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LÍNGUA 
BRASILEIRA 
DE SINAIS
Daniel Neves Pinto
Características fonológicas
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:
  Descrever os aspectos fonológicos da Libras.
  Identificar a estrutura fonética e fonológica da Libras.
  Explicar o processo de aquisição da Libras.
Introdução
Neste capítulo, você poderá comparar a fonologia da língua oral com a 
fonologia da Libras, que é uma língua recente, tendo sua regulamentação 
no início do século XXI, mais precisamente no ano de 2002, quando 
finalmente expandiu a pesquisa em línguas de sinais. Antes disso, os 
linguistas rejeitavam veemente o estudo acadêmico nessa área por não 
ser uma língua oficial no Brasil, devido à falta de representatividade na 
sociedade e, ainda, devido ao fato de que não havia autores reconhecidos 
que pudessem transcrever suas estruturas com convicção. 
A partir do momento que o Brasil regulamentou a Libras como língua 
oficial no país, por meio da Lei nº. 10.436/2002, linguistas da língua de 
sinais têm demonstrado que, assim como as línguas orais, a língua de 
sinais tem uma estrutura sublexical sistematicamente organizada. Além 
disso, as línguas de sinais também estão em forte contraste com as lín-
guas orais (oral-auditiva), uma vez que são produzidas na modalidade 
gesto-visual e, portanto, os articuladores envolvidos na organização 
fonológica são diferentes. 
Neste capítulo, portanto, você aprenderá sobre o campo da fonologia 
da língua de sinais em uma visão geral seletiva e seus impactos em cada 
sinal, bem como analisará as características individuais que determinam a 
definição e o tom dos sinais em relação aos cinco parâmetros em Libras: 
configuração de mãos, ponto de articulação, movimento, orientação e 
expressão faciocorporal.
Aspectos fonológicos da Libras
A fonologia da Língua Brasileira de Sinais amplia nossos conhecimentos quanto 
às estruturas dos sinais em Libras e nos aproxima ainda mais da gramática da 
modalidade visioespacial (Libras). Como a fonologia é o nível da linguagem 
que interage diretamente com os sinalizadores, as diferenças anatômicas, por 
sua vez, têm o potencial de infl uenciar a estrutura fonológica da língua entre 
suas modalidades. Essa diferença é aparente com relação à produção, visto 
que os articuladores envolvidos na fala e na movimentação das mãos são 
diferentes: os articuladores, na língua oral, são os lábios, os dentes, a língua, 
a garganta e a laringe, já os articuladores da Libras são as mãos, os braços, 
a cabeça, o corpo e a face. Além dessa diferença óbvia, existem diferenças 
fundamentais entre esses conjuntos de articuladores.
Os sinais da Libras podem ter um papel menor na explicação fonológica 
do que na oralidade, uma vez que os sinalizadores de origem são visíveis; em 
outras palavras, a linguagem oralizada é mais propensa à reanálise, devido 
à acústica da decodificação da produção. A Libras pode transmitir múltiplos 
eventos visuais simultaneamente, e há duas mãos e braços envolvidos na 
articulação. Em contrapartida, a oralização é transmitida por meio do fluxo 
único de um sinal acústico.
Léxico, vocabulários icônicos, arbitrários e soletrados
Conforme explica Pinto (2018, p. 77), “[...] léxico é o ‘banco de dados’ em 
vocabulário que uma pessoa, língua ou comunidade tem em termo de conhe-
cimento [...]”.
Conhecer sinais em Libras isoladamente, sem um contexto fixado, não 
constitui um profissional intérprete de Libras ou nativo dessa língua. Sim-
plesmente sinalizar palavra por palavra torna o português sinalizado, e não 
exatamente a Língua Brasileira de Sinais. Se a sinalização for feita dessa modo, 
os surdos não terão acesso à informação fidedignamente.
Para entender ainda melhor essa fase da fonologia da Libras, veremos um 
exemplo na prática.
Observe a frase:
“Qual sua idade?”
Características fonológicas2
Não devemos utilizar apenas datilologia em uma conversa, pois ela não 
tem essa função, assim como não devemos traduzir uma frase sinal por sinal, 
o que a faz um português sinalizado, e não a Libras. 
Datilologia é a soletração de uma palavra por meio do alfabeto manual da Libras.
