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LIVRO SOCIOLOGIA POLITICA_20170808-1836

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Sociologia Política
Pablo Ornelas Rosa
Rodrigo Guidini Sonni
© 2013 INSTITUTO FEDERAL DO PARANÁ – EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA
R788s Rosa, Pablo Ornelas
 Sociologia política / Pablo Ornelas Rosa, Rodrigo Guidini Sonni. – 
Curitiba: Instituto Federal do Paraná, 2013.
 128 p. : il. col.
 Inclui bibliografia
 ISBN: 978-85-64614-99-4
 1. Sociologia política. 2. Materialismo histórico 3. Ideologias. 4. 
Weber, Max, 1864-1920. 5. Marx, Karl, 1818-1883. 6. Durkheim, 
Emile, 1858-1917. I. Sonni, Rodrigo Guidini II. Título
CDD 306.2
 20. ed. 
Catalogação na fonte: Norma Lúcia Leal – CRB-9/1047
Irineu Mario Colombo
Reitor
Joelson Juk
Chefe de Gabinete
Ezequiel Westphal
Pró – Reitoria de Ensino - PROENS
Gilmar José Ferreira dos Santos
Pró-Reitoria de Administração – PROAD
Silvestre Labiak
Pró-Reitoria de Extensão, Pesquisa
e Inovação – PROEPI
Neide Alves
Pró-Reitoria de Gestão de Pessoas
e Assuntos Estudantis – PROGEPE
Bruno Pereira Faraco 
Pró-Reitoria de Planejamento e 
Desenvolvimento Institucional – 
PROPLAN
Marcelo Camilo Pedra
Diretor Geral do Câmpus EaD
Célio Alves Tibes Junior
Diretor de Ensino, Pesquisa e
Extensão do Câmpus EaD - DEPE
Thiago da Costa Florencio 
Diretor Substituto de Administração
e Planejamento do Câmpus EaD 
Adriano Stadler
Coordenador do Curso de
Pós-Graduação em Gestão Pública
Elaine Mandelli Arns
Coordenação de e-learning
Ester dos Santos Oliveira
Coordenação de Design Instrucional
Ana Luísa Pereira
Loureni Reis
Design Instrucional
Linda Abou Berjeili de Marchi
Revisão
Flávia Terezinha Vianna da Silva
Capa
 
Paula Bonardi
Projeto Gráfico
Aline Kavinski
Diogo Araújo
Diagramação
Aline Kavinski
Ilustração
Imagens da capa:
http://cidadextreme.wordpress.com/; http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Brasilia_Congresso_Nacional_05_2007_221.jpg
Sumário
Apresentação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5
Capítulo 1 – Pressupostos da Sociologia Política . . . . . . . . . . . . . . . . . . 7
1.1 Formação da Ciência Política . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .10
1.2 Da Física Social à Sociologia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .12
1.3 Diferentes Sociologias . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .14
1.4 A Influência da Modernidade no Surgimento da Sociologia . . . . . . . . . . .15
1.5 Sociologia Política . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .17
Bibliografia comentada . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .20
Capítulo 2 – A Teoria Sociológica Funcionalista de Émile Durkheim . . . . 21
2.1 Seguindo os Passos de Comte . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .21
2.2 Relação entre o Indivíduo e a Sociedade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .22
2.3 Fato Social e Função Social . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .24
2.4 Da Solidariedade Social aos Tipos de Consciência . . . . . . . . . . . . . . . . . .26
2.5 Anomia e Moralidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .27
2.6 A Importância do Estado em Durkheim . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .29
Bibliografia comentada . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .33
Capítulo 3 – Teoria Sociológica Compreensiva de Max Weber . . . . . . . . . 35
3.1 Principais Influências de Weber . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .35
3.2 Relação entre Sujeito e Objeto . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .37
3.3 Ação Social, Relação Social e Ordens Legítimas . . . . . . . . . . . . . . . . . . .39
3.4 Os Tipos Ideais e as Consequências da Modernidade . . . . . . . . . . . . . . .41
3.5 Ciência e Política . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .44
3.6 Poder, Burocracia e Tipos de Dominação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .47
Bibliografia comentada . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .50
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Capítulo 4 – O Materialismo Histórico e Dialético atribuído a Karl Marx . . 51
4.1 Teoria e Prática . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .51
4.2 Trabalho e Luta de Classes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .56
4.3 Estado, Ideologia e Alienação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .58
Bibliografia comentada . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .67
Capítulo 5 – O Poder no Pensamento Social . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 69
5.1 Diferentes Concepções de Poder . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .69
5.2 Relação entre Poder e Política . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .71
5.3 Poder Natural e Instrumental . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .72
Bibliografia comentada . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .80
Capítulo 6 – Estado Moderno e Sociedade Civil . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 81
6.1 Maquiavel, os Contratualistas e Hegel . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .85
6.3 O Estado e a Sociedade Civil na Tradição Marxista . . . . . . . . . . . . . . . . .90
Capítulo 7 – Diferentes Faces da Participação Política . . . . . . . . . . . . . . 97
7.1 Escolha pela Democracia Representativa . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .97
7.2 Participação Política Individual e Coletiva . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .98
7.3 Participação Política Eventual e Organizada . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .102
7.4 Conscientização e Organização Política . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .104
7.5 Participação Eleitoral . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .105
7.6 Movimentos Sociais e Ações Coletivas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .108
Capítulo 8 – Ideologias Políticas Modernas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 113
8.1 O Significado da Ideologia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .115
8.2 Esquerda, Direita e a Política . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .118
8.3 Ideologias “Clássicas” e “Novas” . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .120
Considerações finais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 125
Referências . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 127
Apresentação
Este livro que você, aluno do curso de Pós-Graduação em Gestão 
Pública, do Instituto Federal do Paraná (IFPR) tem em mãos não 
se trata de um trabalho que propõe debates teóricos e políticos 
acerca de questões clássicas e contemporâneas proferidas por 
diferentes autores da Sociologia e da Ciência Política. Trata-se de um 
material introdutório ao estudo da Sociologia Política e, portanto, 
de um livro didático que visa possibilitar uma imersão neste campo 
do conhecimento que, de certa forma, abarca parte de nossas 
experiências vividas cotidianamente.
Para isso, no primeiro capítulo, apresentamos os pressupostos 
da Sociologia Política, mostrando quais são suas particularidades 
e no que se diferencia e se aproxima tanto da Sociologia quanto 
da Ciência Política. Desenvolvemos uma breve construção histórica 
acerca do surgimento dessas duas disciplinas, apontando qual 
a particularidade da Sociologia Política e sua importância para o 
estudo da Gestão Pública, sobretudo, a partir do desenvolvimento e 
da implementação das políticas públicas. 
No segundo capítulo, proporcionamos uma compreensão dos 
elementos basilares da chamada Teoria Sociológica Funcionalista 
desenvolvida por Émile Durkheim,na França, a partir da segunda 
metade do século XIX. Apresentamos algumas de suas principais 
obras e conceitos promovendo um importante diálogo com os 
demais autores e teorias mencionadas neste trabalho. 
No terceiro capítulo abordamos os pressupostos da Teoria 
Sociológica Compreensiva ou Hermenêutica produzida por Max 
Weber, a partir de seus principais conceitos. Assim como nos 
capítulos anteriores e nos posteriores, apresentamos as perspectivas 
dos autores a partir de suas teorias sociológicas, teorias da 
modernidade e de seus posicionamentos políticos, que muitas 
vezes perpassam pontos de vista permeados, ora pela manutenção 
da ordem social ora por sua alteração. Mostramos que as teorias 
sociológicas clássicas apresentadas neste livro a partir de Comte, 
Marx, Durkheim e Weber perpassam diferentes concepções tratadas 
através do conflito e do entendimento. 
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No quarto capítulo, além de mostrarmos as concepções de Karl Marx a partir do 
chamado (materialismo histórico e dialético), vimos como sua teoria foi construída 
e no que ela se diferencia das demais teorias desenvolvidas por Comte, Durkheim 
e Weber. 
Como no capítulo inicial havíamos mostrado as especificidades da Sociologia 
Política em relação à Ciência Política, constatando que a primeira visa estudar as 
relações de poder que perpassam pelo Estado, mas sem limitá-lo a ele; neste quinto 
capítulo, propusemos apresentar as formas com que o poder tem sido tratado pelo 
pensamento social. Deste modo, acabamos oferecendo um panorama geral de 
como o poder tem sido tratado por essas diferentes teorias sociológicas clássicas, 
sobretudo, a partir de duas de suas principais concepções: as objetivistas e as 
subjetivistas.
No sexto capítulo, apresentamos sob quais condições houve o desenvolvimento 
do Estado moderno. Partimos de uma reflexão sobre o que significa a modernidade, 
para, posteriormente, descrevermos as contribuições mais relevantes da teoria social 
acerca da compreensão do Estado moderno e de que maneira ele se relaciona com 
a chamada sociedade civil e com a sociedade burguesa. 
No sétimo capítulo, desenvolvemos um texto didático sobre a importância da 
sociedade civil como grupo de pressão decorrente, principalmente dos movimentos 
sociais e de suas diferentes manifestações políticas que podem, inclusive, ultrapassar 
as barreiras da ação do Estado. Logo, partimos do pressuposto de que a participação 
política não inclui exclusivamente a participação eleitoral através do voto, chamado 
comumente de sufrágio universal, mas também por outros diferentes meios. 
Por fim, no oitavo e último capítulo, apresentamos as diferentes concepções 
de ideologia e as comumente chamadas ideologias modernas, tais como o 
liberalismo, o conservadorismo, o fascismo, o socialismo, o movimento ecológico e o 
fundamentalismo religioso, apresentando não apenas os diferentes posicionamentos 
políticos, mas também as diferentes visões de mundo.
