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UNIVERSIDADE PAULISTA GEOPOLÍTICA JULIANA INDELECIO DA SILVA RA: F010619 “UMA LUTA PELA LIBERDADE”: Os movimentos separatistas na Espanha GOIÂNIA 2020 INTRODUÇÃO Compreender os conflitos sociais e políticos na Catalunha e no País Basco coloca, em primeiro lugar, uma discussão a respeito da construção da nacionalidade e cultural de cada região. Embora a Catalunha e o País Basco disponham de aspectos semelhantes no que diz respeito ao impulso independentista, as motivações e o status de autonomia, o processo de construção dos conflitos apresentam características distintas. Origens e desdobramentos do conflito Em primeiro lugar, do ponto de vista histórico, o País Basco surge ao norte da Espanha e é datado na história a partir do século I d.C. O povo Basco foi largamente importante na luta contra o califado mulçumano no século IX. Concomitantemente, no século XVI a região do País Basco foi desmembrada, onde parte sul foi conquistada por Castela e a parte ao norte foi conquista pela França de Henrique IV. Após as conquistas, o País Basco ainda possuíam uma região independente, mesmo que parte significativa de seu território tenha sido absorvida por Castela (atual Espanha) e pela França (ROMÃO, 2013). Ao longo dos anos, o País Basco foi sendo progressivamente assimilado a Espanha, em troca de reconhecimento dos costumes, da língua e, acima de tudo, do status de comunidade autônoma. No entanto, o conflito separatista entre País Basco emerge no final do século XIX e irrompe ao longo do século XX. Com a retirada do status de comunidade autônoma, emerge um sentimento de luta no País Basco. Em 1895 é criada a bandeira do País Basco e é iniciado um largo e conflituoso processo de independência (ROMÃO, 2013). Desde modo, percebe-se de sobremaneira a emergência de diversas formas de expressão da cultura basca. Nesse sentido, o poeta Gabriel Aresti (1933-1975) torna-se uma importante figura na luta pela independência. O poema A casa de meu pai demonstra uma perspectiva sentimentalista a respeito do processo separatista (VARGAS, 2009). Para além disso, é possível observar diversos aspectos do nacionalismo radical. No entanto, a Guerra Civil Espanhola (1936-1939) marca significativamente os movimentos separatistas no País Basco. Em primeiro lugar, encontra-se a aliança com a frente republicana, marcada pela presença de socialistas, anarquistas e liberais. Destarte, a presença dessas posições políticas tornam-se significativas no que diz respeito da luta contra a ditadura de Francisco Franco. Em segundo lugar, a derrota da frente republicana marca o inicio de período de repressão à autonomia da região, a língua, a cultura e as instituições (ROMÃO, 2013). Concomitantemente, no final da ditadura de Franco, especificamente em 1968, começam a surgir grupos armados pela separação do País Basco. Dessa maneira, o mais famoso dele é o Euskadi Ta Askatuasua – Pátria Basca e Liberdade - (ETA). Os conflitos entre o ETA e a Espanha duram até 1978, com a promulgação da nova constituição Espanhola, que concede novamente a autonomia comunitária à região. Por outro lado, o surgimento da luta separatista na Catalunha é, do ponto do vista da história, um processo relativamente recente. A Catalunha surge como um região independente, ao nordeste da Espanha. No século XIX e emerge o movimento nacionalista catalão, com o argumento de que a Catalunha é uma região culturalmente distinta da Espanha, com língua, costumes e história distinta. Dessa maneira, encontra-se a ideia de que a Catalunha pertencia originalmente ao francos (atual França) e que foi dominada pelo Reino de Castela (atual Espanha) e que dessa forma, a independência seria uma justiça histórica (CAPPELATTI, 2018). De modo similar ao processo a luta cultural no País Basco, na Catalunha encontra-se a emergência de um movimento artístico próprio, calcado na ideia de independência e fortalecimento da nacionalidade catalã. Com base nisso, torna-se fundamental mencionar a participação da Catalunha na Guerra Civil Espanhola que, alinhando-se aos progressistas, sofreu enorme repressão do regime franquista. Dessa maneira, a Catalunha perde seu status de comunidade autônoma, sua língua é proibida e suas instituições foram destruídas pelo regime. Ao longo de quase trinta anos de regime, a Catalunha foi duramente reprimida. Esse processo deu origem a diversos grupos armados pela independência da região (COSTA, 2007). Este conflito durou até a promulgação da nova Constituição da Espanha, que devolveu