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CENTRO UNIVERSITÁRIO DO SUL DE MINAS ARQUITETURA E URBANISMO ALICE VIANNA REIS FONSECA BRUNO VITOR DE OLIVEIRA ENEIDA ELIAS NUNES FLÁVIA DE AVILA TOFANO GIORDANY PEDROSO SOUZA IZIS BELATO LOPES MICHELI PRADO NAVES ROGER WILKER ETO MONTOANI LEITE PROJETO INTERDISCLIPINAR DE CURSO Arquitetura Paisagística Varginha 2014 ALICE VIANNA REIS FONSECA BRUNO VITOR DE OLIVEIRA ENEIDA ELIAS NUNES FLÁVIA DE AVILA TOFANO GIORDANY PEDROSO SOUZA IZIS BELATO LOPES MICHELI PRADO NAVES ROGER WILKER ETO MONTOANI LEITE PROJETO INTERDISCIPLINAR DE CURSO Arquitetura Paisagística Trabalho apresentado ao curso de Arquitetura e Urbanismo do Centro Universitário do Sul de Minas como pré-requisito para nota interdisciplinar referente ao 1º semestre letivo. Sob orientação do Prof. Pedro Paulo Pereira Albernaz de Mendonça. Varginha 2014 AGRADECIMENTO À professora Ana Paula Ricepute, à Eliana Costa, responsável pelo Arquivo da Prefeitura Municipal de Varginha e à Cláudia Breias, Arquiteta de Interiores e Paisagista, pela orientação apoio e confiança. Ao nosso orientador Pedro Paulo Mendonça, pelo empenho dedicado à elaboração do Projeto. A esta universidade, seu corpo docente, direção e administração que oportunizaram a efetividade da educação em nosso processo de formação profissional. LISTA DE ILUSTRAÇÕES Figura 1-Jardins Suspensos da Babilônia ....................................................................... 15 Figura 2 - Templo e Jardim de Baha’i, Haifa, ISRAEL. ................................................ 16 Figura 3 - Taj Mahal, Índia ............................................................................................. 17 Figura 4 - Jardim Chines ................................................................................................ 18 Figura 5 - Jardim Egípicio .............................................................................................. 19 Figura 6 - Jardim Grego ................................................................................................. 20 Figura 7 - Villa Adriana,Tivoli, Roma ........................................................................... 21 Figura 8 - Piazza del Campo, Siena. foto: BECKY DAVE ........................................... 22 Figura 9 - Villa D’Este, Tivoli, Roma ............................................................................ 22 Figura 10 - Jardins de Vaux-le-Vicomte, França ........................................................... 23 Figura 11 - Pagode – Kwe Garden. Arquiteto Sir William Chambers ........................... 23 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ........................................................................................................ 8 2 CONCEITOS BÁSICOS DE PAISAGISMO ......................................................... 10 2.1. Paisagismo ....................................................................................................... 10 2.1.1. Micro paisagismo ..................................................................................... 11 2.1.2. Macro paisagismo ..................................................................................... 12 2.2. Paisagem .......................................................................................................... 12 2.3. Jardim ............................................................................................................... 13 3 HISTÓRIA E EVOLUÇÃO DO PAISAGISMO.................................................... 14 3.1 Jardins Suspensos da Babilônia ....................................................................... 15 3.2 Jardins Persas ................................................................................................... 16 3.3 Jardins Indianos ............................................................................................... 17 3.4 Jardins Chineses ............................................................................................... 18 3.5 Jardim Egípcio ................................................................................................. 19 3.6 Jardim Grego .................................................................................................... 20 3.7 Jardins Romanos .............................................................................................. 21 3.8 Jardins Medievais ............................................................................................ 22 3.9 Jardins Renascentistas ...................................................................................... 22 3.10 Jardins Barrocos ............................................................................................... 23 3.11 Jardim Inglês .................................................................................................... 23 4 HISTÓRIA DO PAISAGISMO NO BRASIL ........................................................ 24 5 PAISAGEM URBANA .......................................................................................... 27 5.1 As diferentes funções das áreas verdes urbanas .............................................. 28 6 PAISAGISMO NA ARQUITETURA .................................................................... 30 6.1 Paisagismo e o homem .................................................................................... 31 7 O PROFISSIONAL PAISAGISTA ........................................................................ 33 8 PROJETO PAISAGÍSTICO ................................................................................... 35 8.1 A arte da Topiaria ............................................................................................ 36 8.2 Plantas Ornamentais utilizadas em Paisagismo ............................................... 37 8.2.1 Forrações .................................................................................................. 37 8.2.2 Arbustos .................................................................................................... 38 8.2.3 Árvores ..................................................................................................... 38 8.2.4 Palmeiras .................................................................................................. 39 8.2.5 Trepadeiras ............................................................................................... 39 8.2.6 Plantas Entoucerantes ............................................................................... 39 8.2.7 Plantas Aquáticas ...................................................................................... 40 8.2.8 Gramas ...................................................................................................... 40 8.2.9 Bromélias .................................................................................................. 40 8.2.10 Suculentas ................................................................................................. 41 8.3 Elementos paisagísticos ................................................................................... 42 8.3.1 Elementos Naturais ................................................................................... 42 8.3.2 Elementos Arquitetônicos ........................................................................43 8.3.3 Iluminação ................................................................................................ 45 9 REGULAMENTAÇÃO DA ARQUITETURA PAISAGÍSTICA ......................... 47 CONCLUSÃO ................................................................................................................ 50 REFERÊNCIAS ............................................................................................................. 