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Manual de Curso de licenciatura em Ensino de Geografia – 3o ano Didáctica de Geografia II G0141 Universidade Católica de Moçambique Centro de Ensino a Distância Direitos de autor (copyright) Este manual é propriedade da Universidade Católica de Moçambique, Centro de Ensino à Distância (CED) e contém reservados todos os direitos. É proibida a duplicação ou reprodução deste manual, no seu todo ou em partes, sob quaisquer formas ou por quaisquer meios (electrónicos, mecânico, gravação, fotocópia ou outros), sem permissão expressa de entidade editora (Universidade Católica de Moçambique Centro de Ensino à Distância). O não cumprimento desta advertência é passível a processos judiciais. Universidade Católica de Moçambique Centro de Ensino à Distância - CED Rua Correira de Brito No 613-Ponta-Gêa Moçambique - Beira Telefone: 23 32 64 05 Cel: 82 50 18 44 0 Fax:23 32 64 06 E-mail: ced@ucm.ac.mz Website: www.ucm.ac.mz Agradecimentos A Universidade Católica de Moçambique - Centro de Ensino à Distância e o autor do presente manual, dr. José Mubango, gostariam de agradecer a colaboração dos seguintes indivíduos e instituições na elaboração deste manual: Análise conteudista/Revisão dr. Micas Januário Pacule Pela maquetização e revisão final dr. Heitor Simão Mafanela Simão Elaborado Por: dr. José Mubango Licenciado em Ensino de Geografia pela Universidade Pedagógica – Beira Colaborador do Curso de Licenciatura em Ensino de Geografia no CED Revisão: dr. Micas Januário Pacule Licenciado em Ensino de Geografia pela Universidade Pedagógica – Beira Colaborador do Curso de Licenciatura em Ensino de Geografia no CED Coordenação, Maquetização e Revisão Final: dr. Heitor Simão Mafanela Simão Licenciado em Ensino de Geografia pela Universidade Pedagógica – Beira Mestrando em Ciências e Sistemas de Informação Geográfica Coordenador do Curso de Licenciatura em Ensino de Geografia no CED Didáctica de Geografia II G0160 i Índice Visão geral 1 Bem - vindo a Didáctica de Geografia II ........................................................................ 1 Objectivos do curso ....................................................................................................... 2 Quem deveria estudar este módulo ................................................................................ 2 Como está estruturado este módulo................................................................................ 3 Ícones de actividade ...................................................................................................... 3 Acerca dos ícones ........................................................................................ 4 Habilidades de estudo .................................................................................................... 4 Precisa de apoio? ........................................................................................................... 5 Tarefas (avaliação e auto-avaliação) .............................................................................. 5 Avaliação ...................................................................................................................... 6 Unidade I 7 Geografia Escolar e Desenvolvimento Social................................................................. 7 Introdução ............................................................................................................ 7 Sumário ....................................................................................................................... 11 Exercícios.................................................................................................................... 11 Unidade II 13 Relações e Representações da Prática Social................................................................ 13 Introdução .......................................................................................................... 13 Sumário ....................................................................................................................... 17 Exercícios.................................................................................................................... 17 Unidade III 18 Interdisciplinaridade e o desenvolvimento das actividades no espaço escolar ............... 18 Introdução .......................................................................................................... 18 Sumário ....................................................................................................................... 21 Exercícios.................................................................................................................... 21 Unidade IV 22 Reflexões transversais sobre a Geografia Escolar ........................................................ 22 Introdução .......................................................................................................... 22 Sumário ....................................................................................................................... 25 Exercícios.................................................................................................................... 25 Unidade V 26 A prática Didáctico – Pedagógica da Geografia Escolar e a formação das condutas humanas ...................................................................................................................... 26 Introdução .......................................................................................................... 26 Didáctica de Geografia II G0160 ii Sumário ....................................................................................................................... 32 Exercícios.................................................................................................................... 32 Unidade VI 33 A Geografia Escolar e a Construção da Cidadania ....................................................... 33 Introdução .......................................................................................................... 33 Sumário ....................................................................................................................... 40 Exercícios.................................................................................................................... 40 Unidade VII 41 Novas tendências Didáctico metodológicas aplicáveis ao ensino da Geografia ............. 41 Introdução .......................................................................................................... 41 Sumário ....................................................................................................................... 56 Exercícios.................................................................................................................... 56 Unidade VIII 57 Fundamentos Teórico – metodológicos do ensino da Geografia ................................... 57 Introdução .......................................................................................................... 57 Sumário ....................................................................................................................... 63 Exercícios.................................................................................................................... 63 Unidade IX 64 O Ensino da Geografia ................................................................................................ 64 Introdução .......................................................................................................... 64 Sumário ....................................................................................................................... 69 Exercícios....................................................................................................................69 Unidade X 71 O Professor Pesquisador no Ensino da Geografia ......................................................... 71 Introdução .......................................................................................................... 71 Sumário ....................................................................................................................... 81 Exercícios.................................................................................................................... 81 Unidade XI 82 Curso de Licenciatura em Ensino de Geografia: Desafios ............................................ 82 Introdução .......................................................................................................... 82 Sumário ....................................................................................................................... 90 Exercícios.................................................................................................................... 90 Unidade XII 91 Globalização e Novas Perspectivas para o Ensino da Geografia ................................... 91 Introdução .......................................................................................................... 91 Didáctica de Geografia II G0160 iii Sumário ....................................................................................................................... 96 Exercícios.................................................................................................................... 97 Unidade XIII 98 A Geografia no Desenvolvimento de um Projecto Interdisciplinar na Escola ............... 