1
CapítuloPressupostos 
da Sociologia Política
Este capítulo inicial propõe ao aluno do curso de Pós-Graduação 
em Gestão Pública do Instituto Federal do Paraná (IFPR) uma 
introdução à Sociologia Clássica, aos seus principais autores e 
teorias, apontando sua relação com a Ciência Política. O seu principal 
objetivo é proporcionar um maior entendimento acerca dos principais 
elementos sociais, políticos e econômicos localizados no contexto 
do surgimento da sociologia e da ciência política, possibilitando a 
compreensão das especificidades dessas disciplinas, assim como de 
seus objetos de análise mais elementares que resultaram na junção, 
elaboração e desenvolvimento da sociologia política. 
Embora sejam apresentadas de forma simplificada as principais 
visões das tradições clássicas da sociologia nos três capítulos 
seguintes, busca-se neste momento inicial esboçar algumas noções 
basilares da teoria positivista, da funcionalista, do materialismo 
histórico e dialético, bem como da teoria sociológica compreensiva 
ou hermenêutica, elaboradas, respectivamente, por Augusto Comte, 
Émile Durkheim, Karl Marx e Max Weber. 
Nossa intenção é fundamentar as principais concepções teóricas e 
políticas dos precursores do pensamento sociológico com a construção 
de suas metodologias de análise que se apresentam de maneira bastante 
distinta umas das outras. Deste modo, procuraremos responder algumas 
questões como: Qual a relação entre a sociedade e as diferentes 
teorias sociológicas e políticas? O que é sociologia? O que é 
política? O que esses campos do conhecimento científico 
estudam? E qual a relação entre eles?
Certamente esses questionamentos seriam respondidos pelo senso 
comum de forma bastante simplificada, possivelmente por meio da 
afirmação de que enquanto a sociologia estuda os fenômenos que 
ocorrem no interior da sociedade, a política trata da organização, da 
administração e das relações de poder existentes nos negócios internos 
(política interna) e externos (política externa) da sociedade, as diferentes 
formas de governo e ideologias.
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Embora essas considerações estejam bastante próximas das corretas, a 
superficialidade deste tipo de resposta aponta para uma simplificação da questão. 
Ao percebermos a falta de certo grau de complexidade, abarcado por sua história e 
seus demais desdobramentos no campo das ciências humanas, notamos que há uma 
necessidade de aprofundamento teórico sobre essas áreas, conforme veremos a seguir.
Afinal, o que é política?
O conceito de política possui suas raízes no adjetivo polis (politikós), que 
trata de tudo aquilo que se refere à cidade, ao urbano, ao civil, ao público, ao 
sociável e ao social. Já a sua utilização moderna designa aquelas atividades ou 
conjuntos de atividades produzidas e compostas pelo Estado. Contudo, antes 
de apresentarmos o processo de formação da Ciência Política é imprescindível 
definirmos o seu campo de atuação.
Para Bobbio (1990), ciência política refere-se a um tipo de pesquisa 
realizada no campo da vida política que ocorre por meio de três condições: 
1ª) do princípio da verificação como critério de aceitabilidade dos resultados; 
2ª) do uso de técnicas da razão que permitam dar uma explicação causal do 
fenômeno investigado; 3ª) da abstenção de juízos de valor. 
A política contemporânea, comumente chamada de ciência política, localiza-se 
principalmente nos escritos de Maquiavel (1469-1527); a política clássica situa-
se em Aristóteles (384 a.C.-322 a.C.), pensador grego, e em sua constatação de 
que o ser humano é um zoonpolitikón (animal político) que vive na polis 
(cidade), considerada a unidade constitutiva indecomponível e a dimensão suprema 
da existência. 
Para os gregos, o viver “político” e a “politicidade” não eram apenas aspectos 
da vida, mas o seu todo e a sua essência. Logo, o ser humano “não político” era 
tratado como um ser deficiente, um ídion (“idiota” no sentido original do termo), 
cuja insuficiência consistia justamente em ter perdido (ou nunca ter adquirido) certa 
dimensão e plenitude de sua simbiose com a polis, que consistiria em uma relação 
mutualmente vantajosa para ambos, conforme constatou Sartori (1981).
É importante esclarecer que não há como pensar em política e, portanto, 
em ações humanas, sem considerá-las como um campo permeado por relações 
de poder, pois quem faz política busca ou procura exercer o poder sobre outra 
9Capítulo 1 – Pressupostos da Sociologia Política
pessoa ou sobre um grupo social no intuito de obter alguma vantagem pessoal ou 
coletiva. Segundo Weber (1970), todos que se entregam à política aspiram 
ao poder – seja considerando-o como instrumento a serviço da consecução de 
outros fins, ideais ou egoístas, seja porque desejam o poder “pelo poder”, no intuito 
de gozarem de um sentimento de prestígio que ele confere à pessoa. 
Embora se constate que a política tenha sido utilizada como um conjunto de 
esforços que visam à participação do poder ou sua influênciana divisão do poder 
tanto entre Estados quanto no interior de um único Estado – conforme apontou 
Weber (1970) – é possível averiguar que a política tem oscilado entre duas 
interpretações opostas:
Para uns, a política é essencialmente uma luta, um combate: o poder permite aos 
indivíduos e grupos que o detêm assegurar sua dominação sobre a sociedade 
e dela tirar proveito; os outros grupos e os outros indivíduos se erguem contra 
esta dominação e esta exploração, esforçando-se por resistir-lhe e destruí-las. 
Para outros, a política é um esforço no sentido de fazer reinar a ordem e a 
justiça: o poder assegura o interesse geral e o bem comum contra a pressão das 
reivindicações particulares (DUVERGER, 1968). 
Deste modo, a política tem servido tanto para manter os privilégios de 
uma minoria sobre uma maioria, quanto para integrar os indivíduos na 
comunidade, criando uma suposta sociedade justa, conforme buscava Aristóteles. 
Apesar de haver discordâncias entre os cientistas políticos no que se refere à 
ação da política tratada por meio do consenso ou do conflito, há certa convergência 
acerca da fundação da chamada ciência política moderna, pois para a grande 
parte dos pesquisadores contemporâneos, Nicolau Maquiavel é considerado 
o fundador da ciência política. Foi a partir de sua obra intitulada O Príncipe, 
escrita por volta de 1512, que o autor garantiu sua condição de inaugurador deste 
campo do conhecimento.
Em O Príncipe, oferece um estudo da dinâmica de governo, dos meios e 
circunstâncias que conduzem à obtenção e manutenção do poder, além de mostrar 
os erros que podem ser cometidos e como evitá-los. Defendeu que para se ter êxito 
com o poder todos os meios se justificam. No período em que Maquiavel escreve, 
a Itália estava dividida entre diferentes reinos, ducados e repúblicas, marcada 
por profundas divisões, rivalidades e corrupção. Neste contexto, considera que 
a debilidade italiana só podia ser superada através do Estado, e ao observar a 
unidade existente em outros países justifica a monarquia absoluta como única 
forma possível de a Itália superar sua condição (DIAS, 2011). 
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O Príncipe, principal obra de Maquiavel, fundamentava-se em um manual 
prático destinado a ensinar técnicas de governo e de manutenção do 
poder. Para o autor, a religião e a moral poderiam ser prudentemente utilizadas 
na consolidação do poder dos governantes, entretanto, não seriam necessárias 
para seu funcionamento, pois os fins políticos são sempre justificados pelos 
meios empregados.
Maquiavel (1996) não propôs a legitimação do poder, mas sua manutenção 
através da força e da astúcia, uma vez que estes eram os únicos elementos capazes 
de explicar a queda dos impérios e dos governos. Deste modo, o autor não apenas 
procurou ensinar aos governantes e ao povo quais eram os mecanismos de governo 
mais utilizados na consolidação e no fortalecimento do Estado, como também 
apontou quais eram os erros mais elementares que engendravam a decadência e a 
ruína dos governantes. 
O que Maquiavel realmente queria era evidenciar a natureza estratégica da 
atividade política destacando tanto a virtú (firmeza de caráter, coragem militar, 
habilidade no cálculo, capacidade de sedução e inflexibilidade), quanto à fortuna 
(sucesso ao avaliar o melhor momento para agir). 
1.1 Formação da Ciência Política
Na época em que Maquiavel escreveu O Príncipe, meados do século XVI, as 
sociedades europeias ocidentais atravessavam um período demarcado por intensas 
transformações provocadas, principalmente, pelo Renascimento1. As principais 
alterações ocorridas naquele momento foram sintetizadas por Châtelet; Duhamel & 
Pisier-Kouchner (2009), conforme veremos no quadro a seguir.
A partir do início do século XVI, ocorreram transformações que abalaram as 
sociedades da Europa Ocidental. Essas múltiplas e interferentes transformações (o 
Renascimento) envolveram: 2
1 Renascimento, Renascença ou Renascentismo são termos utilizados para identificar o período da história 
europeia que ocorreu entre o final do século XIII e meados do século XVII, exercendo forte influência nos escritos 
dos autores da época, sobretudo, no campo da política. O Renascimento esteve marcado por transformações 
em diversas áreas da vida humana, caracterizando a transição do feudalismo para o capitalismo, assinalando 
o final da Idade Média e o início da Idade Moderna.
2 Laissez-faireé a contração da expressão em língua francesa laissezfaire, laissezaller, laissezpasser, que significa 
literalmente “deixai fazer, deixai ir, deixai passar. (Fonte: http://www.recantodasletras.com.br/ensaios/741674)
http://pt.wikipedia.org/wiki/S%C3%A9culo_XIII
11Capítulo 1 – Pressupostos da Sociologia Política
A As realidades históricas e econômicas (extensão e aplicação – prática das descobertas 
feitas durante a Idade Média; desenvolvimento da civilização urbana, comercial e 
manufatureira);
B A imagem do mundo (descoberta do novo mundo; revoluções astronômicas de 
Copérnico e Kepler; a física de Galileu);
C A representação da natureza (o universo medieval dos signos é substituído por uma 
realidade espacial a conquistar e explorar);
D A cultura (a redescoberta da Antiguidade greco-romana pelos humanistas suscita um maior 
interesse pelo ser humano enquanto dado natural e pelas especulações ético-políticas;
E O pensamento religioso (a radicalização da contestação do poder e da hierarquia de 
Roma, esboçada no século XIV por J. Hus, na Boêmia, e Wycliff, na Inglaterra, pelos 
movimentos que reivindicam cristianismo primitivo e se apoiam em especificidades 
“nacionais”). Esses abalos e os conflitos que os marcam colocam às práticas e às 
reflexões políticas problemas que essas vão ter que resolver por meio de invenções que 
estão na origem da modernidade: entre as mais marcantes, a do Estado como soberania 
(CHÂTELET; DUHAMEL & PISIER-KOUCHNER, 2009: 35).
