas de pensamento – os hiperglobalizadores, os céticos e os transformacionistas. A abordagem hiperglobalista afirma que a globalização é um fenómeno com consequências sentidas em todos os cantos do globo e, por isso, não respeita as fronteiras nacionais. Para os hiperglobalizadores, os países deixam de ter o controlo das suas próprias economias devido ao crescimento acelerado do comércio mundial, criando uma “nova ordem global, que deriva de poderosos fluxos de comércio e de produção que transpõem as fronteiras” (Giddens, 2013). Nesse contexto, começam a ser reconhecidos pela população os limites dos políticos e dos governos, tendo como consequências o refúgio em organizações internacionais com maior controlo sobre os aspetos económicos, políticos e de defesa mundiais, como a União Europeia e a Organização Mundial do Comércio. Assim, assistimos à diminuição da relevância e à fragmentação do Estado e da sua desacreditação como uma unidade económica viável que tem como consequência o fim do bem-estar social e a necessidade de organismos e organizações internacionais regularem a vida nacional. Estes pensadores têm a globalização como um fenómeno económico e promotor da integração entre mercados e economias, defendendo uma economia global sem fonteiras onde existe uma prioridade dos mercados em relação à 11 intervenção estatal. Para os hiperglobalizadores e segundo Martin Albrow (citado por Giddens, 2013), estamos perto de uma “era global” que avizinha o “declínio da importância e da influência dos governos nacionais” (Giddens, 2013) devido a todas estas mudanças que assistimos. Os céticos, por outro lado, reconhecem que existe um maior “contacto entre países hoje em dia, mas a sua perspetiva é a de que a atual economia mundial não está suficientemente integrada para se considerar verdadeiramente globalizada” (Giddens, 2013). Contrariamente aos hiperglobalizadores, acreditam que o Estado assistiu ao reforço e ao aumento dos seus poderes enquanto instituição, mesmo com a intensificação da atividade internacional. Por isso, para os céticos, quando falamos da globalização estamos apenas a promover um debate sobre um tema que, na verdade, não é uma novidade e é contrariado por vários aspetos do mundo atual. Nesta abordagem, os governos e os políticos mantêm os seus poderes e relevância e são considerados impulsionadores de acordos comercias e de decisões de políticas de intervenção. Sendo os maiores críticos dos hiperglobalizadores, os céticos apontam a globalização como uma espécie de mito que muitas vezes se confunde, no seu ponto de vista, com a internacionalização pois a globalização apenas acontece quando há uma perfeita integração dos mercados internacionais e a internacionalização dá-se quando existe uma diminuição do comércio entre o norte e o sul global e um aumento na concentração das relações comerciais entre os países desenvolvidos. A regionalização da economia mundial – blocos financeiros e comerciais – é um ponto central para os céticos porque prova que a economia global está menos integrada e por isso menos global. Em suma, para os pensadores céticos, os governos nacionais têm uma centralidade cada vez maior na regulamentação e promoção das atividades económicas fora das suas fronteiras territoriais. Já os transformacionalistas adotam uma posição mais moderada, comparando às duas visões acima faladas, uma vez que se referem à ordem global como estando em contínua transformação; no entanto, existem padrões que permanecem. Por exemplo, os governos continuam a ter a relevância, afirmada pelos céticos, nas decisões políticas e económicas dos países que governam, porém essas decisões são condicionadas por regras e acordos internacionais, como defendem os hiperglobalizadores. Isso acontece porque a globalização está a transformar os poderes dos governos e a política mundial, ou seja, os governos têm de se reestruturar para, por um lado, atender a estas mudanças e, por outro, preservar alguns padrões importantes e as características do seu próprio país. 12 Como nota, também é importante dizer que os mais variados quadrantes políticos apresentam diferente visões sobre a globalização bem como opiniões sobre as suas consequências que podem, ou não, corresponder às escolas de pensamento acima explicadas. 