98 Introdução .......................................................................................................... 98 Sumário ..................................................................................................................... 107 Exercícios.................................................................................................................. 107 Unidade XIV 108 Ensino da Geografia em Moçambique ....................................................................... 108 Introdução ........................................................................................................ 108 Sumário ..................................................................................................................... 115 Exercícios.................................................................................................................. 115 Unidade XV 116 Ensino da Geografia e a Globalização ........................................................................ 116 Introdução ........................................................................................................ 116 Sumário ..................................................................................................................... 122 Exercícios.................................................................................................................. 123 Unidade XVI 124 O Ensino de Geografia nos dias actuais ..................................................................... 124 Introdução ........................................................................................................ 124 Sumário ..................................................................................................................... 129 Exercícios.................................................................................................................. 129 Didáctica de Geografia II G0160 1 Visão geral Bem - vindo a Didáctica de Geografia II A disciplina de Didáctica de Geografia, desempenha um papel fundamental na formação do futuro bacharel e/ou Licenciado em ensino de Geografia. Esta cadeira foi concebida para fornecer bases sólidas para o exercício da profissão docente. Os conhecimentos, capacidades, habilidades e atitudes adquiridos na área das ciências geográficas, pedagógicas e psicológicas serão constantemente reactivados e aplicados com vista a consecução dos objectivos definidos. Pretende-se, deste modo formar um professor que se aproprie da sua formação que não seja mero executor do currículo. Mas agente curricular que contribua para mudar a escola. Um professor que destaque o papel da Geografia no universo do conhecimento que valorize a vivência do aluno, tendo como princípio que os saberes. Do educando constituem o ponto central da abordagem geográfica. A mudança significa também que o professor, graduado na UCM, crie condições na escola para que o aluno se aproprie das formas de produção do conhecimento, que o aluno observe, recolha, classifique e compare dados, estabeleça relações, generalize, analise, sintetize, ou seja, que tenha bases para continuar a aprender ao longo da vida. A cadeira de Didáctica de Geografia foi ainda concebida na perspectiva de formar professores que privilegiem a interdisciplinaridade, a indissociabilidade entre a teoria e a prática e pesquisa, a construção do conhecimento em sala de aula e processo de avaliação mais formativo. Didáctica de Geografia II G0160 2 Pretende-se, que em suma, formar professores comprometidos com a causa da educação e que lutem pela melhoria da qualidade de ensino e pelo sucesso escolar. Objectivos do curso Quando terminar o estudo de Didáctica de Geografia IV, referente ao Módulo I será capaz de: Objectivos Assumir a importancia do ensino da Geografia Dominar o instrumentário metodologico para o ensino da Geografia Problematizar o processo de ensino-aprendizagem de Geografia Analisar criticamente os programas, livros, guias metodologicos, manuais e outros manuais do ensino de Geografia Valorizar os diferentes saberes e culturas Desenvolver competências no âmbito da educação geográfica Combater os processos de exclusão e discriminação Desenvolver o gosto pelo estudo e pesquisa na perspectiva de aprendizagem ao longo da vida. Promover o espírito de patriotismo, solidariedade e ajuda mútua. Quem deveria estudar este módulo Este Módulo foi concebido para todos aqueles estudantes que queiram ser professores da disciplina de Geografia, que estão a frequentar o curso de Licenciatura em Ensino de Geografia, do Centro de Ensino a Distância na Didáctica de Geografia II G0160 3 UCM. Estendese a todos que queiram consolidar os seus conhecimentos sobre a Didáctica de Geografia. Como está estruturado este módulo Todos os módulos dos cursos produzidos pela Universidade Católica de Moçambique - Centro de Ensino a Distância encontram-se estruturados da seguinte maneira: Páginas introdutórias Um índice completo. Uma visão geral detalhada do curso / módulo, resumindo os aspectos-chave que você precisa conhecer para completar o estudo. Recomendamos vivamente que leia esta secção com atenção antes de começar o seu estudo. Conteúdo do curso / módulo O curso está estruturado em unidades. Cada unidade incluirá uma introdução, objectivos da unidade, conteúdo da unidade incluindo actividades de aprendizagem, um summary da unidade e uma ou mais actividades para auto-avaliação. Outros recursos Para quem esteja interessado em aprender mais, apresentamos uma lista de recursos adicionais para você explorer. Estes recursos podem incluir livros, artigos ou sites na internet. Tarefas de avaliação e/ou Auto-avaliação Tarefas de avaliação para este módulo encontram-se no final de cada unidade. Sempre que necessário, dão-se folhas individuais para desenvolver as tarefas, assim como instruções para as completar. Estes elementos encontram-se no final do módulo. Comentários e sugestões Esta é a sua oportunidade para dar nos sugestões e fazer comentários sobre a estrutura e o conteúdo do curso/módulo. Osseus comentários serão úteis para nos ajudar a avaliar e melhorar este curso/modulo. Ícones de actividade Ao longo deste manual irá encontrar uma série de ícones nas margens das folhas. Estes icones servem para identificar diferentes partes do processo Didáctica de Geografia II G0160 4 de aprendizagem. Podem indicar uma parcela específica de texto, uma nova actividade ou tarefa, uma mudança de actividade, etc. Acerca dos ícones Os ícones usados neste manual são símbolos africanos, conhecidos por adrinka. Estes símbolos têm origem no povo Ashante de África Ocidental, datam do século 17 e ainda se usam hoje em dia. Habilidades de estudo Durante a formação, para facilitar a aprendizagem e alcançar melhores resultados, implicará empenho, dedicação e disciplina no estudo. Isto é, os bons resultados apenas se conseguem com estratégias eficazes e por isso é importante saber como estudar. Apresento algumas sugestões para que possa maximizar o tempo dedicado aos estudos: Antes de organizar os seus momentos de estudo reflicta sobre o ambiente de estudo que seria ideal para si: Estudo melhor em casa/biblioteca/café/outro lugar? Estudo melhor à noite/de manhã/de tarde/fins de semana/ao longo da semana? Estudo melhor com música/num sítio sossegado/num sítio barulhento? Preciso de um intervalo de 30 em 30 minutos/de hora a hora/de duas em duas horas/sem interrupção? É impossível estudar numa noite tudo o que devia ter sido estudado durante um determinado período de tempo; Deve estudar cada ponto da matéria em profundidade e passar só ao seguinte quando achar que já domina bem o anterior. É preferível saber bem algumas partes da matéria do que saber pouco sobre muitas partes. Deve evitar estudar muitas horas seguidas antes das avaliações, porque, devido à falta de tempo e consequentes ansiedade e insegurança, começa a ter-se dificuldades de concentração e de memorização para organizar toda a informação estudada. Para isso torna-se necessário que: Organize na sua agenda um horário onde define a que horas e que matérias deve estudar durante a semana; Face ao tempo livre que resta, deve decidir como o utilizar produtivamente, decidindo quanto tempo será dedicado ao estudo e a outras actividades. É importante identificar as ideias principais de um texto, pois será uma necessidade para o estudo das diversas matérias que compõem o curso: A colocação de notas nas margens pode ajudar a estruturar a matéria de modo que seja mais fácil identificar as partes que está a estudar e pode escrever conclusões, exemplos, vantagens, definições, datas, nomes, pode também utilizar a margem para colocar comentários seus relacionados com o que está a ler; a melhor altura para sublinhar é imediatamente a seguir à compreensão do texto e não depois de uma primeira leitura; Utilizar o dicionário sempre que surja um conceito cujo significado desconhece; Didáctica de Geografia II G0160 5 Precisa de apoio? Caro estudante, temos a certeza que por uma ou por outra situação, o material impresso, lhe pode suscitar alguma dúvida (falta de clareza, alguns erros de natureza frásica, prováveis erros ortográficos, falta de clareza conteudística, etc). Nestes casos, contacte o tutor, via telefone, escreva uma carta participando a situação e se estiver próximo do tutor, contacteo pessoalmente. Os tutores têm por obrigação, monitorar a sua aprendizagem, dai o estudante ter a oportunidade de interagir objectivamente com o tutor, usando para o efeito os mecanismos apresentados acima. Todos os tutores