Apesar de serem raros os momentos 
consensuais estabelecidos por sociólogos e 
cientistas políticos, podemos dizer que há certa 
concordância no que se refere à importância dada 
ao pensamento de Maquiavel para a constituição 
da ciência política. Contudo, é importante 
destacar que tamanha relevância dada ao autor 
só foi possível devido à sua responsabilização 
pela introdução de elementos que resultaram 
em uma ruptura decisiva, construída a partir 
de concepções que contrariavam as teorias 
da sociabilidade natural e dos ensinamentos 
teológicos cristãos3.
Ao abordar as atividades coletivas, enfatizando 
a preponderância do Estado, Maquiavel reconheceu 
a ascensão de um novo tipo de poder soberano que se encontrava representado na 
figura do Príncipe. A grande originalidade de seu pensamento se deve, sobretudo, à sua 
obra O Príncipe, na qual o autor mostrou que para manter o poder é preciso buscar 
a onipotência através da recusa de quaisquer fraquezas. Deste modo, seria necessário 
3 A teologia cristã pode ser definida tanto como as verdades extraídas da Bíblia e de quaisquer outras fontes 
reconhecidas como divinas que são apresentadas de forma sistematizada, quanto como uma filosofia que trata 
do nosso conhecimento sobre Deus e de seu relacionamento com os indivíduos, abarcando, portanto, tudo 
aquilo que se relaciona a Ele, a Bíblia e os propósitos divinos.
Figura 1.1: Nicolau Maquiavel
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http://pt.wikipedia.org/wiki/Filosofia
http://pt.wikipedia.org/wiki/Deus
http://pt.wikipedia.org/wiki/B%C3%ADblia
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afastar quaisquer considerações morais e religiosas no intuito de garantir ao Príncipe 
que ele seja efetivamente o senhor da legislação e, portanto, o definidor do bem e 
do mal público.
As disponibilizações dessas diferentes ferramentas analíticas que viabilizaram e 
ainda viabilizam importantes reflexões sobre a gênese do Estado moderno, elaboradas 
a partir de O Príncipe, possibilitaram a abertura de caminhos imprescindíveis paraas ciências sociais que proporcionaram outros tipos de análises sobre a sociedade 
moderna, resultando, inclusive, na elaboração de outro campo do conhecimento 
científico chamado de sociologia, conforme veremos adiante.
A noção de ‘política’ é mais difícil de precisar que a de ‘sociologia’. Esta 
palavra é recente: conserva um sentido técnico; é ainda pouco empregada em 
linguagem corrente. O termo ‘política’, pelo contrário, é muito antigo e pertence 
ao vocabulário usual: por força das circunstâncias, tornou-se muito mais vago. 
Sem dúvida, ao lado de seu uso vulgar, é ele utilizado de modo mais preciso 
pelos sociólogos. As expressões ‘sociologia política’ ou ‘ciência política, que lhe é 
quase sinônima adquiriram já direito de cidadania em França há muitos anos, para 
designar um ramo da Sociologia (DUVERGER, 1968).
1.2 Da Física Social à Sociologia
Apesar de ser composta por diferentes concepções políticas, teóricas e conceituais, 
a sociologia é uma disciplina criada recentemente, em meados do século XIX. 
O grande responsável pela atribuição deste nome a este campo do conhecimento 
foi Augusto Comte (1798–1857) que, em sua obra intitulada Curso de Filosofia 
Positiva, escrito em 1839, propõe a alteração da física social, termo empregado pelo 
autor em 1830, mas já utilizado anteriormente por Saint-Simon e Thomas Hobbes, 
para sociologia. Segundo Duverger (1968), a substituição do termo física social 
para sociologia ocorreu devido à constatação de Comte de que, em 1836, Quételet4 
havia aplicado este termo no estudo estatístico dos fenômenos morais.
A grande preocupação de Comte ao propor esta nova disciplina consistia em 
formular as bases deste campo de saberes sobre a sociedade moderna que emergia, 
amparando-se na utilização de metodologias validadas pelo conhecimento científico 
da época. Deste modo, o autor propôs que fossem utilizados às Ciências Sociais 
métodos semelhantes àqueles validados pelas Ciências Naturais e Exatas daquele 
período, no intuito de que fossem abandonados os pressupostos analíticos abarcados 
pela filosofia política, saber que até aquele momento se dedicava exclusivamente a 
analisar os fenômenos sociais, por meio de especulações.
4 Lambert Adolphe Jacques Quételet (1796—1874), matemático, astrônomo, estatístico e sociólogo belga, foi 
quem iniciou importantes estudos acerca da demografia e do índice de massa corporal.
http://pt.wikipedia.org/wiki/1796
http://pt.wikipedia.org/wiki/1874
http://pt.wikipedia.org/wiki/Matem%C3%A1tico
http://pt.wikipedia.org/wiki/Astr%C3%B4nomo
http://pt.wikipedia.org/wiki/Estat%C3%ADstico
http://pt.wikipedia.org/wiki/Soci%C3%B3logo
http://pt.wikipedia.org/wiki/B%C3%A9lgica
http://pt.wikipedia.org/wiki/Demografia
http://pt.wikipedia.org/wiki/%C3%8Dndice_de_massa_corporal
13Capítulo 1 – Pressupostos da Sociologia Política
Segundo Comte, a racionalidade humana 
havia passado por três estágios durante o seu 
desenvolvimento: o teológico, o metafísico e o 
positivo, sendo o último destes o mais importante 
por se fundamentar exclusivamente no conhecimento 
científico, que para o autor era o saber mais avançado. 
Comte ainda constatou que no interior do campo 
científico existia uma espécie de hierarquia, na qual a 
matemática encontrava-se no nível mais baixo desta 
escala, entretanto, a biologia, naquela época chamada 
de fisiologia e, principal-mente, a sociologia ocupava o 
posto mais alto.
Augusto Comte insistiu enfaticamente sobre o 
caráter científico da Sociologia. O nascimento mesmo desta disciplina está ligado 
à ideia fundamental de que se devem aplicar ao estudo dos fenômenos sociais 
os mesmos métodos de observação que empregam às ciências naturais: daí a 
expressão “física social”, inicialmente usada por Comte. Durkheim expressará mais 
tarde a mesma ideia, dizendo que se deve tratar os fatos sociais “como coisas”. 
Ver-se-á mais adiante que os autores modernos não adotam de todo a mesma 
atitude (DUVERGER, 1968:02).
A ideia de Comte pautada na aplicação dos métodos das Ciências Naturais e 
Exatas ao estudo da sociedade recebeu influências de Saint-Simon – pensador do 
qual Comte foi colaborador entre 1817 e 1824 – e Condorcet – que sustentava 
a importância do cálculo e da matemática ao estudo dos fenômenos sociais, 
desenvolvendo as principais concepções que fundamentaram o positivismo. 
Para Comte, a evolução do conhecimento é comparada à evolução do 
ser humano. Assim, a religião representaria a infância da humanidade, a 
filosofia (metafísica) representaria a adolescência e só a ciência traria a 
plena maturidade, atingindo o estado positivo.
Entendendo que a ciência positivista seria a única explicação legítima da 
sociedade, Comte constatou que a religião e a filosofia conduzem o ser humano ao 
engano, mas que este estava sendo substituído pelo avanço da ciência, propiciando 
à sociedade um completo domínio e conhecimento do mundo que o cerca. Embora 
tenha proferido críticas à religião, no final de sua vida, Comte acabou propondo 
Figura 1.2: Augusto Comte
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a chamada Religião da Humanidade, em sua obra intitulada Catecismo 
Positivista (escrita em 1852). O principal objetivo de Comte era resgatar a 
moralidade perdida com a ascensão da modernidade.
1.3 Diferentes Sociologias
É possível falarmos em nome de uma única sociologia ou de uma única 
ciência política? Ou existem diferentes formas de fazê-las? Existe uma 
única maneira de se estudar e de desenvolver pesquisas a partir dessas 
disciplinas?
Não, pois o pensar sociológico e político pressupõem a existência de diferentes 
“escolas” e “tradições”, conforme veremos adiante. Apesar de Maquiavel ser 
comumente considerado o fundador da Ciência Política, e Comte o instituidor da 
Sociologia, principalmente pelo fato de ter atribuído o nome a esta disciplina, há 
certo consenso entre os sociólogos acerca da maior importância dada, do ponto de 
vista teórico-metodológico e político, a Karl Marx, Émile Durkheim e Max Weber 
(além de outros autores como Simmel, Tarde, Tönnies, etc.). 
É importante ressaltar que, embora tenham desenvolvido suas teorias 
sociológicas e políticas, bem como suas visões acerca da modernidade, de forma 
bastante distinta, não há uma unidade no pensamento desses autores. Logo, cada 
um acabou desenvolvendo distintamente sua teoria sociológica, sua teoria da 
modernidade e sua teoria política:
Teoria 
sociológica:
métodos de estudo da realidade social.
Teoria da 
modernidade:
interpretações quanto às características das relações sociais em tempos 
modernos.
Teoria política: discussão sobre os problemas e desafios da vida em sociedade.