51 8 1 INTRODUÇÃO No final do século XX, ouviu-se muito que diversas profissões e ações cairiam em desuso, mas a evidência aponta que o Paisagismo continuará cada vez mais forte. Falar em paisagismo é falar sobre uma atividade que sempre esteve a serviço do homem e torna-se cada vez mais necessária para a vida harmônica no próximo milênio. As enciclopédias, em geral, referem-se ao paisagismo como arquitetura paisagística. E não é sem razão. O paisagismo provavelmente surgiu, ou mostrou seus primeiros sinais, quando o homem sentiu a necessidade de modificar o ambiente em que vivia, adaptando a natureza que o cercava, de forma a tornar sua sobrevivência mais atraente; mais agradável e conveniente. Diversas descobertas arqueológicas provam que essa necessidade manifestou-se em tempos muito remotos, embora não se tenha como situar exatamente essa data. A arte do paisagismo tem acompanhado e participado da história do homem. Dos Jardins Suspensos da Babilônia - uma das sete maravilhas do mundo -, à época do Renascimento vê-se que a arte do paisagismo alcançou um notório desenvolvimento. Podemos perceber, ao longo da história, que a arte paisagística europeia atingiu grande expressão num momento em que a sociedade era dominada pela hierárquica nobreza. Com as transformações que foram ocorrendo ao longo do tempo, a arte do paisagismo começou a alcançar a sociedade em geral. Um dos primeiros exemplos de arquitetura paisagística que pode ser encarada como um serviço público é o Central Park de Nova York, uma obra com objetivos bem definidos à população. No Brasil a história do paisagismo praticamente tem inicio com a vinda de Dom João VI para o Rio de Janeiro, quando foram criadas praças e parques, num processo de urbanização da cidade, para receber as instalações da corte. A arquitetura e urbanismo em relação ao paisagismo vivem em estreitas relações e conotações históricas e culturais, caminhando numa relação simbólica, a serviço do homem e de sua necessidade de abrigo e proteção, da maneira mais conveniente: em harmonia com a natureza. Os valores que se atribuem ao paisagismo 9 atualmente passam a ser o prazer estético, o status, a criatividade e a emotividade, todos intimamente ligados com o termo. As áreas verdes, os parques, a arborização das ruas, as avenidas, as praças públicas, os clubes, os jardins públicos ou particulares, passaram de locais com algumas plantas dispostas sem nenhum cuidado a locais desenhados e com composições de cores, formas e texturas, proporcionando um visual extremamente amenizador e relaxante e despertando a arte e o contato com o belo que provoca uma nova visão de mundo. O Paisagismo, portanto, vem com o intuito de amenizar o “cinza” dos prédios, do asfalto, e anular o efeito da poluição urbana. Além de sua função estética e ecológica, independente das condições naturais climáticas ou culturais, possui uma função social inegável, que promove o convívio comunitário e leva a natureza para lugares antes não imaginados, pois a vegetação, como um todo, é de grande importância na melhoria das condições de vida nos centros urbanos. 10 2 CONCEITOS BÁSICOS DE PAISAGISMO 2.1. Paisagismo Tomando como referência a evolução das conceituações de Paisagismo, das atas oficiais da primeira entidade corporativa desta área, a ASLA (American Society of Landascape Architecture), será possível uma visão da ampliação e complexidade do campo. A primeira definição retirada das atas de 1902-1920 coloca: “A arquitetura da paisagem é a arte de adequar a terra para uso e deleite humanos”, abordagem que se estende à profissão e ao campo de pesquisa. Com os progressos sócio-culturais, inovações técnicas e a preocupação com as questões ambientais, o paisagismo continuou ampliando gradativamente sua área de ação. Em 1983, a definição da ASLA classificou a arquitetura da paisagem como: “a profissão que aplica princípios artísticos e científicos à pesquisa, ao planejamento, ao projeto e manejo de ambientes construídos e naturais. Os profissionais atuantes utilizam habilidades criativas e técnicas, além de conhecimento científico, cultural e político na organização planejada de elementos naturais e construídos. Os ambientes resultantes devem atender a propósitos estéticos, funcionais, de segurança e fruição”; “pode incluir, para fins de desenvolvimento, valorização e preservação da paisagem: pesquisa, seleção e alocação de recursos hídricos e do solo, para uso apropriado; estudos de viabilidade; elaboração de critérios gráficos e escritos, a fim de nortear o planejamento e projetos concernentes ao desenvolvimento territorial; elaboração, revisão e análise de planos diretores; produção de planos territoriais abrangentes, projetos de movimento de terra, drenagem, irrigação, plantação e detalhes construtivos; especificações; orçamentos e planilhas de custo para desenvolvimento do território; colaboração no projeto de estradas, pontes e estruturas no tocante aos aspectos funcionais e estéticos das áreas envolvidas; negociação e organização dos 11 projetos para fins de execução; vistorias e inspeção de execução, restauro e manutenção”. O Grupo de Desenho Urbano no México, Dani Freixes e Vicente Miranda na Espanha e George Hargreaves nos Estados Unidos, entendem paisagem, como algo que não pode nascer da invenção, mas das raízes culturais do lugar. Então a paisagem é essência cultural do passado, transmitida de forma unitária em um conjunto de metáforas significativas e coetâneas. O conceito de paisagismo está na verdade relacionado com a arte ambiental, que é um trabalho de completa interação do autor com o meio ambiente, tanto que o paisagismo combina os conhecimentos de Arte, que é a forma de expressão cuja ocorrência se verifica quando um conjunto de emoções atua sobre a sensibilidade humana; Ciência que é a reunião de leis abstratas, deduzidas dos fenômenos da realidade exterior ou interior e técnica, que se define pela aplicação nos trabalhos de rotina, das leis abstratas que vêm da ciência e etc. Apesar da aparente simplicidade, o Paisagismo só atingirá sua expressão máxima se levar em conta diversas ciências, ou técnicas, a ele relacionadas, tais como: Matemática, psicologia, botânica, estudo de solos (edafologia), geografia, história, topografia, engenharia, arquitetura, urbanismo e agronomia entre outras. 2.1.1. Micro paisagismo Consiste no trabalho de paisagismo realizado em pequenos ou micro espaços. Na maioria dos casos, o micro paisagismo pode ser desenvolvido por um só profissional, por ser, predominantemente, criação artística, envolvendo soluções técnicas simples. Normalmente o micro paisagismo apresenta características como: Escala visual pequena (pequenas áreas); Estética como item principal; Aplicações em jardins internos, vasos, jardineiras ou floreiras, arborização em vias públicas, jardins particulares, praças públicas, jardins de vizinhança, campos esportivos, etc.; Na 12 representação gráfica desse tipo de projeto, a escala está entre 1:50 e 1:1000; Áreas menores do que 1.000m2. 2.1.2. Macro paisagismoConsiste no trabalho realizado em espaços amplos. Quase sempre, é um trabalho de equipe com profissionais de diferentes áreas, porque envolve problemas técnicos complexos. As características que o macro paisagismo apresenta são: Escala visual ampla (áreas extensas); Preocupa-se primeiramente com a preservação da natureza. 2.2. Paisagem A paisagem deve ser vista não como produto, mas como processo, em uma dinâmica de evolução no tempo e no espaço, com pesquisa de tecnologias sustentáveis, projeto com práticas de regeneração e visão da cidade como ecossistema (MCHARG, 1967). Paisagem é uma forma de expressão física e visual do ambiente o qual estamos inseridos. Paisagismo não é só falar sobre jardim, é algo mais amplo. É o tratamento e a discussão dos espaços livres de edificação ou de urbanização (MACEDO, 1991). A paisagem refere-se ao espaço de terreno abrangido em um lance de vista, ou extensão territorial a partir de um ponto determinado. Pode ser classificada em: Natural: sem a intervenção do homem; Artificial: planejada, ou seja, um jardim. 13 2.3. Jardim Jardim é uma palavra de origem hebraica e vem de gan (proteger, defender) + eden (prazer, satisfação, encanto, delícia). A concepção inicial e, ainda hoje, a mais comum de jardim está ligada às palavras hebraicas originais: um mundo ideal, pequeno, perfeito e privativo. Na tradição judaico-cristã, a ideia primitiva de jardim é de paraíso, um lugar com plantas ornamentais e frutíferas formando um ambiente de harmonia, beleza e satisfação espiritual. Um jardim é a representação idealizada da paisagem como cada civilização (ou até cada pessoa) desejaria que ela fosse. É um local que pode ser percebido pelos cinco sentidos. É dinâmico, porque o elemento vegetal, como o ser vivo, está sujeito a um ciclo biológico. O jardim se modifica com o passar do tempo (devido ao crescimento) e durante as estações do ano (floração, frutificação, queda das folhas, mudança de cor, etc.). (ALVES, 2012) 14 3 HISTÓRIA E EVOLUÇÃO DO PAISAGISMO A história do Paisagismo não é linear e existem variações entre os modelos de uma determinada época, como por exemplo, a concepção paisagística inglesa do século XVIII e o que a França adotou, em seguida, como sendo o “Jardins Anglais” e mesmo diferenças bastante marcantes entre os paisagistas ingleses e os adeptos dos impulsos naturalísticos do mesmo período. O campo projetual do Paisagismo em sua evolução, por tradição, acha-se fortemente ligado à história dos jardins. Veem-se diferentes culturas gerando diferentes projetos, dentro de um mesmo paradigma. Percebem-se até mesmo no modernismo, com suas tendências predominantes, assimilações de nuances com interpretações concomitantes. No estilo contemporâneo, a crise de paradigmas gera uma busca para atender as demandas, desejos e necessidades crescentes da sociedade urbana, que motivou o aparecimento de diferentes enfoques não excludentes, na apreensão, no planejamento e projeto da paisagem. Essa crise de paradigmas deu margem a uma certa especialização, contrariando visões de síntese que eram ensaiadas no final do século passado, principalmente pelo paisagista Olmsted, o idealizador de um grande número de parques urbanos que procurou atribuir à profissão uma dimensão mais totalizante, compatibilizando o entendimento dos processos naturais na cidade e na região, com os processos sócio- culturais, sem deixar de trabalhar com as possibilidades criativas na conformação das