têm por obrigação facilitar a interacção, em caso de problemas específicos ele deve ser o primeiro a ser contactado, numa fase posterior contacte o coordenador do curso e se o problema for de natureza geral. Contacte a direcção do CED, pelo número 825018440. Os contactos só podem efectuar-se, nos dias úteis e nas horas normais de expediente. As sessões presenciais são um momento em que você caro estudante, tem a oportunidade de interagir com todo o staff do CED, neste período pode apresentar dúvidas, tratar questões administrativas, entre outras. O estudo em grupo com os colegas é uma forma a ter em conta, busque apoio com os colegas, discutam juntos, apoiemse mutuamente, reflictam sobre estratégias de superação, mas produza de forma independente o seu próprio saber e desenvolva suas competências. Tarefas (avaliação e auto- avaliação) O estudante deve realizar todas as tarefas (exercícios, actividades e autoavaliação), contudo nem todas deverão ser entregues, mas é importante que sejam realizadas. As tarefas devem ser entregues antes do período presencial. Para cada tarefa serão estabelecidos prazos de entrega, e o não cumprimento dos prazos de entrega, implica a não classificação do estudante. Os trabalhos devem ser entregues ao CED e os mesmos devem ser dirigidos ao tutor/docentes. Podem ser utilizadas diferentes fontes e materiais de pesquisa, contudo os mesmos devem ser devidamente referenciados, respeitando os direitos do autor. O plagiarismo deve ser evitado, a transcrição fiel de mais de 8 (oito) palavras de um autor, sem o citar é considerado plagio. A honestidade, humildade científica e o respeito pelos direitos autoriais devem marcar a realização dos trabalhos. Didáctica de Geografia II G0160 6 Avaliação Você será avaliado durante o estudo independente (80% do curso) e o período presencial (20%). A avaliação do estudante é regulamentada com base no chamado regulamento de avaliação. Os trabalhos de campo por ti desenvolvidos, durante o estudo individual, concorrem para os 25% do cálculo da média de frequência da cadeira. Os exames são realizados no final da cadeira e durante as sessões presenciais, eles representam 60%, o que adicionado aos 40% da média de frequência, determinam a nota final com a qual o estudante conclui a cadeira. A nota de 10 (dez) valores é a nota mínima de conclusão da cadeira. Nesta cadeira o estudante deverá realizar 2 (dois) trabalhos, 1 (um) teste e 1 (exame). Algumas actividades práticas, relatórios e reflexões serão utilizados como ferramentas de avaliação formativa. Durante a realização das avaliações, os estudantes devem ter em consideração a apresentação, a coerência textual, o grau de cientificidade, a forma de conclusão dos assuntos, as recomendações, a identificação das referencias utilizadas, o respeito pelos direitos do autor, entre outros. Os objectivos e critérios de avaliação estão indicados no manual. consulteos. Didáctica de Geografia II G0160 7 Unidade I Geografia Escolar e Desenvolvimento Social Introdução A Geografia escolar tem um papel ideológico. Por isso, não cabe a ideia da neutralidade científica; se, de um lado, essa disciplina contribuiu para reprodução da dominação, por outro lado, as práticas educativas demonstraram e demonstram lutas concretas dos educadores dessa área pela melhoria do ensino público. A Geografia é uma ciência que tem por objeto de estudo o espaço; não o espaço cartesiano, mas o espaço produzido através das relações entre o homem e o meio, envolvendo aspectos dialéticos e fenomenológicos. Para Vidal de La Blache Geografia é a Ciência dos Lugares, já Hartshorne diz ser a ciência da diferenciação de áreas. A concepção dialética do espaço geográfico entende que a natureza humanizada influencia e é influenciada pela sociedade que produz e reproduz o seu espaço. Uma definição simples poderia ser Geografia é o estudo da superfície terrestre e a distribuição espacial de fenómenos geográficos, frutos da relação recíproca entre homem e meio. Ao completar esta unidade / lição, você será capaz de: Objectivos Conhecer o papel da geografia escolar no desenvolvimento social; Explicar o papel do governo na democratização do processo de ensino-aprendizagem; Definir os conceitosespaço geográfico e desenvolvimento social. Didáctica de Geografia II G0160 8 No estudo da Geografia na escola, o aluno torna se mais crítico e consciente do seu papel na sociedade. Ele passa a questionar a maneira pela qual o espaço geográfico é utilizado em favor de alguns em detrimento de muitos e passa a lutar por melhoria para si mesmo e para os seus semelhantes. Ao conduzir o aluno a conhecer e refletir sobre seu meio físico, as interações entre esse meio e seus habitantes, as relaçoes estabelecidas entre todos os sujeitos desse processo de interação e as conseqüências dessas relações e interações, a disciplina de geografia ajuda na construção de um indivíduo consciente de seu papel e sujeito de suas acções no mundo. Não se pode deixar de levar em conta que, a profunda estratificação social e a injusta distribuição de renda funcionam como um entrave para que uma parte considerável da população possa fazer valer os seus direitos e interesses fundamentais. Cabe ao governo o papel de assegurar que o processo democrático se desenvolva de modo a que esses entraves diminuam cada vez mais. É papel do Estado investir na escola, para que ela prepare e instrumentalize as crianças e os jovens para o processo democrático, forçando o acesso à educação de qualidade para todos e às possibilidades de participação social. Para isso, faz-se necessária uma proposta educacional que tenha em vista a qualidade da formação a ser oferecida a todos os estudantes. O ensino de qualidade que a sociedade demanda actualmente expressa-se aqui como a possibilidade de o sistema educacional vir a propor uma prática educativa adequada às necessidades sociais, políticas, económicas e culturais da realidade, que considere os interesses e as motivações dos alunos e garanta as aprendizagens essenciais para a formação de cidadãos autónomos, críticos e Didáctica de Geografia II G0160 9 participativos, capazes de actuar com competência, dignidade e responsabilidade na sociedade em que vivem. O exercício da cidadania exige o acesso de todos à totalidade dos recursos culturais relevantes para a intervenção e a participação responsável na vida social. O domínio da língua falada e escrita, os princípios da reflexão matemática, as coordenadas espaciais e temporais que organizam a percepção do mundo, os princípios da explicação científica, as condições de fruição da arte e das mensagens estéticas, domínios de saber tradicionalmente presentes nas diferentes concepções do papel da educação no mundo democrático, até outras tantas exigências que se impõem no mundo contemporâneo. Essas exigências apontam a relevância de discussões sobre a dignidade do ser humano, a igualdade de direitos, a recusa categórica de formas de discriminação, a importância da solidariedade e do respeito. Cabe ao campo educacional propiciar aos alunos as capacidades de vivenciar as diferentes formas de inserção sociopolítica e cultural. Apresenta-se para a escola, hoje mais do que nunca, a necessidade de assumir-se como espaço social de construção dos significados éticos necessários e constitutivos de toda e qualquer acção de cidadania. No contexto actual, a inserção no mundo do trabalho e do consumo, o cuidado com o próprio corpo e com a saúde, passando pela educação sexual, e a preservação do meio ambiente são temas que ganham um novo estatuto, num universo em que os referenciais tradicionais, a partir dos quais eram vistos como questões locais ou individuais, já não dão conta da dimensão nacional e até mesmo internacional que tais temas assumem, justificando, portanto, sua consideração. Didáctica de Geografia II G0160 10 Nesse sentido, é papel preponderante da escola propiciar o domínio dos recursos capazes de levar à discussão dessas formas e sua utilização crítica na perspectiva da participação social e política. Desde a construção dos primeiros computadores, na metade deste século, novas relações entre conhecimento e trabalho começaram a ser delineadas. Um de seus efeitos é a exigência de um reequacionamento do papel da educação no mundo contemporâneo, que coloca para a escola um horizonte mais amplo e diversificado do que aquele que, até poucas décadas atrás, orientava a concepção e construção dos projetos educacionais. Não basta visar à capacitação dos estudantes para futuras habilitações em termos das especializações tradicionais, mas antes trata-se de ter em vista a formação dos estudantes em termos de sua capacitação para a aquisição e o desenvolvimento de novas competências, em função de novos saberes que se produzem e demandam um novo tipo de profissional, preparado para poder lidar com novas tecnologias e linguagens, capaz de responder a novos rítmos e processos. Essas novas relações entre conhecimento e trabalho exigem capacidade de iniciativa e inovação e, mais do que nunca, "aprender a aprender". Isso coloca novas demandas para a escola. A educação básica tem assim a função de garantir condições para que o aluno construa instrumentos que o capacitem para um processo de educação permanente. Para tanto, é necessário que, no processo de ensino e aprendizagem, sejam exploradas: a aprendizagem de metodologias capazes de priorizar a construção de estratégias de verificação e comprovação de hipóteses na construção do conhecimento, a construção de argumentação capaz de controlar