A datilologia é utilizada quando queremos falar nomes próprios, palavras 
científicas ou elementos que ainda não se têm sinal e não estão em uma frase 
completa.
A frase utilizada como exemplo ficaria da seguinte forma em Libras:
Nesta imagem, há o sinal de “idade” + expressão interrogativa que con-
textualiza toda a frase: “Quantos anos você tem?”.
3Características fonológicas
Sinais icônicos
A iconicidade, ou sinais icônicos, na fonologia da Libras talvez proporcione 
mais iconicidade do que as próprias línguas orais, afi nal, os objetos no mundo 
externo tendem a ter associações mais visuais do que auditivas. É importante 
enfatizar que, embora as línguas de sinais não possam mostrar um vínculo 
arbitrário entre símbolo e referente ou forma e signifi cado, esse vínculo é tão 
convencionado quanto nas línguas orais. Também é importante observar que 
os oralizadores não têm verdadeira ciência do simbolismo sonoro que existe 
nas palavras e que também é importante para os surdos, como “dor”, “choro”, 
“risada”, etc., de modo que os surdos podem não conhecer as origens icônicas 
dos sinais.
Conforme Pinto (2018), os sinais icônicos são sinais visualmente parecidos 
com os “gestos” que estamos acostumados a fazer em nosso dia a dia com 
qualquer pessoa, sem mesmo saber, os quais são utilizados em Libras (Figura 
1). Apesar de serem conhecidos em boa parte do mundo, não são considerados 
sinais universais, mas transmitem o que estamos habituados.
Figura 1. Para sinalizar a palavra “feliz”, basta fazer a expressão de 
felicidade. Dessa forma, você já idealiza a comunicação.
Fonte: mimagephotography/Shutterstock.com.
Posso afirmar com toda a segurança que você, se for um leitor leigo em 
Libras, consegue entender o significado de diversos sinais em Libras, bem 
como fazer sinais de palavras com estas características.
Características fonológicas4
Observe e reflita as palavras no quadro a seguir.
Chorar Mau cheiro Roubar Dormir
Beber Correr Bebê Depois
Após essa reflexão, tente idealizar sinais com as mãos e com o corpo 
que poderiam expressar essas palavras. Tenho certeza de que não encontrou 
dificuldade para sinalizá-las. De modo simplificado, essas palavras fáceis de 
sinalizar e que todos entenderiam são os sinais icônicos.
Inverteremos, agora, esses exemplos. Observe os sinais a seguir:
 
Os sinais apresentados são sinais que qualquer pessoa faz no dia a dia, 
independentemente de ser surdo ou de estar em sinalização em contexto da 
Libras. As imagens representam: [NÃO], [CASA] e [BEBER].
Sinais arbitrários
A arbitrariedade na fonologia é uma questão importante para os fonologistas de 
língua de sinais, pois ela intensifi ca a questão de legitimidade e autenticidade 
que a Libras tem sua estrutura própria.
Entendendo melhor os sinais arbitrários, podemos destacar que são o con-
trário dos sinais icônicos, ou seja, os sinais arbitrários não têm uma analogia 
com a realidade, e necessita-se, portanto, de um conhecimento de Libras para 
identificar os sinais no momento de uma sinalização, bem como uma noção 
para realizá-los. 
Pinto (2018, p. 82) diz que os sinais arbitrários “[...] são sinais sem aparência 
do que estamos acostumados como ‘gestos’ e não possuem formas conven-
cionais. Na verdade, um leigo verá o sinal e não entenderá nada do que está 
sendo dito [...]”. Se pedir a você (caso seja leigo em Libras) para sinalizar as 
palavras: voluntário, amigo, computador, difícil, amor, brincar, filho, sábado, 
mentiroso e água, certamente não conseguirá, devido a essas palavras não 
5Características fonológicas
terem relação com a realidade. Os sinais arbitrários são a maioria em Libras, 
daí a necessidade e a importância de conhecer e entender a Língua Brasileira 
de Sinais.
Tente identificar o significado dos sinais a seguir:
 
Respectivamente: admirar,desculpe, quarta-feira.
Você, provavelmente, não conseguiu entender. Assim são os sinais arbi-
trários da fonologia em Libras, isto é, não têm ligação nenhuma com o seu 
significado.