paisagens. Ao longo da história, os jardins passaram por uma complexa evolução até atingirem a concepção atual do espaço verde funcional. Ao aliar conhecimentos científicos de botânica, variações climáticas, estilos arquitetônicos, agricultura, arte e vários outros fatores (equilíbrio de cores, formas, texturas, etc.) pretende-se resultar num projeto harmônico, utilizando-se de plantas adequadas a cada área, que além de ornamentais sejam compatíveis com o clima, solo e lugar onde será implantado o 15 jardim. Por menor ou mais simples que seja, um jardim bem elaborado valoriza o ambiente. Veja a seguir alguns estilos de jardins: 3.1 Jardins Suspensos da Babilônia Desde a Antiguidade, o verde esteve associado às atividades lúdicas do ser humano. Os jardins suspensos da babilônia foram construídos em 800 a.C., e são considerados uma das Sete Maravilhas do Mundo Antigo. Eles eram compostos por terraços arborizados alimentados por irrigação. Esse nome não retrata a realidade. Na verdade, os jardins eram construídos em andares, ao invés de serem suspensos, como o nome indica. A construção dos jardins em terraços fazia com que estes se parecessem com pequenas elevações, ou montanhas, com as árvores ao topo, sendo vistas de uma distância considerável. Sem dúvida, este fato fez perpetuar o sentido de ilusão e maravilha se perpetuasse. Os jardins botânicos com flores e esculturas surgiam dentre piscinas e fontes. Árvores frutíferas acentuavam as áreas retangulares cultivadas, sob a sombra das árvores. A água descia em cascata do lago reservatório por sobre a vegetação localizada em baixo. FIGURA 1-JARDINS SUSPENSOS DA BABILÔNIA 16 3.2 Jardins Persas Os antigos persas criaram jardins de grande exuberância, destinados à diversão, ao prazer e ao luxo, compostos por árvores frutíferas e flores aromáticas, carregados de valores religiosos e simbólicos. De traçado cruciforme, possuíam um cano d’água circundado por áreas verdes ornamentais. Os jardins persas tinham configuração baseada em plano quadrado, rodeados por muros altos com estilo bem formal. Quatro canais simbolizando os quatro rios da vida dividiam o plano: cada canal tinha em sua borda fileiras de ciprestes que representavam a eternidade. Cada parte era adornada com árvores frutíferas, símbolo do renascimento da vida na primavera. Um pavilhão coberto na parte central se constituía em um lugar para descanso e meditação ao abrigo do sol. Todo o conjunto possuía rosas e outras flores perfumadas, como complemento de poesia, de introspecção e de muita beleza. FIGURA 2 - TEMPLO E JARDIM DE BAHA’I, HAIFA, ISRAEL. 17 3.3 Jardins Indianos Na Índia, o jardim possuía traçado geométrico e simétrico, composto por canais, repuxos e canteiros de vegetação, de inspiração persa. Suas características mais marcantes eram a modulação, a decoração profusa e a temática fantástica (animais, deuses e monstros). A Índia tem um clima tropical, o que influencia bastante no paisagismo, com variadas topografias incluindo picos de montanhas, grandes rochas, rios, e vastas florestas. A paixão pelos jardins e o simbolismo foi herdado dos persas e podem ser vistos pelo uso constante de lagos em formas geométricas, fontes, percursos de águas e plataformas de pedra para que o Rajah (imperador) possa se sentar. O espaço ao ar livre é muito valorizado para o descanso, a meditação e a contemplação. É prática comum na Índia a larga utilização de canais de água elevados. FIGURA 3 - TAJ MAHAL, ÍNDIA 18 3.4 Jardins Chineses O paisagismo chinês procurava evidenciar, de forma simbólica, os elementos da natureza, da qual o homem era subordinado. Explorando os diferentes desníveis do terreno e baseado em um traçado curvilíneo e suave, expressava equilíbrio e harmonia. O jardim chinês é irregular, assimétrico e misterioso. Não tem um eixo central nem um panorama geral. É um passeio variado, cada vez diferente para o próprio visitante; nunca revelapor completo a sua composição e assim conserva o encanto do seu segredo. Ele procura um contato com a natureza, e a combinação de diversos elementos: luzes e sombras, construções e plantas; lagos e pedras. E embora estejam cercados oferecem uma permanente sensação de liberdade. Todo encanto reside na troca de paisagem de acordo com as mudanças de estações. FIGURA 4 - JARDIM CHINES 19 3.5 Jardim Egípcio No Egito antigo, os jardins repetiam as linhas retas e formas geométricas em simetria do Oriente Médio. Eles eram situados próximos a templos e residências, formados por palmeiras, sicômoros, figueiras e parreiras, tendo caráter mais prático que ornamental. Os jardins mais antigos de que se tem notícia foram os egípcios – há cerca de 4000 anos. Eram influenciados pela crença deste povo em astrologia, ocupavam grandes espaços às margens do rio Nilo e tinham traçados geométricos. As plantas usadas eram, em sua maioria, úteis e frutíferas. Algumas tinham um significado simbólico, como o lótus e o papiro. Os antigos egípcios gostavam imensamente de possuir jardins em suas residências. Os que tinham poucas posses plantavam pelo menos algumas árvores nos quintais de suas moradias. As pessoas abastadas mandavam construir jardins que rivalizavam com as próprias residências. Os jardins egípcios influenciaram os gregos que, no entanto, não usavam formas geométricas devido à topografia da região. FIGURA 5 - JARDIM EGÍPICIO 20 3.6 Jardim Grego Os jardins gregos, apesar de fortemente influenciados pelos jardins egípcios, apresentaram diferenças notáveis em razão da topografia acidentada da região e o tipo de clima. Eles possuíam características próximas das naturais, fugindo da simetria dos egípcios. Desenvolviam-se em recintos fechados, onde eram cultivadas plantas úteis, principalmente maçãs, peras, figos, romãs, azeitonas, uva e até horta. A introdução de colunas e pórticos fazia uma transição harmoniosa entre o exterior e interior e o jardim era um prolongamento das partes da casa, às quais ele se ligava. A sua principal característica era a simplicidade. Os jardins também ficaram marcados por possuir esculturas humanas e de animais mais próximas da realidade. Os gregos tendiam a recusar as linhas rígidas, buscando a simplicidade e respeitando a topografia. Seus jardins ocorriam em recintos fechados, onde cultivavam plantas aromáticas e medicinais. Foi a partir deles que surgiu a ideia dos pomares. Os gregos tendiam a recusar as linhas rígidas, buscando a simplicidade e respeitando a topografia. Seus jardins ocorriam em recintos fechados, onde cultivavam plantas aromáticas e medicinais. Foi a partir deles que surgiu a ideia dos pomares. FIGURA 6 - JARDIM GREGO 21 3.7 Jardins Romanos Foi em Roma que surgiu ohortus, um jardim cercado destinado ao cultivo de legumes, ervas, frutas e também flores. Os jardins de recreação apareceram somente no final do século II a.C., caracterizando-se pelo traçado metódico e ordenado, composto por estátuas, pergolados, fontes e bancos, dispostos de forma regular e retilínea. FIGURA 7 - VILLA ADRIANA,TIVOLI, ROMA 22 3.8 Jardins Medievais Na Idade Média, os jardins praticamente desapareceram, reduzindo-se a áreas confinadas em claustros e destinadas ao cultivo. Por sua vez, pareceram as praças, que se tornaram espaços importantes na cidade, devido às funções que desempenhavam. FIGURA 8 - PIAZZA DEL CAMPO, SIENA. FOTO: BECKY DAVE 3.9 Jardins Renascentistas Foi a partir do século XVI que as praças e os jardins passaram a ter maior importância no espaço urbano. Nessa fase adquiriram valor estético e utilitário, principalmente na Itália, França e Inglaterra, onde se transformaram em elementos fundamentais de composição da cidade renascentista e barroca. No Renascimento, o jardim italiano retomou os elementos decorativos da antiga Roma, explorando seu caráter geométrico, traçado linear e profusão de estátuas e fontes. Aplicavam-se eixos e coordenadas na sua composição, geralmente monumental. FIGURA 9 - VILLA D’ESTE, TIVOLI, ROMA 23 3.10 Jardins Barrocos No século XVII, o Barroco conduz à exuberância dos jardins , os quais adquirem grandiosidade, complexidade e uma rígida distribuição, marcada por perspectivas sem fim e a ideia do domínio do homem sobre a natureza. FIGURA 10 - JARDINS DE VAUX-LE-VICOMTE, FRANÇA 3.11 Jardim Inglês No século XVIII, como reação aos franceses e por influência oriental, os ingleses propuseram uma reaproximação das formas orgânicas e naturais, através de paisagens pitorescas que propunham uma continuidade com os sistemas existentes. FIGURA 11 - PAGODE – KWE GARDEN. ARQUITETO SIR WILLIAM CHAMBERS 24 4 HISTÓRIA DO PAISAGISMO NO BRASIL Os trabalhos de paisagismo têm longa tradição no país, tendo suas origens no final do século XVII com o projeto para o Passeio Público do Rio de Janeiro, concebido por Mestre Valentim, durante a gestão do vice-rei Dom Luís de Vasconcelos em 1773. Durante o século XIX, com a construção da nação brasileira, com o aumento das populações urbanas e a mudança dos hábitos sociais, o projeto de paisagismo urbano se consolida no país, tendo como principal cliente e mecenas, a elite do Império e da República Velha, que patrocinou o ajardinamento e tratamento paisagístico