Fonte: Sell (2009)
Como ambos viveram em diferentes momentos daquele período que se 
convencionou chamar de modernidade, marcado por diversas mudanças sociais, 
culturais, políticas e econômicas, sobretudo, em decorrência do Renascimento, 
Iluminismo, Revolução Industrial e Revolução Francesa, conforme veremos na 
sequência, cada um deles desenvolveu suas metodologias e teorias destinadas 
a analisar os fenômenos sociais que estavam à sua volta, posicionando-se 
politicamente diante daqueles acontecimentos. 
15Capítulo 1 – Pressupostos da Sociologia Política
A construção desses diversificados arcabouços teóricos elaborados pela 
sociologia clássica, que trata tanto dos fenômenos sociais daquela época, como 
também da sistematização de metodologias e dos posicionamentos políticos desses 
autores, são reflexos de suas diferentes concepções de mundo.
Os clássicos da Sociologia foram alguns dos grandes intérpretes do mundo 
moderno. Eles nos ajudaram a entender que a modernidade implica uma 
profunda ruptura com o passado, trazendo novas formas de organizar a 
produção (economia), distribuir o poder (política) e compreender a existência 
(cultura) (SELL, 2009:17).
Sell (2009), de forma bastante simplificada, apresentou um quadro comparativo 
referente aos três principaisautores da sociologia clássica, que será apresentado 
doravante.
Autores Teoria Sociológica
Teoria da 
Modernidade
Teoria Política
Marx Método Histórico- Dialético
Modo de Produção 
Capitalista
Comunismo
Durkheim Método Funcionalista Divisão do Trabalho Social
Culto do indivíduo
Weber Método Compreensivo
Racionalismo da 
Dominação do Mundo
Liderança Carismática
Fonte: Sell (2009)
Embora este seja um material didático destinado a introduzir o aluno do curso de 
Pós-Graduação em gestão pública do Instituto Federal do Paraná – IFPR no campo 
da Sociologia Clássica e da Ciência Política para, subsequentemente, tratarmos da 
Sociologia Política, queremos deixar claro que este livro não tratará de debater estas 
Teorias, mas apresentá-las de maneira introdutória. 
1.4 A Influência da Modernidade no 
Surgimento da Sociologia
Antes de definirmos o campo da sociologia política e os seus principais objetos 
é importante destacarmos que a Revolução Industrial e a Revolução Francesa – 
que, de certa forma, estiveram permeadas por certa revolução científica – foram 
acontecimentos imprescindíveis para o surgimento da sociologia. O Renascimento 
e o Iluminismo proporcionaram importantes mudanças dos pontos de vista social, 
cultural e religioso, assim como a Revolução Francesa provocou uma transformação 
política e a Revolução Industrial uma modificação na ordem econômica.
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A Europa, no século XVIII, havia atravessado por um importante período 
de abalo as tradições políticas com a revolução francesa. Este fenômeno 
da maior importância resultou na queda da monarquia e na progressiva 
instauração do sufrágio eleitoral, do processo de ampliação dos direitos 
humanos, das noções de liberdade, fraternidade e igualdade, trazendo novos 
ideais políticos, inaugurando novas formas de organização do poder a partir 
da ascensão da classe burguesa. 
No entanto, antes da Revolução Francesa consagrou-se uma nova forma de 
pensar filosoficamente o mundo, através do chamado Iluminismo ou Século 
das Luzes. Este se destacou por ser um movimento intelectual que possuía como 
objetivo entender e organizar o mundo a partir da razão. Segundo os filósofos 
Voltaire, Rousseau, Diderot, D’Alembert dentre outros, a razão era a luz que 
sepultaria as trevas apresentadas pela monarquia e pela religião que manipulavam 
o conhecimento da época. 
Esse processo de transformação cultural teve seu início no Renascimento, século 
XV, pois embora tenha sido mais forte no campo das artes, o objetivo era colocar 
o ser humano (antropocentrismo) no lugar de Deus (teocentrismo). Entretanto, o 
Iluminismo acabou acrescentando um elemento importantíssimo ao Renascimento, 
que seria o potencial da razão humana. 
Desta forma podemos entender que por detrás da transformação de ordem 
política ocorrida na Revolução Francesa, havia outra transformação concomitante, 
mas de ordem cultural através do pensamento iluminista que estava se consolidando 
nos séculos XVII e XVIII, tendo iniciado seu processo de busca pela racionalização 
desde o Renascimento. Assim, este século de contestação política e cultural acabou 
propiciando outra importante transformação posterior de ordem econômica – a 
chamada Revolução Industrial.
A Revolução Industrial alterou plenamente as formas de interação 
humana, aumentando a produtividade e instaurando duas novas classes 
sociais: a burguesia (que já era existente) e o proletariado. A primeira se 
destacava por possuir a propriedade das máquinas ou os chamados meios 
de produção, enquanto que a segunda se obrigava a vender o único bem 
que possuía, ou seja, o próprio corpo para o trabalho ou a chamada força de 
trabalho. Junto a essas transformações vieram a imigração, a urbanização, a 
proletarização, novas formas de pobrezas e fenômenos sociais radicalmente 
novos que possibilitaram uma transformação de ordem econômica.
17Capítulo 1 – Pressupostos da Sociologia Política
É importante destacar que as três transformações que apresentamos de forma 
arbitrária alteraram não apenas as estruturas fundamentais da sociedade europeia 
e/ou ocidental, como também os rumos da história, desencadeando novas relações 
sociais, assim como novas formas de luta política, tanto o Iluminismo com as 
revoluções Francesa e Industrial. Essas transformações começaram um movimento de 
transição entre o que hoje chamamos de Idade Média e Idade Contemporânea.
Foi em meio às concepções sobre os acontecimentos desses séculos que 
os três clássicos da sociologia – Marx, Durkheim e Weber – construíram suas 
teorias sociológicas (dimensão teórico-analítica) pautadas nas análises dessas 
transformações históricas, que pressupõem teorias da modernidade (dimensão 
teórico-empírica) e proposições de projetos políticos (dimensão teórico-
política), ambas permeadas pela objetividade do conhecimento científico na busca 
por uma maior compreensão da relação entre indivíduo e sociedade.
Enquanto a dimensão teórico-analítica consiste na capacidade de explicação 
baseada na utilização de métodos científicos, a dimensão teórico-empírica 
compreende o uso destes métodos a partir de elementos extraídos de determinada 
realidade empírica que se relaciona intimamente com a dimensão teórico-política, 
amparada nos posicionamentos destes autores diante das transformações que 
presenciavam a partir do século XIX. 
No entanto, até o século XIX eram poucos os pensadores que se preocupavam 
com as chamadas atualmente de questões sociais. E estes poucos que havia, 
analisavam as questões sociais com auxílio da filosofia política, limitando suas 
compreensões a partir do fenômeno do poder pensando na esfera do Estado. Como 
a filosofia política possuía um caráter eminentemente especulativo, não dispondo 
da observação e da experimentação (elementos essenciais para o olhar científico), 
foi necessária a elaboração de uma disciplina que utilizasse os métodos científicos 
na compreensão da realidade: a sociologia política.
1.5 Sociologia Política
Sempre que falamos em sociologia política, falamos também em 
ciência política. Podemos dizer que ambas são as mesmas coisas? O que 
as caracterizam?
Embora alguns autores constatem que seja “impossível estabelecer qualquer 
distinção teórica entre sociologia política e ciência política” (BOTTOMORE, 1979:08), 
uma vez que ambas versam sobre as questões referentes ao poder; outros, como 
Duverger (1968), por exemplo, apesar de reconhecerem a enorme proximidade entre 
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esses campos, acabam distinguindo-os, na medida em que consideram a ciência 
política como uma ciência do Estado, e a sociologia política como uma ciência do 
poder, ultrapassando, assim, os limites da organização estatal. 
Segundo Duverger (1968), a sociologia política não deve ser tratada apenas 
como uma disciplina que visa analisar e corroborar com a manutenção da ordem 
social em proveito de todos, mas, principalmente, como uma ferramenta de combate 
entre indivíduos e grupos destinados a conquistarem poderes utilizados em proveito 
próprio ou em detrimento da coletividade. Deste modo, o autor propõe que, para 
a sociologia política, o poder possui duas faces: a opressão e a integração, 
elementos que são disponibilizados de maneira diferente entre os autores da 
sociologia clássica.
[...] A ciência política se caracteriza por buscar nos fatos políticos as variáveis 
explicativas, ou seja, independentes e que dão sentido a outros fenômenos e 
processos do mundo político ou fora dele. Ao analisar os tipos de regimes 
políticos, as condições do exercício do poder, os negócios políticos, os programas 
governamentais, os grupos de poder, os conflitos e tensões institucionais, o 
cientista político busca regularidades, conexões causais entre os fatos do mundo 
político. Por sua vez, o sociólogo localiza nas condições socioestruturais, nos 
fenômenos sociais, as causas explicativas de outros acontecimentos sociais, ou 
mesmo políticos, econômicos etc. São conceitos típicosda Sociologia: comunidade 
(rural e urbana), trabalho, status, autoridade, classe social, alienação, ideologia, 
mito etc. [...]
Fonte: SOUZA, Nelson Rosário de. O que é Sociologia Política. Disponível em: 
<http://www2.videolivraria.com.br/pdfs/8697.pdf> (Acessado no dia 27 de abril de 2012).
A aproximação entre a ciência política e a sociologia ocorreu a partir do século XX, 
em decorrência da massificação da política institucional e dos diferentes movimentos 
sociais que se iniciaram, sobretudo, na Europa central. Foi somente a partir da formação 
dos partidos de massa e da intensificação na organização de mobilizações sociais que a 
junção dessas duas disciplinas foi possível, objetivando analisar os diferentes elementos 
que compõem e influenciam não apenas o jogo político institucional, mas as demais 
relações sociais.
http://www2.videolivraria.com.br/pdfs/8697.pdf
19Capítulo 1 – Pressupostos da Sociologia Política
Neste capítulo pudemos compreender quais foram as condições em que a sociologia 
e a ciência política emergiram. Vimos também que a elaboração e o desenvolvimento 
da ciência política ocorreram na Europa, sobretudo, na Itália, em meados do século 
XVI, com a publicação de O Príncipe, de Nicolau Maquiavel, enquanto que a 
sociologia só foi se desenvolver no século XIX, na França, com a criação da teoria 
positivista, forjada por Augusto Comte a partir de sua obra intitulada Curso de 
Filosofia Positiva. 