Sinais soletrados
Nem sempre uma palavra terá um sinal sistematizado dentro dos cinco pa-
râmetros em Libras, diante disso, este grupo de sinais pode variar devido ao 
regionalismo. Por exemplo, em Minas Gerais, uma palavra pode ser feita por 
meio da soletração, ao passo que, em Sergipe, há um sinal específi co para ela.
Regionalismo em Libras são influências históricas e culturais locais dentro de um 
mesmo país, ou seja, há sinais que mudam de região para região e, às vezes, de cidade 
para cidade em um mesmo estado.
É importante destacar que um sinal soletrado não é a mesma coisa que a 
datilologia de uma palavra. A datilologia pode ser feita com qualquer palavra 
quando não se sabe o sinal, já o sinal soletrado é o próprio sinal da palavra, 
sendo uma minoria entre os vocabulários.
Características fonológicas6
Podemos citar:
Mês de “maio”: 
“Claro” (concordância): 
Conforme citado anteriormente, é importante considerar o regionalismo, 
uma vez que as línguas de sinais também oferecem oportunidades únicas 
para testar ideias sobre a natureza da própria linguagem, ideias geralmente 
formuladas exclusivamente a partir de observações na língua oral. De 
todos os itens da lista de diferenças e semelhanças entre as línguas orais 
e sinalizadas, as áreas que apresentam as divergências mais marcantes 
ocorrem na morfofonética e na fonologia. A interface entre morfologia e 
fonologia é, de fato, diferente, dadas as liberdades e restrições disponíveis 
para cada sistema.
Diante dos exemplos apresentados entre os vocabulários lexicais e fo-
nológicos, creio que as diferenças entre eles ficaram esclarecidas, porém é 
importante buscar outras leituras para aprimorar seus conhecimentos.
Estrutura fonética e fonológica da Libras
O termo “fonologia” é usado no contexto da pesquisa em língua de sinais 
para enfatizar os paralelos na estrutura entre a língua oral e a língua de 
sinais. Antecedendo a década de 60, 40 anos antes da legalização da Libras 
como língua ofi cial no Brasil, os sinais eram considerados como simples 
gestos independentes, não consideráveis e, portanto, não contendo nenhum 
nível análogo ao fonológico. Brito (1995) reconhecia que os sinais da Língua 
Brasileira de Sinais poderiam ser vistos como composicionais, com subele-
mentos contrastando entre si, ao contrário dos gestos. Pesquisas mais recentes 
buscaram aplicar abordagens à teoria fonológica em linguagens oralizadas, 
como a fonologia autossegmental, para sinalizar por uma estrutura própria.
Estruturas sublexicais: cinco parâmetros em Libras
É amplamente reconhecido na literatura de língua de sinais que os parâmetros 
da Libras enquanto confi guração de mão, ponto de articulação, movimento, 
7Características fonológicas
orientação e expressões faciocorporais têm um papel signifi cativo no nível 
fonológico de maneira semelhante à linguagem oralizada, com propriedades 
de articulação, forma e vocalização. Pinto (2018 p. 87), em seu livro Língua 
Brasileira de Sinais, destaca que:
[...] os 5 parâmetros da Libras são comparados aos fonemas no português e, às 
vezes, aos morfemas e estas estruturas sublexicais, fazem parte da gramática 
da Língua de Sinais com características distintivas ou características notáveis 
usadas para criar sinais com significado em Libras. Para produzir um sinal e 
retransmitir uma palavra com significado, esse sinal deve seguir cinco parâ-
metros que determinam sua definição e tom como: Configuração de Mãos, 
Ponto de Articulação, Movimento, Orientação e Expressão faciocorporal.
Configuração de mão 
O parâmetro confi guração de mão (CM) pode não existir em outras línguas 
de sinais, assim como alguns padrões de som que existem em uma língua 
oralizada não existem em outra linguagem.
Uma mudança na forma (desenho) da mão pode resultar em um significado 
totalmente diferente do pensado, ou, ainda, ser sem sentido, da mesma forma 
que uma unidade de som alterada em uma palavra resulta em um significado 
diferente, como, por exemplo, “colher” (talher) para “colher” (colheita).