das suas áreas de moradia, propiciando a criação de praças, parques públicos e privados, boulevards, promenades e jardins sofisticados, pelas quais passeavam as famílias de posses da época. Até meados do século XIX, influenciados pelas mulheres, membros da corte solicitavam aos cônsules e embaixadores, sementes e mudas de espécies floríferas para ornamentar os jardins dos palacetes que se localizavam no bairro São Cristóvão, no Rio de Janeiro. Com isso chegaram ao Brasil algumas espécies como: agapantos, roseiras, copos-de-leite, dálias, jasmins, lírios e craveiros entre outras. A palmeira-imperial (Roystoneaoleracea), originária da Venezuela e da Colômbia, chegou ao Brasil trazida pelos portugueses libertados da Ilha de Maurício. Sementes dessa espécie foram presenteadas ao príncipe D. João VI, que as plantou no Horto Real. Já a palmeira-real (Roystonea regia), nativa de Cuba e Porto Rico, de porte mais baixo e estipe mais grosso, foi introduzida no país quase um século depois. Em 1859, Dom Pedro II contratou o engenheiro hidráulico francês August Marie Glaziou, integrante de uma missão francesa, que foi o principal paisagista do Império e que ocupou o cargo de Diretor Geral de Matas e Jardins. Glaziou projetou os parques da Corte, entre eles o da Quinta da Boa Vista, o de São Cristóvão, o do Palácio de Verão de Petrópolis, o do Barão de Nova Friburgo, o Parque São Clemente e muitos outros, e ainda a requalificação do Passeio Público. Sua obra, de alta qualidade, incorporou a tradição anglo-saxônica do tratamento da paisagem a tropicalidade da vegetação local, criando uma simbiose perfeita entre a rica flora existente e os cânones românticos de seu modo de projetar. 25 Muitos foram os paisagistas que trabalharam com a categoria no século XIX e no século XX. Durante a Primeira República, especialmente no Rio de Janeiro e São Paulo, paisagistas como Paul Villon, Arsene Puttmans e Reynaldo Dierberguer, produziam projetos tanto particulares como para o Estado. A tradição cultural do período, influenciada pelas tradições europeias - francesas, italianas e inglesas - se refletediretamente na configuração do projeto paisagístico nacional, numa mescla de formas, materiais e vegetação tropical ou não. A este modo de pensar e conceber o projeto, denominamos de Eclético, que tem dentro de si três correntes formais principais: Clássica, Romântica e Mista Clássico-Romântica. O século XX marca a consolidação da atividade paisagística no país, com o aumento das demandas de espaços tratados paisagisticamente pela população urbana, em constante expansão. Muitos segmentos sociais começam a demandar espaços para atividades ao ar livre e a recreação é um dos argumentos para a organização do espaço livre, tanto público como privado. Os playgrounds e quadras esportivas, as piscinas (principalmente nos prédios de classe média e residenciais de classe média-alta) e o encontro na praia, se tornam hábitos em todas as cidades praianas brasileiras. A instalação de praças e parques passa a ser solicitada nos bairros e subúrbios populares distantes, carentes de qualquer estrutura espacial mínima de lazer. O século XX é um período de rupturas formais no paisagismo, a primeira delas originando o que denominamos de Escola Modernista, com forte influência do trabalho geometrizado e funcionalista dos paisagistas californianos, como Church, Eckbo e Halprin e dos fortes e pessoais traçados plasticamente rocambólicos ou por vezes também geométricos de Roberto Burle Marx. Burle Marx, este foi o primeiro paisagista a romper os cânones tradicionais do Ecletismo em obras de porte para o governo do Estado Novo. Sua obra, fundamental na história do paisagismo nacional e internacional, baseada em um sentimento nacionalista forte e formalmente diferenciada, se tornou ícone da modernidade de então, sendo o paisagista constantemente chamado para colaborar nos grandes projetos do período getulista e dos primórdios da Nova República. 26 Paralelamente, outros projetos de qualidade são produzidos, como os de Miranda Magnoli, Rosa Kliass, Benedito Abbud e Maria de Lourdes Nogueira são executados ao mesmo tempo em que dentro da universidade pública são estabelecidos e firmados os conceitos e métodos do paisagismo por Miranda Magnoli e equipe (na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo) de 1975 em diante. A segunda ruptura, a qual origina o que designamos linha projetual Contemporânea, começa nos anos 1980, com a introdução dos conceitos ecológicos no país e com a chegada de informações das novas obras feitas no exterior se estrutura em duas correntes básicas. A primeira ecologista, na qual se valorizam os cenários rústicos, a conservação e o contato com a natureza e a segunda cênica, produzindo verdadeiras colagens, que vão de um radical, chegando a situações de irreverência formal absoluta. Este modo de projetar redireciona a obra de muitos dos pioneiros do paisagismo modernista, que utilizam em suas obras da virada do século os novos ícones projetuais de particulares e agências de governo, que criam vários projetos com tal teor. São exemplos desta forma de projeto a maioria das intervenções do projeto Rio-Cidade (anos 1990 na cidade do Rio de Janeiro), a nova orla de Salvador, alguns parques de Curitiba, centenas de jardins particulares e a Praça Itália em Porto Alegre, de autoria de Carlos Fayet e equipe (1992), o marco desta nova geração projetual. 27 5 PAISAGEM URBANA A finalidade do paisagismo é a integração do homem com a natureza, buscando melhores condições de vida pelo equilíbrio do meio ambiente. Ele abrange todas as áreas onde se registra a presença do ser humano. O objeto de trabalho do paisagista é a Paisagem, ou seja, a relação entre a paisagem natural e a paisagem construída. Se entendermos o conceito de paisagem como tudo o que pode ser compreendido num lance de vista, é exatamente aí que está a área de atuação do paisagista. Assim, além de especificação de espécies, de plantas, as especificações e paginações de pisos, os desenhos de mobiliário urbano, elementos construídos como pérgulas, floreiras, painéis, piscinas, espelhos d’água, gazebos, esculturas entre outros elementos também fazem parte do projeto paisagístico. O objetivo final é dialogar da melhor forma o ambiente construído com o natural, gerando bem estar e consequente melhora da qualidade de vida. Devido à sua formação, os arquitetos tem maior domínio do trabalho de intervenção e criação do espaço, além de grande sensibilidade artística e sensorial, que também serão conceitos exigidos para o trabalho projetual. No entanto, conceitos técnicos principalmente de botânica, solos, de pragas e doenças de plantas também são necessários. Engenheiros agrônomos e florestais têm grande conhecimento nestas áreas. Assim, diferentes profissionais dão diferentes contribuições e, como sempre, o trabalho em equipe tem sempre um melhor resultado. O paisagismo urbano tem por objeto os espaços abertos (não construídos) e as áreas livres, com funções de recreação, amenização e circulação, entre outras, sendo diferenciadas entre si pelas dimensões físicas, abrangência espacial, funcionalidade, tipologia ou quantidade de cobertura vegetal. Está presente tanto em grandes quanto em pequenas áreas, restaurando locais que sofreram algum processo de perda de recursos, ou modificando-os para que se tornem mais funcionais e agradáveis. Nos centros urbanos é comum observarmos a cor cinza do concreto, sendo que nestes locais o paisagismo bem desenvolvido e implantado, integra as áreas e promove a 28 vida. As áreas degradadas podem ser recuperadas por técnicas de arborização urbana e calçadas verdes. Se os espaços forem limitados, podem apresentar material verde através de uso do paisagismo em paredes e tetos. As árvores existentes ao longo das vias públicas integram-se às áreas verdes de uma cidade. Esta arborização propicia equilíbrio ao ambiente natural modificado. A crescente expansão e complexidade das malhas urbanas impõem o adequado planejamento e a correta implementação da arborização viária para que a população possa melhor desfrutar desses espaços. Da mesma forma, desempenham significativo efeito de controle da poluição sonora, uma vez que absorvem sons e ruídos. Não bastasse isso, nas ruas tecnicamente arborizadas, a poeira suspensa na atmosfera é 25% menor do que nos locais onde não há árvores, suas folhas retêm partículas de pó e também de outros agentes poluentes suspensos na atmosfera. 5.1 As diferentes funções das áreas verdes urbanas Com o crescimento populacional e o aumento do stress nos centros urbanos, o homem sente a necessidade de estar cada vez mais em contato com a natureza, suprida em parte, pelo aumento de áreas verdes, propiciando áreas de lazer, meditação, prática de esportes, estudo e entre outras, neste contexto o paisagismo atua modificando ou reconstruindo a paisagem de maneira planejada, contribuindo para manter o homem em integração com a natureza. As áreas verdes urbanas proporcionam melhorias no ambiente impactado das cidades e benefícios para os habitantes; A função ecológica - a presença da vegetação, do solo não impermeabilizado e da fauna, com melhorias no clima da cidade e na qualidade do ar, água e solo. A função social- relacionada com a possibilidade de lazer que essas áreas oferecem à população. A função estética- diversificação da paisagem construida e o embelezamento da cidade. Importância da vegetação. 