os resultados desse Didáctica de Geografia II G0160 11 processo, o desenvolvimento do espírito crítico capaz de favorecer a criatividade, a compreensão dos limites e alcances lógicos das explicações propostas. Além disso, é necessário ter em conta uma dinâmica de ensino que favoreça não só o descobrimento das potencialidades do trabalho individual, mas também, e sobretudo, do trabalho colectivo. Isso implica o estímulo à autonomia do sujeito, desenvolvendo o sentimento de segurança em relação às suas próprias capacidades, interagindo de modo orgânico e integrado num trabalho de equipe e, portanto, sendo capaz de actuar em níveis de interlocução mais complexos e diferenciados. Sumário Exercícios 1. Refira-se da importância da Geografia Escolar no desenvolvimento social 2. Identifique as acções governamentais na democratização do processo de ensino e aprendizagem 3. Defina os conceitos Geografia Escolar, Desenvolvimento social e Espaço Geográfico. Nb: Entregar Didáctica de Geografia II G0160 13 Unidade II Relações e Representações da Prática Social Introdução Nesta unidade contextualizar-se-á o Espaço geográfico, como objecto de estudo por um lado, e como prática social, referindo-se das relações da prática social das consequentes representações especificamente para o aluno. Ao completar esta unidade / lição, você será capaz de: Objectivos Definir os conceitos prática social, relações e representações da prática social; Explicar as relações e representações da prática social; Identificar o impacto das relações e representações da prática social no processo de ensino e aprendizagem. O IMPACTO DAS RELAÇÕES E REPRESENTAÇÕES DA PRÁTICA SOCIAL NO PROCESSO DE ENSINO E APRENDIZAGEM Entretanto, o ensino de Geografia, tanto no campo, quanto na cidade precisa ir além da troca de materiais e manuais didáctico- pedagógicos. É preciso obter informações que permitam compreender as crianças nos aspectos relativos à educação na cidade e no campo e, principalmente, sobre o seu desenvolvimento Didáctica de Geografia II G0160 14 cognitivo, psicológico, percepção do espaço e padrão de linguagem. De uma maneira geral, os manuais didácticos e programas de ensino de Geografia retratam uma realidade estereotipada, que nada tem a ver coma realidade social e cultural dos alunos. Os manuais tradicionais não enfatizam a compreensão do saber geográfico historicamente acumulado, dificultando a visão da Geografia real, vivenciada no seu quotidiano e tão necessária para melhorar as relações entre o homem e a natureza. A constituição literária e mercadológica desses manuais se dinamiza constantemente através dos órgãos governamentais, os quais reforçam a ideologia da indústria cultural. O conhecimento do conteúdo geográfico precisa ser repassado de forma apropriada, de maneira que reproduza os conhecimentos construídos culturalmente pela humanidade, redefinindo possibilidades de reconstrução contínua pelo aluno e pelo professor, no quotidiano da sala de aula. A análise de confronto entre a antiguidade e a modernidade não se reduz à proposição de soluções pedagógicas, nem tão pouco geográficas, com um discurso ingénuo em defesa das classes sociais menos favorecidas, mas recupera a condição de docentes interventores, em um espaço legítimo de transformação social: a escola. Dessa maneira, pode-se afirmar que as relações estruturais existentes na sociedade capitalista colocam novas formas de estruturação do espaço do campo e da cidade, constituindo um sistema de organização que, diante do processo de globalização acelerada, desconsidera as relações homem - natureza. Didáctica de Geografia II G0160 15 O ensino de Geografia, construído pela reprodução de manuais, conduz a uma insatisfação e a um descomprometimento dos alunos frente a essa disciplina, podendo-se perceber afirmações que reforçam a ideia de que a metodologia utilizada pela maioria dos professores nas escolas não tem relação com a vida quotidiana dos alunos, o que direcciona a aprendizagem para repetições, impossibilitando a recriação. Contudo, o professor, no processo de ensino e aprendizagem, deve observar os seguintes paradigma: Conhecer o espaço geográfico e o funcionamento da natureza em suas múltiplas reacções, de modo a compreender o papel das sociedades em sua construção e na produção do território, da paisagem e do lugar; Identificar e avaliar as acções dos homens em sociedade e suas consequências em diferentes espaços e tempos, de modo a construir referênciais que possibilitem uma participação propositiva e reativa nas questões sócio ambientais locais; Compreender a espacialidade e temporalidade dos fenómenos geográficos estudados em suas dinâmicas e interações; Compreender que as melhorias nas condições de vida, os direitos, os avanços técnicos e tecnológicos e as transformações sócio -culturais são conquistas decorrentes de conflitos e acordos, que ainda não são usufruídas por todos os seres humanos e, dentro de suas possibilidades, empenhar –se em democratizá-las; Conhecer e saber utilizar procedimentos de pesquisa da Geografia para empreender o espaço, a paisagem, o território e o lugar, seus processos de construção, identificando suas relações, problemas e contradições; Didáctica de Geografia II G0160 16 Fazer leituras de imagens, de dados e de documentos de diferentes fontes de informação, de modo a interpretar, analisar e relacionar informações sobre o espaço geográfico e as diferentes paisagens. O conteúdo da Geografia, neste contexto, é o material necessário para que o aluno construa o seu conhecimento, aprenda a pensar. Aprenda a pensar significa elaborar, a partir do senso comum, do conhecimento produzido pela humanidade e do confronto com outros saberes (do professor, de outros interlocutores), o seu conhecimento. Este conhecimento, partindo dos conteúdos da Geografia, significa uma consciência espacial das coisas, dos fenómenos, das relações sociais que travam no mundo. (CALLAI, 2000). Ao profissional da área de Geografia cabe o entendimento de que os problemas relativos ao espaço escolar estão ligados aos problemas do homem na sociedade, tentando estabelecer uma relação directa entre o que se ensina e o que se aprende, e reafirmando a função social da ciência. Os conteúdos trabalhados nos cursos de graduação em Geografia são necessários para o reconhecimento e organização dessa área académica, mas não basta dominar conceitos teóricos, é preciso reflectir sobre as concepções pedagógicas que perpassam a relação teoria e prática, revendo a didáctica e a metodologia que instrumentalizam esses trabalhadores para o exercício da profissão docente. Essa análise nos remete à visão integral do ser humano, que tenha um posicionamento enquanto profissional, mas que saiba relacionar e interagir com as outras áreas de Geografia escolar. Didáctica de Geografia II G0160 17 Sumário Exercícios 1. Defina os conceitos prática social, relações e representações da prática social 2. Identifique o impacto das relações e representações da prática social no processo de ensino e aprendizagem Didáctica de Geografia II G0160 18 Unidade III Interdisciplinaridade e o desenvolvimento das actividades no espaço escolar Introdução O ensino de Geografia possibilita ao aluno a compreensão da realidade, entendendo que esta é uma construção social sobre a natureza; uma construção internamente diferenciada, não podendo essa diferenciação interna ser mascarada. Porém, nesta unidade far- se-á uma reflexão sobre interdisciplinaridade e o desenvolvimento das actividades no espaço escolar. Ao completar esta unidade / lição, você será capaz de: Objectivos Definir os conceitos interdisciplinaridade e espaço escolar Explicar o impacto da interdisciplinaridade no desenvolvimento das actividades no espaço escolar. A Geografia Escolar, por não ser uma disciplina independente, deve ser inserida nas diferentes disciplinas escolares e, por isso mesmo, os mais diferentes temas tidos como transversais podem ser discutidos de acordo com a necessidade social e a possibilidade e planeamento escolar e, por conseguinte docente. Didáctica de Geografia II G0160 19 Segundo VLACH (1989), ensinar é, antes de mais nada, o trabalho do aluno com o saber sob a mediação do professor. O ensino de Geografia possibilita ao aluno a compreensão da realidade, entendendo que esta é uma construção social sobre a natureza; uma construção internamente diferenciada, não podendo essa diferenciação interna ser mascarada. Faz-se necessário um repensar constante sobre o ensino de Geografia, os quais precisam estar contextualizados com o espaço escolar, e, consequentemente, levar em conta as especificidades da cidade e do campo. A proposta didáctico-metodológica do ensino de Geografia não pode desconsiderar tais questões, pois essas perpassam a vida do ser humano e modificam seu espaço de vivência, interferindo nas relações quotidianas, construindo valores e transformando culturas. Acredita-se que a docência da Geografia intra e extra salas de aulas, relacionadas a estudos teóricos baseados nas necessidades das comunidades, nos contextos da cidade e do campo, construirão a história de Geografia real. Não se trata de aplicar modelos pré-estabelecidos, mas possibilitar formas para que os profissionais experimentem novas metodologias de ensino, que venham ao encontro das necessidades concretas dos alunos, produzindo assim, saberes reais. Acredita-se que, assim, a escola estará promovendo uma interacção entre os saberes pedagógicos e sociais, considerados indispensáveis para o desempenho do