Em um sinal morfético, a forma da mão consiste em um ou mais dedos 
selecionados em uma posição particular para configurar a mão (CM) que, 
posteriormente, é realizada na efetivação dos sinais. Todo sinal tem um formato 
que a mão toma no momento de sinalizar, e este poderá ser oriundo do alfabeto 
manual ou dos números, ou, ainda, de outras configurações que não existem 
no grupo do alfabeto manual e dos números (não oriunda).
Veja os exemplos a seguir:
Observe que o sinal da palavra “segunda-feira” tem CM em “V” ou em 
“2” (ordinal).
Características fonológicas8
“Remédio” tem configuração de mão em “1” (cardinal).
A palavra “tio” tem CM em “C”.
Os sinais das palavras “segunda-feira”, “remédio” e “tio” são oriundas do 
alfabeto e dos números, uma vez que a configuração da sua mão predominante 
está relacionada a uma letra do alfabeto ou a números. 
Mão predominante é a mão com a qual temos mais facilidade na movimentação, 
geralmente aquela que escrevemos: mão direita para os destros e mão esquerda 
para os canhotos.
9Características fonológicas
Pontos de articulação 
Assim como na confi guração de mão, os pontos de articulação (PA) são repre-
sentados dentro da estrutura dos recursos inerentes. Essa organização refl ete 
a generalização de que existem cinco regiões do corpo (tronco, cabeça, braço, 
mão e espaço neutro), assim, precisa-se da mão confi gurada e do ponto de 
articulação para dar início ao sinal.
Assim como na configuração de mão, que consiste em categorias domi-
nantes e subordinadas, o mesmo ocorre com a categoria de PA. Cada morfema 
livre é restrito a uma única área corporal principal, como a cabeça, o tronco, 
a mão e o braço não dominante ou o espaço neutro.
Cabeça
Para toda regra pode haver uma exceção, o que ocorre no ponto de articulação. 
Nem todos os sinais idealizados na região da cabeça precisam encostar na 
face, mas devemos observar que a mão predominante está na região da cabeça 
ou da face, tendo como ponto de alicerce o queixo, o nariz, o olho, a boca, a 
bochecha, a orelha, a maçã da face, a testa ou o topo da cabeça.
Observe os exemplos a seguir:
 
Observe que o sinal de “bonito” tem movimento à frente da face, mas 
não exatamente precisa ser feito varrendo (encostando) o rosto; “mulher” e 
“telefone” também tiveram como apoio a bochecha, e todas os sinais tiveram 
como ponto de articulação “cabeça”. 
Características fonológicas10
Braço
Os sinais que têm como ponto de articulação “braço” terão seu apoio no braço, 
no antebraço, no punho ou no cotovelo.
 
Para o sinal de “banheiro”, o apoio é no antebraço, e, para o sinal de 
“ciúmes”, o apoio é no cotovelo, assim, seu PA é “BRAÇO”!
Mão
Para este PA, os sinais serão feitos no dorso da mão, na palma da mão e nos 
dedos da mão.
 
Em ambos os exemplos os sinais estão sendo feitos na palma da mão, 
assim, o seu PA é “mão”.
11Características fonológicas
Tronco
O ponto de articulação “tronco” tem como referência os sinais em que as mãos 
serão posicionadas na barriga, na cintura, no peito, no pescoço ou no ombro.
 
Ambos os sinais têm como PA “tronco”, visto que sua mão configurada 
está incidindo no peito.
Espaço neutro
Para o ponto de articulação “espaço neutro”, há somente duas localizações: a 
frente do tronco ou acima da cabeça, ou seja, a mão não encostará em nenhum 
outro membro do corpo.
Neste PA, a mão predominante do sinalizador estará, no mínimo, a dez 
centímetros de distância do tronco ou acima da cabeça.
 
Para o sinal da palavra “demitir”, o movimento será concluído após soltar 
o dedo médio para a frente; e o sinal de “vôlei” é feito simulando o lance de 
jogo acima da cabeça.
Características fonológicas12
Movimento 
O terceiro parâmetro, “movimento” (MV), pode ser caracterizado por sinaislexicais, pois são atos dinâmicos com uma trajetória, um começo e um fi m. 
Sua representação fonológica varia de acordo com a parte do corpo usada para 
articular o movimento (são as setas nas imagens). O movimento utilizado entre 
um sinal e outro é uma mudança natural e não prevalece no movimento do sinal.