29 A função educativa - a possibilidade de oferecer ambiente para desenvolver atividades extra-classe e programas de educação ambiental. A função psicológica- as pessoas em contato com os elementosnaturais dessas áreas, relaxam, funcionando como anti-estresse. Este aspecto está relacionado com o exercício do lazer e da recreação nas áreas verdes. 30 6 PAISAGISMO NA ARQUITETURA O paisagismo é hoje denominado por arquitetura da paisagem, sendo definido como a arte e técnica de promover o projeto, planejamento, gestão e preservação de espaços livres, urbanos ou não, de forma a processar o micro e macro-paisagens. Inicialmente, surgiu como uma simples ornamentação do ambiente, sendo introduzidos posteriormente estudos mais avançados, tornando-se parte da arquitetura. Hoje, o paisagismo é altamente tecnificado, sendo aplicado para melhorar tanto a estética, quanto a funcionalidade, segurança, conforto e privacidade dos ambientes. É a arte de recriar a beleza da natureza, proporcionando paisagens bonitas e melhorando a qualidade de vida dos indivíduos e da sociedade. É uma necessidade para a sobrevivência dos habitantes das grandes cidades também serve para manter o equilíbrio do ecossistema destruído pelo homem em suas construções e estradas. Além disso, ele é uma arte que alia o conhecimento técnico à sensibilidade, para a criação de paisagens, com o objetivo de integrar o homem a natureza e é responsável pela elaboração de ambientes externos, que sejam, ao mesmo tempo, contemplativos e funcionais principalmente nesta era, onde predomina o concreto e a poluição em grande parte das cidades, é importante criar ambientes que tragam a natureza para o convívio do homem, proporcionando-lhe bem estar, conforto térmico, acústico e, acima de tudo, uma pequena contribuição individual para a manutenção da biodiversidade do planeta. Podemos definir o paisagismo como a ciência e a arte que estuda a organização do espaço exterior em função das necessidades atuais e futuras e aos desejos estéticos do homem (Studart, 1983). O Paisagismo não é como muitos acreditam, tão somente a elaboração de jardins e praças. Ele constitui uma técnica cada vez mais apurada, voltada para a criação de áreas paisagísticas que possam substituir espaços destruídos pela constante e desordenada onda de construções. O paisagista tem a missão, portanto, de recompor as extensões geográficas afetadas, servindo-se de elementos de botânica, ecologia, mudanças climáticas de cada região e de estilos arquitetônicos. 31 Esta arte conjuga, neste esforço de recriação, planos, planificações, a administração e a manutenção de áreas livres, no interior das cidades ou à margem delas, com o objetivo de organizar pequenas e vastas paisagens. Não basta semear aqui e ali plantações decorativas. É necessário aliar recursos artesanais à percepção estética, sendo essencial, igualmente, saber combinar formatos e cores, para assim alcançar um resultado equilibrado e compatível. Como a decoração das paisagens é um desafio semelhante ao enfrentado na arquitetura, o Paisagismo constitui uma extensão do curso de Arquitetura, pois o cenário natural também é algo a ser edificado, tanto quanto qualquer construção. Esta disciplina nasceu do ato singelo de decorar um espaço, posteriormente conquistando uma maior complexidade, um aprofundamento das pesquisas em torno de suas possibilidades. Atualmente o Paisagismo adquiriu um caráter extremamente técnico, direcionado no sentido de aperfeiçoar esteticamente uma área, mas igualmente para nela imprimir o máximo de praticidade, proteção, aconchego e intimidade. O Paisagismo pode ser praticado, hoje, por engenheiros agrônomos, arquitetos, entre outros profissionais técnicos. Atualmente ele evoluiu do design de pontos de vista estéticos e relativos ao cenário de um local, para projetos mais amplos, de espaços mais complexos. 6.1 Paisagismo e o homem Um jardim que desperta os cinco sentidos: a visão, por meio das cores, flores e formas; o olfato, a partir dos aromas; o paladar, com as plantas frutíferas; o tato, com texturas; e a audição, estimulada pelo barulho de fontes e cascatas, pelo canto dos pássaros ou pelo som das folhas que balançam com o vento é um jardim projetado. O paisagismo é a única expressão artística onde podem estar presentes esses cinco sentidos do ser humano (visão, olfato, audição, paladar e tato). É muito bom encantar-se com as mais diferentes cores e formas, se deliciar com perfume das flores, sentir as sombras e as texturas das plantas, saborear os frutos e ouvir o barulho da água, o farfalhar da vegetação e o canto dos pássaros. Quanto mais um jardim consegue aguçar todos os sentidos, melhor cumpre o seu papel. 32 O jardim de uma moradia - casa ou apartamento - é um elemento fundamental para estimular as percepções e sensações humanas e, consequentemente, proporcionar melhora na qualidade de vida. Acredita-se que as pessoas têm predisposição para interagir com a natureza e, para conseguir isso, basta um pouco de atenção aos pequenos detalhes que, a princípio, passam despercebidos quando criamos um jardim. É preciso criar a cultura de se tentar observar a flora e a fauna com mais sensibilidade. Vivemos em centros urbanos extremamente movimentados, onde a maioria das pessoas não tem contato direto e profundo com a natureza no seu dia a dia. O hábito de morar em apartamentos pode dificultar, mas não tornar impossível uma boa convivência e integração com o verde. Que os jardins têm uma função terapêutica intrínseca tanto ao cultivá-lo quanto ao apreciá-lo, ninguém duvida. O que poucos se dão conta é que essa experiência pode tornar-se palpável, visível e sentida de forma literal se o ambiente for planejado para ser inclusivo. Crianças, idosos, portadores de deficiências motoras ou visuais… todos podem se beneficiar das diversas “belezas” contidas em um jardim pensado para ser visto, tocado, cheirado e até consumido. Os caminhos do jardim sensorial precisam estimular os passos e privilegiar as planícies, sem muitos desníveis. Espaços para a contemplação, com bancos estrategicamente colocados, para que os visitantes possam curtir a harmonia da paisagem. É preciso cuidado com as plantas escolhidas para este tipo de jardim; espécies tóxicas devem ser evitadas. No mais, um paisagista saberá quais espécies utilizar e como harmonizar isso em um espaço inclusivo. 33 7 O PROFISSIONAL PAISAGISTA Até nos sonhos mais românticos a paisagem principal é a de um jardim, rico em cores e pureza. O próprio paraíso, constantemente idealizado por artistas, poetas, cineastas, é representado por meio de imensos jardins verdes, desenhados por flores, enfeitados por pássaros, denotando a inquestionável predominância da natureza. O paisagista é considerado um artista da natureza. É ele quem faz o planejamento de espaços públicos, como praças e parques, além de atuar em residências e empresas privadas, criando jardins e áreas verdes em setores urbanos, rurais, recreativos e ecológicos. Ele realiza os cortes, elevações e detalhamento construtivo externo realizando a leitura e interpretação de projetos. Está sob as responsabilidades de um Arquiteto Paisagista atuar principalmente com O desenvolvimento e compatibilização de projetos, realizar a leitura e interpretação de projetos complementares, desenvolver perspectivas obras, acompanhar os projetos, fazer o controle dos prazos de entrega dos projetos, responder pela representação gráfica, elaborar a planta baixa, realizar os cortes, elevações e detalhamento construtivo externo de cada projeto paisagista. Para que o profissional tenha um bom desempenho como Arquiteto Paisagista, além da graduação é essencial que possua visão de projeto, metodologia, dinamismo e responsabilidade.Precisa possuir algumas características específicas: Ter habilidade, destreza, perícia e arte na tomada de decisões; Conhecimento técnico; Compreensão estética da aparência. Dentre as diversas finalidades de um paisagista, estão: Reconhecer os aspectos essenciais do complexo de elementos e fatores que conferem a aparência e a ecologia da paisagem; Avaliar as consequências de formas de evolução na paisagem, produto da participação do homem. Os profissionais da área recebem formação multidisciplinar e holística, tendo como prioridade a preservação o meio ambiente e inserir elementos que agreguem valor à paisagem, por isso a importância da consciência na utilização consciente de recursos naturais. 34 A maioria dos profissionais em paisagismo é autônoma e conta com o apoio da Associação Nacional de Paisagismo ANP, fundada em 1995 com o intuito de desenvolver e valorizar a atividade paisagística no Brasil. Existe, ainda, a polêmica sobre a regulamentação da profissão, já que a Organização Internacional do Trabalho reconhece as profissões de Arquiteto, Urbanista e Arquiteto Paisagista como independentes. A questão é intensamente discutida em Congressos e Organizações envolvidos com a atividade. A grande preocupação é criar órgãos reguladores e fiscalizadores que garantam a qualidade do profissional que atua na área e dos serviços prestados à sociedade. 