a autonomia da região e possibilitou um largo avanço no que diz respeito aos movimentos separatistas. O estado atual do conflito Após a promulgação da nova constituição da Espanha, os conflitos decorrentes da luta pela separação tornaram-se institucionalizados. Dessa maneira, parte significativa da população – tanto catalã quanto basca – deixou de se envolver em conflitos violentou e passou dar expressividade a luta política. Dessa maneira, emergiram dois polos políticos significativos, ou seja, os nacionalistas conservadores e a esquerda nacionalista. Num primeiro momento, os esforços pela emancipação concentram-se na luta institucional. Desse modo, o principal argumento encontrado diz respeito ao fato que essas regiões são economicamente superiores ao restante da Espanha, que pagam mais impostos e que não se sentem representadas pelo governo espanhol. Por outro lado, o governo espanhol coloca-se contrário aos separatistas, pois compreende que a independência dessas regiões corresponderia a um largo prejuízo econômico para a Espanha e consequentemente um isolamento econômico das regiões. Nesse sentido, a luta pela independência incorre por uma perspectiva distinta daquela adotada anteriormente. Destarte, no caso de País Basco, o ETA perdeu apoio significativo devido a suas ações violentas e da aceitação cada vez maior das políticas de autonomia dadas pelo governo espanhol. Dessa maneira, desde 2011 o ETA anunciou a diminuição das atividades do grupo e em 2016 encerrou suas atividades. Do ponto do País Basco o conflito tornou-se minimizado, tendo em vista que o partidos políticos conseguiram estabelecer uma relação harmoniosa com Madri e dispor de mecanismos que permitam a continuidade de sua autonomia. Por outro lado, observa-se na Catalunha um fortalecimento do nacionalismo que, embora não tenha revivido os grupos armados, mantém radicalizada a luta pela separação. Nesse sentido, encontra-se o Juntos por si (Juntos pelo sim) que é uma aliança política formada pela Esquerda e a Extrema-Direita catalã. O Juntos por si nasce a partir de dois referendos que demonstraram que parte significativa da população catalã defende a separação. O governo do Juntos por si durou até 2017 quando o governo o Espanhol dissolveu o governo regional da Catalunha. Nesse sentido, do ponto de vista da geopolítica, o conflito o conflito entre País Basco e governo espanhol tende a se manter harmonizado, tendo em vista que o status de comunidade autônoma permite que a região consiga desenvolver certa independência cultural, linguística, institucional e administrativa. Dessa maneira, percebe-se a ausência de uma radicalização do nacionalismo e de uma luta por separação (SILVA et. al, 2019). Por outro lado, o conflito na Catalunha apresenta diversos aspectos de continuidade. Dessa forma, percebe-se que, de certa maneira, a luta pela separação da Catalunha possui aspectos que demonstram uma permanência do conflito, tendo em vista que a região constitui-se um ponto economicamente importante para a Espanha. Destarte, percebe-se que a dissolução do governo regional acirrou as disputas pela separação (CAPPELATTI, 2018). Com base nisso, os conflitos apresentadospossuem diversas singularidades e, embora encontrem um denominador comum, apresentam desdobramentos distintos. Dessa maneira, compreender os aspectos geopolíticos do conflito, demonstra a possiblidade de observar o papel das culturas, a construção de narrativas e as dinâmicas do poder estabelecido. REFERÊNCIAS CAPPELATTI, Mariana Dexheimer et al. Da autonomia à independência: a Catalunha e o impacto das novas demandas nacionalistas na política do CDC. Dissertação apresentada ao curso de Ciências Sociais para obtenção de titulo de Mestre em Ciências Sociais. Universidade Católica do Rio Grande do Sul. Rio Grande do Sul: PUCRS, 2018. COSTA, Rui Oliveira. A propósito do estatuto da Catalunha, razões para uma Independência. Res-Publica-Revista Lusófona de Ciência Política e Relações Internacionais, n. 5/6, 2007. ROMÃO, Filipe Vasconcelos. O percurso das identidades nacionais espanhola, basca e catalã e dos respetivos nacionalismos. Oficina do CES, v. 399, p. 1- 22, 2013. SILVA, Bernardo Caldas Leite et al. Um estudo sobre o movimento separatista da Catalunha: do clube Barcelona à explosão do nacionalismo com a crise de 2008. Revista de trabalhos acadêmicos-campus Niterói, v. 1, n. 19, 2019. VARGAS, Fábio Aristimunho et al. Poesia basca - Das origens à Guerra Civil. São Paulo: Hedra, 2009.
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