As partes do corpo envolvidas no movimento são organizadas dentro de 
uma característica própria de cada sinal, começando com as articulações 
proximais e terminando com as articulações mais distais. Em alguns sinais, 
é possível que não haja movimentos, o que faz o sinal ser sem movimento, 
bem como é possível ter dois tipos simultâneos de movimentos articulados 
em conjunto, ou seja, o movimento das duas mãos simultaneamente, e, ainda, 
há uma gama de movimentos possíveis para realizar um sinal.
Já sabemos que os movimentos são parte da fonologia, não apenas de pares 
mínimos, que são bastante escassos, mas também porque a especificação de 
movimento é ativa na gramática, morfológica e fonologicamente.
Observe os exemplos a seguir:
 
O sinal da palavra “brincar” tem movimento circular, ao passo que o 
movimento da palavra “verdade” tem movimento para cima e para baixo.
Orientação
A orientação é tradicionalmente considerada um parâmetro secundário, uma 
vez que há menos pares mínimos baseados apenas na orientação (BRITO, 
1995). Alguns autores se baseiam na direção da palma da mão e das pontas dos 
dedos da mão (p. ex., a palma da mão está voltada para a esquerda e as pontas 
dos dedos estão voltadas para a frente). Pinto (2018, p. 106) cita, ainda, que:
13Características fonológicas
[...] quando um sinal tem sua direção e há uma inversão, significa a oposição, 
contrário ou concordância. Esta se refere à direção em que a palma da mão 
fique virada para produzir um sinal. Podendo ser: palma da mão para cima, 
palma para baixo, palma da mão direita, palma da mão esquerda, com a palma 
para frente ou palma da mão para trás (palma virada para você).
Expressão faciocorporal 
O quinto e último parâmetro, as expressões faciocorporais (ECF), também é 
conhecido como “expressões não manuais”. Esse recurso é idealizado com a 
face e/ou o corpo, podendo ser feito em conjunto com a utilização das mãos ou 
para transcorrer um contexto. Esse item é extremamente importante, e, caso 
não seja idealizado concomitantemente, os sinais tornam-se comprometidos 
e até sem sentido. 
Diante de todos os parâmetros apresentados, forma-se o sinal em Libras. 
Observe um sinal em que são aplicados os cinco parâmetros de Libras:
Palavra CM PA MV OR ECF
Trabalhar L ou 2 Espaço
neutro
Para a 
frente e 
para trás
Palma da 
mão para 
baixo
Não há 
expressão
Agrupando os dados da tabela, conseguimos obter as informações neces-
sárias para que um sinal seja realizado de forma adequada. Todos os sinais 
têm esses parâmetros, e uma pequena falha na execução de algum deles altera 
o seu significado, inclusive trazendo consequências à morfologia da Libras.
Características fonológicas14
Processo de aquisição da Libras
Muitas vezes, somos encorajados a pensar que a aquisição da primeira língua 
(L1) é fácil, principalmente para as crianças, e, ainda, pode entrar em compa-
ração com a aquisição adulta de uma segunda língua (L2). No entanto, também 
sabemos que a aquisição da L1 desafi a todas as crianças. Todos cometem erros 
característicos no caminho para o domínio de sua linguagem, pois não há um 
tempo ou uma idade certa para que se aprenda uma língua, visto que cada 
pessoa tem seu tempo e, infelizmente, existem distúrbios que comprometem 
o desenvolvimento da linguagem.
As diferentes maneiras pelas quais as crianças surdas enfrentam e superam 
os desafios da aquisição da primeira língua levantam questões atraentes no 
estudo do desenvolvimento da linguagem infantil. A maioria das crianças 
surdas, principalmente aquelas nascidas de pais surdos, vê uma linguagem 
gesto-visual a partir do dia em que nascem, assim como filhos de pais ouvintes 
têm acesso a língua oral antes mesmo de nascer. Essa linguagem gesto-visual 
é a língua materna (natural) das pessoas com surdez. 
A língua natural é “[...] algo que nasce do homem [...]” (QUADROS; KARNOPP, 2005, p. 
15). Sobre língua materna, Bagno (2011, p. 100) afirma ser aquela que: “[...] a pessoa 
começa a aprender assim que nasce [...]”.