35 8 PROJETO PAISAGÍSTICO O Projeto de Arquitetura Paisagística consiste na solução dos espaços explorando o potencial construtivo, social, cultural, emocional, climático e topográfico do meio. Ao elaborar um projeto, o paisagista dispõe de elementos naturais compostos por uma combinação de componentes físicos (solo, água, clima) e biológicos (plantas e animais), bem como de elementos construídos pelo homem, os quais são chamados de elementos arquitetônicos (construções, vias de acesso, pérgulas, piscinas, playgrounds, obras-de-arte, etc), além do próprio homem, principal componente da paisagem, e para o qual o ambiente é construído. Existem no mercado vários tipos de projetos, como, por exemplo, os com finalidades arquitetônicas, elétricas, sociais, de pesquisa, culturais ou educacionais. Em várias profissões, antes de se executar qualquer coisa, o essencial é elaborar um projeto, pois ele conterá todas as informações necessárias para a realização de um trabalho. No paisagismo não é diferente. O projeto é concebido de forma a atender todas as necessidades do cliente. Para obter tais resultados, é preciso haver um estudo preliminar da área e da expectativa do cliente. Assim, o profissional passará a compreender todos os seus gostos, costumes, rotina e o que realmente ele espera de um jardim ou paisagem. A partir daí, os dados são analisados e o seu perfil é traçado. Traçado o perfil do cliente, o profissional considera todas as características da área do jardim. Analisa o estilo arquitetônico, os tipos de solo, o clima predominante, a exposição ao sol/sombra, a disponibilidade hídrica, a topografia e presença de crianças ou animais domésticos. Definindo isso, poderá apontar a vegetação mais adequada para o lugar. O paisagista pode optar por fazer um jardim com formas orgânicas ou simétricas, brincando assim com formas, iluminação, volumes e composições das vegetações, mas sempre preocupado com a harmonia resultante. Depois que a forma do jardim está definida, o próximo passo é a escolha das espécies. Mais uma vez, tudo baseado na entrevista com o cliente e a análise do profissional. Estas escolhas fazem parte de um processo que exige muito estudo e conhecimento acerca das plantas. 36 Em seguida, é elaborado um anteprojeto, a ser apresentado para o cliente. De posse deste trabalho, ele passa a ter uma noção de como ficará o seu jardim. O paisagista explica com quais conceitos trabalhou e o porquê de cada espécie, o seu posicionamento e o seu porte. E o cliente se posiciona quanto às ideias. Neste momento, ele também poderá ter a noção de custo da execução deste jardim. Tudo aprovado, o paisagista se dedica ao projeto executivo, no qual detalha cada procedimento: tamanho das covas para cada espécie, quantidade e tipo de adubo para cada cova, porte e quantidade da vegetação, cuidados no transporte, espaçamento entre as plantas e cuidados no preparo do solo. Um fator que muitos definem como essencial é conhecer com precisão os gastos e o custo final da obra. Durante todo este processo, o paisagista acompanha o projeto e trabalha em parceria com profissionais nas áreas de iluminação e irrigação, que realizam os projetos atendendo aos efeitos sugeridos por ele. 8.1 A arte da Topiaria A palavra topiaria, vem do latim topiarius e significa “a arte de adornar os jardins”. A arte de podar plantas em formas ornamentais. A topiaria é uma técnica avançada de jardinagem que tem por objetivo dar formas esculturais, artísticas às plantas, mediante corte com tesouras de podar e de acordo o desejo do jardineiro e do cliente. É uma arte antiga, sua origem remonta a 500 A.C, desde os tempos romanos onde foi explorada nos jardins suspensos da Babilônia, com os primeiros jardins intensamente trabalhados pelo homem, mas teve seus tempos áureos na época de Versailles, em meados dos anos de 1600. Sendo uma arte sofisticada, sua presença no paisagismo, está historicamente relacionada com a nobreza e o clero. Com a revolução paisagística provocada pelos jardins informais ingleses, no século XVIII, a topiaria perdeu sua força. No Brasil, os jardins tropicais de Burle Marx também eram contrários às topiarias, assim como qualquer técnica que modificasse a forma natural das plantas. Mas a topiaria sobreviveu a estas intempéries, mesmo sendo rotulada de cafona e 37 antiquada. Ela ressurgiu nos jardins contemporâneos e minimalistas, com formas geométricas simples ou abstratas, que conferem modernidade aos ambientes. Nos jardins orientais elas também são bem vindas desde que tenham formas naturais de plantas, à semelhança da arte bonsai (árvore num vaso). Em 1960, surge a técnica stuffed, desenvolvida pelos americanos, que utiliza suportes revestidos com trepadeiras, ervas e gramíneas, novas formas se tornaram possíveis, com maior variedade nas cores e texturas das esculturas. A topiaria feita desta forma é muito mais prática e rápida de ser realizada e tornou-se popular mundialmente através dos jardins dos parques Walt Disney. Dentre as cidades que se destacam na topiaria, atraindo muitos visitantes, encontra-se Batatais em São Paulo, Monte Sião em Minas Gerais e Victor Graeff no Rio Grande do Sul. 8.2 Plantas Ornamentais utilizadas em Paisagismo Para a execução de um projeto paisagístico, é fundamental que se tenha conhecimento das plantas. É importante saber tipo, porte, folhagem, época de floração, local de melhor adaptação, entre outras características. As plantas ornamentais podem ser divididas em grupos conforme seu aspecto morfológico, hábito de crescimento ou mesmo usos mais frequentes. Essa classificação é bastante variável, mas do ponto de vista paisagístico/ornamental, as plantas podem ser divididas em forrações, arbustos, árvores, palmeiras, trepadeiras, plantas entouceirastes, plantas aquáticas, gramas, bromélias e suculentas. 8.2.1 Forrações Forrações constituem um grupo de plantas herbáceas de pequeno porte e que são utilizadas em paisagismo com as seguintes finalidades: • Fazer o acabamento nos jardins, em composição com espécies de porte maior; 38 • Revestir o solo, evitando a ocorrência de áreas nuas, as quais podemsofrer com erosão ou ainda serem motivo de poeira ou lama; • Quebrar a monotonia dos gramados quando são utilizadas intercaladas a esses; • Recobrir o solo, em locais onde há a impossibilidade de uso de gramas; • Manter a umidade do solo; • Evitar a incidência de plantas invasoras (plantas daninhas). 8.2.2 Arbustos Arbustos são espécies vegetais lenhosas, com ramificação desde a base, e altura média de até 4 m de altura. Quanto à luminosidade, existem arbustos de pleno sol, meia-sombra e sombra. De modo geral, são plantas que aceitam poda, o que harmoniza a sua condução, permitindo obter um formato ajustado ao jardim onde estão inseridos ou ainda a formação de figuras, denominadas topiarias. 8.2.3 Árvores Constitui toda espécie vegetal lenhosa, geralmente sem bifurcações na base do caule, com portes variados e diferentes formas de copas. Quanto ao porte, este pode ser dividido em pequeno (até 5,0 m), médio (5,0 a 8,0 m) e grande (acima de 8,0 m). Quanto à forma da copa, as árvores podem ser colunar, cônica, globosa, pendente, umbeliforme. Principais funções: • Proteger contra ventos fortes • Proteger contra ruídos • Dar privacidade a determinado local • Fornecer sombra • Contribuir para aspectos estéticos da paisagem. 39 8.2.4 Palmeiras As palmeiras pertencem à família Arecaceae (Palmae) e são espécies de grande uso nos jardins. Apresentam a desvantagem de crescimento lento, além da ocorrência de desprendimento das folhas quando envelhecem. As palmeiras têm grande importância em projetos paisagísticos, principalmente em função de sua forma e rusticidade. Podem ser cultivadas isoladamente ou em grupos, sempre em posições dominantes no jardim. Existe um grande número de palmeiras nativas e diversas outras exóticas, mas bastante adaptadas ao nosso ambiente. A escolha deve depender das características do projeto em harmonia com as características de cada espécie. 8.2.5 Trepadeiras Corresponde a toda espécie vegetal de caule semilenhoso ou mesmo herbáceo, que necessita de um suporte para se desenvolver. Como seu crescimento pode ser conduzido, as trepadeiras geralmente são utilizadas na formação de cercas-vivas, separação de ambientes, revestimento de muros ou paredes, formação de pérgolas, arcos e treliças. 8.2.6 Plantas Entoucerantes Plantas entoucerantes são aquelas que se desenvolvem formando diversos caules, com crescimento indefinido, em forma de touceira. A propagação é geralmente feita através de divisão de mudas que são emitidas na base da touceira. Existem diversos exemplos de plantas pertencentes a este grupo, com grande importância nos projetos de paisagismo. 40 8.2.7 Plantas Aquáticas As plantas aquáticas, em função da posição em que se desenvolvem na água, podem ser classificadas em flutuantes, emergentes e submersas. 