Prévia do material em texto
RESENHA DO FILME: DECISÕES EXTREMAS DECISÕES EXTREMAS. Extraordinary Measures. Tom Vaughan. Sony Pictures. EUA: 2010. EUA: Sony Pictures. 106min. Colorido Discente: Maria Luiza Nascimento dos Santos A trama retrata a história de uma família, formada por pais e três filhos, Jonh Crowler, sua esposa Aileen, e seus filhos. Dois dos quais são portadores da doença de Pompe, uma doença degenerativa que afeta os músculos e o sistema nervosos. Mesmo em meio as adversidades, a família tenta de todas as formas manter uma rotina normal. Mas segundo pesquisas de Jonh, as crianças portadoras da doença tinham expectativa de vida até os nove anos de idade, o que deixe este pai, ainda mais desesperado por uma solução. A medida que busca alternativas ao tratamento de seus filhos, Jonh tem contato com publicações que apontam os trabalhos do Dr. Robert Stonehill como o mais próximo da descoberta de uma enzima sintética capaz tratar seus filhos. Infelizmente a tentativa de transformar pesquisas em um novo medicamento decorre por novos desafios, os financeiros, uma vez em que a instituição a qual é empregado Dr. Stonehill a Universidade de Nebraska, não possui interesse em seus trabalhos e por tanto não investe financeiramente. Diante das circunstancias Jonh deixa o próprio emprego afim de angariar apoio financeiro ao projeto, o que acaba por aproximar Jonh e Stonehill, entretanto este último é uma pessoa nada fácil de se trabalhar. Dr. Stonehill é professor da Universidade de Nebraska, um bioquímico de formação e que atua como pesquisador, ao longo da trama é apresentado como um profissional competente e responsável quanto a suas atribuições cientificas. Entretanto possui uma personalidade um tanto quanto egocêntrica, autoritária e individualista, o que dificulta sua convivência profissionalmente e pessoal, segundo (SILVEIRA, 2006) “a interiorização de valores pode caracterizar um comportamento diferenciado ao modo de atuação profissional, além de conferir novas formas de pensamento, de interação social e de emoções que poderão direcionar-se, tanto para a construção do próprio sujeito, quanto para a construção da estrutura organizacional. Assim, as relações estabelecidas são a síntese da sua construção moral e podem favorecer a tomada de decisões e o exercício da autonomia”. Decisões tomadas por Stonehill, que foram responsáveis por mudanças no planejamento de trabalho, como seu necessário afastamento do grupo das equipes de lideranças da elaboração das enzimas, por indisciplina e não cooperação com os colegas de trabalho. Apesar de apresentar semelhanças com o cientista Dr. Sayer do filme “Tempo de Desperta” quanto a aspectos de dedicação extrema ao trabalho, apego as suas pesquisas e dificuldades de sociabilidade, ambos também se diferem quanto ao tipo de dificuldade de interação social. Em quanto Sayer era tímido, reservado (ao extremo) e discreto, Stonehill é seu oposto, autoconfiante e em certos pontos egoísta, não gosta de trabalhar em equipe e acaba por fazer tudo quanto o possível para dificultar a conviver com colegas de trabalho, o que de forma alguma se assemelha com Sayer. Ainda relacionado este contexto com SILVEIRA (2006) “ao longo de seu desenvolvimento moral, o trabalhador interioriza valores, sendo conduzido e orientado a outras formas de relacionar-se com o outro e de agir”. Todavia Stonehill encontra problemas antes de ser conduzido relação de cooperação profissional. A trajetória de Jonh para conseguir apoio financeiro da indústria farmacêutica é outra grande dificuldade concebida no filme, por ser a doença de Pompe uma doença rara, (baixa prevalência na população) a indústria farmacêutica concebida na lógica do lucro de mercado, até certo momento considera a produção inviável diante dos custos de produção e dos riscos de retorno financeiro. A decisão das indústrias farmacêuticas na pesquisa e comercialização de produtos é influenciada pela demanda de determinadas doenças e principalmente o mercado potencial. Assim, concentram sua produção em determinadas linhas e retiram do mercado drogas de pouco consumo utilizadas em doenças raras, de muito pouco retorno ou de preço controlado pelo governo, por ser seu maior comprador. Esta decisão independe do sucesso do medicamento para determinadas doenças, mesmo devolvendo, aos pacientes, qualidade de vida e condições de participação na sociedade. (SILVA, 2000) Valorizado