4. Causas da globalização Podemos apontar inúmeros fatores que irromperam com o que hoje conhecemos como o mundo global. O grande acontecimento que continua a ser classificado como o principalprecursor das vagas da globalização é a Revolução Industrial. No entanto, existem outros fatores importantes na narrativa e muitos são fatores causa-efeito, como poderemos ver ao longo dos pontos 4 e 5 do relatório. No século XVIII, o mundo assistiu a um crescimento anómalo e a um avanço avassalador da tecnologia e das infraestruturas das telecomunicações mundiais. Foram estes avanços, como por exemplo as linhas férreas, que vieram encurtar grandes distâncias e “encolher” o mundo e aproximar as pessoas. O telefone, a televisão e, mais tarde, a internet são outros exemplos de tecnologias que, duma forma mais ou menos literal, também encurtaram as distâncias entre as pessoas e facilitaram a troca de informações, costumes e ideais, proporcionando a globalização. Como já vimos, a primeira fase de globalização remonta para a época dos Descobrimentos, isto é, para períodos históricos anteriores à modernidade. Contudo, para Martell (2010), é só a partir do fim da idade média que podemos observar instituições e estruturas sociais que fossem reflexo da globalização. Assim, mesmo que se possa apontar algumas tendências globalizantes antes da idade moderna – por exemplo, a expansão do islamismo ou do cristianismo com as Cruzadas, que movimentaram ideias, costumes, especiarias, etc – não podemos dizer que isso foi realmente globalização uma vez que não atingiu o global em extensão, não foi reconhecido pelas massas e por isso era limitado a um grupo de pessoas e não implicaram a interdependência entre regiões e países, como observamos atualmente. Com isto, é importante para vários autores distinguir globalização de mundialização pois esta última refere-se à expansão comercial derivada do colonialismo. Como expliquei nos parágrafos anteriores, a globalização deve-se muito às inovações nos transportes e nas comunicações que a Revolução Industrial nos trouxe. Porém, a chamada “III Revolução Industrial” também teve um papel fulcral no desenvolvimento da globalização atual 13 uma vez que veio inovar e renovas as tecnologias, criando a computação eletrónica e a biotecnologia, por exemplo. Outro exemplo de fatores impulsionadores da globalização é o capitalismo financeiro, isto é, a fase do capitalismo em que há uma grande densidade de fusões entre bancos e empresas e a divisão em ações de grandes empresas. Isto permitiu que hoje em dia, através da bolsa de valores, as transnacionais consigam fazer operações financeiras com muita rapidez e agilidade, facilitando e proporcionando a interdependência económica. As migrações são outro fator que podemos associar à intensificação da globalização. Principalmente depois da Guerra Fria, as migrações aumentaram exponencialmente e com este movimento de pessoas também existirá um movimento de costumes, ideias, valores e cultura. Foi também consequência do fim da Guerra Fria a mudança de políticas mais intervencionistas para políticas mais neoliberais na Europa. Poderia acrescentar muitos outros fatores, como a massificação do telemóvel e o adjacente surgimento das redes sociais – como o Twitter e o Facebook – pois a globalização tem uma numerosa fonte de causas e consequências que a tornam num assunto muito complexo de se trabalhar e investigar. 5. Consequências para a vida social A globalização é um fenómeno que, para além de nos moldar enquanto cidadãos, tem grande impacto nas nossas vidas mesmo que nós não a sintamos de forma direta. As consequências de um mundo globalizado para as sociedades e para a vida social são, por outro lado, também consideradas uma causa que proporciona o desenvolvimento da globalização – assim, conseguimos falar de razões de causa-efeito. Primeiramente, podemos apontar a intensificação das trocas comerciais e financeiras e a diminuição das barreiras ao comércio internacional que é acompanhada pela quebra do protecionismo económico como uma das mais prepotentes consequências da globalização. Uma maior liberdade de trocas no mercado permite um crescimento económico, uma expansão dos mercados e do capital em circulação. Esta dinâmica é fortemente marcada pelo pensamento neoliberal que banhou o ocidente na segunda metade do século XX. Mas que impacto social terá este ciclo de neoliberalismo e individualismo que é protagonizado pela globalização? 