8.2.8 Gramas Os gramados representam quase sempre de 60 a 80% da área ajardinada. Em geral, as espécies de grama necessitam de sol pleno ou meia luz para se desenvolverem bem. Existem algumas espécies de grama disponíveis para formação de gramado e a escolha deve ser em função do clima da região, da finalidade de uso, da luminosidade da área, da manutenção que será destinada à área, do sistema de irrigação disponível, do tipo de vegetação que circunda o gramado (existem espécies mais nobres e outras menos). Existem algumas plantas que não se enquadram nos grupos citados anteriormente, apesar de serem de grande importância nos projetos de paisagismo, constituindo assim os grupos especiais como: 8.2.9 Bromélias Dada à sua rusticidade e grande variedade de cores, formas e texturas, as bromélias vêm, a cada dia, tornando-se uma presença constante nos jardins. Dificilmente não encontraremos bromélias em jardins projetados, tanto residenciais, como públicos. O uso de bromélias no paisagismo teve como marco inicial os projetos paisagísticos de “Burle Marx”, que revolucionaram totalmente o paisagismo brasileiro e mundial. As bromélias podem ser usadas como forrações em arranjos, juntamente com 41 outras plantas tropicais, em contornos de canteiros e gramados, fixadas em rochas, esculturas, construções, árvores, tocos, entre outras opções. As bromélias ao serem utilizadas em jardins, deve-se ter um conhecimento prévio sobre algumas exigências de cada espécie, principalmente no que diz respeito às exigências de luz e de substrato. A combinação entre bromélias e entre estas com outras plantas deve-se fundamentar no contraste de cores, formas e textura, reproduzindo condições naturais. As matas e ambientes naturais são as melhores fontes de ideias para se atingir o máximo da beleza em um jardim. 8.2.10 Suculentas As suculentas em geral, conseguem sobreviver á falta de água e luz, pois são plantas capazes de armazenar água, seja nos troncos, raízes ou folhas – característica que as protege das altas temperaturas e do clima árido, originárias de áreas secas como desertos e caatingas. As plantas suculentas ornamentais têm como principal diferencial as folhas mais largas e que acumulam mais líquidos e seiva, perfeitas para resistir por meses sem regas em condições adversas. Para que a perda de água com o ambiente seja minimizada, as folhas ainda são recobertas por uma espécie de cera que diminui a evapotranspiração em excesso das suculentas. Desta forma as suculentas são a essência da planta rústica, exigindo pouca manutenção e regas. 42 8.3 Elementos paisagísticos Na estética e composição de jardins, os elementos artificiais e os naturais fazem parte do ambiente existente ou projetado. Consideram-se elementos artificiais aqueles que são construídos ou colocados pelo homem no ambiente natural, tais como caminhos, escadas, muretas, bancos, mesas, coretos, gradis, portões, tanques, caixas d’água, piscinas, cascatas, vasos, lixeiras, postes, quadras esportivas, etc. Os elementos naturais são aqueles existentes ou plantados no local, compostos por uma combinação de componentes físicos (água, solo e clima) e biológicos (plantas e animais), tais como gramados, árvores, bosques, pomares, maciços de arbustos, plantas aromáticas e medicinais, hortas, orquidários, lagos naturais, etc. 8.3.1 Elementos Naturais Os componentes naturais estão todos intimamente relacionados entre si, influenciando a paisagem com seu tamanho, forma, cor, aroma, som, movimento, entre outros caracteres. Assim, as plantas e os animais deixam de ser apenas parte da decoração, apresentando alto valor estético e funcional e, se necessário, alguns podem ser modificados ou melhorados para que se obtenha um jardim esteticamente adequado e agradável aos usuários. A vegetação é constituída por espécies de formas, portes, cores e texturas as mais variadas. Quando combinadas com arte são a verdadeira essência do jardim. Algumas de suas características devem ser observadas quando do planejamento paisagístico: por ser um ser vivo, é também dinâmico; apresenta um ciclo de vida; deve-se observar os atributos estéticos do vegetal; as crenças devem ser respeitadas, assim como outros aspectos 43 Sempre que possível, os animais devem fazer parte do paisagismo, tendo em vista apresentarem uma forma e colorido, enriquecendo a paisagem. Podem mostrar fins ornamentais e/ou utilitários. A água no jardim é também um elemento de decoração, quer seja de forma corrente ou parada, sendo desejável qualquer que seja a maneira de uso. Pode ser encontradasob a forma de reservatórios naturais (lagos, lagoas) ou artificiais (piscinas), nos cursos d’água (rios, riachos, cachoeiras, etc.), ou em fontes que jorram água em determinadas épocas do ano (intermitentes) ou continuamente, ou simplesmente para uso na irrigação do jardim. Além da água, outro elemento natural presente com frequência nos jardins são as pedras que, em diferentes tamanhos e formas, emprestam à paisagem belas composições, sendo muito usadas para efeitos de contraste. O formato e o tipo das pedras devem ser escolhidos em relação direta com o ambiente onde serão colocadas. Os troncos e as raízes mortas de árvores também podem ser usados nos jardins; porém, quando tratados, devido à artificialização, são incluídos na categoria de elementos arquitetônicos. 8.3.2 Elementos Arquitetônicos Para complementar o paisagismo, são necessários outros elementos além dos naturais, de forma que harmonizados com esses, constituam um jardim que atenda às necessidades estéticas e funcionais, de acordo com os desejos dos usuários, tornando o local mais criativo e aconchegante, valorizando a paisagem. Os elementos arquitetônicos podem definir o estilo da composição a ser seguido e transmitir sensações tanto ilusórias como reais. Assim, devem ser planejados de maneira que não choquem com os naturais, levando-se em consideração a sua frequência, linhas e formas predominantes e os materiais de sua composição. 44 Na apostila de paisagismo (2008) da Escola de Agronomia e Engenharia de Alimentos Paisagismo e Floricultura da UFG (Universidade Federal de Goiás) são apontados os seguintes elementos: 8.3.2.1 Caminhos – Circulação e piso Os caminhos são locais destinados ao trânsito de pedestres ou de veículos, que permitem ao usuário dirigir-se e apreciar um determinado local da paisagem. Além de direcionar os usuários do jardim, a circulação faz as ligações internas e externas do jardim, constituindo-se no elemento de integração entre os componentes da paisagem. São desenvolvidos de acordo com o tipo de jardim, e suas dimensões dependem do fim a que se destinam. Podem ser pavimentados ou não, tendo o pavimento função ornamental valiosa quando bem explorada. Os caminhos devem ser, preferencialmente, traçados segundo o nível do terreno; os declives fortes são valorizados por meio de escadas (tijolos, pedras, secções de toras de madeira, dormentes, lajes, etc.), podendo-se aproveitar a parte superior como mirantes. Podem apresentar várias formas e larguras, serem permeáveis ou impermeáveis, devendo ocupar a menor área possível, pois setorizam o jardim, ou seja, fazem um zoneamento dos espaços, dividindo o terreno e as áreas ajardinadas. A pavimentação pode ser feita com diferentes materiais: pedras toscas, lajotas de concreto, seixos rolados ou branco, ladrilhos, tijolos prensados ou de barro, lajotas de cimento ou granito, mosaico português, saibro, asfalto, brita, cimento, placas de concreto, paralelepípedo, ardósia, pedrisco, cerâmica, dormentes, cruzetas, tábuas de madeira, arenito, etc. 45 8.3.2.2 Construções para lazer Alguns elementos constituem-se em infra-estrutura para se obter o lazer passivo ou ativo. O lazer passivo é desenvolvido sem atividade física programada, como por exemplo, uma reunião informal à beira da piscina. Já, o lazer ativo corresponde às atividades em que o exercício e a movimentação são uma constante, ou seja, são atividades dinâmicas, como por exemplo, a prática de futebol. Para tal, algumas construções são necessárias no jardim, tais como: piscina, deck, pérgula, caramanchão, quiosque, treliça, telado e greenhouse, estufa, mirante, reservatórios e espelhos d’ água, cascata, ponte entre outros elementos. Áreas específicas de lazer recreativo: LAZER INFANTIL: casas de bonecas, play-ground, gangorras, escorregadores, balanços, gira-gira, tanques de areia, etc.; QUADRAS POLIESPORTIVAS: vôlei, futebol, basquete, futebol de salão, tênis. 8.3.3 Iluminação O jardim não é feito apenas para ser frequentado durante o dia, podendo se converter em ambientes extremamente agradáveis, com ótimos efeitos visuais produzidos pela iluminação artificial durante à noite, além do aspecto de segurança. Deve ser planejada com a intensidade aproximada da iluminação interna, lembrando-se de que os focos de luz não devem incidir diretamente sobre as pessoas. A iluminação, além de ser funcional, é também decorativa, servindo para focalizar a luz sobre a planta, deixando o fundo no escuro; iluminar apenas um setor focando a parede com objeto na frente enfatizando sua silhueta, com foco por trás e de baixo para cima (objetos com transparência) ou com foco sobre a planta de modo a conseguir sua sombra sobre a parede. 