profissional da área de Geografia. Didáctica de Geografia II G0160 20 Assim, a efectivação de um currículo de Geografia em nível nacional precisa observar a realidade escolar, repensando as formas de construção do conhecimento, de atitudes e objectivos, dos queensinam e dos que aprendem. Nessa linha de análise, reforça-se uma (re)definição da Geografia em seus aspectos teórico e prático, considerando a necessidade de interlocução do saber científico com o saber prático, e uma (re)formulação curricular. Essa abordagem requer uma nova postura do profissional da educação, enfocando a formação do geógrafo-educador, por um prisma de (re)escrita do mundo, proporcionando reflexões e acções acerca do espaço profissional e vivencial . O saber geográfico e o fazer pedagógico precisam estar em interrelação, para que a formação, inicial e continuada, atenda às reais necessidades do mundo actual, valorizando a formação integral, como professor e pesquisador. Segundo LACOSTE (1988) o facto de que os geógrafos consideram elementos de conhecimento elaborados por múltiplas ciências não deve mais ser tomado, hoje, como a prova das carências ou do estatuto epistemológico ultrapassado da geografia. Essa pode ser considerada um saber científico, mas com uma condição formal de que todos esses elementos de conhecimento, mais ou menos disparatados, não sejam mais enumerados, justapostos num discurso do tipo enciclopédico mas, ao contrário, articulados em função de um fim. De facto, a legitimidade epistemológica de um saber se baseia, não mais num quadro Didáctica de Geografia II G0160 21 académico, seja ele científico, mas sobre práticas sociais providas de resultados tangíveis. Assim, espera-se que a educação escolar forneça os subsídios necessários para a implementação de uma nova prática geográfica, baseada em uma metodologia de construção de conhecimentos significativos, que permitam aos alunos se situarem no âmbito social, levando em conta as relações e representações construídas em seus espaços de vivência e/ou de sobrevivência. Sumário Exercícios 1. Defina os conceitos interdisciplinaridade e espaço escolar 2. Explique o impacto da interdisciplinaridade no desenvolvimento das actividades no espaço escolar Didáctica de Geografia II G0160 22 Unidade IV Reflexões transversais sobre a Geografia Escolar Introdução A transversalidade como prática pedagógica tem permeado o ideário educacional como alternativa de fazer com que discussões mais abrangentes, entre elas, discussões sobre meio ambiente, saúde, ética e outras, busquem estar inseridas no discurso presente em sala de aula e, principalmente, na prática fora de sala de aula e, quando possível, fora do ambiente escolar, embora delineado e trabalhado pela escola. É um princípio teórico que tem como objectivo transpor as barreiras da educação tradicional, convencional, que busca ensinar sobre a realidade, visto que sua premissa é clarificar a realidade social. Ao completar esta unidade / lição, você será capaz de: Objectivos Definir o conceito transversalidade no contexto ensino- aprendizagem; Explicar, com exemplos concretos, o papel da educação transversal no processo de ensino-aprendizagem POR UMA GEOGRAFIA TRANSVERSAL Pontuschka et al (2007) afirma que, [...] educar na transversalidade implica mudar a perspectiva do currículo escolar, indo além da complementação das áreas disciplinares e chegando mesmo a remover as bases da instituição escolar remanescente do século XIX. (...) Os temas transversais são também interpretados como Didáctica de Geografia II G0160 23 ponte entre o conhecimento do senso comum e o conhecimento académico, estabelecendo articulação entre ambos. Dentro do contexto do ensino de geografia, é fácil pensar em temas de interesse sócio-cultural que podem ser trabalhados de forma transversal. Meio ambiente, cultura, atmosfera, hidrosfera, segurança pública, política, são temas certamente relevantes quando o assunto é formação cidadã, e todos eles podem ser trabalhados junto à outras disciplinas escolares. Como exemplo, podemos tomar o tema meio ambiente, que pode ser apreendido por praticamente todas as disciplinas; atmosfera, podendo ser abordada tanto pela Geografia como pela Física, Biologia, Matemática e outras, ou mesmo cultura, que pode ser abordada por disciplinas como Português e História, além da Geografia. Porém, sabemos que a prática da transversalidade, ainda não sendo utópica, trata-se de uma prática ademais difícil de ser trabalhada. Muitos são as considerações que podemos tecer sobre o porquê desta prática não se efectivar, mesmo tendo-se com clareza os ganhos educacionais que podem ser tidos. Podemos nos pegar comumente pensando o seguinte: - Estudamos uma determinada ciência e diante da consciência que buscamos ter do mundo a partir desta ciência, tendemos a nos encerrar em suas determinações epistemológicas. Por que isto acontece? É neste momento – já que estamos falando de ciência com consciência, fazendo uso de expressão de Morin (s/d), que temos de nos sensibilizar diante dos factos e determinações científicas vinculadas às outras ciências. É, geograficamente, recomendado Didáctica de Geografia II G0160 24 estabelecer contacto directo, ou mesmo indirecto, por exemplo, com a Antropologia e seu discurso sobre cultura, quando geógrafos como Claval (1999) afirmam que, todo facto geográfico é um facto cultural. Também é necessário estabelecer trocas com a Sociologia, quando sabemos que a sociedade é quem constrói o espaço geográfico a partir de suas necessidades sociais, culturais, políticas e económicas. Como discutir, por exemplo, sobre a construção do território sem se dar conta que a formação territorial exige elementos como espaço e poder (SOUZA, 2005) e, que o poder em suma é um facto de cunho político - como deixaram claro Ratzel e La Blache, também tratado por ciências como a ciência política. Percebendo a possibilidade de contacto com as outras ciências como o estopim para a discussão de temas transversais no ambiente escolar, podemos tecer com maior liberdade a comunicação interdisciplinar em benefício de uma formação educacional mais eficiente. O encurralamento epistemológico que tende o professor a tomar, por intermédio da construção curricular da disciplina, é algo a ser combatido. Porém, tal encerramento é por vezes produto de ideologias baratas, hiperespecializações e/ou egos inflados. Dentro do contexto, o que se houve constantemente nos encontros, seminários, simpósios, é o preconceito ideológico, o não embasamento epistemológico e, principalmente, a miopia científica antes uma complexidade de factos socioambientais que extrapolam o conhecimento geográfico mediado por uma só ideologia e/ou metodologia. Didáctica de Geografia II G0160 25 A transversalidade, nesse sentido, aparece como possibilidade de contacto – mesmo quer por vezes indirecto, com outras disciplinas e, por conseguinte com outras ideologias e métodos que podem somar à ciência geográfica na tentativa de uma geografia que compreenda a totalidade-mundo à que Straforini (2001) se refere proporcionando uma Geografia que ensina o ser humano o sentido de geograficidade. Fica claro que o esforço tem de ser conjunto. A Geografia diante das necessidades certamente tem sua importância, todavia antes a perspectiva de formação que o indivíduo tem de ter para viver uma geograficidade capaz de fazê-lo perceber em suma o mundo, a Geografia é base, porém não a totalidade do conhecimento humano-educacional. Nesse sentido, a transversalidade – trata-se de uma perspectiva teórica que só conjuntamente tem condições de ser efectivada, apesar de sumariamente ser necessária a preocupação com a possibilidade de se trabalhar uma Geografia Transversal. Premissa individual, mas com objectivo de posterior trabalho em grupo. Sumário Exercícios 1 Explique o conceitoda educação transversal 2 Explique o papel da educação transversal na melhoria do processo de ensino-aprendizagem Didáctica de Geografia II G0160 26 Unidade V A prática Didáctico – Pedagógica da Geografia Escolar e a formação das condutas humanas Introdução O esboço curricular da Geografia vem engendrando uma ordem funcional, disciplinar e fragmentária na sociedade. Em geral, essa situação produz uma redução na forma de ver e compreender o mundo, haja vista que os diversos conteúdos da escola organicista não se articulam entre si, produzindo efeitos perversos na dimensão sócio-cultural. Essa situação, desde a origem dessa ciência, no século XIX, tem contribuído ao distanciamento contextual da relação tempo / espaço na dimensão do próximo e/ou longínquo, pelos sujeitos na vida quotidiana. Desta feita, no processo educativo não se permite espaço e tempo para acção reflexão-acção, assegurando junto à maioria dos indivíduos, uma expressão mnemónica por excelência. A tarefa da educação geográfica, na rede pública e privada de ensino, prescreve como eixo central a desigual distribuição dos saberes. Ao completar esta unidade / lição, você será capaz de: Objectivos Explicar, com exemplos concretos, o papel da Geografia escolar na formação das condutas humanas Explicar o papel metodológico da subjectividade e identidade na melhoria do processo de ensino e aprendizagem em Geografia Didáctica de Geografia II G0160 27 O PAPEL DA GEOGRAFIA ESCOLAR NA FORMAÇÃO DAS CONDUTAS HUMANAS O currículo, nessas áreas, vem engendrando, constantemente, limites e fronteiras, bem como, alheando a vida pulsante do processo ensino aprendizagem, senão da sociedade, de seu sentido histórico-espacial e da