14 Uma das mais importantes consequências será o aumento das desigualdades entre o norte e o sul global. Se percebermos que a globalização está assente numa cultura global promovida pelas grandes empresas transnacionais, conseguimos perceber que existe uma nova dimensão da divisão internacional do trabalho, com a viragem para uma economia fortemente capitalista e focada no lucro, a qual é promovida com a subida de políticos ao poder, como Margaret Thatcher na Inglaterra e Ronald Reagan nos Estados Unidos da América. As políticas internas destas grandes empresas são, de forma simplificada, um reflexo da (suposta) supremacia europeia e norte-americana que é marcada pelo individualismo e pela busca incessante do lucro. As empresas deslocam-se para países do “Terceiro Mundo” onde a mão-de-obra é mais barata, as políticas ambientais são menos rígidas e existem isenções e benesses fiscais. No fim, acabamos por observar apenas uma sobre-exploração dos recursos e um neocolonialismo em países do sul global que vêm mascarados de investimento; no entanto, todos os lucros retornam ao país-sede. A título de exemplo, temos o caso da Noruega. A Noruega é um país desenvolvido, com um IDH bastante positivo (ver anexo nº 2) e que tem uma boa reputação a nível internacional, sendo tida como um modelo a seguir. Porém, o modelo que realmente conseguimos extrair da Noruega é o modelo de séculos de exploração e neocolonialismo de países como o Brasil, que apresenta um IDH bem menor (ver anexo nº 2). Os investimentos feitos no Brasil pelas empresas norueguesas são uma fachada para o aumento do lucro e que acarreta consequência graves a nível ambiental (com a contaminação de rios e comunidades) e a nível social. Outro resultado da globalização será a criação de uma cultura mundial. Segundo Giddens (2013), o caminho para uma economia única e unificada resulta numa alteração do mapa cultural, isto é, “as redes de pessoas espalham-se para lá de fronteiras nacionais e mesmo de continentes, criando laços culturais entre os locais de nascimento e os seus países adotivos” (Giddens, 2013). Culturas que há umas décadas atrás estavam completamente isoladas e sem representação, atualmente, graças à globalização, têm as suas histórias, costumes e tradições a serem disseminadas através da televisão, do rádio, dos jornais, etc. Então, tal como já aconteceu, dentro de um ou duas gerações iremos ter acesso a novas culturas que ainda hoje estão por descobrir e que ainda não chegaram à cultura global, espessando e complexando a globalização. 15 Na obra Sociologia, Anthony Giddens (2013) expõe as forças que produzem e são produto da cultura global e que promovem a aproximação cultural. Começa pela televisão, que levou a cultura britânica e americana (através de programas e séries televisivas, como Friends) a vários cantos do mundo e que, por sua vez, receberam, por exemplo, as culturas holandesas e suecas nas suas casas. As novas tecnologias da comunicação, como a televisão, também promoveram a padronização, ou seja, certos acontecimentos repetem-se em diferentes contextos e por diferentes fontes. Depois fala-nos da economia mundial unificada que espalha negócios (fábricas, estruturas de gestão e mercados) pelos vários países. Aos gestores destes grandes negócios, Giddens (2013) apelida de “cidadãos globais” porque acabam por passar grande parte do seu tempo em viagens pelo mundo, “identificando- se com uma cultura global e cosmopolita, e não tanto com a cultura do seu próprio país” (Giddens, 2013). Giddens (2013) refere que organizações internacionais(Organização das Nações Unidas, por exemplo), associações de comércio regional e de defesa mútua (Organização do Tratado do Atlântico Norte), bancos multinacionais, acordos internacionais, etc. estão a criar um enquadramento global nas esferas políticas, legais e militares. Finalmente, as comunicações eletrónicas, como o telefone, o fax e a internet, integram um papel importante no que diz respeito à globalização pois, ao permitirem uma comunicação instantânea, possibilitam a disseminação da informação duma forma facilitada. Com isto, percebemos que as novas