Além de proporcionarmos uma análise sobre o contexto em que a sociologia emergiu, 
ainda tratamos de expor, de maneira bastante introdutória, alguns elementos basilares 
dessas diferentes teorias sociológicas clássicas que serão abordadas doravante. 
Contudo, gostaríamos de ressaltar que as teorias elaboradas por Marx, Durkheim e 
Weber não somente passaram a ser utilizadas como ferramentas indispensáveis para 
a compreensão da realidade social através de um processo de validação perpassado 
pelo crivo da cientificidade que visava explicar, compreender, refletir e analisar os 
fenômenos sociais, além de combatê-los, como também apresentaram aspectos 
imprescindíveis que subsidiaram a elaboração daquilo que se convencionou chamar 
de sociologia política, tema deste livro.
Síntese
WAJDA, Andrezej (direção). Danton – O Processo de Revolução. 
França, 1983.
(Danton, O Processo da Revolução é um dos filmes 
indispensáveis sobre a Revolução Francesa. Com a Direção do 
mestre Andrzej Wajda (Cinzas e Diamantes), essa obra prima 
tem como destaque o astro Gérard Depardieu, em uma das 
grandes interpretações de sua carreira. Quatro anos após a 
Revolução, a situação econômica da França é um desastre. Na 
época, cada cidadão era um suspeito em potencial. As cabeças 
rolavam com a guilhotina. O povo vivia com fome e com medo. Os mesmos 
revolucionários – Danton e Robespierre –, que tinham proclamado a Declaração 
dos Direitos do Homem, implantavam o Reino do Terror. Enquanto Danton tinha 
o apoio do povo, o segundo tinha o poder. O embate entre os dois líderes dá 
início a um complexo processo político.
CHAPLIN, Charles (direção). Tempos Modernos. 
Inglaterra, 1936.
A história gira em torno de um trabalhador que ao sofrer um 
colapso nervoso devido ao seu cansativo trabalho, é levado para 
um hospital, e ao voltar para a sua vida exaustiva, encontra a 
fábrica fechada. Sem saber do que viver, ele vai atrás de outros 
empregos. E nessa busca acaba fazendo uma grande amizade.
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Bibliografia comentada
GIDDENS, Anthony & TURNER, Jonathan (org.).Teoria Social Hoje. 
São Paulo: Unesp, 1999.
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Neste livro, os autores debatem as grandes questões que permearam o universo 
das ciências sociais nas últimas décadas, como ‘O que existe fora do universo 
social?’; Quais são as propriedades mais fundamentais do mundo?’; ‘Que tipo de 
análise dessas propriedades é possível ou apropriada?’ Dessas abordagens resulta 
um rico panorama responsável pela configuração da variedade de posturas em 
torno das quais se desenvolve a teoria social contemporânea.
2
CapítuloA Teoria Sociológica 
Funcionalista de Émile 
Durkheim
Este capítulo propõe descrever os principais elementos teóricos, 
metodológicos e políticos que compõem a chamada teoria 
sociológica funcionalista elaborada 
por David Émile Durkheim (1858-
1917), disponibilizando ao leitor as 
percepções sobre a modernidade e 
sobre a pesquisa sociológica, além de 
apresentar as concepções políticas do 
autor.
2.1 Seguindo os 
Passos de Comte
Seguidor de Augusto Comte, um dos autores apresentados no 
capítulo anterior, mas sem perder de vista seus limites, e com a 
pretensão de conferir à sociologia uma reputação verdadeiramente 
científica, Émile Durkheim teve como principal objetivo desenvolver 
um importante aspecto que faltava na sociologia criada por 
seu precursor: um método de análise. Através de sua tese 
intitulada Divisão do Trabalho Social (1893), Durkheim desenvolveu 
“ferramentas” que o ajudaram a ser considerado por seus pares 
um dos pesquisadores pioneiros na área da sociologia da religião 
(com sua obra intitulada As Formas Elementares da Vida Religiosa, 
1912), na área do conhecimento (com sua obra intitulada As Regras 
do Método Sociológico, 1895), nos estudos empíricos sobre o 
fenômeno do suicídio (em sua obra intitulada O Suicídio, 1897), e 
na área da educação (expostos em sua obra Educação Moral, 1925, 
por exemplo).
Dentre as influências fundamentais do pensamento de Durkheim 
podemos destacar três correntes de pensamento: o positivismo, 
o evolucionismo e o conservadorismo que contribuíram para a 
Figura 2.1: Émile Durkheim
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elaboração da teoria sociológica funcionalista. O pensamento positivista, que 
partia das ideias de Comte, enfatiza o poder da razão oriundo do iluminismo e 
a superioridade da ciência através do positivismo; o evolucionismo aplicava 
a noção de evolução da natureza a partir de Darwin e evolução da sociedade a 
partir de Spencer1; o conservadorismo de Burke2, Maistre3 e Louis de Bonald4, 
que se opunham as transformações trazidas pela Revolução Francesa, criticando o 
racionalismo e a agitação do mundo moderno, propondo um retorno aos ideais de 
estabilidade da Idade Média enfatizada pela religião, que deveria ser sobreposta 
pela ampliação de um modelo de educação laica. 
Embora Durkheim não rejeitasse o progresso, a ênfase conservadora na 
ordem o influenciou em suas posições políticas. 
2.2 Relação entre o Indivíduo e a Sociedade
Mas, qual a relação entre a sociedade e o indivíduo? De acordo com 
Durkheim, de que maneira um complementa o outro?
1 Herbert Spencer (1820-1903) foi um grande admirador de Charles Darwin e de sua obra intitulada A Origem 
das Espécies, sendo o responsável pela expressão “sobrevivência do mais apto”. Em suas obras o autor aplicou 
as supostas leis da evolução a todos os níveis da atividade humana. Spencer também foi considerado o 
fundador de uma corrente chamada dedarwinismo social. Com base em suas ideias, alguns autores procuraram 
justificar a divisão da sociedade em classes, propondo que estes seriam exemplos de seleção natural. 
2 O conservadorismo é uma corrente do pensamento políticos que iniciou na Inglaterra por volta do final do 
século XVIII pelo advogado, filósofo e político irlandês, Edmund Burke (1729-1797), como uma reação à 
Revolução Francesa. Partia do princípio de que as utopias provenientes deste acontecimento resultaram em 
uma instabilidade política e em crises sociais em toda a França. O pensamento conservador foi difundido pelo 
mundo, sobretudo, a partir do período do Terror jacobino, que, durante o auge da Revolução, causou a morte de 
35 a 40 mil pessoas. O termo “conservador” pressupõe certa adesão aos princípios e aos valores atemporais, 
que deveriam ser conservados a despeito de toda mudança histórica.
3 O Conde Joseph-Mariede Maistre (1753-1821) foi um importante escritor, filósofo, diplomata e advogado 
proponente do pensamento contrarrevolucionário no período seguinte à Revolução Francesa de 1789. Ao ser 
favorável a restauração da monarquia hereditária, pressupondo-a como uma instituição de inspiração divina, 
Maistre defendia a suprema autoridade do Papa, quer em matérias religiosas como também em matérias 
políticas.
4 Louis-Gabriel-Ambroise, comumente chamado Visconde de Bonald (1754-1840), foi um filósofo francês que 
contestava o Iluminismo e a Teoria Política em que se fundamentava a Revolução Francesa. Junto à La Mennais 
no domínio da filosofia, a Joseph de Maistre na religião e a Ferdinand d’Eckstein na história, Louis de Bonald 
é reconhecido, na filosofia política, como um dos precursores da filosofia católica contrarrevolucionária.
http://pt.wikipedia.org/wiki/Charles_Darwin
http://pt.wikipedia.org/wiki/Darwinismo_social
http://pt.wikipedia.org/wiki/Classe_social
http://pt.wikipedia.org/wiki/Sele%C3%A7%C3%A3o_natural
http://pt.wikipedia.org/wiki/S%C3%A9culo_XVIII
http://pt.wikipedia.org/wiki/Edmund_Burke
http://pt.wikipedia.org/wiki/Revolu%C3%A7%C3%A3o_Francesa
http://pt.wikipedia.org/wiki/Fran%C3%A7a
http://pt.wikipedia.org/wiki/Terror
http://pt.wikipedia.org/wiki/Jacobino
http://pt.wikipedia.org/wiki/Conde
http://pt.wikipedia.org/wiki/1753
http://pt.wikipedia.org/wiki/1821
http://pt.wikipedia.org/wiki/Escritor
http://pt.wikipedia.org/wiki/Fil%C3%B3sofo
http://pt.wikipedia.org/wiki/Diplomata
http://pt.wikipedia.org/wiki/Advogado
http://pt.wikipedia.org/wiki/Revolu%C3%A7%C3%A3o_Francesa
http://pt.wikipedia.org/wiki/1789
http://pt.wikipedia.org/wiki/Monarquia
http://pt.wikipedia.org/wiki/Papa
http://pt.wikipedia.org/wiki/1754
http://pt.wikipedia.org/wiki/1840
http://pt.wikipedia.org/wiki/Iluminismo
http://pt.wikipedia.org/w/index.php?title=De_la_Mennais&action=edit&redlink=1
http://pt.wikipedia.org/wiki/Joseph_de_Maistre
http://pt.wikipedia.org/w/index.php?title=Ferdinand_d%27Eckstein&action=edit&redlink=1
http://pt.wikipedia.org/wiki/Filosofia
23Capítulo 2 – A Teoria Sociológica Funcionalista de Émile Durkheim
Ao averiguar que a sociedade incide sobre os indivíduos, Durkheim, influenciado 
pelo positivismo, verificou que a explicação da realidade está condicionada pelo 
objeto. Portanto, a sociedade (objeto) tem precedência sobre o indivíduo 
(sujeito). 