46 As luminárias podem servir para uso do jardim à noite, para realce e para valorização de elementos que merecem destaque, ornamentar o jardim quando possui características peculiares interessantes e criar efeitos especiais. Dependendo do objetivo da iluminação, são escolhidas as luminárias adequadas para cada situação. A coloração da luz também é importante, tendo grande influência no efeito visual que se quer produzir. A luz verde pode ser usada para iluminar arbustos e folhagens das copas de árvores, enquanto a luz rosa é ideal para folhagens de coloração cobre; já a luz vermelho-escura serve para realçar as flores, e a amarela é recomendada para iluminar troncos de árvores; para estátuas ou estruturas que se destacam, não é necessário o uso de luz colorida. Como a iluminação artificial pode trazer algum prejuízo às plantas, podem ser usadas lâmpadas especiais, que emitem quantidade suficiente de radiação luminosa nas faixas do vermelho e do laranja, o que permite melhor desenvolvimento dos vegetais. 47 9 REGULAMENTAÇÃO DA ARQUITETURA PAISAGÍSTICA A profissão de paisagista, fundamental para que planos e projetos paisagísticos contribuam para cidades sustentáveis é reconhecida e regulamentada de forma independente das áreas de arquitetura, agronomia e engenharia em diversos países como: Alemanha, Austrália, Áustria, Canadá, Estados Unidos, Holanda e Inglaterra. Como prova que o profissional paisagista tem ganho cada vez mais autonomia, a China é outro exemplo que desponta no cenário internacional pois, tem priorizado a regulamentação da profissão de paisagista. Considerando ainda que o paisagismo é um fator importante para o planejamento da paisagem e uma área, antes de tudo multidisciplinar, entendemos que o Brasil não pode permanecer ancorado a uma visão difusa, onde não seja dado o real valor a formação de uma profissional autônomo que atue diretamente nesse campo, sobretudo quando se considera um país de dimensões continentais e de complexos ecossistemas como o Brasil. Tais questões demonstram a urgência do assunto e a importância de repensarmos qual o papel do paisagismo e do profissional paisagista no nosso país. No Brasil, a prática do paisagismo é desenvolvida por arquitetos, agrônomos e engenheiros respaldados pela Lei Federal 5.194, de 24 de dezembro de 1966 (Seção IV – Art 7º e pela Resolução 218/73 do CONFEA). Amparados por Lei Federal, os biólogos também atuam nessa área. Deve ser sinalizado que o exercício profissional do paisagismo, desempenhado por diversos profissionais, gera dúvida no consumidor, além de potencializar conflitos de diferentes ordens de interesses e ainda produzir na formação acadêmica de profissionais que atuam no mercado de paisagismo. O Projeto de Lei – PL 2043/11 dá á profissão de paisagista caráter único, independente; estabelecequem é o paisagista; cria condições para a existência de cursos superiores específicos de paisagismo, e sinaliza que futuros profissionais terão formação própria e adequada a esta área de conhecimento. Não nos parece viável continuarmos ignorando a complexidade da questão no que tange a atuação do paisagista ou, ainda, mascarar o fato de não haver um instrumento jurídico que atenda profissionais diretamente ligados a este campo de atuação. Portanto se faz necessário que esta questão 48 seja esclarecida, como também, garantida a regulamentação da profissão, dando assim legitimidade aos profissionais que atuam nesse campo de trabalho. Em 20 de novembro de 2013, os deputados pertencentes a Comissão de Educação votaram, por unanimidade, pela aprovação do Projeto de Lei, deixando evidente a concordância do Legislativo com a necessidade de termos graduações específicas em Paisagismo, a exemplo da Universidade Federal do Rio de Janeiro, em todo o território nacional. O PL ainda será analisado, respectivamente, na CDU – Comissão de Desenvolvimento Urbano, CTASP – Comissão de Trabalho, Administração e Serviço Público (cujo parecer da relatora Dep. Flava Morais é favorável a aprovação), e na CCJ – Comissão de Constituição e Justiça. Entidades internacionais como a IFLA – International Federation of Landscape Architects e a UIA- Union Internationale das Architects, reconheceram a distinção e a independência da arquitetura da paisagem (paisagismo) em relação as outras disciplinas de planejamento de espaço como a arquitetura e o urbanismo. O apoio que estamos recebendo a cada dia de entidades nacionais e internacionais, como o Instituto Invarde, Society for Urban Ecology, ASLA – American Society of Landscape Architects, CLARB – Council of Landscape Architectural Registration Boards, e de profissionais da maior competência, que se unem aos paisagistas e passam a contribuir com o pleno desenvolvimento do paisagismo no Brasil, traz alegria para classe. Embora desde 1971 existia curso superior de paisagismo no Brasil reconhecido pelo Ministério da Educação, a falta de regulamentação da profissão de paisagista impede que os bacharéis formados em “Composição Paisagística” assinem os próprios projetos. Parte da Arquitetura Para a presidente da Associação Brasileira de Arquitetos e Paisagistas (ABAP), Letícia Peret, o projeto não trata de paisagismo, um item incorporado à arquitetura, mas de jardinismo. A Abap entende que nova lei vai perturbar o cumprimento da legislação em vigor. “O projeto de planejamento dos espaços é uma atividade dos arquitetos. E 49 deve ser feita de maneira plena e integrada. Não pode haver um arquiteto que trabalhe uma coisa e outro que trabalhe outra. Nós batalhamos muitos anos no Brasil para que a formação plena seja consolidada e que não seja desvirtuada”, argumentou. Horas O autor do PL 2043/11, deputado Ricardo Izar (PSD-SP), afirmou que os cursos de arquitetura têm em média 150 horas dedicados ao paisagismo. O curso de paisagismo, mais de 3.000. Além da Comissão de Educação, a matéria precisa passar pelas comissões de Trabalho, Desenvolvimento Urbano e Constituição e Justiça. O relator, Stepan Nercessian, não deu prazo para a conclusão do relatório, mas já indicou que é favorável à matéria. Lei Municipal (Varginha, Minas Gerais) Lei nº 2.974, de 25 de novembro de 1997, em seu art. 5º ressalta o uso do estudo paisagístico nos parágrafos abaixo no que se refere da Competência do CODEMA: XII - solicitar e sugerir plano de arborização das vias e logradouros públicos; XIII - solicitar e sugerir projetos de praças, parques, jardins públicos, cemitérios e outras áreas correlatas, buscando atingir o índice mínimo de 12 m² de área verde por habitante urbano; XV - solicitar e sugerir plano de manutenção, utilização e manejo das Áreas de Preservação Permanente (APPs), áreas verdes, parques e praças visando sua preservação e função social; XV - solicitar e sugerir plano de produção de mudas de árvores, atendendo às necessidades do meio urbano; XVI - solicitar e sugerir estudos e pesquisas básicas e aplicadas que visem orientar as ações de preservação e incremento da flora do Município; 50 CONCLUSÃO O Paisagismo sempre foi relacionado apenas ao desenho de jardins e praças, considerando somente os aspectos estéticos e cênicos do projeto de um lugar, porém com o passar do tempo vem conquistando escalas e propostas maiores incorporando diversas variáveis além da área botânica e estética. Esta evolução da arquitetura paisagística pode ser observada numa reconciliação entre o homem e a natureza que favorece a consideração do processo paisagístico como fator de estudo dos espaços trabalhando grandes ou pequenas áreas, privadas ou públicas. Atualmente o paisagismo não é mais encarado como uma simples extensão da arquitetura. E sim um campo de estudos próprio que abrange um conjunto de disciplinas relacionadas ao projeto arquitetônico, ao planejamento regional e urbano, à preservação do meio ambiente natural e construído e do patrimônio histórico, ao planejamento de sistemas de lazer e recreação e sinteticamente ao planejamento espacial. Portanto, a arquitetura da paisagem representa um campo multidisciplinar, assim como a própria arquitetura, uma arte, envolvendo a matemática, as ciências naturais e sociais, a engenharia, as artes, a tecnologia, a política, etc. Apesar de ser normalmente associado à jardinagem pelo público leigo, a arquitetura paisagista envolve todos os possíveis elementos constituintes da paisagem, sejam eles naturais ou não. 51 REFERÊNCIAS RICEPUTI, Ana Paula. Paisagismo, entrevista concedida abril 2014. Varginha, Minas Gerais. BREIAS, Claúdia. Paisagismo e a profissão paisagista, entrevista concebida abril 2014. Escritório de Design de Interiores e Paisagismo Cláudia Breias, Varginha, Minas Gerias. ARQUITETURA, Clique. O paisagista e a área de atuação - 13 jan. 2014. Disponível em <http://www.cliquearquitetura.com.br/portal/dicas/view/o-paisagista/43>. Acesso em 7 abril 2014. ABBUD, Benedito. Em Paisagismo. Paisagismo em espaços públicos: benefícios para a cidade e para a população. 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