tecnologias, principalmente a internet, protagonizam o fenómeno da globalização. Mas há muito a dizer sobre isso. O acesso à internet não cresceu, nem cresce, ao mesmo ritmo em todo o globo. Com a tabela apresentada no anexo nº 3, é possível concluir que principalmente os países africanos continuam a não ter os mesmos acessos e a mesma facilidade em utilizar a internet. É também possível destacar o papel do continente americano em relação ao uso de PC’s. É também uma consequência preocupante da globalização o aumento do desemprego e, consequentemente, da pobreza. Ao contrário do que se esperava, a globalização resulta, em muitos casos, no aumento do desemprego. Nos países em desenvolvimento, as populações estavam – até à globalização – contavam com os trabalhos nas indústrias e no campo. Com o avanço da tecnologia e com progresso das ciências, os empregos que antes eram dispensáveis de formação ou qualificação passam a requerer um nível superior de educação – que poucos 16 conseguem ter acesso. Assim, muita população acaba no desemprego e na pobreza, pela falta de emprego. Esta lógica compactua com as políticas neoliberais e imperialistas que o sul global enfrenta, onde os pobres ficam mais pobres e os ricos ficam mais ricos. É verdade que aumenta a oferta de emprego qualificado, mas, num país onde as desigualdades e o fosso entre os ricos e os pobres já são grandes, esse aumento é pouco significativo e portanto deixa as pessoas ou desempregadas ou em situações de trabalho (quase) escravo ou muito precário. Numa dimensão mais geopolítica, podemos afirmar que a globalização contribui positivamente para a consagração de estados e instituições hegemónicas, tendo como maiores representantes os Estados Unidos da América e o Fundo Monetário Europeu, respetivamente. Também é importante falar dos acordos interestatais que, a longo prazo, retiram poder dos Estados-nação. A própria revolução tecnológica associada ao processo de globalização resultou na compressão do espaço e do tempo, devido à maior disseminação da informação, à comunicação mais conveniente e às relações mais estreitas entre as regiões e os países. Esta intensificação nas relações reforçou o poder económico dos países que, pelas suas múltiplas vantagens económicas e sociais, vão utilizar esta força económica para investir em múltiplas áreas, nomeadamente a tecnológica. O resultado desse processo será uma ainda maior compressão do espaço e do tempo, levando a relações mais intensificadas entre regiões e países, e assim incessantemente, em uma circularidade causal. Resumindo, a globalização impacta as nossas vidas de todas as formas com a configuração do espaço geográfico internacional em redes, sejam elas de transporte, de comunicação, de cidades, de trocas comerciais ou de capitais especulativos. Também proporciona, numa relação causa-efeito, a expansão das empresas transnacionais – empresas que deslocalizam as suas atividades para os países em desenvolvimento em busca de melhores condições a nível fiscal e lucrativo. Há a formação dos blocos económicos – permitem uma maior troca comercial entre os países e propiciam ações conjunturais em grupos. Consolidou também a existência duma cultura global, onde os meios de comunicação difundem diferentes culturas, criando apenas uma grande cultura mundial. E, finalmente, com a globalização assistimos à solidificação e expansão do sistema capitalista que, acompanhado de todas as suas consequências a nível social – como a pobreza, desigualdade e injustiça – promoveu uma maior integração a nível mundial e, devido à lógica neoliberal, promoveu a ideia de que o Estado deve ter menos poderes. 