A maioria das crianças surdas, especificamente filhos de pais ouvintes, 
pode não ter acesso precoce a um sistema linguístico que envolva as mãos e a 
visão. As capacidades sensoriais da criança surda indicam que, sem assistência 
considerável, é pouco provável que ela adquira uma língua oralizada. Os pais 
ouvintes podem não ter conhecimento de uma língua sinalizada, e, em alguns 
casos, são ativamente desencorajados a aprender a Libras. Uma criança surda 
filha de pais ouvintes enfrenta, assim, uma séria interrupção na transmissão 
de geração para geração da linguagem, pois há ausência de informações 
perceptivelmente acessíveis extraídas de um sistema linguístico nativo.
15Características fonológicas
Eventualmente, crianças surdas de pais ouvintes podem encontrar uma 
língua sinalizada, possivelmente quando entrarem em uma escola que ofereça 
Libras ou mesmo em uma escola inclusiva. Esse acesso pode ocorrer em idades 
variadas, o que seria incorreto, afinal, quanto mais cedo a criança ter acesso 
à sua língua natural, melhor será a sua aquisição linguística. De acordo com 
Pinto (2018, p. 215):
Os aspectos pedagógicos na aquisição da Libras como L1 dos surdos devem 
ser pautadas em elementos estruturantes do processo de aquisição da língua 
das pessoas com surdez [...]. No caso do surdo, o aprendizado de sua língua 
materna (a libras) não é ao nascer, e sim, ao detectar a surdez.
O campo da aquisição da L1 deve ser iniciado com os bebês gradualmente, 
desenvolvendo, assim, uma língua nativa desde o nascimento até se tornarem 
proficientes. A aquisição da L2 é significativamente diferente para os que já 
derivam de uma L1 e migram para o aprendizado de um idioma adicional ou 
até mesmo de uma língua substitutiva, devido a alguma condição. 
Uma das características mais importantes na aquisição da L1 é o processo 
sem esforço, uma vez que a flexibilidade do cérebro de uma criança permite 
que ela aprenda uma língua sem conhecimento consciente ou sem consciência 
de suas regras gramaticais. Em contrapartida, a aquisição da L2 geralmente 
ocorre quando o conhecimento cognitivo requer um esforço consciente para 
entender e aprender a estrutura da língua-alvo.
Outra distinção importante para entender a aquisição da Libras é a fonte 
do input linguístico. No caso de aquisição da L1, os pais, os cuidadores e a 
comunidade envolvente são a fonte da língua-alvo e, como tal, fornecem um 
ambiente a partir do qual a criança absorverá a gramática em formação. Em 
contrapartida, os aprendizes de L2 são expostos ao idioma-alvo em uma sala 
de aula restrita, com a supervisão de professores para aprender a língua.
A descoberta da Libras exige a mesma organização linguística que a das 
línguas orais, ou seja, a aquisição da Libras tem semelhanças com a aquisição 
do português. Pessoas surdas que obtêm a Libras como sua língua materna têm 
de distinguir os constituintes mínimos de sinais para desenvolver uma fonologia 
manual, aprender a como flexionar um sinal para mudar seu significado e saber 
a ordem dos diferentes componentes para expressar um significado pretendido.
Dito isso, as diferenças na modalidade entre sinalização e oralização (sinal/
fala) (acústico vs. manual) também dão certas características de aquisição da 
linguagem que são exclusivas para a língua de sinais. 
Características fonológicas16
Aquisição da Libras como L1
A aquisição da Libras como L1 é um esforço nada objetivo, dada a escassez 
de crianças surdas que adquirem a Libras logo após o nascimento. Embora 
haja tecnologias que detectam a surdez logo nos primeiros dias de vida, não 
é comum encontrar crianças surdas fi lhos de pais ouvintes se pautandona 
língua de sinais, em vez de na língua portuguesa e na oralização. Seria uma 
volta histórica em que a oralização se faz necessária?