afectividade, consequentemente, da efectivação dos valores da cidadania. Ultrapassar a percepção a partir do qual estão os “outros” faz a diferença e recoloca, em termos epistemológicos, os conteúdos subjectivos e identitários em evidência no processo de interlocução, reflexão, análise e construção dos novos olhares sobre a vida e a realidade de tantos outros currículos. Conhecer o papel do currículo geográfico disciplinar, bem como, os contornos que esse adquire face às políticas educacionais pensadas por outrem para a vida dos sujeitos contemporâneos é uma possibilidade para se transgredir toda uma série de hábitos ancestrais. É pensar a relação da acção dos sujeitos sobre o espaço construído até então e do qual são indissociáveis. O sentido da Geografia escolar no conjunto das reflexões que dizem sobre a educação formal, mostra-se em sua maioria, desvinculada da prática material dos homens e mulheres que menos têm tido acesso à educação de qualidade ou pelo menos tem podido permanecer nela. Tal situação decorre do atrelamento da escola oficial à reprodução social enviesada pela insistente fragmentação curricular pensada por outrem. Essa implica, fortemente, na forma de pensar e construir o mundo, de tal forma que, no processo ensino-aprendizagem, pouco se consegue dar visibilidade ao Didáctica de Geografia II G0160 28 diálogo com os diferentes saberes e territorialidades produzidas pelos alunos no movimento da educação no país. A estrutura curricular geralmente incide uma perspectiva histórico- geográfica produtora de um saber arbitrário, legítimo, e de validade universal. Saber que domina com facilidade o imaginário dos homens actuando directamente sobre o conhecimento, a ciência, a ética e a estética do mundo. Assim, pela escola, se impõe obstáculos e resistências às manifestações de conteúdos de cunho sócio-cultural, democrático e afectivo, em prol da desigualdade do saber, de competências e dos futuros papeis de cada um na sociedade. Como aborda Bourdieu e Passeron, [...] a violência simbólica ocorre quando uma determinada classe social impõe significações, e ao impô-las como legítimas dissimula as relações de força e de poder que estão na base de sua força, esta impõe e inculca um arbitrário cultural de forma também arbitrária (via inculcação e imposição). Os autores afirmam que a violência simbólica ocorre quando determinada leitura e determinado entendimento de mundo são considerados como os únicos possíveis, como sendo a única verdade, como se esses entendimentos fossem neutros, e não uma representação humana construída por determinadas pessoas de diferentes grupos sociais. Infelizmente, essa situação causa uma recursividade no condicionamento do “status quo” das relações desiguais mantidas, reproduzidas e legitimadas na sociedade, aqui se destaca o importante papel desempenhado pelos documentos oficiais e as reformas no ensino. Didáctica de Geografia II G0160 29 SUBJECTIVIDADE E IDENTIDADE: POR UMA PROSPECTIVA PARA O ENSINO DA GEOGRAFIA As grandes transformações técnico-científicas implicam sobre a vida humana e de igual modo, se reconhece, que nelas há uma forte tendência de estreitamento da vida social ao processo produtivo de uma forma cíclica, fragmentária, efémera, descartável que vêm continuamente, desapropriando os homens de uma razão sensível do mundo. Essa desapropriação, exercício do poder institucionalizado, como se verifica, actua insistentemente sobre o imaginário social e, vem violentando as construções identitárias e as subjectividades humanas, de tal forma, que não há visibilidade de outras razões, quer seja paradoxalmente sentida e/ ou articularmente integradora das dimensões intelectuais e afectivas da relação dos homens com a natureza, pois sendo escamoteado dos processos de interacção social o que emerge é uma razão abstracta que vem objectivando a dimensão subjectiva humana em todos os seus aspectos. De certo que essas implicações vêm se apresentando tanto, como conteúdo, quanto continente da imaginação dos sujeitos, configurando, por consequência, num forte atributo simbólico à formação do imaginário e da representação social da realidade. Prolongar essa leitura nas instituições educativas torna-se, assim, um equívoco. Como transformar essas acções espontâneas, incorrectas, incómodas e mal formuladas que são constantemente imbricadas no senso comum dos sistemas de ensino, do currículo, e da vida nas instituições tecnicistas para que não nos conduzamos aos modelos educacionais reducionistas? Didáctica de Geografia II G0160 30 A inserção social no mundo dito “globalizado” limita o trilhar da construção da cidadania efectiva. Contudo, cabe lembrarmos que pelas utopias pedagógicas dos que pensam uma História e uma Geografia prospectiva, democrática e inclusiva dá-se início a contradição que marca o movimento interno educativo como conflititivo. Isso nos possibilita pensar, de forma mais ampla, os papéis da escola, e da Geografia. O sentido e significado desse tem conteúdos próprios conforme o tempo e o lugar que ocupa, e merece ser reflectido e/ou ensinado, pois como coloca Lefebvre, “é na vida quotidiana que se situa o núcleo racional, o centro real da práxis”. Sabemos que tanto a escola como a Geografia têm como função social ensinar, mas ensinar o quê? Conteúdos? Condutas? Regras? Que tipos de aluno estão sendo formando? Que tipos de alunos querem formar? Por que e para quê? Por que a preocupação mais com os conteúdos didácticos e menos com os objectivos pedagógicos que deveriam nortear sua escolha ? Conteúdos são importantes, mas prioritariamente, é no pensar que está o alicerce para o novo, é no pensar que está o alicerce para a democracia da interacção social. Reconhecemos que nenhum ser humano consegue pensar sem um mínimo de informações, conceitos, analogias, conhecimentos, mas é emergente que se possa pensar para além dos limites e insuficiênciaspostas em nossa realidade, pelo pensamento simplificador. Pensar significa reflectir sobre algo, ou algum objecto pleno de representações e significações. Pensar implica reflectir os Didáctica de Geografia II G0160 31 conhecimentos sistematizados pelos homens em sua estreita relação com a produção actual e perspectivas futuras. Contudo, implica reflectir conjuntamente, a cultura, as obras, as acções, os valores, a formação humana, o sentido de suas territorialidades e vivências intrínsecas na relação que a sustenta e a mantém. Pensar é um caminho para o entendimento, a informação e a apropriação de um conjunto de habilidades, noções, valores e formas que conduzem a uma outra forma de pensar e agir menos caótica e sincrética e isso depende de nossas opções teórico- metodológicas, dos diferentes métodos e estratégias que utilizamos na promoção da aprendizagem, de nossa forma de entendimento de mundo e opção política, ética e solidária. Reforçar e/ ou negar a natureza dos saberes históricos e geográficos dos alunos na elaboração de novo conhecimento? Legitimar e/ ou não o papel da dominação na efectivação do currículo? Que currículo construir? A “realidade” é fruto de acções humanas na sua interactividade e/ou é coisa do conhecimento objectivo e abstracto? Como compreender a contradição e o imprevisível a partir de nossa convivência com eles? Como se relacionar com a dúvida e a incerteza da rede dos significados dialógicos inscritos nas acções quotidianas, institucionalmente educativas e, da perspectiva de seus autores? Essas são algumas das questões que nos levam a pensar que o nosso caminho está apenas começando, mas que, certamente, qualquer conduta que tomemos deverá ser guiada por uma atitude pluralista sobre as teorias a respeito do indivíduo, da sociedade e do conhecimento. Isso indica que precisamos de desenvolver um enfoque global do sistema de Didáctica de Geografia II G0160 32 ensino, dos problemas do currículo e da vida nas instituições, incluindo ideias sobre as condições para a mudança educativa. Sumário Exercícios 1. Explique, com exemplos concretos, o papel da Geografia escolar na formação das condutas humanas 2. Explique o papel metodológico da subjectividade e identidade na melhoria do processo de ensino e aprendizagem em Geografia Didáctica de Geografia II G0160 33 Unidade VI A Geografia Escolar e a Construção da Cidadania Introdução A prática didáctico-pedagógica da História e da Geografia escolar segue um modelo curricular fragmentado e conteudístico, permeado de práticas centralizadoras do saber e do fazer educativo. Essa manifestação, expressão funcional de um arbitrário cultural, próprio de determinados grupos, assegura um processo educativo anti-histórico e vicioso que não consegue atingir as vicissitudes da lógica da territorialidade do lugar construído pelos sujeitos que o cercam. Esse conjunto de informações, caóticas, unilaterais, transvestido de conteúdo de ensino, incide fortemente na formação do imaginário social que constitui a cidade. Como essa produção é frequentemente inocentada na teia dos discursos sociais e educativos, não consegue interagir com a complexidade da sociedade, do mundo, de seu conhecimento e simbologias inerentes necessitando de interlocução, reflexão e análise dos perigos e possibilidades que essa realidade nos traz. É urgente que o ensino da Geografia possa contribuir ao exercício de uma cidadania efectiva. Ao completar esta unidade / lição, você será capaz de: Objectivos Definir o conceito Cidadania Identificar os mecanismos didáctico-pedagógico para a construção da cidadania na sala de aula Didáctica de Geografia II G0160 34 