17 CONCLUSÃO Com este relatório pude concluir que a globalização é um tema extremamente complexo e com variados aspetos e características com potencial de serem analisadas e estudadas. A manifestação da globalização não é linear e portanto é sentida direta e indiretamente por todos nós e de formas diferentes pois depende de vários fatores, incluindo a nossa região, que lhe dão novos contornos e aspetos. Não obstante, podemos dizer que a globalização nos liga e cria um mundo onde existe uma interligação entre nós e o outro, ou seja, entre o local e o global. Ao investigar a globalização e ao desenvolver a sua defenição é importante não a confundir com os processos de localização, regionalização, nacionalização e internacionalização porque só quando conseguirmos ultrapassar essas conceitos é que iremos atingir e compreender totalmente a característica dinâmica da globalização. Portanto, é importante irmos além daquilo que o senso-comum nos fornece e assim adotar o “olhar sociológico”, premitindo-nos analizar o fenómeno da globalização como um todo e como algo multidimensional e complexo, ultrapassando as definições abstratas e vagas que hoje reinam no que toca à globalização. Concluindo, posso referir que os processos globalizantes são fenómenos constantes que nos ultrapassam. Um mundo globalizado pode ser o maior desejo de uns e, ao mesmo tempo, o maior tormento de outros. 18 PARTE 2 1. Primeiro artigo El impacto de la globalización en la educación superior del siglo XXI. Cambios en el imaginario social de las comunidades educativas de Ignacio Acosta Ballestero Ignacio Acosta Ballestero, licenciado em Ensino de Estudos Sociais e Educação Cívica pela Universidade Nacional da Costa Rica, apresenta-nos um ensaio introspetivo sobre as consequências da globalização nesta fase mais recente, fortemente marcada pelo neoliberalismo e protagonizada por organizações como o Fundo Monetário Internacional, e a forma como também influencia o meio académico. Ballestero começa por abordar e contextualizar os efeitos da globalização a nível local, dando o exemplo do seu país – a Costa Rica, como a nível mais global, tendo proposto uma análise mais detalhada das mudanças sociais e educativas com o objetivo de ter um ponto de partida para “exponer algunas de las decisiones tomadas a nivel internacional en relación con las políticas en esta área y sus efectos para las comunidades educativas” (Ballastero, 2021). Para Ballestero, as políticas neoliberais, que tiveram a porta aberta para a sociedade através da globalização, poderão ser culpabilizadas pela produção mecânica do conhecimento, implementadas nas universidades com os olhos postos na economia – “decir que las políticas neoliberales han aprovechado los canales abiertos por la globalización, para reproducir la concepción de producción mecánica y éxitos a nivel académico con su consecuente respuesta en la balanza económica.” (Ballestero, 2021). Assim, o autor vê na chegada duma nova geração de alunos uma oportunidade importante de renovação e transformação dos métodos e dos processos de ensino praticados. Ballestero fecha a sua reflexão com a indicação de que ainda há muito a debater e a aprofundar no assunto, apelando à existência duma dinâmica aberta onde seja notório um corpo docente preparado para lidar com as novas realidades, tendo em conta a sociedade em constante mudança. O autor especifica a sociedade costarriquenha como uma das mais afetada pelos processos de globalização, tanto a nível social como também nas instituições académicas. “En la oscuridad todo es miedo, acostumbrarsea ella deja a la humanidad encerrada ante las posibilidades que surjan, lo mismo que estar muy cerca de la luz puede dejarla ciega.” (Ballestero, 2021) 19 2. Segundo artigo Bartolomé Yun Casalilla (2021), Os impérios ibéricos e a globalização da Europa (séculos XV a XVII) de Jesús Bohorquez O presente artigo, escrito por Jesús Bohorquez, interpreta a visão de Yun Casalilla na sua obra Os impérios ibéricos e a globalização da Europa (séculos XV a XVII), tratando-se de um resumo crítico sobre a obra. O autor apresenta as linhas gerais do texto, sendo uma delas a globalização desde os mundos ibéricos, comparando os dois grandes impérios: o espanhol e o português. O autor do artigo começa por tecer grandes elogios a Bartolomé Yun Casalilla, apontado a pertinência do livro para estudar a Europa do Sul que muitas vezes é analisada com umas “narrativas que atribuyen a España y Portugal una imagen de atraso económico” (Bohorquez, 2021), mas que, no entanto, é assim tida num ponto de vista das economias norte europeias. Segundo o autor, Yun Casalilla não considera que o desempenho económico dos dois países ibéricos se tenha perdido e, pelo contrário, argumenta que este “parece haber sido bastante eficiente, al menos hasta mediados del siglo XVII” (Bohorquez, 2021) porque uma análise da balança comercial não é o suficiente para