Não. Essa informação é dada simplesmente pelo fato de que a maioria das 
crianças surdas são filhas de pais ouvintes e, portanto, são criadas em uma 
casa onde a Libras não é o principal meio de comunicação. Como resultado, 
a maioria das crianças surdas não tem exposição a uma linguagem gesto-
-visual, o que atrasa a introdução linguística correta. A aquisição descontínua 
da Libras pode ter consequências severas na aquisição da língua materna. A 
exposição tardia à língua que se constituiria como língua natural traz também 
desvantagens no desenvolvimento de outras habilidades cognitivas, como a 
interpretação de intenções de outras pessoas para consigo, o que se interliga 
à “Teoria da Mente”.
Dependendo da idade e da quantidade de exposição à Libras, os assinantes 
surdos são classificados como: sinalizadores nativos, iniciais, tardios e de casa.
Sinalizadores nativos
São expostos à Libras por seus pais desde o nascimento. Os cuidadores são 
geralmente membros ativos da comunidade surda, o que oferece às crianças um 
rico ambiente linguístico, a partir do qual elas podem aprender uma linguagem 
gesto-visual, além da comunicação sinalizada por seus próprios pais. Esse é 
o melhor caminho quando se descobre a surdez em uma criança.
Sinalizadores iniciais
Calcula-se que entre 90 a 95% das crianças surdas são fi lhas de pais ouvintes 
que nunca foram expostos à Libras. Muitas vezes, os pais dessas crianças 
passam a aprender a Libras depois da descoberta da surdez do seu fi lho, e, 
como resultado, a informação linguística fi ca defi ciente e insufi ciente para 
a crianças. A Libras começa a ser introduzida em associações de surdos ou 
em cursos de Libras ou somente quando a criança começa a frequentar uma 
escola especializada ou inclusiva. Por isso, a fl uência na língua de sinais se 
destaca entre 5 e 6 anos de idade.
17Características fonológicas
Sinalizadores de transição
Os surdos tardios em transição são frequentemente indivíduos que recorreram 
à oralização, processo em que indivíduos surdos são ensinados a falar para 
entender os membros da família que são ouvintes. Esses indivíduos não são 
expostos à Libras antes dos 6 anos ou mais e, como consequência, têm sérios 
problemas no aprendizado educacional.
Surdos oralizadores
Constituem os casos mais extremos de aquisição tardia da Libras. Na ver-
dade, esses indivíduos surdos foram cercados por uma comunidade ouvinte 
e, portanto, foram totalmente privados da língua de sinais, sendo ensinados 
a falar e ler os lábios. 
Segundo Pinto (2018, p. 44), esse tipo de surdo “[...] pode ter uma surdez 
leve ou moderada e leva uma vida de ouvinte, comunicam apenas pela leitura 
labial e fala, dão muita importância ao aparelho auditivo, são contra Intérpretes 
e tem dificuldade de encontrar sua identidade [...]”.
Aquisição da Libras como L2
A aquisição da Libras como L2 propõe-se a adultos ouvintes que querem 
aprender a Libras como sua segunda língua. Essa modalidade existe quando 
a pessoa já tem a primeira língua (L1) totalmente consolidada na modali-
dade oralizada e objetiva a adquirir uma segunda língua em uma segunda 
modalidade (língua de sinais). De fato, nessa modalidade, as pessoas são 
frequentemente referidas como aprendentes do M2 (2ª modalidade), uma vez 
que o alvo da L2 é expresso como outra língua oral e estrangeira, geralmente 
o inglês, para brasileiros.
Entender os mecanismos de aquisição da Libras como L2 é particularmente 
relevante, pois tem consequências importantes na comunidade surda. Pais 
ouvintes de crianças surdas, intérpretes de Libras e trabalhadores de apoio 
de comunicação em língua de sinais precisam de boas habilidades na Libras 
para se tornarem bons modelos linguísticos para crianças surdas e estreitarem 
a lacuna comunicativa entre pessoas surdas e ouvintes. Entretanto, compa-
rando a Libras como L1 ou aquisição de L2 oralizada, o estudo da aquisição 
da Libras como L2 permanece amplamente inexplorado. Os poucos estudos 
disponíveis investigam, principalmente, o desenvolvimento fonológico, o papel 
Características fonológicas18
da iconicidade na língua de sinais e o desenvolvimento por meio da audição 
de adultos. “Para aprender libras, o ouvinte terá que iniciar estudos fazendo 
um curso básico de libras e tentar conviver o máximo de tempo com surdos 
para conhecer a cultura dessa comunidade, o que irá favorecer, e muito, na 
aquisição [...]” (PINTO, 2018, p. 223).