Segundo o autor, a 
sociedade deve ser tratada 
como algo para além da soma 
dos indivíduos que a compõem, 
pois uma vez vivendo em 
sociedade, os indivíduos 
dão origem às instituições 
sociais que possuem dinâmica 
própria: os seres humanos 
passam pela sociedade, 
mas ela fica. Para Durkheim, 
é a sociedade que age sobre o 
indivíduo, modelando suas formas de agir, influenciando suas concepções e modos 
de ver, condicionando e padronizando o seu comportamento. Assim, a noção de que 
somos pessoas ou sujeitos individuais nada mais é do que uma construção social.
Em relação ao método científico elaborado por Durkheim na construção da teoria 
sociológica funcionalista a partir de sua obra As Regras do Método Sociológico 
(1895), o autor afirmou que a primeira e a mais importante regra da sociologia 
é considerar os fatos sociais como “coisas”. Essa concepção parte do princípio de 
que a realidade social se aproxima da realidade da natureza. Assim, tal como as 
“coisas” da natureza funcionam de forma independente da ação humana, cabendo 
ao cientista apenas mostrar suas regularidades; as “coisas” da sociedade, chamadas 
de fatos sociais, também seriam uma realidade distinta da ação humana. 
Segundo Durkheim (1979), para a sociologia obter a objetividade plena 
deveria “registrar” da forma mais imparcial e neutra possível a realidade pesquisada 
(objeto), tal qual fariam as demais ciências. Desta forma, o papel do pesquisador 
seria elaborar um retrato da realidade pesquisada, pois ela seria uma realidade 
objetiva como qualquer outra “coisa” da natureza. Na percepção sociológica do 
autor, é a realidade (objeto) que se impõe ao sujeito (observador). Por isso, 
Durkheim e Comte defendiam a tese de que as ciências sociais deveriam adotar o 
mesmo método das ciências naturais.
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Figura 2.2: Relação Indivíduo X Sociedade
http://cidadextreme.wordpress.com/2008/11/17/perto-ou-longe-das-multidoes/
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2.3 Fato Social e Função Social
(...) é um fato social toda maneira de agir, fixa ou não, capaz de exercer sobre o 
indivíduo uma coerção exterior, ou ainda; que é geral no conjunto de uma dada 
sociedade tendo, ao mesmo tempo, uma existência própria, independente de 
suas manifestações individuais (DURKHEIM, 1979).
Como para Durkheim os fatos sociais não existem por acaso, na medida em 
que existem porque a princípio cumprem uma função social, o autor comparará a 
sociedade a um “corpo vivo”, em que cada órgão desempenha um papel devido. 
Daí o nome de metodologia funcionalista como método de análise e daí a ideia 
de que o todo predomina nas partes, implicando na afirmação de que a parte 
(fatos sociais) existe em função do todo (sociedade). 
Para Durkheim (1979), o objeto da sociologia são os fatos sociais, que 
consistem em diferentes maneiras de agir capazes de exercer sobre o indivíduo 
uma coerção exterior generalizante do ponto de vista do conjunto de uma dada 
sociedade tendo, ao mesmo tempo, uma existência própria que independe de suas 
manifestações individuais. Segundo o autor, a forma como o ser humano age é 
sempre condicionada pela sociedade, já que essas formas de agir chamadas de fatos 
sociais possuem um tríplice caráter: são exteriores (provêm da sociedade e não do 
indivíduo), coercitivos (são impostas pela sociedade ao indivíduo) e objetivos 
(tem uma existência independente do indivíduo). Um professor, por exemplo, ao 
fazer a chamada em sala de aula no intuito de verificar os alunos presentes e 
os ausentes ou ao aplicar uma simples prova, não o faz necessariamente por ser 
seu próprio desejo, mas sim porque é coagido por normas e regimentos objetivos 
que são exteriores a ele, provenientes da instituição de ensino da qual faz parte. 
Portanto, este ato pode ser tratado, sob um viés funcionalista, como um fato social, 
exatamente também por pressupor elementos exteriores, coercitivos e objetivos.
Embora tenha desenvolvido o conceito de fato social de forma mais aprofundada 
somente em sua segunda obra As Regras do Método Sociológico (1895), foi em sua 
primeira obra intitulada Divisão do Trabalho Social, que Durkheim (2010) centrou 
suas análises sobre a função da divisão do trabalho nas sociedades modernas. 
Neste trabalho, o autor adotou a tese de que a sociedade havia passado por um 
processo de evolução caracterizado pela diferenciação social, partindo de uma 
sociedade demarcada por laços de solidariedade mecânica – caracterizada pela 
25Capítulo 2 – A Teoria Sociológica Funcionalista de Émile Durkheim
consciência coletiva, pelas sociedades fragmentadas e pelo direito repressivo – para 
outra demarcada por laços de solidariedade orgânica – assinalada pela divisão 
social do trabalho, pelas sociedades diferenciadas e pelo direito restitutivo5.
Conforme o autor, o que distingue esses momentos de “evolução” da sociedade 
são os mecanismos que geram os laços de solidariedade social (tipos de consciência e 
divisão social do trabalho), pois a solidariedade mecânica e a solidariedade orgânica 
seriam diferentes estratégias de integração das pessoas nos grupos ou instituições 
sociais, correspondendo diferentes formas de organização da sociedade (sociedades 
fragmentadas ou sociedades diferenciadas) e podendo ser percebidas de acordo com 
o tipo de organização jurídica predominante (repressivo ou restitutivo). Portanto, 
nas sociedades caracterizadas em comportamentos abalizados nas semelhanças, 
as ações tidas como desviantes são punidas de maneira ainda mais severaa partir 
de regras e normas extraídas dos costumes e hábitos, podendo, inclusive, garantir a 
pena de morte.
As sociedades de solidariedade mecânica se caracterizam pela 
semelhança, enquanto que as de solidariedade orgânica se afirmam 
pela diferença. Nas primeiras, os indivíduos se diferem pouco uns dos outros, 
5 Segundo Durkheim o direito repressivo revela a consciência coletiva nas sociedades de solidariedade mecânica 
(tipo de solidariedade social em que os indivíduos se diferem muito pouco uns dos outros), devendo garantir 
a subordinação da consciência individual à consciência coletiva, fator relevante da integração social. Já o 
direito restitutivo é aquele em que predomina nas sociedades de solidariedade orgânica (tipo de solidariedade 
encontrado nas sociedades complexas, onde a integração é realizada a partir da diferenciação entre os 
indivíduos e grupos no interior da sociedade). Neste, a coesão social não depende tanto da vigência de 
um sistema de crenças e sentimentos comuns a todos, mas principalmente da moral profissional para cada 
atividade especializada e de normas legais que possibilitam a dependência mútua. Deste modo, o direito 
localizado nestas sociedades individualistas tem a função de garantir o mínimo de consciência coletiva para 
que a sociedade não entre num processo de desintegração.
Características:
1. Objetividade
2. Coercitividade
3. Exterioridade
Primeira regra do 
método sociológico
Fatos sociais
Suicídio
Religião
Etc.
Divisão do 
trabalho social
Função Social
Anomia
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já que os membros dessas coletividades compartilham os mesmos sentimentos e 
valores, reconhecendo os mesmos elementos e objetos como algo sagrado, conforme 
podemos localizar certos elementos de integração social na chamada Idade Média. 
Já as segundas são aquelas em que a unidade coerente da coletividade, o consenso, 
resulta de certa diferenciação ou é exprimida por meio dela, conforme os dados 
encontrados por Durkheim nas formas de organização social da modernidade. 
Segundo o autor, a oposição gerada entre essas duas formas de solidariedade social 
se combina com a distinção entre as chamadas sociedades segmentárias e aquelas 
em que aparece a moderna divisão do trabalho social. Embora as sociedades de 
solidariedade mecânica sejam, em certo sentido, sociedades segmentárias, a definição 
de ambas não é exatamente a mesma. Vejamos o que nos diz Aron (2002):
(...) a noção de estrutura segmentária não se confunde com a solidariedade por 
semelhança. Sugere apenas o relativo isolamento, a autossuficiência dos vários 
elementos. Pode-se conceber uma sociedade global ocupando amplo espaço que 
não passasse da justaposição de segmentos, todos semelhantes e autárquicos. É 
possível a existência de um grande número de clãs, tribos ou grupos regionalmente 
autônomos, justapostos e talvez até mesmo sujeitos a uma autoridade central, sem 
que a coerência por semelhança do segmento seja quebrada, sem que se opere, no 
nível da sociedade global, a diferenciação das funções características da solidariedade 
orgânica. A divisão do trabalho que Durkheim procura apreender e definir não se 
confunde com a que os economistas imaginam. A diferenciação das profissões e 
a multiplicação das atividades industriais exprimem a diferenciação social que 
Durkheim considera de modo prioritário.
2.4 Da Solidariedade Social 
aos Tipos de Consciência
Ao elaborar os conceitos de solidariedade mecânica e solidariedade orgânica a 
partir da obra Divisão do Trabalho Social, Durkheim (2010) evidenciou dois tipos 
de consciência presentes em todos os indivíduos e que variam de intensidade de 
acordo com o tipo de organização social. A constatação de que existem diferentes 
tipos de solidariedade social fez com que o autor verificasse que o grau de coesão, 
ou melhor, de integração entre os indivíduos, acabou sendo alterado com 
a divisão do trabalho social, incidindo sobre eles de maneira distinta através 
da variação da preponderância das consciências individual e coletiva. No entanto, 
Durkheim alerta que a solidariedade social não pode ser realizada somente para 
que cada um cumpra apenas sua tarefa, antes disso, é imprescindível que ela lhe 
seja conveniente.