interpretar a História por completo, afirmando que o investimento e a taxa de retorno do capital também devem ser tomados em atenção. Um dos temas essenciais do livro, afirma o autor, é a diferença entre instituições formais e informais (redes familiares e comerciais) e a forma como mantém, ou não, o império unido, proporcionando o seu crescimento e, consequentemente, criando a primeira fase da globalização. O autor analisa os crescimentos económicos desiguais das colonias em relação à sua metrópole que, embora mascarados, sempre tiveram raiz nas colonizações ibéricas. Finalizando a sua crítica, Jesús Bohorquez aponta a maior atenção que é dada ao império espanhol e a Castela em comparação ao império português nos debates sobre o tema, podendo criar grande desequilíbrio. Mesmo assim, apela à leitura da obra de Bartolomé Yun Casalilla tanto aos portugueses – num sentido de perceberem se o “modelo de ascenso y declive de Castilla podría aplicarse a la interpretación del imperio português” (Bohorquez, 2021) – como aos brasileiros – porque “ofrece sobre el lado peninsular de la historia, una rama aún poco estudiada en el lado occidental del Atlántico” (Bohorquez, 2021). 20 3. Terceiro artigo Learning the Word and the World ou Aprendendo a Palavra e o Mundo. Abordagens históricas da alfabetização, educação, globalização e emancipação de Luís Grosso Correia Escrito por Luís Grosso Correia, o artigo aborda, sumariamente, a alfabetização, relacionando-a com a educação, globalização e emancipação. O artigo começa por enunciar a aprovação da Lei de Bases do Sistema Educativo – lei que apresenta a educação “como um direito universal e fundamental no processo de democratização e desenvolvimento da sociedade portuguesa” (Correia, 2016). Na época de desenvolvimento das sociedades ocidentais, a alfabetização era tida apenas como a capacidade de ler, escrever e calcular. No entanto, essa lógica desvaneceu pois começámos a perceber que alfabetização era de máxima importância para as massas uma vez que era um mecanismo de pensamento crítico e racional, promovendo maior consciência histórica e política. Atualmente, os Estados democráticos são responsáveis por promover e criar políticas de alfabetização e de educação ao nível nacional, ou seja, criando escolas públicas, por exemplo. Estes programas têm em vista o melhoramento das competências dos jovens alunos que, consequentemente, irá desenvolver o país. Não obstante, só depois do século XIX é que se iniciou a educação dos povos colonizados com tecnologias como a leitura e escrita. A conjuntura pós Segunda Guerra Mundial promoveu um avanço brusco nas tecnologias devido à globalização e portanto ocorreu uma reconstrução e reestruturação do sistema educativo nos países recém colonizados – através de organizações como a Organização das Nações Unidas – livrando as antigas colónias da orientação política e educativa das (ainda) ditaduras europeias. No final do artigo o autor relaciona ainda mais a alfabetização com a educação, que foi facilitada com a globalização. A globalização proporcionou o melhoramento das tecnologias e do mundo eletrónico, ou seja, os métodos de ensino foram renovados e tornaram-se mais futurísticos – “somos como que convidados a entrar no intangível mundo eletrónico, em que a palavra, ou melhor, a mensagem (hipertextual) também é canal/meio, onde a educação ganha novos desafios (tecnológicos)” (Correia, 2016). 21 4. Quarto artigo Case study: The importance of interdisciplinarity and intercultural practices de Maria de Fátima Marinho Nos primeiros parágrafos do artigo, Fátima Marinho contempla as mudanças no meio académico a partir de meados do século XX que vierem mudar a contexto do ensino superior pois, segundo a autora, “universities had to deal with a new generation of immigrants, with new hopes and new goals” (Marinho, 2019). Com isto, teve de existir uma grande renovação das políticas dentro das instituições porque só assim conseguirão sobreviver à alteração brusca no paradigma não só académico, mas também social e económico. Para Fátima (2019), “HEIs have to find a balance between social needs, research and innovation. Such a balance is not easy to attain, but is essential for an inclusive and multicultural society.” (Marinho, 2019). Então, num mundo em constante