primordialmente o lucro, indústrias farmacêuticas tendem prioritariamente seguir um fluxograma, com vista a perceber todas as particularidades do mercado que visa atender. Segundo (MOREIRA, 2008) “primeira etapa do processo de desenvolvimento de produto é o cálculo do custo. A partir do resultado desta fase, a empresa é capaz de mensurar a margem de lucro do produto. O projeto passa para a fase seguinte do processo de desenvolvimento ou é abortado. Ao passar pelo cálculo teórico do custo, a empresa define uma prioridade na lista de projetos com base na importância financeira do produto para a empresa. No entanto, a prioridade é muitas vezes decidida pela disponibilidade da matéria-prima e pela complexidade do processo de desenvolvimento e pela demanda de mercado”. Ou seja do posto de vista comercial as indústrias apontam a margem de lucro seguindo critérios (expectativa de vida dos pacientes e necessidade de consumo dos medicamentos / por paciente tratado). Para a indústria o cálculo é baseado em taxa de sobrevivência necessária para atingir um lucro sólido, e qual a taxa de morte dos pacientes defendida é enxergada como perda aceitável. A doença de Pompe, é caraterizada pelo deposito lisossomal de glicogênio consequente à deficiência da enzima alfa-glicosidase ácida (GAA), o que acomete o tecido muscular, fraqueza muscular, aumento da pressão dos órgãos internos, deterioração respiratória e consequente morte prematura. A doença pode se manifestar na fase intra-útero, na infância ou ainda na fase adulta. (PEREIRA; et al 2008). Dá pesquisa de desenvolvimento de novos fármacos à produção da mesma, (especialmente medicamentos órfãos, que visam atender doenças raras) a indústria farmacêutica, encarrega-se de conhecer o perfil do futuro público assistido. Entretanto nem sempre os próprios pesquisadores que atuam dentro das industrias, no desenvolvimento e produção conhecem o perfil dos pacientes que possivelmente serão tratados, esta dicotomia entre ciência x pacientes é perceptível no filme, quando Jonh decide organizar na Zymagen uma reunião com os funcionários, pesquisadores da empresa com pais e crianças com Pompe, afim de que o conhecimento real da doença incentivasse os cientistas. Finalmente em meios a tantas adversidades Jonh e Stonehill, juntamente com a indústria Zymagen conseguem uma enzima utilizável, mesmo não sendo a enzima desenvolvida por Stonehill. Assim o medicamento pode fornecer a enzima, proteína formada por cadeias de peptídeos, que o próprio corpo não produz, para assim a enzima degrada o glicogênio (molécula orgânicas do carboidrato que também é formado por carbono e hidrogênio e oxigênio). O longa retrata uma história de superação e persistência, fatores que sobressai o ponto de vista cientifico, assim como as verdades pertinentes ao modelo econômico capitalista e o limite entre a prioridade e a ética. Englobando todos os aspectos pertinentes, a obra apresenta vários questionamentos sobre a prática da pesquisa científica, demonstrando a existência de contradições e as inversões de valores que ocorrem em nossa sociedade e até onde se pode chegar para salvar vidas. REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS 1-SILVEIRA, Rosemary Silva da. A construção moral do trabalhador de saúde como sujeito autônomo e ético. Universidade Federal de Santa Catarina, Centro de Ciências da Saúde. Programa de Pós-Graduação em Enfermagem. Santa Catarina, 2006. 2- SILVA, Regina Célia dos Santos. Medicamentos excepcionais no âmbito da assistência farmacêutica no Brasil. [Mestrado] Fundação Oswaldo Cruz, Escola Nacional de Saúde Pública; 2000. 215 p. 3- MOREIRA, Raquel Assis. Proposta de um padrãogerencial de gestão de portfólio de novos produtos para indústrias farmacêuticas nacionais. Universidade Federal de Minas Gerais, Escola de Engenharia, Departamento de Engenharia de Produção, Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Produção. Minas Gerais, Belo Horizonte, 2008. 4- PEREIRA, Sandra J .; BERDITCHEVISKY, Célia R .; MARIE, Suely KN. Relato do Primeiro paciente do brasileiro com a forma infantil da Doença de Pompe TRATADO com alfa-glicosidase recombinante Humana. J. Pediatr. (Rio J.) , Porto Alegre, v. 84, n. 3, junho de 2008. Disponível em <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0021-75572008000300014&lng=en&nrm=iso>. Acesso em 09 de outubro de 2014 http://dx.doi.org/10.1590/S0021-75572008000300014.