27Capítulo 2 – A Teoria Sociológica Funcionalista de Émile Durkheim
Enquanto a consciência individual refere-se a todos os estados 
mentais relacionados às nossas concepções pessoais e visões de mundo 
provenientes de acontecimentos ocorridos em nossas vidas; a consciência 
coletiva trata do sistema de ideias, sentimentos e hábitos que exprimem 
em todos nós as concepções do grupo e da sociedade que fazemos parte, 
revelando nossas crenças religiosas, tradições nacionais, práticas morais, 
além de quaisquer outras opiniões manifestadas coletivamente que formam 
o ser social. 
Ao procurar avaliar os diferentes tipos de incidência dos laços de solidariedade 
social que implicam na preponderância ora da consciência coletiva ora da 
consciência individual, Durkheim (2010) encontrou como possível indicador as 
normas estabelecidas pelo Direito. Para o autor, o Direito seria uma forma estável 
e precisa que serviria perfeitamente de fator externo e objetivo para analisar os 
elementos essenciais encontrados nesses diferentes tipos de solidariedade social. 
Segundo Durkheim (2010), o Direito atuaria nas sociedades complexas de 
maneira análoga ao sistema nervoso, uma vez que regularia as funções deste “corpo 
vivo” que seria a sociedade. Deste modo, as sanções impostas pelos costumes que 
se caracterizavam por serem difusas seriam substituídas pelo Direito, que passou a 
organizá-las de maneira mais coerente, proporcionando uma alteração significativa 
no tratamento daquelas ações tidas moralmente como desviantes ou criminalizáveis.
O direito e a moral são o conjunto de vínculos que nos prendem uns aos outros 
e à sociedade, que fazem da massa dos indivíduos um agregado e que fazem 
um todo coerente. É moral, pode-se dizer tudo o que é fonte de solidariedade, 
tudo o que força o ser humano a contar com outrem, a reger seus movimentos 
com base em outra coisa que não os impulsos do seu egoísmo, e a moralidade é 
tanto mais sólida quanto mais numerosos e mais fortes são esses vínculos. Vê-se 
quão inexato é defini-la, como se faz com tanta frequência, pela liberdade; ela 
consiste antes num estado de dependência. Longe de servir para emancipar o 
indivíduo, para separá-lo do meio que o envolve, ela tem como função essencial, 
ao contrário, torná-lo parte integrante de um todo e, por conseguinte, tirar-lhe 
parte da sua liberdade de movimento (DURKHEIM, 2010).
2.5 Anomia e Moralidade
Assim como Comte, Durkheim (2010) acreditava que a França se encontrava 
imersa em uma enorme crise moral devido ao vazio trazido pelo desaparecimento 
dos valores e das instituições que zelavam, protegiam e envolviam o mundo feudal 
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como as organizações de ofícios, por exemplo. Para Durkheim, os conflitos e as 
desordens que ocorriam na França do século XIX eram considerados sintomas da 
anomia jurídica e moral presentes na vida econômicas, uma vez que os progressos 
ocorridos não haviam acompanhado o desenvolvimento das instituições capazes de 
regular os interesses e limites.
A constatação de que a sociedade francesa de sua época estava imersa em 
um estado doentio provocado pela ascensão da modernidade acabaram levando-o 
a enfatizar em sua tese de doutorado intitulada A Divisão do Trabalho Social 
tanto a importância dos fatos morais na integração e coesão dos indivíduos à vida 
coletiva, quanto à preocupação com as possíveis consequências ocasionadas pela 
desintegração social, chamada por Durkheim (2010) de anomia.
O primeiro diagnóstico das patologias da modernidade de Durkheim recebeu 
uma formulação sociológica e é representado especialmente pelo conceito 
de anomia (a + nómos, que significa ausência de normas). Segundo a tese 
desenvolvidaem A divisão do trabalho social, com a passagem da sociedade de 
solidariedade mecânica para a sociedade de solidariedade orgânica, ocorre uma 
ampliação da esfera da individualidade. A especialização das funções acarreta o 
declínio da consciência coletiva que ainda não havia sido substituída por novos 
valores adaptados aos diversos órgãos da sociedade. Nesta obra, Durkheim 
sustenta que a anomia seria um fenômeno passageiro, fruto de um desajuste 
temporário na integração das tarefas econômico-sociais. Em momento posterior, 
na obra O suicídio, Durkheim reformula o conceito que aparece agora como 
um problema endêmico do mundo moderno, resultado do enfraquecimento 
da regulação moral das condutas sociais. Na visão sociológica durkheimiana, 
o conceito de anomia expressa as contradições da vida em tempos modernos: 
o paradoxo da modernidade é que, se de um lado existe maior autonomia 
para o indivíduo, por outro, existe risco de que o excesso de liberdade leve à 
desagregação social (SELL, 2009).
A preocupação de Durkheim com a anomia também está relacionada com a 
questão da moral, que aparece em vários pontos da sua obra, apresentando como 
fatos morais aqueles fenômenos em que a moral aparece como um sistema de 
acontecimentos relacionados ao sistema total do mundo que permite tratar dos 
fatos da vida moral a partir do método das ciências positivas, apresentadas no 
capítulo anterior. É possível constatar que a concepção durkheimiana de divisão 
do trabalho se apresenta intimamente relacionada à sua visão de moral, quando 
o autor verifica que a divisão do trabalho deve estar permeada por um caráter 
moral, porque as necessidades de ordem, de harmonia e de solidariedade social 
são geralmente tidas como elementos morais. Assim, verifica-se que a construção 
do conceito de solidariedade social é visto como um fenômeno totalmente moral.
De que forma a realidade moral é visualizada por Durkheim? 
29Capítulo 2 – A Teoria Sociológica Funcionalista de Émile Durkheim
Para Durkheim (2004), a chamada realidade moral pode ser visualizada 
sob dois aspectos diferentes: um objetivo e outro subjetivo. A moral objetiva 
pressupõe que sociedade é regida por normas baseadas em seus preceitos morais 
sob as quais os tribunais se guiam para tratar da condenação dos indivíduos que 
violam as barreiras dessa moral, ou seja, o compartilhamento de uma moral comum 
e geral para todos os seres humanos que pertencem a uma coletividade. Já a moral 
subjetiva se situa na esfera da posição dos indivíduos frente à moral objetiva 
citada. Nela, cada um pode interpretar a moral comum ao seu modo, possibilitando 
ainda que os diferentes indivíduos interpretem-na como imoral. Portanto, ao verificar 
que existe um número indefinido desse tipo de moral, Durkheim (2004) acabou 
constatando que o seu enraizamento nas consciências originaram-se das influências 
do meio, da educação e, até mesmo, da hereditariedade. 
Para Durkheim (2010), o mundo moderno passou a ser caracterizado pela 
redução da eficácia daquelas instituições sociais integradoras 
como a religião e a família, uma vez que os indivíduos passaram a se 
agrupar conforme suas atividades profissionais. Enquanto a família deixou 
de manter sua condição integradora de garantir a unidade e a indivisibilidade 
diminuindo, assim, sua influência sobre a vida privada, o Estado também se 
manteve distante dos indivíduos, exercendo sobre eles relações exteriores 
intermitentes, possibilitando uma profunda penetração nas consciências 
individuais, socializando-as interiormente.
Durkheim (2010) verificou que a diversidade de correntes de pensamento 
que acabou restringindo a eficácia das religiões, uma vez que elas deixaram de 
subordinar plenamente o fiel, subsumindo-o àquilo que considerava sagrado. Deste 
modo, o enfraquecimento do poder de coesão da religião proporcionou 
às profissões uma importância cada vez maior na vida social, substituindo 
e excedendo a antiga condição da família. 
Ao constatar o deslocamento da ênfase da religião e da família como instituições 
que engendravam laços de coesão social para o campo do trabalho, sobretudo, 
dos grupos profissionais, Durkheim encontrou nesses espaços os caminhos para a 
reconstrução da solidariedade social e da moralidade integradoras que careciam 
nas sociedades industriais. Assim, conforme o autor, os grupos profissionais e 
as corporações poderiam suprir essas demandas na medida em que cumpririam 
as condições necessárias para a regulamentação da vida social que havia sido 
perdida com a emergência da modernidade.
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2.6 A Importância do Estado em Durkheim
Segundo Oliveira (2011), existe um grande debate acerca da existência ou não 
de uma teoria política em Durkheim. Embora não se possa afirmar nitidamente 
se existe, de fato, nas obras deste autor uma teoria política no sentido estrito do 
termo, conforme constatou Oliveira (2011), é possível encontrar em seus escritos 
o aprofundamento de debates sobre assuntos como democracia, liberalismo, 
socialismo, pacifismo, nacionalismo, além da religião, educação, suicídio, divisão 
do trabalho social, ou seja, sobre elementos tangenciados pelo poder que hoje 
certamente poderiam ser encontrados no campo da sociologia política6.
Segundo Oliveira (2011), a passagem dos estudos sobre o Estado para as 
análises sobre a moral, e destas para as interpretações acerca dos laços de 
solidariedade social foi anunciada em A Ciência Positiva da moral na Alemanha, 
publicada por Durkheim em 1887. Logo após alterou o objeto de sua tese de 
doutorado que havia sido intitulado em 1882 de “Individualismo e Socialismo”, 
passando a alterá-lo posteriormente7.
Na obra A Divisão do Trabalho Social, Durkheim (2010) averiguou que o fator 
que garante as formas de solidariedade social não é uma exclusividade do Estado, 
mas sim da divisão do trabalho. Assim, ao fugir da circularidade problematizada na 
especialização do trabalho e no dever moral possivelmente resgatada pelo Estado, 
o autor recorre à história e à comparação, referenciando diversos tipos de Estado e 
de regras jurídicas existentes nas mais diversas sociedades, conforme encontramos 
nesta sua obra.