mudança, as universidades contêm um papel importante no que importa à revolução social e às suas lutas como, por exemplo, a luta pela igualdade de género ou a luta contra o racismo. Neste mundo globalizado, onde as necessidades dos novos alunos são mais notáveis e a universidade deve ter cada vez mais um papel interventivo, a autora apresenta-nos a Universidade do Porto como um exemplo onde o ensino partilhado, através de programas, é uma realidade. A existência destes programas é muito relevante pois permite a interdisciplinaridade, melhorando as experiências interculturais. Sendo um sucesso na Universidade do Porto, os programas de interdisciplinaridade promoveram a troca de costumes e valores entre várias culturas com bases tradicionais muito diferentes e, não falando do enriquecimento académico, traçaram, para Fátima, uma “union and understanding among peoples” (Marinho, 2019), cumprindo a sua maior missão de entender as diferentes culturas e, em simultâneo, construir pontes que nos façam ultrapassar os conflitos e as tensões provocados por essas mesmas diferenças. Para finalizar, Maria de Fátima Marinho aponta para a forma como o mundo globalizado influencia diretamente a necessidade de quebrar as barreiras linguísticas do modo a facilitar a comunicação e a criar as tais “pontes” interculturais acima referidas – “There can be no real interaction without the ability to create and foster the type of collaboration and involvement that can only stem from the sharing of a common code.” (Marinho, 2019). 22 ANEXOS 23 Número 1: Comparação do mapa da Europa em 1990 e 2015, respetivamente Fonte: Mapas e identidades, Jornal Público (2015) Número 2: Comparação do IDH entre a Noruega e o Brasil referente ao ano 2018 IDH Ranking Mundial Noruega 0,954 1º Brasil 0,761 79º Fonte: Relatório do Desenvolvimento Humano, PNUD (2019) Número 3: Acesso global à internet em 2005 – computadores, servidores e utilizadores PC INTERNET Total (milhares) Por 100 habitantes Servidores locais Servidores por 10 000 habitantes Utilizadores (milhares) Utilizadores por100 habitantes África 17726 2,22 424968 4,92 33132,8 3,72 América 308078 35,35 205502481 2339,05 304834,8 34,23 Ásia 230317 6,44 27986795 73,95 368621,8 9,64 Europa 239833 30,69 29058680 363,24 259224,3 32,4 Oceânia 16130 50,46 4572838 1404,68 17383,7 53,21 Fonte: União Internacional de Telecomunicações (2005) 24 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Parte 1 Conceição, P. (2019). Relatório do Desenvolvimento Humano. Nova Iorque: Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento. Giddens, A. (2013). Sociologia. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian. Held, D. et al (1999). What is Globalization? Martell, L. (2010). The Sociology of Globalization. Cambridge: Polity Press. Ritzer, G. (2007). The Blackwell Companion to Globalization. Blackwell Publishing Ltd. Parte 2 Ballestero, I. A. (2021). El impacto de la globalización en la educación superior del siglo XXI. Cambios en el imaginario social de las comunidades educativas. Revista Ensayos Pedagógicos (pp. 139-157). Artigo disponível em: https://dialnet.unirioja.es/servlet/articulo?codigo=8075889 Bohorquez, J. (2021). Bartolomé Yun Casalilla (2021), Os impérios ibéricos e a globalização da Europa (séculos XV a XVII). Revista Ler História. Artigo disponível em: http://journals.openedition.org/lerhistoria/8729 Correia, L. G. (2016). Learning the Word and the World ou Aprendendo a Palavra e o Mundo. Abordagens históricas da alfabetização, educação, globalização e emancipação. Revista da Faculdade de Letras da Universidade do Porto. Porto, IV Série, vol.6 (pp. 9-12). Artigo disponível em: https://ler.letras.up.pt/uploads/ficheiros/14570.pdf Marinho, M. F. (2019). The importance of interdisciplinarity and intercultural practices – case study. In Humanities and higher education: synergies between science, technology and humanities. Global University Network for Innovation (pp. 95-96). Artigo disponível em: https://catalogo.up.pt/F/?func=find-acc&acc_sequence=003096708 https://dialnet.unirioja.es/servlet/articulo?codigo=8075889 http://journals.openedition.org/lerhistoria/8729 https://ler.letras.up.pt/uploads/ficheiros/14570.pdf https://catalogo.up.pt/F/?func=find-acc&acc_sequence=003096708
Compartilhar