Considerações finais
A aquisição da língua oralizada e sinalizada é comparável, de várias manei-
ras, com a principal sobreposição de construção da estrutura entre sinais e 
palavras. Antes que as crianças tenham um léxico estabelecido, elas usam 
gestos orais e manuais comunicativos sem analisar contrastes e regularidades 
sublexicais. Por meio da pressão de um modelo de fi ltro e seleção fonológica, 
surge um sistema de contrastes, e a substituição sistêmica leva à regulariza-
ção. Ao sinalizar uma palavra, a criança pode procurar regularidades visuais 
entre famílias de formas de mãos por meio da fonologia emergente, porém, em 
ambas as modalidades, há um efeito marcante. As limitações sensorimotoras 
das crianças levam a estratégias para reduzir a marcante produção, e isso 
possivelmente infl uencia as conexões entre partes da gramática e o crescimento 
das representações fonológicas e a analogia do “menos é mais”.
Muitos estudos psicolinguísticos fazem uma suposição de que há equi-
valência suficiente entre as modalidades de sinal e fala para testar as teorias 
da estrutura e do processamento da linguagem. Ao mesmo tempo, existem 
aspectos que são mais divergentes. Embora haja um amplo leque de maneiras 
de se falar sobre espaço e movimento, não há uma língua oralizada que articule 
palavras em um espaço real, como as línguas de sinais o fazem com o recurso 
do “classificador”. Uma frase em português, como, por exemplo, “a bola está 
rolando sobre o gramado”, codifica os componentes semânticos de figura, 
fundo e localização de uma maneira arbitrária e específica da linguagem.
Os classificadores são feições que formam uma acessão nas configurações manuais 
que se referem a pessoas, animais ou objetos e funcionam como marcadores de 
concordância (PINTO, 2018, p. 159).
19Características fonológicas
Quando surdos falam sobre espaço, eles usam construções de “classifica-
dores”, por meio das quais as unidades morfológicas da construção podem 
codificar a semântica espacial e a entidade simultaneamente no espaço real. 
Uma comparação intrigante diz respeito ao domínio das crianças surdas sobre o 
sistema classificador em comparação com as crianças ouvintes. A modalidade 
visual pode parecer muito mais icônica do que as palavras e influenciar a taxa 
e a padronização do desenvolvimento da linguagem.
O desenvolvimento de morfemas verbais em línguas faladas geralmente 
começa com verbos familiares aprendidos dentro de casa e contextos repe-
titivos antes de ser usado com itens novos. A aquisição de classificadores 
em crianças surdas segue, assim, um padrão superior, e a produtividade é 
alcançada lentamente, mesmo com os gestos e a iconicidade disponíveis. 
Ao esperar pela produtividade, observa-se que o modelo de classificador é 
preenchido em parcelas. A produtividade é sinalizada quando os componentes 
de significado começam a ser intercambiáveis no modelo. Embora a Libras 
seja usada de maneiras muito diferentes em crianças bimodais, esse caminho 
de desenvolvimento para uma estrutura combinatória é familiar e previsível.
BAGNO, M. Gramática pedagógica do português brasileiro. São Paulo: Parábola Editorial, 
2011.
BRASIL. Lei nº 10.436, de 24 de abril de 2002. Dispõe sobre a Língua Brasileira de Sinais 
- Libras e dá outras providências. 2002. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/
ccivil_03/leis/2002/l10436.htm. Acesos em: 04 ago. 2019.
BRITO, L. F. Por uma gramática da línguade sinais. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1995.
PINTO, D. N. Libras: Língua Brasileira de Sinais. Aracaju: UNIT, 2018.
QUADROS, R. M.; KARNOPP, L. B. Língua Brasileira de Sinais: estudos linguísticos. Porto 
Alegre: Artmed, 2005.
Leitura recomendada
BERNARDINO, E. L. A. O valor da interação na aquisição de uma língua de sinais. Revista 
Brasileira de Linguística Aplicada, Belo Horizonte, v. 14, n. 4, 2014. Disponível em: http://
dx.doi.org/10.1590/1984-639820146070. Acesso em: 04 ago. 2019.
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