O Estado é o conjunto de corpos sociais exclusivamente preparados 
pra falar e agir em nome da sociedade. Quando o parlamento vota uma 
lei, quando o governo toma alguma decisão em seus conselhos de competência, 
toda a coletividade acaba se encontrando ligada. Quanto às administrações, 
estas são órgãos secundários, criadas pelo Estado, mas que não o constituem. 
Explica-se assim porque Estado e sociedade política se tornaram expressões 
6 Embora seja possível situar Durkheim como teórico da sociologia política, uma vez que ele propõe análises que 
perpassam não somente as relações de poder, mas também relações com o Estado, o autor não disponibilizou 
esta disciplina em seu quadro de especializações da sociologia exposto na organização da revista Année 
Sociologique. Neste quadro estava citada apenas a sociologia geral, religiosa, moral e jurídica, 
conforme apontou Oliveira (2011).
7 De retorno da Alemanha, em 1886, Durkheim modifica o objeto de sua tese de doutoramento, que havia 
sido vagamente definido, em 1882, como “individualismo e socialismo”. Naquele primeiro momento, ele 
pretendia contrapor duas formas de organização social, o liberalismo e o socialismo de Estado, Mas, nesse 
novo momento, seu objeto fora redefinido: “Trata-se agora da relação entre o indivíduo e a solidariedade 
social” (OLIVEIRA, 2011 apud STEINER, 2005).
31Capítulo 2 – A Teoria Sociológica Funcionalista de Émile Durkheim
sinônimas. Não obstante, foi somente a partir do momento em que as sociedades 
políticas conquistaram um determinado nível de complexidade que elas puderam 
agir coletivamente através da intervenção do Estado (DURKHEIM, 1958: 433).
Segundo Durkheim (1958), a utilidade do Estado seria de possibilitar a introdução 
de certos tipos de reflexões sobre a vida social, tendo elas papéiscada vez maiores na 
medida em que ele se encontre mais desenvolvido. Da mesma forma que o cérebro 
não cria a vida do corpo, o Estado não cria a vida coletiva, conforme podemos 
averiguar naquelas sociedades políticas em que ele não existe. Nelas, a coesão 
se dá através das crenças dispersas em todas as consciências que movem os 
indivíduos.
Quando há algum tipo de Estado, os elementos diversos que podem mover a 
multidão anônima em sentidos diferentes não teriam a capacidade de determinar 
a consciência coletiva, pois essa determinação seria a própria ação do Estado, 
segundo Durkheim (1958). Deste modo, entende-se o Estado como um lugar 
onde todos deveriam convergir, pois ele não é somente um órgão de reflexão 
social, como também é um espaço de inteligência institucionalizada.
Ao examinar a quantidade e a diversidade das regras jurídicas em diferentes 
sociedades através das análises desenvolvidas em sua tese de doutoramento que 
também tratava do volume total do direito, Durkheim (2010) mostrou que toda a 
centralidade da especialização se situa na divisão do trabalho social. Deste modo, 
o autor constatou que, embora seja possível verificar que as consequências 
da divisão do trabalho social existam e sejam comprovadas pelo Direito, 
suas consequências fundamentais são sociais, pois se encontram situadas nos 
diferentes tipos de solidariedade social.
Para Durkheim (2010), o direito e a moral são compreendidos como a 
materialização da lógica de funcionamento das distintas sociedades. Além disso, em 
seu entendimento, o responsável pela manutenção da sociedade na modernidade não 
é mais o Estado, mas as leis que ele expressa que são constituídas pelos costumes 
presentes nos fatos morais.
Ao definir que fatos morais são regras de conduta às quais uma sanção 
difusa está ligada na média das sociedades desta espécie social, Durkheim 
verificou que as regras são definidas a partir da sociedade e de suas 
representações coletivas que atuam de forma exterior, coercitiva e objetiva, 
por meio dos fatos sociais.
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Segundo Oliveira (2011), foi por meio deste percurso teórico que Durkheim 
conseguiu definir o fato social, entendendo que as sanções físicas são 
estabelecidas e regidas pelo Direito e as sanções morais estabelecidas e 
regidas pela sociedade, incidindo assim sobre os indivíduos através das normas 
jurídicas produzidas e garantidas legalmente pelo Estado. Segundo o autor, “não é 
por acaso, portanto, que, a partir dos anos 1890, os três grandes livros publicados têm 
por objetos temas estritamente sociológicos, morais e políticos” (OLIVEIRA, 2011). 
Vimos que a Teoria Funcionalista elaborada por Émile Durkheim não trata somente 
de concepções sociológicas, mas também de visões políticas construídas por meio 
de referenciais teóricos centrados em perspectivas tangenciadas pelo evolucionismo, 
conservadorismo e, principalmente, pelo positivismo de Comte que buscava garantir 
certa ordem social.
A teoria desenvolvida por Durkheim pressupõe que os fenômenos sociais devem ser 
tratados como “coisas” objetivas, exteriores e coercitivas que, a princípio, cumpririam 
uma função social. Entretanto, caso não cumpram essa suposta função social gerarão 
a chamada anomia, entendida como uma patologia social. Ao analisar a divisão do 
trabalho social em sua tese de doutoramento, o autor constatou que a emergência 
da modernidade possibilitou da ascensão de laços de solidariedade demarcados pela 
solidariedade orgânica que se sobrepôs à solidariedade mecânica, sendo a primeira 
demarcada pela consciência individual e a segunda pela consciência coletiva. Já no 
que se refere às perspectivas políticas, Durkheim verificou que o fator que garante esses 
dois tipos de solidariedade social não é necessariamente o Estado, mas sim da divisão 
do trabalho, pois sua utilidade seria possibilitar a introdução de certos tipos de reflexões 
sobre a vida social que garantiriam certa normalidade na sociedade permeada pela 
manutenção da ordem. 
Para concluir, constatamos que a concepção sociológica da política em Durkheim 
perpassa a ideia de que o Direito e a moral seriam materializações da lógica do 
funcionamento das diferentes sociedades. Além disso, a responsabilidade pela 
manutenção da ordem nas sociedades modernas não seria necessariamente o Estado, 
mas as leis expressadas por ele que são constituídas pelos costumes presentes nos 
fatos morais.
Síntese
33Capítulo 2 – A Teoria Sociológica Funcionalista de Émile Durkheim
Bibliografia comentada
OLIVEIRA, Márcio & WEISS, Raquel (Orgs.). David Émile Durkheim: 
A Atualidade de um Clássico. Curitiba: Ed. UFPR, 2011. 
Di
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O ponto de partida desse livro é Durkheim, filósofo, sociólogo, cientista político em 
relação à questão da moral. As análises aqui reunidas podem ser consideradas uma 
amostra significativa, embora de modo algum exaustiva, dos temas que atualmente 
atraem a atenção dos pesquisadores. Fundamentalmente, querem romper com as 
visões unilaterais e simplificadoras que insistem em classificar Durkheim em termos 
de uma ou outra corrente de pensamento e superar a imagem de “conservador” que 
ainda o envolve. Além disso, tem o propósito de compreender o autor a partir de um 
olhar atual, pautado por questões teóricas ou práticas que já não são as mesmas de 
duas ou três décadas atrás. 
3
CapítuloTeoria Sociológica 
Compreensiva de Max Weber
Neste capítulo, apresentaremos os principais elementos teóricos, 
metodológicos e políticos que compõem a Teoria Compreensiva ou 
Hermenêutica elaborada por Karl Emil Maximiliam Weber, 
disponibilizando ao leitor suas concepções sobre a modernidade, sobre 
os limites do conhecimento científico 
apontados por Comte e Durkheim, des-
crevendo as concepções políticas do autor.
3.1 Principais 
Influências de Weber
Contrapondo-se aos pressupostos 
do positivismo iniciado com Comte, 
Max Weber desenvolveu uma análise pautada na ideia de que a 
razão humana, na versão encarnada pela economia capitalista e pela 
burocracia do Estado, seria uma força que, ao mesmo tempo em que 
“desencanta” o mundo, invade todas as esferas da vida humana, 
ocasionando a perda da liberdade e o sentido da vida.
Dentre as correntes teóricas que mais influenciaram o pensamento 
de Weber podemos citar: a filosofia moderna a partir de Kant, que 
afirmava que o conhecimento não capta a essência da realidade, mas 
apenas os fenômenos que nos são transmitidos através dos sentidos, 
de Nietzsche, do qual herdou uma visão pessimista da sociedade 
moderna e de Marx, que propôs uma análise rigorosa sobre o chamado 
modo de produção capitalista. 
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Figura 3.1: Max Weber
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Weber ainda foi influenciado pelos filósofos neokantianos, como Dilthey1, 
Windelband2 e Rickert3, que insistiam na necessidade da distinção entre as 
características das ciências sociais (chamadas de ciências do espírito/cultura) das 
demais ciências da natureza, contrapondo-se às ideias positivistas desenvolvidas por 
Comte, e pelo pensamento social alemão de diferentes autores contemporâneos 
a ele, pois, embora tenha sido um dos maiores expoentes da sociologia alemã, 
o autor retomou as ideias de vários outros importantes pensadores da época, 
principalmente Tönnies4, Simmel5 e Sombardt6.
1 Wilhelm Dilthey (1833-1911) foi um filósofo hermenêutico, psicólogo, historiador, sociólogo e pedagogo 
alemão que lecionou filosofia na Universidade de Berlim. Considerado um empirista, ele contestava o 
idealismo dominante na Alemanha de sua época, o que acabou fazendo com que seus conceitos acabassem 
influenciando toda a tradição literária e filosófica da Alemanha.
2 Wilhelm Windelband (1848–1915) foi um filósofo alemão da escola de Baden que nasceu em Potsdam. Ele 
ficou conhecido principalmente por ter introduzido os termos nomotético e idiográfico que são comumente 
utilizados em psicologia e em outras

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