Explicar, com exemplos concretos, o papel da geografia escolar na construção da cidadania A trajectória curricular da Geografia escolar revela, no interior de seus textos, uma visão meramente vinculada à transmissão de um determinado contexto social, económico, cultural e político. Essa perspectiva vem se apresentando tanto, como conteúdo, quanto como continente da imaginação dos sujeitos no processo educativo. Destarte, se configura num forte atributo simbólico à formação do imaginário social e necessita ser revisto para se repensar a construção social do conhecimento produzido na escola que se amplia para a cidade. Sabemos que a transmissão passiva, estática e naturalizada de uma visão que se impõe como “lógica” forja modelos de professores, de alunos, de escola, de sociedade, de política, de disciplinas, de condutas, produzindo identidades e subjectividades determinadas e essas caracterizam o tipo de sociedade contextualmente vivida. Ultrapassar essa perspectiva do saber-poder como nos lembra Foucault implica reconhecer o universo complexo, repleto de diversidades que se constitui a escola, bem como, o amálgama de relações negociadas entre os saberes técnicos, científicos, crenças, expectativas e visões sociais no processo didáctico-pedagógico. Esse promove inclusões e/ou exclusões no processo histórico que levam os sujeitos a perceberem a “si” e aos “outros”, pelas formas particulares de agir, sentir, operar sobre “si” e sobre o “mundo”. Enfim, pela maneira de conhecer, de compreender e de interpretar seu “eu” nesse mundo. Didáctica de Geografia II G0160 35 É no reconhecimento da condição de “sujeitos” que promovemos o acto da leitura e da interpretação da história quotidiana, como aborda De Certeau. Assim, poderemos renunciar as prescrições atribuídas por quem manipula o que os outros devem ou não pensar. Não podemos mais olhar para as práticas curriculares da Geografia escolar com a mesma inocência de antes. A esse propósito Tomaz Tadeu da Silva afirma: o currículo tem significados que vão além daqueles aos quais as teorias tradicionais nos confinaram. O currículo é lugar, espaço, território. O currículo é trajectória, viagem, percurso. O currículo é autobiografia, nossa vida, curriculum vitae: no currículo se forja nossa identidade. Reconhecer essa dimensão implica perceber o universo mental e as ideologias presentes na realidade, bem como, a emergente necessidade de trabalhar suas especificidades locais tal qual se constituem, nos diferentes estados, cidades, municípios e regiões, diferindo radicalmente daquelas pertencentes a um outro espaço e um outro tempo. Neste sentido, as contribuições da Nova Geografia da Percepção evidenciam pesquisas que relatam o quotidiano ao abordar estudos sobre as subjectividades, o imaginário e o campo simbólico. Esses campos teóricos inseriram-se numa perspectiva cultural e analisam novos caminhos para se pensar o tempo e o espaço vivido no que concerne à linguagem, ao imaginário, ao simbólico, as relações entre o saber e o poder, a subjectividade orientando a Geografia escolar para uma perspectiva social, cultural e do quotidiano, sensibilizando para a volta do sujeito como centro das análises. Tal processo fomentou o desafio de se pensar o novo pelo desenvolvimento de atitudes intelectual críticas em face não somente dos currículos, mas também da escola, dos livros Didáctica de Geografia II G0160 36 didácticos e dos conteúdos estabelecidos de forma vertical pelas autoridades educacionais instituídas. Assim, reformulações no processo curricular da Geografia escolar vêm sendo construídas. Os conteúdos e as metodologias vêm se constituindo com base em diferenças, clivagens e conflitos. Contudo, essa construção social do currículo, o seu planeamento e propostas nem sempre se prolonga para a escola. Essa evidência nos mostra que a acção do professor e dos alunos, nessas áreas, pode se direccionar para além daselecção de conteúdos e metodologias que o orientem, de forma a tornarem-se gerenciadores de um conhecimento, autónomo, criativo, pluralista e propositivo na realidade da escola e da cidade. Gerenciar o conhecimento curricular quanto aos conteúdos, métodos ou estratégias de ensino é reconhecer, num eixo espaço- temporal, as atitudes e percepções dos sujeitos que fizeram e fazem a educação escolar em sua complexa e diferenciada estrutura social. É posicionar-se activamente para que se promova o desenvolvimento de conceitos concernentes à cidade, cidadania e democracia. As contribuições conceituais, teórico-epistemológicas da História e da Geografia, quando consideradas na educação escolar, possibilitam essa construção. O fornecimento didáctico-pedagógico de conceitos geográficos e articulações, facilitam a compreensão do mundo, dos complexos problemas da vida e do homem em sociedade. Didáctica de Geografia II G0160 37 Para um efectivo exercício da participação há que se fornecer caminhos para que a pessoa possa escolher aquele que for compatível com seus valores, sua visão de mundo e com as circunstâncias adversas que cada um irá encontrar. Nessa perspectiva o desenvolvimento de conceitos geográficos, quais sejam: Relações entre presente-passado-futuro; Diferenças e semelhanças; Continuidade e simultaneidade; Ritmos de duração, conjunturas e estruturas; Memória, identidade, subjectividade e cidadania; Espaço; Paisagem; Lugar, território; Escala; Redes Isso ajuda aos sujeitos educativos a tomar consciência de si mesmos, dos outros e da sociedade nas mais diversas relações que se possam estabelecer na sociedade. É na apreensão destes conceitos que os sujeitos aceitam-se a si e aos outros como uma totalidade social que liga o todo com as partes e vice-versa e percebem que sua acção activa é imprescindível para transformar a realidade, contribuindo para a construção de uma sociedade democrática que sabe ver, que sabe julgar, e que, de uma certa maneira sabe ser. Precisamos desmistificar o paradigma reducionista e simplificador, para superar outras adjectivações pejorativas que vulgarizam o conhecimento e a “realidade”. A educação formal precisa inter- Didáctica de Geografia II G0160 38 relacionar o social, o cultural, o científico das diferentes identidades subjectivas, temporais e espaciais, dos diferentes sujeitos do quotidiano escolar. É por meio da consideração dessa manifestação e da não negação do vivido pelo aluno que o ensino da Geografia tornar-se-á consequentemente para os mesmos. Seus saberes deverão ser articulados na mediação de um “novo conhecimento”, pois a articulação coerente desses saberes com os demais são fundamentais para uma aprendizagem significativa capaz de promover transformações territoriais para a construção de tempos e espaços diferenciados conforme os interesses dos grupos naquele momento. A reflexão incitada emergiu de nossa prática como professora do ensino fundamental, das reflexões e das angústias vivenciadas no processo educativo. Como se viu, pouco se reconhece à fala dos sujeitos em aprendizagem, ou pelo menos é grande o abandono com que se trata dela, existindo grande desencantamento no processo ensino-aprendizagem. A manutenção de processos tecnicistas que aprisionam a subjectividade humana discriminam aqueles que não se encaixam no padrão excludente dos “letrados e asseados” e é reforçado pelo desrespeito da coisa pública ou do interesse colectivo. A solidez desse ensino elitista, autoritário e fragmentário implica no ocultamento das subjectividades e corrobora para a frequente mutilação da cidadania em função dos vícios que continuamente persistem em nosso modelo escolar, senão nas esferas cerebrais, sociais e culturais. Os conflitos pela liberdade de decidir e a obrigação de seguir os “determinados” modelos educacionais persistem, mas, caberá apenas uma consciência didáctico-pedagógica do que é o sistema Didáctica de Geografia II G0160 39 educativo e do que é a sociedade, para servir de facto a eles, isso porque não existe neutralidade na educação, e é sempre possível um trabalho educativo voltado para a liberdade e para a participação política. Resta-nos, agora, que nos apropriemos dessa tarefa para que possamos vivenciar a coerência entre o nosso discurso e a nossa prática, pois como coloca Freire, (...) as dificuldades diminuiriam se a escola levasse em consideração a cultura dos oprimidos, sua linguagem, sua forma eficiente de fazer contas, seu saber fragmentário do mundo de onde, afinal, transitam até o saber mais sistematizado, que cabe a escola trabalhar. Obviamente, esta não é uma tarefa a ser cumprida pela escola da classe dominante, mas tarefa a ser realizada na escola da classe dominante, entre nós, agora, por educadores e educadoras progressistas, que vivem a coerência entre seu discurso e sua prática (...). É mais do que necessário que no processo de ensino-aprendizagem da Geografia quotidianamente se possa contemplar a emergência de uma realidade mais justa, pelos novos significados que se constroem na vida dos sujeitos. Alfabetizar o aluno, ensinando-o a ler a realidade e a situar-se nela, bem como estar no mundo de forma consciente, é uma forma de se conhecer como ser social e construtor do seu espaço, pois é pela apropriação do espaço nas materializações diversas e de todas as ordens, próximas ou distantes, que poderemos transformá-lo e dispor de uma melhor qualidade de vida, no concernente à cidadania. Didáctica de Geografia II G0160 40 Foi tendo em vista o enfrentamento e a superação de práticas educativas que só favorecem a legitimação das desigualdades que surgiu a razão principal para esta reflexão. Assim, sem pretendermos levantar questões teóricas mais profundas, espera-se que, de alguma forma, as reflexões e sugestões apresentadas sejam úteis aos futuros professores que desejam ensinar Geografia para seus alunos caracterizarem melhor a realidade e, portanto, tornem se mais conscientes e participativos do espaço em que vivem. Sumário Exercícios 1. Defina o conceito Cidadania 2. Identifique os mecanismos didáctico-pedagógicos para a construção da cidadania na sala de aula 3. Explique, com exemplos concretos, o papel da Geografia escolar na construção da cidadania Didáctica de Geografia II G0160 41 Unidade VII Novas tendências Didáctico metodológicas aplicáveis ao ensino da Geografia Introdução Esta unidade faz uma reflexão crítica do ensino da Geografia escolar neste início de século XXI. Reflecte sobre o processo didáctico-pedagógico no âmbito do domínio dos objectos, das técnicas e da informação. Da mesma forma, levanta questões sobre o ensinar e para que ensinar a Geografia. Ao completar esta unidade / lição, você será capaz de: Objectivos Definir os conceitos Metodologia e Processo Didáctico- Pedagógico; Identificar as novas tendências didáctico pedagógicas aplicáveis ao ensino da Geografia. Entende-se que a prática da Geografia na escola está recheada de hábitos ancestrais e, esses continuam a distorcer a realidade construída historicamente distanciando os homens de uma apropriação do espaço nos moldes de uma cidadania efectiva. O processo didáctico-pedagógico da Geografia escolar, neste inicio de século XXI, suscita reflexões quanto ao tratamento com as questões espaciais, destacando aqui os factos e os acontecimentos locais, regionais, nacionais e/ou globais, bem como, a política Didáctica de Geografia II G0160 42 escolar baseada na pedagogia da mudança / transformação dos hábitos e atitudes dosalunos para a produção do exercício da cidadania. Nesse sentido, o repensar na dimensão técnica, política e ética do processo ensino-aprendizagem na Geografia escolar e suas repercussões na sociedade, constitui o ponto fulcral nas novas tendências didactico-metodologicas aplicáveis ao ensino da Geografia. Opta-se por esse caminho para reflectir, de forma clara e profunda, o que o ensino da Geografia vem fomentando para a formação de sujeitos que reconheçam a dimensão social de sua participação na apropriação do espaço, pois entende-se que o trabalho com essa disciplina pressupõe um projecto de alfabetização espacial que considera a dimensão social, técnica e política para a desconstrução da ideia de encarar a sociedade como mera mercadoria. Falar da questão didáctico-pedagógica da Geografia escolar nos remete a uma reflexão em torno das sérias críticas por qual passa seu ensino, como, aliás, acontece com o ensino em geral. Deve-se a isto à tradicional postura da Geografia e do professor, que consideram como importante, no processo educativo: os dados, as informações, o elenco de curiosidades, os conhecimentos gerais, as localizações, enfim, o conteúdo acessório, como lembra-nos Brabant (1989). Discurso descritivo, até determinista, a Geografia na escola elimina, na sua forma constitutiva, toda preocupação de explicação. A primeira preocupação é descrever em lugar de explicar; inventariar em lugar de analisar e de interpretar. Didáctica de Geografia II G0160 43 Essa característica é reforçada pelo enciclopedismo e avança no sentido de uma despolitização total. Esse escopo, herança do século XIX, interfere no carácter propedêutico de uma Geografia voltada para a cidadania, pois não consegue formar e manter conceitos geográficos válidos cientificamente e relevantes socialmente, existindo um predomínio forte de um ensino alinhado com apenas uma orientação paradigmática da Geografia e, em muitas situações didácticas verifica-se: A negligência em relação ao ensino da Geografia Física em favor de uma maximização da Geografia Humana; A negligência – na verdade, o desaparecimento quase completo de sala de aula e dos livros didácticos – da Geografia Regional, em termos da caracterização e da descrição das macro-regiões do mundo; Descanso – quando não abandono completo – de práticas cartográficas e, até mesmo, do uso de Atlas, como também, uma das técnicas de tratamento computacional das informações geográficas (geoprocessamento – SIG), existindo, portanto, um atraso desnecessário. Mesmo após o Movimento de Renovação denominado “Geografia Crítica”, na década de 70-80, nota-se que pouco foi modificado no tratamento didáctico-pedagógico da Geografia na sala de aula o qual poderia contribuir para que os sujeitos envolvidos se reconhecessem como sujeitos do mundo em que vivem, indivíduos sociais, capazes de construir a sua história, a sua sociedade, o seu espaço e que conseguissem ter os mecanismos e os instrumentos para tanto. A propósito, a dimensão social de construção do espaço geográfico, tem uma literatura bastante difundida no meio científico, não apenas pelos “novos geógrafos”, mas também por pensadores de Didáctica de Geografia II G0160 44 outras áreas, contudo a situação de atraso ainda é persistente no quotidiano da escola. Desta feita, dificilmente o ensino, ora apresentado, contribuirá para que os sujeitos em aprendizagem expressem livremente o desenvolvimento de suas ideias, de suas atitudes e os procedimentos que lhes são característica frente ao mundo que se globaliza desigualmente. A nosso ver essa questão pode ser colocada num plano anterior decorrente de uma escola estruturada a partir de uma divisão intelectual e técnica do trabalho em que se urgia um “adestramento docente” para que o professor exercesse apenas a função de executor de planos, projectos educativos e metodologias pensadas por outrem num espaço e tempo controlados e/ou vigiados (FOUCAULT, 1987). Dessa forma, os impedindo de pensar sobre a função social do ensino da Geografia no contexto da vivência da sala de aula, da hierarquia da instituição escolar e da sociedade. Decorrente dessa prática, a sala de aula da Geografia escolar segue, em seu processo educativo, um modelo pedagógico curricular conteudístico e, fortemente, padronizado em substituição à consciência crítica da maioria da sociedade e de sua participação. Essa lógica funcionalista desvela o pragmatismo que a sociedade ocidental vem mantendo e reforçando no dia-a-dia do fazer profissional da rede pública e privada de ensino, pois essa prioriza, como meta educacional, às políticas educacionais “pré- estabelecidas” em detrimento do currículo real, advindo do quotidiano escolar em seus mais variados aspectos e sua sistematização (SILVA, 2002). Didáctica de Geografia II G0160 45 Essa pedagogia equivocada condiciona a prática do professor a uma visão reducionista da educação, e é constantemente reforçada pelos modelos pedagógicos “prontos e acabados” para não se correr o risco de tentar alternativas que não interessam. Situação que acaba produzindo inúmeras incorrecções que não pode ser considerada fruto de mero descuido. Dessa forma, o processo didáctico-pedagógico na Geografia escolar, limita-se, meramente, à utilização de um determinado livro didáctico e este é escolhido pelo possível “conhecimento” do conjunto de conteúdos nele contido; por que dispõe de caderno do professor e sugestões de actividades e, ao uso dos programas e provas do vestibular para listar o conteúdo programático a ser desenvolvido no decorrer do ano lectivo. Certamente, essa opção, corresponde à prática daqueles professores que não encontraram tempo e espaço para reflexão. Vesentini (2001) enriquece a discussão ao expor que [...] o ensino é funcional para o capitalismo moderno, mas, contraditoriamente, ele é também um agente de mudanças sociais e uma conquista democrática. Aliás, pode-se dizer o mesmo de outras instituições similares, como por exemplo, a indústria cultural (obras de arte como mercadorias, livros, filmes, meios de comunicação, etc.): ela foi criada pela reprodução capitalista e é parte inerente da mesma, mas ao mesmo tempo é igualmente uma possibilidade de se alargarem as fronteiras do possível, de se pensar o novo, de subverter a ordem das coisas [...] Não é possível estabelecer uma fronteira nítida entre o papel da escola como reprodutora do sistema e como agente de mudanças sociais [...]. Didáctica de Geografia II G0160 46 É na identificação das lacunas, de ordem didáctico-pedagógica na sala de aula de Geografia, que poderemos perceber a emergência da mudança do paradigma persistentemente presente no âmbito escolar. Porém, precisamos reflectir sobre as seguintes questões: A quem tem servido o conhecimento passado pelo livro didáctico? Aos professores? A escola? Ao grupo dominante? Aos alunos? Que concepção de homem, de sociedade, de mundo e de participação construímos na relação que mediamos com os alunos? Certamente, ao reflectir sobre essas questões conquistaríamos, gradualmente, a capacidade de enfrentar a superficialidade mantida, insistentemente, por nossos sistemas educativos. Tomadas essas questões há, ainda, a necessidade de reflectir sobre o encaminhamento dado ao ensino da Geografia quanto: a pedagogia, o método, e o conteúdo, estando concomitantemente intrínseca a avaliação. Ao se ter clara a dimensão pedagógica do ensino e coerência no desenvolvimento do processo educativo, está contemplada também a avaliação. Sabemos que os desafios contextuais emergentes são diversos e que a acção do professor deve se direccionar para além
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